09/07/2019

BIOGRAFIAS VICENTINAS




INTRODUÇÃO


Aqui estão em destaque o rol de personalidades e localidades relacionadas direta ou indiretamente à história da Capitania e da Vila de São Vicente. São pessoas, lugares e instituições de destaque que, de alguma forma, influíram, contribuíram,  e ainda o fazem para compor a memória e construir a história vicentina em diversas épocas e aspectos. 

Antecedendo as biografias, pontuamos a importância dos degradados como raiz precursora dessas experiências em tempos remotos  e que seria séculos mais tarde sucedida pelos imigrantes e refugiados nas épocas mais próximas da atualidade.  

Segue depois dessa rápida introdução a lista dos escolhidos e suas biografias aqui registradas sem ordem cronológica, mas apenas sequência de recordação casual. 

O Organizador


0.Os Escravizados.
1.Américo Vespúcio.
2.Luiz Vaz de Camões.
3.Martim Afonso de Souza.
4.Pero Lopes e Souza.
5.João Ramalho.
6.Tibiriçá.
7.Bartira.
8.O Bacharel.
9.Manuel da Nóbrega.
10.José de Anchieta.
11.Os Irmãos Gusmão.
12.Frei Gaspar.
13.Pedro Taques.
14.Roque Gameiro.
15.Capistrano Abreu.
16.Pedro II.
17.Victor Brecheret.
18.Afonso de Escragnolle Taunay.
19.Martins Fontes.
20.Dra.Prazeres Barreiros.
21.Edison Eloy de Souza.
22.Wilma Therezinha.
23.Humberto Wisnik.
24.Laura Cardoso.
25.Waldir Rueda.
26.Antônio Andrade Lima.
27.Mário Rodrigues.
28.Luiz Pires.
29.Fernando Tiepelmann Roxo.
30.Gilberto Grecco.
31.Suely Toschi e Claudio Sterque.
32.Tito Lívio Ferreira.
33.Derossê José de Oliveira.
34.Waldiney La Petina.
35. Narciso Vital de Carvalho.
36.Arthur Caratão.
37.Jaime Franco.
38.Jesus de Azevedo Marques.
39.Antônio Peixoto.
40.Luiz Meirelles de Araújo (Lulú da Melodia).
41.Washington Luiz.
42.O Grupo dos Cinco.
43.Franta Richter.
44.Stefan e Lotte Zweig.
45.José Wasth Rodrigues.
46. Humberto de Campos.
47.Gilberto Freyre.
48.Rodolfo Randon.
49.Willy e Aurélio Aurely.
50.Ícaro de Castro Mello.
51.Ivani Ribeiro.
52.Lena Torres.
53.Fernando Lichti.
54.Luis Renato Thadeu Lima.
55.Mansueto Pierotti.
56.Francisco Martins.
57.Paulo Miorim.
58.Mirtes dos Santos Silva Freitas.
59.Noemi Macedo.
60.Jorge Simão Filho.
61.Antônio Teleginsky.
62.Augusto Ximeno Villeroy.
63.Walther Waeny.
64.José Miguel Winsnik.
65.Wlamir Marques.
66.Eduardo Souto.
67.Adolpho Varhagen.
68.Afonso Schmidt.
69.Anália Franco.
70.Hernani Donato.
71.Elisabeth Nobling.
72.Carlos Fabra.
73.Graziella Sterque.
74.Circe Sanchez Toschi.
75.César Camargo Mariano.
76.Carlos Pimentel.
77. Francisco Carballa.
78. Benedito Calixto.
79. Ubirajara Rancan.
80.Edison Telles de Azevedo.
8.Jayme Caldas.
82.Costa e Silva Sobrinho.
83.Marquês de S. Vicente.
84.Prefeito José Monteiro.
85.Tia Mimi Machado.
86.Consuelo Kealman.
87.Cesário Bastos.
88. Jacob e Antônio Emmerich.
89.Índia da Praia Grande.
90.Alexander Kealman.
91.Paulo Eduardo Costa.
92.Amauri Alves.
93.Carmine Mirabelli.
94.Sebastião Paes de Almeida.
95.Márcio França.
96.Mário Zanini.
97.Adston Pompeu Pizza
98.São Vicente Mártir
99.Waldemar Moral Sendin.
100.Capitão F. Whitaker.
101.Irmã Dolores.
102.Padre Paulo Horneaux de Moura.
103.Esmeraldo Tarquínio.
104.Cleóbulo Amazonas Duarte.
105.Professor Marcelo Nogueira.
106.Márcia Vale.
107.Flávio Viana.
108.Antônio e Ricardo Bispo.
109.Koyu Iha.
110.Geraldo Albertini.
111.Zulmira  Lamberti.
112.Os Paes Leme.
113.Paulo Setúbal.
114.Pedra de Frontaria.
115.Orlando Intrieri.
116.Marcos Braga.
117.Fernando Pires.
118.Hermann Reipert.
119.Céllula Mater.
120.Hangar da Latécoère.
121.Romualdo Arppi Filho.
122.Zina De Castro Bicudo.
123.Manvantara.
124.Instituto Histórico e Geográfico de S.Vicente.
125.T.C. Bagby.
126.Pietro Ubaldi.
127.Museu do Escravo.
128.Hospital São José.
129.Deise Gianinni.
130.Rivadávia da Silva.
131.Antero de Moura.
132.Casa de Cãmara e Cadeia.
133. Dr.Joaquim Guaraná Santana.
134.Casa do Professor.
135.Estação e Fábrica de Vidros.
136.Jules Martin.
137.Casa de Martim Afonso.
138.José Bona.
139.Chácara dos Inocentes.
140.Pêro da Covilhã (O Espião).
141.Gilberto Freire.
142.Antônio Luiz Barreiros.
143.Edifício Anchieta e Condomínio Zuffo.
144.José Antônio Zuffo..
145.Vila Santo Antônio. 
146.Mário de Andrade. 
147.Eric Willians. 
148.Antônio Rocha.
149.Domingos Pardal Brás.
150.Padre André de Soveral.
151.J. Muniz Jr.
152.Matheus Croce. 
153.Gilda Rienzi Waeny.
154.Descobridor dos Sete Mares (Tim Maia).
155.Terra de Santa Cruz (Enciclopédia Digital).
156.Sinhá Junqueira.
157.Lina Bo Bardi. 
158.Lincoln Feliciano.
159.Rocha Pita.
160.José Evaristo da Silva.
161.Heraldo La Petina.
162.Beto Mansur.
163.José Dias Herrera.
164.Takashi Hiratsuka.
165.João Vieira.
166.Manual Estevam.
167.Marco Lança.
168.Ailton Martins.
169.August Saint-Hilaire,Firmiano,Manoel e José Mariano.
170.Francesco Lapetina.
171.Sítio do Bugre e Hotel dos Alemães.
172. Quartel do Bugre. 2ºBatalhão de Caçadores
173.Cachoeiras do Voturuá.
174.Biquinha de Anchieta.
175.Casa Caramurú.
176.Antonio Ferrigno.
177.Praça da Companhia City-Light.
178.Bonde Especial da Vila de São Vicente.
179.Pedra do Ladrão. 
180.C.R. Tumiarú.
181.Roberto Mafaldo.
. 182.Babahianas Sem Tabuleiro.
183.Ricardo Severo.
184.Marco-Padrão.
185.Geraldo Volpe.
186.Pepe (José Macia).
187.Del Vechio.
188.Garotas do Basquete.
189.Francisco Marques Sopa.
190.Lovely Plauchut.
191.Edmond Plauchut.
192.Pinacoteca Benedicto Calixto.
193.Maria Bonita.
194.Ângela, a Santa.
195.Edson Arantes do Nascimento (Pelé).
196.Porto das Naus.
197.Valdir Lanza. 
198. Gymnasio Martim Afonso.
199.Torre de Belém (São Vicente)
200.Torre do Tombo. 
201.Viriato Corrêa.
202.Passos Sobrinho.
203. São Jorge dos Tambores.
204.Os Matarazzo-Suplicy. Marta e Eduardo.
205.Eduardo Matarazzo Suplicy.
206.Marta Vasconcellos Suplicy.
207.Polydoro Bitencourt.
208.Sinagoga Espírita Cáritas.
209.Claude Lévi-Strauss.
210. A Saga dos Sá Lopes.
211. Saint-Exupéry.
212.Posto telefônico da CTB (Cia. Telefônica Brasileira).
213.Boris Kauffmann.
214.Pelé (Edson Arantes do Nascimento).
215.Padre Leonardo Nunes.
216.Pero Corrêa.
217.José Carlos e Wanda de Oliveira.
218.Chad Varah e os Samaritans.  
219. Jacques Conchon e o CVV-Centro de Valorização da Vida.
220.Thaís Rozo.
221.Casa das Bananadas.
222.Anguair Gomes.
223.Fábio Luiz Salgado.
224. José Roberto Sagrado da Hora.
225.Helena Gomes. 
226. Clube Hippico.
227.Victório Morbin.
228. Edifício Gaudio.
229.Roberto Andraus.
230.Cidade Ocian.
231.Celso Corrêa de Freitas.
232.Oswaldo Toschi.
233. Cortume Cardamone.
234.Molhes de Pedras de Rinaldo Rondino.
235.Rinaldo Rondino.
236.Revista Mare Nostrum.
237.José Lucas Guimarães.
238.Silvio Gomes Bispo.
239.Capitania de Sâo Vicente.
240.Santos Dumont.
241.Bartolomeu Lourenço de Gusmão.
242.CVV-Centro de Valorização da Vida.
243.COSIPA-Companhia Siderúrgica Paulista.
244.A Casa Caramurú.
245.O Porto de S. Vicente e o Porto de Santos.
246. A Refinaria Presidente Bernardes-RBPC.
247. O Magueirão.
248.A Lendária Barra Sul.
249.Hermenegildo La Petina.
250.Clube dos em Pé.


251. A Cruz de Portugal ou da Ordem de Cristo.
252. Vultos Vicentinos.
253.Poliantéia Vicentina.
254. Á Bocca do Coffre. S.Vicente em 1909.
255. Planta Cadastral de São Vicente em 1899.
256. Encontro IHGSV-IHGPG




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Degredo é uma condenação ao exílio, praticada no Império Português sobretudo entre os séculos XV e XVIII, mas que durou até meados do século XX. Os degredados podiam ter origem criminosa, política ou religiosa. Estima-se que cerca de cem prisioneiros fossem enviados para o degredo anualmente, num total de cerca de 42 500 exilados entre 1550-1720, com um aumento significativo depois de 1720.

Etimologia. O termo degredado, (etimologicamente 'decretado', do Latim decretum) é um termo tradicional legal português usado para se referir a qualquer um que estava sujeito a restrições legais ao seu movimento, fala ou de trabalho. Exílio é uma das várias formas de pena legal. Mas com o desenvolvimento do sistema português de transporte penal, o termo degredado tornou-se sinónimo de um condenado ao exílio, em si referido como degredo.

A maioria dos degredados eram criminosos comuns, embora muitos fossem presos políticos ou religiosos (por exemplo Cristãos-Novos), a quem tinham sido condenados a ser exilados do Reino de Portugal. A sentença nem sempre era directa, muitos eram condenados a penas longas de prisão (por vezes a morte), mas era tomada a opção de terem sentenças comutadas para um curto período de exílio no exterior, ao serviço da coroa. Os degredados desempenharam um papel importante na era dos Descobrimentos Portugueses e tiveram de uma grande importância no estabelecimento de colónias portuguesas na Ásia, África e América do Sul.

Nos primeiros anos das descobertas portuguesas, e de construção do império, séculos XV e XVI, os navios levavam um pequeno número de degredados, para auxiliar em tarefas consideradas demasiado perigosas ou onerosas para tripulantes comuns. Por exemplo, ao atingir uma praia desconhecida, um degredado ou dois eram geralmente desembarcados primeiro para testar se os habitantes indígenas eram hostis. Após o contacto inicial era muitas vezes atribuído a função de passar as noites na cidade ou aldeia nativa (enquanto o resto da tripulação dormia a bordo dos navios), para construir relações de confiança e colectar informações. Quando as relações se tornavam hostis, os degredados eram encarregados de negociar os termos de paz entre os navios e os governantes locais.

Eventualmente, a maioria dos degredados eram deixados em uma colónia ou (especialmente nos primeiros anos), ou abandonados em uma praia desconhecida, onde permaneciam durante a duração da sua pena. A muitos foram dadas instruções específicas em nome da coroa, e se eles cumprissem bem, podiam ganhar a comutação ou indulto. Instruções comuns incluíam ajudar a estabelecer pontos de aguada e armazéns, servir como trabalhadores de uma nova colónia, ou guarnecer um forte. Os degradados abandonados em costas desconhecidas (conhecidos como lançados, literalmente "os lançados" ou "os atirados") muitas vezes eram instruídos para realizar trabalhos exploratórios no interior, em busca de cidades, fazendo contacto com os povos desconhecidos. Alguns degredados alcançaram fama como exploradores do interior, tornando seu nome quase tão famoso como os navegadores, descobridores e capitães (por exemplo, António Fernandes).

Enquanto muitos degredados tiveram um desempenho suficiente para ter sua pena reduzida ou perdoada como recompensa, provavelmente muitos apenas ignoraram os termos de seu exílio. Alguns fugiam dos navios durante a viagem, geralmente em portos relativamente seguros, em vez de deixarem-se ficar em algum lugar distante e perigoso. Outros entraram furtivamente em navios de regresso a Portugal (ou algum outro país europeu). Alguns fugiram e formaram colónias de degredados sem lei, longe da supervisão de funcionários da coroa. Outros tornaram-se nativos, construíram uma nova vida com os habitantes locais, abandonando o seu passado por completo (por exemplo, o "Bacharel de Cananeia", Cosme Fernandes no Brasil).

Nos séculos XVI e XVII os degredados formaram uma parte substancial dos colonos no início de Império Português. As cidades enclaves de Marrocos, as ilhas do Atlântico, Açores, Madeira e São Tomé e Príncipe, e as mais distantes colónias africanas como Angola, Benguela e Moçambique, foram significativamente povoadas por degredados. Muitas das colónias originais brasileiras também foram originalmente fundadas com colonos degredados, por exemplo, Vasco Fernandes Coutinho em 1536 transportou cerca de 70 degredados para fundar Espírito Santo; o Governador-geral Tomé de Sousa levou cerca de 400 a 600 degredados para estabelecer Salvador, a capital original do Brasil Colonial, em 1549.

Degredados famosos. 

João Nunes, um Cristão-Novo degredado, levado por Vasco da Gama na primeira expedição à Índia. Como tinha conhecimento rudimentar do hebraico e árabe, Nunes foi o primeiro a desembarcar em Calecute, na Índia, e é Nunes (não Gama) que proferiu a famosa frase "Nós viemos buscar os cristãos e as especiarias". 

Luís de Moura, um degredado levado por Pedro Álvares Cabral na segunda armada enviada à Índia em 1500. Deixado na África Oriental, Moura serviria por muitos anos como Português factor, agente comercial, e representante de Portugal junto do Sultão de Melinde, um importante aliado de Portugal na África Oriental.

António Fernandes - um carpinteiro foi exilado em Sofala em 1500 ou 1505; Fernandes realizou uma série de viagens de exploração terrestre, entre 1512 e 1515, 300 quilômetros para o interior, atingindo para as terras do Monomatapa e Matabeleland.

Bacharel da Cananeia, um misterioso cristão-novo degredado, conhecido simplesmente como "O Bacharel"Abandonado na costa do sul do Brasil em 1502, ele passou a ser um chefe maior dos índios Carijó em torno de Cananeia. Em 1533, o "Bacharel" liderou um ataque para saquear e destruir a colónia portuguesa de São Vicente.

João Ramalho ou foi degredado ou um náufrago, que foi deixado no sul do Brasil cerca de 1511. Ramalho estabeleceu-se como um chefe menor entre os Tupiniquim do planalto de Piratininga. Ao contrário do Bacharel hostil, Ramalho ajudou os portugueses a estabelecerem-se em São Vicente (1532) e mais tarde em São Paulo, cerca de 1550.

Jose Quesado Fylgueiras Lima, casou com a baiana Maria Pereira de Castro e foi pai do Capitão-mor do Crato-CE, José Pereira Filgueiras que participou da luta pela Independência do Brasil no Piauí e no Maranhão e da Confederação do Equador. # 0



Os Bandeirantes e a Escravidão Índigena. "O movimento bandeirantista surgiu da necessidade de mão-de-obra dos habitantes do planalto piratiningano. Sem condições de importar os escravos africanos que o comércio europeu colocava-lhes à disposição nos portos coloniais, utilizavam a força de trabalho indígena. As condições específicas da sociedade do planalto não lhes permitiam consumir um dos mais caros e mais absorvidos produtos, mercantilizado pela exploração do comércio, o escravo africano.

O apresamento, principal motivação das entradas e bandeiras, era uma prática condenada pelos jesuítas — inclusive com excomunhões, gerando um antagonismo entre esses religiosos e os colonos, o qual resultou num processo paulatino que, ao longo dos anos, se aprofundou, vindo a culminar com a expulsão dos inacianos de São Paulo em 1640.

A primeira metade do século XVII marcou a fase áurea das bandeiras de apresamento. Quando a Holanda conquistou o litoral nordestino, do atual estado do Maranhão até Sergipe, e a região de Angola, na África, desorganizou o tráfico de escravos negros da África para a colônia portuguesa na América. Os holandeses passaram a monopolizar a vinda de africanos para a colônia, trazendo escravos apenas para o Nordeste holandês. Os senhores de engenho da Bahia e do Rio de Janeiro, áreas não dominadas pelos holandeses, passaram a ter dificuldades em obter escravos negros para suas lavouras, sendo obrigados a recorrer aos índios capturados pelos paulistas.

Para os bandeirantes, o índio passou a ser mercadoria de exportação para outras capitanias da colônia. Ajudados pela rede fluvial do Tietê, que permitia a comunicação com a Bacia Platina, os bandeirantes, interessados nos lucros que o tráfico indígena lhes proporcionava, rumaram para as missões organizadas pelos jesuítas espanhóis nos atuais estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

As missões tornaram-se o alvo favorito das bandeiras apresadoras, por abrigarem um grande número de nativos já aculturados. Sem armas, acostumados à vida sedentária e ao trabalho agrícola, eram muito valorizados como mão de obra adequada às exigências da colonização.

As Missões do Guairá, situadas no atual estado do Paraná, foram as primeiras a ser atacadas. Em 1629, uma enorme bandeira comandada por Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares, composta por 900 mamelucos, 2.000 índios e 69 paulistas, destruiu as missões da região, aprisionando os índios e expulsando os jesuítas. Nos anos seguintes, os padres ergueram as missões de Itatim, no sul do atual estado do Mato Grosso do Sul, e do Tape, no centro do atual Rio Grande do Sul, que também foram destruídas após vários ataques, forçando a retirada dos jesuítas para a margem direita do Rio Uruguai. Calcula-se em 60 mil o número de índios capturados pelos bandeirantes nos ataques às missões jesuíticas.

A segunda metade do século XVII marcou o declínio do bandeirismo de apresamento. Em 1648, com a reconquista de Angola, o abastecimento de escravos africanos foi normalizado. A expulsão dos holandeses do Nordeste, restabelecendo o tráfico negreiro, e a crise da economia açucareira provocaram o declínio das bandeiras de caça ao índio.

Ainda em 1648, o bandeirante Antônio Raposo Tavares realizou uma grande expedição, que percorreu mais de 10 mil quilômetros durante três anos. Partindo de São Paulo, dirigiu-se ao sul, à região de Itatim, de onde seguiu para o oeste e para o norte, descendo o rio Amazonas até sua foz, no Atlântico. Dos 1.200 homens componentes da bandeira, apenas 58 chegaram a Santo Antônio de Gurupá, nas proximidades de Belém. O objetivo da expedição de Antônio Raposo Tavares era não só chegar às minas peruanas, como também estabelecer uma ligação com a Bacia Amazônica, no que obteve sucesso. Sua expedição conseguiu, pela primeira vez, ligar as bacias hidrográficas do Prata e do Amazonas.

As bandeiras de apresamento permitiram a sobrevivência dos paulistas, forneceram escravos para a região açucareira, percorreram o interior, alargando o território sob o domínio português, e detiveram a expansão espanhola representada pelos jesuítas.

Na segunda metade do século XVII, com o declínio das bandeiras apresadoras, os paulistas buscaram novas alternativas. Autoridades coloniais, senhores de engenho do Nordeste e proprietários de fazendas de gado passaram a contratar bandeirantes para combater as tribos indígenas rebeladas e os negros fugidos. Conhecedores do sertão e com larga experiência na caça ao índio, os paulistas destacaram-se nessa nova atividade. Era o sertanismo de contrato.

A mais importante bandeira de contrato foi a de Domingos Jorge Velho, que, com Matias Cardoso e Manuel Morais de Navarro, reprimiu várias tribos rebeladas na chamada Guerra dos Bárbaros, nos atuais estados do Rio Grande do Norte e Ceará.

Em 1649, Domingos Jorge Velho destruiu o Quilombo dos Palmares, no atual estado de Alagoas, recebendo como recompensa uma sesmaria na região, onde estabeleceu-se como fazendeiro de gado. Muitos sertanistas de contrato também receberam lotes de terra no sertão nordestino e tornaram-se criadores de gado, não retornando mais à Vila de São Paulo.

O trabalho apresador configurava uma situação em que índios caçavam índios, resultando dessa caça o produto final, o escravo, que entregue ao colono sertanista seu senhor de então por diante, integraria os grupos de peças cuja mão de obra constituía a base da vida econômica de São Paulo e nas regiões de atuação dos Bandeirantes

Embora inicialmente concentrados em escravizar indígenas em suas expedições, os bandeirantes mais tarde começaram a concentrar suas expedições na busca de minas de ouro, prata e diamantes. Ao se aventurarem em regiões não mapeadas em busca de lucro e aventura, expandiram as fronteiras efetivas da colônia brasileira.

Com as bandeiras , a Capitania de São Vicente passaria a abranger os atuais estados de Santa Catarina , Paraná , São Paulo , Minas Gerais , Goiás , parte do Tocantins , e ambos Norte e Sul de Mato Grosso, a chamada "Paulistânia" denominação cultural e geográfica do povo caipira." # 0

Imagem: Soldados indígenas da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos. Ilustração de Jean Baptiste Debret

Fonte: A escravização indígena e o bandeirante no Brasil colonial: conflitos, apresamentos e mitos
Manuel Pacheco Neto


O tráfico de escravos africanos, maior movimento de migração forçada documentado pela história, forneceu a mão de obra que impulsionou o desenvolvimento econômico das Américas nos primeiros séculos de colonização europeia e moldou a composição genética das populações de norte a sul do continente. 
De 1514 a 1866, quando ocorreram, respectivamente, a primeira e a última das quase 35 mil viagens registradas de navios negreiros, cerca de 12,5 milhões de pessoas de diferentes regiões da África foram trazidas contra a vontade para essa parte do Novo Mundo. A maioria – quase 7,6 milhões, ou 61% do total – veio em um intervalo de tempo curto, entre 1750 e 1850. 

Registros de embarques catalogados pelo Banco de Dados do Tráfico Transatlântico de Escravos (slavevoyages.org), mantido por instituições internacionais de pesquisa, entre elas, a Universidade Emory, nos Estados Unidos, e a Fundação Casa de Rui Barbosa, indicam que aproximadamente 5,7 milhões (46% do total) de escravos que chegaram às Américas vieram do Centro-Oeste africano.
Fonte:  . Ricardo Zorzetto, da Revista Pesquisa FAPESP





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Américo Vespúcio, navegador italo-florentino e nome do continente descoberto e descrito por ele,  referência das nomenclaturas "América e Americano". Foi o nomeador oficial de São Vicente em 1502 e também outros portos brasileiros na expedição de André Gonçalves. Provavelmente foi descobridor “não oficial" das terras que seriam o Brasil português, antes de 1500.  Poderíamos dizer que Pedro Alvarez Cabral foi o descobridor português oficial do Brasil. Antes dessas datas, o explorador espanhol Pinzón descobriu  essa terra navegando pelo rio Amazonas. O motivos dessas imprecisões cronológicas é que não se tratava apenas de empreendimento políticos de nações isoladas, mas grandes negócios internacionais. 
Américo Vespúcio (em italiano: Amerigo Vespucci (1451-1512) nasceu e faleceu em Florença aos 61 anos.  Mercador, navegador, geógrafo, cosmógrafo ita e explorador de oceanos a serviço dos Reinos de Espanha e de Portugal.  Viajou pelo então chamado Novo Mundo, descrevendo detalhadamente sua descobertas. 
Em meados de 1499 passou ao largo da costa norte da América do Sul, acima do rio Orinoco, como integrante da expedição espanhola de Alonso de Ojeda, a caminho das Índias Ocidentais. Vespúcio foi o primeiro a demonstrar que o Brasil e as Índias Ocidentais não representavam regiões periféricas do leste da Ásia, como inicialmente pensou Colombo, mas massas de terra totalmente separadas e até então desconhecidas do Velho Mundo. Coloquialmente conhecido como o Novo Mundo, este segundo super-continente passou a ser chamado de "América", derivado de Americus, a versão latina feminina do primeiro nome de Vespúcio. #1

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Américo Vespúcio no Brasil
Em 1501, o famoso Navegador Florentino Américo Vespúcio estava a serviço do Rei Dom Manuel I de Portugal. 
Partiu de Lisboa na expedição de Gaspar de Lemos constituída por três naus, cujo objetivo era investigar as potencialidades económicas e explorar a recém-descoberta costa do Brasil. O comandante, com o calendário em punho, batizava os primeiros acidentes geográficos encontrados pelo caminho. Os nomes escolhidos homenageavam os santos do dia ou as festas religiosas. Em 4 de outubro de 1501, a expedição comandada pelo navegador florentino Américo Vespúcio e o português André Gonçalves chegou à foz de um enorme rio. Os exploradores o batizaram de Rio São Francisco, que era festejado naquele dia.
 Justamente no dia 1º de janeiro de 1502, as embarcações alcançaram a boca da Baía de Guanabara, e as tripulações vislumbraram, pela primeira vez, a região que receberia o nome de Rio de Janeiro. 
A expedição exploradora, composta por três naus, havia chegado às costas brasileiras no dia 07 de agosto de 1501, ancorando no litoral do atual Rio Grande do Norte, próximo ao Cabo de São Roque. A partir daí, rumou para o sul, fazendo sondagens, traçando cartas e roteiros e batizando os locais com nomes cristãos: Cabo de São Roque (16 de agosto), cabo de Santo Agostinho (28 de agosto), Rio São Francisco (4 de outubro), Baía de Todos os Santos (1º de novembro), Cabo de São Tomé (21 de dezembro), Rio de Janeiro (1º de janeiro de 1502), Angra dos Reis (6 de janeiro), São Sebastião (20 de janeiro), São Vicente (22 de janeiro), Cananeia, último ponto da costa estabelecido por Vespúcio. Segundo o relato da primeira carta de Américo Vespúcio, a armada desceu até a altura do paralelo 32º sul, na vizinhança do Rio da Prata, percorrendo territórios espanhóis de acordo com os limites do Tratado de Tordesilhas.
Vespúcio foi o primeiro a demonstrar que o Brasil e as Índias Ocidentais não representavam regiões periféricas do leste da Ásia, como inicialmente pensou Colombo, mas massas de terra totalmente separadas e até então desconhecidas do Velho Mundo. Coloquialmente conhecido como o Novo Mundo, este segundo super-continente passou a ser chamado de "América", derivado de Americus, a versão latina feminina do primeiro nome de Vespúcio. 
Vespúcio foi o autor do livro de Viagens" Mundus Novus" o relato de sua terceira viagem (1501-02) ao Novo Mundo, especificamente à costa oriental do Brasil. sobre os indígenas escreveu:
“O povo é nu, bonito, moreno, bem formado de corpo, cabeça, pescoço, braços, partes íntimas, Os pés dos homens e das mulheres são um pouco cobertos de penas. Os homens também têm muitas pedras preciosas no rosto e nos seios. Ninguém também tem nada, mas todas as coisas são em comum. E os homens têm como esposas aquelas que os agradam, seja suas mães, irmãs ou amigas, nisso não fazem distinção. Eles também brigam entre si. Eles também comem uns aos outros, mesmo aqueles que são mortos, e penduram a carne deles na fumaça. Eles se tornam cento e trinta anos velho. E não tem governo."
Fonte: Formisano, Luciano (1992) Letters from a New World: Amerigo Vespucci's Discovery of America. New York: Marsilio.



Nos  "Lusiadas" Camões registrou a fundação da Vila de São Vicente como um dos grandes feitos heroicos e marítimos da atnia luzitana : "Das mãos do teu Estêvão vem tomar/ As rédeas um, que já será ilustrado/ No Brasil, com vencer e castigar/ O pirata Francês ao mar usado/ Despois, Capitão-mor do Índico mar, O muro de Damão, soberbo e armado, Escala e primeiro entra a porta aberta, Que fogo e frechas mil terão coberta"  o Poeta refere-se a Dom Martim Afonso de Sousa, Primeiro Donatário da Capitania de São Vicente, devido ao fato de ter vencido e castigado piratas franceses muito experientes nas coisas do mar."
Nasceu em Lisboa (1524), de uma família da pequena nobreza. Ainda jovem, dominava  o latim e conhecia bem  literatura e  história. Frequentou informalmente a  Universidade de Coimbra.  Na corte de D. João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta.

Diz-se que, por conta de um amor frustrado, autoexilou-se em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas.  
Com essa publicação, no seu retorno a Portugal,  recebeu uma pequena pensão do rei D. Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter. Faleceu aos 56 anos, em 1579. O historiador Will Durant revela que Erasmo de Roterdã considerava Os Lusíadas superior aos épicos gregos e aprendeu português somente para ler a obra no idioma original.#2


Martim Afonso de Sousa (1500 – 1564) nobre, militar e administrador colonial português que foi, de 1533 até a sua morte, o primeiro donatário da Capitania de São Vicente e, de 1542 a 1545, governador da Índia portuguesa. Segundo o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro a Família Sousa pertence às cinco famílias mais antigas e importantes do Reino de Portugal. O seu brasão de armas é descrito da seguinte forma: esquartelado: o primeiro e o quarto de prata, com cinco escudetes de azul postos em cruz, cada escudete carregado de cinco besantes do primeiro metal, postos em sautoir; o segundo e o terceiro de prata com um leão rampante de púrpura. Timbre: o leão do escudo.
 Em 1530, foi incumbido de comandar a armada que haveria de expulsar os franceses da costa da América portuguesa. Nessa expedição tomou posse na capitania e fundou a Vila de São Vicente. Sendo essa  expedição vista como a primeira expedição colonizadora. Em São Vicente, iniciou a cultura da cana-de-açúcar e ordenou a instalação de um engenho. Durante o ano de 1532, perdeu parte de sua tropa nesta expedição infrutífera para acessar o império Inca, o que posteriormente resultaria na primeira guerra entre portugueses e espanhóis na América do Sul, a Guerra de Iguape, que ocorreria em 1536, com a invasão e saque da vila de São Vicente pelo Bacharel de Cananeia, que se vingou por haver sido expulso em 1531 por Martim Afonso de Sousa. Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, ficou procuradora do marido em Lisboa relativamente aos negócios do Brasil, quando este partiu em uma missão real para a Índia. Natural da Espanha, era dama de companhia da Rainha D. Catarina. Foi ela quem, em 1534, providenciou para que se introduzisse o primeiro ”gado vacum” na Capitania de São Vicente e quem, em 1544, revogou a ordem do esposo, que proibia a entrada de europeus no campo de Piratininga e, assim, permitiu a expansão portuguesa para os Campos de S. Paulo. #3


Pero Lopes de Sousa (1497-1539) foi  o imediato do seu irmão Martim Afonso no comando da Nau Capitânia, expedição enviada ao Brasil pelo rei D. João III em 1530. Partiu de Lisboa no dia 3 de dezembro e alcançou a costa brasileira na altura do cabo de Santo Agostinho no dia 1 de janeiro de 1531.  Próximo à ilha de Santo Aleixo, combateu e apossou-se de navios franceses. Prosseguindo pela costa brasileira, chegou ao estuário do rio da Prata. Na volta, Martim Afonso ficou em São Vicente para oficializar a vila que já existia desde 1502 e Pero Lopes de Sousa retorna Portugal onde ficaria a serviço do rei, desempenhando tarefas no Mediterrâneo e no Oriente. Seu Diário de Navegação narra a formação de Pernambuco e a fundação das vilas de São Vicente e Piratininga. O documento foi descoberto pelo historiador e diplomata paulista Francisco Adolfo de Varnhagem e publicado em Lisboa em 1839. Sem mais voltar para o Brasil, em 1534 Pero Lopes de Sousa recebeu em doação real, três lotes de terra: a capitania de Itamaracá, a de Santo Amaro e a de Sant’Ana em terras hoje de Pernambuco, São Paulo e Paraná, que foram administradas por prepostos. Em 1539, em uma viagem no oceano Índico, na costa de Moçambique, quando comandava uma esquadra com cinco embarcações, foi atingido por uma tempestade e naufragou vindo a falecer. Fonte: Dilva Frazão. Biografias. #4


João Ramalho (1493-1582) aventureiro e explorador português originário de Vouzela. Viveu boa parte de sua vida entre índios tupiniquins, após chegar ao Brasil em 1515. Tornou-se chefe de aldeia ao tornar amigo do cacique Tibiriçá, pai da sua esposa Bartira com quem fundou a dinastia paulistana de mamelucos. É descrito nos registros históricos como um homem de cor morena devido ao sol, com grande porte atlético. Possuía uma longa barba. Andava quilômetros diariamente explorando territórios em busca de negócios e alianças com outros exploradores. Algumas fontes indicam seu nome original como João Maldonado, sendo muito provável que era de origem judaica e degredado por motivos religiosos. Assinava documentos, incluindo atas da câmara, com um sinal gráfico hebraico. Sua chegada ao Brasil se deu em torno de 1510, ou seja, com pouco mais de 20 anos de idade. Não se sabe com certeza sua condição social e politica ao vir para o Brasil, mas é inegável que teve papel fundamental na exploração colonial, colaborando com a expedição de Martim Afonso de Souza no litoral e no planalto. Em 1553, o primeiro governador Tomé de Souza transformaria Ramalho em autoridade oficial, como vereador, alcaide e guardião de Piratininga# 5


 
Tibiriçá, líder indígena tupiniquim radicado no planalto de Piratininga nos primórdios da colonização do Brasil. Era aliado dos portugueses e destacou-se nos nos acontecimentos relacionados à fundação da Vila e atual cidade de São Paulo em 1554. Foi convertido e batizado pelos jesuítas José de Anchieta e Leonardo Nunes. Seu nome de batismo cristão foi Martim Afonso, em homenagem ao fundador da vila de São Vicente, Martim Afonso de Sousa, passando a se chamar, então, Martim Afonso Tibiriçá. Era chefe de uma parte da nação indígena estabelecida nos campos de Piratininga, com sede na aldeia de Inhampuambuçu. Era irmão de Piquerobi e de Caiubi, índios que também se destacaram durante a colonização portuguesa do Brasil: o primeiro, como inimigo dos portugueses; e o segundo, como colaborador dos jesuítas. Tibiriçá teve muitos filhos. Com a índia Potira, Ítalo, Ará, Pirijá, Aratá, Toruí, Bartira e Maria da Grã. Bartira viria a desposar João Ramalho, aliado de Tibiriçá e a pedido de quem defendeu os portugueses quando estes chegaram a São Vicente. Apesar de ter sido a mais conhecida, Bartira não foi a única filha de Tibiriçá a se casar com portugueses. Teberê, cujo nome cristão era Maria da Graça, se casou com Pedro Dias, um irmão jesuíta que veio ao Brasil devido à fundação do Colégio de São Paulo. Tibiriçá também casou Beatriz, que não está claro se era sua filha ou neta, com o português Lopo Dias. Aliado dos jesuítas, Tibiriçá deu a eles a maior prova de fidelidade quando, a 9 de julho de 1562 , levantando a bandeira e uma espada de pau pintada e enfeitada de diversas cores, repeliu o ataque à vila de São Paulo efetuado pelos índios tupis, guaianás e carijós chefiados por seu sobrinho (filho de Piquerobi) Jaguaranho, no episódio conhecido como o Cerco de Piratininga. Durante o combate, Tibiriçá matou seu irmão Piquerobi e seu sobrinho Jaguaranho. O Cacique morreu em 25 de dezembro de 1562, como atesta José de Anchieta em sua carta enviada ao padre Diogo Laínes, devido a uma peste que assolou a aldeia. # 6



Bartira ( M'bicy ou Isabel Dias), uma das filhas do cacique Tibiriçá,  líder tupiniquim, esposa do degredado João Ramalho, união que simbolizou o início da sociedade colonial no planalto paulista. Nas primeiras décadas do século XVI, era relativamente comum que náufragos e degredados assumissem posições de prestígio nas sociedades locais ao se casarem com mulheres indígenas. O casamento com João Ramalho presumivelmente ocorreu em 1515, tendo durado mais de quarenta anos. Bartira recebeu o nome de Isabel Dias ao ser batizada pelos Jesuítas, no planalto de Piratininga. O casal teve oito filhos, dos quais descenderam os principais membros das famílias da elite paulista colonial. 
As mulheres casaram-se com portugueses recém-chegados que desempenharam importantes papéis políticos e econômicos na região. Joana Ramalho foi casada com Jorge Ferreira, que foi capitão mor da capitania de Santo Amaro e depois ouvidor da capitania de São Vicente. Além dela, Margarida Ramalho e Antônia Quaresma. Dentre os filhos, André Ramalho, o mais velho, é conhecido por ter acompanhado o padre Manuel da Nóbrega no sertão, a pedido do pai, para realizar trabalho com os índios. 
Pouco se sabe acerca do falecimento de Bartira, algumas pesquisas apontam que ele ocorreu 1559, quando teria completado 54 anos. Enquanto outro documento data sua morte no ano de 1550, aos 60 anos de idade. # 7
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Imagem: detalhe da obra 'Fundação de São Paulo', de Antônio Parreiras, 1913. Pinacoteca do Estado.



O Bacharel de Cananéia  lendário degredado português e posteriormente traficante de escravos, intérprete e guia de navegação. Foi levado para o Brasil, no litoral sul do atual estado de São Paulo em algum momento no começo do século XVI, onde passou a viver entre os indígenas carijós da área. Pouco se sabe sobre o passado do Bacharel e que provavelmente desembarcou na América do Sul em algum momento do início do século XVI, possivelmente nas primeiras viagens de Américo Vespúcio. No dia 12 de agosto de 1531, Pero Lopes e Martim Afonso de Sousa atracam perto do arquipélago de Cananéia e enviam Pedro Annes, o piloto da expedição, terra adentro. Cinco dias depois, o piloto retorna com Francisco de Chaves, cinco ou seis castelhanos e o Bacharel. Os degredados conversaram, então, com o capitão-mor e esse ordena que Pero Lobo Pinheiro, parta com Chaves e mais 80 homens para o interior do continente, visto que ele havia prometido que, em dez meses, retornaria com quatrocentos escravizados carregados de prata e ouro. Essa expedição, que partiu no dia 1 de setembro daquele ano, nunca mais retornou a São Vicente, tendo, supostamente, sido dizimado pelos indígenas.
Algum tempo depois o bacharel passou a viver na região de Iguape, unindo a Ruy Mosquera. O capitão-mor da capitania de São Vicente, Pero de Góis, exige que os espanhóis se apresentem em São Vicente para jurar lealdade a Portugal, ao seu rei, e a Martim Afonso de Sousa. O Bacharel acata essa intimação, mas Mosquera não, que começa a se preparar para um confronto contra os portugueses em São Vicente. Os vicentinos acabam sendo emboscados pelos espanhóis, que, subsequentemente, saqueiam a vila portuguesa antes de se retirarem rumo ao sul, primeiro para a Ilha de Santa Catarina e depois para o Rio da Prata.Depois disso as fontes a respeito do Bacharel começam a rarear. Possivelmente passou certo tempo em São Vicente antes de retornar para Cananéia, onde foi requerido pela rainha da Espanha para que ajudasse o navegador Gregorio de Pesquera Rosa em carta traduzida por Afonso d'Escragnolle Taunay. Essa viagem, entretanto, nunca chegou a ser realizada. #8




Filho do desembargador Baltasar da Nóbrega e sobrinho de um chanceler-mor do Reino, o padre Manuel da Nóbrega ((1517-1570). estudou Cânones durante quatro anos na Universidade de Salamanca e se transferiu para a Universidade de Coimbra, bacharelando-se em direito canônico e filosofia em 1541. Chega ao Brasil em 1549, sendo o fundador da cidade de São Paulo, então dita de Piratininga (1554). Missionário, autor do célebre Diálogo sobre a Conversão dos Gentios (1556-1557), a primeira obra literária escrita no Brasil. Aos 27 anos, foi ordenado pela Companhia de Jesus em 1544, fazendo-se pregador. Viajou por Portugal, Galiza e o resto da Espanha na pregação do Evangelho. Surpreendido com o convite do rei dom João III, embarcou na armada de Tomé de Sousa (1549). Foi o primeiro a dar o exemplo, ao subir de São Vicente ao planalto de Piratininga, para fundar a vila de São Paulo que viria a ser o ponto de penetração para o sertão e de expansão do território brasileiro. A pequena aldeia dos jesuítas que seria a mais populosa cidade do continente Americano, do Hemisfério Sul e a quinta maior cidade do mundo. Segundo Henrique dos Santos em "Aventura Feliz", p. 126, Nóbrega visitou pela primeira vez o planalto de Piratininga em companhia do padre Manuel de Paiva, primo de João Ramalho, e do irmão Antonio Rodrigues. Na companhia de André Ramalho, filho de João Ramalho, percorreu os campos à procura do local onde viria a fundar a casa e escola dos Jesuítas. Escolheu o topo da colina chamada Piratininga, localizada entre os rios Piratininga (também chamado Tamanduateí) e Anhangabaú, no futuro pátio do Colégio. Era um local próximo da aldeia de Inhapambuçu, chefiada por Tibiriçá.#9


Assim descreveu Serafim Leite a sua morte: "Conheceu a hora da sua morte e dois dias antes de S. Lucas se despediu pela Cidade de muitas pessoas, dizendo-lhes adeus. E perguntando-se-lhe para onde ia (porque no porto não estava navio) respondia: - A minha ida, meus Irmãos, é para o céu - apontando-o com os olhos. Véspera de S. Lucas disse missa tarde, e esteve no descanso falando de Deus. E querendo repousar, lhe deu uma grande dor de cólica de vinte e quatro horas e fazendo-lhe os remédios que sabiam, ele não se mitigou. No mesmo dia à noite confessou-se e abraçando os Padres, que com ele estavam, despediu-se deles, dando-lhes a sua bênção e dizendo que, ainda que desejava muito ver a seus Irmãos, os veria no céu, porque era chamado para ele, dia de S. Lucas, dia em que nasceu e fazia cinquenta e três anos. Imagem: Museu Histórico e Pedagógico Padre Manoel da Nóbrega, SP



José de Anchieta, nasceu na ilha de Tenerife  nas Canárias, em 19 de março de 1534.  Seu pai foi um revolucionário basco que tomou parte na revolta dos Comuneros (1520-1522) contra  Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem Maria. Era aparentado de Ignacio de Loyola. Sua mãe era  filha cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de Llarena, era um judeu convertido do Reino de Castela. Anchieta jovem ainda, mudou-se para Coimbra, em Portugal, a fim de estudar filosofia no Real Colégio das Artes e Humanidades. A ascendência judaica foi determinante para que o enviassem para estudar em Portugal, uma vez que na Espanha, à época, a Inquisição era mais rigorosa. Ingressou na Companhia de Jesus em 1 de Maio de 1551 como noviço. Tendo o padre Manuel da Nóbrega, solicitado mais braços para a atividade de evangelização do Brasil, o Provincial da Ordem, Simão Rodrigues, indicou, entre outros. Aportou em Salvador em1553 na armada de Dom Duarte da Costa. Anchieta ficou menos de três meses em Salvador, partindo para São Vicente no princípio de outubro, com o padre jesuíta Leonardo Nunes, onde conheceria Manuel da Nóbrega e permaneceria por doze anos. Anchieta abriu os caminhos do sertão, aprendendo a língua tupi, catequizando e ensinando latim aos índios. Escreveu a primeira gramática sobre uma língua do tronco tupi: a "Arte da Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil", que foi publicada em Coimbra em 1595. Em São Vicente  José de Anchieta, apresenta pela primeira vez o Presépio aos índios e filhos de colonos, fins do ano de 1553. Esteve em Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, na quaresma que antecedeu a sua ida à aldeia de Iperoig, juntamente com o padre Manuel da Nóbrega, em missão de preparo para o Armistício com os Tupinambás de Ubatuba (Armistício de Iperoig). participou da fundação, no planalto de Piratininga, do Colégio de São Paulo, um colégio de jesuítas do qual foi regente, embrião da cidade de São Paulo. Pintura: "Evangelho nas selvas". Benedito Calixto.#10



GUSMÃO sobrenome de BARTOLOMEU E ALEXANDRE duas figuras, provavelmente nascidas na Vila de São Vicente e batizadas na Vila de Santos. Na época o batistério valia como registro de nascimento.  Todas a biografias dessas duas personalidades tentam construir uma suposta identidade santista aos mesmos, levantando hipóteses comparativas vagas e sem comprovação documental, como esta explicação tentando associar o Pátio dos Gusmões à família Lourenço. Questionando essa associação, o jornalista Carlos Pimentel, do site Novo MIlânio, expõe claramente tais contradições  envolvendo uma mapa elaborado por Benedito Calixto , usadas pelo memorialista Costa e Silva sobrinho para associar os Lourenço ao Largo dos Gusmões. Quem adotou o nome Gusmão não foi a família Lourenço e seu 11 filhos, mas apenas Alexandre e Barlomeu:

 "Onde era o Largo dos Gusmões? Erros históricos se reproduziram até na pintura
Embora fosse local importante de referência bem no centro da Santos antiga, o Largo dos Gusmões foi tão pouco documentado que sua localização foi erroneamente marcada em várias obras, numa sucessão de erros que não poupou nem mesmo o pintor Benedito Calixto, que o situou em posição diferente da real em uma de suas famosas telas". 

"A foto que aqui reproduzimos mostra dois prédios coloniais pouco antes de serem demolidos, localizados no Pátio dos Gusmões, o que vem indicado na placa à esquerda, junto ao lampião de gás.
E aqui cabe uma pergunta: teria sido um desses prédios a residência dos irmãos Bartolomeu, Alexandre e Joana de Gusmão"?

Quem era o "Gusmão" ? Seria o fidalgo jesuíta e protetor da família vicentina do português Francisco Lourenço e da brasileira Maria Álvares? O casal teve ao todo doze descendentes, seis homens e seis mulheres. Dois de seus filhos abandonaram o sobrenome Lourenço e adotaram o sobrenome Gusmão. Qual teria sido o real o motivo da mudança: homenagem ao preceptor jesuíta  Alexandre de Gusmão, amigo e protetor; ou simplesmente usar um nome aristocrático  para alavancar suas carreiras ou também esconder um sobrenome cristão novo (judeus convertidos)? Em São Vicente ainda havia em 1878 a Rua do Gusmão.

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BARTOLOMEU DE GUSMÃO

O Primeiro Cientista do Brasil, Pioneiro da Aerostação Nascido na Vila de São Vicente, o primeiro inventor brasileiro Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) foi batizado simplesmente com o nome de Bartolomeu Lourenço, em 19 de dezembro de 1685, na Igreja Paroquial da vila de Santos pelo padre Antônio Correia Peres. Era o quarto filho de Francisco Lourenço Rodrigues, cirurgião, e Maria Álvares. Será mais tarde, em 1718, que adota a si o apelido "de Gusmão", em homenagem ao preceptor e protetor, o educador jesuíta Alexandre de Gusmão, que havia lhe incutido o gosto pelas ciências.
O menino Bartolomeu cursou as primeiras letras provavelmente na própria Capitania de São Vicente, no Colégio de São Miguel, então o único estabelecimento educacional da região, fundado em 1653. Prosseguiu os estudos na Capitania da Bahia. Aí ingressou no Seminário de Belém, em Cachoeira, onde teria início a sua profícua carreira de inventor.
Seu primeiro invento foi uma bomba hidráulica para o Seminário de Belém, que ficava situado sobre um monte de 100 metros de altura e possuía precário abastecimento de água, que tinha que ser captada e transportada em vasos a partir de um brejo subjacente. Percebendo o problema, Bartolomeu inteligentemente planejou e construiu um maquinismo para levar água do brejo até a edificação, por meio de um cano longo. O invento, testado com absoluto sucesso, foi considerado admirável e de grande utilidade por todos do estabelecimento, inclusive pelo próprio reitor e fundador do seminário, o renomado sacerdote Alexandre de Gusmão (1649-1724)
Começou o noviciado na Companhia de Jesus na Bahia quando tinha cerca de quinze anos, mas deixou a Ordem em 1701. Foi para Portugal e encontrou um padroeiro em Lisboa na pessoa do Marquês de Abrantes . Concluiu o curso de estudos na Universidade de Coimbra , dedicando-se principalmente à filologia e à matemática , mas recebeu o título de Doutor em Direito Canónico (relacionado com Teologia). Diz-se que tinha uma memória notável e um grande domínio de línguas.
Em 1709 apresentou uma petição ao Rei D. João V de Portugal , a pedir favor real pela invenção de uma aeronave, na qual manifestou a maior confiança. O conteúdo desta petição foi preservado, juntamente com uma imagem e descrição de sua aeronave . Desenvolvendo as ideias de Francesco Lana de Terzi.
Bartolomeu fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas e médias dimensões construídos por ele. Cinco testemunhas registraram essas experiências: o cardeal italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão Ferreira e José Soares da Silva, nomeados membros da Academia Real de História Portuguesa em 1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o cronista Salvador Antônio Ferreira, portugueses. 
A notícia rapidamente se espalhou para outros reinos europeus, que deram a devida publicidade. Bartolomeu ganhou a alcunha pejorativa de "Voador"  e o seu invento, divulgado na Europa em estampas fantasiosas, que em geral o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficou conhecido como "Passarola.
Em 1710 publicou "Vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água", opúsculo no qual descrevia novos maquinismos criados por ele, destinados a expulsar a água que com freqüência inundava e fazia ir a pique as embarcações. Na Holanda em 1713 publicou patente para "Máquina de Drenagem da água em embarcações de Alto Mar"
Na Corte de Dom João V Bartolomeu de Gusmão havia atingido o cume da sua carreira: gozava da estima do rei e desfrutava de elevada posição na corte. Era Doutor em Cânones, Secretário de Estado, membro fundador da Academia Real de História Portuguesa e Fidalgo Capelão da Casa Real. Possuía ampla e merecida reputação tanto como homem de letras como de ciências. Era célebre por possuir talentos notáveis, como memória prodigiosa e criatividade para invenções, além de uma cultura vasta e invulgar, que lhe permitia atuar nos mais diversos campos dos saberes, entre os quais aerostação, criptografia, hidráulica, história, literatura, matemática e teologia.
As pesquisas técnico-científicas prosseguiam. Em 1721 o sábio dedicou-se à fabricação de carvão artificial,11 e em 1724 criou uma máquina para aumentar o rendimento dos moinhos hidráulicos, reconhecida por patente portuguesa de 18 de julho desse ano.
Em 1720 Bartolomeu concluiu a Faculdade de Cânones e retornou a Lisboa, chamado que fora pelo rei para servir no Ministério das Relações Exteriores. Colocado na Secretaria de Estado, exerceu aí diversas funções, ocupando-se inclusive da decifração de mensagens codificadas interceptadas de diplomatas estrangeiros-a prática da espionagem era comum nas cortes européias. Dessa missão, da maior confiança e dificuldade, se incumbiu notavelmente: não houve cifra, por mais difícil que fosse, que não decodificasse.
Bartolomeu de Gusmão faleceu na Espanha do dia 18 de novembro de 1724, aos 38 anos de idade. Havia caído em desgraça em Portugal por acusações pelo Santo Ofício, de que havia se convertido ao Judaísmo devido a sua conhecida associação com a comunidade de Cristãos Novos. 
Com a sua morte, a invenção do balão permaneceria esquecida por decênios, até ocorrer, em 1782, na França, a sua reinvenção, pelos irmãos Montgolfier. #10

Fonte: Bartolomeu Lourenço de Gusmão: o primeiro cientista brasileiro. Por Rodrigo Moura Visoni. João Batista Garcia Canalle


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ALEXANDRE DE GUSMÃO

Alexandre de Gusmão foi um brilhante diplomata português nascido no Brasil colônia, que representou Portugal em vários países. Em Roma participou como convidado na corte do Papa Inocêncio XIII. Notabilizou-se pelo seu papel crucial nas negociações do Tratado de Madrid, assinado em 1750, que definiu os limites entre os domínios coloniais portugueses e espanhóis na América do Sul, criando a base para a atual estrutura territorial brasileira.

Nono dos doze filhos de Francisco Lourenço Rodrigues, cirurgião, e Maria Álvares, era irmão de Bartolomeu de Gusmão, o padre voador. Estudou com seus irmãos, Simão e Bartolomeu, no Colégio de Belém, em Cachoeira (Bahia), cujo fundador e diretor foi o protetor da família, Padre Jesuíta e escritor Alexandre de Gusmão, o qual cede o sobrenome “Gusmão”, ao futuro avô da Diplomacia Brasileira.

Na infância de Alexandre, pode se retratar algumas peculiaridades, como as inscrições ao lado da sua matrícula "menino estudioso, engenhoso, mas bastante velhaco”. Padre Alexandre foi como um padrinho para Bartolomeu e Alexandre. Por sua orientação, o jovem Alexandre de Gusmão passou para o Colégio das Artes, ainda na Bahia, onde completou em três anos seus estudos de Latim e Lógica, Metafísica e Ética, Retórica e Filosofia, distinguindo-se como "filósofo excelente".

Em 1710 Alexandre muda-se para Lisboa para morar com Bartolomeu, por meio dos contatos deste com a Corte portuguesa, Alexandre é escolhido, em 1715 como Secretário da Embaixada portuguesa, em Paris. Graduou-se em Direito Civil, Romano e Eclesiástico em Paris (1715 – 1719), logo após também cursou a Faculdade de Leis, em Portugal. Alexandre de Gusmão conquistou um sólido conhecimento de história política, administrativa e em leis nos países europeus.

Também entrará em contato com as personalidades do mundo oficial e com os tratados e acordos pelos quais as nações procuravam estabelecer seus direitos. Na ida a Paris, passara por Madrid, para aprofundar-se nos tramites do Tratado de Utrecht, que determinava limites das colônias espanholas e portuguesas nas Américas. Em Paris, além de aprimorar sua formação diplomática, cultural, e principalmente ideais anticlericais e racionalistas, de filósofos franceses.

Em 1720, fez parte da delegação portuguesa nas negociações em Cambray, na França, ampliando ainda mais seus conhecimentos sobre a diplomacia internacional. Foi enviado para Roma, onde ficou sete anos, atuando como “quase” Embaixador de Portugal junto à Santa Sé. Suas atribuições a partir de então foram imprescindíveis para a estruturação política estratégica do Brasil.

Atuou como Agente da Casa Portuguesa, em Paris e Roma (1714 a 1730), participou das negociações relacionadas à paz luso-espanhola de Utrecht, em Paris (1715), foi Secretário particular do Rei D. João V, (1730 a 1750), Membro do Conselho Ultramarino (1743 a 1753) e Planejou e defendeu o Tratado de Madrid, em Lisboa (1750).

Durante sua atuação como secretário particular de D. João V, desenvolveu condições para desempenhar grande influência nas decisões de Portugal sobre o Brasil. Considerado o "avô" da diplomacia brasileira por sua atuação no Tratado de Madrid, onde defendeu o princípio do uti possidetis.

O Tratado teve como resultado a triplicação do território brasileiro e o uti possidetis passou a ser largamente utilizado pela diplomacia brasileira para solucionar às questões fronteiriças do Brasil.

Em 1740, foi nomeado escrivão da puridade (secretário particular do rei). Sua influência cresceu e ele praticamente dirigiu a política externa portuguesa neste período. De 1746 a 1750 negociou com a Espanha o Tratado de Madrid. Casou-se em Lisboa com Isabel Maria Teixeira Chaves, com quem teve os filhos Viriato e Trajano. Em 1752, a esposa e os dois filhos morreram tragicamente num incêndio que destruiu sua casa de Lisboa. #11

IHG de Instituto Histórico e Geográfico de Santos



Gaspar Teixeira de Azevedo (1715-1800), conhecido como Frei Gaspar da Madre de Deus), nasceu em São Vicente e faleceu em Santos. Veio ao mundo na Fazenda Santa'Ana, na área continental serrana de São Vicente. Era filho de Domingos Teixeira de Azevedo, coronel do Regimento de Ordenanças de Santos e São Vicente, provedor da Real Casa de Fundição de Paranaguá, e neto de Gaspar Teixeira de Azevedo, antigo capitão-mor da Capitania de São Vicente (1697-1699) e provedor dos reais quintos do ouro, e de Amador Bueno. Era, portanto, membro das mais antigas famílias vicentinas. Em 1731, aos 16 anos de idade ingressou na Ordem de São Bento, onde passou a ser chamado de Gaspar da Madre de Deus. Também foi noviço na Bahia, onde estudou Filosofia, História e Teologia. À época de sua ordenação (1732), já era considerado figura de destaque na própria Ordem. Transferiu-se para o Mosteiro de São Bento na cidade do Rio de Janeiro, onde continuou a ser discípulo do professor doutor frei Antônio de São Bernardo. Em 18 de maio de 1749 defendeu teses de Teologia e História, recebendo o doutorado. Afonso d'Escragnolle Taunay  relata que a íntima amizade que ligou Frei Gaspar ao seu primo Pedro Taques de Almeida Paes Leme data dessa época. Foi, durante o infortúnio do grande linhagista, a sua consolação diária e o incentivo para a continuação da sua obra grandiosa. Após a morte do genealogista em 1777, procurou sempre Frei Gaspar por em destaque os conhecimentos e a probidade do autor da Nobiliarquia. "E a este culto à memória de Pedro Taques", registra Taunay, "se deve em grande parte, certamente, a conservação do que resta da Nobiliarquia Paulistana e das demais obras do cronista das bandeiras". Em 1793 já havia concluído os três volumes das "Memórias para a História da Capitania de São Vicente", que viriam a público em 1797 pela Academia Real das Ciências de Lisboa, da qual era sócio correspondente e os seus escritos sobre as minas de São Paulo e a expulsão dos jesuítas do colégio de Piratininga. Frei Gaspar também escreveu Notícias dos anos em que se descobriu o Brasil; Dissertação e Explicações; Extrato Genealógico; Memórias da História da Capitania de São Vicente, e muitas outras, entre as quais se destaca Fundação da Capitania de São Vicente. # 12

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Frei Gaspar da Madre de Deus, seu irmão Frei Miguel Arcanjo (de costas) e seu o primo Pedro Taques (em pé), pintura de Franz Richter (1872-1974). Museu Paulista.



Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777), historiador e genealogista paulistano, filho do Capitão Bartolomeu Paes de Abreu e de Leonor Siqueira Paes. Foi casado três vezes (viúvo no primeiro casamento) teve ao todo seis filhos. Muito jovem, já  tinha paixão pela história e genealogia e, por décadas, pesquisou em cartórios das vilas das Capitanias de São Paulo e de São Vicente. É o autor da  “Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica” dos séculos XVI a XVIII, contendo história dos bandeirantes, de fundadores de vilas, da corrida do ouro, do povoamento e da expansão territorial brasileira. Cursou artes no Colégio Jesuíta de São Paulo. Foi sargento-mor do Regimento de Nobreza de São Paulo em 1737 e exerceu nos anos seguintes o cargo de escrivão em várias localidades, sobretudo em Goiás. Retornando à São Paulo em 1754, resolveu levar a Lisboa suas pesquisas e  lá, no início de setembro de 1755, testemunhou o terremoto e maremoto de 1755, que destruíram completamente a Capital, matando mais de 50 mil pessoas. Sua casa foi arrasada e nela nada se salvou dos valiosos documentos que havia levado a Portugal. Foi abrigado na casa de Isabel Pires Monteiro. Nomeado  tesoureiro-mor da Bula das Capitanias de São Paulo, Goiás e Mato Grosso, voltou ao Brasil em 1763, facilitando  nessas viagens fiscalizadoras suas pesquisas em cartórios civis e eclesiásticos. Em meados da década de 1760, em São Paulo, sua vida teve um revés. Um comissário da Bula da Cruzada suspendeu-o de suas funções de tesoureiro mor com rigoroso exame de contas, apurando um alto débito e comprometendo seus fiadores.  Em vão, procurou evitar a ruína. Lançando mão de bens próprios e de sua mãe, ficou em estado de miséria.
No ano de 1774,  empreendeu uma segunda viagem a Portugal. Acometido por uma paralisia que avançava rapidamente,  quis voltar a São Paulo para rever os seus. Pouco antes de retornar, ele obteve do Rei um subsídio de quinze mil cruzados, a título de compensação pelos prejuízos sofridos com a anulação dos pedágios do caminho de Goiás.  Taques aportou em Santos no final de em 1776. Fez a penosa subida do Cubatão carregado em rede, voltando a sua casa, em São Paulo, na “rua que ia do Palácio ao Carmo e Tabatinguera”. Já no final da vida, mesmo com a saúde bastante debilitada, ainda frequentava arquivos. Morreu pobre, no dia 3/3/1777 sendo sepultado no jazido dos Terceiros do Carmo. # 13
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Pedro Taques de Almeida Paes Leme (em pé) com seus os primos , Frei Gaspar Madre de Deus e Frei Miguel Arcanjo da Anunciação discutindo pontos da história de São Paulo (tela de F. Richter, no Museu Paulista)



Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) foi o grande artista ilustrador da História de Portugal, sobretudo da Expansão Marítima. Os cinco filhos que teve com Maria da Assunção de Carvalho Forte  também seguiram a carreira artística do pai, sendo um deles escultor. Estudou na Academia de Belas Artes de Lisboa e na Escola de Artes e Ofícios de Leipzig. Em 1886 torna-se diretor da Companhia Nacional Editora.  Em 1894 foi nomeado professor na Escola Industrial do Príncipe Real. A maioria das suas obras encontra-se no acervo do Museu de Minde, sua cidade natal. Da sua vasta produção artística e editorial, destacamos a “História da colonização portuguesa no Brasil”, publicada em 1921 em parceria com Carlos Malheiro Dias e Ernesto Júlio de Castro e Vasconcelos. O livro contém  riquíssimas ilustrações desse evento e foram fartamente reproduzias em inúmeras publicações ao longo dos anos.#14



João Capistrano Honório de Abreu (1853 -1927), um dos primeiros grandes historiadores do Brasil, produzindo também estudo de etnografia e da linguística. A sua obra é caracterizada por uma rigorosa investigação das fontes e por uma visão crítica dos fatos históricos, sendo que suas pesquisas fazem contraponto à de Francisco Adolfo de Varnhagen. Nasceu e fez seus primeiros estudos no Ceará. No Rio tornou-se empregado da Editora Garnier. Foi aprovado em concurso público e nomeado oficial da Biblioteca Nacional. Lecionou Corografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, tendo sido nomeado por concurso em que apresentou tese sobre O descobrimento do Brasil e o seu desenvolvimento no século XVI. Dedicou-se ao estudo da história colonial brasileira, elaborando uma teoria da literatura nacional que tinha por base os conceitos de clima, terra e raça. Sua teoria reproduzia os clichês típicos do colonialismo europeu acerca dos trópicos, invertendo, todavia, o mito pré-romântico do «bom selvagem». Era amigo pessoal de Benedito Calixto e tinha casa de veraneio na praia do Itararé , registrada em pintura pelo amigo, a quem visitava frequentemente na rua Martim Afonso. Calixto registrou em foto uma dessas visitas (Museu Paulista).# 15



A monarquia brasileira se nutria da raiz lusa plantada no Brasil e São Vicente era uma das fontes desse cultivo. O Imperador tinha  o antigo porto e depois Primeira Vila Colonial na sua agenda permanente de visitas oficiais. O navio oficial aportou diversas vezes em Santos, onde era recebido com estrondosas honrarias, mas Pedro II e a família se refugiavam na quieta São Vicente, na casa simples de um velho amigo, o Capitão Gregório Inocêncio de Freitas. Nas últimas visitas, trazia os netos e com eles a Imperatriz. Caminhavam descalços até a Biquinha e refrescavam-se na praia ou no riacho próximo (hoje canalizado). Foram os últimos momentos antes da deposição e triste exílio em Paris, onde viveu até seus últimos dias num quarto de hotel, como relata essa postagem da página Brazil Imperial:  “Na fotografia, Pedro II aparece ao lado de Jean-Martin Charcot (pai da psiquiatria moderna) em Aix-Les-Bains, França, 1888. O Imperador foi examinado por Charcot e diagnosticado com tensão mental, neuropatia diabética, quadro vascular cerebral e incontinência urinária, manifestações de doenças que contribuíram para a sua fragilidade física e certamente para o seu declínio político. Foi Charcot quem assinou, em 5 de dezembro de 1891, o atestado de óbito de Dom Pedro II”.#16


Nascido Vittorio Brecheret (1894 -1955), é sempre lembrado como um dos mais importantes escultores do Brasil. Foi o responsável pela introdução do modernismo na cultura e escultura brasileira. Apesar de ser um dos principais artistas da vanguarda, Brecheret nunca abandonou sua formação artística clássica, ligada à arte greco-romana e renascentista. Foi abrigado pela família do tio materno, Enrico Nanni, e com sua família emigrou para o Brasil aos dez anos de idade. Aqui, Vittorio tornou-se "Victor Brecheret" e já com mais de trinta anos de idade recorreu à Justiça para inscrever seu registro de nascimento tardiamente no Registro Civil no bairro paulistano Jardim América. Assim Brecheret consolidava a sua nacionalidade brasileira, embora tivesse nascido na Itália. Este tipo de "regularização" era muito comum entre imigrantes italianos na primeira metade do século XX no Brasil. São Vicente foi sua segunda cidade, de temporadas quase permanentes. Tinha casa na rua José Bonifácio, no centro, onde trabalhava e recebia amigos, clientes e alunos. O célebre escultor produziu aqui muitas das suas pequenas obras e teve como assistente uma aluna vicentina que também se tornaria uma grande celebridade das artes plásticas: Elisabeth Nobling, nascida e criada na Vila Betânia. Brecheret é o autor de grandes monumentos em São Paulo (Bandeirantes do Ibirapuera e Duque de Caxias) , bem como da famosa estátua Musa Impassível, da poetisa Francisca Júlia.#17



Afonso d'Escragnolle Taunay (1876 – 1958), catarinense,  biógrafo, historiador, ensaísta, lexicógrafo, tradutor, romancista, heráldico e professor brasileiro. Ocupou a cadeira n.º 1 da Academia Brasileira de Letras. Descendente de Nicolas-Antoine Taunay , pintor francês, integrante da Missão Artística Francesa na expedição que trazia a Princesa Leopoldina, em 1816.  Filho do então presidente da província de Santa Catarina, Alfredo d'Escragnolle Taunay (1843-1899), o visconde de Taunay, Afonso passou a infância entre o Rio de Janeiro e Petrópolis, estudou no Colégio Pedro II, onde conheceu João Capistrano de Abreu, seu professor. Membro do IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e no IHGSP - Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, em 1911. Taunay exerceu funções públicas  por quase 50 anos, como lente da Escola Politécnica de São Paulo e nos últimos 29 anos como diretor do Museu Paulista e seu anexo, (guardião das relíquias vicentinas)  o Museu Republicano Convenção de Itú. Dedicou grande parte da sua vida a pesquisas dos fatos da história de São Paulo e dos paulistas, e do Brasil. Alguns desses trabalhos estão como contribuições para os Anais e a Revista do Museu Paulista, História do Café do Brasil, Biografia de Bartolomeu de Gusmão, História da Vida e da Cidade de São Paulo, e sobretudo a notabilíssima obra História Geral das Bandeiras Paulistas. Foi sucedido na direção do Museu Paulista pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda.#18


SANTISTA DE ALMA CALUNGA. Esse retrato de José Martins Fontes (1884-1937) quando cursava o 5º ano de Medicina revela toda a sua grandeza humana e eterna jovialidade. Sempre dividido entre o dever e a necessidade (o feijão e o sonho), obviamente se inclinava para o que lhe dava o prazer e um sentido mais amplo de vida. Sua ligação com São Vicente era intensa, pois  preenchia aqui o vazio que lhe assaltava a alma quando se entediava com a vida aristocrática, com a busca de riqueza e  prestigio social. Até hoje é assim. Certa vez, ao fiscalizar uma uma denúncia de exercício ilegal de medicina em São Vicente, surpreendeu o denunciado com um gesto que deixaria horrorizado seu pares médicos mais ortodoxos. Espiritualmente, ainda é o mesmo "Zezinho Fontes", que se preocupa com os deserdados e sofredores. Inspirou santistas a fundar na periferia vicentina uma casa de caridade onde não falta o pão nem o amor ao próximo. Foi ali que testemunhei há alguns anos, pelo aparelho mediúnico, também muito simples, a sua manifestação espontânea com uma mensagem de  saudação vinda diretamente de Alvorada Nova: "Muita alegria em rever os amigos espalhando luz e conhecimento. Um abraço do Martins".  Era uma confirmação daquilo que ele sempre acreditou e praticava quando estava na carne: "Como é bom ser bom".#19


Filha de Antônio Luiz Barreiros e Isabel da Encarnação Barreiros, agricultores portugueses radicados no Japuí. Passou sua infância e adolescência em São Vicente, cidade em que nasceu e onde, desde cedo, demonstrou seu talento pela arte e vocação médica. Cursou medicina na UFRJ tornando-se a primeira médica da baixada santista e de São Vicente. Formou-se em 1953. Clinicou no Rio de Janeiro como pneumologista e sanitarista. Casou-se com o goiano Imar de Santana Azevedo em 1954, tendo tido dois filhos: Sérgio Barreiros de Santana Azevedo, diplomata; e Lilian de Santana Botelho, médica, além de quatro netos. Prazeres Barreiros de Santana Azevedo aposentou-se da medicina na década de 1980 para dedicar-se à pintura, sua grande paixão. Assumiu o pseudônimo de Zenize, tendo recebido inúmeros prêmios nas exposições de pintura no Rio de Janeiro. Deixou uma obra com mais de quatrocentos quadros. Mudou-se para Goiânia em 1997 , onde faleceu em 2002. SV. Memória da Medicina.#20



Arquiteto e urbanista pela FAU-USP, Edison  tem uma longa trajetória profissional e, quando precisou dar uma pausa na carreira e nas coisas, veio morar com sua eterna Hilda exatamente numa onda de concreto armado chamada Marahu. Erguida na esquina do Itararé com a praia dos Milionários, é uma obra magnífica de Lauro da Costa Lima. Cheio de tempo e contraditoriamente inquieto, resolveu  mapear os edifícios da cidade explicando as origens e formas de cada um deles. A palavra chave dessa arte é “volumetria” e foi dela que ele nos explicou o quanto foi difícil projetar e erguer o Tamoio, prédio que parece não ter valor arquitetônico: “Difícil fazer aquilo heim”, reagiu ao conversamos sobre o mesmo e os critério de sua análise.  Voltou para São Paulo. Até que tentou, mas São Vicente e Santos são pequenas para seu estilo de vida independente. Esse material dele, dos prédios vicentinos, é muito valioso e está registrado no Calungah. Edison gerenciou o CAU na Baixada Santista e também conhece muita gente. Foi ele que nos colocou em contato com Eduardo, um dos filhos de Ícaro de Castro Mello, para melhor conhecermos as suas raízes. Foi ele também que “super-apoiou” a ideia nossa de transformar a Fábrica de Vidro no Sesc São Vicente, indicando até o caminho para levar o assunto para o lugar e a pessoa certa. Coisas da vivência.  Ps. Que tal o blazer dele? São Vicente em Três Tempos #21



Mestre e doutora em História Social, Wilma Therezinha Fernandes de Andrade é a maior autoridade desse segmento em nossa região. Fundadora do Curso de História, professora titular na UniSantos desde 1966 e formadora de várias gerações acadêmicas. Seu método de ensino aos iniciantes sempre foi simples e eficiente, começando pelo conhecimento das figuras históricas marcantes. Fez isso, por sorteio, a todos os alunos classe de 1984 e para nós caiu a figura do Conde de Bobadela. Não havia internet e a biblioteca era o meio mais rápido de pesquisa. Funcionava bem, pois éramos leitores. Mas sobre São Vicente, sem mais delongas, falando sobre a primazia, ela deu esse depoimento: "Como eram todos católicos, eles sempre davam aos pontos geográficos com o nome do santo do dia. Esse nome vai ter um enorme sucesso porque depois ficou Vila de São Vicente, Capitania de São Vicente e vai ser denominada São Vicente até o final do século XVII, quando então a passa a ser chamada de Capitania de São Paulo. Se não tivesse havido essa mudança, hoje provavelmente nós seríamos Estado de São Vicente”. #22



Humberto Wisnik é calunga da gema. Tem memória cinematográfica do longo período em que viveu na cidade: as escolas, o comércio, as pessoas, os amigos de infância – incluindo o convívio com o pianista César Camargo Mariano- até quando teve que subir a serra e dar outros rumos na vida. Tem tudo muito bem documentado com fotos, jornais, os nomes e detalhes das coisas dessa época. Na biografia do seu irmão José Miguel, de uma geração posterior à sua, encontramos as razões da presença e da trajetória dos Wisnik em São Vicente. Tudo isso aconteceu antes dele ingressar na carreira de televisão em São Paulo, onde atuou como produtor. Ao falar de Ivani Ribeiro, outra vicentina que, como ele, fez sua história na TV, Humberto se lembra também dos seus primeiros anos nesse universo: ”Ivani era casada com Dárcio Ferreira, advogado e escritor, da Rádio São Paulo, que fez locução comercial na TV Record nos anos 60. Ele fazia o último horário, das 20H até o encerramento, por volta de 00:30. Fechado na Cabine de locução, aproveitava esse tempo para preparar sinopses e rascunhos para Ivani. Eles moravam no Alto de Pinheiros (talvez rua Natingui) e eu pegava carona com ele frequentemente em seu Chevrolet Bel Air bege, com capota preta. Era uma pessoa simpática e amigável”. #23


Laurinda de Jesus Cardoso Baleroni , atriz e dubladora, nasceu em São Paulo, em 13 de setembro de 1927. Em 2023 , para a surpresa de muitos dos seu fãs daqui e da região, ela visitou a cidade para um reencontro com um período muito especial da sua vida. Esse retorno foi registrado pelo Jornal Vicentino: “A atriz Laura Cardoso, de 95 anos, compartilhou nas redes sociais uma foto em frente à casa onde morou com as filhas em São Vicente. A casa, que fica na Rua José Antônio Zuffo, no Centro, próximo ao Morro dos Barbosas, foi da família dela até meados de 1960. No Instagram, ela escreveu "Revivendo o passado" e disse: "Lugar onde me diverti, minhas filhas passaram sua infância e criei memórias maravilhosas... vivas até hoje". De acordo com a atriz, . "Infelizmente, não está preservada, mas as paredes carregam minha história e me dá um sentimento extraordinário revê-la". Laura explicou que o bisneto Fernando foi quem a levou para a surpresa de revisitar o passado. "No final da rua, a imagem do Santo Antônio ganhava atenção da vizinhança. Tive a oportunidade de mostrá-la ao meu amado bisneto Fernando, que me trouxe de surpresa para este lindo passeio. Uma emocionante viagem ao passado" #24



Waldir Rueda Martins (1966-2011) foi um dos mais atuantes defensores da preservação do patrimônio histórico da Baixada Santista na última década. Paulistano, veio para o litoral ainda jovem, onde graduou-se em História. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente e atuou como professor de história na rede estadual de ensino de Santos. Foi também um ativo colaborador do Novo Milênio, site no qual publicou precioso acervo de documentos escritos e iconográficos da Capitania, Vila e cidade de São da Vicente. Como muitos outros historiadores, Waldir defendia a ideia de que a região deveria ser chamada de Baixada Vicentina e não santista, por causa da antiguidade e originalidade política da vila de São Vicente. No livro de ficção “Estação Amizade, dez jovens lutando contra o Suicídio”, o autor Dalmo Duque criou um personagem especialmente para homenagear o historiador, denominado “Waldir R.”, pesquisador misterioso que ajuda o protagonista da história a desvendar o caso de jovens estudantes perseguidos durante o regime militar e depois envolvidos numa trama internacional de espionagem. Waldir Rueda faleceu em Santos, dia 21 de agosto de 2011, aos 44 anos de idade. Foto: Memória Santista. #25.



Antônio Andrade Lima seguiu os passos do pai - Moacyr Andrade Lima - como empresário e fomentador cultural. Eles mantiveram durante décadas uma ampla rede de salas de cinema cuja história foi contada na Politantéia com o título "A Marcha do Cinema em São Vicente". Na década de 1970, Antônio tornou-se promotor cultural, contratando peças de teatro e criou também o primeiro Festival Brasileiro de Cinema, evento que foi realizado no Cine Teatro Jangada durante sete anos consecutivos. O Jangada funcionava também como espaço de eventos diversificados, abrindo as portas para escolas, órgãos públicos, bem como instituições civis e militares. Foi Antônio Andrade Lima quem nos apresentou há alguns anos a memória “São Vicente era um Jardim”, título que extraímos de uma frase dele e que encerrou a conversa que tivemos em 7 de junho de 2019, na rua Tibiriçá, 146. Ali, ele nos confiou essa preciosa memória dos seus amigos de infância e hoje em confraria; pessoas que depois de mais de 60 anos de convívio ainda se reúnem às sextas-feiras para tomar vinho e saborear lembranças. O texto "São Vicente era um Jardim" foi originalmente organizado por Wilson Verta. #26


Com olhar enigmático e crítico, Mário Rodrigues não se encaixa em nenhuma definição de rótulo acadêmico e artístico. É um profissional de educação turística que usa a história e a arte como ferramentas de expressão do seu olhar curioso sobre as cidades e suas edificações. Morador de São Vicente, é sempre visto olhando para os arredores e interiores dos prédios tentando ler a arquitetura e seus significados ocultos para a maioria dos habitantes. É um educador de olhares, trabalhando sempre como guia cultural. Nada escapa à sua leitura observadora e crítica das edificações. É nosso vizinho aqui no Boa Vista e sempre anda paulistanamente apressado, indo ou voltado das viagens de excursões. Acena sorridente e segue nas suas caminhadas semanais.#27



Os Pires dispensam apresentações. Foi um dos núcleos fidalgos dos 400 colonos vicentinos que partiram do Tejo e aqui aportaram com Martim Afonso de Souza em 1532. Vieram juntamente com os Góis, os Pinto, os Azevedo, os Cubas, os Lara, os Monteiro, os Leitão, os Gonçalves, os Borges, os Nunes, os Adorno, os Oliveira, os Aguiar Altero, os Rodrigues de Almeida, os Colaço, os Ferreira, os Proença, os Figueiredo, os Braga, os Chaves, ufa, e muitos outros. Impossível que entre tantos não houvesse alguns músicos para aplacar a dor da saudade da Terrinha. Os ancestrais de Luiz Pires certamente estavam entre esses, que se espalharam pela Ilha e na Capitania. Nascido na gema vicentina, é um dos autores do artigo histórico que explica aqui a "A Alma Musical Calunga". É fundador do Clube do Choro de Santos, ali no Valongo, bem pertinho do seu escritório de lida diária. Salve Luiz Pires e seu chorão de seis cordas!!! Ou será 7? #28



Fernando Tiepelmann Roxo é um dos mais importantes “photodroners” da nossa região. Destacou-se rapidamente não só pela qualidade das imagens, mas principalmente pela observação geográfica e histórica dos locais que vem registrando. Sua atuação nessa modalidade foi se ampliando com a busca de ângulos diferenciados permitidos por esta tecnologia digital de registro, que antes era muito limitado pelas fotografias áreas planas, quase que acidentais. Com o drone, basicamente incidental, é possível registrar tanto as imagens panorâmicas como também os detalhes que antes não era possível captar com tanta precisão e qualidade. Portanto, não é apenas o correto uso da máquina, mas principalmente o diferencial do olhar de quem opera o equipamento. Quando vimos as primeiras imagens dele sobre a ilha de São Vicente ficamos impactados e, impacientes, pedimos que se expandisse para outras localidades fora da orla e também na área continental. Pura ansiedade nossa. Tudo foi acontecendo como ele planejou: precisa e gradualmente. O trabalho continua, sempre surpreendente e com conhecimento prévio e planejado dos alvos registrados. É um autêntico historiador e geógrafo pioneiro da fotografia por drone. Fernando é administrador do grupo Viver em São Vicente e Região. #29








Gilberto Grecco não se cansa de registar as coisas do dia a dia de São Vicente, que para nós já virou rotina, mas que, para ele, continuam sendo mágicas e curiosas. Provavelmente veio do fotojornalismo, que é uma escola onde é preciso estar sempre atento: matemático e ao mesmo tempo poético. Nessa área, muitas coisas não podem e nem devem ser ditas com palavras, mas tudo pode ser falado pelas imagens. É assim que os fotógrafos e cinegrafistas mandam recados para público. No mais, o nosso "El Grecco" das lentes vai curtindo sua vida praiana vicentina, sempre marcando presença e clicando os grandes eventos culturais da cidade. Precisando de um registro profissional de alto nível, chame o Grecco. #30


Dois cidadãos vicentinos da época que Praia Grande era bairro desse velho município colonial.Amigos de longa data,  ambos passaram boa parte da juventude estudando em São Vicente. Suely e Cláudio cresceram em locais muitos próximos: ele no Boqueirão e ela na Vila Mathilde (nome da sua avó). Cláudio é filho de Elson e Graziella Sterque e irmão do Elsinho, Carmem, Dione e Escobar. Suely é filha de Oswaldo Toschi (vereador vicentino muito querido e respeitado) e Circe Sanchez Toschi, neta do pioneiro Heitor Sanchez, todos emancipadores históricos. Heitor iniciou seus negócios e fincou raízes em Praia Grande nos anos 1920. Quando nos atrevemos a escrever a história da nova cidade, fomos rapidamente envolvidos e municiados por Cláudio e Suely de preciosos documentos dessa trama curiosa. Não foi por acaso: vimos o mar pela primeira na Ocian em 1972 e depois trabalhamos como gestor de escola no Solemar em 2002, bairro que deu o primeiro grito de independência da cidade, exatamente pelo Sr. Júlio Secco de Carvalho, nome da escola na qual atuamos até 2006. Há três anos Cláudio nos levou para fundar o IHGPG e ali conhecemos a Suely e muitos outros confrades que nos ajudaram a organizar essa tarefa historiográfica. É isso. O resumo da ópera “Marenostrum”. #31




Paulista de Itapuí, Tito Livio Ferreira (1894-1988), historiador e autor de 14 obras, professor de História Faculdade de São Bento e da PUC-São Paulo. O nome é um claro tributo ao famoso historiador romano. Na Poliantéia Vicentina (1982), escreveu o artigo que confirmou e titulou São Vicente com “Berço da Democracia das Américas". Colaborou em vários jornais paulistas. Foi um dos fundadores Ordem Nacional dos Bandeirantes(1964), da Academia Paulista de História-APH (1972). Bacharelou-se em Direito pela Universidade Fluminense. Fundador do Centro do Professorado Paulista (CPP), foi um dos primeiros a lutar pelo pagamento das férias dos professores, na década de 30. Exerceu o cargo de historiógrafo chefe da Seção da História do Museu Paulista (Ipiranga);  titular da cadeira nº 11 da Academia Paulista de Letras; Diretor do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Recebeu do governo de Portugal a Medalha da Ordem do Cristo. #32



Derosse José de Oliveira foi o memorialista que confirmou São Vicente como “Berço da Democracia das Américas”, se referindo à formação da mais antiga organização política européia registrada neste continente.  O fato se deu quando Martim Afonso instalou -30 anos depois da nomeação feita por Américo Vespúcio - a primeira câmara reunindo os chamados “homens bons” ou “de cabedal”.  Advogado versátil e extremamente requisitado nas demandas jurídicas, sobretudo no tribunal do júri, Derosse tornou-se figura muito querida também nos meios populares de Santos e região. Conhecia bem e venerava a antiga vila colonial como poucos intelectuais de sua época. E falava por experiência, como neste relato de 1982 na Poliantéia: “Quem como eu viveu em São Vicente há trinta e tantos anos, frequentou os bancos da Escola do Povo, conheceu o Mato de Nossa Senhora, a ‘linha do bonde um’, o Catiapoã e o Clube de Golf, carregando as maças de tacos; a Biquinha, a Ponte Pênsil, o Gonzaguinha, o pé de ingá do velho Hospital São José e a Velha Matriz  e suas novenas...” #33



Waldiney La Petina é descendente de dois troncos da antiga árvore vicentina: os Lapetina (grafia abrasileirada) proveniente da Itália no século XIX; e dos Amorim, núcleo familiar também centenário que deu a São Vicente filhos de alta estirpe e destaque em diversas áreas, incluindo a Medicina. Genealogista dos mais curiosos, localiza  as raízes das mais antigos núcleos calungas, desvendando origens e identidades. Somos parceiros na obra "À Bocca do Coffre", livro que trouxe à tona as famílias e propriedades mais antigas da cidade. Ao localizar na ALESP e compartilhar conosco o famoso edital de 1909 do prefeito Antão Alves de Moura, La Petina não somente reacendeu o passado e as raízes de São Vicente, mas também permitiu que explicássemos como a cidade, quase morta no início da república, ressuscitou das próprias cinzas a que estava aparentemente sepultada. Missão cumprida!!! #34





Narciso Vital de Carvalho deu uma importante contribuição para a vida cultural e histórica vicentina ao publicar o seu famoso guia “Conheça as Ruas de sua Cidade”. Não era algo superficial nem simples, pois cada logradouro vinha acompanhado de uma pequena biografia das personalidades e localidades que dava nome às ruas. Numa época em que não havia internet, o guia era uma preciosidade editorial. Antes do lançamento da 1ª edição, em 1982, Narciso foi entrevistado pelo jornal A Tribuna e disse como tudo começou:
“Falando sobre o seu trabalho de pesquisa sobre o histórico das ruas de São Vicente, Narciso Vital de Carvalho explica que começou a realizar o levantamento estimulado pelo interesse dos estudantes que o procuravam e por seu prazer de pesquisar a história da sua Cidade. 'A publicação do trabalho é para mim uma notícia muito boa, na medida em que vejo reconhecido um trabalho que iniciei sem maiores pretensões, mas que acredito será bastante útil como fonte de coleta de da- dos', diz ele. O chefe do Arquivo da Câmara afirma, porém, que continua efetuando suas pesquisas, inclusive já pensando em suprir, no futuro, determinadas lacunas que não puderam ser preenchidas no levantamento que será editado. Em alguns casos, não houve possibilidade de se realizar um histórico mais completo de algumas figuras, devido à falta de dados e às dificuldades de comunicação com parentes próximos dos homenageados. 'O trabalho a ser publicado não é, por isso, completo, mas foi feito de forma cuidadosa, dentro das nossas possibilidades', conclui". Hoje o Guia é raridade e peça muito cobiçada.. Não é raro ver um exemplar sendo leiloado e rapidamente arrematado pelo colecionadores. #35

O guia foi feito em duas edições (1978 e 1982) para ajudar os estudantes nas pesquisas escolares. Nessa época, São Vicente tinha 450 ruas oficiais e cerca de 75 mil habitantes. Hoje tem um total de 365 mil habitantes, 45 bairros e quase cinco mil ruas.




Arthur Caratão era jornalista, publicitário e diretor do jornal A Notícia, de Santos, juntamente com seu  sócio Mariano Scarpini. Ligou-se à  nossa história em 1932 por ocasião das comemorações do IV Centenário da fundação da Vila de São Vicente, quando produziu o “Álbum Official” de homenagem ao grande evento histórico que movimentava toda a região. O álbum era composto de teses históricas e poesias de exaltação, incluindo do saudoso Martins Fontes. O jornal A Notícia, lutando com dificuldade para sobreviver em meio aos muitos concorrentes, ficou famoso por ter sofrido um ataque de empastelamento em sua oficina após ter noticiado uma rumorosa briga ocorrida entre marinheiros na zona de prostituição próxima ao cais. O ataque foi desferido pessoalmente pelo oficial  Azevedo Marques, comandante do destroyer Amazonas, então atracado em missão no porto de Santos. O jornal recebeu diversas manifestações de solidariedade dos concorrentes e autoridades locais. 
Foto e dados: Novo Milênio. 



Durante os festejos comemorativos do IV Centenário de São Vicente, em janeiro de 1932, foi editado álbum para solenizar o grande acontecimento, redigido em Santos pelo jornalista português Artur Caratão. Em 216 páginas, também registrava muita matéria sobre Santos. A publicação assinalava eventos históricos de São Vicente, desde o desembarque da Armada de Martim Afonso e a fundação a 22 de janeiro de 1532 pelo fidalgo português. Thomas D'Alviz escreveu sugestivo trabalho sobre a vida e obra de Benedito Calixto. Foto e dados: Novo Milênio. #36



De ascendência portuguesa e francesa, o escritor, jornalista e historiador Jaime Franco Rodrigues Junot (1899-1984), frequentou a Universidade de Coimbra e, de volta à sua terra natal, foi redator-chefe da Folha de Santos, colaborou na revista mensal A Flama e, por longos anos, no jornal A Tribuna. Foi fundador do Instituto Histórico Geográfico e da Academia Santista de Letras. Jaime foi também bibliotecário da Sociedade Humanitária, onde transformou aquele espaço, segundo suas próprias palavras “num instrumento de cultura do povo santista”. Em 1982 colaborou com dois artigos na Polianteia Vicentina: “Cerimônia Inaugural da Vila de São Vicente” e “Martim Afonso e sua Época”. É biógrafo de Martins Fontes e publicou as seguintes obras: Cavaleiro do Amor, A Beneficência, Gente Lusa, A Igreja do Rosário, História Social da Cidade de Santos e História da Literatura de Santos. Em 1970, Jaime Franco foi titulado oficialmente como de “Cidadão Emérito de Santos”. #37



O Maestro Jesus de Azevedo Marques, compositor, arranjador, regente, programador de rádio e redator de artigos sobre música em jornais e revistas da Baixada Santista. A convite do prefeito Charles Dantas Forbes, foi nomeado Diretor de Cultura Artística de São Vicente. Foi durante 25 anos regente do Coral Vicentino e da primeira Orquestra Vicentina de Concertos, especialmente criada em 1968 para a inauguração do Cine Teatro Jangada. Autor de vasta obra musical, o maestro é também o criador do Hino Oficial de São Vicente, cuja letra é de Luiz Meireles de Araújo. Azevedo também compôs hinos de dezenas de grupos escolares de São Vicente e Santos. (Boletim do IHGSV) #38



Nascido em Portugal, em Lamego, Distrito de Viseu, a 27 de março de 1909, faleceu em São Vicente a 24 de outubro de 1973. Chegou ao Brasil em 1921, radicando-se inicialmente em Santos. Por volta de 1928 passou a residir em São Vicente onde, em 1934, instalou, em sociedade, o Cine Anchieta (depois Cine Teatro São Vicente e  Jangada). Manteve programas  em Santos, na Rádio Atlântica e na Rádio Clube, obtendo sucesso maior, nesta última, com seu programa Recordar é Viver. Em 1948 fundou a Sociedade São Vicente Jornal, Gráfica e Editora, com a cooperação de um grupo de cidadãos vicentinos, por ele escolhidos, cuja organização dirigiu até 31 de julho de 1962. Foi esportista do Beija-Flor Futebol Clube, onde foi diretor e presidente. Por volta de 1935 dedicou-se à arte cênica, revelando-se além de entusiasta um bom ator, montando um grupo teatral no Esporte Clube Beira-Mar, de cujo clube também foi diretor. Em 1938 fundou o Centro Artístico Martim Afonso, promotor de extraordinários espetáculos cênicos em São Vicente, Santos e interior paulista. Ao sair do Beira-Mar participou do grupo dissidente que fundou o Atlântico Clube Vicentino (Tranquinho), em 1938. Concluiu os seus dias à frente da Santa Casa e Hospital São José, como provedor, onde construiu o Pronto-Socorro Infantil, instalou o Banco de Sangue e reformulou toda a estrutura técnica, cirúrgica, clínica e administrativa. Era fotógrafo amador e deixou precioso acervo de imagens de São Vicente, herdado por sua neta Rita de Cássia Peixoto Moreno. Honrou de forma dinâmica a tradição portuguesa de renovar São Vicente nos seus momentos históricos mais críticos.#39


Luiz Meirelles de Araújo (1911-1990), foi uma figura conhecida em São Vicente, onde casou com Giovaninna Menna de Araújo (Dona Joaninha) e teve uma filha, Mary de Araújo Zomignani. Era conhecido por "Lulú da Melodia", nome da primeira loja de discos de São Vicente, que abriu primeiramente na Rua XV de Novembro e posteriormente transferida para a Rua Frei Gaspar, onde ficou por vários anos e era frequentada pelas famílias tradicionais da cidade, estudantes de música e artistas. Lá encontravam os lançamentos de sucesso, partituras e instrumentos musicais.  Seu Lulú era atuante na cidade e participou  em vários acontecimentos históricos: fez parte dos combatentes da Revolução Constitucionalista de 32.  Foi fundador do Clube Atlântico, clube social e de danças, também conhecido como "Tranquinho", que ficava na esquina da rua João Ramalho com a rua Tibiriçá, onde hoje é o Hotel Palladium. Muitos casais se conheceram lá e formaram famílias que residem até hoje na cidade. Integrou o Coral Vicentino  por vários anos, apresentando-se na região e em várias cidades do estado. É o autor da letra do Hino Oficial de São Vicente, cuja melodia é do maestro Azevedo Marques, amigo de longa data. É autor das letras dos hinos de várias Escolas Municipais existentes na época. Participou em muitas campanhas cívicas e humanitárias, arrecadando fundos para melhorias. Autodidata (estudou até o 2º ano primário), deixou vários poemas, quadros, esculturas e objetos de marchetaria, guardados com carinho pela família. É o autor dos versos originais que fazem parte do Monumento original da Praça Heróis de 32, no Gonzaguinha, versos esses apagados quando da reforma da Praça. Faleceu em 14 de dezembro de 1990, aos 79 anos, devido a problemas pulmonares.  Dos netos: Maurício e Cláudio Zomignani. #40



Washington Luís Pereira de Sousa (1869-1957) tem uma biografia extensa, rica e muito curiosa de dados e episódios memoráveis. Resumindo, foi advogado, historiador e político: vereador, deputado, secretário de justiça (“Não prender sem motivo, não prender sem processar!) ,13º Presidente do Brasil e o último da chamada República Velha, além de ter sido anteriormente o 18º Presidente do Estado de São Paulo, e 3º Prefeito da Cidade de São Paulo. Na presidência do Brasil, foi deposto em  1930, pelo general Tasso Fragoso. Passou 17 anos no exilio, onde perdeu a esposa Sofia Paes de Barros. É considerado até hoje um gestor revolucionário, estrutural e essencialmente republicano. Como historiador dos governadores paulistas, inspirou-se em Bernardo José Maria de Lorena, que construiu a Calçada do Lorena; Bernardo José Pinto Gavião Peixoto, que abriu a Estrada da Maioridade. Escreveu dois clássicos da historiografia paulista, sobre as capitania de São Vicente e de São Paulo, publicado pelo Instituto Histórico e Arqueológico, do qual era membro. Sua ligação com São Vicente teve vários momentos marcantes: foi o primeiro a atravessar a Ponte Pênsil na sua inauguração em 1914; a inauguração do Marco Divisório com Santos, em 1924; a Placa Comemorativa do Porto da Naus (desaparecida), também em 1924; sua casa veranista na Praia do Itararé (atual Edifício Marahu), adquirida da família Nobling, sempre cheia de amigos e visitantes. O ex-presidente não aceitava o título de historiador, afirmando ser apenas um mero ensaísta. Seus despojos estão sepultados no Cemitério da Consolação, em São Paulo. #41



A Semana de Arte Moderna de 1922, movimento que resgatou a raiz da cultura brasileira após séculos de influência do modelo europeu, teve início também nos encontros informais ocorridos em São Vicente. Aqui, em algumas ocasiões memoráveis, também foi o cenário precursor dessa revolução histórica, onde aconteciam os encontros do chamado grupo dos cinco: as pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral; e os escritores Menotti Del Pichia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Todos frequentadores assíduos da cidade em suas casas veranistas ou de amigos. Os cinco deixaram impressões sobre São Vicente em suas obras, como lugares, paisagens e personalidades emblemáticas com quem conviveram, aristocráticas ou populares. #42



O historiador Pedro Taques de Almeida Paes Leme com os primos Frei Gaspar da Madre de Deus e Frei Miguel Arcanjo da Anunciação discutindo pontos da história de São Paulo. Tela de F. Richter. Acervo do Museu Paulista.
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Franz ou Franta Richter (1872 -1964), pintor, ilustrador e litógrafo checo radicado no Brasil. Em 1888, formou-se em desenho litográfico na Escola de Artes e Ofícios de Praga. Em 1913, encantado pelos trópicos e atraído pelo mercado gráfico-editorial recém-criado no Brasil, Richter fixou residência no país. Pouco tempo depois, foi contratado pelos irmãos Weiszflog para trabalhar na editora da família. Em 1920 os Weiszflog entraram no ramo industrial de papel adquirindo o patrimônio da Companhia Melhoramentos. Nessa época, contrataram Richter como ilustrador. Além das ilustrações de uso editorial - que influenciou muitos artistas e tornou-se referência nesse setor - a produção artística tradicional de Richter também foi explorada para compor o acervo do Museu do Paulista do Ipiranga. São oito obras de conteúdos históricos. Três dessas obras, foram consideradas por alguns críticos como releituras de alguns desenhos de Hércules Florence. As pinturas foram encomendadas por Afonso d’Escragnolle Taunay, então diretor do Ipiranga, em função tanto das comemorações dos 100 anos da Independência e 50 anos do Museu. #43



Stefan Zweig escritor biógrafo e uma das biografias mais intrigantes do século XX. Escreveu sobre a vida de Américo Vespúcio, também descobridor do Brasil e nomeador de São Vicente. Zweig foi romancista, poeta, dramaturgo, jornalista austríaco de origem judaica. A partir da década de 1920 e até sua morte em 1942, foi um dos escritores mais famosos e vendidos do mundo. Suicidou-se em Petrópolis juntamente com sua esposa Lotte, abalados com a expansão da barbárie nazista pela Europa. O casal havia atravessado o Atlântico em 1940 e se estabelecido inicialmente em Nova Iorque. Em 22 de agosto do mesmo ano, fez sua primeira viagem para o Brasil. Nesse período escreveu “Brasil, País do Futuro”, utopia ideologicamente adorada pelos ufanistas e odiada pelos marxistas. Ao biografar Vespúcio indiretamente Zweig e Lotte biografaram São Vicente. #44




Este erudito paulistano (1891-1957)  era desenhista, ceramista, ilustrador, historiador e professor. Como pensionista do governo do Estado, viaja em 1910 para Paris e matricula-se na Académie Julian. Foi importante figura para a história paulistana e paulista, sendo responsável pelo desenvolvimento de brasões de vários municípios brasileiros, como o da Cidade de São Paulo, de Mogi das Cruzes e de São Sebastião. Também viria a desenhar o brasão do Estado de São Paulo. Destaca-se ainda por seu trabalho como historiador, deixando várias publicações voltadas à documentação arquitetônica da construção civil e religiosa , obras sobre mobiliário antigo, indumentária, insígnias e armas militares.  Fez estudos sobre história colonial, sendo um dos pioneiros na análise da produção artística nesse período. Defensor pioneiro da preservação de prédio históricos. É autor dos retratos  históricos de João Ramalho e Martim Afonso de Souza, a serviço do Museu Paulista. Na década de 1920, criou os painéis decorativos para os quatro monumentos que ornamentam a Calçada do Lorena na estrada velha do Caminho do Mar.
Fonte: Itaú Cultural. #45


Jornalista, poeta e escritor nascido em Miritiba no Maranhão em 1886. Grande cronista da vida brasileira e portador de conteúdos polêmicos e de forte repercussão pública. Seu Diário Secreto (1910-1928) registrou aspectos curiosos da biografia de influentes escritores , sendo rigorosamente guardado por anos pela Academia Brasileira de Letras. Morto precocemente no Rio em 1934, o escritor reaparece alguns anos depois como Espírito-autor nas obras de Chico Xavier, alvo de rumoroso conflito judicial que inocentou o médium e resultou em ampla publicidade dos escritos espíritas. A dupla Chico-Humberto passou algum tempo usando nos livros o pseudônimo Irmão X. No período do Estado Novo surge o livro "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", narrando uma história espiritual do Brasil entre 1500 e 1889, cujo governante é uma entidade bíblica denominada Ismael, filho de Abraão e com a escrava Hagar. O escritor também registrou no seu famoso Diário Secreto, publicado pós-mortem, a sua passagem inesquecível pelo litoral paulista: “Vamos primeiro a São Vicente. Tomamos outra estrada, atravessamos a ponte, e eis-nos na velha cidade colonial, berço da capitania, com a sua fisionomia de singela e simpática, de honrada e velha cidade nordestina. E, enfim o mar, a praia imensa e lisa, pela qual rodamos no rumo sul por alguns minutos... Damos meia volta, e é Santos, com suas praias animadas e ruas extensas de cidade que mais se preocupa com o trabalho do que com os enfeites (...)” #46





O sociólogo e então deputado federal escreveu um artigo na revista O Cruzeiro ( Outubro de 1949) defendendo a criação de um Museu Histórico Nacional em São Vicente. O autor de Casa Grande & Senzala reafirmava a condição de Céllula Mater de São Vicente: "... a mãe das povoações coloniais do Brasil" :

“CONGRATULO-ME daqui – como já me congratulei na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados – com a gente de São Vicente que, praticando o bom municipalismo e o bom tradicionalismo de que o Brasil necessita hoje, se volta carinhosamente para os valores do seu passado. Pois esses valores fazem do velho burgo cidade de significação não apenas paulista, porém regional e nacional”.

Aprovado na Câmara, o projeto foi recomendado por uma comissão e estava atrelado ao projeto regional de unificação regional das cidades de Santos, São Vicente, Cubatão e Guarujá, de autoria do engenheiro urbanista Francisco Prestes Maia. A ideia não passou no Senado. # 47



É santista de nascimento (1954) e radicado em Praia Grande há mais de quatro décadas. Ao falar sobre Feira Hippie ,  Rondon muda a fisionomia introspectiva que lhe é peculiar e rapidamente se extroverte com sorriso e brilhos nos olhos. Perguntamos rapidamente algumas coisas sobre o famoso evento vicentino e ele logo recorda que foi um dos dez primeiros escolhidos para compor o grupo dos primeiros artistas da feira. A escolha foi feita pelo Departamento de Cultura, que funcionava num casarão na rua João Ramalho. Ali aconteceu um processo seletivo para escolher e depois cadastrar os expositores em suas respectivas modalidades, processo que era feito através de um teste de aptidão. Antes disso  Rondon percorria todas a cidades da região com um grupo de amigos artistas exibindo seus trabalhos nas calçadas da orla ou em algum evento que atraia grande público. Nessa época ele morava em São Vicente,  no Beira Mar,  escolheu, como muito outros hippies como ele, expor seus quadros e pintura sobre sobre tecidos no Gonzaguinha, em frente a uma bar muito conhecido chamado " 3 Ondas" e também a sorveteria Caramba, os pontos mais badalados, que ficavam entre a rua José Bonifácio e Gáudio. Ali, por estarem muito em evidência, eram constantemente incomodados pelo "Arrastão", uma tropa policial que passava apavorando e  confiscando o material de trabalho dos artistas. Foi daí que surgiu a ideia, por parte da prefeitura, de escolher e organizar um espaço somente para os artistas de rua. "Isso aconteceu no verão entre 1972 e 1973, quando fomos para a Biquinha para formar o primeiro grupo de artistas da Feira Hippie", lembra o pintor. #48






Willy e Aurélio Aurely foram os primeiros sertanistas do século XX a explorar a Amazônia e o Alto Xingú. Eram as famosas Expedições Piratininga nos anos 1940. Willy era um dos escritores de aventuras mais lidos da época e financiava as viagens por meio de editoras e livrarias. Foi jornalista de A Tribuna. Seu irmão foi um antropólogo leigo e morreu no Sertão quando aventuravam por lá. Fechou os olhos dizendo que estava voltando para casa e se reencontrariam no lugar de onde tinham vindo. Viviam em São Vicente, filhos de uma família de italianos muito conhecida na cidade. Na infância, Aurélio e Willy brincavam de aventuras nos mangues do Catiopoã e nos distantes bairros de Praia Grande, Samaritá e Quarentenário. Este último era uma fazenda do serviço sanitário para abrigar o gado em quarentena para o abate nos matadouros da ilha. Antes de ir para o Xingú, Aurelly e o jovem médico vicentino Dr. Raposo quase morreram numa aventura e naufrágio no rio Tietê. O historiador Francisco Martins, que ia com eles, desistiu de última hora. Livramento. #49




Icaro de Castro Mello era filho de Vicente Correia de Mello e Maria Joaquina de Siqueira Castro. O pai estabeleceu-se como corretor na Bolsa do Café de Santos e Ícaro nasceu no ano seguinte ao casamento dos pais, quando a família fixou residência em São Vicente em 1913. O pai de Ícaro era um desportista atuante e, por influência de amigos negociantes cafeeiros de Santos, tornou-se sócio do Clube de Regatas Saldanha da Gama, onde fazia parte da equipe de remo. Foi dele que Ícaro herdou a vocação para o esporte. Representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim. Formou-se engenheiro e arquiteto pela Universidade Mackenzie. Essa vivência levou-o a voltar-se para a especialização em projetos e obras de grandes instalações e equipamentos esportivos. Seu prestigio como atleta e conhecedor das construções olímpicas tornou-se sua principal marca como empresário nesse ramo. Seus quatro filhos seguiram a mesma carreira empresarial. O complexo do Ibirapuera em São Paulo é uma das suas mais conhecidas realizações, obra que hoje leva o seu nome.#50




Numa tarde do início dos anos 1980, na rua Rio de Janeiro, na quadra próxima ao canal da Monteiro Lobato, alguns adolescentes conversavam na calçada quando, de um taxi, desceu uma senhora elegante e se dirigiu para o portão de uma das casas. O Frederico Cordeiro Natal rapidamente a identificou: “É a Ivani Ribeiro. Sempre vem aqui. Vai na casa da Silvia Helena e do Luiz Fernando. Ela é prima da Dona Neide". O nome de registro de Ivani era Cleide. A visita não foi rápida, tanto que já havíamos dispersado quando ela foi embora. Uma cena inesquecível porque, nessa época, uma das novelas dela estava bombando na TV. Ivani já era veterana de sucessos nas rádios e na TV Tupi e Bandeirantes. Seus remakes salvaram a Globo de uma crise de audiência nos anos 80 (ver depoimento de Wolf Maia em Memória da Globo). Somente anos mais tarde soube da sua raiz vicentina, onde nasceu em 1922. No ano passado, a família de Ivani entregou ao IHGSV um grande acervo de livros, documentos e objetos para compor o Memorial Ivani Ribeiro, organizado pela historiadora Maria Suzel Frutuoso e pela jornalista Noemi Macedo. (Dalmo Duque). #51





Marilene Murray Torres, conhecida como Lena Torres, paulistana do Butantã, veio para Praia Grande para trabalhar como secretaria executiva do interventor Nicolau Paal e permaneceu no cargo passando por vários gabinetes e sedes do Executivo da nova cidade. Testemunhou o processo conclusivo de emancipação elaborando atas e tomando providências práticas. Foi um exemplo dos vários tipos de contratação funcional para viabilizar a gestão e o atendimento ao público naquele contexto de estruturação administrativa. Ela foi a funcionária Nº 9 do novo município. Ao compormos a história de Praia Grande, por meio do Cláudio Sterque, amigo comum, nos deu informações preciosas, sempre cuidando do sigilo profissional, sobre toda a movimentação que ocorria dentro e fora dos bastidores. Seu depoimento escrito é um documento histórico. Sobre São Vicente, vendo algumas fotos da área central que publicamos hoje , recordou: "Cheguei em PGDE em 1967 e frequentei sempre a cidade de São Vicente.” Parabéns, uso do excelente comércio que essa cidade tem e sempre teve. Também com visitas para conhecimento. Fotos excelentes e fiz muitos amigos aí. Abraço” #52



Descendente de antigos moradores da Vila Bethânia (Boa Vista), Fernando Martins Lichti foi um dos nossos mais importantes ativistas e empreendedores culturais. Fundou 19 Instituições, ocupou 14 cargos e várias funções públicas. Brilhante estudioso e memorialista, produziu, juntamente com Francisco Martins, três importantes "Poliantéias": a de São Vicente, Santos e Bertioga. Foi um dos fundadores e presidiu por longos anos o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, dinamizando-o como modelo de centro cultural, sempre aberto ao público e à diversidade artística e intelectual. Sua obra empreendedora ainda vive por meio dos seus sucessores e admiradores. Resumido do Boletim do IHGSV.#53





Luis Renato Thadeu Lima nasceu em São Vicente em 1955. Como radialista, trabalhou em Campinas, Curitiba e na extinta TV Manchete no Rio de Janeiro. Sua mãe Neyde é filha de Camillo Thadeu e Isaura Nunes que se conheceram na Rua Ipiranga no início do século 20. Seus bisavôs Luiz Thadeu, italiano e pedreiro; e Antônio Nunes, português, serralheiro, trabalharam na construção da Ponte Pênsil. Luis Renato, que hoje vive em Casa Branca, é autor de um dos artigos da Civilização dos Portos, sobre "Pedra Grande", um sítio vicentino no Itutinga, de propriedade dos seus antepassados portugueses na Serra Mar. O artigo também foi incluído no livro "Á Bocca do Coffre", sobre ruas e proprietários vicentinos em 1909. #54




Mansueto Pierotti foi um típico interiorano de Barretos (também cidade-berço de figuras marcantes) que veio viver em São Vicente ainda estudante e, como todos os rapazes vicentinos de espírito empreendedor da sua geração, foi buscar a praça comercial de Santos para fazer carreira. Fornecedor de suprimentos de navios foi o seu ramo, muito comum na área do porto, porém sua empresa tornou-se referência internacional. Mansueto era de tudo: empresário, político, atleta nadador do Tumiaru, jogador e fundador do Feitiço FC (depois São Vicente FC, time base do Robinho), presidente de muitas entidades e principalmente um grande e respeitadíssimo mecenas no litoral paulista. Tão importante que foi até prefeito de São Sebastião. A empresa que ele fundou, hoje moderníssima, está instalada numa rua que tem o seu nome, em Santos. Também ampliou-se com seus herdeiros em Santos e outras praças portuárias. Em São Vicente Pierotti é nome de estádio. Outra paixão de Mansueto era o Carnaval vicentino, especialmente o bloco Rumba Calunga. Depois que se apresentava no desfile oficial no Gonzaga, o bloco dirigia-se, de bonde, à rua Antônio Bento, 73, Vila Matias, residência do amigo vicentino, que esperava o grupo para um lanche de confraternização.#55


Historiador crítico, polêmico e muito produtivo, Francisco Martins dos Santos nasceu em Santos em 1903 e faleceu em São Vicente em 1978, onde presidia, então, o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente. Essa instituição foi fundada numa reunião realizada na sua residência, na rua do Colégio. Tinha verdadeira paixão e muito respeito pela primazia histórica vicentina, da qual era um árduo defensor. Foi o autor e organizador do relato documental aceito e transformado em decreto pelo presidente Castelo Branco denominando São Vicente como Cèllula Matter da Nacionalidade. Na sua História de Santos, fez graves acusações e revelações desconstruindo a figura mítica e romântica de Brás Cubas, negando sua figura de fundador de Santos. Deixou viúva dona Odette Veiga Martins dos Santos (que - entre múltiplas atividades filantrópicas e culturais - também o ajudou a fundar IHGSV, ocupando a Cadeira nº 2, de "Bartira). Entre 1937 e 1978. Francisco Martins produziu dezenas obras históricas e artísticas. #56




Moleque criado na pequena São Vicente dos anos 50 e 60, Paulo tem no seu currículo o título principal de membro da família de Dona Zeni e do Capitão Miorim, militar gaúcho que serviu no Itaipu e tinha armazém na Marquês de São Vicente esquina com a Cap. Mor Aguiar. Ali iniciou sua carreira de gestor e futuro empresário. Fez o primário e parte do ginásio no Martim Afonso e dali foi concluir os estudos em Santos até ingressar na engenharia da Federal do Paraná. Destaque da natação, faturou vários títulos nas travessias da baía vicentina e nas piscinas dos clubes santistas. Foi mergulhador e um dos raros pioneiros do surf na região, época em que, para pegar ondas, tinha que fazer suas próprias pranchas. Essa fase de atleta está fartamente documentada na imprensa e história do esporte na Baixada Santista. Formado engenheiro, rodou o Brasil fazendo grandes obras de infraestrutura. Como ficamos sabendo de tudo isso? Lendo e também publicando aqui suas crônicas, cujo principal motivo da escrita ele mesmo explicou: "Pra nunca esquecer de onde a gente veio" #57




Mirtes dos Santos Silva Freitas é uma notável escritora e memorialista das nossas coisas calungas. Nasceu em Santos em 1946 e reside em São Vicente desde 1948. Estudou no “Matteo Bei” (1954 a 1957), no I.E. “Martim Afonso” (1958 a 1966) e na A.E. José Bonifácio (1976). Vestibulou depois na Católica de Santos (1988 a 1991) onde cursou Letras; ingressou na educação e ficou até aposentar. Suas crônicas históricas, deliciosas e cheias de vivacidade, retratam pessoas e lugares simples de São Vicente. E também com um olhar crítico surpreendente quando cita as coisas aristocráticas da cidade, em contraste com o cotidiano popular. São reportagens de um passado que não existe mais, porém preservado com simplicidade e também erudição. Mirtes veio, viu e venceu. Sorte nossa, dos calungas que vieram e os que virão depois. #58



Noemi Francesca de Macedo, jornalista, fez carreira brilhante na imprensa santista e regional. Tornou-se empresária de comunicação atuando na assessoria de imprensa e também como editora do jornal Perspectiva. Foi citada recentemente pelo site Memória Santista como uma das raras cronistas e conhecedoras do carnaval de Santos compondo uma curiosa "lista de apaixonados pela folia, pela história e pela luz da memória do Carnaval”. Nos anos 1970 foi atuou no teatro amador de São Vicente, tonando-se membro do T.E.M.A. grupo do Ginásio Estadual Martim Afonso. É autora do álbum histórico "São Vicente 1532-1992", um resgate memorial das ruas, bairros e moradores antigos da cidade. É sócia, membro da diretoria e durante algum tempo foi redatora da Revista Cellula Mater, do IHGSV. #59





Jorge Simão Filho é um desses preciosos colecionadores da história e memória vicentinas. É dele o site São Vicente Alternativa, repositório que os pesquisadores da região recorrem quando precisam de imagens e documentos antigos sobre a cidade. Passou a infância no Morrinho do Guamium, da Capitão-mor Aguiar, em frente ao antigo Porto Tumiaru. Jorge é um dos filhos de Ayub Elias Simão, sírio, com a vicentina Maria Amélia da Costa , filha de Germano Francisco da Costa (que instalou as primeiras luzes com lampião, em São Vicente) e Francisca Cândida de Oliveira Costa. Seu pai foi um dos barqueiros da travessia entre São Vicente e Praia Grande , “até quando veio o progresso, em 1914”, com a inauguração da Ponte Pênsil. Ayub e Amélia tiveram 14 filhos, dos quais: Cândida, Cacilda, Julieta, Zelma, Yolanda e Adib, faleceram ainda pequenos. Os oito que sobreviveram, Maria, Elias , Jorge, Hildebrando, Cartum, Ayub, Syrio e Helena, casaram-se, tiveram muitos filhos, netos e bisnetos na casa anteriormente Nº 5 do Morrinho. #60



Segundo o Museu da Pessoa, "Teleginski nasceu em Palmeira-PR em 1932. Ingressou no Seminário. Foi professor de História e Geografia e depois foi convocado a servir o Exército, mudando-se para Santos, onde, dando aula para analfabetos, conseguiu pagar os estudos no curso de Direito. Trabalhou na Refinaria Presidente Bernardes, sendo líder sindical por oito anos. Em 1964 foi preso e investigado pelas forças do regime militar. Abriu escritório de advocacia e especializou-se em Direito Fundiário. Foi fundador e ativista do SOS Mata Atlântica". Membro do IHGSV, desenvolveu uma curiosa tese da Terceira Barra (também defendida pelo Prof. Constant Houlmont). Um maremoto teria destruido parte da vila vicentina em 1541 fechando o antigo acesso de embarcações ao Mar Pequeno pelo rio Piaçabuçu, atual Canto do Forte em Praia Grande.#61




"Muitos militares, ilustres, têm passado pela Fortaleza de Itaipu. Entre os que comandavam encontraremos vultos de renome da milícia nacional, como Augusto Ximeno Villeroy. Gaúcho, era hábil engenheiro e, ao mesmo tempo, o artilheiro conhecedor das grandes e modernas obras de fortificações. Foi o primeiro historiógrafo da Fortaleza de Itaipu. Governou o Estado do Amazonas, quando da proclamação da República iniciando ali a instalação das linhas telegráficas. Quando do combate da Armação, pela primeira vez na história da Artilharia, foi empregado pelo general Villeroy o teodolito, para uso da pontaria nos tiros indiretos, até então desconhecidos. A apaixonada questão dos limites entre São Paulo e Minas foi resolvida a contento pelo laudo que proferiu o general Villeroy, que se tornou, mais uma vez, conhecido em nossos dias". Fonte: Graziella Diaz Sterque. Informativo Cultural da Aceam.1980. Novo Milênio.#62



Filho de Walther Joseph Waeny e da pintora Gilda Rienzy Waeny. Nasceu em São Vicente na Vila Betânia (Boa Vista) reduto dos europeus que trabalhavam no porto do café. Bacharel de Ciências Contábeis. Foi funcionário do Banco do Brasil nas décadas de 40 a 70. Casou em 22 de maio de 1950 com Maria Clélia Dias. Tiveram nove filhos, cada um deles com nomes de personagens da obra do grande músico e dramaturgo alemão Richard Wagner. Dirigiu a Revista AABB, dos funcionários do Banco do Brasil nos anos de 1953, 1962, 1963 e 1964, divulgando intensamente o movimento trovadoresco. Foi delegado municipal, presidente municipal e estadual do Grêmio Brasileiro de Trovadores de Salvador (BA). Foi também secretário-geral da Academia Santista de Letras, na qual ocupou a Cadeira 33, e da Associação Brasil-Alemanha. Foi um dos fundadores da Casa do Poeta "Lampião de Gás", de São Paulo, do Clube de Poesia de Santos, da Casa do Poeta Brasileiro e do Clube dos Trovadores Santistas. Poeta, trovador, escritor, ensaísta, historiador, biógrafo, radialista e tradutor de francês, recebeu numerosas medalhas de ouro de concursos literários na França e outros países e ainda em muitas cidades e estados brasileiros. Foi membro do Club dos Intelectuais de Paris e de inúmeras entidades culturais de poesias, trovas e literatura.#63





José Miguel Wisnik é músico, escritor e apaixonado por futebol. Escreveu para a revista Piaui um artigo clássico sobre o tema e ali fez um inventário histórico sobre os principais times de futebol de São Vicente e da região. Antes de ingressar e fazer carreira na USP, foi aluno do I.E. Martim Afonso nos anos 1960. Não é somente a música que alimenta a alma do célebre escritor e compositor vicentino, ex-aluno do Conservatório da Tia Mimi e destaque no programa de TV "Concertos para a Juventude". O pai de Miguel era chefe do forno da fábrica de vidros Vicri-Vidrobrás. Seu irmão Humberto, também criado em São Vicente, fez carreira executiva na TV Record. Um dos episódios marcantes da sua vida, relatado por ele mesmo ao jornalista Marcelo Tas, foi a perda da esposa e de um dos filhos no mesmo ano. Nesse depoimento contou que sua vida teve que ser reconstruída com a ajuda de sua mãe. Ela deixou a casa dela em São Vicente para cuidar do filho e do neto em São Paulo.#64



Wlamir Marques, estrela mundial do basquete, atleta olímpico de 1965 e porta-bandeira da delegação brasileira em Tóquio, nasceu e se formou em São Vicente. Até hoje se autodeclara “calunga”, menino que andava descalço pelas ruas e nadador das travessias das águas frias do canal da Ponte Pênsil. Nas quadras, é o eterno astro do Clube de Regatas. Tumiaru, do XV de Novembro de Piracicaba e finalmente do E.C. Corínthians, onde encerrou sua carreira de atleta para brilhar também no ensino universitário paulistano. Ali também se aposentou, virou comentarista esportivo na TV e, há alguns anos, entrou no Facebook para publicar suas crônicas recordando as suas origens, a formação e sua festejada e reconhecida carreira profissional. Está no Hall Mundial da Fama da FIBA. Das 225 crônicas publicadas aos sábados, pelos menos 129 são direta ou indiretamente sobre a sua terra natal. Numa delas Wlamir se lembra que, certa noite, encontrou-se em sonho com Martim Afonso de Souza, o fundador que trouxe de Portugal os 200 primeiros moradores da Vila. Conversaram como dois antigos e íntimos conhecidos. Por isso nunca tirou São Vicente da cabeça e do coração. Quando pedimos autorização para publicar aqui essas crônicas, foi gentil e taxativo: “Faça o que você quiser com os textos, Dalmo”. Imaginem a minha alegria ao receber essa resposta. #65




Eduardo Souto (1882-1942),autor do clássico O Despertar da Montanha, nasceu em São Vicente. Desde menino Eduardo demonstrou incrível tendência para a música, o que levou seu pai, Guilherme Souto, filho do visconde de Souto, a transferir-se para a antiga Capital Federal. Tentou a carreira de corretor de café em Santos e no Rio, porém a música era o seu destino. Uma placa de metal meio gasta pelo tempo na parede de um bar na confluência das ruas Visconde de Tamandaré com Frei Gaspar, em frente ao portão da Vidrobrás, marca a "Esquina da Saudade", onde Eduardo Souto, já famoso, reunia os amigos junto à casa da pianista Mafalda Medeiros de Albuquerque para as serestas. Suas vindas a São Vicente eram freqüentes, para rever os amigos e matar as saudades.
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Descendente de tradicional família de nossa sociedade, foi um desses talentos precoces que não despontam senão mediante dom divino. Aos seis anos de idade já compunha as primeiras peças, no estilo romântico de Chopin. Iniciou seus estudos com o Prof. Carlos Darbilly. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, trabalhou no Banco Francês, ao mesmo tempo em que mantinha uma casa de partituras e instrumentos musicais "Carlos Gomes". Exerceu as funções de Diretor Artístico da Gravadora Odeon e sua subsidiária Parlophon. Foi contador do Banco do Comércio. Em 1940 sucumbiu às crises nervosas e foi internado em casas de saúde cariocas, onde veio a falecer em 1942. Sua produção é vastíssima e compreende desde peças para piano até marchas de carnaval. Seus sucessos populares: Tatu Subiu no Pau, E sim Senhor, Seu Doutor, Batucada e o hino do Botafogo F.C. "Glorioso". Organizou orquestras e corais, entre eles o Coral Brasileiro. (Guia de Ruas de SV, 1978) #66



Francisco Adolfo de Varnhagen, diplomata do Império.Visconde de Porto Seguro. Nasceu no Morro de Araçoiaba da Serra (que integrava a então Vila de Sorocaba), em1816. Faleceu em Viena em 1878. Foi ele quem encontrou na Torre do Tombo (Portugal) os Diários de Pero Lopes Correa, certidão de nascimento de São Vicente e da colonização do Brasil. Explicou historicamente como nosso país foi fundado de fato. Isso mudou totalmente a visão de que o Rio, Salvador e Recife eram as bases e referências principais da colonização. Colocou também em evidência historiográfica o navegador Américo Vespúcio na História do Brasil, como nomeador oficial de São Vicente em 1502. #67



“Há muitos anos, São Vicente não passava de uma cidade pobre e quieta, onde todos os habitantes se conheciam. Suas casas já tinham nascido velhas; pareciam do tempo dos Capitães-Mores. Os pontos mais concorridos eram a Biquinha, o cinema Anchieta, a Matriz, a estação de passageiros da ‘City’ e os jogos de futebol na Praça 22 de Janeiro. Nos dias feriados, havia festa nos ‘stand’ do Bugre. E era só”.
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Afonso Schmidt (1890 -1964) foi nascido e criado em Cubatão. Morou no então bairro vicentino de Praia Grande quando trabalhava em Santos no jornal A Tribuna, época difícil que o levou buscar vida melhor em São Paulo. Crítico, era também libertário, muito culto e produtivo. Deixou um legado de mais de 40 livros (um deles explicando o judeu João Ramalho) e dezenas de reportagens. Seus textos falando do trabalho dos amigos eram maravilhosos, precisos e sempre bem-humorados. Essa descrição de São Vicente no início do século XX foi a introdução de uma resenha falando de um dos livros de aventuras dos irmãos Willy e Aurélio Aurely, no jornal paulistano A Gazeta, em 23 de julho de 1957. #68



Nascida em Resende-RJ (1853), Anália Emília Franco, filha de uma educadora, aos 15 anos já seguia os passos da mãe, morando e trabalhando em várias cidades do interior paulista e depois na Capital. Ainda jovem, já colaborava como jornalista em publicações femininas. Criou seu próprio veículo: o Álbum das Meninas. Já formada, Anália Franco dedicou sua vida ao trabalho assistencial, fundando abrigos para órfãos, asilos, colônias regeneradoras, creches, escolas maternais e, tudo isso, com seus próprios métodos de educação e ensino. Era uma mulher religiosa e voltada ao espiritismo, fé dividida com seu marido Francisco Antônio Bastos, com quem trabalhou em diversas obras. Juntos fundaram mais de setenta escolas e mais de vinte asilos para crianças órfãs. Foi a responsável por criar uma importante instituição para mulheres na região onde hoje é o Jardim Anália Franco. Em São Vicente, fundou obra similar, a Chácara dos Inocentes, que funcionou muitos anos no terreno onde seria construído o Hospital São José. Em 1919, Anália Franco morreu de gripe espanhola . No ano em que faleceu, Anália e Antônio mantinham quase cem instituições, entre elas: 71 escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 banda musical feminina, 1 orquestra, 1 grupo dramático ( teatro), além de oficinas de manufatura de chapéus e flores artificiais, em cerca de 24 cidades do interior e na capital de São Paulo. #69A

Em 24 de julho de 1906, é fundada a Casa de Caridade São Luiz, por iniciativa de D. Anália Franco. A obra assistencial seguia modelo implanta pela conhecida educadora em São Paulo por amio do ensino moral e profisional párea meninas e meninos órfãos e abandonados. Seguida da Casa São Luiz, Anália Franco organizou no centro da cidade um núcleo feminino que ficou conhediodo com Chácara do Inocentes. Devido à crise econômica no período da I Guerra o núcleo foi transferido para Santos e no local foi instalado o Hospital e Maternidade São José. 


Residência da Chácara dos Inocentes , da Instituição Anália Franco, que seria adpatada pra funcionamento da primeira instação do Hospital São José (Poliantéia Vicentina). O local onde foi construído o Hospital São José era uma grande área central conhecida como Chácara dos Inocentes, onde anteriormente funciova uma extensão de um conhecida instituição assistencial que atuava há muitos anos nos estado de São Paulo. Essa curiosidade histórica foi registrada na Poliantéia Vicentiva , em 1982: 
"A maioria dos leitores, notadamente a nova geração, desconhece que no local onde funciona o Hospital São José, antes era uma grande chácara denominada "Inocentes", em cujas dependências funcionou a Associação Anália Franco, entidade com o objetivo de acolher e dar assistência a órfãs. Uma banda musical, formada por meninas e moças ali recolhidas chegou a exibir-se várias vezes em público, sempre recebida com simpatia" 
(...) A 29 de novembro de 1918 a Sociedade Protetora do Hospital São José adquiria de D. Maria das Dores de Vasconcelos Meijers a área situada no centro da cidade e conhecida como Chácara dos Inocentes, cuja compra foi realizada por RS30.000$000 (trinta contos de réis), com dedução de RS 5.000$000(cinco contos de réis) que a proprietária reverteu em donativo, por ser tratar de uma instuição beneficente e que necessitava de recursos para proceder a adaptação do prédio residencial existente na chácara em hospital. A transação foi feita em nome do Sr. João Bensdorp-Prefeito Municipal – mediante hipoteca ao Dr. Murilo Porto. Logos que quitada a dívida, o imóvel foi tranferido para o Hospital São José”. 
Essa mesma obra assistecial era realizada na Capital (onde hoje é o bairro com seu nome) e dezenas cidades do interior, incluindo Santos. Dona Anália mantinha, através de donativos, escolas profisionalizantes e orfanatos numa época que a infância e a juventude não tinham quase nenhuma proteção do Estado. O trabalho dela começou no século XIX, recolhendo crianças filhas de escravas, expulsas das fazendas pela Lei do Ventre Livre e abandonadas nas cidades. Em  1914, a revista santista A Fita registrou em suas páginas alguma notas e fotos dessa obra também conhecida com Asylo de São Vicente, que comportava um casarão onde funcionava o orfanato e uma creche-escola.# 69B





Hernani Donato (1922-2012). Historiador, jornalista e pesquisador pioneiro do Peabiru. Foi um grande defensor da primazia vicentina. Tentamos trazê-lo a São Vicente para um encontro, mas já estava impossibilitado de se ausentar de casa. Respondeu nosso convite com muito carinho: "Caro Duque-com-grandeza que além de duque é Santo (posso querer amigo mais qualificado?). Muito obrigado pelo entusiasmo e as providências em torno do Peabiru. Aceito tudo, com orgulho e honra. Mas a seu tempo, e preciso de tempo. Estou a meio de reescrever o Sumé-Peabiru, assuntos indesligáveis e com tanta coisa nova por incluir que já se cogita de imprimir dois volumes com ilustrações documentais (estão acabando: o soja, a cana, as estradas, o desmatamento) sobre os últimos trechos do Peabiru. É preciso conservar, ainda que na imagem, o que sobrou. A edição não será para este ano. Dê-me duas semanas para aclarar certos problemas de saúde (afinal, 86 anos agora em 12-10) e marcaremos, se vcs. quizerem, ida a SV - A Porta do Peabiru. Vale? Abraço amigo. Hernâni".
(Dalmo Duque dos Santos) #70





A Torre da Praça do Relógio da USP, projeto do arquiteto paulistano Rino Levi, tem 12 desenhos em baixo e alto-relevo de autoria da escultora vicentina Elizabeth Nobiling. A professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo foi convidada especialmente por Levi para repensar a peça. Ela criou seis imagens em cada um dos lados da torre para representar a dualidade do mundo da fantasia e o mundo da realidade. Elisabeth nasceu e foi criada em São Vicente na chamada Vila dos Estrangeiros, onde residia seu avô, o comerciante Theodor Nobiling (1815-1889). Era filha de "Hans Nobiling, futebolista alemão radicado no Brasil, conhecido por ter sido fundador do Sport Club Germânia, atual Esporte Clube Pinheiros. Olga Elisabeth Magda Henriette Nobiling (1902-1975) estudou arte na Alemanha entre 1923 e 1934. De volta ao Brasil, conhece Victor Brecheret, que residia em São Vicente e de quem torna-se auxiliar. No ano seguinte, integra o Grupo dos Sete, com Victor Brecheret, Rino Levi, Yolanda Mohalyi, Regina Graz, Jonh Graz e Antonio Gomide, e realiza sua primeira mostra individual na Casa Baloo, em São Paulo. #71




De origem uruguaia e radicado em São Vicente, Carlos Alberto Fabra Perugorría (1936-2004) apaixonou-se pela história da cidade e da região e tentou de todas as formas desvendar o nosso passado colonial. Pesquisou e escreveu textos historiográficos, prospectou sítios arqueológicos, apontando localidades estratégicas para novas descobertas. Também deixou um precioso acervo de 37 pinturas, adquiridas da família pela prefeitura, hoje guardadas no museu do IHGSV. Algumas dessas pinturas, que retratam a primitiva Vila Afonsina, ilustraram uma matéria exibida no Fantástico (TV Globo) reportando o maremoto de 1541. O fenômeno destruiu a antiga vila vila e também pode ter alterado a configuração geológica e geográfica em torno do atual maciço Japui-Xixová-Itaipu.#72





Graziella Diaz Sterque (1928-2003) nasceu em Belém do Pará. Contadora por formação, deu aulas na comunidade ribeirinha de Terra Roxa, guiando a própria canoa diariamente. Por essa bravura, recebe o título de "Professora do Ano". Casada com o militar Elson Sterque, mudam-se para São Paulo nos anos 1950 onde atuam como comerciantes. Com seis filhos, mudam-se para a pequena Praia Grande, antes da emancipação. Inquieta, percebe que o bairro era carente de atividades culturais. Assim, ela reúne os poucos artistas e funda a "Casa do Poeta". Com sua coleção de peças indígenas, Graziella monta o primeiro museu da cidade e realiza diversas exposições. Abriu as portas de sua casa e o acesso a sua biblioteca particular, a única que havia na cidade, onde ensinava e ajuda os estudantes nas pesquisas. Graziella montou o primeiro salão de artes plásticas. Torna-se correspondente da Folha de São Paulo na cidade. Edita o Informativo Cultural por 30 anos, que foi referência em pesquisas da história de Praia Grande. Em 1975 ganha o concurso Estadual sobre a história de Praia Grande. No mesmo período torna-se professora da Universidade Santa Cecília (UNISANTA). A convite da prefeitura, assume a Casa da Cultura, embrião do atual Centro Cultural Palácio das Artes, e ali criou a Gibiteca e a hemeroteca. É patrona do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande.
Adaptado do texto original de Cláudio Sterque. #73
 




Circe Sanchez Toschi (1922-2016) paulistana, filha de Heitor Sanchez e Othilia Ribeiro Sanchez chegou em Praia Grande em 1925 com o pai, que iniciava o loteamento hoje conhecido como Vila Guilhermina. Em 1941, iniciou a Faculdade de Filosofia, não concluindo o curso por ingressar no serviço público, trabalhando nos Correios e Telégrafos. Ainda em São Paulo, casou-se com Oswaldo Toschi, em 1944. Mudou-se para Praia Grande em 1946 já com a filha Suely pequena. Nesta época, o bairro de São Vicente era bastante isolado. Sempre acompanhou Oswaldo em sua carreira política como vereador de São Vicente e idealizador da emancipação de Praia Grande, que aconteceu em 1967. Fundou a Associação de Caridade Santa Rita de Cássia (1967), presidiu a Sociedade de Assistência à Infância, fundou Movimento de Arregimentação Feminina , todos em São Vicente; e o Grupo de Bandeirantes de Praia Grande. Em 1969, candidatou-se a prefeita, sendo a primeira mulher a concorrer ao cargo. Em 1975 foi titulada Cidadã Honorária do município. Em 1992, concluiu o Curso da 3ª Idade, na UniSantos, e no ano 2000, publicou seu primeiro livro, “Memórias de Praia Grande”, reeditado com o título “Praia Grande Antes da Emancipação”. Publicou suas memórias em “Andanças de uma Vida” ( 2006). Teve três filhos – Suely, Oswaldo Junior (falecido) e Heitor Orlando - cinco netos e dois bisnetos.#74




Paulistano , passou grande parte da sua infância e adolescência em São Vicente. Morava com a família na rua Frei Gaspar. O vicentino Humberto Wisnik (irmão de José Miguel Wisnik) recorda nitidamente do período em que conviveu com o amigo de infância: “Por volta de 1950/51, eu brincava de Tarzan pulando nas goiabeiras junto com o César Camargo Mariano, que morava em cima da Farmácia do Seu Ernani”. Nessa época César era aluno da pianista Georgina de Moura (mãe dos músicos Maurício e Mauricy Moura), que morava na av. Capitão-mor Aguiar. Quando recebeu o título de Cidadão Vicentino, César Mariano relatou aos presentes na Câmara Municipal que foi nesse apartamento da Frei Gaspar que a família abrigou por algum tempo o amigo e cantor Johny Alf, que na época passava por dificuldades. César Mariano foi casado com a cantora Marisa Gata Mansa. Também casou-se com Elis Regina, com quem compartilhou uma longa carreira até a morte dela em 1982. Esses e outros fatos de sua vida também estão relatados em “Solo”, seu livro de memórias. #75




Falando por todos, muita alegria em receber em nosso coletivo o jornalista Carlos Pimentel Mendes, editor do Jornal Eletrônico Novo Milênio, cujo acervo histórico sobre as cidades da Baixada Santista é reconhecidamente o mais importante arquivo digital já disponibilizado aos amantes e pesquisadores da história regional:
"Caro Dalmo, para mim, é uma grande honra ser incluído neste seleto grupo, onde estão também diversos amigos e colegas, alguns de longa data. Creio nem ser preciso dizer, o resultado de meu trabalho de pesquisa, ordenação e divulgação da história regional e particularmente a vicentina está à disposição de todos no site Novo Milênio, para uso, crítica/correção e ampliação - este é o meu objetivo, desde o primeiro momento. Fico sempre ao dispor de todos, no que puder auxiliar. Saudações fraternas. Carlos Pimentel Mendes. (01/02/2021) É autor da História do Porto de Santos, incluído na Enciclopédia da História de São Vicente.#76



Francisco Carballa (Paco Vázquez Carballa). Historiador, professor, resenhista e colecionador. Figura erudita conhecidíssima por reunir, explicar e compartilhar, sem dó, as maiores e melhores relíquias históricas da nossa região. Seu repositório de raridades é imbatível e abastece as mais destacadas publicações memoriais das nossas redes sociais, as quais contribui com vasto material e também puxões de orelha quando percebe algum erro que não pode passar em branco. Bate, mas assopra as mãos dos mais distraídos, sempre elegante, premiando-os com imagens e informações preciosas. Sua religiosidade católica o destaca na leitura e interpretação dos espaços sagrados, templos e túmulos, desvendando símbolos e significados. Na Matriz de São Vicente, desvendou as sepulturas cravadas no piso interno da terceira e velha igreja da Vila Colonial.#77




Benedito Calixto de Jesus (1853-1927). Nascido na Vila da Conceição de Itanhaém em uma família de artistas e intelectuais. Filho de João Pedro de Jesus e Anna Gertrudes Soares, tinha sete irmãos. Um deles, Antônio Pedro de Jesus, músico e maestro, aqui viveu muitos anos como regente da Banda Musical da Escola do Povo. Calixto foi pintor, desenhista, fotógrafo, professor, historiador, decorador, cartógrafo e astrônomo amador. Manteve residência e ateliê na rua Martim Afonso, onde recebia amigos, alunos e clientes. Nesse endereço, que tinha dimensões de uma chácara, com vista para o Morro dos Barbosas e a Biquinha de Anchieta, produziu a maioria de suas obras, sendo depois transformado num conjunto de apartamentos veranistas que leva seu nome. Salvou do abandono e desaparecimento a pedra do Pelourinho da Fundação da Vila Afonsina, colocando-a sob a guarda do Museu Paulista. Combateu a remoção da Pedra do Ladrão para a passagem dos bondes. É farta a sua obra historiográfica, cartográfica e pictórica da bucólica orla vicentina, preservada em artigos para livros e revistas, bem como em suas telas do final do século XX até as duas primeiras décadas do século seguinte. Registrou também essas cenas em fotografias com o auxílio do seu filho Sizenando, também pintor. #78





Formado em Filosofia pela USP e docente de carreira na Unesp, "Bira" antes passou pelas aulas do famoso Conservatório da Tia Mimi, na rua João Ramalho (cuja casa foi demolida no início do ano) e também pelos bancos do I.E. Martim Afonso. Discreto, raramente revela o sobrenome, mas sempre lembra da carreira musical de Jesus de Azevedo Marques, seu pai, célebre maestro e autor do Hino de São Vicente, composto com o letrista Luiz Meireles (Seu Lulu da Melodia). Ubirajara foi regente do Coral Jovem e hoje conduz o "Boca Santa", coral de professores e alunos da Unesp de Marília. Quando o convidamos para fazer parte do Calungah, rapidamente nos presenteou como o texto "Instantâneos", precioso inventário cultural da cidade e da região revelando detalhes históricos de nomes e movimentos da vida artística vicentina. #79





EDSON TELLES DE AZEVEDO, jornalista, escritor, memorialista, político, colaborador de diversos jornais e revistas da região entre 1950 e 1970. Foi chefe da sucursal e colunista de A Tribuna, autor de "Vultos Vicentinos". Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de São Vicente e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente. Filho de Antonio Militão de Azevedo e Rosalinda Telles, Edson nasceu vicentino no dia 12 de janeiro de 1900. Seu pai, politico vicentino e leiloeiro em Santos, foi uma das figuras mais influentes da política regional no início da república. Fez carreira no jornal A Tribuna onde pesquisava e publicava artigos históricos e culturais sobre os municípios da Baixada Santista. Sua principal obra memorialista foi “Vultos Vicentinos”, resgatando a biografia de grandes personalidades locais e também ilustrando a próprio punho os retratos dos biografados com seu bico de pena. Era artista nato e tinha um personagem mágico (Prof. Noside), que se apresentava em festas de adultos e crianças. Foi fundador e conselheiro de diversas entidades calungas como o Lar Vicentino, Educandário São Gabriel e o próprio IHGSV, do qual tornou-se patrono da cadeira nº 196. Edson faleceu no dia 18 de dezembro de 1973. Era casado com Umbria Biagetti Azevedo , com quem teve apenas um filho, Edson Júnior. (Boletim do IHGSV). #80




O MAIS CALUNGA DOS HISTORIADORES SANTISTAS. Como assessor de três prefeitos, Jaime Mesquita Caldas reafirmou de forma brilhante a historicidade vicentina produzindo vasto conhecimento memorial e preservando um dos maiores acervos documentais da região. O material, herdado principalmente do advogado Costa e Silva Sobrinho, está hoje disponível no arquivo da Fundação Arquivo e Memória de Santos-FAMS. Jaime foi um dos principais articulistas da Poliantéia (1982) e durante muitos anos teve contato direto com Jaime Franco, Francisco Martins e Edson Telles de Azevedo, revelando a fonte do seu vasto conhecimento sobre o passado de São Vicente. Tudo isso foi relatado em entrevista no jornal Primeira Cidade.#81
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Jornal Primeira Cidade, de 14 de fevereiro de 1994 


Você sabe a história de seu bairro, ou quem foi a pessoa que hoje empresta o nome à sua rua? Não? Pois pergunte a Jaime Mesquita Caldas. Ele provavelmente não só lhe dirá tudo isso, como é bem capaz de sacar de seu bem organizado arquivo uma fotografia do local há 50, 60, talvez 100 anos. 

Jaime Caldas. Dono de um acervo de centenas de documentos antigos e mais de mil fotografias históricas, entre Santos e São Vicente, este tenente reformado da Polícia Militar – à qual se incorporou depois da extinção da Polícia Marítima – é hoje um dos mais respeitados pesquisadores históricos do Estado. Longe de aparentar seus 79 anos, este santista de nascimento, vicentino de coração, é um homem à parte. Já foi desde membro do famoso Conjunto Calunga, com seu violão-tenor, a assessor de três prefeitos (Jorge Bierrenbach Senra, Koyu Iha e Antônio Fernando dos Reis). Visitou o Japão – país pelo qual tem verdadeira paixão – e hoje se dedica ao hobby que já se tornou uma razão de vida, a pesquisa histórica. Saiba um pouco mais sobre o titular da coluna São Vicente de Outrora, um homem que, literalmente, tem muita história para contar. 

Primeira Cidade – Como começou seu interesse pela História? 

Jaime – Eu sempre gostei. Mas meu trabalho de pesquisa histórica começou mesmo em 1963. Queria saber um pouco mais sobre minha rua e fui à casa do falecido Costa e Silva Sobrinho [José da Costa e Silva Sobrinho, historiador]. Fui eu e o Edson Telles [de Azevedo, também pesquisador]. 

P C – Como foi? 

- Me lembro até que levamos umas cocadinhas feitas em casa. Marcamos um domingo e fomos. O Costa e Silva tinha o arquivo dele fora da casa, numa garagem, que ele chamava de “tenda de trabalho”. Ali ele tinha perto de 200 volumes, feitos por ele, com o arquivo completo da história de Santos. Coisa fantástica. Ele já não enxergava mais e não tinha um braço. Naquela tarde, que eu considero memorável, ele nos ofereceu o livro que tinha publicado, Santos Noutros Tempos. Me lembro bem que a senhora dele datilografou a dedicatória, ditada por ele, pois não podia mais escrever, e depois guiou a mão dele, a esquerda, para assinar. 

PC – E depois? 

– Aí eu comecei a engatinhar nisso, criei coragem e escrevi sobre o maestro e compositor vicentino Eduardo Souto. Leram para ele o artigo e ele me mandou uma carta, me incentivando bastante e dando os parabéns pelo que eu havia escrito. Essa carta eu guardo com muito carinho, pois um historiador do gabarito dele me mandar uma carta daquela, eu era uma formiguinha pequena perto dele. 

PC – Sendo de Santos, por que o interesse por São Vicente? 

– Freqüento São Vicente desde os 7 anos de idade. Aqui eu fiz as maiores amizades, foi aqui que eu aprendi a tocar violão, que fiz minhas serenatas. Qualquer folguinha que eu tinha, vinha para cá. Então, eu sou praticamente mais conhecido aqui do que em Santos. 

PC – O senhor se recusa a ser chamado de historiador. Por quê? 

– Porque eu não sou formado em História! Não tenho curso de História, nem formação acadêmica. A pesquisa histórica, para mim, é um hobby, como outro qualquer. Eu gosto disso. 

PC – Mas é um hobby que o senhor leva muito a sério, não? 

– Ah, levo. E sabe por quê? Meu maior prazer é descobrir o resultado das distorções históricas. Cada historiador escreve uma coisa, e nós temos que chegar a uma conclusão. É aí que entra a pesquisa porque, no campo intelectual, é pela divergência que se caminha para a verdade. Fulano de tal conta um caso, outro conta outro e tal... Você vai pesquisar para saber realmente se assemelha mais perante a História. 

PC – Poderia dar um exemplo? 

– Li um artigo do Carlos de Andrade que foi o resultado de uma conversa que ele teve com o vereador Ricardo Veron. Para ele, a Avenida Presidente Wilson não diz nada e deveria se chamar Bacharel Cosme Fernandes. Então eu pergunto: o nome dele todo é Cosme Fernandes Pessoa. Qual é o documento que ele teria em mãos para saber que realmente ele foi o bacharel da história de São Vicente? Para alguns historiadores, era Francisco Chaves. Para Washington Luís, nunca foi identificado. Por isso, é preciso muita cautela para se dar o nome a essa avenida. Sabemos, através da História, que veio para cá um homem formado em letras e muito inteligente, mas ninguém sabe com certeza quem era ele. 

PC - Onde o senhor aprendeu tanto sobre a história de São Vicente? 

- Eu convivi e tive contato com muitos historiadores, como Edson Telles de Azevedo, Chico Martins, Jaime Franco, Costa e Silva Sobrinho... Eles me chamavam de velho moço, pois eu era jovem na época. Mesmo em São Paulo, eu era freqüentador da Livraria Olintho Moura, onde se reuniam os intelectuais da Capital, todos eles profundos conhecedores da História. E eu me encontrava com eles. 

PC - Quais suas principais fontes de pesquisa? 

- Olha, eu já pesquisei no Museu Paulista, Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Arquivo do Estado, arquivos paroquiais, principalmente em São Paulo. A Cúria Metropolitana tem muita coisa, o Arquivo do Estado também. O primeiro recenseamento de São Vicente, de 1765, está lá. Além disso, eu freqüentava a casa desses historiadores, que tinham muita coisa em seu arquivo particular, eu tirava cópias... Mas a maior preciosidade são os arquivos paroquiais. 

PC – Por quê? 

– Porque não havia cartório naquele tempo, e tudo se registrava na Igreja. Nascimentos, casamentos, óbitos, testamentos, vendas de terras, tudo era na Igreja. Às vezes deixo algumas pessoas curiosas quando pergunto: “Os cemitérios foram criados em 1850, por um aviso régio proibindo os sepultamentos nas igrejas. E essa gente toda, que morreu antes da criação dos cemitérios públicos, foram enterradas onde?”. Nas igrejas, capelas, templos. E eu tenho esse livro de inumações, que copiei do arquivo do Costa e Silva. Traz todo o pessoal que foi sepultado nas igrejas, inclusive na Matriz de São Vicente. 

PC – Deve trazer dados muito interessantes... 

– Eu estava na Prefeitura e fui procurado por um cidadão da família Carvalho Franco, de São Paulo, que era bisneto de um ascendente que veio para São Vicente para cuidar do pulmão, mas acabou morrendo aqui. Ele não encontrou na Cúria Diocesana de Santos a nota de falecimento do parente dele, e queria algum documento sobre isso, pois era um grande genealogista e historiador. Queria saber a data do falecimento e tal. E foi através do livro de inumações que eu tenho que ele conseguiu, pois o corpo foi sepultado aqui, na Matriz de São Vicente. 

PC – Qual o maior inimigo da pesquisa histórica? 

– O que eu tenho escutado de estudantes que me procuram é: “Fui a tal lugar e não me deixam consultar o livro, fui a tal lugar e está fechado, ou então encontro má vontade do funcionário, ou ele não tem conhecimento daquilo que eu pergunto e já vai me dizendo que não há nada sobre esse assunto”. Esse' é o maior inimigo da pesquisa histórica: a má vontade [risos]. 

PC - Qual a recompensa que a pesquisa história lhe traz? 

– A satisfação de conhecer a História e fazer o que gosto. Não existe maior recompensa.



Jaime Mesquita Caldas, como assessor do prefeito Koyu Iha, durante a visita da comissão diplomática da cidade de Naha em 1978. Página FB São Vicente de Outrora. 

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O pai de Jaime Caldas era natural de Vizela-Portugal, chamava-se Bráulio Mendes Caldas, músico na Marinha Portuguesa. Seu pai era maestro da Filarmónica Vizelense, daí seu nome Joaquim Mendes Mendes Caldas, nascido em 1886 em Vizela.


José da Costa e Silva Sobrinho (Caeté, 13 de fevereiro de 1892 - Santos, 10 de fevereiro de 1977), foi um advogado, professor, cronista e historiador brasileiro. Filho do ministro Antônio José da Costa e Silva, um dos mais respeitados penalistas brasileiros e de Anésia Monteiro da Costa e Silva. Casou-se em primeiras núpcias com Angelina Bastos da Costa e Silva, e desse casamento nasceu Rute Bastos da Costa e Silva, pintora de méritos; já falecida. Do segundo casamento, com Holanda Bindo da Costa e Silva, nasceu José Roberto da Costa e Silva. advogado, também falecido. Fez seus primeiros estudos em Guaratinguetá, na escola de Maria Amélia de Morais, e depois em São Simão, no Colégio Augusto Lago, entre 1904 e 1907. Em 1912, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo (Faculdade do Largo de São Francisco) vindo a obter o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais em 1916. Como estudante de Direito, foi redator do Onze de Agosto, em 1915. Depois de formado, Costa e Silva Sobrinho abriu banca de advocacia em Santos, onde se radicou, exercendo a profissão com brilho durante 40 anos.  Tornou-se irmão-remido da Santa Casa de Misericórdia de Santos, em 30 de março de 1923, tendo prestado serviços ao hospital, como assistente jurídico e nos setores administrativos.  Em 19 de janeiro de 1938 , fundou com outros estudiosos da cidade o Instituto Histórico e Geográfico de Santos, do qual foi presidente durante oito anos, tornando-o entidade de utilidade pública municipal, estadual e federal. Na sua gestão, o IHGS adquiriu sua sede própria, na Avenida Conselheiro Nébias, 659, contando para tanto com a ajuda financeira de seu particular amigo, Valentim Bouças. 
Coleção Costa e Silva Sobrinho in Fundação Arquivo e Memória de Santos. #82



José Antônio Pimenta Bueno (Marquês de São Vicente) nasceu em Santos(ilha de São Vicente) a 4 de dezembro de 1803. Segundo notas do barão Smith de Vasconcellos, em seu Archivo Nobilliarchico Brasileiro, por profundas desavenças dos pais, foi ainda, com meses apenas, confiado ao cirurgião-mor José Antônio Pimenta Bueno e Dona Balbina Henriqueta de Faria, em São Paulo, parente de seu pai, que o criou como filho, tendo adotado o nome de seu pai adotivo e protetor. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi nomeado juiz de fora de Santos e juiz da Alfândega de sua vila natal. De 1840 a 1842, foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santos. Neste último ano, ainda como juiz em Santos, chegou a esta cidade o padre Diogo Feijó, obrigado pelo governo imperial a ausentar-se de São Paulo, por estar envolvido na revolta de Francisco Ignácio. Sabendo-o em Santos, visitou-o imediatamente Pimenta Bueno, queixando-se-lhe Feijó de que estava sendo coagido de forma ilegal e inconstitucional, motivo porque precisava de um habeas-corpus, que ninguém lhe queria dar. Pimenta Bueno, tomado de revolta, deu-lhe o habeas-corpus que, por medo, outros juízes lhe haviam negado, declarando que "um senador do Império não podia estar em semelhante situação, sem grande vergonha para os foros de civilização da gente brasileira". Serviu como cônsul geral no Paraguai e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Grande foi sua ascendência sobre o presidente do Paraguai, influindo na organização das leis daquele país, chegando a ser padrinho de crisma de um dos filhos de Carlos Lopez, e a ver-se solicitado pelos governos da França e da Inglaterra. Faleceu no Rio de Janeiro, a 19 de fevereiro de 1878, deixando cerca de vinte obras e grande número de serviços prestados à sua pátria. Era Dignitário da I. Ordem da Rosa e Socio do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro desde 1838.
CREAÇÃO DOS TITUL.OS: Visconde com grandeza por decreto de 14 de Março de 1867 . Marquez por decreto de 15 de outubro de 1872 . Fonte: Novo MIlênio. Nota dessa página: Que motivo o levou a escolher S. Vicente como seu título de nobreza? #83



O santista José Monteiro (1880-1962) viveu a maior parte de sua vida em São Vicente. Foi nomeado prefeito por sete anos consecutivos (1931 a 1938), voltando a ocupar o mesmo cargo, agora por voto popular, de janeiro de 1948 a dezembro de 1951. Durante esse período, foi aberta a atual Avenida Manuel da Nóbrega e também e replanejadas as praças 22 de Janeiro e João Pessoa. Foi também durante o seu governo que aconteceu a primeira arborização das praias vicentinas. Sua atuação como advogado e político em Santos não foi diferente, sendo a base da sua carreira vicentina, como está relatado na Poliantéia (1982): “Montando sua banca de advogado em Santos, quando ainda moço, participou ativamente da vida política, social e administrativa da vizinha cidade, onde exerceu o mandato de vereador, militando na facção "cesarista", em 1914, ao lado de Álvaro Guimarães e Oswaldo Cóchrane. Na Câmara Municipal de Santos, foi precursor da ideia de abertura de uma passagem interior, ligando aquela cidade à de São Vicente, através de um túnel ou de um corte nos morros. Entre outras iniciativas às que o seu nome está ligado, destaca-se a instituição do Albergue Noturno de Santos, idealizado por Álvaro Guimarães”. Morreu aos 82 anos.#84



Maria Guilhermina Martins Machado.  Tia Mimi, como era conhecida em São Vicente, educadora musical que formou diversas gerações vicentina na escolinha que funcionava em sua própria casa na rua João Ramalho. Mimi Machado nasceu em Ribeirão Preto e foi casada com Jayme Machado, corretor da Bolsa de Valores de Santos/Câmbio. Recebeu da Câmara Municipal o titulo de Cidadã Vicentina. Foi membro do Clube de Soroptimistas. Foi também uma das fundadoras da Creche Nossa Senhora das Graças, a qual administrou por muitos anos. Entre os alunos que passaram pela sua escola de iniciação musical destacamos Ubirajara Rancan de Azevedo Marques (Bira) e José Miguel Wisnik, ambos graduados e professores respectivamente da Unesp e USP.#85


Sra. Consuelo Marguerite Gomm Kealman , esposa do cônsul  britânico Donald Alexander Kealman. O casal residia entre a Avenida Presidente Wilson e a Rua Visconde do Rio Branco. Figura aristocrática influente na vida cultural e social de São Vicente e Santos, atuando  na promoção de eventos e prestigiando as ações de instituições da cidade. Consuelo está sepultada no Cemitério Municipal.#86



José Cesário da Silva Bastos nasceu na cidade de São Vicente (Sítio do Campo, no então bairro de Praia Grande) em 16 de setembro de 1849, filho de Antônio José da Silva Bastos e de d. Maria Plácida da Costa Bastos. Depois de concluir os estudos iniciais em Santos, rumou para São Paulo, onde foi discípulo do Dr. Victorino de Brito e entrou para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde se formou em 1872. Sua primeira ocupação profissional foi como promotor público na cidade de Araraquara, cargo que exerceu por curto período, pois logo decidiu entrar para a política, ingressando na corrente republicana. Regressou a Santos logo após a Proclamação da República e assumiu importante papel na política santista, sendo eleito para o Conselho de Intendência (antiga Câmara de Vereadores), em 1891, juntamente com Júlio Conceição. No mesmo ano foi eleito deputado à Constituinte Paulista, ao lado de Vicente de Carvalho, onde fez parte da Comissão de Fazenda, apresentando, com alguns companheiros, o primeiro orçamento do Estado. Em 1892 foi eleito um dos primeiros vereadores da história de Santos e presidente da mesa. Foi o grande impulsionador da instrução primária criando o primeiro grupo escolar que acabou recebendo seu nome. Foi criador também do grupo escolar Barnabé. E o grupo escolar do Macuco, tornando as primeiras escolas municipais. Foi apoiador de inúmeros melhoramentos santistas, como a construção das avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias, que ajudou a entregar ao Município, além do Mercado Municipal, que saneou e drenou toda a região da Vila Nova e o antigo Cemitério dos Ingleses. Em 1894 foi eleito senador estadual, e em 1900 eleito pela segunda vez e depois, em 1925 eleito novamente. Dr. Cesário Bastos faleceu em São Paulo no dia 8 de outubro de de 1937, na avançada idade de 88 anos. Fonte: Almanaque Santista. #87


Dois vultos históricos vicentinos: Jacob Emmerich (pai ) e Antônio Emmerich (filho), ambos responsáveis pela modernização do transporte coletivo na Ilha de São Vicente. Acervo familiar.
Nota do CALUNGAH: essas imagens de acervo familiar não eram divulgadas por dificuldade de reprodução gráfica na época em que foram feitas. Só conhecíamos a versão em bico de pena de Edson Telles de Azevedo (Vultos Vicentinos) , baseada na lembrança desse memorialista. Com a popularização da tecnologia digital, a família tomou a decisão de publicar preservando os originais. Nossa gratidão aos descentes dos Emmerich, em especial Nelson Moraes Belem . tataraneto de Jacob Emmerich , na linhagem de sua filha Georgiana Schunk Emmerich. #88



Não era raro nas primeiras décadas do século XX encontrar nesse extenso território rural litorâneo alguns núcleos indígenas, habitando choupanas espalhadas e próximas aos rios e manguezais. Os remanescentes dessas etnias pré-coloniais, como em quase todas as regiões do Brasil, foram se deslocando para regiões fora do alcance da civilização e desaparecendo aos poucos, restando na região poucos núcleos localizados em Itanhaém e Peruíbe. As etnias predominantes nessa grande extensão de terras, orla marítima, rios e maciços costeiros e serranos foram os tupiniquins e os carijós. Eles deram nome aos acidentes geográficos da região, muitos deles sendo modificados com o passar do tempo na fala e na grafia: Japui, Paranapuã, Itaquitanduba, Xixová, Engaguassu e todo o maciço Itaypu, Piaçabuçu,  Boguassu, Momboatuba, e muitos outros, são exemplos dessas denominações. Esses ocupante primitivos talvez tenham testemunhado o maremoto  (ou a grande ressaca) de 1540, que causou danos na Vila de São Vicente e que possivelmente  alterou a configuração do estuário ou desembocadura do rio Peaçabuçu e riachos próximos, junto à Ponta do Itaipu.  História de Praia Grande. Cap. 1. Os primeiros Habitantes.  A imagem é de 1903, da M. Pontes-Bazar . Santos. Acervo do Museu da Cidade-PDA.#89

Figura britânica vicentina, morador da rua Jacob Emerich, homem de negócios portuários em Santos. Era casado com uma norte-americana e tornou-se pai de Donald Alexander Kealman em 1907;  Donald foi Cônsul Britânico em Santos e também residente em São Vicente, na avenida Presidente Wilson. V
Retrato feito num estúdio no balneário suiço de Montreux.
Pesquisa Wladiney La Petina. #90



 Paulo Eduardo Costa é formado em Direto pela Universidade Católica de Santos, egresso do I.E. Martim Afonso onde cursou o ensino básico na década de 1970. Apaixonado por história e pela tradição monárquica, tornou-se um militante da restauração do regime imperial no Brasil através do qual mantém relações com os herdeiros da família Orleans e Bragança, principal núcleo da tradição da antiga nobreza luso-brasileira. Em São Vicente atua como empresário de gastronomia e, como vocação ideológica, preside voluntariamente o Instituto Histórico e Geográfico, principal guardião da memória da Vila e da Capitania de São Vicente. O IHGSV funciona como museu, mantendo um vasto acervo documental e peças raras, sendo também o principal espaço cultural do município, no qual mantém uma agenda permanente de eventos. Paulo é membro dirigente do Santos Golf Clube em São Vicente, foi secretário municipal adjunto da cultura e atualmente empreende uma intensa campanha de preservação das instalações da Casa do Barão, sede do Instituto Histórico e Geográfico, Biblioteca e Museu Histórico, que sobrevivem sem nenhuma ajuda e suporte governamental.#91




Amauri Alves, produtor artístico, diretor, ator e dramaturgo. Em São foi responsável pela criação e funcionamento dos mais importantes equipamentos culturais das duas última décadas2.000 e 2020_ como  as Oficinas Culturais, a Casa Martim Afonso,  o Parque Cultural Vila de São Vicente e o Cine 3D. Apesar de existir desde a década de 1950, com ela a encenação da fundação da Vila Vicentina ganhou uma nova dimensão, tornando-se um espetáculo de produção voltada para o grande público e uma das principais atrações turística da região. Os espetáculos passaram a contar com a participação de artistas consagrados do teatro e televisão, tornando referência nessa modalidade. Esse know-how seria levado para Portugal, de onde recebeu convite para produzir encenações históricas semelhantes. Lá também criou outros eventos como o Festival Internacional de Teatro Infantil- FITI e vários projetos educativos  na Vila do Conde voltados para a sustentabilidade. O Projeto Monstro Lixo e o Festival Oceano, voltados para a preservação do meio ambiente foram adotados também nas escolas da rede pública municipal de Santos. #92


Durante os dez em que viveu em São Vicente o médium Carmine Mirabelli foi foco de admiração, espanto, objeto de pesquisas, respeito e  gratidão, polêmicas, perseguições e até agressões físicas de fanáticos. Para evitar dúvidas e distorções, seus feitos psíquicos eram narrados e publicados em anúncios por testemunhas, para não deixar dúvidas sobre a sua honestidade e desinteresse. Foi comparado aos grandes médiuns que atuaram antes e depois do advento do Espiritismo na França no século XIX. Fundou e manteve duas casas de trabalho e caridade em São Vicente e Santos. A inauguração do núcleo vicentino do Centro Espírita São Luiz foi marcada por uma ação espetacular e espantosa, pois o médium estava com amigos numa estação de trem na Capital poucos minutos antes das 16 horas e instantes depois teve sua presença registrada em São Vicente para iniciar a cerimônia inaugural. A passagem de Mirabelli por SV e Santos foi cheia de fenômenos como curas, revelações de  conhecimentos científicos, psicografias, pinturas mediúnicas e até ressuscitação de mortos (catalepsia ou morte aparente).  Publicamos aqui diversos anúncios em A Tribuna, entre 1917 e 1926, que atestam essas experiências que confrontavam e ao mesmo tempo abriam novas perspectivas na relação entre ciência e religião, materialismo e espiritualismo, entre fé e razão. Em São Vicente seus maiores amigos, além dos irmãos espíritas, foram o prefeito Rodolpho Mikulash e o futuro governador e presidente Washington Luiz, que tinha residência na orla. Desconhecemos se deixo de u descendentes na cidade, embora tenha tido várias personalidades vicentinas com seu sobrenome, mas sem confirmação de parentesco.  Era filiado ao PRP, se opôs ao movimento paulista de 1932 e foi preso por isso.  Depois de uma longa jornada espiritual missionária, Mirabelli se despediu do mundo físico num acidente comum e cotidiano, quando foi atropelado por um caminhão, em São Paulo, no dia 3 de abril de 1951.#93


Sebastião Paes de Almeida, fundador em São Vicente, em 1938, da primeira fábrica de vidros planos do país: a Companhia de Vidros do Brasil - Covibra. Anos mais tarde promoveu a fusão da Covibra com duas outras empresas do ramo, formando assim a Vidrobrás Indústrias Reunidas. Em 1947, junto com Lineu Gomes, fundou a Real Transportes Aéreos, cuja presidência ocupou durante cinco anos. A Covibra construiu uma escola para filhos de funcionários e gente do bairro do Catiapoã. A escola mudou de nome (August Saint-Hilaire), que os mais antigos até hoje chamam de Escola Vidrobrás. #94

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A tradicional fábrica de vidro em São Vicente, no litoral de São Paulo, encerrou as atividades nesta sexta-feira (31), após 86 anos. O anuncio já havia sido feito pelo Grupo Saint-Gobain, uma multinacional francesa, em dezembro de 2022, aos 99 funcionários que atuavam no local. De acordo com o Grupo Saint-Gobain, para continuar funcionando, o local precisaria de investimentos elevados em novos equipamentos e estrutura. Atualmente, a produção mensal da unidade era de 120 toneladas de vidro por dia.

A empresa informou que para prosseguir com as atividades teriam que reformular a fábrica, o que seria inviável para a multinacional. Eles chegaram a essa conclusão por conta de restrições de ordem técnica, assim como as limitações dos prédios existentes ao redor do terreno da fábrica. Segundo a Saint-Gobain, para manter o produto e o processo em operação, a companhia decidiu transferir uma das linhas de laminação para a fábrica da Cebrace, em Barra Velha (SC). O local conta com um forno com a capacidade atender a demanda e processo de fabricação do Vidro Texturizado.

A fábrica de vidro em São Vicente foi inaugurada em 1937 e, durante muito tempo, foi considerada a maior produtora da cidade. Ela foi construída pela S. A. Indústrias Vicry, porém, em 1947, após uma fusão de empresas, passou a se chamar Vidrobrás. Na época, a unidade fabricava pastilhas de revestimento, no entanto logo passou a produzir vidro. Em seguida, a empresa foi incorporada ao Grupo Santa Marina que mudou de nome para Saint-Gobain Glass em 2001.  G1, 31-03-2023


São Vicente INDUSTRIAL E FERROVIÁRIA : estação de passageiros na rua Campos Sales, uma composição de cargas e pátio de serviços da Estrada de Ferro Sorocabana no bairro Catiapoã. Acima, lado centro da cidade, os galpões e a chaminé principal da Fábrica de Vidros : Vicri, Vidrobrás, Santa Marina e depois Saint-Gabain. Foi desativada em 2023. A matéria-prima dessa produção (areia de sílica) era extraída na área rural do bairro rural Samaritá, que dividia aquela região com alguns sítios de lazer; e os pastos de quarentena do gado (quarentenário), que era trazido de trem para o abate nos frigoríficos de São Vicente e Santos. Foto original dos anos 1970 em p&b, colorizada artificialmente



Márcio França nasceu em 23 de junho de 1963 em Santos, litoral de São Paulo, sendo filho do médico Luís Gonzaga de Oliveira Gomes e de Myrtes Giani França Gomes. França interessou-se pela política ainda no ensino básico, como estudante da EE Martim Afonso, em São Vicente, quando integrou o Movimento da Unidade Popular (MUP.

Em 1982, França ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Santos, concluindo sua graduação em 1986. Ainda na faculdade, elegeu-se presidente do diretório acadêmico da universidade, o Centro Acadêmico Alexandre Gusmão. Deu prosseguimento aos estudos fazendo pós-graduação em direito administrativo e constitucional. Entre 1983 e 1992, França trabalhou como oficial de justiça na Comarca de São Vicente. Também exerceu a advocacia. Em 1986, casou-se com a professora Lúcia, com quem teve dois filhos: Helena, pedagoga; e Caio, advogado e deputado estadual.

Em 1989, assumiu o cargo de vereador de São Vicente, cidade da qual foi eleito prefeito em 1996 e reeleito em 2000, com 93% dos votos válidos. Em 2006, elegeu-se deputado federal, reelegendo-se em 2010. Em 2011, foi nomeado secretário de Esporte, Lazer e Turismo do Estado de São Paulo, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2014, França foi eleito vice-governador na chapa de Alckmin. Após a posse, assumiu também a função de secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. Quando Alckmin renunciou para concorrer à presidência da República em abril de 2018, França foi empossado governador. Candidatou-se à reeleição e recebeu 21,5% dos votos válidos no primeiro turno e 48,25% dos votos válidos no segundo turno das eleições de 2018, perdendo para seu adversário João Doria (PSDB). Nas eleições de 2022, foi candidato a senador por São Paulo, ficando em segundo lugar na disputa, atrás de Marcos Pontes (PL). #95


Mario Zanini  nasceu São Paulo em 10 de setembro de 1907 e faleceu na mesma cidade em16 de agosto de 1971.  Pintor e decorador, descendente de humildes imigrantes italianos. Ainda adolescente frequentou a Escola de Belas Artes. Foi letrista da Cia. Antárctica  Paulista, no bairro da Mooca. Participou dos principais certames oficiais do país. Fez viagem de estudos a Europa em 1950. Participou das três primeiras Bienais de São Paulo. Fez parte do Grupo Santa Helena, núcleo da futura Família Artística Paulista. O que, entretanto, o distingue dos demais integrantes do Grupo do Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista é o seu colorido, intenso, profundo, quase ingênuo: ao lado de Alfredo Volpi, Zanini é um dos grandes coloristas da moderna pintura paulista e brasileira. #96
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Igreja de São Vicente , c. 1940. óleo sobre tela. 33,3 cm x 45,8 cm, acervo do Museu de Arte Contemporânea. Doação de Francisco Matarazzo Sobrinho em 1963.


TEN CEL. ADSTON POMPEU PIZA. Foi Comandante da Fortaleza de Itaipu (9 de março de 1957 a 31 de março de 1960). Era casado com Odete Piza.  Seus filhos, Ivan e Narbal, estudaram no I.E. Martim Afonso; Adston Filho estudou em São Paulo; Marcos, que faleceu ainda adolescente, em Santos; teve também uma filha, chamada Tânia. O Comandante Piza foi testemunha oficial do avistamento de OVNI na Fortaleza em 1957, relatando também os depoimentos e incidentes físicos com os soldados, ocorridos na mesma noite. Reformado em Belém-PA entre 1965 e 1966, voltou para Praia Grande, onde atuou como cidadão civil, participando do grupo estratégico da emancipação do município em 1967, desenhando as divisas e limites desmembrados de São Vicente. #97


OVNI na Fortaleza do Itaipu em 1957. Em plena Guerra Fria, a experiência surpreendente e conflitante do Ten. Cel. Adston Pompeu Piza, então comandante do Forte em Praia Grande.

DALMO DUQUE - HISTÓRIA DE PRAIA GRANDE
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Final da década de 1950. O Forte de Praia Grande é um antigo sítio colonial localizado na encosta de Itaipus, morros que formam um maciço e uma península na barra sul da Baia de Santos. A vizinhança é composta por alguns sítios e chácaras antigas e algumas casas de veraneio na direção da praia do Boqueirão. É um lugar isolado e ainda tomado pela mata atlântica, com poucos pontos de ocupação. A pequena praia que fica do outro lado do maciço é completamente isolada e fechada para os banhistas civis, assim como as dependências da base militar, construída para proteger o porto e a ilha de São Vicente. No período noturno a sensação de isolamento e solidão é mais intensa, predominando um silêncio florestal, um forte cheiro de mato, misturado com a maresia. Não se escuta nenhum barulho dentro ou fora da área quartel e raramente acontece alguma movimentação de veículos particulares ou de serviço.
As sentinelas do Forte, distribuídas em vários pontos da propriedade, funcionam como os únicos meios e elos de comunicação entre os ocupantes da antiga gleba e os moradores dos arredores. Tudo que acontece dentro ou fora do Forte, passa primeiro pela guarda, que filtra as informações por meio dos oficiais que verificam rotineiramente as ocorrências percebidas e registradas pela vigilância.
O Forte é também um lugar de segredos. Segredos militares, controlados pela ordem hierárquica e regulatória; e também segredos comuns e cotidianos, sem nenhum controle hierárquico e burocrático. Essas últimas são ocorrências geralmente curiosas, fora do padrão disciplinar, e correm numa velocidade espantosa, extrapolando os muros, cancelas e tomando rumos e destinos incertos, sempre levadas pelos que entram e saem diariamente.
A ocorrência ali registrada na noite de 4 de novembro de 1957 foi uma dessas que alteraram completamente a rotina e o clima de convívio na Fortaleza. Duas sentinelas, de forma totalmente inesperada, foram surpreendidas por um evento sobrenatural, certamente indescritível pelas meios normais dos testemunhos humanos. São relatos que destoam da percepção e senso comuns. Além das sentinelas, o próprio oficial comandante da Fortaleza presenciou a ocorrência e testemunhou visualmente o fenômeno manifestado à céu aberto. O Tenente Coronel Adston Pompeu Piza não teve dúvidas de que estava registrando uma ocorrência completamente fora do normal e dos padrões reconhecidos pela ciência e tecnologias conhecidas naquela época. O mundo de então já realizava experiências avançadas, porém, o que foi visto naquela noite na Fortaleza ainda poderia ser considerado raro e espantoso diante daquelas testemunhas. Os testes nucleares já estavam acontecendo em varias regiões do planeta , sob a vigilância das duas superpotências em franca competição de poderes. O céu do ocidente já era povoado por satélites espaciais e naves tripuladas por bichos domésticos, como a cadela russa Laika, que naquele ano havia sido enviada ao espaço pelos pesquisadores soviéticos. O General George Marshal já tinha sido visto na Fortaleza de Itaipu, cumprindo uma rotina de visita a bases militares brasileiras alinhadas com o bloco da OTAN. Naquele mesmo ano, no Brasil, dois acidentes aéreos causaram a morte de todos os tripulantes e passageiros, mais de 80 pessoas. As aparições de objetos voadores se tornaram frequentes naquele período, em vários lugares do Brasil e os relatos se sucediam de forma também espantosa. 
Em Praia Grande as sentinelas foram atingidas pela luz intensa de uma esfera vermelha, a mesma vista pelo Comandante Adston e também pelos soldados de plantão. Mesmo mantendo segredo militar sobre alguns detalhes considerados inconvenientes para o conhecimento público, o oficial compartilhava repetida e cansativamente sua experiência para familiares e amigos, para não deixar nenhuma dúvida sobre a veracidade do acontecimento e a credibilidade dos soldados-sentinelas ou de qualquer morador dos arredores que testemunharam o fato. O relato oficial foi feito e inclusive retransmitido para outras organizações militares, no caso dos EUA, especializadas e interessadas em fenômenos semelhantes.
Este foi mais um segredo que extrapolou os muros do Forte. Não havia como contê-lo. Nem o comandante se conteve. Era questão de vida e morte e também de razão e sanidade mental. Ver e relatar um fenômeno raro e impressionante não ficava apenas na no aspecto da informação casual e suas repercussões triviais. Surgem muitas dúvidas sobre o significado do acontecimento, coisas que fogem do senso comum. As pessoas sempre questionam se esses fatos são produtos do acaso ou se elas estavam predestinadas a passarem por essas experiências, já que tais acontecimentos causam impactos significativos nas vidas delas. O Tenente Coronel Adston Pompeu Piza, por exemplo, depois de cumprir sua missão de comando no Forte, fixou residência no Boqueirão, onde só frequentava como veranista. Dez anos depois do seu contato com um OVNI no Forte, o oficial se viu envolvido na tarefa de conduzir os novos destinos políticos da cidade, no momento em que Praia Grande rompia seu vínculo político com São Vicente, passando a cumprir um destino totalmente diferente após a emancipação. Adston não era um oficial comum. Lutou na Itália como capitão da FEB e tinha formação específica na matéria Estado Maior das Forças Armadas. Foi encarregado de elaborar um plano estratégico que colocasse Praia Grande como um elemento novo e integrado no contexto da geopolítica regional e nacional. Durante várias semanas ele se debruçou no estudo da geografia física do litoral e frequentava diariamente as instalações da Capitania dos Portos em Santos com a missão de desenhar e estabelecer os pontos divisórios do novo município, respeitando os limites e possibilidades naturais e contemplando as necessidades e tendências da política territorial vigente. Muitas dessas definições escolhas são visíveis e transparentes nos mapas, com razões e explicações óbvias. Entretanto, muitas outras foram por razões impublicáveis, consideradas razões e segredos de Estado. Quais foram elas? Pelos mesmos motivos, o Tenente Coronel Adston Pompeu Piza também deve ter se perguntado no dia seguinte ao 4 de novembro de 1957: Por que essa esfera de imensa luz vermelha se manifestou exatamente nas sentinelas do Forte? Por que somente eu e os soldados de guarda naquela noite testemunhamos esse fato? O que tinha por trás desse fenômeno? Era algo de natureza espiritual? Era de natureza geopolítica e proposital? Havia dentro do Forte algum tipo de segredo militar guardado – que era muito comum no contexto da Guerra Fria - que interessava aos seres extraterrestres? Por que fizeram questão de aparecer, quando poderiam ter se mantido ocultos? Por que Praia Grande nasceu nesse momento e qual seria o seu papel como nova cidade da região e do estado? Seria coisa do destino ou foi tudo uma mera coincidência?


A história da origem do nome de São Vicente começou há muito tempo, no ano 325, na cidade espanhola de Huesca, uma então Província de Saragoza. Lá nasceu o jovem Vicente, padre dedicado que se destacava por seu trabalho, tanto que o bispo de Saragoza, Valério, lhe confiou a missão de pregador cristão e doutrinador catequético. Valério e Vicente enfrentavam, naquela época, o imperador Diocleciano, que perseguia os cristãos na Espanha. Os dois acabaram sendo presos por um dos homens de confiança do imperador, Daciano, que baniu o bispo e condenou Vicente à tortura. O martírio sofrido por Vicente foi tão brutal, a ponto de surpreender os carrascos.
Eles relataram a impressionante resistência do rapaz que, mesmo com gravetos de ferro entre as unhas e colocado sobre uma grelha de ferro para ser queimado aos poucos, não negou a fé cristã.
Ao final daquele dia 22 de janeiro, os carrascos decidiram matar-lhe com garfos de ferro, dilacerando-o completamente.
Seu corpo foi jogado às aves de rapina. Os relatos dão conta de que uma delas, um corvo, espantava as outras aves, evitando a aproximação das demais. Os carrascos decidiram, então, jogá-lo ao mar.
O corpo de Vicente foi resgatado por cristãos, que o sepultaram em uma capela perto de Valência. Depois, seus restos mortais foram levados à Abadia de Castes, na França, onde foram registrados milagres. Em seguida, foram levados para Lisboa, na Catedral da Sé, onde estão até hoje. Vicente foi canonizado e recebeu o nome de São Vicente Mártir, hoje santo padroeiro de São Vicente e de Lisboa. Desde então, o dia 22 de janeiro é dedicado a ele. Por isso, quando a expedição portuguesa comandada por Gaspar de Lemos chegou aqui, em 22 de janeiro de 1502, deu à ilha o nome de São Vicente, pois o local era conhecido, até então, como Ilha de Gohayó. Outro navegador português, Martim Afonso de Sousa, chegou aqui exatamente 30 anos depois, em 22 de janeiro de 1532. Ele foi enviado pela Coroa Portuguesa para constituir aqui a primeira Vila do Brasil e resolveu batizá-la reafirmando o nome do santo daquele dia, São Vicente, pois era reconhecidamente um católico fervoroso. #98
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POTESTADE VICENTINA. As coletividades humanas são sempre regidas por forças superiores, gênios das raças que constituem sua gênese material e espiritual e inspiram suas vocações, missões e trajetórias. Elas povoam outras dimensões e a mentalidades dos seus tutelados, por meio das manifestações míticas espontâneas, desde as mais simples formas de vida até as mais complexas inteligências que governam o universo. Nos mitos esses gênios aparecem nas figuras sobrenaturais, cujas inteligências angélicas conduzem os destinos dos povos e nações, presidindo suas existências. As potestades, por exemplo, na categoria das entidades angélicas, possuem características específicas voltadas para a história e memórias dos povos, tecendo as relações entre o passado , o presente e o futuro, rompendo ou delimitando suas ações, fomentando sua evolução e conquistas, mas também corrigindo percursos e fazendo as reparações regeneradoras quando estas falham de forma abusiva. Uma potestade jamais permite que uma coletividade esqueça de seus compromissos e suas tradições. São Vicente, por exemplo, possui um potestade que presidiu seu nascimento. Atrai e cuida dos desamparados em graves provações materiais e provê suas necessidades mais imediatas, intervindo e inspirando a caridade para com eles.
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Relato baseado em depoimento de um munícipe enviado ao blog São Vicente na Memória



Um dos mais significativos trabalhos em azulejo da região está completando 50 anos: é o painel da Biquinha, em São Vicente, que retrata o Padre Anchieta catequizando os índios brasileiros. O belo exemplar da arte em cerâmica é do artista Waldemar Moral Sendin, que contou com a colaboração do irmão, Armando Sendin, e da irmã Estrela Sendin. Um dos pioneiros desse tipo de arte no Brasil, Waldemar Moral Sendin faleceu há oito anos; Armando Sendin, aos 72, tem seu ateliê e mora na Espanha. Estrela, com 74, reside em Santos. Ela conta que o painel foi feito a pedido do prefeito de São Vicente na época, Polidoro Bitencourt. "Ele foi visitar uma exposição de Waldemar, no Parque Balneário, e ficou maravilhado com o seu talento", conta.

Antes do painel de Anchieta, havia na Biquinha uma obra em terracota, do artista Domingos Savorelli. "Eu não me lembro quanto a prefeitura pagou ao meu irmão, mas acho que foi algo em torno de mil cruzeiros. Eu e o Armando posamos como modelos, para que o Waldemar tivesse uma idéia de como posicionaria o padre Anchieta e os índios", revela.

O trabalho foi realizado em um mês, já que a técnica não é das mais fáceis. E, como no Brasil ainda não havia tintas especiais, Waldemar mandou-as vir de Portugal, assim como os azulejos. "Ele usou o policromado em sépia, uma cor muito bela, que ainda não existia por aqui". A qualidade do serviço pode ser vista até hoje, pois não se deteriorou com a ação do tempo. Durante o período das chuvas, em janeiro, uma parte da Biquinha quase foi destruída, mas nada aconteceu ao painel do Padre Anchieta.

"É uma obra de arte importante, não só porque a Biquinha é conhecida mundialmente, mas também devido à importância histórica de São Vicente. Ao longo dos anos, ela vem sendo retratada em cartões postais enviados aos mais diferentes países", analisa Estrela.

O artista - Waldemar Moral começou logo cedo nas artes, herdando do pai o gosto pelas tintas. A família foi morar em Porto Alegre, o que incomodou o jovem. Ele dizia que lá não havia ninguém que pudesse ensiná-lo mais do que já sabia. Cedendo aos apelos do filho, o pai trouxe a família para Santos, para que Waldemar pudesse estudar em São Paulo. Ele se formou em Arquitetura pela Faculdade de Belas Artes. Logo pegou gosto pelo trabalho com cerâmica, sendo um dos primeiros no Brasil a dominar a técnica. Armando Moral Sendin também foi infestado pelo vírus da arte, mas preferiu a pintura de quadros, embora tivesse se formado em Filosofia e Letras e se pós-graduado na Sorbone.

"Fui a única que não seguiu a trilha. Eu organizava o ateliê, em São Paulo, pois eles eram muito descuidados. Me dou melhor com a agulha e a linha", justifica Estrela.

A técnica - A arte da cerâmica, dizem os entendidos, nasceu no Oriente, há vários séculos, e os árabes foram um dos seus cultuadores. Mais tarde, chegou à Europa, notadamente em Portugal, Espanha e França. Foram os colonizadores portugueses que a trouxeram para o Brasil. Era comum decorar a fachada dos imóveis com azulejos. O nome vem do fato de a maioria das peças, na época, ser azul.

A técnica utilizada por Waldemar seguia todo um processo. Primeiro ele fazia um croqui, em papel, do que iria desenhar. Os azulejos eram colocados em uma prancheta de madeira e, com o lápis, ele esboçava o desenho. O passo seguinte era a pintura com uma tinta especial de cerâmica sem esmalte. Os azulejos, numerados, eram colocados no forno à temperatura de 750 graus. Depois era só montar a imagem na seqüência da numeração. O cozimento dá brilho à pintura e a torna indelével.

José de Anchieta foi reitor do Colégio de São Vicente, evangelizador da Capitania de Martim Afonso, dramaturgo e herói, informa a placa que fica ao lado do painel da Biquinha. #99

Fonte original:  Caderno AT Especial do jornal santista A Tribuna, em 2 de março de 1997. Novo Milênio. 




Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker, o último bandeirante vicentino e paulista. Era descendente do Cônsul inglês em Santos William Whitaker, família tradicional de comerciantes santistas. Nasceu na fazenda Paraíso, em Limeira (SP), em 10 de março de 1864, filho de Frederico Ernesto de Aguiar Whitaker e Maria Amélia de Araujo Lima Whitaker. Tem como avós paternos Guilherme (William) Whitaker e Ângela da Costa Aguiar Whitaker. Em 1893 foi nomeado para o posto de capitão do Esquadrão do 64º Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional da Comarca de Ribeirão Preto. Em 1º de janeiro de 1907, funda o Porto Tibiriçá-célula-mãe que deu origem aos municípios da Alta Sorocaba - a serviço da Cia. Diederichsen-Tibiriçá, sucedida pela Cia de Viação São Paulo/Mato Grosso. Ali permaneceria até 7 de setembro de 1922. A expedição do Capitão, iniciada em 1906, fez a mesma trajetória dos antigos bandeirantes, navegando em batelões nos rios Tietê e Paraná. Foi apoiado "in loco" pelo mandatário dessa vasta região, o Cel. Paulino Carlos. Numa época de extrema brutalidade na ocupação dessa parte do território paulista, Whitaker foi elogiado pelo antropólogo alemão Kurt Nimuedaju como colonizador responsável, humanitário e protetor das aldeias indígenas. Nimuedaju (que em tupy-guarani significa, o que faz a própria casa) denunciou na época os crimes cometidos contra os indígenas durante a expansão paulista e matogrossense. Faleceu em 1944, no povoado de Indiana-SP, ponto final da sua missão desbravadora do oeste paulista.#100



Maria Dolores Muñiz Junquera  (1926-2008), nasceu em Gijón, nas Astúrias, ao norte da Espanha, em uma família de oito irmãos. Em 1948, entrou  na Congregação Maria Imaculada  em Madrid e ali fez os votos perpétuos. Na década de 1950 foi para França e Inglaterra. Cursou dois anos de Medicina. De Londres,  veio para o Brasil, como religiosa das Filhas de Maria Imaculada. Em 1967, trabalhou, inicialmente, em São Paulo e, depois, na Baixada Santista. Tornou-se uma estudiosa de Teologia da Libertação, na linha de Leonardo Boff, Carlos Mesters, Benedito Ferraro, D. Pedro Casaldáliga e outros dessa vertente social cristã. Apaixonada pela causa dos “sem voz e sem vez”, desligou-se da congregação para viver totalmente dedicada aos mais carentes e excluídos. Foi morar, em 1970, em uma simples palafita, em São Vicente, onde criou a JIP – Jockey Club Instituição Promocional – entidade que prepara jovens legionárias. Em 1979, no Guarujá, ajudou na transferência das famílias que viviam em áreas de risco nos morros para os núcleos hoje conhecidos como bairros Vila Zilda Natel e Vila Edna. 

Em 1989, de volta a São Vicente, na Área Continental, trabalhou nos bairros Humaitá, Parque das Bandeiras, Samaritá e na Vila Ponte Nova/Quarentenário (hoje Jardim Irmã Maria Dolores). Quando conheceu o Quarentenário, resolveu trabalhar e morar na área, para ajudar a melhorar as condições de vida da população. Esteve presente no local desde o início da ocupação. 

Caminhando a pé pela linha do trem, já que não havia ruas, ia do Samaritá para ajudar na organização dessa ocupação. Lá construiu a Capela Nossa Senhora da Esperança e também Posto de Saúde, Centro Comunitário e Escola Profissionalizante. Com a ajuda dos paroquianos do Embaré, construiu a “Escola de Ensino Fundamental Raul Rocha do Amaral, onde estudam 1.500 alunos. Inaugurou ali, em 2002, a Biblioteca Comunitária, com acervo de 5.000 livros – a única na área continental na época. No Centro Comunitário funciona uma Pré-escola com 330 alunos e a Casa da Saúde da Mulher. Grande parte dá área que ajudou a urbanizar hoje leva o nome de Jardim Maria Dolores. # 101

Adaptado  da Associação Promocional Irmã Maria Dolores


O jovem Paulo Horneaux de Moura Filho descendia de um conhecido e antigo núcleo familiar vicentino, de franceses (Isabel Horneaux, materno) e portugueses(Antero de Moura, paterno). Foi ordenado em 6 de dezembro de 1953. Nasceu em São Vicente, em 15 de dezembro de 1925. Filho de Antonieta e Paulo Hornneaux de Moura, era o único homem entre duas irmãs, Clélia  e Célia. 

Aos 18 anos ingressa no curso de Filosofia e, depois de Teologia, em São Paulo.  Já possuía conhecimento de latim e grego enquanto terminava os estudos ginasiais. Em 1944  ingressa no Seminário Menor de Campinas. Em São Paulo, cursa filosofia e teologia no Seminário Central do Ipiranga.  Entre1947 e 1953 licenciou-se em Teologia, sendo ordenado sacerdote por Dom Idílio José Soares, na Catedral de Santos. Iniciou o trabalho de evangelização no bairro do Macuco celebrando missas no Mercado Municipal. Ali, em 1965, foi nomeado cônego catedrático do Cabido Diocesano de Santos.

Entre 1971 e 1975, Padre Paulo ampliou suas ações sacerdotais: funda a paróquia São Jorge Mártir/Santos e, em 1974 , com os paroquianos  a Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Paulo. Desde 1972, a juventude paroquial promovia rodas de sambas como lazer. Durante esse período, realizou atividades pastorais nas paróquias São Benedito, Nossa Senhora do Carmo e da Paróquia Santa Margarida Maria, todas em Santos.

Em 1990 finalmente, onde permaneceu por 13 anos,  assume a Paróquia São Vicente Mártir, uma das fases mais felizes de sua vida religiosa , quando foi designado pela Mitra Diocesana para ser o pároco em sua terra natal. Nessa Igreja histórica, onde fizera seu catecismo, sua primeira comunhão e onde rezara sua primeira missa, Padre Paulo experimentou uma de suas experiencias mais difíceis: o incêndio que danificou parte de sua Igreja Matriz. Após aposentar-se, perseverou em sua vocação, tendo liderado a construção de uma nova Igreja, da qual foi pároco. Trata-se de uma das maiores Igrejas da Baixada Santista – a de Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Catiapoã em São Vicente. #102


Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho, mais conhecido como Esmeraldo Tarquínio, nasceu em São Vicente em 12 de abril de 1927 e faleceu em Santos em 10 de novembro de 1982. Passou grande parte da sua infância na Vila Margarida, bairro popular vicentino onde residiam muitas famílias de migrantes baianos. Atuou profissionalmente como despachante aduaneiro, advogado e jornalista. Iniciou sua carreira política como vereador em Santos e depois como deputado estadual, na condição de liderança regional. Tinha grande representatividade política em São Vicente e foi um grande opositor da emancipação de Praia Grande, posicionamento que teve início durante a construção do balneário Cidade Ocian, tornando-se fiscal das ações do empresário Roberto Andraus.  Este último foi eleito prefeito de São Vicente em 1959 e renunciou ao cargo seis meses depois. Integrante do  MDB- Movimento Democrático Brasileiro, Esmeraldo Tarquínio  foi eleito prefeito de Santos em 1968, com 45.210 votos (39,8% dos votos válidos), mas não assumiu o cargo porque o regime militar cassou seu mandato pouco mais de um mês antes da posse. Apesar da sua cassação, é considerado oficialmente prefeito de Santos devido a uma lei municipal de 2017. Em 1982, quando candidato a deputado estadual, sofreu um acidente vascular cerebral falecendo  cinco dias antes das eleições.#103


em 2 de fevereiro de 1898.Sua sólida formação de raiz foi o Atheneu Sergipense, complementada pelo bacharelado em Direito no Rio em 1921. Nunca abandonou a vocação para o magistério, onde compartilhava seu vasto conhecimento de Humanidades. Seu vínculo com a nossa região é de 1913, quando residiu pela primeira vez em Santos. De volta,  lecionou basicamente no ensino superior santista: na Faculdade de Ciências Econômicas e Comerciais, na Faculdade Católica de Direito e também, por longos anos, na Associação Instrutiva José Bonifácio. Foi Promotor do Estado e Consultor Jurídico da Capitania dos Portos. Jornalista, colaborador de A Tribuna, também foi acadêmico de Letras e membro do IHGS. Em 1963, para sua enorme alegria e prova de reconhecimento, recebeu  da Câmara o título de “Cidadão Santista”. Em 1982 o Prof. Cleóbulo honrou os vicentinos com dois artigos póstumos na Poliatéia : “São Vicente símbolo da Fé” e “ Precisamos Reconquistar o Brasil”. É nome de uma escola pública estadual em Santos. Faleceu aos 81 anos,  em 12 de fevereiro de 1979. #104
Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Santos.


Marcelo Ribeiro Nogueira nasceu na Fazenda Santa Tereza, em São Sebastião da Grama, a 14 de julho de 1929. Foi casado com a sra. Lúcia de Almeida Ribeiro Nogueira. Em 1948  veio para São Vicente, onde se fixou. Fez curso técnico de Contabilidade no Liceu São Paulo e em 1950 ingressou na função pública como Inspetor de Alunos, no Colégio Martim Afonso. Formou-se  Orientador Educacional pela Escola Universitária de São Paulo. Completou o curso de inglês pela Cultura Americana e obteve, aprovado no exame de proficiência, obtendo registro para lecionar no primeiro e segundo ciclo pela Faculdade de Ciências e Letras de São Paulo. Ainda como Inspetor de alunos, trabalhou no Colégio Canadá e lecionou em vários estabelecimentos de ensino, entre eles: o Liceu São Paulo, o Colégio Anglo-Americano e o antigo Monte Serrat (hoje Santa Cecília), além do Ginásio Estadual de Catiapoã (Vidrobrás-Saint Hilaire)
Em 1968 foi convidado pelo então interventor de São Vicente, coronel Jorge Conway Machado, para assumir a Diretoria de Educação Municipal. Permaneceu na pasta por cinco anos, mesmo depois que o prefeito Jonas Rodrigues assumiu o cargo, que o convi- dou a permanecer nessas funções. Como Diretor de Educação, promoveu a reestruturação do quadro de ensino municipal, implantou o Mobral (Movimento Nacional Alfabetização), organizou a merenda escolar e as associações de pais e mestres nas escolas municipais. 
Formando-se em 1972, pela Faculdade Católica de Direito de Santos, deixou a Diretoria Municipal de Educação para prestar concurso à carreira de Delegado de Polícia, à qual foi aprovado e teve ingresso. Na carreira policial sempre serviu nas Delegacias de Polícia da Baixada Santista, sendo, posteriormente, delegado-adjunto da Delegacia de Polícia de São Vicente.
Marcello Ribeiro Nogueira e sua esposa foram fundadores do Centro Espírita Redenção, que mantêm, sob sua direção, o Instituto Educacional "Henrique Oswald. Presidiu o conselho da Casa do Paraplégico em Santos, foi Irmão-Benfeitor da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente (Hospital São José), membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, integrando o Conselho Civil da Comunidade Vicentina dedicando especial atenção às famílias necessitadas, distribuindo alimentos e enxovais às mães necessitadas, através de um departamento assistencial do Centro Espírita Redenção. Foi uma vida dedicada à instrução, a qual serviu sempre com muito carinho e dedicação. #105.
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Adaptado da Poliantéia Vicentina. 1982. Ed. Caudex. 



Até meados dos anos 1970 a área continental de São Vicente, lado serra, era um território quase completamente despovoado, marcado pela presença de sítios de antigos moradores da área insular, pela exploração mineral para fabricação de vidro e uma área de pastos para o isolamento do gado trazido pela ferrovia e depois conduzido até os matadouros de São Vicente e Santos. Essa paisagem e realidade começaram a mudar na década seguinte quando uma intensa pressão demográfica atingiu a parte insular, dando início às históricas ocupações irregulares dos antigos territórios vicentinos no continente serrano. É uma história social recente que carecia de uma síntese e isso só aconteceu quando a professora Márcia Regina do Vale transformou esse assunto no tema de sua tese de doutorado em Ciências Sociais na PUC de São Paulo.  A pesquisa mapeou e explicou  praticamente todas as transformações ocorridas naquela região que, na verdade, era povoada desde à época colonial, como foi o caso de Sant'Ana do Acarahú, sítio colonial onde nasceu o historiador Frei Gaspar da Madre de Deus. A Dra Márcia Vale é, na prática, a autora da primeira  e mais ampla narrativa historiográfica dessa antiga região vicentina, cujas transformações recentes  geraram uma população de mais de 150 mil habitantes, obrigando o poder executivo a criar ali uma sub-prefeitura. Há algum tempo, a área continental também vem cogitando sua emancipação. Mas isso é outra história. Gentilmente a Profa. Márcia nos autorizou a publicar, em texto adaptado, a sua tese na Enciclopédia da História de São Vicente (CALUNGAH), consagrando verdadeiramente sua grande contribuição para a história da antiga Vila Afonsina fundada no Século XVI.  # 106


São Vicente aboliu a escravidão em 31 de Outubro de 1886, dois anos antes da publicação da Lei Áurea. No ano seguinte, essa data serviu de inspiração ao vereador José Elias Guimarães para dar nome a uma rua no centro de São Vicente. Algum tempo depois essa rua ganhou outro nome: Rua Tibiriçá, justa homenagem ao cacique de Piratininga, mas que ofuscou a pioneira data abolicionista vicentina. Curiosidades e situações polêmicas como essa não são difíceis de solucionar quando entra em cena o pesquisador Flávio Viana, sempre municiado de documentação e argumentos comprobatórios. É um dos pesquisadores mais requisitados para esclarecer essas dúvidas históricas, corrigir equívocos e apontar os rumos mais seguros para esclarecer as coisas. Foi ele que, numa reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, na Casa do Barão, após ler uma decisão inesperada do poder executivo municipal, pronunciou a frase fatídica: “É o fim do Conselho”. O órgão, de composição plural, foi dissolvido por não atender mais os interesses da nova administração. Dias antes os membros haviam recusado assinar documentos processuais sem antes fazer uma leitura acurada dos mesmos. Posicionamento normal interpretado como rebeldia seguida de punição. Vida que segue, Flávio continua atento aos acontecimentos de hoje e do passado vicentino. Sorte da cidade e dos seus amigos que, como ele, respiram a memória e a história de São Vicente. Em tempo: é Dr Honoris Causa pela Faculdade de Capelania do Estado de São Paulo, Doutorando em Educação na UNR Rosário, Argentina; Pedagogo, Historiador e Bacharel em Direito. O artigo sobre a Abolição em São Vicente foi publicado no livro, "Miscelâneas, páginas soltas de nossa História" Editora ESA/OAB São Paulo. Está na Amazon, com acesso gratuito. Fonte: https://www.afropress.com/ #107


O sobrenome Bispo é o emblema mais antigo e tradicional da Vila Margarida. Em vinte anos de docência na escola que leva o mesmo nome do bairro (Margarida Pinho Rodrigues), na maioria das classes, encontrava pelo menos um ou dois “Bispo”. É a contribuição dos baianos que ali se enraizaram. Antônio e Ricardo, pai e filho, não foram meus alunos no Pinho e sim na Faculdade São Vicente (Integração e depois Unibr). O pai na Matemática e o filho nas Letras. Antônio é escritor. Ricardo é poeta. Ambos são sambistas de raiz. São também funcionários públicos de carreira. Quando compõe um samba, Ricardo não fala da sua criação pra ninguém sem antes mostrar para sua mãe, Se ela aprovar, ele divulga. Essa técnica nunca falha. Ele gosta muito da cultura e da luta do movimento negro. É culto e politizado. Foi ele quem me apresentou o Dr. Joaquim Guaraná Santana, figura baiana e vicentina (também da Vila Margarida), líder máximo da Legião Negra de 1932. Antônio aparentemente é mais discreto nesses assuntos. Lúcido e poético, também é culto e fala sobre qualquer assunto, mas com discrição. É o tipo que dá para conversar por horas. De vez em quando, ao pegar o ônibus na presidente Wilson na direção centro-vilas, às vezes nos encontramos. Rapidamente, sempre sorridente, ele me chama para dividir o banco e o papo rola tão solto que, não raro, esqueço o ponto que devo descer. #108



Nascido em Santos em 1940, foi o  primeiro filho de uma família de onze irmãos. O pai, Kotuko Iha,  era empresário e liderança na colônia nipônica na região e foi dele que  Koyu Iha herdou a vocação para a política. Em 1963 ingressou na Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), onde ficou até se aposentar.   Começou sua carreira atuando na Faculdade Católica de Santos como acadêmico de Direito onde se formou em 1969. Atuou também no movimento sindical, no qual se opôs ao regime militar instalado em 1964. Filiou-se ao MDB- Movimento Democrático Brasileiro em 1968 e conseguiu se eleger duas vezes vereador do município de São Vicente pela legenda, que era uma oposição consentida pela ditadura. Assumiu o primeiro mandato em 1968 e foi reeleito em 1972. Nas eleições de 1974, disputou uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e se elegeu deputado estadual. Como prefeito, foi considerado o melhor governo do interior pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em 31 de janeiro de 1981 renunciou à prefeitura de São Vicente em protesto pela prorrogação dos mandatos de prefeitos e vereadores determinado pelo governo federal. Foi quando retomou então suas funções na Cosipa. Em 1982 elegeu-se novamente deputado estadual. Na legislatura seguinte candidatou-se à câmara federal e se elegeu deputado, tornando-se parlamentar constituinte. Foi reeleito mais duas vezes, ficando no Congresso até 1999. Sempre em sintonia com a política nacional, parceiro histórico de Mário Covas e Rubens Lara, já falecidos, continua ativo como militante partidário, conselheiro e analista político. Até hoje é lembrado pelos correligionários vicentinos como  “O nosso eterno prefeito”. # 109




Descendente de imigrantes italianos radicado no interior paulista, Geraldo Albertini trouxe na veia o talento artístico dos seus antepassados europeus. Porém, sua escultura e seu temperamento simples foi profundamente envolvido e  influenciado pelo universo estético e religioso da cultura africana do Brasil. Nasceu em 1933 na pequena cidade de Capivari e desde criança manifestou sua inclinação pela escultura em argila. Foi casado com Dona Jenine e teve com ela sete filhos.  Nunca soube ou quis explicar a inclinação e intimidade para a temática do candomblé e umbanda na construção das suas peças, cujo apogeu foi a criação e construção de um impressionante acervo de peças narrativas da escravidão e das divindades protetoras e consoladoras dos africanos aqui escravizados durante três séculos. Esta talvez tenha sido a sua maior e única obra e que teve São Vicente como cenário de criação, acolhimento e exploração de sua arte, sempre repleta de beleza e misticismo popular. Albertini foi intensamente explorado na sua arte como garantia de sobrevivência. São Vicente talvez tenha sido seu principal e último refúgio artístico e foi no pequeno vale entre os morros do Itararé e Voturuá, antigos núcleos de africanos, que idealizou e construiu o seu Museu do Escravo. Ele veio para a região em 1970, atraído pela fama da Feira Hippie da Biquinha. Foi um sucesso de público e tornou-se nos anos seguintes o embaixador cultural da cidade. Recebeu o título  de Cidadão Vicentino. Entre 1976 e 1984 suas peças foram intensamente divulgadas. Nesse longo tempo o acervo do Museu foi desaparecendo gradualmente até chegar nos dias atuais reduzidas a uma pequena quantidade, mantidas milagrosamente. Seus dias de sucesso e luta pela sobrevivência na cidade  também se foram. O Museu do Escravo está fechado há mais de cinco anos. # 110


Dona Zulmira nasceu na rua da Consolação, na Capital. Fez o primário no Grupo Escolar Prudente de Morais e depois foi para a Escola Normal Secundária de São Paulo, quando tinha 15 anos. Formou-se em 1918 e no ano seguinte, fui substituta efetiva no Grupo Escolar da Consolação no período da manhã, e a tarde, numa escola particular. Como substituta não tinha salário fixo e ganhava conforme as aulas que dava. Em entrevista para o jornal Cidade de Santos (Janeiro de 1973), lembrou desse início de carreira no magistério: “Ganhava 60 mil reis e com o dinheiro do primeiro ordenado comprou uma saia e uma blusa”. Em 1922 dona Zulmira casou-se com o dentista Arthur de Brito Lamberti, que tinha consultório na rua D.Pedro II. Depois de casada, veio morar em Santos. Em março de 1937, começou a lecionar no 4º ano primário do Colégio São José. Lecionou também no Stella Maris, Coelho Neto e no Liceu Feminino. Aposentou-se  de forma compulsória aos 70 anos no prestigiado Colégio Estadual Canadá, mas continuou dando aulas particulares. As cinco filhas de Dona Zulmira formaram-se professoras, mas somente duas seguiram a carreira da mãe. Por sua trajetória  histórica e grande prestígio como educadora, D. Zulmira foi especialmente escolhida e convidada  para ministrar a aula inaugural das novas instalações do Instituto Educacional Martim Afonso, em São Vicente. Anos depois, no final da década de 1970, ela passou a denominar oficialmente uma escola existente até hoje nos limites da Vila Voturuá com o Jardim Independência: a E.E. Professora Zulmira Lamberti. #111

 


O historiador santista Jamie Caldas afirmava que o termo tupi “Tumiaru” significava “lugar de muitos judeus”, toponímia conhecida bem antes da chegada de Américo Vespúcio (1502) nomeador oficial de São Vicente. Essa marca judaica, geralmente dos degredados – incluindo o Bacharel de Cananéia (cananeus?) e João Ramalho - iria se multiplicar com a famosa expedição de Martim Afonso (1532) composta de 400 homens, todos ou quase todos de etnia hebraica. A imigração tinha como causa principal as perseguições da Inquisição católica. São Vicente se tornaria um refúgio. Como exemplo, vejamos a trajetória dos Paes Leme:

“Em 1537 se tem a notícia do primeiro casal de portugueses que se estabeleceu em São Vicente. Da Europa vieram os Lemes, descendentes do flamengo Martim Lems, do antigo condado de Flandres nos países baixos. Chegaram a São Vicente, por volta de 1550, Antão Leme e o seu filho Pedro Leme, homem de posse com sua filha Leonor Leme já casada com Brás Teves ou Esteves que se tornou sócio do Engenho dos Erasmos; Jaques Felix, o flamengo que casou em São Vicente no ano de 1569; e, portugueses, alemães, belgas, holandeses, italianos que passaram a fazer a história dos engenhos e da própria Vila de São Vicente. Um de seus filhos, o Antônio Leme, casou com Catharina de Barros, com que teve entre outros filhos Antão Leme que migraria para São Vicente, onde apareceu em 1554 exercendo o cargo de juiz ordinário. Acompanhando a sua trajetória, o seu filho Pedro Leme também migrou para São Vicente onde passou a residir no ano de 1550. Pedro Leme era um homem de posses. Quando chegou a São Vicente desembarcou com vários criados ao seu serviço, ali foi estimado e reconhecido com o caráter de fidalgo. Foi pessoa de maior autoridade na vila. Antes da vinda para o Brasil Pedro Leme residiu em Abrantes, Portugal, onde casou com Isabel Dias Pais, com a qual teve o filho que herdou o nome do avô materno e se chamou Fernão Dias Pais. Isabel Pais foi açafata no Paço Real, gozando de confiança e estima das senhoras do palácio. De onde nasceu a suspeita de sua origem hebraica. Em razão do qual seu filho Fernão Dias Pais foi chamado, durante uma briga em São Paulo, pelo então governador geral D. Francisco de Souza de “cão judeu”. (Salvador, 1976 p. 135). Falecendo a esposa, Pedro Leme retornou para a Ilha da Madeira e se casou pela segunda vez com Luzia Fernandes com que teve a filha Leonor Leme. No Brasil se casou pela terceira vez com Gracia Rodrigues de Moura, sem deixar descendentes. Na Capitania de São Vicente os descendentes dos Lemes e dos Pais casaram com pessoas de linhagem dos cristãos-novos. ( Francisco Sodero, Tempo de Movimento)
# 112.


Paulo de Oliveira Leite Setúbal (1893 -1937), advogado, escritor e jornalista.Em 1920 publicou seu livro de poesias Alma Cabocla, cuja edição, de três mil exemplares esgotou-se em um mês. Entre 1925 e 1935 publicou vários romances históricos, entre eles A Marquesa de Santos, O Príncipe de Nassau e A Bandeira de Fernão Dias. Em 1926 trabalhou como colaborador do jornal O Estado de S. Paulo. De 1928 a 1930 foi deputado estadual, mas renunciou ao mandato por ter agravada sua tuberculose. Polemista elegante, discutiu a clássica questão da identidade do Bacharel de Cananéia, considerada uma das melhores teses sobre o tema:
“Destaco hoje, dentre essas cartas, uma que me fez sorrir. Uma que vem assinada: "Velho Paulista". Encontrei nela este pedido: "… seria muito proveitoso que o Senhor explicasse, com o seu estilo fácil e com o seu jeito ameno de escrever a história, quem é esse bacharel que Martin Afonso encontrou em Cananéia. Nos tempos que correm não se tem mais tempo para ler trabalhos que tratem de assunto como este. etc. etc. Li a carta e — confesso! — sorri do velho paulista. Sim, sorri do meu gentilíssimo leitor. O pedido que ele me faz, com tão bonita singeleza, mostra, à evidência, quanto o brasileiro anda afastado das coisas da sua história. Não fosse esse afastamento, esse incomensurável afastamento, certo não solicitaria o "Velho Paulista", com a sua saborosa singeleza, que eu esclarecesse quem é o bacharel de Cananéia. E isso por um motivo simples: essa questão, apesar de pequenina, é uma das mais intrincadas e das mais enigmáticas questões da História do Brasil e, particularmente, da História de São Paulo”. # 113
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Texto completo:



Esculpida em bloco paralelepípedo pelo Mestre de Obras Antônio Luiz, é considerada o registro gráfico lapidar mais antigo do Brasil com a inscrição " JESUS Pº COLAÇO VILELA ME MANDOU NA ERA DE 1559" Tem em centímetros a altura 20,5. largura156 e espessura 27. O mestre Antônio Luiz veio com a Armada de Martim Afonso e coube a ele erguer a 2ª igreja da Vila, gravando a legenda na veiga da porta de entrada da Igreja N.S. da Assunção, Matriz de S. Vicente. A peça foi doada ao Museu Paulista (Ipiranga) por iniciativa de Benedito Calixto, que temia sua danificação e desaparecimento, pois nessa época já servia de escora da porta de um prédio comercial. A pedra voltou à cidade como empréstimo especial nas comemorações dos 400 Anos do Descobrimento do Brasil, exposta na Escola do Povo em 1932; em 1954 nos 100 anos da Cidade de São Paulo; em 2011 na Casa Martim Afonso; e depois no Palácio dos Bandeirantes na Exposição Arte e História nas Coleções Públicas Paulistas, em 2018-2019. #114


A VELHA PEDRA VICENTINA em exposição especial organizada pela Casa Martim Afonso. A peça foi emprestada especialmente pelo Museu Paulista em 2011. Ela já havia voltado à sua origem em 1932, quando aconteceram as comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil.



O ex-prefeito de São Vicente pretendia transferir a sede do município para Praia Grande. Essa visão estratégica tinha a ideia de que o então bairro vicentino era um lugar promissor. Intrieri foi o primeiro prefeito vicentino nato, criado como menino pobre, trabalhando desde a infância como entregador de água da Biquinha. Foi vereador e, em 1960, com a renúncia de Roberto Andraus, de quem era vice, assumiu o governo e manteve seu mandato até 1963. Essa revelação foi feita por Circe Sanchez Toschi (Praia Grande antes da emancipação, 2008): " O vice de Andraus, logo que pode, veio ao bairro de Praia Grande e, se interessando muito por ele, , tinha o sonho de transferir para Praia Grande a sede da prefeitura pois, como ele dizia, era um bairro sossegado, aprazível e com muito futuro" # 115




Marcos Atanázio Braga, calunga da Vila Valença, aluno do Grupão, surfista do Itararé e Itaquitanduva, roqueiro, historiador também conhecido desde jovem como "Vovô". Sua fama de grande conhecedor da história de São Vicente ultrapassa essa reputação. Serviu à memória vicentina nos períodos dos prefeitos França e Tércio Garcia, Bili e Pedro Gouveia, gerindo a Casa Martim Afonso e o Circuito Histórico turístico e educativo, sempre munido de mapas e disposição para explicar os detalhes do passado da Vila colonial. Voluntariou brilhantemente durante muitos anos no IHGSV. Resgatou e promoveu a obra historiográfica e pictórica vicentina do uruguaio Carlos Fabra e de muitos outros autores e memorialistas defensores da primazia afonsina no Brasil. Foi um dos criadores do Conselho do Patrimônio Histórico da cidade garantindo o tombamento de 14 pontos emblemáticos da nossa história. Sua contribuição cultural está registrada em inúmeras matérias jornalísticas, impressa e audiovisual. Idealizou a Fundação Arquivo e Memória de São Vicente, projeto que ampliaria significativamente a consagração e proteção da nossa memória. Quem sabe um dia... # 116



Fernando Antônio Pires, formado na FAU-Santos, famoso designer de sapatos feitos à mão, encomendados por gente famosa como : Sabrina Sato, Gisele Bundchen, Regina Duarte, Marisa Orth, Claudia Leite, Eliana, Joelma, Monique Evans e Luiza Brunet. Atendeu também personalidades internacionais: Sara Montiel, Lady Gaga, Mariah Carey, Madonna e Thalia. "Para Fernando, calçar Claudia Raia foi o segundo grande momento de muita emoção de sua carreira. O primeiro foi Hebe Camargo, depois Claudia e, em terceiro, Madonna. Em 1992, Fernando recebeu a ligação da jornalista e consultora de moda Erika Palomino, mais uma admiradora do seu trabalho. Foi convidado por ela para fazer uma matéria num grande jornal de São Paulo; a partir daí o reconhecimento só aumentou". (Dados da revista Exame). Nascido em São Vicente, onde mantém seu prestigiado atelier, Fernando viveu numa época que a cidade era pequena, mágica, cheia de curiosidades e aventuras para crianças e adultos.  Por isso voltou a viver e trabalhar  onde passou sua infância e adolescência. # 117
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Para saber mais sobre Fernando Pires, veja a entrevista da série FILHOS DA TERRA, produzida por Fernando Rino.  
https://www.youtube.com/watch?v=zIdr5WvcdI0


Hermann Alloys Reipert foi um destacado vereador em duas legislaturas  na Câmara Municipal de São Vicente, no biênio 1899-1900, tendo como pares o Capitão Gregório Inocêncio de Freitas, Hermann Hayn, Joaquim Dias da Silva, Antônio de Lima Machado e  Fellipe Caheus. Era alemão, nascido em Nassau em  9 de novembro de1866, naturalizado brasileiro. Veio para o Brasil para trabalhar como corretor de café na Bolsa de Santos, tendo alcançado nessa função e praça amplo prestígio nos negócios. Residia em São Vicente numa ampla propriedade denominada Chácara Boa Vista, cuja vivenda principal ficava de frente à ilha Porchat, entre o Itararé e a Praia de São Vicente (Milionários). Anos mais tarde essa propriedade seria loteada, dando origem ao bairro Boa Vista , também conhecido como Vila Bethânia ou Vila dos Estrangeiros. Reipert foi o autor do projeto legislativo que transformou a antiga Vila de São Vicente -na época sob tutela política de Santos – elevando-a ao status de Cidade. Essa manobra política foi feita em acordo como então intendente Antão Alves de Moura, que tornou-se prefeito e empreendeu um grande acordo tributário com os proprietários de imóveis num edital denominado “Á Bocca do Coffre”, no qual concedia descontos e quitação de antigos débitos com o erário público municipal. Essa medida, juntamente com a mudança de status politico urbano proposto por Reipert, provocou o renascimento de São Vicente e sua transformação num importante balneário veranista nas primeiras décadas do século XX.  Hermann Reipert faleceu em São Vicente, em 1932, aos 64 anos. # 118
Foto: acervo de Marília Cardoso de Paula Assis, historiadora e bisneta de Hermann Reipert.



Em 20 de março de1965, o então presidente Castelo Branco assinou em Brasília um decreto-lei reconhecendo São Vicente como "Cidade Monumento da História da Pátria". Na foto aparecem o prefeito Charles Dantas Forbes (cassado pelo próprio Castelo), políticos e personalidades locais e da região. A Lei nº 4.603, baseou-se nestas 22 razões, elaboradas pelo historiador Francisco Martins dos Santos e apresentadas ao Congresso Nacional pelo deputado Athié Jorge Coury, em 1952:

1 - Desde 1526 São Vicente já era uma povoação fortificada e, em 1502, já aparecia em cartas geográficas do Brasil;

2 - Aventureiros, por esta época, já partiam de São Vicente, subindo o Rio da Prata, para descobrir prata no Sul do continente;

3 - Em 1526 já era a principal feitoria brasileira, mantendo grande comércio e tráfico de índios;

4 - É a primeira Vila criada no Brasil, em 22 de janeiro de 1532;

5 - De São Vicente partiu todo o movimento da primeira catequese brasileira, iniciado por Leonardo Nunes, o Abarebebê;

6 - Foi a sede do primeiro governo da costa do Brasil, consignado em Carta Régia por D. João III;

7 - Da Armada de Martim Afonso de Souza, em 1532, partiu a primeira bandeira, sob a chefia de Pêro Lôbo;

8 - Em São Vicente foi onde houve a primeira divisão administrativa do Brasil, com a criação da Capitania Hereditária;

9 - Os 27 primeiros nobres portugueses e genoveses vieram com Martim Afonso, sendo que em São Vicente começou a sociedade paulista;

10 - É o lugar de onde partiram os elementos criadores e formadores da história paulista, com a fundação de São Paulo;

11 - De São Vicente partiu, em 1532, a missão pacificadora da Confederação dos Tamoios, formada por Nóbrega, Anchieta e Adôrno;

12 - Em 27 de janeiro de 1565 a Armada de Estácio de Sá partiu da Vila levando recursos para a fundação do Rio de Janeiro;

13 - Coube a São Vicente defender toda a obra colonizadora do Brasil, durante os séculos XVI e XVII, causando a fundação de Paranaguá, São Sebastião, Moji das Cruzes, Santo Amaro, Parnaíba e outras vilas;

14 - A Vila sustentou o bandeirantismo paulista com alimentação e vários recursos para o desbravamento do sertão;

15 - O bandeirantismo paulista nada mais é do que bandeirantismo vicentino, pois não havia a Capitania de São Paulo e sim a de São Vicente;

16 - A Vila foi quase extinta no século XVIII para que povoações e descobrimentos fossem feitos, aumentando a colonização no Brasil;

17 - A importância das cidades pioneiras de uma civilização não se afere por seus aspectos materiais, mas por seus fatos históricos e sociológicos;

18 - O decreto que criou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por uma falha, cogitou menos do patrimônio histórico que do artístico do País, abandonando as relíquias históricas;

19 - Por isso mesmo, há o valor da tradição e a importância da mística da origem e do passado;

20 - Não há cidade brasileira, por estes motivos, que possa disputar com São Vicente a glória de pioneira e criadora de uma Pátria;

21 - Portugal e os portugueses já consagraram os direitos históricos de São Vicente, erguendo um marco comemorativo do 4º Centenário da Colonização Portuguesa, iniciada em 1532; e

22 - O próprio Governo Brasileiro, em 1932, reconheceu o papel e a precedência histórica de São Vicente, oficializando as comemorações do 4º Centenário de Colonização Portuguesa.

Fonte: site Novo Milênio. Almanaque da Baixada Santista - 1976, editado por Olao Rodrigues e impresso na Prodesan Gráfica, Santos/SP  #119


Astros da aviação internacional no campo de aviação da Air-France em São Vicente (Praia Grande SP),1930, sentido horário: L. Gimié, J. Darby, o Almirante Gago Coutinho e Jean Mermoz.
O início do projeto da Travessia Aérea do Atlântico Sul teve lugar em 1919, por ocasião da visita do Presidente do Brasil a Portugal, quando Sacadura Cabral lançou a ideia de comemorar o primeiro centenário da independência do Brasil. No ano seguinte, em 1920, Sacadura Cabral encontrava-se na Inglaterra, adquirindo material para a Aviação Naval portuguesa e relacionando os tipos de aeronaves consideradas ideais para a realização da travessia do Atlântico. Desta maneira, sua escolha apontou o fabricante inglês Fairey, construtor do avião F III-D. A empresa Fairey, inclusive, já dispunha do projeto de um hidroavião com características semelhantes a que Sacadura Cabral procurava, ou seja, o F III-D, modificado, adaptado a uma viagem transoceânica, com a envergadura das asas aumentada e depósitos suplementares de combustível nos flutuadores principais. Sacadura Cabral acompanhou a construção e modificação do avião, que, após difíceis experiências e reajustamentos, ficou pronto quase no final do ano de 1921. # 120

Fonte: Agência Força Aérea. Edição: Agência Força Aérea, por Tenente Marayane - Revisão: Major Oliveira Lima


Romualdo Arppi Filho (1939 -2023) conhecido árbitro de futebol brasileiro, nascido e falecido em Santos aos 84 anos. Estudou no Colégio Tarquínio Silva e, aos 15 anos, foi office-Boy de um escritório de exportação de café. Era chamado pelos colegas de “Mosquito Elétrico”. A paixão pelo futebol nasceu com o tio Otacílio, jogador da Portuguesa Santista. O magrelo Romualdo só era escalado pelos professores de educação física para apitar. Iniciou a carreira aos 14 anos e profissionalmente aos 20. Arbitrou ao longo da carreira duas decisões de Campeonato Brasileiro (1984 e 1985), uma final do Mundial Interclubes (1984) e participou, ainda, das olimpíadas da cidade do México 1968, Moscou 1980 e Los Angeles 1984. Além de apitar as finais do campeonato brasileiro em 1984, 1985 e 1986, ele apitou três jogos na Copa do Mundo de 1986, no México: França 1–1 URSS, México 2–0 Bulgária e a final, entre Alemanha e Argentina, vencida pelos argentinos por 3– 2. Foi o segundo árbitro brasileiro seguido a apitar a partida final de Copa, antecedido por Arnaldo Cézar Coelho. Romualdo apitou algumas das primeiras partidas de Pelé, em 1957, ainda nas categorias de base do Santos. Em 1986 foi eleito o melhor árbitro do mundo pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS). Morou muitos no Jardim Independência nas décadas de 1970 e 80. Era frequentador assíduo da padaria da esquina da Espirito Santo com a rua Uberaba, onde fez muitos amigos. Nos últimos anos, Arppi Filho voltou a viver em São Vicente, onde atuava como corretor de imóveis. #121


Nasceu em Santos em1905, na rua da Constituição, filha de um corretor de café vindo do interior. Em 1909 o casal com dez filhos muda-se para São Vicente. Diplomou-se no Curso Superior de Língua Francesa pela Associação de Cultura Franco Brasileira de Santos, Aliança Francesa, em dezembro de 1950. Em janeiro de 1951, recebe o diploma da “Ecole Pratique de Langue Française”. Ainda bem jovem já atuava na formação de crianças como professora ou auxiliar de turma. Lecionou no “Externato Moderno de São Vicente e no Ginásio Stella Maris, em Santos entre 192 e1946. Nesse período, ensinou também no Colégio Alemão. Em 1931, funda o Colégio São Paulo no município de São Vicente, instituição que anos mais tarde seria transformada no conhecido Ginásio Estadual Martim Afonso. Integrou a Diretoria da Associação Feminina Santista nos anos de 1952 e 1953. Ingressa como docente no Colégio Tarquínio Silva em maio de 1953, permanecendo até fevereiro de 1957. Aposentou-se nesse período, porém sem cessar suas atividades educativas.

Professora Zina era pessoa admirada na sociedade vicentina, não somente na área educacional, como também nas esferas cultural e política, conforme atesta um relato de um jornal em 1945: “Fala-se agora – e eu dou a notícia em primeira mão, plenamente satisfeito – que você, minha distinta conterrânea, vai assumir a direção do Partido Democrata Cristão, nessa terra, afim de pôr em ordem o que se encontra desorganizado”.

Foi Diretora de Cultura na administração do prefeito Charles Dantas Forbes quando, em 1952, propôs a criação o Coral Vicentino, que passou a ser dirigido pelo maestro Azevedo Marques. Era sócia honorária do Hospital São José. Ocupou também a cadeira número 45 do Instituto Histórico Geográfico de São Vicente. Faleceu em 1977 aos 72 anos, tendo sido lembrada em missas de sétimo e trigésimo dia na Matriz de São Vicente. Ali congregava desde a sua juventude, tendo sido também membro do coral dessa igreja. # 122




Grupo de música instrumental de São Vicente dos anos 1980, que atuava nos festivais, no circuito universitário santista e nas noites de bares como o Reciclagem, Carranca, Bar da Praia. Foram os criadores do projeto Gente Nova, circuito musical nas faculdades de Santos reunindo músicos como Marco Lança e Teco Cardoso, os grupos Peito Rasgado (Olberes e Julinho Bitencourt) e Copos & Bocas. Essa foto foi feita na redação de A Tribuna para divulgar a promoção do CEFA-CVV no Teatro Municipal. O evento reuniu na época a nata das artes da Baixada Santista. Os músicos são, em pé: Bill Duque, Maurão e Willlian. Sentados: Dadau (Dalmo Duque), Gilberto Clementino e Mia Duque. Faltou na foto Zé Carlos Názara, todos de São Vicente. O Manvantara iniciou sua trajetória nos festivais de MPB organizados nas cidades região, sendo o de Cubatão o mais concorrido. A Concha Acústica de Santos (recém inaugurada), os teatros do Sindicato dos Metalúrgicos e do Centro de Cultura (que ainda não tinha nome) eram os principais cenários desses artistas. O Manvantara também se apresentava em São Paulo, na famosa Feira da Vila Madalena. # 123
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Manvantara – na mitologia hindu e no ocultismo ocidental, é o Grande Plano, Dia de Brahmã, período de criação e manifestação interior e exterior do Universo, oposto ao Pralaya (repouso ou dissolução), termos. que compreende 4320000000 de anos solares.


FAZENDO UM SOM NOS ANOS 80. José Simonian: "Quem acompanhou o cenário da música instrumental na Baixada Santista no início dos anos 1980 lembra do grupo Manvantara. Com ele fiz muitas participações especiais em shows, eventos, gravações e também simplesmente, fazendo um som. Hoje, na lembrança, ficou o riso fácil e muita música naquelas esquinas dobradas por um tempo que foi nosso" Ao meu lado Gilberto Clementino, Mia Duque, Zé Carlos Názara e Bill Duque.




FUNDADORES DO IHGSV. Em 5 de fevereiro de 1959, na Rua do Colégio, esse grupo fundou o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, da esquerda para direita, em pé: Santelmo Couto de Magalhães Rodrigues Filho, Tude Bastos, Coaracy Paranhos, Arnaldo da Costa Teixeira, Fernando Martins Lichti, José Teixeira Matoso, Dorival Nascimento, Eloy Antônio Ferraz, Edson Telles de Azevedo (autor de Vultos Vicentinos), José Azevedo Júnior, Francisco Martins dos Santos (Historiador e anfitrião), Olegário Herculano Alves e Jaime Horneaux de Moura. # 124.



O Reverendo Taylor Crawford Bagby, pastor e fundador da Primeira Igreja Batista de São Vicente em 1951. A Igreja foi fundada em pequeno salão na rua Martim Afonso,72, no dia 20 de outubro com a presença de 150 membros de igrejas de Santos e também de São Paulo. Continuou depois em sala maior na rua Padre Anchieta. Em 1952, conseguiu terreno para a construção do templo. No início, o Pastor Tecê Bagby e sua esposa Francis dirigiam a igreja e, em 1952 iniciaram a campanha para a construção da sede própria, com o auxílio dos membros e, com a oferta de uma sociedade de senhoras das igrejas americanas (Junta de Richmond), os Bagby lançam em 1955 a pedra fundamental. Em 26 de dezembro de 1956 foi inaugurado o templo na rua Tibiriçá, esquina coma Presiente Wilson. Em 1959 o casal Bagb y retorna para à sua terra, deixando na direção o pastor Gorgônio Barbosa Alves. (Poliantéia Vicentina).
De origem norte-americana, T.C. Bagby, como era mais conhecido, pertencia a uma tradicional família de missionários da Virgínia, cujos pais migraram para o Brasil ainda no século XIX, fundando as igrejas de Salvador-BA e no Rio de Janeiro. T.C. Nasceu no Rio, em 29 de maio de 1885. Estudou no Colégio Mackenzie em São Paulo. Foi pastor e fundador várias igrejas na capital paulista. Faleceu nos EUA em 7 de novembro de 1959. #125
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Pesquisa de imagens: Waldiney La Petina.
Dados: Narciso Vital de Carvalho.



Escritor e médium espiritualista, o italiano Pietro Ubaldi foi autor de vasta obra filosófica inspirada pela entidade "Sua Voz". Seu livro mais famoso é o tratado científico A Grande Síntese, que recebeu elogios significativos de Albert Einstein, sobre os revolucionários conceitos de física quântica ali contidos. Chico Xavier (Emmanuel) definiu o livro como "O Evangelho da Ciência". Nesse endereço da Avenida Manoel da Nóbrega, 686, esquina com Quintino Bocaiuva, Ubaldi ocupou um apartamento cedido pelo amigo Rinaldi Rondino. Depois dessa estadia no Itararé, o escritor italiano foi morar no edifício Nova Era, na Praça 22 de Janeiro, 531, onde ocupou dois apartamentos, incluindo a cobertura, também cortesia de um amigo de Catanduva. Pietro Ubaldi viveu toda a década de 1960 em São Vicente e faleceu no Hospital São José no dia 29 de fevereiro de 1972. Seus restos mortais estão sepultados no Cemitério da Saudade, quadra 13 -72S. # 126


O museu foi inaugurado em 13 de maio de 1976, com aproximadamente 800 obras do artista plástico Geraldo Albertini ( ver a biografia # 112), que viveu na cidade. O imóvel foi construído em taipa, feito de madeira e barro, e nele era possível aprender sobre a história dos escravos desde a colonização até a Lei Áurea. Foi tombado pela prefeitura a pedido do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico da cidade na manhã desta terça-feira (30). O pedido foi feito no final de 2011, após o local ficar fechado mais de 7 anos. O funcionamento do museu é instável e já sofreu fechamento e danos materiais em várias trocas de governo e secretarias municipais encarregadas de fazer a gestão do local. #127


Em São Vicente, o marco da transformação dos serviços de saúde foi, em 1918, a fundação  e início da  construção do Hospital São José, empreendido pela Irmandade da Santa Casa local. O empreendimento foi desenvolvido no antigo terrenos onde funcionava a Chácara dos Inocentes e um creche e escola infantil, sob os cuidados da conhecida benemérita paulistana Anália Franco.   Coube ao jornal "O Progresso", em janeiro de 1918, promover uma campanha objetivando mobilizar a comunidade vicentina para a fundação da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente, pois o surto de gripe (a chamada gripe espanhola) que assolava todo o litoral, criava sérios embaraços de atendimento, pela falta de hospitais em São Vicente e pela superlotação de doentes na Santa Casa da Misericórdia de Santos. Sob a liderança de D. Ofélia Chaves Meirelles foram promovidas numerosas reuniões, na casa do casal José Meirelles, à Rua Antônio Rodrigues n.o 172, com a participação dos Srs. Silvio Pereira Mendes, Pérsio de Souza Queiróz, José Rittes, João Francisco Bensdorp, Dr. Lobo Viana, Nicola Patrício Moreira, Raul Serapião Barroso, Luiz Antonio Pimenta, João Wenceslau Emmerich, Dr. João Queiroz de Assunção Filho, Olegário Herculano Alves e Edison Telles de Azevedo, a fim de ajustar todos os detalhes para a fundação do hospital.

E, com esse propósito, foi convocada uma Assembléia Geral, através do jornal "O Progresso", aprazada para o dia 26 de setembro de 1918, no recinto da Câmara Municipal de S. Vicente (hoje prédio da Prefeitura), aberta a quantos desejassem participar dessa fundação e prestigiar a criação do hospital vicentino. Efetivamente, no recinto do Paço Municipal, as 20 horas, no dia 16 de setembro de 1918, D. Ofélia Chaves Meirelles instalava essa assembléia geral, cuja presidência, por aclamação dos presentes, foi transferida ao Capitão José Meirelles, que convidou para Secretariá-la o Sr. Olegário Herculano Alves. Discutida a denominação da instituição que se fundava, por proposta do Sr. Olegário Herculano Alves, foi aprovada a manutenção da denominação provisória que a Comissão Coordenadora das três senhoras havia escolhido ASSOCIAÇÃO PROTETORA DO HOSPITAL SÃO JOSÉ. # 128

Imagem  de 1976 da fachada principal do Hospital e da antiga Maternidade, na quadra da rua Frei Gaspar, entre as Ypiranga e XV de Novembro. Site do IBGE. 




Deise Domingues Giannini é uma paulistana que um dia desceu a serra,  viu  quando “a lua foi bater no mar e foi que foi ficando”. É moradora do Gonzaguinha.  Poetisa, memorialista, historiadora, vem participando intensamente de toda a movimentação cultural da cidade, que não é muita, mas de grande intensidade humana. É fundadora da Academia de Letras, Artes e Ofícios Frei Gaspar da Madre de Deus, criada na década passada. Deise ajudou a criar diversos equipamentos culturais na cidade, alguns já desaparecidos pelo descuido dos gestores públicos, que insistem em partidarizar a cultura, causando graves prejuízos à nossa memória e história. Foi membro do Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico onde deu uma grande contribuição nas demandas processuais do órgão. Zelou enquanto pôde pelo acervo do Museu do Escravo e ainda tem contribuído muito para preservar o material histórico-artístico guardado no Museu do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente. Sua segunda cidade de coração é Praia Grande , onde serve como voluntária da ong Estrela da Mama, para prevenção do câncer. #129


Seu mandato foi marcado por forte apelo popular, propondo soluções para demandas das classes trabalhadoras, sobretudo as que diminuíam os custos de transporte para os moradores da periferia. O jornal Cidade de Santos, edição de 4 de agosto de 1970, publicou esta nota com foto, destacando o esforço legislador vicentino ao pleitear medidas que ajudassem os munícipes nessa questão:
 “Espírito público - O vereador Rivadavia da Silva Oliveira, no desempenho de seu mandato, tem tomado medidas positivas em favor da coletividade. Sua campanha pela volta da meia passagem nos ônibus é uma delas. Pesquisou ele em todo o Brasil e concluiu que o vicentino paga preço muito elevado no transporte urbano, o mais caro do País. Seja seu trabalho coroado de êxito não só a população será beneficiada, como também o comércio, que é prejudicado com a atual disposição tarifaria nos ônibus”. O vereador teve como pares no mandato entre 1969 e 1972  Alberto Lopes dos Santos - Angelina Pretti da Silva - Carlos Moreira - Dante Cecchi - Francisco Sampaio Borges - Jayme Hourneaux de Moura - José Campos - Koyu Iha - Maurício Filho - Max Herman Simon - Neide Veiga Rocha - Oswaldo Marques - - Pedro Alves - Sebastião Ribeiro da Silva - Sibrônio Aguiar - Obs.: Faleceu o sr. Pedro Alves no dia 2 de julho de 1969 do corrente ano, assumindo o sr. Max Simon , - Assumiu o sr. José Rosindo dos Santos Filho, no filho, no lugar do sr. Carlos Moreira. #130


Antero Alves de Moura, imigrante português que se radicou em São Vicente aos 20 anos de idade, juntamente com seus dois irmãos Antão Alves de Moura e Adão Alves de Moura. Adão faleceu muito cedo e Antão tornou-se figura empresarial e política de grande destaque. Antero também era empresário, mantendo diversos negócios e principalmente explorando a travessia do canal entre o Morro dos Barbosas e a agricultura no Porto do Campo, em Praia Grande. Foi delegado de polícia e alimentava os presos com seus próprios recursos. Casou-se com Izabel Horneaux (Dona Titina), filha de João Horneaux e Gabrielle Rosse du Barry Horneaux. Do casamento entre Antero e Izabel nasceram 14 filhos, entre eles o varão Paulo Horneaux de Moura, figura também muito conhecida na região. Um dos netos mais conhecidos de Antero e Isabel foi o famoso Padre Paulo Hourneaux de Moura, professor universitário e clérigo e fundador da Igreja de São Jorge , no Macuco (Santos) e da  Matriz de São Vicente. #131

Fonte: Vultos Vicentinos: Edison Telles de Azevedo.


A Casa de Câmara e Cadeia era o edifício-padrão onde estavam instaladas os principais órgãos da administração pública municipal: o juiz de fora, o presidente da Câmara, o procurador, o juiz de Direito e o tribunal, a guarda policial (chamada de "milícia") e a cadeia pública. Ficavam no centro da vila ou cidade, no largo do pelourinho, ou no chamado "rossio". O prédio continha na maioria das vezes, dois pavimentos, várias salas e um plenário para reuniões dos vereadores e para julgamentos (sempre no segundo andar), sendo que no primeiro pavimento ficava a cadeia e a guarda. Em vários casos, as Casas de Câmara e Cadeia eram a única edificação pública na vila, funcionando assim como símbolo do poder público. Em São Vicente foi demolida para dar lugar ao novo Mercado Municipal. No período imperial foram se esvaziando, pois a autoridade municipal perdeu as competências judiciais e de polícia, repassadas às províncias, abrigando apenas a Câmara dos Vereadores. Esta última, juntamente com as polícias e fóruns, também ganharia novos prédios públicos. É importante acrescentar que, várias casas de Câmara e Cadeia passaram a se chamar Paço Municipal, abrigando simultaneamente o legislativo municipal e o executivo, ou Prédio da Câmara ou Casa dos Vereadores, quando abrigassem apenas o legislativo. Em Santos quase foi demolida. Teve um prefeito, nos anos 1960, que pretendia colocar pastilhas azuis na Cadeia Velha, para diminuir a "feiura" do prédio. #132


Uma legião composta de mais de dois mil soldados negros foi instalada num quartel na Barra Funda, em São Paulo, para lutar nas frentes de batalha da revolução constitucionalista de 32. A iniciativa partiu do advogado Joaquim Guaraná Santana, nascido na Bahia e criado em São Vicente. Joaquim Guaraná Santana era amigo do General Gois Monteiro, comandante da Segunda Região. Juntamente com outros líderes negros – Vicente Ferreira (orador) e o bombeiro Arlindo Ribeiro, organizaram na época três batalhões de combatentes arregimentados na Capital e em várias cidades do interior. Os três líderes já militavam na Frente Negra, um movimento político que reivindicava os direitos sociais da população negra nas primeiras décadas da república velha e também após a revolução de 1930. Como a Frente Negra preferiu manter-se neutra na questão constitucionalista e anti-Vargas (mas também não proibiu a participação de seus militantes), Joaquim Guaraná propôs a criação Legião Negra. Alguns autores explicam que talvez o advogado forçou sua expulsão exatamente para catalisar uma nova liderança no contexto constitucionalista. Esses batalhões não eram diferentes de outros grupos étnicos e classistas que se organizaram como força revolucionária. Havia batalhões de índios, de estudantes, padeiros, espanhóis, italianos, esportistas e até religiosos, como foi o caso de um grupo de padres marista do interior, sob o comado de um bispo. Guaraná enxergou na causa étnica e social da Frente Negra uma oportunidade de destaque. Antes ele já havia fundado o Partido Radical Nacionalista, composto por admiradores do fascismo, em ascensão na Europa. A legião Negra, também conhecida como “Pérolas Negras” era constantemente citada nos órgãos da imprensa propagandista do movimento paulista contra Vargas e o seu quartel chegou a receber a visita e elogios do então governador e interventor Pedro de Toledo conforme relato da época. # 133
CALUNGAH. Dalmo Duque com pesquisa de Ricardo Bispo.



Casa do Professor- Liga do Professorado Católico, na rua 11 de Junho, esquina como a rua Messia Assu. Registro fotográfico, ontem, em 23 de julho, após o tombamento feito pelo prefeito Pedro Gouvêia em 2020. O Imóvel  era originalmente uma mansão residencial de veraneio e foi adaptada nos anos 1950 para funcionar como colônia de férias. O prédio vizinho, atualmente restaurante, teve a mesma função e pertencia à Fundação Pestalozzi de São Paulo. A colônia do Professorado tem diretoria própria, com autonomia, e seu patrimônio tombado tem agora como herdeiro final a Cúria Metropolitana Católica de Santos. Possui 23 quartos e banheiros, salão de lazer, refeitório e duas salas de estar. Não pode, sob pena de multa e intervenção judicial, sofrer alterações na sua estética e estrutura, sem a autorização prévia dos órgãos fiscalizadores e orientadores do patrimônio histórico do município. Essa edificação talvez seja uma das últimas que marcaram época de uma São Vicente pequena e balneária, entre o final do século XIX e meados do século XX. Vitória da memória e da história vicentina , sem prejuízos à propriedade privada e ao erário público. O tombamento foi uma iniciativa da Profa. Flávia Fiori, sócia da Liga, que efetuou pedido formal para o Conselho Municipal da Patrimônio Histórico #134

Placa antiga de identificação do imóvel mantida após a demolição do muro e colocação da cerca de alumínio. 
Casa do Professor, frontal na rua Onze de Junho, em 1944. A placa informa obras da Construtora Polydoro Bitencourt & G.L. Acervo: Liga do Professorado Católico de São Paulo.




São Vicente INDUSTRIAL E FERROVIÁRIA : estação de passageiros na rua Campos Sales, uma composição de cargas e pátio de serviços da Estrada de Ferro Sorocabana no bairro Catiapoã. Acima, lado centro da cidade, os galpões e a chaminé principal da Fábrica de Vidros : Vicri, Vidrobrás, Santa Marina e depois Saint-Gabain. Foi desativada em 2023. A matéria-prima dessa produção (areia de sílica) era extraída na área rural do bairro rural Samaritá, que dividia aquela região com alguns sítios de lazer; e os pastos de quarentena do gado (quarentenário), que era trazido de trem para o abate nos frigoríficos de São Vicente e Santos. Foto original dos anos 1970 em p&b, colorizada artificialmente. # 135.



Jules-Victor-André Martin (Moustiers-Sainte-Marie, França, 1832 - São Paulo, São Paulo, 1906). Pintor, professor, arquiteto, litógrafo e empresário. Embora possuísse formação artística, Jules Martin não se consolida como pintor, mas como versátil empresário. Sua trajetória profissional, desde a sua chegada a São Paulo, é marcada por ambiciosos projetos editoriais e urbanísticos. Jules registrou S. Vicente em obras iconográficas: a planta da Vila em 1878 e a Casa de Martim Afonso. # 136
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Em 1844, ingressa na Escola de Belas Artes de Marselha. Em 1852, vai a Paris, e trabalha por três anos no ateliê de George Schlater. Chega a São Paulo em 1868. Em 1870, abre um curso de desenho e em 1871 monta uma das primeiras casas litográficas de São Paulo. Os constantes projetos de sua autoria, mesmo com execução feita por outros, colocam Martin como uma das personalidades mais conhecidas e comentadas em periódicos paulistanos entre os anos 1870 e 1900. Muitas vezes, não por acaso, o Viaduto do Chá é chamado de Viaduto Jules Martin.
Fonte: Itaú Cultural.


SÃO VICENTE EM 1878. RUAS E NOMES PRIMITIVOS. Destaque para a RUA DO GUSMÃO, nome que seria adotado por duas celebridades provavelmente nascidas na Vila de São Vicente e batizados na Vila de Santos.
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Planta da Vila feita pelo litógrafo Jules Martin com destaque para o Largo de Santo Antônio (Câmara, Cadeia e Matriz), Fabrica de Cal (ou Sal) de Antônio Paquetá e o Chafariz (Biquinha de Anchieta). As ruas aparecem com nomes primitivos como do Rocio, do Sambaiatuba, de Martim Afonso (com edificação antiga de 1532), Direita, dos Barreiros, do Porto, da Praia, rua.. Gusmão, do Pelourinho, da Pedreira, de Iporanga, de Brás Cubas com Estação dos Bondes), rua Nova e uma ainda sem nome, entre o centro e a orla.

Ps. A escolha de alguns nomes revela o domínio politico de Santos sobre vila. Anos mais tarde seriam trocados por nomes de personalidades históricas "neutras".

Acervo: Museu da Cidade - Praia Grande


Fotografia da Casa de Martim Afonso (na rua do mesmo nome) que teria sido feita por Jules Martin no final do século XIX. Na imagem supostamente aparece embaixo da janela o filho do litógrafo. Outra versão seria a de que trata-se de um registro de uma das visitas do Pedro II, sendo o menino um dos seus netos. #137


São Vicente teve vários farmacêuticos legendários, numa época que esses profissionais tinham ampla influência nos cuidados de saúde da população. Quando os receituários vinham irreconhecíveis, citavam prontamente os nomes dos remédios, pela caligrafia e também pelo tipo ou marca dos medicamentos preferidos pelos doutores. "José Bonna Sobrinho (1922-1995), mais conhecido como Bonna ou Seu Bonna, foi um desses legendários farmacêuticos da cidade. Formado muito moço, Seu Bonna exerceu a profissão por mais de 50 anos e esteve à frente da Farmácia Marmo (Rua 11 de Junho nº 271, bairro Boa Vista) e também da Farmácia Regina (Rua Benjamin Constant nº 152, Centro).Em 1999, uma rua no Jardim Rio Branco ganhou seu nome".  #138

Imagem e citação textual de SV de Outrora.



"A maioria dos leitores, notadamente a nova geração, desconhece que no local onde funciona o Hospital São José, antes era uma grande chácara denominada "Inocentes", em cujas dependências funcionou a Associação Anália Franco, entidade com o objetivo de acolher e dar assistência a órfãs. Uma banda musical, formada por meninas e moças ali recolhidas chegou a exibir-se várias vezes em público, sempre recebida com simpatia". (Polianteia Vicentina, 1982). 

Essa mesma obra assistencial era realizada na Capital (onde hoje é o bairro com seu nome) e dezenas cidades do interior, incluindo Santos. Dona Anália Franco mantinha, através de donativos, escolas profissionalizantes e orfanatos numa época que a infância e a juventude não tinham quase nenhuma proteção do Estado. O trabalho dela começou no século XIX, recolhendo crianças filhas de escravas, expulsas das fazendas pela Lei do Ventre Livre e abandonadas nas cidades. Foto: revista "A Fita", 1914. #139



Revista santista "A Fita" promovendo evento artístico em 1914 na Chácara dos Inocentes, também conhecida como Asylo de S. Vicente. Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.



Nascido em 1450, Pêro da Covilhã tornou-se o maior espião português e teve uma grande influência no desenho da Rota das Especiarias. Era poliglota.  Seu rosto está no Monumento das Conquistas em Lisboa( junto com Martim Afonso) lembrando uma profissão que marcou a concorrida expansão marítima entre as potências da época. As notícias e boatos eram as principais armas dessa guerra de informações que circulavam nos portos europeus. “Percorrendo longas distâncias, umas vezes a pé, outras a cavalo, outras vezes ainda de barco e, de forma muito astuta, Covilhã conseguiu ser sempre bem-sucedido nas suas empreitadas”. Isso prova que a partida de um navio era um segredo de Estado e sempre antecedida pela investigação espiã. Sabemos que Cabral, Vespúcio, Gonçalo Coelho e muitos outros não partiam sem antes se municiarem de dados estratégicos sobre os lugares cobiçados e planos dos concorrentes. A tese da intencionalidade cabralina mostra que o segredo era a alma desse grande negócio. São Vicente foi também um segredo guardado à sete chaves desde 1502 ou antes.  Quando isso aconteceu o nosso espião, que começou sua carreira aos 18, já tinha 52 anos. Será que ele sabia coisas sobre o Brasil e o Tumiaru? #140
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Fonte: https://ncultura.pt
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Foi talvez o nosso maior intelectual de todos os tempos e impactou sucessivas gerações de cientistas sociais, artistas, historiadores e economistas. Menos os marxistas rasteiros. Casa-Grande e Senzala é a verdadeira história do Brasil. Pernambuco e S. Vicente formaram a nossa base colonial e cultural e foram as capitanias que modelaram o sistema colonial português. Quando deputado federal, Freyre propôs a criação de um Museu Nacional em São Vicente, ideia que obviamente não agradou parte da nossa vizinhança e o então governo da Capital, enciumados com tamanha honra. Ignorância e ambição vergonhosas. Não saiu do papel, mas tal rejeição e aparente indiferença só confirmou a sua grandeza como representante máximo da nossa inteligência nacional. Criado literalmente no caldo de cana de engenho, Freyre teve dificuldades de alfabetização na infância (foi amparado pela avó), mas impressionou o mundo com sua explicação da natureza e do caráter do nosso país. Dele, Monteiro Lobato sentenciou: "O Brasil do futuro não vai ser o que os velhos historiadores disserem e os de hoje repetem. Vai ser o que Gilberto Freyre disser. Freyre é um dos gênios de paleta mais rica e iluminante que estas terras antárticas ainda produziram". # 141




A biografia de Antônio Luiz Barreiros (1890-1971) confirma que os portugueses continuaram sendo os grandes propulsores do desenvolvimento de São Vicente, em diversos contextos históricos após a colonização. Radicado em São Vicente desde o início do século XX e morador do bairro do Japui, Antônio Luiz Barreiros tornou-se o principal proprietário daquelas terras da área continental, lado orla. Foi o maior produtor e exportador de banana de São Vicente, atividade econômica que era uma das mais importantes da Baixada Santista e cidades do litoral sul entre os anos 1910 e 1960. Na década de 1940 torna-se figura muito expressiva na sociedade vicentina como amigo e benfeitor da cidade. Foi um influente parceiro na administração do prefeito José Monteiro, contribuindo para o abairramento e organização urbana do município. Nesse período participa da fundação do Esporte Clube Beija-Flor, do qual foi presidente; no Japui foi um dos responsáveis pela criação da escola estadual que leva o seu nome, tendo sido o doador do terreno onde o estabelecimento foi construído. Também foi um dos fundadores e 2° Presidente da Associação Comercial, Agrícola e Industrial de São Vicente, representando a bananicultura. Por iniciativa do vereador Jaime Horneaux de Moura, recebeu no ano de 1971 o título de Cidadão Vicentino, em reconhecimento aos serviços prestados à comunidade. Era casado em primeiras núpcias com Isabel da Encarnação Barreiros e em segunda núpcias com Ana de Deus Barreiros, tendo muitos filhos, netos e bisnetos. Foi pai da Dra. Prazeres Barreiros, a primeira médica da Baixada Santista. # 142.



EDIFICIO ANCHIETA / 1935 /Eng. Arquiteto Ernesto Behrendt 

Tradicional esquina da cidade, antigo Edifício ZUFFO, construído nos alinhamentos das vias, está situado na confluência da Rua Frei Gaspar com Rua Martim Afonso e voltado para a Praça Barão de Rio Branco; Sua volumetria se prolongava por estas vias em corpos assobradados que serviam ao comercio. Ele foi o maior centro comercial da cidade até fins do século passado. Também foi o principal ponto de encontro cívico e de diversão dos cidadãos vicentinos por vários anos. No pavimento superior funcionou inicialmente o Serviço Royal de Autofalantes da cidade, transmitindo as principais noticias do Brasil e do mundo e animava os bailes ao ar livre da cidade. Posteriormente ai se instalou a Associação Comercial da cidade. No térreo funcionou o Bar Esporte de São Vicente, onde se reuniam os boêmios da cidade. Uma reforma posterior descaracterizou a cobertura do edifício original criando um espaço utilitário, numa espécie de sótão como se pode ver nas imagens. Hoje está um tanto descaracterizado no seu aspecto funcional e pictórico, abrigando uma loja de calcados no nível do térreo e uma escola de cabeleireiros nos andares superiores, com acesso por escada bastante limitado e inseguro. Arq. Edison Eloy de Souza. #143


Fachada do Condomínio Edifício Zuffo na Rua Fei Gaspar, sentido centro-praia.

Humberto Wisnik: "No início dos anos 50 o Serviço de Alto Falantes Royal tinha um Telão (provavelmente com Retro-Projeção) instalado no alto do Prédio de frente para a Praça Barão do Rio Branco, onde projetavam filmes Jornalísticos. Esses "Filmes" eram exibidos a noite nos Fins-de-Semana. Eu teria 11/12 anos, e lembro-me muito bem, que as principais notícias eram sobre a Guerra da Coréia e o foco das batalhas era a disputa pelo "Paralelo 38" (Linha Imaginária que dividia as Coréias do Norte e do Sul). No primeiro andar ficavam os Consultórios do Dr. Anibal Raposo do Amaral (Pediatra) de frente para a Praça e do Dentista Dr. Idler Pontes de frente para a esquina da Martim Afonso com Frei Gaspar. Algumas vezes, tratando os dentes, faltava energia e o Dr. Idler usava o "Motorzinho" de pedal. Era um martírio"!


Imagem atual do Edifício e conjunto Zuffo, sede da Royal Alto Falantes, pelo drone de Fernando Tiepelmann Roxo. o prédio foi ocupado e dinamizado nos anos 1930 pelo produtor cultural Antônio Peixoto. Praça Barão do Rio Branco, esquina das ruas Frei Gaspar e Martim Afonso. Nessa quadra funcionaram alguns dos mais importantes cinemas da cidade: Cine SV, Cine Anchieta e Jangada. Foi também a sede da ACIASV (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de São Vicente), hoje da ACSV- Associação Comercial e Industrial de S. Vicente e no térreo, o emblemático Bar Esporte.


José Antônio Zuffo foi um conhecido construtor civil da capital paulista nas primeiras décadas do século XX. Imigrante italiano nascido em Rovido em 1876, na região de Vêneto, fez carreira produtiva nesse período em São Paulo até quando, em 1918, mudou-se para S. Vicente. Aqui construiu sua residência no lote número 5 da rua Martim Afonso, que pertencia a João Horneaux. Continuou seus empreendimentos construindo algumas casas na rua João Ramalho. Adquiriu depois uma grande área próxima do Morro dos Barbosas e ali construiu numa viela a famosa e até hoje existente Vila Santo Antônio. O empreendimento foi uma pareceria com o arquiteto vicentino Camillo Thadeu com as obras foram iniciadas em 6 de agosto de 1930 e as primeiras oito edificações concluídas em setembro do mesmo ano. A Vila Santo Antônio era composta de 16 casas alugadas, algumas delas com renda destinada para a construção dos Hospital São José. Por ser membro fundador dessa Santa Casa de Misericórdia, destinou algumas unidades para renda perpétua da entidade. Zuffo foi também construtor do primeiro edifício e conjunto comercial da cidade, denominado “José de Anchieta”, na esquina das ruas Frei Gaspar e Martim Afonso. Também deixou sua marca benemérita erigindo em 1932 uma nova base de alvenaria para a famosa e centenária Biquinha de Anchieta. # 144

Ps. Esta imagem de um jornal paulistano dirigido à colônia italiana foi encontrada no site Family Search.


Conjunto de casas  geminadas construídas na viela José Antônio Zuffo e arredores da rua  Henrique Ablas. Zuffo foi um reconhecido construtor e capitalista italo-paulistano radicado em São Vicente nos anos 1930. Foi o financiador desse projeto após adquirir esta vasta área próxima ao Morro dos Barbosas. As casas da viela foram projetadas pelo arquiteto vicentino Camillo Thadeu, em sua maioria  alugadas para trabalhadores vicentinos e também veranistas. A atriz Laura Cardoso residiu numa delas durante alguns anos, período no qual criou seus filhos nos anos 1970. Parte da renda desses aluguéis foi destinada para as obras dos Hospital São José, doação posteriormente perpetuada pelo construtor  e benemérito dessa irmandade. Nos fundos da viela também foi construída uma pequena capela em homenagem ao santo- padroeiro do empreendimento de Zuffo. A maioria das casas foram sendo desfiguradas por reformas e adaptações restando apenas duas originais registradas nessa foto extraída recentemente do google maps. #145

Ps. Nessa quadra eras realizadas memoráveis quermesses juninas organizadas  pelos próprios moradores.





Mário Raul de Morais Andrade (São Paulo,1893 –1945) foi um dos célebres modernistas do Grupo dos Cinco, frequentadores do Gonzaguinha e da casa veranista de Menotti Del Pichia. Na sua obra mais famosa ( Cap. IV. Boiuna Luna), o herói sem caráter encontra o Bacharel, não se sabe se foi em São Vicente ou em Cananéia, pois a visita foi muito rápida:

“(...) Correndo correndo, légua e meia adiante deram com a casa onde morava o bacharel de Cananéia. O coroca estava na porta sentado e lia manuscritos profundos. Macunaíma falou pra ele:

- Como vai, bacharel?
- Menos mal, ignoto viajor.
- Tomando a fresca, não?
- C’est vrai, como dizem os franceses.
- Bem, té logo bacharel, estou meio afobado.

E chisparam outra vez”.

#146

Macunaíma. Livraria Garnier.32ª Edição. Imagem: retrato de Mário por Lasar Segall (1927)



Influente historiador e político de Trinidad-Tobago, autor, entre outros, do clássico “Capitalismo e Escravidão”, tese que revolucionou a abordagem econômica desse tema gerando intensos debates e busca por novas explicações sobre o assunto. Williams (1911-1981) impactou toda uma geração de pesquisadores e políticos pela abordagem inovadora e sua postura intelectual tornando-se um ícone e referência afirmativa dos movimentos contra o racismo contemporâneo. “Em 1938, obteve seu doutorado. Na obra ‘ Inward Hunger’ , sua autobiografia, ele descreveu sua experiência de estudar em Oxford, incluindo suas frustrações com a discriminação racial desenfreada na instituição e suas viagens pela Alemanha após a tomada do poder pelos nazistas. Em Inward Hunger, Williams relata que no período após sua formatura, ele foi severamente prejudicado na pesquisa por minha falta de dinheiro ... Fui rejeitado em todos os lugares que tentei ... e não pude ignorar o fator racial envolvido". No entanto, em 1936, graças a uma recomendação feita por Sir Alfred Claud Hollis (Governador de Trinidad e Tobago, 1930-1936), a Leathersellers' Company concedeu-lhe uma bolsa de £ 50 para continuar sua pesquisa avançada em história em Oxford” . #147


Foto de Antonio Rocha publicada na capa da revista argentina El Gráfico em 1934, quando da sua chegada em Buenos Aires com o companheiro José Ferreira de Andrade. O remador do Clube de Regatas Tumiarú nunca teve medo do mar. Sozinho ou acompanhado, causava verdadeiro frisson ao desembarcar no Rio de Janeiro (onde era recebido com festa no C.R. Flamengo) ou em Buenos Aires, após dias desafiando ondas e tempestades. Era o Rei dos "rides" náuticos nos anos 1930. Tentou três vezes chegar sozinho em Belém do Pará. Não conseguiu. Na última tentativa, em 1961, sua canoa "Itararé" espatifou-se num recife da praia de Saquarema-RJ, onde morreu afogado. # 148


Manchete do Correio de São Paulo narrando o feito do vicentino Rocha quando realizou sozinho o raide Santos-Rio de Janeiro em 1933.

TUMIARUENSES REMAM 1.134 MILHAS

Os grandes raides em embarcações a remo- Interrompida em nossa cidade uma tentativa de Angelú e Hungria - Antônio Rocha e José Ferreira de Andrade empreendem o mais sensacional raide já conhecido no continente - Os dois remadores do Tumiaru remam de Santos a Buenos Aires, percorrendo 1.134 milhas!

Por Jorge Elbel – A Tribuna – 26 de março de 1944

Em janeiro de 1932, quando se comemorava com imponentes festas o 4º Centenário da fundação de S. Vicente, partiam do Rio de Janeiro três remadores do Clube de Regatas do Flamengo, tripulando uma iole-franche a 2 remos, com destino a Santos. Era o primeiro grande raide marítimo que se efetuava por esportistas do remo. Eram eles, os seguintes remadores: Ângelo Gamaro (Angelú), Antonio Rebelo (Engole Garfo) e Alfredo Corrêa (Boca Larga). Precedidos de reclamos de toda a espécie, amparados pelo entusiasmo popular e por um grande diário carioca, iniciaram o raide. Seis foram as etapas, sendo que a primeira com cerca de 16 horas de viagem, e, afinal, ei-los chegados a Santos, a 20 de janeiro de 1932, dois dias antes da comemoração dos festejos de S. Vicente.

O que foi a chegada dos destemidos remadores a esta cidade, o carinho que os nossos esportistas lhes dispensaram e as homenagens que receberam, tanto aqui como no Rio, por ocasião do regresso, são de sobejo conhecidos. Após o brilhante feito dos cariocas, era voz corrente entre os remadores paulistas que essa visita deveria ser retribuída, mas de forma que fosse, senão suplantada, pelo menos igualada.
Muitos palpites e projetos foram então discutidos mas ninguém se animava a levar avante a idéia, já por acharem uma temeridade enfrentar o mar numa frágil embarcação de regatas, se não também pela falta de um todo apoio por parte dos clubes de remo desta cidade (...)



Carta pública em apoio as reivindicações dos memoristas e historiadores de S Vicente, a propósito de nosso exíguo patrimônio.

S Vicente, dia 07 de Julho de 2025.

Tive, na minha juventude, o prazer de ser conviva e ouvinte, do saudoso memorista Jayme de Mesquita Caldas, aquele que melhor conhecia o passado desta região e exemplo de pesquisador habilidoso.
Jayme folgava contar-me como, ao invés de cursar uma Faculdade de História (Ele sempre se apresentou como memorista e jamais como historiador, embora conhecesse nosso passado, com mais detalhes que todos nós juntos e multiplicados.) fôra formado pelo memorista Edison Telles de Azevedo, o qual havia, em sua juventude, convivido com o pintor e memorista Benedicto Calixto de Jesus, pintor e memorista Itanhaense radicado entre nós, à rua Martim Afonso, desde 1891.

Reivindico portanto, representar uma estirpe ou linhagem de memoristas vicentinos, e me orgulho muito mais disto do que de meus diplomas de Bacharel e Licenciado. 
Em áureos tempos Calixto reunia sem sua morada pesquisadores do porte de Capistrano de Abreu (Nosso historiador máximo e mestre de todos nós.), D Jaguaribe, A de Taunay, Pirajá da Silveira, etc Já Edison T de Azevedo, nosso Fr Gaspar do século XX, conviveu com A Schmidt, J J de Azevedo Jr, O Herculano Alves, F M dos Santos, Olao Rodrigues, J L da Costa Sobrinho, etc, etc, etc

E Caldas fizera parte do cenáculo de memoristas que se reuniam no Sebo do finado Olinto Moura...
Foi Calixto, que acompanhando o major Sertório durante o abatimento do Cômoro situado no fim da Av Cap mor Aguiar, topou com as Igaçabas que ora se encontram no Museu Paulista. Foi ainda ele que, durante as obras de restauração da Matriz mandadas fazer pelo operoso intendente Gregório Inocêncio de Freitas, topou, no adro, com a inscrição mandada lavrar, em 1555, Por Pedro Colaço Vilella. Pouco tempo depois, topou o mesmo Calixto, na lateral da Matriz, com os restos do primitivo pelourinho servindo como guias de calçada...
E T de Azevedo notabilizou-se por visitar, tentar preservar e recuperar, ao menos em parte, as ruínas do Engenho dos Erasmos, do Trato ou do governador, mais tarde tomadas pela municipalidade vizinha. 
Jayme Caldas tornou-se notável por solucionar diversas questões derivadas do encontro de inúmeras ruínas e achamentos, tanto aqui como nos munícipios vizinhos e com uma perícia incomum.
No entanto, por mais que se queixassem e fizessem, não lograram eles conservar, como em tempos idos era, a primeira Vila do Brasil. 

Demagogos incensaram esta cidade com primeira célula ou como monumento, porém pouco ou nada fizeram para salvar sua arquitetura preciosa da sanha provocada pela especulação imobiliária. Discursavam e elogiavam enquanto uma a uma de nossas construções históricas era literalmente tombadas, não pelo IPHAN, mas pelas máquinas mesmo. Até que praticamente todas as nossas relíquias ancestrais, penhor de nossa identidade, foram lançadas ao vento.

Calixto, enquanto vivo foi, manteve a Pedra dos ladrões e se opôs tenazmente a sua destruição, como sempre e a propósito de qualquer coisa, proposta em nome do progresso - Essa entidade exótica que porfia em tornar tudo mais feio, substituindo palacetes como o de Monroe por prédios de alumínio, concreto e vidro em forma de caixas de sapato. A essa fúria iconoclasta contra nosso passado chamam eles progresso, permitam ao memorista ou ao historiador reacionários chama-lar de cobiça.

Eia que estamos num Brasil que tolerou a destruição dos pórticos do Recife... Que no Rio de Janeiro folgou com a demolição da Igreja de S Pedro dos clérigos e com o abatimento da residência de seu escritor mor: Machado de Assis. Que em S Paulo ergueu suas mãos profanas sobre a Igreja do pátio do Colégio (O que hoje temos é mera réplica dos anos sessenta.) e a velha igreja dos Remédios, além de exterminar os palacetes da Avenida Paulista. Quem em Santos pôs fim a capela da Graça, a Igreja do terço e a própria Matriz em que repousavam os despojos de seu 'fundador' - Além de (Acredite o leitor se quiser.) consentir na demolição da casa de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca de nossa independência...
Agora vocês acham que uma nação inoperante para preservar e repassar, as gerações futuras, as residências de um José Bonifácio e de um Machado de Assis faria qualquer mínimo esforço para preservar a Vila colonial de S Vicente e seu casario...

Culminou isso com um ato de barbaria inimaginável: A demolição da assim chamada 'Casa de Martim Afonso' em meados dos anos setenta. Casa sujos muros ciclópicos remontam aos tempos pré afonsinos. E serve esta relíquia, ainda hoje, como um estacionamento... O que em qualquer país civilizado da Europa seria um escrínio ou santuário nacional. Pois bem, aqui em S Vicente, a primeira construção de alvenaria do Brasil nada, nada é...

Contemplem agora as ruínas do Porto das naus ou do Engenho de Jerônimo Leitão ou as ruínas da Fortalezinha da paciência... Até parece que Cipião ou Caio Mumio.

Em 1992, estando no INSS para tratar da aposentadoria de minha veneranda mãe, tive a oportunidade de contemplar detidamente, o casarão, então abandonado e deteriorando, do Barão de Piracicaba. Além deste tínhamos ainda o da Baronezinha ou de Miss Dolly Barhan. Os demais não ví... Pois estavam todos debaixo dos nossos arranha céus...

Cerca de 1997, quando passeava com meu irmão, profo Fernando Felix, tarde da noite (Para tomar a brisa e fumar) pela praça 22 de Janeiro, observei que a lateral esquerda daquele casarão havia desabado ou sido demolida por alguém, e que revelava uma enorme parede de alvenaria com aparência colonial. Corremos os dois a Casa do Barão, sede do IHGSV, e topamos com o presidente F M Lichti, que ali ainda estava - Com seo Sírio Simão. - a quem relatamos o ocorrido. Já no dia seguinte, bem cedo, ele enviou para lá o saudoso pintor Carlos Fabra, daí os jornais, etc Os trâmites seguidos todos conhecem... E o resultado foi a Casa de Martim Afonso, que preservou para a posteridade, parte daquele casarão. 
Posteriormente, com o apoio de Onésimo França, tio do Prefeito Márcio, tive a oportunidade de ali trabalhar, como pesquisador e guardião dessa relíquia nacional. Triste hoje é olhar para ela e sentir que tornamos a 1992, com a construção abandonada e deteriorando, sem que o poder público vicentino cumpra com seu grave dever de preservar nossa memória e identidade.

Amiúde quando esta administração desrespeitosa, cortou as árvores e descaracterizou o vetusto porto ancestral do Noé (Próximo a Ponte Pênsil.) com um monumento modernista de caráter 'credal' - Mais uma profanação feita a história e memória deste munícipio, a cuja sanha iconoclasta não escapam, nem mesmo, as árvores centenárias que sombrearam nossos nobres e excelentes ancestrais.

Decepcionados com o 'rolar das ondas' porém amparados por nossa Mestra Dra Isa Fava de Oliveira e por Onésimo França, tivemos a ousadia de fundar - Juntamente com a saudosa professora Eulâmpia Requeijo e com a museóloga Nora Walter (Também contamos com os sábios conselhos de minha então superiora Dna Deise.) - em 2004 o CONDEPASV  i é o Conselho do Patrimônio Histórico de S Vicente, o qual funcionou autonomamente na livraria da professora Eulâmpia, até ser politizado pelo Secretário, que acredito era Pedro Gouveia, pois em Santos, era Secretário, o amigo Carlos Paes. Diante dos rumos que esse Conselho tomou, todos os fundadores resignaram e foram substituídos por nomeações mais ou menos políticas e só tornamos a participar de algumas reuniões muito depois, devido a intervenção do Dr Paulo Costa, o que nos contrariou ainda mais... 

E depois houveram coisas muito tristes, como acesso a lista que me fora solicitada, por pessoas do Mercado imobiliário e, consequentemente a criminosa venda e demolição de todos os casarões por mim alistados. Devido a uma inoperância cada vez maior desse órgão de adorno ou enfeite perdemos ainda ou pouco ou nada do que nos restava e confesso que não sei nem quero saber dele (Do CONDEPASV).
Isolado em meu gabinete vou, aos poucos recuperando, tudo quanto resta da documentação primitiva cá em S Paulo, no Rio ou mesmo em Portugal e levando adiante meu trabalho 'operoso' e obscuro.
Não posso todavia deixar de apoiar toda e qualquer reivindicação feita por minha categoria ou pelo coletivo dos memoristas e historiadores, em torno da preservação de tais monumentos > Como a Casa de Martim Afonso, o Porto das Naus, A ETEC ou antiga Escola do Povo, o recinto do campo dos ingleses, a entrada do Hospital S José, a Casa do Barão, o Castelinho alemão ou o entorno da Matriz - Que são penhores de nossas tradições, vivências, identidades e cultura. É esse sentimento de pertencimento e de revolta que leva-me a formular esta carta manifesto em apoio de meus colegas de ofício e demais vicentinos dotados de sensibilidade e carinho pelas coisas que são suas.

A sensação que temos nós, amigos de S Vicente, é que ao submergir as ruínas da primitiva Vila afonsina, o mar oceano preservou-as para o futuro. Do contrário que delas restaria agora...

É para mim uma espécie de tributo as memórias de meus predecessores: Fr Gaspar, Benedicto Calixto, Edison T de Azevedo, F Martins dos Santos, J L Costa Sobrinho, J C Silva Sobrinho, Jayme Horneaux de Moura, Jayme de M Caldas, J J de Azevedo Jr, A Schmidt, Olegário H Alves, Seo Antonio, etc 

Prof. Domingos Pardal Braz - Bacharel e licenciado em História.
Licenciado em Filosofia.
Bacharel em Pedagogia.
Pós graduando em Ciências políticas e Sociologia. 
Estudioso de Psicologia e Literatura. 
Labor meus, laetitia mea!
# 149


O padre André de Soveral nasceu em São Vicente em 1572 onde ingressou  e formou-se na Companhia de Jesus.  Após esse período, deixou a ordem e foi trabalhar como sacerdote comum no Rio Grande do Norte. Em 16 de julho de 1645 foi morto durante uma missa no povoado de Cunhaú. O  alemão Jacob Rabbi entrou na igreja, com o pretexto de comunicar algumas providências do Conselho Supremo Holandês do Recife. Mas depois da consagração, os soldados holandeses, acompanhados pelos índios das tribos dos Tapuias e dos Patiguari, invadiram o local e massacraram os  visitantes.  Padre André de Soveral, segundo a tradição, morreu rezando as "orações dos moribundos e os seus cadáveres"  quando fora atacados pela malta calvinista, incluindo os índios convertidos por esses protestantes. No dia 15 de outubro de 2017, na Praça de São Pedro, o Papa Francisco realizou a cerimônia de canonização dos Protomártires do Brasil, cuja festa litúrgica se dá no dia 3 de outubro na qual foi incluída a santificação do padre vicentino. Na Matriz de São Vicente, junto a pia batismal (à esquerda da porta principal), tem uma imagem do Santo, por ter sido batizado na cidade. # 150.



MUNIZ JÚNIOR , José. Jornalista e memorialista  nascido em Penedo, Alagoas, em 1933, e radicado em Santos, São Paulo, desde 1939. Foi colaborador dos jornais a Tribuna e Cidade de Santos por meio de artigos e reportagens históricas diversificadas, geralmente biografias de personalidades do samba e também de temas específicos como a aviação e instalações militares da região. Sua atuação no universo musical foi registrada por Nei Lopes na Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana (Selo Negro, 2004): 
“Sambista ativo, ex-ritmista, passista, mestre-sala, carnavalesco e dirigente, dedicou-se, a partir de 1957, a promover o intercâmbio entre o samba de sua cidade e o do Rio de Janeiro. Assim, participou de congressos e articulações que levaram à realização, em Santos, de eventos como o primeiro Simpósio Nacional do Samba (1966) e o Primeiro Festival de Samba (1970). Ex-conselheiro da antiga União das Escolas de Samba do Estado de São Paulo, publicou, assinando-se J. Muniz Jr., vários livros sobre o universo dos sambistas, entre os quais, "Do batuque à Escola de Samba" e "Sambistas Imortais", ambos de 1976. #151. 


Bacharel em Jornalismo pela Universidade Paulista-Unip, se tornou um conhecido repórter da TV Tribuna-Globo onde desenvolveu um estilo próprio, versátil e quase teatral de fazer de reportagens, sisudas ou descontraídas, conforme o assunto abordado. Matheus iniciou sua carreira aos 16 anos na rede de lanches Mac Donalds ali permanecendo por seis anos, encerrando sua passagem na empresa com a gerência da loja vicentina na Praça Cel. Lopes. Essa experiência de gestor e líder moldou o seu conhecido jeito narrativo de levar informações aos telespectadores. Antes chegar ao topo da sua carreira na comunicação social, foi estagiário em várias emissoras , atuando também na VTV SBT e RedeTV . Foi Freelancer de video-repórter na Band e CNN Brasil. Mesmo com suas ascensão profissional, continuou morando em São Vicente, a cidade onde iniciou sua trajetória profissional. # 152


Gilda Rienzi Waeny foi uma conhecida pintora e ativista cultural vicentina, filha de Francisco Rienzi e Minervina Rienzi.   O casal teve seis filhos, todos nascidos em São Vicente: Catarina Rienzi Pinto, Gilda Rienzi Waeny, Ema Rienzi Bitencourt, Alda Rienzi Castro, Amilcare Rienzi e Jaime Rienzi. A família residia na rua XV de Novembro, número 22, numa propriedade registrada desde o século XIX e que mudou de nome - antiga rua do Imperador-  com  o advento da república. Eram vizinhos próximos do pintor Benedito Calixto, como comprova um edital da prefeitura (Á Bocca do Coffre) que identificava em 1909 a maioria dos moradores e proprietários de imóveis desse logradouro. 
Além da pintura, Gilda era fascinada pela poesia, arte que cultivou  de uma forma que também marcou sua carreira e presença marcante: era uma famosa e muito requisitada declamadora em eventos artísticos e comemorativos. Casou-se com Walter Joseph Waeny, de família  de alemães radicados em São Vicente na chamada Vila dos Estrangeiros, hoje Boa Vista. O filho deles, Walter Waeny Jr, se tornou  um prestigiado poeta e, como a mãe, um grande ativista cultural. Durante muitos anos mãe e filho atuaram como membros d e grupos literários em Santos, convivendo com grandes nomes da cultura regional. Gilda Rienzi Waeny faleceu em Santos aos 91 anos de idade deixando um importante legado na pintura brasileira. Seu corpo está sepultado no Cemitério Municipal de São Vicente. # 153





No início dos 1980, São Vicente ganhou uma simples e rápida citação numa letra de música que reacendeu o orgulho das suas origens e das suas belezas naturais. Isso aconteceu pela poderosa voz de Tim Maia na canção Descobridor dos Sete Mares, no long-play do mesmo nome.  A música explodiu com estrondoso sucesso nas rádios e propagou-se rapidamente em eventos, festas e bailes em todo o Brasil. A escolha de São Vicente na letra composta por Michel e Gilson Mendonça foi uma questão de métrica cujas sílabas combinavam perfeitamente com Porto Segundo, unindo as duas localidades mais conhecidas como berço do País. O disco foi produzido por Jairo Pires e gravado pela PolyGran em 1983. Descobridor dos Sete Mares tornou-se um clássico da MPB (um verdadeiro funk nacional)  e é sempre lembrada quando o assunto é dança e energia musical.  Nossa gratidão e eterna admiração pelo talento e saber histórico dos dois compositores; e também pelo carisma e competência artística do inesquecível Tim Maia. #154.


Uma luz azul me guia
Com a firmeza e os lampejos do farol
E os recifes lá de cima
Me avisam dos perigos de chegar
Angra dos Reis e Ipanema
Iracema, Itamaracá
Porto Seguro, São Vicente
Braços abertos sempre a esperar.


Com o curioso subtítulo “Artefatos e Imagens da História do Brasil de 1500 a 1822” o site educacional “ A Terra de Santa Cruz” , publicado no Facebok, tem sido um dos mais notáveis repositórios da História do Brasil. A página recorda os episódios  mais importantes do período colonial, reunindo valiosas informações de uma vasta bibliografia. Tudo muito bem documentado com farta riqueza iconográfica. Mas o que mais chama a nossa atenção nesse trabalho é o tratamento dado pelos organizadores ao universo da Vila e da Capitania de São Vicente, trazendo curiosas informações sobre o nosso passado. Algumas dessas publicações  não poderiam ficar de fora e estão reproduzidas em nosso site - Enciclopédia da História da Capitania de São Vicente – CALUNGAH. # 155. 


A GRANDE DAMA DA ALTA MOGIANA. Dona de uma desaparecida mansão veranista no bairro Boa Vista, ao lado Empório São Paulo (depois Restaurante Boa Vista), a viúva Sinhá Junqueira herdou uma das maiores fortunas do interior paulista, fruto da pecuária, da cafeicultura e usinas de açúcar, círculo ruralista tradicional a qual pertencia seu marido, o Cel. Quito Junqueira. Em São Vicente foi também benfeitora e homenageada com nome de rua na Vila São Jorge. Seu patrimônio foi empregado na Fundação Sinhá Junqueira, mantenedora de inúmeras obras sociais naquela região. Theolina Zemila de Andrade, Dona Sinhá Junqueira, nasceu em Franca, no interior de São Paulo, em 1874., filha de Martiniano Francisco da Costa e Maria Rita da Costa, Theolina casou-se quando menina, aos 17 anos, com Francisco Maximiano Junqueira, o coronel Quito Junqueira. Eram primos. O Cel. Quito faleceu em 1938, aos 71 anos; sob homenagens e reconhecido pela imprensa nacional por seu espírito empreendedor, desbravador – agricultor e industrial de grande visão, o maior produtor de açúcar da América Latina. Além de notável cidadão, deixando seu legado nos inúmeros serviços prestados às instituições de caridade da região. O casal não teve filhos. # 156


Achillina Bo, mais conhecida como Lina Bo Bardi, (Roma, 5 de dezembro de 1914 — São Paulo, 20 de março de 1992) foi uma arquiteta modernista ítalo-brasileira. Naturalizada no Brasil após a Segunda Guerra Mundial, ela se tornou uma das mais importantes arquitetas do país, conhecida por projetos como o complexo cultural Sesc Pompeia, em São Paulo, inaugurado em 1982, e o Museu de Arte de São Paulo (MASP), fundado em 1947. Estudou na Universidade de Roma durante a década de 1930 mas se mudou para Milão, onde trabalhou para Giò Ponti, fundador de uma revista chamada Domus. Ganha certa notoriedade e estabelece escritório próprio, mas durante a II Guerra Mundial enfrenta um período de poucos serviços, chegando a ter o escritório bombardeado em 1943. Conhece o profissional e arquiteto Bruno Zevi, com quem funda a revista semanal A cultura della vita. Neste período Lina ingressa no Partido Comunista Italiano e participa da resistência à invasão alemã (1943). Casa-se com o jornalista Pietro Maria Bardi, em 1946 e neste ano, em parte devido aos traumas da guerra e à sensação de destruição, parte para o Brasil, país que acolherá como lar e onde passará o resto da vida, naturalizando-se brasileira em 1951.  # 157

MUSEU Á BEIRA DO OCEANO
 
Em 1952 surgiu em São Paulo a ideia do MASP, projeto modernista conjunto de Pietro Maria Bardi e Assis Chateaubriand que seria considerando o primeiro da América Latina nessa categoria. O Museu de Arte de São Paulo funcionou nas instalações dos Diários Associados até que ganhasse sede própria no Parque Trianon, na avenida Paulista. 

Mas o protótipo que deu origem ao mais conhecido museu da Capital foi um projeto elaborado em 1951 pela mesma arquiteta, Lina Bo Bardi. Era o Museu à Beira do Oceano, concebido para ser construído na praia de São Vicente ( não se sabe se seria no Gonzaguinha ou no Itararé). Na época o a cidade era governada pelo prefeito Charles Dantas Forbes, conhecido pelos seus esforços e marca pessoal em transformar São Vicente numa sofisticada estância balneária. O projeto nunca saiu do papel, talvez por falta de recursos ou falta de terreno, já que a construção sobre a faixa de areia dependia da autorização do governo federal. Mesmo assim o projeto de Lina Bo Bardi foi desdobrado como base da nova sede do Museu de Arte de São Paulo, tornando-se objeto permanente de estudos de engenharia e arquitetura em obras especializadas no Brasil e no exterior. 


“Em seus estudos para o Museu à Beira do Oceano (1951), Lina Bo Bardi concebe um paralelepípedo elevado do solo por pórticos transversais, com a face voltada para o mar inteiramente transparente. Nas perspectivas internas a autora utiliza da mesma técnica de foto-colagem de Mies para apresentar a transparência do recinto expositivo em relação à paisagem. Entretanto o desenho de Lina Bo Bardi se mantém fiel à sua formação italiana reproduzindo algumas características da pintura de De Chirico e de Sironi. Comparado ao desenho de Mies, o plano de piso assume uma proporção muito maior em relação às obras expostas e apresenta uma continuidade em perspectiva com o plano horizontal da paisagem. Ao acentuar o vazio, o espaço entre os objetos expostos, Lina recria a suspensão temporal da pintura metafísica. Na exposição representada encontram-se obras antigas e modernas, entre elas a mesma Guernica de Picasso reproduzida com destaque no desenho de Mies. Já comparece um objeto da cultura popular brasileira – uma carranca de barcos do Rio São Francisco, tema que viria a dominar suas preocupações no final daquela década.

Como o Museu à Beira do Oceano não foi construído, a arquiteta teria a oportunidade de experimentar a transparência total no projeto da sua residência, a Casa de Vidro. (...) O projeto do segundo Masp partiu dessa situação, com duas diferenças em relação aos projetos do Museu à Beira do Oceano e da Casa de Vidro. A primeira é a maior intensidade de ocupação da pinacoteca do Masp pelas obras dispostas nos suportes de vidro que a afasta do vazio metafísico sugerido no Museu à Beira do Oceano. A segunda é que o Masp assumiu a continuidade visual e espacial com a cidade, disfarçada na Casa de Vidro pelo enfoque na vegetação”. #


BARDI, Lina Bo, Museu à Beira do Oceano, Habitat, São Paulo, n. 8, e BARDI, Lina Bo. Museu de Arte di San Paolo del Brasile, in L’Architettura, Cronache e Storia, Roma, n. 210, abril;1973.

O projeto “Museu à Beira do Oceano”, de Lina Bo Bardi, ilustra a capa da oitava edição da Revista Habitat, lançada em 1952.


Lina publicou um artigo sobre as propostas arquitetônica e educacional que pensou para a construção deste museu na praia de Itararé, em São Vicente. A edição conta com o texto "Balanços e perspectivas museográficas: o Museu de São Vicente", escrito por P.M. Bardi, que comenta o projeto de Lina:

“Se o Museu de São Vicente lograr êxito nos seus desígnios, isto é, se tornar um organismo através do qual o homem da cidade possa tornar-se aos poucos, contemporâneo de todo o mundo moderno, cada vez mais conscientemente, teremos criado um meio de tornar a cultura um fato verdadeiramente vital e popular”.



Lincoln Feliciano nasceu em Paraibuna, no Estado de S. Paulo. Em sua terra natal fez o curso primário no Grupo Escolar Dr. Cerqueira César, freqüentando o Colégio Nogueira da Gama, em Jacareí, e o Ginásio do Estado, em S. Paulo, por onde se diplomou, depois de passar pelo Colégio Diocesano de S. Paulo. Bacharelou-se em Direito em 1915 e veio para Santos, onde montou escritório de advocacia.

Presidente da Ordem dos Advogados, Seção de Santos, e da Associação dos Advogados de Santos, de que foi um dos fundadores. Também um dos organizadores da Faculdade Católica de Direito de Santos, onde desde a instalação ocupou a cátedra de Direito Judiciário Civil.

Ingressando na política, viu-se eleito juiz de paz, nomeado prefeito municipal de Santos nos idos de 1946 e 1947 (N.E.: o autor se contradisse, pois em outro ponto da mesma obra afirmou corretamente que nesse período foi prefeito o dr. Edgard Boaventura. O certo é de 31/8 a 30/10/1945) pelo interventor federal Fernando Costa, membro do Conselho de Administração do Estado e deputado do Estado, quando ocupou a presidência da Assembléia Legislativa.

Em 1954 foi eleito deputado federal e no governo estadual do dr. Jânio Quadros exerceu os cargos de secretário da Agricultura e de secretário da Justiça. Nomeado ainda interventor federal em São Vicente. # 158
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FAMÍLIA FELICIANO. Escritório de meu avô Lincoln Feliciano ( sentado no sofá de terno claro ao lado da menininha), na rua XV de Novembro, centro de Santos. Na ponta do sofá, de bigode, está o irmão de meu avô Antônio Feliciano. Acervo: de Maria da Graça Feliciano)

Comentários:

- Dalmo Duque : Quem era Othon Feliciano?
- Maria Da Graça Feliciano: Dalmo Duque Dos Santos , irmão do meu pai Lincoln Feliciano e do meu tio Antônio Feliciano. Othon era médico e diretor da Gota de Leite
- Sandra Mara Rodrigues: Maria Da Graça Feliciano, pai da minha amiga Edi Feliciano da Silva
- Ademir Caldeira Neusa Caldeira: Dalmo Duque, foi meu médico quando garoto
- Dalmo Duque: Perguntei por causa da rua no Gonzaga e também porque Lincoln Feliciano foi prefeito de São Vicente, com elogios.
- Maria Da Graça Feliciano: Dalmo, tb foi prefeito de Santos na década de 40, depois foi o tio Antônio em 54 se não me falha a memória.
- Laire Giraud: Como disse, fui vizinho do Dr. Lincoln, quando morou no Canal 5. Eu era menino nós anos 1.950. Pergunto, tinha uma moça bonita chamada Zuleica que era filha ou sobrinha do Dr. Lincoln. Estou certo? Quanto ao Dr. Othon. Ele mantinha consultório médico … Ver mais
- Mone Feliciano: Laire Giraud a Zuleika é minha tia, infelizmente já falecida...ela é filha do Lincoln, irmã de minha mãe Maria Da Graça Feliciano...realmente ela era muito bonita .
- Lenira Rodrigues Zacarias: Mone Feliciano, fui aluna dos dois, do dr. Antônio e do dr. Lincoln na Faculdade de Direito.
Mone Feliciano: Lenira Rodrigues Zacarias que sorte! Rs
- Lenira Rodrigues Zacarias: Mone Feliciano sim! Significativos nomes na história da nossa cidade!
Evandro Soares: Lenira Rodrigues Zacarias não só de nossa cidade. O Lincoln como deputado foi o responsável pela criação do Ginásio Estadual de Altinópolis.
- Lenira Rodrigues Zacarias
- Evandro Soares muito obrigada pela informação, eu não sabia... muito obrigada.
Evandro Soares: Lenira Rodrigues Zacarias meu pai gostava muito dele
Mone Feliciano: Evandro Soares eu também não sabia disso...
Rosa Maria C. Ruiz: Conheci o Dr. Nilo Feliciano advogado minha mãe.
- Adalberto Montiani: Grande gestão como prefeito de Santos.

Grupo: Santos de Outrora e Agora



Composta por onze capítulos, que Sebastião Rocha Pita (1660-1738) chamou de “livros”, a obra descreve a descoberta do Brasil, a fundação da Bahia, a colonização do Norte e Nordeste, a cidade de São Paulo, os vários governos coloniais, as guerras contra os invasores, a análise do projeto colonial, a posição dos reis portugueses em relação ao Brasil, a política de povoamento e os últimos acontecimentos importantes registrados na Bahia de seu tempo. O autor nasceu em Salvador, estudou com os jesuítas e formou-se bacharel em cânones em Coimbra. Foi vereador e exerceu o posto de coronel de infantaria Como poeta, colaborou na formação da Academia Brasílica dos Esquecidos. Mas foi o historiador que permaneceu em nossas letras ao publicar em Lisboa, em 1730, sua obra máxima, História da América portuguesa, que não pode faltar na estante dos que estudam o Brasil, sua história e sua arte. O manuscrito original chegou em Lisboa em 1725.

Rocha Pitta recebeu o hábito da Ordem de Cristo, em 1679, foi vereador do Senado e foi nomeado acadêmico supranumerário (por exceder o número original de acadêmicos) da antiga Academia Real da História, em 28 de Agosto de 1721. Foi também presidente da Academia Brasilica dos Esquecidos, fundada em 7 de março de 1724, a primeira academia de letras do Brasil. Faleceu na Bahia, em sua fazenda, em 2 de novembro de 1738. #159


"Nascido em 24/4/1890 em Barretos/SP e criado em Bebedouro/SP, José Evaristo da Silva  se transferiu ainda jovem para São Vicente. Ele se lembra do histórico dia de 1913 em que ele e alguns amigos subiram a Serra Velha numa Ítala de quatro cilindros, "um pistão enorme", e foram recebidos com um almoço pelo prefeito de São Paulo, pois foi a primeira vez que alguém teve a coragem de fazer aquela viagem de automóvel.

Primeiro ponto - José Evaristo teve outro pioneirismo: a abertura do primeiro ponto de automóveis de aluguel de São Vicente (em 1936, na Praça Barão do Rio Branco). Como relatou ao jornal: "Já havia uns carros de aluguel, mas ponto mesmo foi o primeiro. Era ali na Praça Barão do Rio Branco, onde só existia a estação dos bondes e um barracão de zinco grande, que era a Polícia da Cidade. "Os primeiros carros que chegaram por aqui eram europeus. Só mais tarde é que vieram os americanos. São Vicente tinha pouquíssimas ruas que permitiam a passagem de automóveis. No início, só havia calçamento onde passava o bonde, nas linhas 1 e 2. A linha 1 era pelo Matadouro e a 2 ia da Capitão-mor Aguiar até Santos. Mas automóvel ainda era para poucos e o trem era o grande veículo para as viagens."

 "Ele se lembra, por exemplo, do acidente de moto que aconteceu no dia da inauguração da Ponte Pênsil, em 1914, fatal para o piloto, um rapaz da família Prado. (...) No dia da inauguração da Ponte Pênsil, ele estava trabalhando. Era motorista particular de Antônio Cândido Gomes, naquele distante dia de 1914, quando todas as autoridades desceram a serra para a grande festa. Só que aconteceu o que ninguém esperava: um acidente de trânsito, com uma vítima. 
A Tribuna, 24 abril de 183, Reproduzido por Novo Milênio # 160



Hermenegildo Lapetina nasceu em São Vicente, no dia 07 de junho de 1888. Filho de: Francesco La Petina (italiano nascido em 28 de setembro de 1854 em Tramutola, na província de Potenza), radicado em São Vicente desde dezembro de 1879 e segundo o Almanaque de Santos de 1885, um dos comerciantes mais antigos de São Vicente) e Maria Rosa Branda. Batizado na Igreja Matriz de São Vicente no dia 08 de Outubro de 1888, foram os padrinhos Hermenegildo da Silva Ablas e Dona Margarida Emmerich Ablas, esta filha de Jacob Emmerich e Filipina Emmerich.

Hermenegildo era o sexto filho de uma família de onze filhos. Estudou no colégio do povo dos dez aos dezessete anos de idade, trabalhou nos estabelecimentos comerciais de seu pai, um Empório na Rua do Porto (Rua Marques de São Vicente), uma Taverna na Rua Visconde de Tamandaré e uma Pedreira no Morro dos Barbosas.
Em 1910, Hermenegildo fez parte da Diretoria de um curioso clube filantrópico de São Vicente, o “Clube dos Em pés”. Os sócios desse clube em sua maioria eram comerciantes e políticos vicentinos. A curiosidade desse clube é que nas reuniões de diretoria todos permaneciam em pé porque não havia cadeiras no recinto.
Hermenegildo era músico tocando na Banda Municipal de São Vicente e aos domingos no coreto que existia na Praça Coronel Lopes. Entre 1919 e 1921, Hermenegildo foi membro da Irmandade do Hospital São José e usando de sua influência na Alfândega de Santos, conseguiu varias doações. Em 1922 pediu sua saída do cargo de Despachante da Alfândega de Santos e veio trabalhar na cidade de São Vicente assumindo o cargo de escrivão de policia na delegacia local. Em 1930, acumulou além da função de escrivão, a de carcereiro. Aposentou-se em 195.  Faleceu em 04 de Fevereiro de 1955. # 161

Publicado originalmente  no Boletim do IHGSV. 
Colaboração de Waldiney La Petina - Pesquisador Genealogista
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Elizabeth Pabst: Desconhecia está parte da história vicentina, obrigado
Academia Vicentina de Letras Artes e Oficios
Muito boa a informação. Coloque para compartilhar, por favor. Obrigada e parabéns.
Gorete Avelino: somos da cidade mas pouco sabemos de nossa história, obrigado pelo esclarecimento!
Sandra Bueno. Que legal ....adoro saber dessas histórias...parabens.
Vera Lucia Pereira: Muito boa está matéria compartilhada para sabermos um pouco da história da sua família cunhada vc está de parabéns pelas suas pesquisas
Julio MarRar: Meu amigo La Petina.
:
Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente: Nos sentimos honrados em ver a merecida valorização de um dos nossos mais importantes cidadãos....
Ricardo Alvarez: Saudades da minha querida avó Clara Bastide Lapetina 😔 Infelizmente não conheci meu avô Hermenegildo Lapetina.
Zuriel Lapetina: Eu tive este privilégio, um doce de vó.
Orlando Bexiga: Sempre rever um fato ou qq história sobre o passado de nossa cidade São Vicente Celula Marter da Nacionalidade é muito gratificante para nos os Calungas.
Silvio Lapetina: Parabéns Waldir La Petina pela preservação da história. Lembro que há alguns anos atrás, conversamos bastante sobre a família Lapetina. Te confesso que, até hoje, pensava que as nossas origens fosse baseada em um parentesco próximo entre o pai do Hermenegildo Lapetina (no caso, o Francesco Lapetina), com o meu bisavô Michelle Domenico Lapetina (que aqui no Brasil foi registrado com o nome de Miguel Luiz Lapetina). Pude perceber através desse detalhado relato, que o parentesco não vem daqui, pois o pai do meu bisavô Michelle, foi o Luigi Lapetina. Mas olha a coincidência que percebi... o Luigi Lapetina (pai do Michelle) foi casado com Rafaela Antônia Branda, ou seja, o mesmo sobrenome da mãe do Hermenegildo Lapetina. Meu bisavô, Michelle, também nascido em Tramutola em 1868 e casado com Maria Carmela De Marco. Eles eram os pais do meu avô Luis Lapetina, falecido num acidente no cais em 1940 (você me encaminhou a reportagem no Jornal A Tribuna, da época...). Luis Lapetina, pai do meu pai, Francisco Lapetina, falecido no ano passado aos 92 anos. Parabéns mais uma vez. Lindo trabalho de resgate e preservação da memória de família.
Daniel Taddone: Bonita história de gente valente! São os construtores do nosso país!
Matheus Varella: Que legal conhecer uma figura tão importante na nossa cidade! Valorizando a história do povo vicentino! Parabéns...👏🏻👏🏻
Rafaela Ataulo: Meu bisavô!!!! ❤️
Sydney Wendemacher: Muito interessante meu irmão de caminhada José Roberto La Petina. Gratidão
Waldiney La Petina...parabéns pela matéria, muito legal conhecer o passado né..família maravilhosa e tem meu respeito e admiração, abraços.
Fabio Lapetina Marceniuk: Eu lembro das visitas que minha mãe fazia na Bisa Clara e me levava, eu era muito pequeno, mas tenho algumas lembranças dela.



Paulo Roberto Gomes Mansur nasceu em São Vicente em 7 de julho de 1951,  filho do ex-deputado federal Paulo Jorge Mansur e de Maria Gomes Mansur. Seguindo uma curiosa tradição  dos imigrantes sírio-libaneses no Brasil, herdou do pai a  vocação política e empresarial  no segmento da comunicação. Na Rádio Cultura -emissora originalmente vicentina estabelecida na Praça Independência em Santos- foi executivo e locutor do programa popular "Eu Preciso de Você"  que ajudou a popularizar o seu nome como figura pública. Sua carreira política começou em 1988 ao se filiar ao PSDB e se eleger pela primeira vez vereador em Santos, sendo o segundo mais votado. Durante seu mandato, Beto Mansur destaca-se pela oposição conservadora  ao governo  da prefeita Telma de Souza (PT). Presidiu a comissão da emancipação de Bertioga, antigo bairro santista. Foi prefeito de Santos por dois mandatos e, na mesma linha de oposição, ingressou no parlamento como deputado federal destacando-se nacionalmente em sucessivos pleitos eleitorais. Uma curiosidade: quando fala de sua origem, o ex-prefeito santista  recorda vivamente que seus pais sempre mantiveram sua residência na cidade onde ele nasceu. # 162


O repórter-fotográfico José Dias Herrera (1920-2010) foi o profissional mais antigo ou, como ele prefere, o mais experiente do país. E se fotografar é escrever com a luz, esse santista de coração registra há 68 anos os fatos que marcaram a história de Santos. Com o tradicional bom humor, Zezinho, como é carinhosamente chamado pelos colegas, costuma dizer que continuará trabalhando enquanto não me quiserem lá em cima. Nascido no Brás, em São Paulo, mudou para Santos aos 7 anos. Depois, com o pai doente, teve de trabalhar duro para ajudar no sustento da família. Mas era preciso encontrar um meio de vida. Aos 14 anos, aconteceu o feliz encontro com a fotografia. Tinha o hábito de ficar olhando a vitrine de uma loja de artigos fotográficos. Um dia o proprietário perguntou se eu gostava de fotografia. A resposta positiva influenciou diretamente na sua vida. Uma semana depois, Zezinho já estava trabalhando no laboratório da loja. A oportunidade como repórter-fotográfico surgiu três anos depois, na redação do extinto jornal O Diário, onde permaneceu durante 20 anos. Posteriormente, ingressou em A Tribuna. Ao todo, ficou 42 anos nas duas empresas. Zezinho brinca dizendo que já fotografou reis de todos os tipos, da bandidagem, da música e da realeza propriamente dita. Mas foi com o rei Pelé que ganhou notoriedade internacional. Para isso, contou com a sorte que acompanha os profissionais de sucesso. Estava cobrindo um jogo do Santos, quando vi alguns jogadores falando com ele. No dia seguinte, fui ao treino e fiz a primeira foto do Pelé uniformizado na Vila Belmiro, e acabamos virando amigos. Aliás, Zezinho acompanhou o alvinegro em várias excursões a Europa. Trabalhou também na revista O Cruzeiro, foi correspondente da Gazeta Esportiva, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, sempre com entusiasmo. Apesar de reconhecer a facilidade que a tecnologia oferece com as câmeras digitais para a cobertura jornalística, Zezinho ainda fotografa com sua inseparável Nikon F-3, utilizada em eventos sociais. Ele faz fotos para a Prefeitura há mais de 60 anos, 20 dos quais como contratado. Diz que apesar das dificuldades enfrentadas no caminho, nunca desistiu de sorrir. Pode existir muita gente feliz por aí, porém mais do que eu é impossível. 
Prefeitura Municipal de Santos. # 163



O engenheiro mecânico Takashi Hiratsuka tinha a fotografia como hobby, usando uma câmera Nikon S2 durante suas viagens pelo Brasil. Por causa da sua profissão, registrava não somente as cenas humanas, mas também os aspectos geográficos  dos lugares que visitava. é até hoje visto por muitos como um "espião", marca taxativamente negada pelos seu filho e herdeiro das suas imagens.  Oficialmente, ele trabalhava na extinta fábrica de micro tratores Tobatta da Kubota-Tekko do Brasil (anteriormente: Marukyu), localizada em Diadema, parte do ABC Paulista. Seu acervo é guardado por sua família, em especial seu filho Kiyoshi Hiratsuka, que compartilhou no Facebook as fotografias do pai feitas entre 1959 e 1967. Registro precioso pois, em muitos lugares as fotos eram desconhecidas. Nesse período ele percorreu algumas regiões do Brasil, porém sua maior fonte de registros deu-se na capital paulista, algumas cidades do ABC, do interior e , no caso do litoral, as praias de Santos e São Vicente. São imagens impressionantes, a maior a coloridas e de alta qualidade, reveladas manualmente. Acredita-se que fotógrafo tenha falecido em 2012. # 164



Autor de imagens que marcaram o jornalismo local e regional, João Vieira teve sua carreira de longos anos vinculada ao jornal A Tribuna. Também atuou como fotografo oficial do Jockey Clube de São Vicente, função na qual mantinha contato com a imprensa especializada em turfe. Conhecia como poucos a história política de São Vicente no período em que atuou como correspondente de grandes jornais de São Paulo e de outros estados. Suas ultimas reportagens mais conhecidas do público foi no período de licenciamento do governador Mário Covas visitando São Vicente para inaugurar as obras do conjunto habitacional da favela México 70. Também fez as principais coberturas do governo municipal de Márcio França. # 165



O AUTOR DESSA FOTO HISTÓRICA faleceu ontem em São Vicente. João Vieira registrou como fotojornalista grandes momentos da história política da região. Presidentes, governadores e prefeitos foram alvos da sua lente sempre atenta para as melhores cenas. Essa imagem colorida é de 2001 quando o governador Mário Covas inaugurou o núcleo habitacional do México 70. Covas também escolheu São Vicente como sede de governo, em homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil. O corpo de João Vieira está sendo velado no Cemitério da OSAN. ( São Vicente na Memória - Facebook, 23 de dezembro de 2019)

Fotos : acervo de Mário Covas Júnior e Danilo Fernando. 


































MAIS UMA ESCARAFUNCHADA NO BAÚ: ESTEVAM E EU. Mexendo em meus alfarrábios, encontrei essa  foto, tirada em 1977 na sucursal do  jornal A Tribuna ,em São Vicente, onde  eu era repórter.  A meu  lado, o saudoso  Manuel Estevam, um dos lendários repórteres fotográficos que passaram  por essas terras  e com quem tive a honra  de trabalhar alguns anos. A figura indefinida entre nós dois é o cachorro Meia-Oito, um vira-latas que Estevam recolheu na rua e criava nos fundos da  sucursal. Não me perguntem a origem do nome porque nunca soube ( ou se soube, esqueci). Estevam foi um grande amigo. Era inteligente, culto, leal e...malcriado. Ô português malcriado!  Teve  uma vida cheia de peripécias. Antes de ser repórter fotográfico (costumava  dizer  que era apenas  um "bate-chapas "), foi tropeiro, garimpeiro , comerciante e, acreditem, campeão  estadual de boxe.  Fizemos e vivemos  boas reportagens juntos. Eu e o saudoso  amigo Maneco (Manuel Alves Fernandes) até  cogitamos escrever um livro sobre a vida do  Estevam. Hoje, ele é nome de uma rua do bairro Cidade Náutica,  de São Vicente. Paulo Mota.  Grupo Tribuneiros de Todos os Tempos. 06 de novembro de 2023. 
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MANOEL NASCIMENTO ESTEVAM FURTADO. Decreto 2866/81.Natural de Barreiros, Portugal, desde 1969 ate seus últimos dias de vida trabalhou na Sucursal do jornal A Tribuna", em São Vicente. Como fotografo jornalístico e como artista, como todo profissional consciente, em cada foto colocava toda a sensibilidade e a visão de um artista, não se limitando a registrar o fato, antes externando o mundo maravilhoso que dentro dele não cabia. O Seu Estevam e o seu perdigueiro "22", a sua "Marcha
Triunfal de Aida", suas embalagens de filmes, suas luvas de boxe, suas samambaias, sua crença religiosa, sua videira, sua máquina fotográfica, suas ideias, suas mu das de plantas, suas aventuras no garimpo, seus remos, seu mundo e a nossa cidade, sintetizam quem foi o Sr. Estevam. Faleceu a 16 de outubro de 1980. Guia de Ruas de São Vicente. Narciso de Carvalho.1978.  # 166


Quando convidamos Marco Antônio Lança a compor o CALUNGAH, Coletivo dos Historiadores, esse nosso grande amigo foi taxativo na sua resposta: “Dadau, tudo por São Vicente”!!!. Era uma autorização para publicar em nossa enciclopédia o seu conhecido artigo descrevendo a Vila no século XVIII a partir do antigo Largo Santo Antônio (atual Praça da Matriz). Mestre Arquiteto e Urbanista pela USP, Lança traçou em detalhes em sua tese as linhas da mais antiga povoação brasileira, justificando sua paixão pela localidade e também sua atuação como membro efetivo do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. Como compositor e violonista, participou conosco do Gente Nova, projeto de shows no circuito universitário de Santos do início dos anos 1980. Nesses eventos se apresentavam jovens artistas solo e bandas como Peito Rasgado (Zé Simonian, Julinho Bitencourt, Olberes Braga, o vicentino Manvantara (os Duque Mia, Bill e Dadau (Dalmo); Gilberto, Zé Názara, Maurão e William). E o Copos&Bocas (Douglas, Luiz Cláudio, Mário , Paulo César, Walter,Valdir Troncoso, Milton Matheus, Rosana, Ligia, Maria Cristina). # 167



Ailton Martins é natural de São Vicente, nasceu no Hospital São José, filho de migrantes caiçaras do Vale do Ribeira. Residiu durante a infância e a adolescência no México 70 - Vila Margarida, nas antigas moradias de palafita sobre o mangue. É fotógrafo, documentarista, jornalista independente, escritor/poeta experimental, editor e produtor do Blog Frequência Caiçara. Formado em Comunicação Social no curso de bacharelado de Rádio e Tele-visão pelo Centro Universitário Monte Serrat. # 168
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Um pouco da fotografia social de Ailton Martins.  

"Eu nasci numa cidade à beira-mar, uma pe-quena ilha. Fui feliz durante boa parte da mi-nha vida, antes de tudo. Sempre soube o que queria da vida, apesar de no decorrer dela ir percebendo o quanto isso não significava muito. Saber é dolorido. O mundo é perverso. Durante a juventude, alimentei sonhos dos mais variados. Mesmo diante das adversidades, tive um olhar otimista. Amei a vida com disposição. Minha paixão sempre foi caminhar pelo deck, olhar as garças azul-petróleo alçarem voos, sentir a brisa fria do mar e ver os pescadores mira-rem o horizonte, lançando seus anzóis o mais distante possível. Hoje, estou com cinquenta e poucos anos. Tenho sido forte, mesmo com tantas pancadas. Mas por dentro sinto-me afastado de tudo que fui um dia. Refiro-me ao entusiasmo pela vida. Como disse, cresci à beira-mar".
Fonte: Vortice (livro do autor)




De todos os viajantes estrangeiros que visitaram o Brasil após a instalação da corte de João VI no Rio de Janeiro, o botânico Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) é talvez o que conseguiu a maior notoriedade no país. Viajou pelas terras brasileiras (Sudeste Sul) entre1816 e 1822 descrevendo a geografia e os costumes e modo de vida dos povos que visitava. No final do ano de 1817, quando percorria terras de Minas Gerais, encontrou o índio Botocudo Firmiano, numa aldeia às margens do rio Jequitinhonha. Então, levou-o consigo, como encarregado do transporte e preparo das provisões, auxiliado pelo negro forro Manoel. Este contratado perto de Curitiba, com as obrigações de campear os animais, cuidar dos arreios e transportar as cargas. Também acompanhava-os o tropeiro José Mariano, contratado em Ubá (MG), encarregado de caçar e empalhar os pássaros. Doente e abatido, voltou à França para organizar seus estudos e viver de recordações das viagens e principalmente do convívio com os autênticos brasileiros.

(...) no dia 09.06.1820, Saint-Hilaire falou de Firmiano, ao passar pelo sítio Santo Inácio, nessa mesma viagem ao Rio Grande do Sul. Percebera que o botocudo dava sinais do seu temperamento rebelde, embora natural dos indígenas:
“Tenho a lastimar a mudança de conduta de Firmiano, originada já pelos maus exemplos, já pelas chacotas que recebe de José Mariano, e principalmente do negro Manoel. Ele já não é calado; discute e responde grosseiramente; torna-se desonesto, mentiroso, e contraria a todo mundo. A opressão exalta e transmuda o caráter. Humilhado, revolta-se e arma-se de insuportável mau humor. É tão ignorante que se torna impossível fazê-lo voltar ao bom caminho. Não compreende o quanto será infeliz se eu o abandonar, reconhecendo apenas ser justo que me sirva porque eu o alimento e visto. Seus serviços são tão mal feitos quanto seja possível e ele não me dispensa mais nenhum afeto. Suporto-o por piedade, porque se perderá se eu o abandonar e porque espero que ficando só, comigo, voltará ao que era anteriormente.” # 169
Fonte: A Terra de Santa Cruz e Sumidoiro's Blog



O comerciante Francesco Lapetina em foto de 1925, na rua Visconde de Tamandaré, 40. Francesco era natural de Tramutola, Potenza, Itália, onde nasceu em 1844. Imigrou para São Vicente em 1879. Segundo o Almanaque Santista (1885), era um dos comerciantes mais antigos em atividade, tendo primeiramente uma taverna, secos e molhados e depois uma pedreira. Foi pai de 12 filhos, 10 vicentinos e dois italianos. Sua filha Maria Helena casou-se com Antônio Pinto Amorim (irmão de Luiz Pinto Amorim, dono do famoso Iate Etelvina, que fazia a travessia para Praia Grande, no Porto Tumiaru), com quem teve sete filhos. O caçula dessa prole de Maria Helena e Antônio foi o famoso médico Dr. João Amorim, que fez brilhante carreira científica e gestora em importantes núcleos da medicina paulistana, incluindo os hospitais Pérola Byington, Matarazzo e Pro-Matre. Maria Helena faleceu em 1936 e seu necrológio foi publicado no jornal A Tribuna no dia 16 de julho. Nesse anúncio fúnebre é possível identificar dezenas de nomes dos membros das mais antigas famílias vicentinas, muitos residentes em Santos, que foram prestar suas homenagens à distintas famílias Lapetina e Amorim. # 170

Dados e foto: Waldiney La Petina, pesquisador genealogista. Recorte do necrológio do jornal feito a partir do arquivo


Nota: o sobrenome original italiano é LA PETINA; no Brasil ficou registrado LAPETINA.





O Hotel dos Alemães foi um empreendimento de lazer  localizado entre o Catiapoã e o Guassú, na atual avenida Antônio Emmerich, antes servida apenas pelas linhas de bondes da zona noroeste da Ilha de São Vicente. O hotel era também um clube de lazer organizado pela colônia germânica de São Vicente e Santos sob a liderança de Hans Nobling, irmão de Theodore Nobling. Hans era empresário no ramo portuário, grande entusiasta dos jogos de futebol e também morador da Chácara Boa Vista, próximo à ilha Porchat. O clube  não era exclusivo dos alemães e também ficou famoso pelos disputados bailes de carnaval na região. Havia um projeto para a construção de um ramal ferroviário ligando o Mangueirão (recinto de gado no Catiapoã) ao Matadouro e ao porto de Santos. Esse projeto dividiria essa região em dois grande sítios, porém, com o advento da II Guerra Mundial, todo o Sítio do Bugre foi confiscado pelo governo federal em função do posicionamento do Brasil como parceiro do Aliados e contra as mações do Eixo Roma, Berlin Tókio. O Brugre passa então a ser área de interesse militar e alí instala-se do II Batalhão de Caçadores, unidade corporativa do Exército Brasileiro. # 171.


O 2º BC BATALHÃO DE CAÇADORES

A origem dessa unidade militar é contada pela própria instituição:
 
“Em 6 de março de 1933, foi determinada a organização do III / 5° Regimento de Infantaria, que se transforma em III / 4° Regimento de Infantaria no ano de 1938, sediado em São Paulo. Em 1944 foi transformado em 38° Batalhão de Caçadores, sendo transferido para Santos em 1946. No ano de 1949, recebe a denominação de III / 4° Regimento de Infantaria, com sede em São Vicente, sendo denominado 2° BC em 1952.
Nas duas vertentes históricas podemos observar a participação do 2º Batalhão de Caçadores na luta pela legalidade, democratização e desenvolvimento do nosso País.
Desde 1946 sediado na Baixada Santista, instalado inicialmente no antigo prédio da Santa Casa de Misericórdia, posteriormente no Forte Itaipu e, finalmente, no sítio dos Bugres, em São Vicente, o 2° BIL encontra-se, há 73 anos, integrado junto à comunidade da Baixada Santista, particularmente à de São Vicente.
 
A portaria nº 919, de 20 de dezembro de 2004 transforma e altera a subordinação do 2º Batalhão de Caçadores, e dá outras providências. O COMANDANTE DO EXÉRCITO, no uso da atribuição que lhe confere o art. 4º da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, e de acordo com o que propõe o Estado-Maior do Exército, resolve: Art. 1º O 2º Batalhão de Caçadores, com sede em São Vicente-SP, a partir de 1º março de 2005”. # 172

 

 
BUGRE, BUGRE, BUGRE!!!

O quartel do Exército instalado no antigo Sítio do Brugre, região muito e distante do centro, habitada por índios e descendentes (Catiapoã e Cascatinha), é uma das instituições mais queridas e presentes na memória dos vicentinos. Ele formou, desde a sua instalação em 1949, juntamente com o quartel de Itaipu, diversas gerações de soldados calungas, carinhosamente chamados de “recos” pela população. 
Os jovens, após o sempre curioso e muito aguardado processo de alistamento e seleção, assim que aprovados nos rigorosos exames de aptidão física, passam a servir no Batalhão e também exibir orgulhosamente nas ruas suas fardas. Mas exibem principalmente sua nova condição de servidor militar e e defensor da Pátria. 

A troca de comando no quartel é constante e faz parte da rotina do Exército, trazendo de a oficiais transferidos de outras regiões e que sempre são recebido com o tradicional grito de guerra local: Bugre, Brugre, Bugre!!! 

Servir no quartel sempre foi motivo de valorização pessoal e prestígio social, bem como de grande admiração por parte da família, dos vizinhos do bairro, dos colegas de escola e sobretudo das garotas em fase de namoro. Por isso os recos eram e ainda são vistos de cabelos cortados em praticamente todas as atividades sociais da cidade, como mostra essa crônica sobre as festas juninas do Esporte Clube Beira Mar nos anos 1970. 

NOITADAS JUNINAS NO BEIRA

O espírito demolidor do passado e construtor do futuro continua no seu ritmo impiedoso, deixando em meio a olhares tristes e saudosos, ao mesmo tempo conformados, o rastro de escombros e entulhos na cidade. Dessa vez foi a sede esportiva do E.C. Beira Mar, na rua Benjamin Constant, esquina com a XV de Novembro. Em apenas algumas horas uma poderosa máquina botou abaixo o galpão e instalações do clube que durante quatro décadas acolheu a população vicentina para os seus grandes eventos sociais. Dizem que ali vai ser construído um hotel de griffe. 

O "Beira", como era chamado nos anos 70 e 80 e até hoje é conhecido pelo mesmo apelido, era um dos pontos mais frequentados pelos jovens das classes populares nessas duas décadas. O destaque, nesse endereço, era a Festa Junina, tradição brasileira que na região sudeste é marcada pelo inverno e deliciosas noites frias e estreladas. Época de namoros quentes e acasalamentos. 
Nos anos 70, talvez por causa do temor imposto pelo Regime Militar, o momento mais aguardado da festa junina era a batida feita rotineiramente pela PE do Exército, em busca de soldados foragidos do quartel do então 2º BC ou do Forte Itaipu. Os recos, à paisana, com suas extravagantes calças de tergal boca de sino e sapatos cavalo de aço, eram facilmente reconhecidos entre a maioria black-power, pelo corte de cabelo típico e logo surpreendidos pelos soldados de capacete branco. A PE, aparecia repentinamente com um jipe sem capotas, seguido por um caminhão de carroceria coberta de lona. Geralmente era comandada por um sargento com cara de durão e que, com o tempo, tornou-se atração das noitadas do Beira, que não ia além da onze horas. 

Os jovens mais ousados, de estilo hippie, adoravam usar uniformes militares, combinados com jeans desbotado. Certa vez, meu irmão mais velho, o Mia, juntamente com seu colega Claudio (Mandrix), na época alunos do Grupão, conseguiram duas jaquetas verde-oliva. Deram umas voltas na cidade se exibindo, mas logo foram advertidos sobre o risco que corriam. Para disfarçar, tiraram as tarjas de identificação do soldado e transformaram a cor das jaquetas em água fervente com Tintol vermelho. Aproveitaram a mesma água para tingir umas camisetas amarradas com barbante, que após o tingimento revelava a conhecida estampa psicodélica. Para disfarçar ainda mais, trocavam os botões originais por botões metálicos dourados; também pregavam fitas coloridas, do tipo peruana, e que de longe pareciam pequenas medalhas coloridas. As jaquetas ficaram cor de vinho e ainda assim faziam um grande sucesso naquelas noites inesquecíveis. Bons tempos! (Dalmo Duque dos Santos – Novo Milênio) 

EX-PREFEITO MOURÃO DE PRAIA GRANDE SERVIU NO 2º BC


"No Dia do Soldado presto minha homenagem a todos aqueles que servem nossa Pátria. Tive a honra de servir o exército, no Batalhão de Infantaria Leve (BIL), em São Vicente. Sonhava em em ser marinheiro, só que precisei ajudar meu pai no comércio que ele tinha, mas acredito que de alguma forma estou contribuindo para o nosso País e nossa sociedade Lembro-me até hoje do dia que fui me alistar, em Santos, na Rua Paraná junto com meu amigo Escobar, irmão do historiador Claudio Esterque. O sargento nos perguntou se queríamos servir o quartel e como eu estava cursando a faculdade ele achou que poderia atrapalhar e me sugeriu fazer o curso de oficial na reserva do Exército. Fiz a prova física e intelectual, concorri para uma das 20 vagas, passei e fiz o curso. Sai como aspirante a oficial e depois voltei para fazer o estágio para servir a patente de segundo tenente. Aprendi ainda mais sobre disciplina, respeito e cidadania. Anualmente milhares de jovens se alistam para servir o Exército no 2º Grupo de Artilharia Antiaérea (2º GAAAe) – “Grupo José Bonifácio e Fernando de Noronha”, na Fortaleza de Itaipu (Canto do Forte), que engloba um sítio histórico onde estão situados os Fortes Duque de Caxias, Jurubatuba e General Rego Barros.



Cachoeiras do Voturuá na década de 1940 e hoje desaparecida da paisagem do morro. Essa propriedade era de Dona Felipa Emmerich, que doou ao município para a criação do parque e captação de água.


A Tribuna- Sexta-feira,26 de Maio de 1909

Prefeitura de S. Vicente:

Causando grande alarme o facto de se ter o Prefeito Municipal de São Vicente negado a obedecer o mandado do Meritissimo da1ª vara desta cidade para o levantamento de rs23:430$000 em depósito nos cofres públicos daquela municipalidade, destacamos um nosso companheiro para saber da sua veracidade.

Nosso representante obteve as seguintes informações:

De facto a Camara Municipal de São Vicente foi há tempos condenada a pagar rs. 23:426$ pela desapropriação dos terrenos das nascentes de Nova Cintra.

Não concordando, porém com a sentença, apelou para o Tribunal de Justiça, alegando entre outros motivos o de pertencer-lhe parte dos terrenos por compra feita à extinta empresa Emmerich &Ablas.
O Tribunal em acordans condenou a Cãmara a pagar rs. 17.906$000, reconhecendo que a parte do terrenos alegado não pertencia aos autores da demanda.

Há dias, porém, entre os proprietários e o sr. Prefeito Municipal de São Vicente foi tentado um acordo amigável, que, a ultima hora deixou de ser assinado por intervenção de terceiros interessados.

Como tivesse fracassado esse acordo, o advogado dos proprietários dos terrenos requereu e o Meritissimo da 1ª vara, despachou mandado de levantamento da quantia total de rs. 23.426$, depositada nos cofres daquela Camara, para ser de novo depositado numa casa comercial desta praça,

O Prefeito capitão Antão de Moura, não se conformando com o mandado, replicou ao Meritissimo Juiz, que não aceitando as alegações, manteve o seu primeiro despacho, mandando expedir novo mandado. O advogado da Câmara, por ordem do capitão Antão de Moura agravou para o poder competente alegando incompetência do juízo deixando somente somente por esse motivo de obedecer a ordem do Meretissimo Juiz. 

Podemos no entanto, afirmar que a Municipalidade de São Vicente está em condição de satisfazer aquelle mandado, visto ter em seus cofres a quantia intacta do depósito. # 173



A fonte de água que hoje é popularmente conhecida como Biquinha de Anchieta foi amplamente utilizada pela população local antes de usada pelo padre que lhe dá o nome. Contudo, foi com ele que tomou destaque na região, devido, sobretudo, pelo padre ter utilizado essa região para suas meditações, graças ao ambiente agradável e paradisíaco ali criado pela natureza que a envolvia. Além disso, ali também ministrou aulas de catecismo e primeiras letras portuguesas. Algum tempo depois, passou a montar suas peças teatrais naquele lugar, os famosos autos assistidos pelo povo e pelas autoridades da época, considerados por muitos como origem do Teatro no Brasil. Próximo ao local, os jesuítas construíram o Colégio dos meninos de Jesus de São Vicente.

A fachada do paredão passou por transformações profundas desde seu erguimento na data de 1850. Um pouco depois desta época, um mosaico português foi elaborado no paredão com a imagem da milagrosa missão de Anchieta entre os índios, que mais tarde foi substituído por um delicado trabalho de terracota em alto-relevo – que possuía o mesmo motivo do paredão que a antecedeu – inaugurado em 22 de janeiro de 1943, data de comemoração de 411 anos da fundação de São Vicente. Entretanto, tal obra foi alvo de depredações, sendo necessária sua substituição por um novo mosaico, existente no local até os dias de hoje. No mesmo parque existe também uma estátua do padre Anchieta em tamanho natural. USP- Universidade de Sâo Paulo. # 174


AS FASES HISTÓRICAS MAIS CONHECIDAS DA

 BIQUINHA DE ANCHIETA



Registro fotográfico de Benedito Calixto e de seu filho Sizenando no final do século XIX. Museu Paulista.


O Paredão do século XX, de 1850; 

A de 1916, registrada em foto por Benedito e Sizenando Calixto; 

A de 1935, de cerâmica com placa comemorativa doada por Antônio Zufo; 

A de 1943, em terracota de Domingos Savorelli, destruída por vândalos; e finalmente o painel de 

A de Waldemar Sendin (com a colaboração dos irmãos Armando e Estrela), de 1947.







Fontes: Novo Milênio e Blog Caiçara. 

 

A BIQUINHA DE ANCHIETA

FERNANDO MARTINS LICHTI

André Gonçalves e Américo Vespúcio trouxeram em seus navios um degredado ilustre, Mestre Cosme Fernandes, que, segundo alguns historiadores, teria sido o famoso bacharel de Cananéia. Após dois meses de permanência em São Vicente, foram-no deixar em Cananéia. Cosme Fernandes, que conhecera bem o belo e dadivoso ambiente vicentino, evidentemente não se satisfez e conformou com o lugar determinado para seu degredo, e assim, apenas quatro ou cinco anos após, já aparecia no Porto de São Vicente e no ocidente da Ilha, resolvido a nova fixação espontânea. E, como era um degredado, com lugar certo para o cumprimento de pena, reconheceu-se fora da lei e construiu seu pequeno povoado inicial, atrás da baía de Paranapuã, cuja barra não dava acesso aos navios de grande calado e, conseqüentemente, aos navios do rei, indesejáveis para ele.
 
Cosme Fernandes chegaria a ser um verdadeiro potentado, senhor de Engenho, de lavouras, de criações diversas, de um comércio alentado com as armas e navios itinerantes e um importante tráfico de escravos, negociado a quatro mil réis por cabeça. A sua São Vicente, muito citada nos documentos de vinte anos depois, possuía arsenal, estaleiro de embarcações, uma fortaleza de pedra, várias casas européias e outras benfeitorias assinaláveis. São desta primeira fase vicentina, a partir do quinqüênio 1515/1520, repetidas vários anos depois, as primeiras notícias das águas da Fonte de São Vicente ou do Povoado, que viria a ser a atual Biquinha ou Biquinha de Anchieta, emoldurada em quatro séculos e meio de tradição.
 
O Morro de Tumiaru (antigo Outeiro de São Vicente, posteriormente conhecido por Morro Santo Antônio, Morro dos Padres e atualmente Morro dos Barbosas), junto à Praia Mahuá (hoje Praia de São Vicente ou da Cidade, que o povo apelidou de Gonzaguinha), possuía duas nascentes de águas potáveis, capazes de servir ao grupo social daquele tempo e ao conjunto do povoado de Cosme Fernandes, em várias necessidades e aplicações.
 
Uma das fontes era aquela, indicada como a Fonte do Povoado (Biquinha), ali mesmo, quase na ponta Leste do morro, próxima da Praia Mahuá; a outra, já considerada uma cachoeirinha, era a do centro, ou "do campo" (Fonte dos Padres), origem do riozinho, mais tarde conhecido como Rio do Sapateiro, onde hoje se encontra o reservatório municipal (do Morro dos Barbosas). Havia uma terceira fonte, mas do outro lado ou lado Oeste do morro, no lugar chamado Paquetá, proximidades da atual Ponte Pênsil, que servira ao primeiro porto e povoado de Cosme Fernandes (o Porto Tumiaru).
 
Todavia, a única, realmente famosa, seria, apesar de menor que a segunda, a Fonte do Povoado (Biquinha), por suas características físicas (geográficas e naturalísticas), por sua beleza ambiente e pela superioridade de suas águas, que se iam despejar no riozinho fronteiro, a cem metros da praia (atual Praça 22 de Janeiro) - ambiente que, mais tarde, seria aproveitado pelos jesuítas, para suas apresentações artísticas e teatrais ou preleções ao ar livre. Na nova organização dada ao povoado anterior, por Martim Afonso de Souza, com a criação da vila - tornada cabeça ou capital de toda a Capitania -, a Fonte do Povoado ou da Vila continuou como era, até que a vinda dos jesuítas, sob a chefia de Manoel da Nóbrega e Leonardo Nunes - a quem caberia fundar o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente, inaugurado a 2 de fevereiro de 1553, oitenta metros distante da mesma fonte (Biquinha) -, lhe daria uma nova dignidade utilitária e social. É que, de fato, a Leonardo Nunes, grande catequista, caberia criar uma primeira bica de serventia pública, na Fonte tradicional, na mesma ocasião em que mandava fazer a primeira captação da cachoeirinha do Centro ou do Campo, por meio de um pequeno aqueduto, para os usos gerais ou maiores da coletividade jesuítica e vicentina.
 
Leonardo Nunes morreria em 1554, em conseqüência de um naufrágio, e a freqüência ao lugar por Anchieta começaria a partir de 1555, após um ano de fundação de São Paulo de Piratininga, quando se hospedou no Colégio de São Vicente em 1561 e teve os primeiros contatos com o povo de São Vicente e da vila de Santos, freqüentando ao mesmo tempo o litoral de Itanhaém e Peruíbe. Anchieta só seria realmente padre, com ordens maiores e de missa, em 1556, sagrado na Bahia. Depois disso, viria para a Capitania de São Vicente, onde veio a ser superior do Colégio vicentino no período de 1567/1577. É quando, então, se torna célebre a Bica da Fonte da Vila (antiga do Povoado), porque Anchieta dá preferência, em suas práticas e meditações, ao ambiente paradisíaco criado em torno dela pela natureza. Logo mais, daria aulas de catecismo e primeiras letras portuguesas, naquele lugar, junto à Biquinha, para que seus meninos, os catecúmenos e órfãos brancos, sentissem melhor os seus ensinamentos. Pouco mais tarde, com tempo firme, montava ali também as suas peças teatrais, os seus conhecidos e famosos autos assistidos pelo povo e pelas autoridades locais, hoje considerados como origem e nascimento do Teatro no Brasil.
 
Durante alguns anos exerceu-se em São Vicente, junto à Biquinha, o apostolado de José de Anchieta, atingindo os litorais vizinhos. Foi mesmo nesse lugar, e nas atividades litorâneas do Apóstolo do Brasil, que se desenvolveu e fundamentou a sua fama de santidade. E é desses anos e de sua constante presença que surge a denominação popular de Biquinha de Anchieta, ainda hoje corrente entre o povo, com fortes razões como se vê. Reza a tradição que Anchieta teria construído o primeiro monumento rústico da Biquinha, que atravessou alguns séculos.
 
José Antônio Zuffo, que foi proprietário dos terrenos onde está construída a Vila Santo Antônio, em que Leonardo Nunes fundou o 1º Colégio jesuíta do qual Anchieta foi reitor, querendo prestar uma homenagem ao taumaturgo, mandou confeccionar uma placa de bronze e colocou-a na Biquinha, cuja inauguração deu-se no dia 19 de março de 1933, aniversário de nascimento de Anchieta. A senhorinha Margarida Zuffo, dileta filha do capitalista, foi quem descerrou a bandeira nacional que cobria a placa, cujos dizeres perpetuam, de vez, a estada de Anchieta naquele local.
 
Em meados do século passado (N.E.: século XIX), ainda se encontrava no rústico e singelo paredão ali construído a data de 1850, o que tudo faz crer ter sido construído naquela data, várias foram as transformações recebidas pela histórica fonte, no tocante ao aspecto de sua fachada. Do velho paredão, sobreveio um belo painel em mosaico português. Depois, sempre estampado motivo da milagrosa missão de Anchieta entre os índios, substituíram o mosaico por um delicado trabalho de terracota em alto-relevo, que foi inaugurado em 22 de janeiro de 1943, quando São Vicente comemorou 411 anos de fundação. Infelizmente, essa obra durou muito pouco, porque nesse mesmo ano foi toda depredada pelo vandalismo de irresponsáveis e inconseqüentes. Então, novo mosaico foi colocado no histórico recanto vicentino, continuando até agora.
 
Em verdade, a Biquinha de Anchieta, com seus belos azulejos, é hoje um verdadeiro monumento ao Beato José de Anchieta, que serve a milhões de freqüentadores, todos os anos, e acode também a centenas de lares e milhares de habitantes, por hábito, por preferência ou por falta do precioso líquido em suas torneiras, tornando-se, por uma razão ou por outra, mas principalmente por sua imensa tradição, o mais legítimo e mais enternecedor dos monumentos públicos de toda a Baixada Santista. (Poliantéia Vicentina)

PAINEL DE 50 ANOS DECORA A BIQUINHA 



AT Especial do jornal santista A Tribuna, em 2 de março de 1997

Existente desde 1553, a Biquinha de Anchieta foi uma das principais fontes de água da população de São Vicente durante séculos. Seus belos azulejos azuis trabalhados a mão são relíquias históricas. Lá, o famoso padre jesuíta bebia água e catequizava índios. Além da bica, a praça conta com uma estátua em tamanho natural do padre, feita em fibra de vidro, e boxes onde são vendidos os mais tradicionais doces da Cidade. (Biblioteca do IBGE, 2015)
 
Um dos mais significativos trabalhos em azulejo da região está completando 50 anos: é o painel da Biquinha, em São Vicente, que retrata o Padre Anchieta catequizando os índios brasileiros. O belo exemplar da arte em cerâmica é do artista Waldemar Moral Sendin, que contou com a colaboração do irmão, Armando Sendim, e da irmã Estrela. Um dos pioneiros desse tipo de arte no Brasil, Waldemar Moral Sendin faleceu há oito anos; Armando Sendin, aos 72, tem seu ateliê e mora na Espanha. Estrela, com 74, reside em Santos. Ela conta que o painel foi feito a pedido do prefeito de São Vicente na época, Polidoro Bitencourt. "Ele foi visitar uma exposição de Waldemar, no Parque Balneário, e ficou maravilhado com o seu talento", conta.
 
Antes do painel de Anchieta, havia na Biquinha uma obra em terracota, do artista Domingos Savorelli. "Eu não me lembro quanto a prefeitura pagou ao meu irmão, mas acho que foi algo em torno de mil cruzeiros. Eu e o Armando posamos como modelos, para que o Waldemar tivesse uma idéia de como posicionaria o padre Anchieta e os índios", revela.
 
O trabalho foi realizado em um mês, já que a técnica não é das mais fáceis. E, como no Brasil ainda não havia tintas especiais, Waldemar mandou-as vir de Portugal, assim como os azulejos. "Ele usou o policromado em sépia, uma cor muito bela, que ainda não existia por aqui". A qualidade do serviço pode ser vista até hoje, pois não se deteriorou com a ação do tempo. Durante o período das chuvas, em janeiro, uma parte da Biquinha quase foi destruída, mas nada aconteceu ao painel do Padre Anchieta. "É uma obra de arte importante, não só porque a Biquinha é conhecida mundialmente, mas também devido à importância histórica de São Vicente. Ao longo dos anos, ela vem sendo retratada em cartões postais enviados aos mais diferentes países", analisa Estrela.
 
O artista - Waldemar Moral começou logo cedo nas artes, herdando do pai o gosto pelas tintas. A família foi morar em Porto Alegre, o que incomodou o jovem. Ele dizia que lá não havia ninguém que pudesse ensiná-lo mais do que já sabia. Cedendo aos apelos do filho, o pai trouxe a família para Santos, para que Waldemar pudesse estudar em São Paulo. Ele se formou em Arquitetura pela Faculdade de Belas Artes. Logo pegou gosto pelo trabalho com cerâmica, sendo um dos primeiros no Brasil a dominar a técnica. Armando Moral Sendin também foi infestado pelo vírus da arte, mas preferiu a pintura de quadros, embora tivesse se formado em Filosofia e Letras e se pós-graduado na Sorbone. "Fui a única que não seguiu a trilha. Eu organizava o ateliê, em São Paulo, pois eles eram muito descuidados. Me dou melhor com a agulha e a linha", justifica Estrela.
A técnica - A arte da cerâmica, dizem os entendidos, nasceu no Oriente, há vários séculos, e os árabes foram um dos seus cultuadores. Mais tarde, chegou à Europa, notadamente em Portugal, Espanha e França. Foram os colonizadores portugueses que a trouxeram para o Brasil. Era comum decorar a fachada dos imóveis com azulejos. O nome vem do fato de a maioria das peças, na época, ser azul.
A técnica utilizada por Waldemar seguia todo um processo. Primeiro ele fazia um croqui, em papel, do que iria desenhar. Os azulejos eram colocados em uma prancheta de madeira e, com o lápis, ele esboçava o desenho. O passo seguinte era a pintura com uma tinta especial de cerâmica sem esmalte. Os azulejos, numerados, eram colocados no forno à temperatura de 750 graus. Depois era só montar a imagem na seqüência da numeração. O cozimento dá brilho à pintura e a torna indelével.
Joseph Anchieta foi reitor do Colégio de São Vicente, evangelizador da Capitania de Martim Afonso, dramaturgo e herói, informa a placa que fica ao lado do painel da Biquinha.



Vidros ornamentais belgas, telhas francesas, madeira de Riga e mármore de Carrara.Tamanha beleza pode estar ainda escondida entre armários e ofícios administrativos da Prefeitura de São Vicente e muitas vezes passar despercebida por aqueles que transitam diariamente pelo prédio.Com requintado material, o imóvel foi erguido em 1885 por Julião Leocádio Neiva de Lima, que após a Proclamação da República adotou o nome de Julião Caramuru. Projetado em estilo jônico, o prédio foi construído para lhe servir de moradia. Edison Telles de Azevedo afirma em seu livro “Vultos Vicentinos”, que Julião queria contemplar São Vicente com uma edificação que se destacasse entre quase tudo que havia na ocasião, em termos de construção. A linha arquitetônica do imóvel foi parcialmente modificada em 
1944, quando o prefeito Polydoro de Oliveira Bittencourt realizou reforma, construindo uma sacada e colocando mármore na escadaria do hall de entrada. - 

A mudança, acredita-se, foi promovida para transformar a construção residencial em edifício público. O prédio pertenceu a Julião Caramuru até a sua morte, em 1901. Depois, foi vendido por seus herdeiros ao advogado vicentino Mágino Bastos. Nova venda aconteceu quando faleceu o advogado. Em 1919, sua esposa, Dª. Maria Emília Bastos, e seu filho Tude Bastos (um dos fundadores do IHGSV), optaram por passá-lo à municipalidade, por 30 contos de réis. O ato de transferência foi assinado pelo prefeito João Francisco Bensdorp, mas com uma curiosidade: a escritura passada no 3º Tabelionato de Santos, foi registrada em nome do “Município de São Vicente”, e não no da Prefeitura ou da Câmara.Reformado, o edifício da Rua Frei Gaspar (antigo nº 34, hoje 384) passou a ser ocupado pela Câmara e Prefeitura em 1929 (foto abaixo). Depois dessa data, o Poder Executivo foi sempre exercido nesse prédio, ao contrário da Câmara, que em 1953 se mudou para o sobrado da padaria Rio Branco, na esquina das ruas XV de Novembro com 13 de Maio. Em 1959, nova mudança, desta vez para a Rua Martim Afonso, esquina com a Praça Barão do Rio Branco, de onde saiu em 1987 para ocupar o prédio próprio, na Rua Jacob Emmerick, 1195. 

MAIS MUDANÇAS . Além das mudanças realizadas em 1944, o prédio sofreria outras transformações ao longo dos anos. No final da década de 70, o madeiramento do teto foi tomado por cupins e parte do telhado acabou desabando (no gabinete do então prefeito Koyu Iha). Na década de 80, nas administrações dos prefeitos Antonio Fernando dos Reis e Sebastião Ribeiro da Silva, foram construídas duas alas, desde o prédio principal até a Rua João Ramalho. Hoje, da velha e imponente Casa de Caramuru, só restam lembranças. ( Boletim IHGSV).   #175



Antônio Ferrigno (Salerno, Itália, 1863 - Salerno, Itália, 1940). Pintor e professor. Nasceu em Maiori, província de Salerno. Aos 19 anos iniciava uma intensa e longa fase de estudos com mestres italianos. Parte para o Brasil em 1893 e fixa residência em São Paulo, onde se encontra o amigo e pintor Rosalbino Santoro (1858 - s.d.) desde 1887. Convive com Pedro Alexandrino (1856 - 1942) e Almeida Júnior (1850 - 1899) e torna-se amigo do mecenas Freitas Valle (1870 - 1958). Rapidamente alcança notoriedade como pintor e passa a receber encomendas de fazendeiros, entre as quais se destacam a série de 12 telas sobre o cultivo do café. Nos 12 anos que permanece em São Paulo, entre 1893 e 1905, reproduz paisagens paulistanas, do interior e do litoral, assim como cenas de gênero que retratam personagens populares. Encanta-se a princípio com o litoral. O mar já o atraía na Itália: interessa-lhe explorar os efeitos da luz sobre a água. No Brasil, pinta baías com pequenas casas, barcos, praias, muitas delas povoadas por pescadores, crianças e senhoras passeando, como as que aparecem em Passeio nas Pedras - Guarujá. Diversas dessas cenas do litoral - que retratam praias de Santos, São Vicente, Guarujá e Caraguatatuba. Fonte: Itaú Cultural. #176


AS PINTURAS VICENTINAS DE FERRIGNO

Ranchos dos construtores do Forte Itaipu perto de São Vicente,1893. Antônio Ferrigno, pintor italiano. 
Fonte: Itaú Cultural.



O título original "Ressaca em Santos" é mantido até hoje , porém a paisagem é vicentina, com o mar agitado próximo às Pedras do Mato. Ao fundo a Ilha Porchat. Fonte: Itaú Cultural.


Pedras do Mato. Praia do Mahuá (Gonzaguinha), 1893. Óleo sobre madeira retratando o ponto turístico onde seria construído o Marco Padrão do IV Centenário da fundação da Vila de São Vicente.  Fonte: Itaú Cultural.




PRAÇA DA CITY-LIGHT na década de 1910, atual Coronel Lopes, Correio e Camelódromo. Cenário bucólico mantido pela Companhia City e também da linha 1 do bonde que trafegava num longo e deserto trecho até o centro de Santos. Ainda não existiam as avenidas Antônio Emmerich nem a N.S. de Fátima. O entorno era composto por antigas residências e também da Escola do Povo. 
Acervo: Waldiney La Petina. # 177

O engenheiro Camilo Thadeu na Praça Cel. Lopes (antigas Cia City e Light). Construiu sua casa no número 138, esquina com Expecionários Vicentinos. Acervo Luis Renato Thadeu. A praça da City-Light  tinha o Coreto e onde a Banda de São Vicente tocava as suas marchinha nos fins de seman e feriados. Locais agradáveis onde os jovens passeavam e as famílias com as crianças se acomodavam nos bancos dos jardins que era a Cel. Lopes, administrada pela Light conservando os bancos, alamedas e jardins: Inclusive a Praça era cercada com madeiras trabalhadas e pintadas com horário de ocupação (dia de semana até as 22:00 horas). Fonte: Relatos de São Vicente era um Jardim. 


Bonde construído por volta de 1870 pela Metropolitan Railway Carriage & Wagon Company, em Birmingham, na Inglaterra 




O bonde especial que trouxe Pedro II e a Família Real nas últimas visitas a Santos e São Vicente. 

Percurso - O traçado do tramway seguia pelo aterrado do mangue, o trem saía da Estação de São Vicente, atravessava a Praça Coronel Lopes (na época não existiam o jardim, o coreto e a escola), e seguia pela atual Avenida Emmerich, passando pelo Matadouro, até a Estação Emmerich (em frente à Igreja Nossa Senhora de Fátima era a divisa-secção), seguia o trem em direção a Chico de Paula, Saboó, Rua Visconde de São Leopoldo, Largo do Rosário (atual Praça Rui Barbosa), Rua do Rosário (atual João Pessoa) e Rua Itororó esquina de Rua Amador Bueno (Ponto final, estação de cargas). 
A Carril de Ferro de São Vicente teve seis locomotivas, sendo três de quatro rodas, do tipo fechado, e três locomotivas com caldeira e chaminé expostas. As locomotivas foram batizadas como: nº. 1 Santos, nº. 2 Democrata, nº. 3 São Vicente, nº. 4 1º de Outubro, nº. 5 Santa Maria, nº. 6 Janacopoulos. Todas queimavam carvão de pedra. Cada locomotiva puxava duas gôndolas para passageiros e um reboque do tipo Caradura, no qual os passageiros podiam transportar galinhas, cabritos e leitões. Os condutores e fiscais usavam fardamento azul marinho com quepe, e botões amarelos na túnica. Os chefes de estação eram Bento Vieira Neto e Joaquim Vilas Boas. Os maquinistas: Rafael Frezelone, Joaquim Machado, João Proost, Jordão, Mário de Oliveira, António Silva, António Torquato, Barnabé, e Alexandre Sedin que pilotava o Trem da Carne, puxado pela locomotiva nº. 5 Santa Maria. Os foguistas: José Tomás Pereira, Noé Constâncio Ferreira, Eloi dos Passos e outros. Os cobradores: Isaac Xavier dos Passos, João Venceslau Emmerich, Noronha e José Santos Amorim. O chefe da oficina onde eram feitos reparos das locomotivas era o José Gustavo Bruncken, seu contramestre era o Nicola Antonietti. Profissionais que, com a eletrificação da linha em 1909, foram contratados para cuidar das locomotivas a vapor da Estrada de Ferro Guarujá-Itapema. # 178






Itararé e a Pedra do Ladrão em 1912/15, demolida com as obras de urbanização da área, esta rocha dominava em 1915 a Praia do Itararé, como se nota nesta foto. Ao lado da rocha, o bonde da linha 2, que fazia a ligação entre São Vicente e Santos via praias. Na segunda foto, do mesmo ano, a Praia do Itararé e a região de Boa Vista, logo após a Pedra dos Ladrões, vendo-se ainda a baía e os morros do Tumiaru e Barbosas.Fonte: Novo Milênio. # 179. 

"As tradicionaes Pedras dos Ladrões, na praia de Itararé". Capa da revista santista A Fita, edição de de 25 de junho de 1914. A impressão de imagens era feita em clichê de chumbo.

Acervo Digital da Biblioteca Nacional.




Pedra dos Ladrões antes da duplicação da avenida Manoel da Nóbrega. Acervo do Museu Paulista.

Luciano Azevedo: Pedras demolidas para a passagem primeiro dos bondes, depois do trem e hoje do VLT. Sobre a citação do rio, não era um rio e sim uma pequena corrente de água de uma nascente que tinha no sopé do morro que aumentava conforme a incidência de chuvas no morro. São Vicente na Memória. 


São Vicente de Outrora. Idos de 1912. Ali, nas proximidades onde hoje encontra-se a sede do Itararé Praia Clube desaguava o Rio Itararé, que há tempos fora reduzido a um córrego canalizado, paralelo à Av. Quintino Bocaiúva. À esquerda, vemos o sopé do Morro do Voturuá e ao fundo, os trilhos dos bondes e a temível Pedra dos Ladrões.



"A história do Clube de Regatas Tumiaru data de uma época em que São Vicente era considerada apenas cidade de estilo colonial. O turista ainda não havia descoberto seus encantos e apenas jovens aqui radicados tomavam conta das praias, sem que houvesse uma entidade recreativa onde fossem proporcionados momentos alegres de estreito convívio da coletividade. 
Assim, um animado grupo de rapazes, imbuído de ardente vontade, resolveu fundar uma agremiação náutica, a fim de possibilitar sua participação nas regatas disputadas em Santos, entre os clubes de regatas Santista, Internacional de Regatas e Saldanha da Gama, agremiações que ainda hoje, como a entidade calunga, ostentam respeitável patrimônio histórico e esportivo. 

Com essa finalidade, reuniram-se na manhã de 22 de dezembro de 1905, segundo consta, em local onde funcionava o antigo rinque de patinação vicentino, os srs. Salvador Malaquias Leal, Manoel Geraldo Forjaz Júnior, Manoel da Costa, Mário da Cunha Nogueira, Gaspar Manga, Henrique Wright, Luiz Hourneaux, Leopoldo Magalhães de Matos, João da Silva Santos, Bloen Martins e Olegário Herculano Alves. Foi aclamado para presidir os trabalhos o sr. Mário da Cunha Nogueira, que convidou para secretários os srs. Antero Bloen Martins e Manoel Geraldo Forjaz Júnior. Estava assim fundada a primeira agremiação esportiva de São Vicente. 

Segundo proposta do sr. Salvador Malaquias Leal, foi escolhida a denominação da sociedade: Clube de Regatas Tumiaru, homenagem ao local onde iria ser erguida a sua primeira sede, no porto de São Vicente, que naquela época era assim denominado. 

Quanto ao vocábulo Tumiaru, existe uma controvérsia entre historiadores, não sendo até hoje conhecida ao certo sua origem. Alguns afirmam ser "nome antigo e tradicional de nossa toponímia dos tempos de colonização. Era designativo da zona fronteira à ilha de São Vicente". No entanto, nenhum estudioso afirmou ao certo a origem da denominação daquela área compreendida na Vila de São Vicente. 

A primeira sede do clube foi inaugurada no ano de 1906, por ocasião do primeiro aniversário, sendo construída pelos próprios fundadores, em local próximo à cabeceira da Ponte Pênsil, do lado da ilha. 
Ali esteve sediado o Clube de Regatas Tumiaru até o ano de 1931, quando foi constrangido a transferir sua garagem de barcos para outro local, após atravessar diversas crises financeiras. 
Assim, em 1932, quando se comemorava o IV Centenário da fundação da cidade, outro grupo de jovens, cuja maioria ainda pertence ao quadro associativo tumiaruense, inaugurou a sede do Japuí, hoje transformada em instalações de campo e recreativas da entidade, onde está construída a primeira piscina oficial de São Vicente. 

Depois disso, ante o surgimento de novas crises financeiras, o Tumiaru esteve prestes a desaparecer. Todavia, o trabalho hercúleo do mesmo grupo de sócios abnegados conseguiu, em 1939, adquirir um terreno na Praça Coronel Lopes, onde foi construída a quadra de bola-ao-cesto. Mais dez anos se passaram e o alvinegro calunga sentiu necessidade de ampliar suas instalações, adquirindo, então, o terreno anexo, que faz esquina com a Rua Expedicionários Vicentinos. 
Dessa época até nossos dias, o Tumiaru foi crescendo satisfatoriamente e galgando a esplêndida linha de progresso que hoje todos conhecem. 

Construída a sede social, as instalações esportivas passaram a ser criadas e ampliadas, transformando a antiga agremiação do Japuí em expressiva força no esporte da Baixada Santista e de todo o Estado de São Paulo. 

Enumerar os feitos esportivos tumiaruenses é tarefa desnecessária. No entanto, seria injustiça não rememorar o reide São Vicente-Buenos Aires, efetuado em 1934, pelos remadores Antonio Rocha e José Ferreira de Andrade, no barco Bandeirantes. Essa a maior vitória obtida pelo Tumiaru, secundada por muitas outras, dentre elas a de Wlamir Marques, esportista militante nos quadros de bola-ao-cesto do alvinegro calunga, que inscreveu o nome do clube vicentino no plantel sulamericano e mundial." (A Tribuna, 22 de dezembro de 1960 ) 

Esportes - Depois do remo, foi para a natação. O polo aquático foi, igualmente, introduzido, trazendo para o clube vicentino inúmeras glórias e projetando entre outros: Rui Ribeiro Rato, Olimpio Azevedo Filho, Luiz Martins Viana, Irany de Carvalho, Gilberto Jordão Ribeiro, Saulo de Castro Bicudo, Ari Gardon, Gastão Moreira do Amaral, Alberto Junior, Durval Martins Duarte e José do Carmo Neves Filho como seus maiores valores. 

Nessa modalidade conquistou o título de vice-campeão dos Jogos Abertos do Interior de 1939. Mais tarde, surgiram novos valores como: Silvio A. de Castro, Irineu de Carvalho, Lauro Azevedo, Edison Teles de Azevedo Filho, Pedro Corvelo, Francisco Schneider, Armando Lichti Filho e outros. 
Em sua galeria de campeões destaca-se as figuras de Vilibaldo Mello Leite, campeão brasileiro de natação - 1952; Isabel Ribeiro Morais e Silva, campeã brasileira de natação; Wlamir Marques, vice-campeão mundial de bola ao cesto - 1954; Noé P. Vaz, campeão brasileiro de 1952, modalidade bola ao cesto juvenil e Milton Almeida, campeão brasileiro de 1953, na mesma modalidade. 

Hino - Adamastor F. Pereira compôs para o clube a marcha "Tumiaru", hino oficial da agremiação vicentina (Polianteia) . # 180




Roberto Mafaldo nasceu em Santos e veio residir em São Vicente em 1952. Morou muitos anos na Vila Margarida. Viveu nos tempos áureos vicentinos nos 30 anos de chumbo do regime militar e também do despertar do veranismo, que viveu intensamente como cidadão comum e grande personalidade da nossa cultura.  Essas marcas nunca conseguiram esconder e reprimir o temperamento alegre descontraído, dele e  dos vicentinos. Roberto foi criado nesse tempo de convívio difícil, mas sempre encarado com alegria, coragem e muita diversão. Sua carreira como funcionário público dos Correios - que sempre preservou com muita prudência- foi embalada também pela profissão de cabelereiro, que lhe permitia explorar e expressar a "Mafalda", sua personalidade mais profunda e autêntica, bem como sua criatividade artística e a personalidade extrovertida e libertária. Sempre muito querido e respeitado, soube se impor pela competência e oferecia em troca os melhores anos de alegria dos festejos do nosso carnaval. Foi o ídolo máximo do Bloco das Baianas (Babbahianas Sem Tabuleiro) sempre muito aguardado e celebrado respeitosamente  por todos foliões, das pessoas simples até as mais importantes autoridades públicas. Alegremente, Roberto é um mito e também patrimônio cultural da cidade.  Ainda vive entre nós, na velha São Vicente, entre inúmeras lembranças do passado e também na nossa recente história. # 181



Roberto Mafaldo, carteiro e cabelereiro, sempre dividido entre a discrição de funcionário público e o glamour artístico, ambos muitos populares. Acervo pessoal e registro de São Vicente de Outrora.


MAFALDA, A ESTRELA MÁXIMA 
DO BLOCO DAS BAIANAS


Quando falamos em Carnaval vicentino, imediatamente lembramos o mais popular bloco da cidade: o Bloco das Baianas e quando falamos no Bloco das Baianas, automaticamente vem o nome de Roberto Mafaldo, ou melhor, Mafalda, uma das figuras mais populares de nossa cidade e que durante quase 40 anos puxou e abrilhantou a famosa patuscada. Aqui ele nos conta sua trajetória em vários Carnavais passados. são relatos breves, mas repletos de emoção, que trazem à tona a magia dos verdadeiros Carnavais, onde a ordem era puramente brincar e se divertir.
Acompanhem:


A era dos foliões de rua entre os anos 1960 e 1980. Mafaldo e o Bloco das Baianas. Acervo pessoal e registro de São Vicente de Outrora.




DESDE A INFÂNCIA, 
UM INCONDICIONÁVEL AMOR PELO CARNAVAL

"O primeiro bloco que eu desfilei foi o Chineses do Mercado, que era o mais bonito e requintado do Brasil, melhor até que as escolas de samba do Rio. Saíamos do Mercado Municipal de Santos, pegávamos o canal da Vila Nova, descíamos a Conselheiro Nébias todinha e findávamos a folia no Gonzaga. Eu fui levado pelas mãos da minha irmã, ainda era era muito criança ,mas me lembro muito bem que minha primeira fantasia foi de pirata, então saí na Ala dos Piratas. Começava ali meu amor pelo Carnaval. Alguns anos depois, já crescido, passei a sair no tradicional Banho da Dorotéia. Fui coroado como a rainha do bloco. Meu amigo Jackson também. Não sei se ele está vivo, há muito tempo não o vejo.
 
Sabe qual foi minha primeira fantasia no Banho da Dorotéia? De Cleópatra. E era importada. Verdade. Importada de Nova York. Foi comprada na 10ª Avenida, em uma firma que comercializava figurinos adquiridos das grandes companhias cinematográficas dos States: Columbia Pictures, 20th Century Fox, Universal e outras. Quem comprava era uma grande amiga minha que me adorava e sempre vinha ao Brasil.

Nessa época e por anos e anos, além do Bloco das Baianas, eu desfilei em muitos outros blocos: um dos mais divertidos era Os Papacos, formados por gays, em boa parte gringos cheios do dinheiro; não era meu caso, infelizmente, mas era um sarro! Também desfilei nas Favoritas do Sultão, nas Dengosas do Marapé, Bloco das Misses e Agora Vai.
 
Sabe quem desfilava comigo em cima do caminhão do Agora Vai? O Cauby Peixoto. Ele vinha cantando com aquela voz linda e sempre me elogiava: 'Ai como você é bonito e não sei-o-quê...'

Até hoje me lembro da marchinha:

Agora vai/nossa turma, agora vai/
Vai ser pra nós/ nós queremos é farrear/
A nossa turma é da folia, é do barulho/
Carnaval é um embrulho/ quem não brinca, vai deitar

Ainda posso ouvir um homem que sempre vinha com um trombone tocando bem no meu ouvido! Ah, meu Deus! E eu tinha problema de ouvido e aquela coisa tocando, mas a alegria de desfilar era bem maior! Que coisa linda! Que Carnavais espetaculares!"



O LONGO REINADO EM SÃO VICENTE

"Depois de ser destaque no Banho da Dorotéia, em 1961, fui requisitado pra desfilar no Bloco das Baianas. A familia Sbravatti, o Toninho Campos, o Nelson da Prefeitura e o Pedro Pacheco fizeram questão que eu desfilasse também como destaque. E Carnaval após Carnaval fui puxando o bloco. Saíamos defronte ao portão do campo do São Vicente Atlético Clube, passávamos pela Rua Marquês de São Vicente, pela praça da Matriz e pelas ruas do Centro, às vezes, de um ano para o outro havia pequenas variações no trajeto daquelas ruas cheias de lojas, mas sempre desfilávamos pelas ruas do Centro. De um modo escrachado e com muita criatividade, sempre criticávamos as situações pelas quais a cidade e o Brasil estavam atravessando, mas tudo era brincadeira e diversão, e, muito ao contrário destes tempos modernos em que estamos vivendo, ninguém desrespeitava ninguém, não havia abusos e nem delitos de nenhuma espécie.
 
Depois do Centro, o bloco sempre descia a Frei Gaspar e terminava defronte ao Gáudio, mas ainda ficávamos por ali pulando, sambando e sorrindo até o meio da tarde. Ai, que saudade desses Carnavais!
O bloco era a minha paixão, a minha vida. Na véspera do desfile eu nem dormia de tanta ansiedade. Sabia que a maior parte ia pra ver a Mafalda? Até mesmo gente famosa: o saudoso e querido Pietro Ubaldi, grande historiador e igualmente grande espírita, saía de sua casa na Rua Amador Bueno da Ribeira e ficava sempre no comecinho da Frei Gaspar a esperar. 

Outro que me admirava era o Agnaldo Rayol, uma pessoa maravilhosa! E ele sempre me tecia os maiores elogios. Não me esqueço do querido Monsenhor Geraldo Borowsky, que sempre acenava pra mim lá da rampa da igreja.

Resumindo: eu brinquei um Carnaval melhor que o outro!

Mas o tempo foi passando, os comportamentos foram mudando e em 1999, percebi que a tradição do Bloco das Baianas estava quebrada, somando isso ao fato de que havia perdido minha mãezinha, me senti desestimulado e assim, aquele foi o último Carnaval em que a Mafalda esteve presente. Uma pena!"

E após tantas lembranças, veio a inevitável pergunta, seguida de uma sucinta resposta:
"Se eu tenho vontade de desfilar de novo? Um dia talvez eu volte, mas isso dependerá de uma série de fatores..."- completa nosso célebre amigo com um nítido timbre de tristeza em sua voz.




O Bloco Ba-Bahianas Sem Taboleiro foi criado em  1936 por um grupo de 60 foliões que saíram às ruas vestidos de mulher durante o carnaval, tradição muito comum nesses grupos. Inicialmente, o bloco era chamado de "Bahianas sem Taboleiro". Na década de 1960, o nome foi alterado para "Ba-Bahianas sem Taboleiro", em homenagem ao primeiro presidente do grupo, Alberto "Babá" Sbravati, falecido em 1957.  A partir de uma pequena iniciativa, o bloco cresceu e se tornou um dos maiores e mais esperados eventos do carnaval vicentino, atraindo milhares de foliões, não apenas da Baixada Santista, mas de toda a região. Em 2008, o bloco "Ba-Bahianas sem Taboleiro" foi alvo de debates culturais entre os conselheiros nas reuniões dos CONDEPHASVI sendo algum tempo depois reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade de São Vicente, em reconhecimento à sua longa tradição e importância histórica. O título sugerido pelo Conselho foi reconhecido oficialmente  pelos poderes municipais. A imagem registrou um desfile em 1959 na rua Frei Gaspar em direção à orla do Gonzaguinha. Destaque na imagem para a linha do bonde e as mansões entre as ruas Tibiriçá e Visconde do Rio Branco.  Acervo do IHGSV. #182

Desfile do bloco na esquina das ruas XV de Novembro com 13 de maio nos anos 1950. Abaixo reportagem do jornal Cidade de Santos em 1971.









É o autor do Marco-Padrão de São Vicente. Ricardo Severo da Fonseca e Costa (Lisboa, Portugal 1869 - São Paulo, São Paulo, 1940). Engenheiro, arqueólogo, arquiteto. Em 1891, participa da revolta republicana do Porto e é obrigado a emigrar para o Brasil. Em 1893, casa-se com Francisca Santos Dumont, irmã do inventor Alberto Santos Dumont (1873-1932) e filha do então rei do café, Henrique Dumont. Entre 1895 e 1897 regressa a Portugal e retoma as atividades como arqueólogo à frente da Portugália. Em 1908, diante de dificuldades financeiras, retorna ao Brasil. Em 1908, torna-se sócio do Escritório Técnico F. P. Ramos de Azevedo, estendendo o vínculo à Companhia Iniciadora Predial, à Companhia Cerâmica Vila Prudente e ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp), do qual é diretor entre 1928 e 1940. Filia-se ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) em 1911 e participa da criação da Revista do Brasil. Nessas e outras instituições e periódicos publica séries de artigos e conferências dedicadas a arqueologia, republicanismo, colônia portuguesa e arquitetura. Entre os  projetos tradicionais assinados pelo engenheiro estão: Casa Lusa, 1920/1924, Banco Português, Beneficência Portuguesa de Santos e Campinas, 1926, a restauração da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, e por último o projeto para o Congresso do Estado de São Paulo, 1929, aos quais se reúnem apoiados na bibliografia específica e na análise dos projetos, a Casa do Porto, 1900, a Casa Júlio de Mesquita, ca.1916, a Casa Praiana, 1921, o Pavilhão das Indústrias de Portugal, 1922/1923, a Casa José Moreira, 1926, a Sociedade de Cultura Artística, 1926, a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 1932 e a Casa Rui Nogueira, 1939/1940. Itaú Cultural. # 183

Uma das faces da base do Marco-Padrão erguido em 1932 nas Pedras do Mato, junto ao riacho Sapateiro. Juntamente com a Ponte Pênsil (1914), é o monumento mais conhecido e divulgado de S. Vicente. Foi idealizado pelo engenheiro e historiador português Ricardo Severo e construído pela colônia portuguesa da região. Foi inaugurado em 1933. # 184



Praia de São Vicente na década de 1920, ainda conhecida na região como Mahuá. Nos anos 1950, após uma reforma de embelezamento, a prefeitura tentou denominá-la Praia das Caravelas, nome que não vingou. A população vicentina, imitando o footing em moda na praia mais badalada da orla de Santos, passou a chamá-la de Gonzaguinha. Pegou.

Baseado no relato de Fernando Lichit no Boletim do IHGSV.



Geraldo Volpe (1927-2013) foi vereador por quatro mandatos consecutivos e presidiu a Câmara no biênio 1989/1990. Juntamente com o Prefeito Antônio Fernando dos Reis, foi um grande defensor do transporte público e funcional.  Sua defesa e empenho na construção de uma pista para veículos junto à Ponte dos Barreiros, por exemplo, foi a base do desenvolvimento da área continental. Volpe conseguiu a modernização do trem que ligava Samaritá ao Centro, Itararé e Gonzaga na direção  do Porto de Santos. Hoje esse trecho é ocupado pelo VLT São Vicente a Santos confirmando sua postura visionária  reconhecida em 13/9/2018, quando ele passou a emprestar seu nome ao sistema de transporte de massa do litoral: Complexo VLT Vereador Geraldo Volpe. Quando iniciou na vereança em 1973, o cargo era voluntário em uma honraria representar os cidadãos que lhe confiavam essa responsabilidade. Falecido em 26 de julho de 2013, aos 85 anos de idade, Geraldo Volpe trabalhou como comerciário no ramo de materiais para construção e na Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista (Sudelpa), antes de iniciar a carreira política em 1972. Foi presidente da Câmara Municipal de São Vicente na década de 1990.Levou melhorias a diversos bairros e, na década de 1980, chegou a presidir uma sessão solene da Câmara de São Vicente no tabuleiro da Ponte dos Barreiros em protesto contra a demora da conclusão de duas cabeceiras. Política como vocação e ética era o tom dessa época, compartilhada com outros grandes valores do serviço público vicentino. Deixou muitas saudades. # 185


Filho dos imigrantes espanhóis José Macia Vega e Clotilde Arias Yáñez, Pepe nasceu em Santos em 1935. Aos sete anos de idade, em 1942,  mudou-se com a família para  São Vicente, na Vila Melo e ali  com seu irmão, Mário, começou a praticar futebol nas equipes do bairro e arredores, como o Comercial e o Mota Lima. Aos dezesseis anos, Pepe ainda jogava no infantil do São Vicente AC quando Cobrinha, o goleiro do time que também defendia o infantil do Santos, o convidou para realizar um teste. No dia 4 de maio de 1951, Pepe pisou pela primeira vez no gramado de Vila Belmiro, e foi aprovado pelo técnico Salu. Como jogador, atuou como ponta-esquerda e é considerado um dos maiores ídolos da história do Santos, única equipe em que defendeu de 1954 a 1969. Com 403 gols marcados em 750 partidas, Pepe é o segundo maior artilheiro da história do Santos. Em 15 anos de clube (1954–1969), ganhou o apelido de "Canhão da Vila", por seu fortíssimo chute de esquerda. Realizou 40 jogos pela Seleção Brasileira e marcou 27 gols. Pepe possui uma longa carreira como treinador iniciada em 1969 nas categorias de base do Santos. Em 1973 dirigiu a grande equipe que conquistou o título paulista. Como treinador, teve cinco passagens pelo Santos. Dirigiu o Santos em 371 partidas, sendo o terceiro técnico que mais comandou a equipe praiana. Em sua passagem pelo banco de reservas do São Paulo dirigiu o time em 45 oportunidades. #186


Nascido em São Paulo e criado  São Vicente na Praça  João Pessoas (da Matriz), Emanuele Del Vecchio (1934-1995) iniciou sua carreira em 1954, defendendo o Santos , e fazendo parte do elenco que venceu o Campeonato Paulista em 1955 e em 1956. Jogou sua primeira partida internacional em 24 de janeiro de 1956, contra o Chile , marcando seu único gol pela seleção em 16 de junho de 1957, contra Portugal. Sua última partida foi em 10 de julho de 1957, contra a Argentina. Jogou também na Itália no Boca Juniors e voltou ao Brasil contratado pelo São Paulo FC, onde atuou em 1964 e 65. Fez 69 jogos (35 vitórias, 17 empates, 17 derrotas) e marcou 34 gols (25 desses tentos foram anotados em sua primeira temporada pelo time do Morumbi, em 41 partidas. Faleceu tragicamente alguns dia após ser alvejado por tiros de revolver numa briga de rua.  Deixou três filhos, Maria, Victor e César, seis netos e dois bisnetos. # 187.


Foto do Santos Futebol Clube em 1965. Em pé, da esquerda para a direita: Carlos Alberto Torres, Lima, Orlando, Gylmar, Oberdan e Zé Carlos Silvério. Agachados: Dorval, Mengálvio, Del Vecchio, Toninho Guerreiro e Abel.

 Emmanuel Del Vecchio em destaque esportivo num jornal italiano na década de 1960. 



HELENINHA, ZILA, CARMEM, JUCY E ELZA AS PRINCIPAIS CLEIDE, RUTH, MADALENA, DEISE KALIL, DEISE CARDIM E DILMA-  TREINADOR: NELSON "TIO DE BARROS. # 188

Dentro daqueles uniformes bonitos e curiosos que à primeira vista já impressionam, as garotas de São Vicente tomaram conta do ambiente cestobolistico bandeirante. E quando largaram da sua cidade para irem vencer a série colegial dos "Jogos da Primavera" do "Jornal dos Sports" no ano passado, conquistaram também as plateias cariocas, exercendo no Rio em toda a sua extensão, aquele enorme poder que têm sobre o público que assiste a partidas de bola ao cesto.

Um dia, não faz isso mais de três meses, as garotas foram a Sorocaba disputar a finalíssima do Troféu Bandeirantes, um dos torneios mais emocionantes pro.. movidos pelo Departamento de Esportes do Estado de São Paulo. Acabou-se, então o tabu de invulnerabilidade da turma sorocabana, pois as vicentinas alcançaram consagrador triunfo. Mas não é isso o mais importante. O mais importante é que aquela torcida de Sorocaba cantada por todos como a mais feroz do Interior paulista aplaudiu em peso as diabinhas de São Vicente e fez delas verdadeiras heroínas.  Não se pode negar; as meninas são simpáticas, de fato. Simpaticíssimas. Perdendo ou ganhando também perdem de seus lábios só sai aquele sorriso despreocupado de quem joga pelo prazer de jogar e para quem a derrota e a vitória são simples contingencias de disputas esportivas.

Suam as camisetas, jogam com fibra, empenham-se ao máximo em todas as disputas, fazem misérias com a bola e parecem pequenas "globetrotters" do bola ao cesto feminino. Heleninha é a principal "estrela". Simpática e alegre, na quadra é fenomenal. Encesta de longe, de perto, de qualquer jeito. Dá passos magníficos, é completa. Já não se tem dúvida de que seu nome, obrigatoriamente, estará entre os das cestobolistas convocadas para qualquer seleção paulista que se organize. Zilá aquele "monstrinho" que tem nos jogos um semblante de eterna zanga é também uma garota 100%. E como sabe jogar basquetebol! Olhe o leitor as fotografias que ilustram a reportagem.  Veja, por exemplo, aquele lance em que Zilá está em pleno ar, após receber um passe bonito de Heleninha, Lances assim se repetem em todas as partidas das vicentinas. Carmem como é bonita! tem qualidades enormes de grande cestobolista. Elza é uma grande "fominha", na mais pura acepção do termo. Bate bola como veterana, possui um controle excepcional e magnífico da "redonda". Jucy encarna com perfeição o espírito vicentino de amor à equipe. Em Sorocaba, com o joelho a lhe causar fortíssimas dores, fez questão de continuar na quadra até o fim. E garantiu a vitória do Praia Clube. Cleide tão bonita quanto a irmã, Carmem; tão simpática quanto todas as outras companheiras; tão sangadinha na quadra quanto Zilá - vem melhorando de dia para dia. Ruth, Madalena. Deise Kalil, Deise Cardim e Dilma, todas, enfim, têm as mesmas características todas são grandes garotas.

Jogam por São Vicente. Pertencem ao Praia Clube. mas também vestem a camiseta do selecionado da cidade, ou do Grêmio do colégio em que estudam. São as donas do basquetebol praiano de São Paulo. No ano passado tiraram dois honrosos terceiros lugares: no Troféu Bandeirantes e no campeonato da Liga Santista. Nos Jogos da Primavera, representando o Colégio, venceram a série colegial e deram um "show" de bola que conquistou os cariocas. Este ano foi mais pródigo, pois até agora conseguiram, além de uma série enorme de vitórias de menor vulto, aquele maiúsculo sucesso no Troféu Bandeirantes, cuja final foi disputada em Sorocaba. E conseguiram também, vencendo as mestras e veteranas de Santos levantar o campeonato da Liga Santista.

De onde surgiram? Como começaram a jogar basquetebol? Quem as descobriu? Não se sabe ao certo. Há quatro anos que elas vêm sendo preparadas. O técnico Nelson "Tio" Barros tem feito medonhos sacrifícios para dar-lhes sempre uma assistência completa. E tem sido feliz. As garotas só lhe dão alegria.

São umas "diabinhas" simpáticas. Muito simpáticas...

Dezembro de 1955


O INCRÍVEL BASQUETE FEMININO DE SÃO VICENTE. O Cenário era o SV Praia Clube, mas tudo teve início no C.R. Tumiaru. A reportagem parece ser de O Cruzeiro. Humberto Wisnik tem lembranças curiosas dessa época: "Como já coloquei, a Zilá Nepomuceno foi minha colega de classe no Martim Afonso em 1955 (3ª Série), não recordo se completou o ano ou se seguiu no Ginásio. Elas jogavam no São Vicente Praia Clube e Zilá e Heleninha (e não sei quais das outras mais) participaram da Seleção Brasileira em muitos Torneios e por um bom tempo. A Heleninha morava na Expedicionários Vicentinos e, como também fazia o Wlamir Marques, ela, à tarde, descia pelo muro dos fundos da casa com pão com manteiga na boca e vinha "bater bola" com a garotadado juvenil do Tumiaru. Muitas vezes a bola que ela tocava vinha com manteiga do pão que ela trazia".



Imigrante português e antigo morador de São Vicente. Foi chamado, com muito acerto, de "Bandeirante do Catiapoã", pelo muito que fez em prol do desenvolvimento e do progresso desse bairro, onde residia. Nas primeiras décadas do século XX ali se formaram vários núcleos residenciais com muitos nomes, como o Jardim Nosso Lar, Sá Catarina de Morais, Vila Sorocabana ou Vila Ferroviária e parte da antiga Vila Melo ou Vila Cascatinha. Era também a região do famoso Mangueirão, da Fábrica de Vidros, do Clube Hipíco e do Golf Clube. Dentre outras iniciativas que  tornaram Francisco Sopa credor de gratidão e do respeito dos munícipes vicentinos , inclui-se a doação do terreno destinado a construção do prédio do Grupo Escolar Municipal "9 de Julho", posteriormente E.E.P.G. Prof. Octvio de Cesare, localizado na rua Tenente Durval do Amaral. Marques Sopa Era casado com Eufrozina de Campos - conhecida como Dona Maria - e faleceu em maio de 1963. Muitos dos seus descendentes residem no bairro até os dias atuais. # 189.


O BANDEIRANTE DO CATIAPOÃ


Escola 9 de Julho no Catiapoã, construída em 1940 em terreno doado pelo morador e urbanizador Francisco Marques Sopa. Fonte: Relatório da Administração do prefeito José Monteiro em 1940.


SÃO VICENTE ANTIGO

AINDA VIVE O “BANDEIRANTE” DO CATIAPOÃ “CHICO SOPA” COM 86 ANOS

Texto: Edson T. de Azevedo. Foto: João Vieira. 

A Tribuna. Terça-feira, 26-3-1963, página 12. 


Os bairros Catiapoã e Praia Grande são os mais antigos de São Vicente. Vamos hoje falar do primeiro. Para tanto, tivemos que procurar o nosso amigo Francisco Marques Sopa, mais conhecido por  “Chico Sopa”. 

QUEM É CHICO SOPA

Nasceu em 14 de agosto de 1877 em (Portugal), sendo batizado na Igreja da Sé dessa mesma localidade, filho de Manoel Ferreira Fernandes e de Dona Maria da Conceição Clemência. Tinha 11 anos quando sua mãe o levou para Buenos Aires, onde já estava o seu progenitor à espera. Com a idade de 14 anos veio para São Vicente, aqui ficando até hoje. Se pais faleceu com 42 anos em 1933 atacado de febre amarela, sendo sepultado no cemitério de São Vicente, e sua mãe, casando-se pela segunda vez, em Santos, regressou para Portugal (Algarve).

COMPRA DE ÁREA

Em 16 de fevereiro de 1903, Francosco Marques Sopa comprou de Antônio de Almeida uma terça parte de terras, contendo mata, partindo todo o terreno ao Sul com a cerca de arame de José Joaquim de Azevedo(Seu Morgado) onde hoje está a Estação Sorocabana, e ao Norte com o rio do Bugre, compra essa pela importância de Cr$ 150,00, paga no ato, em cédulas. De “sisa” foram pagos Cr$9,90 ao administrador da Recebedoria de Rendas, José Carlos da Silva Teles, sendo fiél de tesoureiro Argemiro Pupo de Morais e escriturário Gustavo L. de Loyola.

A área na época de sua compra ia até a rua João Ramalho. Nessa ocasião (1903), a Southern São Paulo Railway estava estudando o corte para a estrada Santos-Juquiá.

Serviram como testemunhas da parte do Catiapoã, Cândido Alves de Campos e Rosalino Duarte (este último foi funcionário da Recebedoria de Rendas em Santos e escrivão de paz em São Vicente, quando fez o registro de nascimento do autor dessas linhas, em 1900, porém escrevendo “Hedysson”, ao invés de Edson). Era ajudante juramentado Rodrigo Prieto Rosado e tabelião Arlindo Carneiro Aguiar. Foi fiador da transação Antônio Emmerich.

PLANTAÇÕES

Logo que adquiriu as terras, “Chico Sopa” iniciou as plantações de  arroz, abacaxi, caju, bem assim na parte onde hoje está o Jardim Nosso Lar, plantou bananal. Perdeu tudo devido a uma enfermidade.

LUGAR DE CAÇADAS

O Catiapoã, antigamente, era o lugar preferidos pelos caçadores  de então. “Chico Sopa” enumerou-os: Eduardo de Freitas, Alberto Martins, os Richettis e Amadeu Horneaux.

LOTEAMENTO

Em 1949 iniciou o loteamento do Catiapoã, lotes de 10X30 e 10X40 a Cr$ 3.000,00 cada, mediante pagamentos mensais de Cr$50,00, reservando tão somente a sua moradia, à rua Salvador Malaquias Leal, 23, antiga Projetada 85.

Hoje o Catiapoã é um bairro bastante populoso, com boas residências, sobrados, bares, mercearias e padaria, campos de esportes e escolas. 

DOOU  O TERRENO  PARA O GRUPO 9 DE JULHO

Poucas são as pessoas que sabem dum gesto merecedor, de registro do Sr. Francisco Marques Sopa: a doação do terrenos à rua Tenente Durval do Amaral , onde hoje está funcionando o Grupo Escolar Municipal”9 de Julho”. A solicitação partiu do Dr. José Monteiro quando exercia pela segunda vez o cargo de prefeito. Houve nessa ocasião a abertura de duas ruas de acesso à avenida Persio  Queiróz Filho. O pedido do ”seu” Sopa não foi atendido, porém a escola foi inaugurada  e vem prestando relevantes serviços  há 25 anos.

SUAS ATIVIDADES

Começou a trabalhar em São Vicente como servente de pedreiro, com José do Carmo Neves(saudoso progenitor do conhecido desportista vicentino José do Carmo Neves Filho), construtor de obras nesta cidade e em Santos. Depois, durante 14 ano de La Platas, como pedreiro oficial, com Antônio Soares. Trabalhou por conta própria comprando carroça. , vendendo lenha. Aprendeu a ler e escrever em São Vicente, pois quando veio de Portugal era analfabeto. Em Buenos Aires foi carroceiro da Prefeitura em La Plata, e foi também copeiro. Acabando a revolução de 1890, embarcou em 1891 para São Vicente, onde já conhecia seu patrício José Inácio Teixeira foi ele um “bandeirante”, agente do Correio (pais dos esportistas Adão, José, Antero e Bernardo Teixeira). Tomou parte no Grêmio Recreativo “Triunfo”, aos 18 anos. Nos festejos carnavalescos foi o “General” do Internacional de São Vicente.

“Chico Sopa” tem cinco filhos. Com pouca visão, não pode dar caminhadas a pé. Entretanto com a memória, recordou fatos interessantes do passado vicentino. O progresso do Catiapoã deve-se em parte a esse cidadão, pois,  foi ele um “bandeirante” do populoso bairro onde moramos. 




Francisca Antônia Lovely Plauchut nasceu na cidade de Espírito Santo do Pinhal a 30 de dezembro de 1898, fi-lha de Joseph Marie Edmond Plauchut, de nacionalidade francesa ás da aviação na França e no Brasil, tendo -trazido desmontado o seu avião para o Brasil, onde fez diversas exibições no Rio de Janeiro e na cidade de San tos, nos idos de 1906 a 1914. Sua mãe, Dona Carolina Paes Plauchut, de tradicional família paulista, era descen-dente de João Ramalho. Orfă de pai aos 16 anos, assumiu a chefia da família, começando a trabalhar, dando aulas particulares. Em 1917 foi nomeada professora substitu-ta do Grupo Escolar Cesário Bastos. En 1921 foi nomeada professora efetiva do Grupo Escolar de São Vicente (Escola de Povo), hoje EEPG Zina de Castro Bicudo, en-de trabalhou ate a sua aposentadoria, após 33 anos de efetivo exercício. Muito alegre, vivia com simplicida-de, dedicando muito amor à sua familia e aos seus alu-nos, que a adoravam. Extremanente piedosa e carinhosa, nem a propria família sabia de seus atos de bondade, fa tos esses que somente vieram ao conhecimento da fami-lia através das pessoas que por ela foram beneficiadas. O que a mão direita dava, a esquerda não sabia. Sua ir nã, De Maria Izabel Plauchut de Amorin, era casada com o Dr. Pompeo de Amorin, alto funcionário da Prefeitura Municipal de São Vicente, ambos falecidos. Deixou sobrinha, Maria Helena Plauchut de Amorim Ferreira de Moraes, casada com o Sr. Antônio Ferreira de Moraes Neto. Lovely faleceu a 11 de setembro de 1972. Está sepultada no CEmitério Muncipal de São Vicente.
Fonte: Guia de Ruas de S. Vicente. Narciso Vital de Cavalho, 1978. # 190.


Lovely Plauchut com familiares em sua residência . O local era um sobrado que ela morava ao lado da Delegacia de Polícia em SV,  no caso da foto Av XV de novembro No 517, atual Mercado Fiel Barateiro. Acervo de Paulo Ferreira, sobrinho de Lovely:

 1ª Lovely Plauchut . 2ª Monsenhor Cintra Paez de Alcântara, tio avô. Exerceu o sacerdócio por muitos anos em Petrópolis/RJ. Foi historiador da Igreja. 3ª Criança sou eu Antônio Paulo de Amorim Ferreira de Moraes. 4ª Meu pai Antonio Ferreira de Moraes Neto, hoje com 95 anos, está vivo. 5ª Minha irmã Maria Isabel Amorim Ferreira de Moraes. Hoje com nome de casada Maria Isabel Toledo de Oliveira.


Marie Josetph Edmond Plauchut, nasceu em Angoulême/França.  Na juventude alista-se na Legião Estrangeira, período em que passou antes de vir ao Brasil. Quando  chegou no Brasil apaixonou-se loucamente por  pela jovem Carolina Paes, uma linda brasileira do interior de Santo Antonio do Jardim/SP, e comentava sobre as cartas e bilhetes de amor que ainda os guardava. Dessa paixão segue o casamento passou a se chamar Carolina de Oliveira Paes Plauchut, que deixou duas filhas Isabel Plaucht e Lovely Plauchut. Esta última tornaria-se uma destacada educadora da Escola do Povo em São Vicente.

Da França, Edmond trouxe nada menos que um motor Bleriot XI com motorização Anzani de 50hp esse pequeno motor conseguia levantar sua pequena aeronave de bambu, uma das aeronaves foi construída dentro de casa e as asas... é pasmem, saiam para fora das janelas. Uma das aeronaves que construiu em 1910 após ser sofrer alguns ajustes fez história no Rio de Janeiro onde após “alguns vôos” entre eles um Reid promocional foi fundado o primeiro Aero Clube do Rio.

Edmond construiu alguns aeroplanos, pequenos planadores muito parecidos com as asa-delta ao menos em tamanho e forma de alçar vôo e engenhocas a motor, como um primeiro pedalinho motorizado. 

# 191.

***


O PRIMEIRO VÔO COMLETO PELA BAÍA DE SANTOS 


Enfim, chegava o dia 13, uma segunda-feira, a grande data do voo oficial. O céu amanheceu envolto em uma névoa tênue, gerando um véu difuso sobre os morros do Itaipú e da Ponta Grossa, rota do voo de Plauchut.

Nas praias, os banhistas entregavam-se ao alvoroço matinal—alguns já desafiavam as ondas, mergulhando na espuma revolta; outros permaneciam na areia, contemplando o oceano. Entre os entusiasmados homens, estava o aviador Edmond Plauchut, prestes a desafiar os céus com seu Blériot. De todos os cantos do Gonzaga, surgiam espectadores, formando uma multidão silenciosa e expectante.

O mecânico Akary, vindo da Europa para auxiliar Plauchut, realizou a última inspeção na máquina. A esposa do aviador francês, a brasileira Carolina de Oliveira Paes Plauchut, ao lado da  filha, a pequena Lovely, permanecia imóvel, as mãos unidas sobre o peito, cercada por amigos do aviador.

Apenas Plauchut exibia um sorriso calmo. Postado sobre o dorso de seu grande pássaro, deu as últimas instruções. O aviador ergueu a mão. Os auxiliares soltaram o avião. O Blériot, leve e gracioso como um pássaro em primeiro voo, iniciou sua corrida sobre a areia. Avançou apenas alguns metros antes de erguer-se, sutilmente, balançando como se testasse suas asas. Lá no alto, o Blériot flutuava. Plauchut manejava os controles com destreza, elevando-se na direção dos morros do José Menino e do Itararé. Foi mais além, na direção da Praia Grande, quando, de repente, desapareceu.

Uma pequena névoa o engoliu sem aviso. O céu, antes cortado pelo rastro da máquina, agora se fechava em um silêncio inquietante.

— Onde está? Vocês o veem? — perguntavam-se as pessoas na areia da praia, aflitas.

O alvoroço foi imediato. Palavras não bastavam para expressar o êxtase do momento. Madame Plauchut chorava de emoção. Lovely batia palmas, saltava, ria. Os amigos do aviador o cercaram, abraçando-o entre exclamações de triunfo.

Os auxiliares tomaram o Blériot e o conduziram de volta ao hangar. Plauchut, ainda vibrando com a emoção da façanha, subiu ao terraço do Parque, onde brindou com champagne, celebrando a conquista dos céus sobre a terra de Bartolomeu Lourenço de Gusmão.

O voo durou exatamente 11 minutos e 42 segundos. A hélice havia girado a 1.200 rotações por minuto. O espetáculo havia terminado, mas Plauchut ainda iria fazer mais um voo, pelo prêmio e para autoridades. 

Resumido de Sergio Willians (Memória Santista)



 Herança da época áurea das exportações de café pelo porto santista, e uma das primeiras casas não-geminadas de Santos, a edificação que abriga a Pinacoteca Benedito Calixto desde o final do século XX tem detalhes arquitetônicos clássicos misturados com art nouveau.Situada na Av. Bartolomeu de Gusmão, e conhecida como Casa Branca da praia, pertenceu à família Pires. (Novo Milênio).# 192

OCUPAÇÕES. Dentre as diversas famílias está a de Anton Carl Dick, alemão, proprietário do curtume na região, que por volta de 1908, constrói, em um terreno de 6.600 m2, no nº 12 da antiga Avenida da Barra, à beira mar, sua residência, na qual vive por três anos. Vende, em 1911, para Francisco da Costa Pires, português, exportador de café, que mora com sua a família até 1913, quando precisa comercializar o imóvel por motivos financeiros.

Em seguida, a casa é ocupada pelo Asilo dos Inválidos, que permanece no casarão por um período de oito anos. No ano de 1921, Pires readquire o Casarão, reformando-o inteiramente, passando a casa a ter aparência e a forma atual. Foram dois anos de remodelação, empregando elementos ornamentais em estilo art nouveau, mármore Carrara na escadaria, ferro maciço nos corrimões, vitrais no alpendre e na varanda das salas, executados pela Casa Conrado de São Paulo, pinturas decorativas, e na parte externa, jardins em estilo francês, com bancos, pérgolas e uma fonte decorativa na lateral direita da casa.

DA DECADÊNCIA AO RENASCIMENTO – Entre 1923 a 1935, foi um período de pujança, porém 1936 a residência é vendida para Companhia Sul América de Capitalização, e transforma-se, por dois anos, em pensionato para moças. Posteriormente é adquirida pelo sr. Antonio Canero, espanhol que enriquecera com negócio de ferro velho. A família reside até 1978, neste interím falece o sr. Canero, levando à divergências o futuro do imóvel. A Prefeitura intervém, e em 9 de outubro de 1979, é declarada de utilidade pública para fins de desapropriação pelo prefeito Carlos Caldeira Filho, todavia não houve um consenso entre os herdeiros e a municipalidade, ocasionando o abandono do Casarão, tornando-se um cortiço, onde viveram cerca de 24 famílias.

Novamente a Prefeitura intercede e são estudadas diversas sugestões para a utilização do casarão, tais como: sede da Câmara Municipal, Balneário Municipal, sede da Secretaria de Turismo ou espaço para atividades culturais. Em 1986 decide-se que no imóvel seria instalada a Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto. Após o restauro do edifício, com as adequações necessárias para abrigar espaços expositivos e para atividades culturais, a instituição é inaugurada em 04 de abril de 1992. Em 13 de dezembro de 2012, o imóvel é tombado pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos – 

CONDEPASA, por sua representatividade arquitetônica, como o último dos casarões existentes na região da época áurea do café.
Hoje a sede da Pinacoteca Benedicto Calixto, também conhecida como Casarão Branco é uma referência cultural para Santos e região. (Protagonismo Cidadão). 2021

FUNDAÇÃO. A Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, instituída segundo a Lei nº 154, de 28 de maio de 1986, é gerenciada desde 2003 por uma associação de amigos da Pinacoteca Benedicto Calixto. A instituição recebe o nome de Benedicto Calixto em homenagem ao pintor que dedicou tanto tempo retratando e estudando Santos e a região.  Seu objetivo é difundir e estimular a produção artística em geral, especialmente as artes plásticas; reunir, classificar, catalogar e expor convenientemente obras plásticas consideradas de alto nível estético e representativas de sua época; conservar e restaurar obras de arte; promover estudos e pesquisas relacionados à defesa das artes plásticas no município de Santos; manter serviços e atividades culturais permanentes, constituindo um centro dinâmico de estudo das artes em geral no município de Santos.

ACERVO. Atualmente, o acervo artístico conta com 227 telas, sendo 127 de Armando Sendin, 62 de Benedicto Calixto, 01 de Pedro Alexandrino, 02 de A. Fernandes, 02 de Sizenando Calixto, 01 de Angelo Cantú, 01 de Salvador Rodrigues Jr., 02 de Atayde Mestieri Chammas, 01 de Gilberto Winter, 01 de Accindino Andrade, 01 de Niobe Xandó, 01de Percy Lau, entre outros artistas, além de 51 cerâmicas de Armando Sendin.

O acervo inclui também objetos pessoais e de pintura de Armando Sendin e Benedicto Calixto, como caixas de tintas, pincéis, fotografias, etc.








Velha Casa de Martim Afonso. São Vicente.

Pinturas e cerâmica de Armando Sendin. 


Ruínas de Santana de Acarahu- São Vicente


Maria Bonita e Lampião são figuras clássicas da “marginalidade” brasileira registradas no livro “Bandidos”, do historiador britânico Eric Hobbsbawm. A obra explica sua conhecida tese acadêmica sobre o chamado "banditismo social". Nela, essas duas figuras, assim como todo o universo do cangaço, povoa o  imaginário popular em diversos aspectos, condenando ou exaltando -de forma de reacionária ou heroica- essas personalidades, ecoando também como culto místico-religioso. É uma clara resposta aos anseios contra o preconceito e a opressão , espalhada no Brasil  principalmente pelos retirantes e migrantes nordestinos. Em São Vicente, por exemplo, essa mística devocional ao cangaço, assim como outras manifestações,  encontrou eco nos bairros simples por meio de médiuns populares. Na região do Dique das Caixetas, nos anos 1980, foi muito famosa e cultuada a própria “Maria Bonita” cujo aparelho mediúnico - vestida à caráter - atendia ali aos anseios espirituais dos moradores e visitantes. Nas cidades do interior – e aqui no litoral - esse fenômeno ocorre também através da manifestação do “Boiadeiro” e muitas outras entidades legendárias desse universo. # 193. 


ÂNGELA JA ESTÁ EM LIBERDADE. Já está em liberdade, mediante pagamento de fiança, a curandeira Francisca Cezário, a “Ângela, a Santa” que foi presa pela Polícia de São Vicente. O maior problema encontrado pelas autoridades, é o elevado número de pessoas que querem depor em favor da mulher, a maioria afirmando ter sido curado por ela. Já foram tomados depoimentos de mais de 10 pessoas e outras deverão comparecer à Delegacia vicentina na segunda-feira. Contudo Ângela a Santa, está proibida pelas autoridades policiais, de continuar atendendo os que a procuram.Enquanto várias pessoas defendem Ângela, a Polícia mantem reservas sobre os poderes que ela diz possuir. Contudo, em face do grande número de pessoas que se dizem curados por ela, o delegado Ayrton Martini de terminou o maior rigor durante as investigações.
ESPIRITOS. Apesar de analfabeta, Ângela possui uma maneira toda especial para falar ás pessoas, tendo grande facilidade em convence-las. Muito humilde e chamando a todos de senhor, ela vai contando a sua estória e no final a maioria acaba acreditando. Ela impressiona pelo seu alto poder convincente. "Há tempos eu estava doente, quando tive uma visão. Um homem que dizia ser um médico, disse-me que a partir daquele instante estaria orientando-me, para que eu pudesse curar as pessoas, através de orações". Concluindo sua narração, Ângela disse que tão logo ficou curada do mal que a prendia na sua cama. começou a missão Sempre trajada de branco, com mascara de médico Ângela atendia a quantos a procuravam, depois a sua fama cresceu e a clientela aumentou, então "eu tive que marcar horário de trabalho, do contrário teria que trabalhar dia e noite".
Para rebater as afirmações de que Ângela é uma santa. a polícia conta com um laudo de laboratório, afirmando ser fígado de galinha, o que a curandeira afirmou ter sido extraído de uma paciente. As investigações prosseguem e a população acompanha com vivo interesse o desenrolar dos acontecimentos. alguns afirmando. "também o Zé Arigó apesar de provar e comprovar a sua capacidade para curar as pessoas, foi preso e perseguido. É uma provação que eles têm que passar". Outro popular não identificado, declarou que "dona Ângela curou minha mulher e se ela precisar eu pagarei as custas do advoga do para defendê-la. Cidade de Santos, 11 de março de 1972. # 194


Edson Arantes do Nascimento era mineiro de Três Corações (1937). Apesar do apelido ter sido inventado por volta de 1947, o nascimento de Pelé deu-se na tarde de 16 de julho de 1950, enquanto ouvia em Bauru (SP) a transmissão da final da Copa daquele ano, entre Brasil e Uruguai. "Foi um dos dias mais tristes da minha infância. A festa já estava preparada, todos achavam que o Uruguai não tinha chances, ainda mais jogando no Maracanã. Quando terminou o jogo e eles venceram (2 a 1, de virada), senti como se tivesse perdido um parente. Ao mesmo tempo, veio uma sensação gozada, de não querer que aquilo se repetisse mais. Foi aí que decidi ser um jogador que fizesse diferença, que trouxesse a alegria que os uruguaios nos roubaram daquela vez. Foi aí que o Pelé realmente começou”. 
A carreira só foi concretizada a partir da união com João Havelange no final dos anos 1960, como trampolim para presidência da FIFA e que culminaria com a ida de Pelé para o New York Cosmos em 1976. O começo dessa trajetória profissional meteórica teve início com a transferência da família do jogador para o litoral que, segundo alguns teria se fixado inicialmente no bairro Voturuá - S.Vicente- de onde  o jogador seria transferido para uma pensão em Santos, de propriedade do conhecido empresário Pepe Gordo. Adaptado de Folha de São Paulo. # 195



RUÍNAS NO ENGENHO DE JERÔNIMO LEITÃO (PORTO DAS NAUS) - Mais conhecidas como Porto das Naus. As ruínas que ali existem datam de 1615. O engenho foi construído em 1580, sobre as ruínas do primeiro trapiche alfandegado do Brasil, construído em 1532. Defronte a estas ruínas existe o local da antiga Igreja Nossa Senhora ou Santa Maria das Naus, construída em 1552. Juntamente com o engenho foi destruída pelos corsários holandeses comandados pelo famoso pirata Joris Van Spilbergen. Essas terras pertenceram primeiro ao bacharel Cosme Fernandes; depois de 1532 a Pero Correa e mais tarde ao governador ou capitão-mor Jerônimo Leitão. Foi ele, por duas vezes consecutivas, capitão-mor de São Vicente, de 1573 a 1580 e de 1583 a 1592. Localiza-se à Avenida Tupiniquins, logo depois da Ponte Pênsil, sentido São Vicente-Praia Grande. # 196




José Valdir Lanza  era filho do empresário Vitório Lanza e da educadora Maria Ottília Pires Lanza, fundadores da Escola e Faculdade Monte Serrat, em Santos. Foi um dos criadores e  presidente da União Brasileira Educacional (UNIBR). O grupo  entrou em São Vicente em 2006, quando adquiriu a Faculdade Integração ampliando as instalações e cursos superiores , saltando de 300 para cerca de 2 mil alunos. O centro universitário abrangia três endereços: a avenida Capitão-mor Aguiar,  rua Sorocabana e rua Visconde de Tamandaré. Lanza era publicitário formado pela Universidade Católica de Santos, pós-graduado pela ESPM- Escola Superior de Propaganda e Marketing. Fundou e dirigiu também Fundador  a Educa Comunicação Educacional, em São Paulo e  agência publicitária Êxodo, na cidade de Santos, No Semesp, sindicato de escolas superiores, ocupou vários cargos em diversas diretorias da entidade. Faleceu em 2022 aos  57 anos em um acidente na avenida Perimetral do Porto  de Santos deixando esposa e três filhas. # 197.


Exmo. Senhor.
Venho, pela presente, comunicar-lhe que tendo recebido dos Snrs. Drs. Luiz Silveira, Adelino Leal e Antenor Paz, a proposta para fundir o meu Colegio São Paulo com o modelar Ginasio que se propunham fundar, considerei, primeiramente, o interesse dos alunos. Entre as vantagens que lhes adviriam dessa fusão, ressalta o fato de poderem completar a educação no mesmo estabelecimento, não sofrendo assim os prejuízos consequentes de alterações no método de ensino ou no sistema de educação. Reconhecendo, tambem, a importancia do empreendimento e, principalmente, a relevancia dos nomes que o encabeçam, deliberei aceitar o honroso convite para cooperar na realização de um justo desejo do povo vicentino.

Dess’arte, a 22 de janeiro de 1939, será inaugurado o sucessor do “Colegio São Paulo”, o “Ginasio Martim Affonso”, que será dirigido pelo Snr. Dr. Luiz Silveira, homem cujas altas qualidades morais e intelectuais prescindem de qualquer referencia minha, visto serem sobejamente conhecidas pela sua atuação, não só no magisterio superior , como na imprensa, e nos elevados cargos que tem desempenhado.

Farão parte, também, da Diretoria, os srs. Dr. Adelino Leal, ex-Diretor do Laboratorio Bromatologico do Estado de São Paulo e fundador dos Ginasios Oswaldo Cruz e Minerva e Antenor Paz, cuja cultura já é bastante conhecida em nosso meio. O Curso Primario continuará sob minha direção, e o ensino será ministrado pelas mesmas professoras. Assim poderão os alunos usufruir de todos os melhoramentos que serão introduzidos, e receberão a instrução por métodos pedagogicos já experimentados e eficientes.
Assim sendo, espero que o “Ginasio Martim Affonso” continue a merecer-lhe a preferencia, pois, auxiliada pelos valiosos elementos aos quais me associei, sinto--me mais capaz de corresponder á confiança com que V. Exa. Sempre me honrou e mais apta a atender-lhe a justas exigencias relativas á instrução e educação de seus filhos.

Respeitosas saudações

Zina De Castro Bicudo  # 198



A Torre de Belém, antigamente Torre de São Vicente a Par de Belém, oficialmente Torre de São Vicente,[é uma fortificação localizada na freguesia de Belém, Município e Distrito de Lisboa, em Portugal. Na margem direita do rio Tejo, onde existiu outrora a praia de Belém, era primitivamente cercada pelas águas em todo o seu perímetro. Ao longo dos séculos foi envolvida pela praia, até se incorporar hoje à terra firme. Um dos ex libris da cidade, o monumento é um ícone da arquitetura do reinado de D. Manuel I, numa síntese entre a torre de menagem de tradição medieval e o baluarte moderno, onde se dispunham peças de artilharia. Ao longo do tempo, a torre foi perdendo a sua função de defesa da barra do Tejo e, a partir da ocupação filipina, os antigos paióis deram lugar a calabouços. Nos quatro pisos da torre, mantêm-se a Sala do Governador, a Sala dos Reis, a Sala de Audiências e, finalmente, a Capela com as suas características abóbadas quinhentistas. A Torre de São Vicente (1514) pertence a uma formação de defesa da bacia do Tejo mandada erigir por João II de Portugal, composta a sul pela torre de São Sebastião da Caparica (1481) e a oeste pela Torre de Santo António de Cascais (1488).

O monumento destaca-se pelo nacionalismo implícito, visto que é todo rodeado por decorações do Brasão de armas de Portugal, incluindo inscrições de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais características remetem principalmente à arquitetura típica de uma época em que o país era uma potência global (a do início da Idade Moderna). Juntamente com o Mosteiro dos Jerónimos, foi classificada em 1983 como Património Mundial da UNESCO e eleita como uma das Sete Maravilhas de Portugal em 2007. Em 2015 foi visitada por mais de 608 mil turistas. Em 2022, registou 377.780 entradas, sendo um dos monumentos mais visitados do país. # 199





A Torre do Tombo é de uma das instituições mais antigas de Portugal. Foi nela onde foi encontrada e reproduzida os Diários de Pero Lopes de Souza, que contém o registro da fundação da Vila de São Vicente em 1532. Também ali está a Carta de Pera Vaz de Caminha, registro oficial do Descobrimento do Brasil em 1550, pela expedição de Pedro Álvares Cabral. 

Desde a sua instalação numa das torres do castelo de Lisboa, ocorrida provavelmente no reinado de D. Fernando e seguramente desde 1378, data da primeira certidão conhecida, até 1755, prestou serviço como Arquivo do rei, dos seus vassalos, da administração do reino e das possessões ultramarinas, guardando também os documentos resultantes das relações com os outros reinos.

Além de servir a administração régia, com funções semelhantes às de um arquivo intermédio dos nossos dias, o serviço mais importante prestado pela Torre, foi o das certidões, solicitado pelos particulares e pelas instituições. Mediante autorização régia, facultou a consulta e mesmo o empréstimo de documentos, a alguns estudiosos, cujas obras foram depois impressas.

No século XVII, começou a ser organizado o Arquivo do Arquivo, surgindo os primeiros livros do seu registo, fizeram-se alguns índices. No século XVIII, o crescente número de certidões solicitado à Torre do Tombo, onde avultam as pedidas pela Academia de História, fez aumentar o número dos seus oficiais. Neste século, no âmbito da descrição dos documentos, realizaram-se numerosos índices, indo ao encontro da necessidade de se conhecerem os documentos e de se criarem os instrumentos de pesquisa necessários à sua recuperação: este trabalho iniciou-se e decorreu, em boa parte, no edifício da torre do castelo: assim foram elaborados a maioria dos índices das Chancelarias régias (1715-1749), das Leis e Ordenações (1731), das Bulas (1732), dos moradores da Casa Real (entre 1713 e 1742), o inventário das Bulas, Breves e trasuntos pontifícios (1751-1753).

No dia 1 de Novembro de 1755, a torre ruiu durante o terremoto que devastou Lisboa. A documentação foi recolhida dos escombros, e guardada, temporariamente, numa barraca de madeira, construída na Praça de Armas, após autorização do Marquês de Pombal, datada de 6 de Novembro. Em 26 e 27 de Agosto de 1757, foi transferida para uma parte do edifício do Mosteiro de São Bento da Saúde, da lado da Calçada da Estrela, ocupando as instalações designadas por Casa dos Bispos e compartimentos contíguos, que foram arrendados ao mosteiro. Houve então que proceder à sua instalação, e à sua organização: os maços da Casa da Coroa, foram organizados em colecção do Corpo Cronológico, e em colecção dos Fragmentos. Os oficiais do arquivo fizeram várias cópias de documentos, nomeadamente, a Reforma das Gavetas, a Reforma dos Forais Antigos, e a colecção de Cópias, tendo continuado o trabalho de descrição de documentos de que resultaram os índices do Corpo Cronológico (1764), os sumários e índices dos documentos das Gavetas (1765), os índices dos livros das Ementas (1765), os índice dos maços das Moradias e dos Ofícios da Casa Real (1767, 1770), o inventário dos documentos da Casa da Coroa (1776). Alguns destes instrumentos de descrição, podem ser ainda hoje consultados no Serviço de Referência.

A partir de 1777, pelo Regimento de 1 de Agosto, os livros de registo das mercês dos reinados findos, estavam obrigados a dar entrada na Torre do Tombo. Em 1791, por Aviso de 5 de Fevereiro, o Registo Geral de Mercês foi transferido para a Torre do Tombo, mantendo-se a funcionar nesta instituição até 1927. escreve sobre o papel histórico de São Vicente na história do Brasil.

No início do século XIX, as atribuições do Arquivo alargaram-se à formação de funcionários e ao ensino da Diplomática, concretizada na criação da Aula de Diplomática. # 200




Viriato Correia (Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho), jornalista, contista, romancista, teatrólogo e autor de crônicas históricas e livros infanto-juvenis, nasceu em 23 de janeiro de 1884, em Pirapemas, MA, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 10 de abril de 1967. Era filho de Manuel Viriato Correia Baima e de Raimunda Silva Baima. Ainda pequeno, foi para a capital do Maranhão para ingressar nos ensinos primários no Colégio São Luís e, posteriormente, no secundário, no Liceu Maranhense. A escrita começou aos 16 anos, com poesias e contos. Mudando-se para Recife, após o curso preparatório, ingressou na Faculdade de Direito, que cursou por três anos. Completou o curso de Direito no Rio de Janeiro em 1907, mas trabalhou pouco como advogado. Viriato se destacou na literatura, no jornalismo e na carreira política. Por intermédio de Medeiros e Albuquerque, conseguiu um emprego no jornal Gazeta de Notícias. Contribuiu, ao longo dos anos, com vários jornais, como o Jornal do Brasil, Correio da Manhã, além de revistas como a A Noite Ilustrada e a Tico-Tico. Foi também fundador de dois jornais, o Fafazinho e A Rua.  Em As Belas Histórias da História do Brasil registrou o papel e a primazia história de São Vicente. Ingressou na política em 1911, onde foi eleito deputado estadual no Maranhão e pelo mesmo estado foi deputado federal em 1927 e 1930. Acabou afastando-se da política em 1930 ao ser preso pela Revolução de 1930 e seguiu para a literatura, onde escreveu romances, peças teatrais, livros para crianças e crônicas históricas. # 201


Antônio de Oliveira Passos Sobrinho nasceu em São Sebastião a 24 de abril de 1876. Depois de trabalhar na Coletoria do Estado em sua terra natal e de lecionar no bairro sebastianense de Pontal da Cruz, veio para Santos em 1901, aqui constituindo família, de que foi chefe exemplar. Professor na Escola Noturna, em Vila Matias, mantida pela Prefeitura, transferiu-se para o grupo escolar que funcionou na Rua 2 de Dezembro, hoje D. Pedro II. Em 1919, acometido de séria enfermidade, deixou o Magistério, aposentando-se. Foi também funcionário da Companhia Docas de Santos, onde desenvolveu funções de praticante de escriturário, encarregado do Expediente, secretário da Superintendência e despachante. Mais antigo professor municipal de Santos, Antônio de Oliveira Passos Sobrinho faleceu em 1970 com a idade de 94 anos. A Escola Pré-Primária situada na Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, esquina da rua 28 de Setembro, inaugurada a 31 de maio de 1972, pelo interventor federal, general Clóvis Bandeira Brasil, recebeu o nome do saudoso educador, de conformidade com o decreto 3.952, de 9 de fevereiro de 1972. # 202

Fonte: RODRIGUES, Olao. Veja Santos!, 2ª edição, 1978. Ed. do autor - pág. 78/79. Novo Milênio.

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Como é de nosso hábito, mais uma visita fizemos hontem, domingo, a vizinha cidade de S. Vicente, - a cellula-mater" da nacionalidade brasileira.
Manhã clara, cheia de sol e de temperatura agradável, convidava memo a gente a um passeio por aquelles lindos recantos da terra vicentina.
E. assim, para o fim em vista, tomamos na praça o bonde 13, saltando no José Menino, em frente ao Grande Hotel Internacional e o Emporio Alonso, e ali aguardamos a passagem do bonde 2, que nos levou até o porto do Tumyaru.
Ali saltando, tomamos logo a direcção da avenida Newton Prado, a mais pittoresca de S. Vicente, e, depois de termos saboreado um duplo de boa garapa no "Recreio Guarany", fomos contornar a outra avenida que circunda o Morro dos Barbosas, (da Biquinha), já agora toda asphaltada e offerecendo um bellissimo aspecto. Em toda a sua extensão desde a Ponte Pensil, que se observam all lindos panoramas, principalmente do outro lado do mar, onde se accumulam lindas e pittorescas vivendas de recreio, nas fraldas e nos altos dos morros e também à beira das duas pequeninas praias ali existentes, - todas ladeadas ou circundadas de arvores frondosas, taes como umbaúbas, canivetes. taquarussus, palmeiras, etc., etc., formando verdadeiros bosques para recreios e piqueniques.
Tudo ali é de attrahir ao visitante: o canto dos periquitos, das juritys e dos sabiás nos ramos mais altos dos arvoredos; a vegetação silvestre e o seu odor agradavel; o mar com as suas ondas se desfazendo sobre as pedras e o cheiro activo de marezia; as suas pequeninas praias; o porto do Tumyarú com as suas coluñas e laga-mares, estes, até então, abundantes em "bribigão". E, hoje, sem nenhum; os seus mangues infindáveis; o monumento de granito a João Ramalho, e, por ultimo, a Biquinha de Anchieta, sempre repleta de visitantes!
A linda e encantadora praia de S. Vicente, formando uma perfeita curvilinea, ajardinada e iluminação a capricho; as suas extensas avenidas, ruas e praças, - todas arborizadas e bem cuidadas; o seu mar sempre bonançoso e repleto de banhistas, ora na praia fazendo exercícios de cultura physica, ora nos  trampolins exercitando a natação, - tudo isto é o que se observa, principalmente aos domingos e feriados, em toda a orla marítima vicentina, inclusive a Ilha Porchat.
E' para lamentar que os turistas que desembarcam em Santos conheçam a cidade de S. Vicente de passagem pela sua praia, pois os automóveis que os levam à Praia Grande e Ponte Pensil, regressam a Santos, pelo mesmo caminho que é o da avenida que contorna o Morro dos Barbosas, quando deviam regressar pela avenida Newton Prado de modo a ficarem conhecendo também o centro da primeira cidade fundada no Brasil e a sua tradicional Igreja Matriz, - uma das mais antigas existentes.
Para isto, seria necessário que a Prefeitura local mandasse fazer naquella avenida, a Newton Prado, o mesmo trabalho já realizado na do Morro dos Barbosas, e que, em seguida, ordenasse a volta dos automóveis por ali, tanto os de cargas como os de passageiros.
Notamos que a grande avenida que começa no José Menino, atravessando toda a praia do Itararé e alcançando a avenida Presidente Wilson em S. Vicente, está quase toda construída de lindos e vistosos palacetes, pouco faltando para ficar intimamente ligada a Santos!
Depois de termos percorrido as principaes ruas, avenidas e praças de S. Vicente resolvemos voltar a Santos pelo bonde 1, via Matadouro. E nada perdemos com isto, pois a nossa impressão foi magnifica ao passarmos pela avenida Antônio Emmerich. Desde a praça Coronel Lopes até bem próximo ao Matadouro, que se observa ali um grande numero de bangalôs, palacetes e pequenas vivendas, uns já construídos e outros em construcção, principalmente na antiga area de terreno pertencente á Santa Casa de Misericordia de Santos, antes verdadeiro capoeirão!
Ao lado da Villa Mello, num antigo prédio ali existente, agora completamente pintado e renovado, observamos uma grande placa com os seguintes dizeres: "Escolas Urbanas". o que quer dizer que a instrucção em S. Vicente está de facto progredindo bastante com a criação de novas escolas.
E o lindo prédio do Collegio "Madre Theodora" localizado numa das praças principaes de S. Vicente. E destinado á instrucção primaria e profissional, bem demonstra o actual grau de instrucção da terra vicentina.
Segundo a imprensa local, já foi tambem demarcado ali, na Villa Valença, o terreno destinado á construcção do segundo grupo escolar estadual de S. Vicente. 
Por hoje, ficamos por aqui. deixando o que escapou à nossa observação, ao cuidado do nosso presado amigo, sr. Edison de Azevedo, onde, com o máximo interesse, carinho e competência jornalística, desenvolve, pelas colunas desta folha, tudo o que se relaciona directamente com a terra vicentina e com a  sua laboriosa população
16 de setembro de 1940.
A. PASSOS SOBRINHO


O MONUMENTO DOS "TAMBORES" está reformado  e mudado de lugar para otimizar o trânsito nas avenidas das N.S. de Fátima e Antônio Emmerich, na divisa da Zona Noroeste. O monumento já sofreu várias reformas desde à sua inauguração em 1967. Politicamente é marco de uma antiga área de disputa territorial entre os dois municípios, na qual Santos se apropriou tirando proveito da construção do cemitério de Areia Branca (construído em terreno cedido politicamente por S. Vicente) e das antigas estações de bonde. A divisa original ficava depois do cemitério, próxima ao Chico de Paula. A Vila São Jorge - antigo sítio-  e também o Engenho dos Erasmo, pertencem historicamente a São Vicente.
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Na vida cotidiana  é só um ato convencional técnico e político. Mas há também um outro olhar territorial nessa mudança. "Tambores" é uma referência ao combustível de transporte rodoviário embalado em recipientes metálicos pelas refinarias, simbolizando o patrocínio material. Porém, subliminarmente, soa como uma alusão ao instrumento rítmico marcante nos terreiros de umbanda e candomblé que existem há décadas nas duas vilas São Jorge, amplo e histórico território de engenho, de escravizados e de quilombos. Na mística do sincretismo religioso São Jorge é símbolo da justiça espiritual reparadora, que na cultura africana é Oxossi.  Abrindo o mapa do Google nessa antiga região colonial vicentina percebe-se um grande número de terreiros com nomes afro-indígenas. O principal deles (do lendário Chico Feiticeiro) está localizado na avenida NS de Fátima, na Caneleira, na antiga divisa com São Vicente, no rio Rio São Jorge, próximo ao Matadouro. O templo foi construído com doações de influentes comissários de café, entre eles o ex-prefeito vicentino Charles Dantas Forbes, sob o comando de um delegado da Alfândega que frequentava como adepto religioso o terreiro ou como se dizia "batia o tambor". Esse também é o universo de uma potestade angélica, que protege  os marginalizados da ilha e preserva a memória e a história local, dos opressores e oprimidos. A Lua é a prisão espiritual de criminosos punidos por São Jorge Guerreiro e regenerados pelas mães (aos pés de Maria, como está na Bíblia). A região também é católica mariana. (CALUNGAH). #203



Núcleo aristocrático paulistano formado por empresários industriais e do comércio portuário exportador em Santos. Paulo Cochrane Suplicy (corretor de café) e Filomena Matarazzo Suplicy foram pais do senador paulista Eduardo Suplicy e sogros de Marta Suplicy, prefeita de São Paulo, ambos fundadores do PT-Partido dos Trabalhadores nos final dos anos 1970. Juntamente com membros originários do movimento sindical , da USP e da PUC-SP, compunham o então maior grupo politico de resistência e oposição ao regime militar instalado no Brasil em 1964. A família possuía casa de veraneio no Morro do Barbosas, em São Vicente, construída a partir das instalação de um antigo mosteiro. #204


OS SUPLICY E OS VASCONCELOS. Acima, a vista do Morro dos Barbosas no início do século XX. A casa em primeiro plano foi um antigo mosteiro e depois transformada em mansão veranista da família Suplicy, avós do senador Eduardo Matarazzo Suplicy, assíduo frequentador da então badalada praia Gonzaguinha. O romance e casamento dele com a sexóloga e prefeita paulistana Marta Vasconcelos Suplicy  teve início num desses verões dos anos 1960 quando os dois teriam protagonizado uma romântica cena de quase afogamento e salvamento no então limpíssimo mar da baía vicentina.
Imagens: IHGSV e Folha Press




Paranaense de Curitiba, era filho de Cyriaco de Oliveira Bittcourt e de Dona Hermínia Polydoro Bittencourt. Desde os primeiros bancos escolares demonstrou apurada inteligência e desejo de saber. Foi aluno assíduo exemplar durante os anos que cursou o Ginasio Paranaense. Engenheiro Agrimensor formado no Rio de Janeiro, trabalhou na colonização do povoamento do solo do Paraná, denominado Miguel Calmon Dupi Almeida, na Estrada Ferro do Brasil Railway Construction, na Estrada de Ferro Sorocabana, na Estrada de Ferro Araguari a Catalão, como auxiliar técnico da Estrada de Ferro São Paulo-Rio-Santos, na Repartição de Saneamento de Santos. Colaborou com varias entidades, ocupando cargos de relevância, como o de Presidente do Conselho da Sociedade de Assistência à Infância, Tesoureiro e Conselheiro da Santa Casa de Misericórdia de Santos, Presidente do Centro dos Construtores de Santos, além de ter sido Presidente da Sociedade Amigos de São Vicente e Presidente e Conselheiro do Hospital São José. Foi Prefeito Municipal de São Vicente e Vereador, respectivamente nos períodos de 1941 a 1945 e de 1948 a 1951. Foi Presidente da Fundação Pro-Monumento a Martim Afonso de Souza.Era casado com Dona Ormuzd (Zeca) Sanchez Bittencourt. Residiu durante longos anos numa bonita e bem decorada casa na Praça 22 de Janeiro. Guia de Rua de Sâo Vicente. Narciso Vital de Carvalho. 1978. #205


Localizada desde a sua fundação em 1951 na rua Frei Gaspar,900, esta obra foi criada e mantida pela Fraternidade Cristã Vicentina. Ali também funcionavam a Biblioteca Pública, o Albergue Domingos Albano, o Dispensário dos Pobres André Luiz, a Escola de Corte e Costura Anália Franco e a Clínica Dentária Fraternidade. Na foto, de roupa branca, aparece  o fundador da Sinagoga Espírita Cáritas, o dentista Antônio Lopes Garrido.
O nome original desse núcleo  tem dois significados históricos: Cáritas, uma jovem cristã martirizada em Roma, cujas mensagens  foram obtidas na Sociedade Espírita de Paris  e inseridas em 1864  por Allan Kardec no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo;  é também uma homenagem  aos comerciantes judeus que fraternalmente se empenharam para que a obra  social fosse rapidamente erguida. Funcionou durante décadas com atividades doutrinárias-assistenciais próprias e também como sede de eventos de entidades federativas espíritas da Capital e da nossa região. Nos anos 1980, aproveitando um vazio gestor, o núcleo sofreu uma tentativa de modernização de natureza política, organizada por um grupo de jovens ativistas laicos, que  trocaram o nome original por “Centro Espírita Evolução”. Por inciativa da União Municipal Espírita, o núcleo histórico foi recuperado e teve restaurado parcialmente seu nome original, permanecendo apenas Centro Espírita Cáritas, retomando apenas suas atividades doutrinárias kardecistas tradicionais. # 206
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SOU A CARIDADE. (Espírito Cáritas - O Evangelho Segundo o Espiritismo-1864).

"Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me, porque eu sou a meta a que vós todos deveis visar.
 Fiz nesta manhã o meu passeio habitual, e com o coração magoado venho dizer-vos: Oh! meus amigos, quantas misérias, quantas lágrimas, e quanto tendes de fazer para secá-las todas! Inutilmente tentei consolar as pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Há corações bondosos que velam por vós, que não vos abandonarão; paciência! Deus existe, e vós sois as suas amadas, as suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e voltavam para mim os seus grandes olhos assustados. Eu lia em seus pobres semblantes que o corpo, esse tirano do Espírito, tinha fome, e que, se as minhas palavras lhes tranquilizavam um pouco o coração, não lhes saciavam o estômago. Então eu repetia: Coragem! Coragem! E uma pobre mãe, muito jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e ergueu-a no espaço vazio, como para me rogar que protegesse aquele pobre e pequeno ser, que só encontrava num seio estéril alimento insuficiente.
Mais adiante, meus amigos, vi pobres velhos, sem trabalho e logo sem abrigo, atormentados por todos os sofrimentos da necessidade, e envergonhados de sua miséria, não se atrevendo, eles que jamais mendigaram, a implorar a piedade dos passantes. Coração empolgado de compaixão, eu, que nada tenho, me fiz mendiga para eles, e vou para toda a parte estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos. Eis por que venho até vós, meus amigos, e vos digo: Lá embaixo há infelizes, cuja cesta está sem pão, a lareira sem fogo, o leito sem cobertas. Não vos digo o que deveis fazer; deixo a iniciativa aos vossos bons corações; pois se eu vos ditasse a linha de conduta, não teríeis o mérito de vossas boas ações. Eu vos digo somente: Sou a caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos sofredores.
Mas, se peço, também dou, e muito; eu vos convido para um grande festim, e ofereço a árvore em que vós todos podereis saciar-vos. Vede como é bela, como está carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, tomai todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. Em lugar dos ramos que lhe arrancardes, porei todas as boas ações que fizerdes e levarei a árvore a Deus, para que Ele a carregue de novo, porque a beneficência é inesgotável. Segui-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos possa contar entre os que se alistam sob a minha bandeira. Sede intrépidos: eu vos conduzirei pela via da salvação, porque eu sou a Caridade"!


Etnólogo, antropólogo e filósofo, Claude Lévi-Strauss nasceu em 1908, em Bruxelas, Bélgica. É considerado, além de fundador da antropologia estruturalista, um dos grandes intelectuais do século XX. Chegou ao Brasil em 1935, aos 27 anos, integrando o segundo grupo de acadêmicos estrangeiros convidados a dar aulas na USP. Alguns deles produziram obras curiosas sobre o Brasil e ainda não eram as celebridades que se tornariam ao voltarem para a Europa.  Entre esses pesquisadores estavam o historiador Fernand Braudel e o geógrafo Pierre Mombeig. Entre 1935 e 1937 Lévi-Strauss, além das suas conhecidas obras sociológicas, produziu um conjunto de fotografias contendo paisagens  urbanas de São Paulo e do litoral. As fotos revelaram não só as paisagens, mas principalmente os hábitos e os costumes dessas localidades. Entre as imagens mais icônicas estão as famosas estão os registros do carnaval na avenida São João e do gado transitando livremente em maio aos bondes. O mesmo aconteceu no litoral, começando na descida da Serra do Mar e os pescadores  Canto do Forte e Boqueirão em Praia Grande, na época bairro de São Vicente. As fotografias estão no acervo do Fundação Moreira Sales e no livro Saudades do Brasil, da editora Companhia das Letras. # 207



Antônio Augusto de Sá Lopes foi um empresário santista pioneiro dos transportes no Litoral Sul de São Paulo. Desde os anos de 1920 sua máquina fotográfica registrava o cotidiano de Praia Grande, na época chamada Praia da Conceição. Lopes sempre acreditou que o melhor destino turístico do litoral estava nessa região e procurava divulgar todas as imagens que obtinha. Nos anos 1940 fundou sua empresa de ônibus – a Sul Praiana - transportando por muitos anos milhares de moradores e turistas. Não havia estradas e o trajeto nas areias da longa orla muitas vezes resultava em atolamento. Teve uma época que as viagens eram acompanhadas por um avião pilotado por Jorge de Sá, filho do empresário, o que oferecia uma certa tranquilidade aos passageiros que temiam ficar abandonados na praia. As linhas da Sul Praiana foram posteriormente foram transferidas para a Breda Transporte.
(Do Historiador PG-Cláudio Sterque) # 208

 
Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lyon, França em 1900 e faleceu Mar Mediterrâneo em 1944. Foi escritor, ilustrador e piloto francês, internacionalmente reconhecido pelo seu livro O Pequeno Príncipe. Escrita um ano antes da sua morte, foi provavelmente a obra infantil mais celebrada da história. Aviador, fez célebre carreira como piloto da Latecoére, correio aéreo anos mais tarde adquirida pela Aeropostale. Nos anos 1920 as linhas Latécoère passavam por Toulouse, Casablanca e Dacar e tinham na mesma equipe  Vacher, Jean Mermoz, Guillaumet e outros famosos pilotos pioneiros. As linhas também atravessavam o atlântico e percorriam vários pontos da América do Sul, pontualmente no litoral do Rio Grande do Norte, São Paulo e Santa Catarina. 

Segundo o aviador e pesquisador Elson Sterque, existem diversos documentos que comprovam  o pouso de Saint-Exupéry no campo de utilizado pela Latécoére em Praia Grande. No Boletim nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande , Elson cita uma das comprovações desse evento histórico: “Exupéry pousou em Praia Grande ao amanhecer no dia 17 de abril de 1930, vindo de Florianópolis-SC, de onde decolou as 06:00 da manhã, pilotando a aeronave Laté 28. Após seu pouso em Praia Grande, decolou por volta das 09:00 horas com destino ao Rio de Janeiro”. A notícia, entre outros, foi publicada no Correio Paulistano na edição de 17 de abril de 1930. # 209


Rota percorrida por Saint-Exupéry quando era piltoto da Aéropostale. O escritor-aviador pousou em Praia Grande em 1930.


O campo de pouso em Praia Grande da Latécoère (F1) usado por Exupéry em 1930  Na foto 2, o piloto com populares na Argentina durante sua atuação na Latécoère.


Situada na esquina das Ruas Frei Gaspar e Padre Anchieta,  a velha casinha foi desativada e demolida em 1975, logo depois, os cerca de 1300  m² do terreno onde ela se situava, à rua Frei Gaspar n.º 433, serviram como depósito para a TELESP (Telecomunicações de São Paulo). São Vicente de Outrora .
# 210
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Humberto Wisnik: No início dos anos 50, Dona Dinorá Silva Pinto era a Telefonista Chefe da Telefônica nesta casa da foto. Nesta época eu residia atrás da Sorveteria Yayá e o César Camargo Mariano acima da Farmácia do Seu Ernani. Nós brincávamos no enorme terreno cheio de Goiabeiras e também onde havia uma Mangueira onde "residia" o Macaco Chico que pertencia à Dona Tereza mãe da Dinorá. Com 10/11 anos eu fiz algumas vezes o "Serviço de Mensageiro" que consistia em levar um Aviso para alguém que deveria comparecer ao Posto Telefônico para receber uma Chamada Telefônica Interurbana a uma determinada hora. Hoje no lugar da Sorveteria está o Shopping e no lugar da Telefônica uma Agência do Banco do Brasil. 

Regina Franca: Minha mãe Cartum foi telefonista muito tempo. Ela sempre falava de dona Dinorá, sua chefe.

Jose Chagas Reli: Terminei um namoro com uma garota, daqui de São Paulo, por telefone, aí nessa casinha. Confesso que foi um triste momento. Tinha uns 17 anos. Me lembro muito das cabines de onde falávamos após espera para que as telefonistas completassem as ligações.



O fotógrafo e comerciante Boris Kauffmann foi um dos cinco filhos José e Laura Kauffmann: Beila, Amália, Elisa, Malvina,  emigrantes vindos da Bessarábia (antiga União Soviética) e atual Moldávia. Chegaram  em Santos em 1911. Boris se casou com Bertha Padron e tiveram 5 filhos: Boris, Betinha, as gêmeas Beatriz e Berenice (também fotógrafa), e José Neto. Além de ter sido um renomado e prestigiado fotógrafo em Santos, Boris também tinha uma conhecida loja de artigos fotográficos no Centro da cidade e na praia (na Praça Independência). Deixou um importante acervo fotográfico de localidades e personalidades de São Vicente e Santos, registro feito em preto e branco da década de 1950. Parte do acervo que ficou sob a guarda da filha Berenice Kauffmann Abud  foi posteriormente foi doado para a Fundação Arquivo e Memória de Santos. # 211.


Imagem do banner: A atriz Cacilda Becker com o amigo Boris Kauffmann. Santos, 1937 (compartilhado por Berenice Kauffmann).



Edson Arantes do Nascimento nasceu em 23 de outubro de 1940 em Três Corações, MG, filho do jogador João Ramos do Nascimento -o Dondinho-e Celeste Arantes. Pelé tocava violão e compunha. Também atuou como ator de cinema e comediante na TV ao lado de Ronald Golias e Jô Soares (Família Trapo). Sobre ele, seu parceiro Pepe (criado na Vila Melo) afirmava intuitivamente: "Não era daqui. Veio de Saturno". Treinou inúmeras vezes com o Santos F.C. nas areias do Itaraé.  Nos anos 1980, gravou no Gonzaguinha  uma histórica entrevista com o repórter Milton Neves. Foi a estrela na premiação do concurso de misses no Ilha Porchat Clube. O jornalista Joelmir Betting, ainda criança, testemunhou um vaticínio da carreira do jogador durante uma missa do Padre Donizete em Tambáu. Edson e Dondinho, nesse dia, foram vistos por Beting e sua família. Passou a infância em Baurú (SP) e nos 1950 transferiu-se para o litoral. Seus pais e irmãos viviam nesse período em São Vicente, na Vila Voturuá, e ele numa pensão em Santos.  

Pelé recebeu seu primeiro nome em homenagem ao inventor Thomas Edison, de quem Dondinho era fã. Descrito como o "Rei do Futebol", foi considerado como o maior atleta de todos os tempos. Em 2000, foi eleito Jogador e também Atleta do Século. É o quinto maior goleador da história do futebol marcado 1283 gols em 1363 jogos. Já foi o atleta mais bem pago do mundo. Encerrou sua carreira no New York Cosmos, juntamente com o jogador alemão Franz Beckenbauer. Morreu no dia 29 de dezembro de 2022 na capital paulista, aos 82 anos, vítima de falência múltipla de órgãos. Foi velado em 2 e 3 de janeiro de 2023. Seus restos mortais estão no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos. # 212


Leonardo Nunes nasce, em S. Vicente da Beira, no seio de uma família de cristãos-novos, antigos judeus convertidos ao Cristianismo. Seu pai é Simão Álvares e sua mãe Isabel Fernandes. Veio ao mundo em data incerta, possivelmente, em 1518.
Já era padre, quando, em 1548, entra para a Companhia de Jesus.
A partir do colégio da Companhia, em Coimbra, percorre o Minho e a Beira, em pregação e vivendo de esmolas, o que muito chocou seus pais, quando o viram a mendigar, na sua terra natal.
Em 1549, parte para o Brasil, incorporado na armada de Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral desta colónia. Integra um grupo de jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega. Os outros são o P.e António Pires de Castelo Branco, o P.e Juan de Azpilcueta de Navarra, o Irmão Diogo Jácome e o Irmão Vicente Rodrigues.
A sua missão é converter os índios e dar assistência religiosa aos portugueses que lá viviam.
Nos anos 1550 a 1554, Leonardo Nunes fica em São Vicente, ajudado pelo Irmão Diogo Jácome. São Vicente era já uma grande colónia portuguesa, desde 1530. Ali funda um colégio e depois aventura-se montanha a dentro, onde tem contacto com os indígenas e enfrenta os caçadores de índios que os queriam escravizar. O filme “A Missão” é um excelente testemunho da realidade que o P.e Leonardo Nunes ali viveu.
No ano de 1553, o P.e Manuel da Nóbrega, o Provincial da Companhia de Jesus, junta-se a Leonardo Nunes, em São Vicente, centralizando ali o trabalho missionário dos jesuítas, no Brasil. Manuel da Nóbrega fixa-se nos campos de Piratininga, numa aldeia, onde funda o Colégio de São Paulo, que deu nome à pequena povoação e hoje enorme cidade de São Paulo.
Nesse ano de 1553, Leonardo Nunes desloca-se à Baía, de onde regressa com o Irmão e futuro Padre José de Anchieta, outra figura cimeira na missionação do Brasil.
No ano seguinte, 1554, o Pe. Leonardo Nunes embarca para Lisboa, com destino a Roma. Manuel da Nóbrega encarregara-o de transmitir a (Santo) Inácio de Loiola os sucessos da Companhia de Jesus no Brasil.
Mas o barco naufragou ainda à vista da vila de São Vicente, arrastando consigo o nosso Leonardo Nunes, apenas com 36 anos, os últimos 5 como missionário no Brasil.  #213

Fonte: Síntese do prefácio de “Abarebebê” Tão rápido como um beija-flor. José Miguel Teodoro.Edição: Câmara Municipal de Castelo Branco. Ano: 2004.




Chegou ao Brasil em 1534 e nos primeiros anos levou uma vida de aventuras como conquistador e aprisionando índios para vendê-los como escravos. Em 1549, deixou a vida bárbara que levava e se converteu sendo recebido como irmão pelo padre Leonardo Nunes. Entrou na Companhia de Jesus, em São Vicente, sendo o primeiro irmão recebido no Brasil, e, então, doou todos os seus bens e as terras que possuía ao Colégio de São Vicente, do qual foi um dos fundadores. Falando fluentemente a língua tupi evangelizou índios de diversas nações e participou, em 1554, da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga. Em fins de 1554, com seu companheiro irmão João de Sousa, foi morto a flechadas pelos índios Carijós, na região de Cananeia, quando em missão de catequese. Ainda em São Vicente, depois de sua conversão, em 1552,  Pero Correa construiu a Igreja de Santa Maria das Naus, defronte do engenho de cana-de-açúcar de Gerônimo Leitão (Portos da Naus). Tanto a Igreja como o Engenho foram destruídos em 1615 pelos corsários holandeses. #214


A Conversão de Pero Correa. Benedito Calixto. Igreja de Santa Cecília, São Paulo. "A cena aconteceu no ano de 1549 na praia do Guarahú, em frente a Ilha Grande, região de Peruíbe, São Paulo.
Fonte: Terra de Santa Cr



A curiosa e admirável trajetória de um casal de paulistanos que ousou dar um novo rumo para suas vidas e conquistar a então quase selvagem Praia Grande. José Carlos com a sua esposa - a comerciante e incentivadora cultural Wanda Aparecida Dione de Oliveira - fizeram história. José Carlos, o "Peludo", é hoje nome de rua em Praia Grande e Dna. Wanda teve o seu nome homenageado em um viaduto na cidade. José Carlos de Oliveira foi o primeiro subprefeito de Praia Grande, quando a localidade era um promissor bairro de São Vicente. Foi também o primeiro dentista da então futura cidade e também grande empresário da pesca.  O casal teve participação memorável no movimento de emancipação, efetivada em 1967. Colaboração de Cláudio Sterque. #215



Edward Chad Varah era psicólogo e padre da Igreja Anglicana em Londres. Começou a compreender os problemas enfrentados pelos suicidas quando, em 1935, realizou seu primeiro funeral como assistente de pároco, o de uma menina de quatorze anos que havia tirado a própria vida por ter começado a menstruar e temer ter contraído uma doença sexualmente transmissível.  Mais tarde, ele disse: "Menina, eu não a conhecia, mas você mudou o resto da minha vida para melhor". Naquela época, ele prometeu incentivar a educação sexual e ajudar pessoas que estivessem pensando em suicídio e não tivessem a quem recorrer. Para esse fim, Chad Varah fundou os Samaritanos em 1953 na cripta de sua igreja, com o objetivo declarado de que seria uma organização "para fazer amizade com os suicidas e desesperados". A linha telefônica, MAN 9000 (para MANsion House), recebeu sua primeira chamada em 2 de novembro de 1953, e o número de chamadas aumentou substancialmente após a publicidade no Daily Herald em 7 de dezembro de 1953. 
Ele foi diretor da filial central de Londres dos Samaritanos até 1974 e presidente de 1974 a 1986. Também foi presidente fundador da Befrienders Worldwide de 1974 a 1983 e, posteriormente, seu presidente de 1983 a 1986. Veio ao Brasil em 1976 e propôs a criação da sigla CVV-Samaritanos para expansão dos postos voluntários de prevenção;  e em 1982, quando visitou os posto de Santos e São Vicente. # 216

1982. Chad Varah, criador do Samaritanos do Reino Unido no Posto do CVV Santos (Centro de Cultura) com voluntários e uma repórter da TV Tribuna. Foto de Dalmo Duque.



Jacques André Conchon, pernabucano nascido em Recife, foi aos 17 anos de idade um dos fundadores do CVV- Centro de Valorização da Vida, em 1961, em São Paulo. O primeiro posto do CVV funcionaria em 01 de março, de 1962, às 16 horas, em uma sala e um aparelho telefônico emprestado pela FEESP, na época de Edgard Armond. Jacques era engenheiro especialista em recursos hídricos e proprietário da Neotex, empresa de consultoria ambiental e construção de estações de tratamento de água. Foi também fundador e dirigente da Aliança Espírita Evangélica e membro atuante da Fraternidade dos Discípulos de Jesus. Nós o conhecemos nos anos 1970 aqui São Vicente, quando nos ajudou a implantar várias frentes de trabalhos humanitários, incluindo o posto do CVV de Santos. Era um grande entusiasta da Escola de Aprendizes do Evangelho, base educativa de trabalhares e de fundação permanente de novas casas espíritas.
ANTENADO E SERVINDO SEMPRE. Jacques André Conchon era um ativista incansável e inquieto. Sempre esteve antenado com as mudanças que poderiam gerar sofrimento humano e também oportunidade de servir e ajudar os que não se adaptam a essas mudanças. Nesse mais de 60 anos , ele e alguns companheiros inventaram e reinventarem o CVV várias vezes quando sentia que poderíamos ampliar o nosso raio de ação. Foi assim quando liderou a expansão dos postos, criou os estágios nos plantões, implantou o role-playing para treinamento, desenvolveu os Cursos de Aperfeiçoamento, o Caminho de Renovação Contínua, enfim, todas as inovações pelas quais tivemos que passar. Faleceu em 14 de Julho de 2021 no Rio de Janeiro, aos 76 anos. Nos últimos meses estava bem feliz por que o CVV conquistou o número 188 ( de ação nacional gratuita) e que chegamos ao posto número 100. Já bem doente e sem a sua e nossa companheira Suely Conchon, atuava nas redes sociais gravando vídeos no YouTube com a ajuda de um neto. Nunca esqueceu a primeira instrução dada a ele pelo Comandante Edgard Armond, sugerindo num bilhete e num recorte de jornal sobre suicídio a criação do CVV :
"Para quem quer servir esta é uma ótima oportunidade". # 217


Manual de voluntários editado em 1977 e a três biografias do CVV



Uma criança que brincava nas ruas de São Vicente, professora de balé aos13 anos e finalmente uma jornalista e repórter de TV consagrada no universo da comunicação. Entre muitas outras matérias sobre diversos assuntos – sempre com forte tom social – Thais Rozo narrou para o público do Jornal da Tribuna-Globo (21 de janeiro de 2023) uma rápida trajetória histórica da Cidade na comemoração dos 491 anos da fundação da primeira Vila do Brasil. Entrevistou comerciantes, cidadãos comuns e também um historiador explicando que São Vicente nasceu, na verdade em 1502, trinta anos antes da chegada do fundador Martim Afonso de Souza.  Revelou  que o nome da localidade foi dado pelo famoso navegador Américo Vespúcio, a serviço do Rei de Portugal.  Mesmo sendo um assunto pouco conhecido do grande público e que normalmente não era abordado em matérias jornalísticas curtas, Thaís e seu editor perceberam que o tema deveria então ser revelado como data comemorativa. E fizeram com maestria. A matéria com Dalmo Duque foi gravada na Casa das Bananadas – vizinha da Ponte Pênsil- com Dona Osnilda Blumem, herdeira do mais antigo emblemático comércio vicentino. Com imagens gravadas pelo cinegrafista Leandro Guedes, a reportagem - que daria um ótimo documentário (como já foi dito) - foi cuidadosamente reduzida para que chegasse ao público com a maior síntese e fidelidade possível. E assim foi, em duas versões para duas edições do telejornal. Um bela reportagem que virou documento histórico e memorial. # 218





Com mais de 100 anos e posicionada ao lado da Ponte Pênsil, a Casa das Bananadas foi erguida em função do grande movimento de turistas vindos principalmente de São Paulo para conhecer a grande obra de engenharia alemã que ligava a Ilha e o continente, no Bairro Japuí. É possível que das Bananadas seja uma ampliação de uma antiga garagem usada pela travessia de barcos, na época de propriedade do comerciante Antero de Moura, irmão do prefeito Antão de Moura. Bem próximo também funcionava as antigas instalações do Clube de Regatas Tumiaru. A garagem do clube foi registrada em fotos feitas por Benedito Calixto antes da construção da ponte. Dois anos depois a garagem teria sido reformada pela família paulistana – os Blume- que comandam o negócio até hoje. Casa das bananadas sempre foi um autêntico negócio feminino, para complementar a renda da família. A responsável atual é Osnilda Blume, herdeira da avó e da mãe Maria Blume. Octogenária em bem lúcida, ela mantém até hoje a produção tradicional criada pelas mulheres da família: as bananadas feitas de banana prata; doces tradicionais de abóbora e outras guloseimas de origem rural. Onilda talvez seja a última geração da doceria mais antiga do litoral sul. #  221. 


Cartão postal da Ponte Pênsil dos anos 1930 . Em primeiro plano a casinha rústica da antiga garagem de Antero de Moura e provavelmente a residência dos pais de Maria Blume, a fundadora da Casa das Bananadas.  



Anguair Gomes dos Santos, ator, educador, poeta, ativista político e cultural. Carioca de nascimento e vicentino desde 1978, como proposta de vida e realização. Foi um dos criadores da Casa Crescer e Brilhar, no Jockey Clube, espaço de reconstrução humana por meio da arte e ressignificação das coisas. Dessa experiência surgiu o livro que narra o sonho dele e dos seus parceiros falando da trajetória desse pequeno e persistente núcleo que ensina a arte de acreditar em si mesmo. Constatamos isso quando vimos o grande Rodolfo Rondon voltar ao Jockey para ensinar os primeiros passos da sua poderosa e múltipla arte. Anguair publicou também um livro recente contando a história da fundação de São Vicente, narrada por uma personagem africano. Afinal de contas, 1532 marcou o começo da vila afonsina e dos engenhos de açúcar. Eles se espalharam na capitania e pelo Brasil afora juntamente com a instituição da escravização dos africanos em terras brasileiras. O universo mercantil ibérico só foi possível com a presença simultânea do "calunga", o mundo mágico africano. Este atravessou o Atlântico sob o jugo do tráfico humano e, direta ou indiretamente, espalhou-se no sangue e no coração de todos os brasileiros. O mesmo aconteceu com o "pindorama" indígena e o constante ingresso de novos imigrantes. Viva o Pai Anastácio!!!  #219


Quem transita no universo da arte e da cultura não estranha as múltiplas vocações e habilidades de Fábio Luiz Salgado, sempre envolvido em eventos de vanguarda. Fábio é produtor Cultural da Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos, sempre em busca de novidades para abastecer esse prestigiado e dinâmico espaço da nossa região. Músico concertista de formação, Fábio conhece e trafega no universo da literatura e das artes plásticas. Sua formação em ciências da computação na Unisanta também revela nele um lado muito instigante, que é a linguagem a arte digital. Quando dissemos a ele que sabíamos da sua origem vicentina, confirmou balançando a cabeça e completou rapidamente: “Calunga”!!! , isto é, um começo simples  que foi crescendo e se transformando numa vocação mais ampla e complexa. Fábio exibia seu  talento precoce tocando teclados nas calçadas,  ampliava seus conhecimentos nos clássicos da literatura nas bibliotecas, públicas ou escolares;  e também na banca de revistas da família.  São Vicente é assim mesmo. Do nada, aparentemente,  surgem talentos  e celebridades  que extrapolam as divisas e os limites da nossa ilha, como aconteceu com José  Miguel WisniK, Ubirajara Rancan e o inesquecível Eduardo Souto, autor do clássico "O Despertar da Montanha". Fábio faz parte dessa, vamos dizer assim, tradição de rupturas. #220



José Roberto Sagrado da Hora é literalmente a figura definida por este nome: curioso, inquieto e emblemático, da qual ninguém  resiste em perguntar o significado. Sempre que é questionado, explica  calmamente o motivo, porém deixa no ar o que há por trás dessa escolha feita pelos pais. Entendemos que nomes, quando pensados e decididos, não são meras coincidências. Funcionam como estratégia de afirmação de identidade, manifestação e definição de um destino que pode ser mudado. Foi o que aconteceu com ele. Rompeu incrivelmente a linha comum do seu caminho e atribui essa mudança à paixão pela escola. Roberto nasceu em Santos, mas passou a maior parte da sua vida morando e frequentando, com muito gosto, as escassas escolas vicentinas. Era uma época que elas eram improvisadas em salas emprestadas por instituições e clubes. Os professores percorriam  os bairros indo ao encontro dos alunos, combinando diferentes itinerários e currículos. Enquanto por algum motivo a maioria desistia, Roberto persistia. Essa teimosia deu certo e, sempre que pode, compartilha a experiência com alunos dos bairros periféricos. Ao terminar  uma palestra, logo é rodeado por um pequeno grupo querendo saber como, depois de tornar-se advogado, conseguiu ingressar e fazer carreira como delegado da Polícia Federal. A resposta é muito simples: a hora do estudo é sempre uma escolha  e também  um momento sagrado. # 221
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POD CAST de Tom o Mago como Sagrado da Hora e Dalmo Duque.
https://www.youtube.com/watch?v=kcYHQqKfjqs&t=318s



Formada em jornalismo e pós-graduada em educação, Helena Gomes é uma santista que vive do outro lado da Ilha de São Vicente, para ela um lugar mágico e inspirador para quem escreve livros e todo tipo de arte. Foi influenciada não apenas por livros, mas também pelo universo geek de filmes, seriados, animes e histórias em quadrinhos, onde aprendeu muito sobre os ritmos narrativos que aplica em suas obras. A escritora tem livros escolhidos para representar a literatura brasileira em catálogos internacionais da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), e obras finalistas do Prêmio Jabuti - principal prêmio literário do Brasil. Um deles vem se tornando com o passar dos anos o que mais traduz e revela o espírito vicentino ou calunga: ‘O enigma do edifício Gáudio’. Na sinopse de divulgação consta que o livro é uma autêntica “história de mistério e suspense, que tem como protagonista Raquel, de 16 anos, que vai morar com o pai no Gáudio, um dos mais antigos e emblemáticos edifícios da Praia do Gonzaguinha. A jovem, que perdeu recentemente a visão do olho direito, sofre para se adaptar a sua nova realidade. E o desafio aumenta quando estranhos pesadelos, envolvendo um misterioso crime ocorrido na década de 1980, levam a jovem a uma aventura perigosa e sobrenatural”. Além do Gáudio como cenário, a trama tem nas entrelinhas muitas particularidades de São Vicente, como o famoso baile “Uma Noite nos Mares do Sul”, realizado em sucessivos anos no Ilha Porchat Clube, “Uma noite nos Mares do Sul". Adaptado do site da PMSV - #222




A aguardada inauguração das dependências do fidalgo Clube Hípico de Santos, realizada domingo, com um grande concurso patrocinado pela Federação Paulista de Hippismo, em beneficio do Hospital S. José, Orphanato São Gabriel, de S. Vicente, foi coroada de inexcedível êxito.

Esse acontecimento, pela novidade que encerrava e pelo grande conceito em que já é tida a novel entidade, logrou reunir um público selectissimo que lotou todas as dependências do aprazível logradouro, não regateando aplausos aos intrépidos disputantes, que fizeram jus, fartamente, pelo arrojo, tenacidade e destemor, ás demoradas salvas de palmas, im-possivel de serem refreadas, ante a belleza e incomparável elegância com que eram transpostos, pe-los disputantes, os mais difíceis obstáculos.

Por várias vezes a commissão dirigente do torneio. solicitou so publico que se abstivesse de aplaudir quando um cavalleiro estava na pista, competindo, pois -o ruido da ovação perturbaría a montada, transtornando a possibilidade do disputante. Isso se deu com Dalva Morozetti, a intrépida e elegante amazona, vencedora da primeira prova. Dalva, em linda "performance", havia já transposto quase todos os obstáculos. Uma salva de palmas, vibrante, quando a joven amazona se aproximava do penúltimo obstáculo, se fez ouvir, demoradamente, entusiasticamente, e sua montada, "Tie-té", desviou, levando-a a perder 3 pontos, quando tudo indicava a transposição de todos os obstáculos. 

A Tribuna. Acervo Digital BN - # 223


HIPISMO EM SÃO VICENTE

INAUGURAÇÃO DA HÍPICA DE SANTOS EM SÃO VICENTE SÃO VICENTE, segunda-feira, 11 de novembro de 1940. 

O Ten. Fernando Henrique da Silva, Jayme Loureiro Filho e Ten. Sylvio Marcondes Rezende, vencedores da "Taça Parque Balneário Hotel", respectivamente em 1.°, 2.º e 3.º lugares. Dalva Morozetti, a elegante amazona, sobre "Tietê", após sua victoria na primeira prova; ao lado, o competente tratador Mariani do Clube Hippico João Alves de Toledo, ao executar a passagem de um obstáculo, montando "Principe". Aspecto de uma das archibancadas. 





Victório Morbin, conceituado empresário da construção civil e politico paulistano que expandiu seus negócios no litoral para atender a demanda veranista nos anos 1940,50 e 60.  Essa demanda seria marcada pela onda de verticalização e oferta de milhares de apartamentos nas orlas da região. Morbin se fixou em São Vicente e aqui concentrou seus principais negócios imobiliários de forma promocional bastante diferenciada. A política e a cultura marcou a vida empresarial de Morbin a partir do empreendimento da Edifício Gaudio, construído na esquina da rua Frei Gaspar com a avenida Embaixador Pedro de Toledo.  Para acelerar as vendas, deu início a uma série de promoções elitizadas e também populares, sempre atraentes, como uma galeria de arte e eventos, bem como o lendário bunker antiaéreo. O mundo  vivia intensamente os confrontos violentos da II Guerra Mundial e a cidade vivia em clima de medo em função da proximidade do porto de Santos. Para atrair o grande público, Morbin promovia em parceria com a prefeitura os famosos concursos e desfiles de beleza na orla do Gonzaguinha. Uma das suas investiduras nos negócios público-privados foi a direção da Companhia Telefônica Vicentina, a primeira a ofertar uma grande expansão de linhas em São Vicente e Praia Grande. Nesse cenário ele ingressou na política reivindicando uma vaga na Câmara Municipal. # 224

Victório Morbi, empresário e diretor da Companhia Telefônica Vicentina em entrevista ao jornal A Tribuna explicando a demanda e expansão de linhas em São Vicente e Praia Grande.  Acervo Digital da Biblioteca Nacional.

CONCURSO DE MISSES EM SÃO VICENTE EM 1951. O evento era promovido em parceria com a revista O Cruzeiro e o Clube Atlântico Vicentino. Na concepção dos autores da matéria - e também dos leitores - todas as cidades do litoral eram "Santos", daí o título genérico da reportagem. O promotor do concurso e representante do Departamento de Turismo era o empresário paulistano Victorio Morbin, construtor do Edifício Gáudio.Acervo Particular.



Edifício Gaudio. 1946. Av. Embaixador Pedro de Toledo, Bairro Gonzaguinha. Empreendimento de Victor Morbin. Projeto e Construção Escritório Técnico Luiz Muzi. Foto: Revista Acrópole. n.147, p 84-85, jul.1950. Gaudio é estado de espírito, da expressão latina, itálica, gaudério, usada para definir o hedonismo, estado de espírito alegre, o ócio, da constante busca de prazer.
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"Um dos mais icônicos edifícios da praia e da cidade, pelas suas características formais pioneiras e pela qualidade do seu projeto e construção. Este edifício está implantado numa esquina de terreno irregular e apresenta uma linguagem moderna original, com destaque para o bloco da escada saliente de frente, com coroamento superior em forma de cúpula, acompanhado das varandas arredondadas na fachada da praia. Os ricos detalhes coloridos em verde também lhe emprestam um caráter original. Semelhante ao edifício Astro no Boqueirão em Santos, do mesmo arquiteto, este edifício residencial tem 12 pavimentos-tipo com amplos apartamentos e térreo com restaurante tradicional, além de uma curiosidade interessante. Como foi construído durante a 2ª. Guerra mundial ele foi provido de um “bunker” em seu subsolo, com capacidade para 80 pessoas, destinado a servir de refugio em caso de ataque aéreo. Hoje serve como discoteca, sem dúvida um uso mais agradável.
Edson Eloy. Arquitetura e Paisagem. # 225

https://peabirucalunga.blogspot.com/.../as-orlas-do...



Formado em Química, dedicou-se às atividades imobiliárias, a partir da década de 1950, constituindo, com seus irmãos e o eng. Nicolau Paal, a Construtora e Incorporadora Andraus Ltda., com maior campo de atividade em Praia Grande. Homem de empresa, de visão e de iniciativa, projetou a construção da Cidade Ocian - um empreendimento revolucionário, em termos imobiliários, no final da década de 1950. Concomitantemente a Construtora Andraus construía outros grandes prédios em Santos e em São Paulo, onde construiu o primeiro heliporto no Brasil sobre um edifício, no prédio-sede da própria Construtora Andraus.
Seu espírito empreendedor e arrojado chamou a atenção das lideranças políticas vicentinas, que foram convidá-lo a adentrar à política, candidatando-se a prefeito municipal de S. Vicente, em 1959. Foi eleito e empossado a 1º de janeiro de 1960. Pretendeu administrar S. Vicente com espírito empresarial e dinâmico, sem burocracia, com medidas práticas, objetivas e imediatas, mas encontrava resistência na organização política e no marasmo das decisões legislativas. Isso o foi desgastando, principalmente quando passou a aceitar doações da comunidade vicentina, recolhidas na Tesouraria Municipal, para ajudar o soerguimento das finanças do município, contra o que reagiu uma parcela dos vereadores vicentinos.
Desgostoso por se sentir tolhido em seu dinamismo, Roberto Andraus renunciou o cargo de prefeito municipal a 15 de abril de 1961. No curto período de sua gestão construiu uma moderníssima Fonte Sonora-luminosa, junto à Biquinha, a qual, por muitos anos, passou a ser a principal atração turística vicentina. Foi casado com d. Maria José da Gama e Silva Andraus. Faleceu a 10 de agosto de 1974.
Fonte: Poliantéia Vicentina. 1982. # 226




Edificada em terras outrora denominadas Sítio Ubatuba, que dona Maria da Conceição e Silva havia herdado de seus avós, remanescentes do tempo da escravatura, terras que, em 1946, foram vendidas a Nagib Saeg, que posteriormente as transferiu à família Andraus. Para concretizar seu grande sonho, a diretoria da Organização Construtora e Incorporadora Andraus Ltda., que era formada pelos irmãos Roberto, Renê e Raul Andraus, transferiu parte de sua equipe para a orla da praia. Integrava o grupo, ainda, o engenheiro Nicolau Paal, auxiliar direto do dr. Roberto Andraus, na parte de Engenharia, e que mais tarde viria a ser o primeiro interventor federal do Município, graças ao conhecimento que tinha da Cidade, da referência dos Irmãos Andraus e de sua capacidade como engenheiro civil. 
A 8 de maio de 1956 nasce a Cidade Ocian. O termo "cidade" foi colocado porque foi sonhada com carinho e planejada para ter todo o conforto e requisitos de uma grande metrópole. Era um complexo formado por 22 prédios, totalizando 1.600 apartamentos. Toda esta obra com infra-estrutura, tal como coleta e incineração de lixo, mais esgotos, água, igreja, policiamento e comércio. O nome Ocian surgiu da sigla Organização Construtora e Incorporadora Andraus Ltda. Construída em pleno mangue, tendo inclusive um difícil acesso para a sua construção, foi considerada em 1946 a cidade mais bem planejada e moderna do Brasil, só perdendo esse título no dia 21 de abril de 1960, com a inauguração de Brasília. Incalculável foi o número de pessoas que compareceu à inauguração do bairro. Eram compradores de apartamentos, curiosos, admiradores da obra; outros vinham para conferir o que fora anunciado; enfim, gente de todas as partes afluiu naquele histórico 27 de maio, que mais tarde veio a se tornar o dia oficial de Cidade Ocian. # 227

Resumido do Informativo Cultural, edição 28 (abril de 1980), por Graziela Sreque, redatora da Associação Centro de Estudos Amazônicos de Praia Grande (Aceam).


Celso Corrêa de Freitas é natural de Itaperuna, RJ , nascido aos 26 de agosto de 1954. Jornalista e escritor, sua obra compõem-se de 47 antologias e seis livros solos como contista, cronista e poeta,  sendo também compositor musical. Foi representante de Praia Grande na etapa regional do Mapa Cultural Paulista  e Delegado na Conferência Estadual de Cultura em 2009 e  2013 realizadas no Memorial América Latina em São Paulo-SP. Radicado na Baixada Santista desde 1996, preside  a Casa do Poeta Brasileiro de Praia Grande, uma das mais antigas e atuantes entidades artísticas da região. A Casa do Poeta é hoje membro do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande, formando com este e a Academia de Letras, a Tríade Cultural da cidade. É presença constante em eventos literários em várias cidades brasileiras. #228



Nasceu a 3.12.1918, na cidade de São Paulo, Capital. Filho de Orlando Toschi e de Dona Ermelinda de Guglielma Toschi. Ainda jovem abandonou o torrão natal e transferiu-se para São Vicente, fixando residência no bairro da Praia Grande, hoje município, aqui vivendo por mais de 40 anos, sempre ao lado das boas causas, sempre lado dos menos protegidos pela sorte. Toschi veio para a Praia Grande em companhia de sua esposa, Dona Circe Sanchez Toschi e de uma filha de colo (Suely) para trabalhar e administrar uma gleba do Jardim Guilhermina.  Oswaldo contribuiu também para a instalação da primeira Sub-Delegacia, da Escola, da primeira agência do Correio, da Comissão de Planejamento e Execução de Obras do Posto de Puericultura e de um Plano de Abastecimento de Água, tendo sido, inclusive, homenageado pelo Diretor do Departamento de Obras Sanitárias. No setor de assistência social, Oswaldo era sócio de todas as entidades filantrópicas, assistenciais e hospitalares do Município, tendo sido sócio remido do Hospital São José, colaborando, mensalmente e tendo, inclusive, promovido duas campanhas pessoais em benefício desse Hospital e uma em benefício da Santa Casa de Misericórdia de Santos. Foi eleito por duas vezes Presidente da Câmara sendo que, numa delas, um caso inédito no Município, por unanimidade de votos. A criação da Comarca, sem desmerecer o trabalho dos demais Vereadores, deve-se esforços do Vereador Oswaldo Toschi, dando uma demonstração cabal de que sempre lutou em favor da nossa terra. Cassado o seu mandato em 1966, nunca mais retornou à política, vindo a falecer no dia 11 de julho de 1981, em virtude do duro golpe que havia sofrido, um mês antes, com a morte de seu filho Oswaldo Luiz Sanchez Toschi, vítima de um acidente automobilistico.
Fonte: Guia de Ruas. Narciso Vital de Carvalho. 1978. #229.


Quem atravessa a Ponte Pênsil em direção ao Litoral Sul avista, antes da divisa com o município de Praia Grande, no bairro do Japuí, antiga edificação industrial, abandonada. Ela é um marco da economia vicentina do início do século XX: o Curtume, que teve seu fim decretado com a desativação do Matadouro de Santos, já que dele dependia para a obtenção de matéria-prima, o couro a ser curtido (pois o Matadouro de São Vicente - instalado em 1891 por Luiz Pinto do Amorim e Jacob Emmerich, aproximadamente na área do atual Clube Hípico - foi fechado em 1916). Fundado por Caetano Cardamone, o curtume funcionou em São Vicente por cerca de 60 anos, chegando a empregar nesse período 400 funcionários. Foram feitas várias tentativas de aproveitamento das antigas instalações -escola de pesca, museu naval, tecelagem e finalmente um terminal Turístico- todas fracassadas. Com a criação do Parque Estadual Japui-Xixová, a área toda do curtume ficou anexa ao mesmo. #230.
 Resumido de artigos dos site Novo Milênio e CALUNGAH.

Anúncio do cortume nos anos 1950. Novo Milênio. 




A praia antiga praia do Mahuá, depois apelidada Gonzaguinha, até início do XX, era recuada até onde está a avenida Pres. Wilson. A primeira avenida de orla foi denominada Miguel Presgrave e ia até a Ilha Porchat quando ali só tinha chácaras e casas de veraneio. A verticalização imobiliária foi ocupando gradualmente as areias, fazendo desparecer avenida Miguel Pregrave (Praia do Milionários). Surge então uma nova avenida (da Praia da Usina até o rio Sapateiro e Marco-Padrão). Essas mudanças causaram uma perda de cerca de 100 de orla e foi necessário concretar um paredão para conter as ondas. As ressacas arrebentavam impiedosamente a parede de concreto e causava constante erosão sob a nova avenida. As obras de reparos eram constantes e altamente custosas. A área urbana não recuava e as ressacas não perdoavam a invasão da orla. A solução para diminuir esse impacto destruidor foi encontrada nos moles de pedras (quebra-mar) sugeridos pelo engenheiro Rinaldo Rondino. Ele morava no recém inaugurado Ed. Grajaú e do seu apartamento observa os diversos movimentos da maré, indicando que ela fosse contida antes da arrebentação de ondas. Mesmo diminuindo o impacto, a força das ondas e das ressacas nunca foram contidas. A cidade teve que aprender a conviver com esse problema criado por ela mesma e arcar perpetuamente com os altos custos da manutenção viária. #231


Construção de molhes(quebra-mar) no Gonzaguinha foi notícia de primeira página em 1971.


PRAIA DA USINA. Takashi Iratsuka, 1965, já com os moles de pedras idealizados pelo engenheiro Rinaldo Rondino. Foto colorida original. Neide Castro: "Essa era a praia da Usina* que frequentei durante toda minha infância. Meu pai levava uma faquinha e limão e comíamos ostras das pedras, mar sem poluição, águas limpas". 

*Referindo-se à primeira Usina Elevatória de esgoto, projetada por Saturnino de Brito e construída no Largo Tomé de Souza, entre as avenidas Presidente Wilson e Embaixador Pedro de Toledo. A segunda usina está no Morro dos Barbosas exatamente no ponto de fixação dos cabos de sustentação da Ponte Pênsil, lado insular, antes da Casa das Bananadas.


Rinaldo Rondino, paulistano e descendente de italianos,  foi engenheiro de grande influência no setor público entre as décadas 1950 e 1980, sempre ocupando importantes cargos e funções no governo do Estado e diversas prefeituras, na Capital e interior. Era constantemente requisitado para compor comissões e opinar tecnicamente sobre grandes obras estruturais urbanas por meio de pareceres e laudos. Em São Vicente foi assessor especial do interventor Jorge Conway e do prefeito Jonas Rodrigues, tendo residido na rua Freitas Guimarães numa casa existente até hoje e também no edifício Grajaú, entre a praias do Gonzaguinha e Milionários (antiga e desaparecida avenida Miguel Presgrave). Ficou conhecido em nossa região por estudar e explicar a partir do seu apartamento o intenso fenômeno de erosão ocorrido na orla do Gonzaguinha. Dessa observação das correntes marítimas na Baía de São Vicente, Rondino propôs a construção de moles de pedras nos pontos de maior impacto das ondas durante as ressacas, diminuindo seu efeito destruidor. Casado com Carmem de Azevedo desde 1939, Rondino presidiu o Clube Hippico de Santos, como sede no Catiapoã em São Vicente. Era apaixonado por cães da raça doberman e sócio ativo do Kennel Club de Santos. # 232



É a revista acadêmica oficial do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande, fundado em 2021 por iniciativa da escritora Fátima Jaguanharo e do memorialista Cláudio Sterque. Diversas pessoas ligadas à história da cidade e da região foram convidadas para compor o grupo fundador da entidade.  Sob direção do atual presidente Prof. Gabriel Resende Nascimento, organização de Dalmo Duque dos Santos e revisão supervisionada por Edgar Dall’Acqua, o volume inaugural da revista — intitulado “Os Primórdios” — reúne pesquisas que revisitam a formação histórica de Praia Grande, desde os primeiros vestígios humanos da região.  O título Mare Nostrum remete ao lema da bandeira de Praia Grande e mais remotamente à expressão latina que definiu a formação do Império Romano, inicialmente a partir da ocupação republicana do Mar Mediterrâneo em oposição ao império de Cartago. Roma venceu. #233.



José Lucas Guimarães, educador, teólogo e pastor da Igreja Presbiteriana radicado em São Vicente desde a década de 1990. É cearense de Sobral , cidade onde passou a infância e teve sua formação básica, posteriormente complementada com a graduação e pós-graduação em História, Filosofia e Teologia. Leciona como docente efetivo na rede estadual em São Vicente e em Praia Grande. É especialista e biógrafo de João Calvino, tendo publicado diversas obras sobre a vida religiosa e filosófica desse grande reformador franco-suíço. Atua como membro do CALUNGAH-Coletivo dos Historiadores de São Vicente historiadores , onde colaborou com o histórico da Igreja presbiteriana resgatando calvinistas históricos em nossa região e a fundação dos diversos núcleos dessa vertente do protestantismo. É membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande. #234. 



Silvio Gomes Bispo é  graduado e Mestre em Educação Matemática. Iniciou sua carreira há mais de 50 anos no Porto de Santos como escriturário. Tornou-se professor da rede pública estadual, municipal e particular; foi coordenador pedagógico, supervisor de ensino concursado. É diretor efetivo da E.E. Margarida Pinho Rodrigues, na Vila Margarida.  
Aqui ele recorda como era viver na periferia de São Vicente e como era muito mais difícil romper as barreiras sociais da época. #235
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Ao retornar no tempo, vejo-me no local onde nasci, São Vicente, bairro Jóquei Clube. O Brasil estava inaugurando Brasília e logo depois, em 1964, começa a ditadura militar. Portanto, vivenciei todo período da ditadura, apesar de não ter consciência política na época,  do que representou esse movimento, nem sabíamos desse  período obscuro da história recente do País.
Meu nascimento ocorreu em 05/09/1960,  no "Jóquei", numa casa localizada na rua Amadeu de Queiroz, 581, pelas mãos de uma parteira do bairro.

Meus pais são Sinole Gomes Bispo e José Antônio Bispo, ambos falecidos e já nasceram antes de mim  meus irmãos Selma, Célia e Celso falecidos e a Clélia (que mora no Guarujá). Onde nasci era uma casa simples com 2 quartos, sala, cozinha e banheiro, de madeira com um quintal no fundo onde meus pais criavam galinhas, porcos e árvores frutíferas como manga, goiabeira, cuca além de verduras para consumo próprio.

Eu era  o caçula dessa família . Meu pai era pedreiro e minha mãe , empregada doméstica.
Tivemos uma infância pobre, porém feliz , superando as dificuldades com muito trabalho e conquistas difíceis, mas muito significativas para o meu crescimento pessoal.

Nas décadas de 60 a 70,  o bairro jóquei clube era uma espécie de zona rural,  pois haviam poucas residências e nas ruas haviam  plantas e árvores. Perto da casa tem um rio chamado Sambaiatuba, lugar onde podíamos pescar e nadar pois as águas eram limpas e nessa época pegavamos com as mãos lagosta, camarão, siri e peixes diversos, parecendo que estávamos num sítio. Havia uma ponte entre o bairro Jóquei Clube e o dique Sambaiatuba, no qual ficávamos pescando para consumo próprio, com muita diversão.

Diante desse cenário, aparentemente tranquilo, existia problemas sérios quanto ao esgoto, que era em céu aberto, na rua que morava tinha uma vala que quebrei a clavícula com 5 anos, por conta de um cachorro que me empurrou e cai nessa vala. A energia elétrica demorou para chegar e  usávamos lamparinas pra iluminar a casa. Quando ligaram a energia elétrica, apareceu outra dificuldade, pois o acesso aos bens materiais como TV, geladeira, ventiladores era muito difícil necessitando que os pais para adquirir faziam prestações de 48 meses para conseguir obtê-los. 

Outro ponto difícil era a alimentação, pois não existiam supermercados perto e vivíamos de compra em mercado por meio de cadernetas em que o pequeno comerciante comprava em mercado maiores e revendia por preços abusivos, deixando nossos responsáveis  sempre em divida. Outro fato bastante marcante era o transporte coletivo. Para irmos ao centro de São Vicente íamos andando por não haver transporte municipal (não tínhamos condições ou conhecimento desse transporte) e para irmos a Santos tínhamos que andar até a linha 1 (atual av Antônio Emmerich), pois só por lá tinha esse transporte.

Quanto a vida cultural, não existia, o único lugar que tínhamos acesso a vida cultural era a escola, embora estarmos na Ditadura, só tínhamos algum acesso a cultura por meio dos professores. Também às vezes passavam os circos mambembes que faziam apresentações num local perto de casa, o "areião" que era um terreno baldio com areia da praia.

Assim são as lembranças que tenho da minha infância, que apesar de difícil ajudou muito na formação da minha identidade.



Nomeada como porto em 1502 por Américo Vespúcio, foi a primeira Capitania e Vila do Brasil, fundada por Martim Afonso de Sousa em 1532, sendo o berço da colonização brasileira. Esse evento foi narrado nos Diários de Pero Lopes de Sousa, irmão de Martim Afonso. Diferente de outras capitanias, seu sucesso não foi no açúcar, mas sim na produção de alimentos e na exploração de recursos como o pau-brasil e a escravidão de nativos. Apesar da vila inicial ter sofrido com ataques e ser prejudicada pela Serra do Mar, a colonização se expandiu para o interior. A geografia e a insegurança da região litorânea levaram os colonizadores a buscarem novas terras, subindo a Serra e fundando novas vilas no planalto de Piratininga. Dessa expansão, surgiu a Vila de São Paulo, que se tornaria a segunda Capitania, um importante centro colonial, servindo como base para a exploração do interior. São Vicente, portanto, manteve-se por 175 anos como o centro politico sistema colonial português no Brasil. #236


Alberto Santos-Dumont, nasceu a 20 de julho de 1873 em Santa Luzia do Rio das Velhas, hoje cidade de Santos-Dumont,  MG. Era filho do engenheiro francês Henrique Dumont e de D. Francisca de Paula Santos. Alberto iniciou os estudos no Brasil, mas, ainda muito novo passou a estudar em Paris. Recebeu a influência dos romances de Júlio Verne, tendo enorme interesse pela construção de balões. Em 1898 fez subir ao espaço o primeiro de uma série desses engenhos. Em 1901, venceu o prêmio Deutsch de la Meurthe, de circunavegação da Torre Eiffel em 30 minutos. O prêmio de 100 mil francos foi dividido com os pobres de Paris e os mecânicos que com ele haviam trabalhado na construção dos aparelhos voadores. 
Em 1905 obteve grande êxito com o aparelho 14-Bis, em experiências no Champ de Bagatelle. Neste local, a 12 de novembro de 1906, sob controle do Aeroclube da França, estabeleceu os primeiros recordes de aviação do mundo. Em 1913 o Aeroclube da França inaugurou em Saint-Cloud um monumento a Santos-Dumont, representando o lendário Ícaro numa estátua de bronze.
Em 1918 o Governo Brasileiro doou a Santos-Dumont o sítio Cabangu, onde nascera, perto da estação de Palmira, em Minas Gerais. No mesmo ano publica o seu segundo livro, O que eu vi, o que nós veremos. Em 23 de julho de 1932, aos 59 anos de idade, suicidou-se no Guarujá, profundamente traumatizado, ao que se presume, com o desenrolar do movimento revolucionário irrompido a 9 do referido mês, nos Estados de São Paulo e Mato Grosso. (ABL). #237

PS. Santos Dumont concluiria a obra de Bartolomeu de Gusmão em 1901, ao construir o primeiro balão dirigível. Os modernos balões de ar quente constituem versões modificadas do modelo de Bartolomeu, com desenvolvimentos de Paul Edward Yost. Outra história.


 Bartolomeu Lourenço de Gusmão, cognominado “O Padre Voador” morreu em Toledo, Espanha, no dia 18 de novembro de 1724, aos 38 anos. Sacerdote secular, cientista e inventor português, nascido na capitania de São Vicente, no Brasil, tornou-se famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou  “passarola” – mais conhecido na sua versão moderna, como balão de ar quente.

Cursou as primeiras letras no Colégio São Miguel em São Vicente. Prosseguiu os estudos na Capitania da Baía de Todos os Santos. Ingressou no Seminário de Belém, em Cachoeira, onde teve início a profícua carreira de inventor. Em1699, concluído a formação, Bartolomeu transferiu-se para Salvador, capital do Brasil à época e ingressou na Companhia de Jesus, de onde saiu antes de ser ordenado, em 1701.

Viaja para Portugal, hospedando-se em Lisboa na casa do Marquês de Fontes, que se impressionara com os dotes intelectuais do jovem de 16 anos.

Em 1702, Bartolomeu retorna ao Brasil e dá início ao processo de ordenação sacerdotal. 

Em 1708, o já padre Bartolomeu embarca para Portugal, matriculando-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. Abandona a faculdade a meio e  instala-se em Lisboa. Na capital pede patente para um “instrumento para se andar pelo ar” – que se revelaria mais tarde como sendo o aeróstato ou balão – concedida em 19 de abril de 1709. O invento, divulgado por meia Europa em estampas fantasiosas, causou celeuma. Era retratado como uma barca com formato de pássaro, ficando conhecido como “passarola”.

                      
Bartolomeu Lourenço de Gusmão, por Benedito Calixto, em quadro de 1902.


As primeiras ilustrações da Passarola tinham sido elaboradas por um filho do Marquês de Fontes, Joaquim Francisco, com a conivência de Bartolomeu. Aluno de matemática do padre,  era a única pessoa que tinha livre acesso ao recinto em que o engenho voador era guardado.

Leva a cabo então o exótico desenho da Passarola, em que tudo era propositadamente falseado. E para preservar o verdadeiro princípio da invenção – o Princípio de Arquimedes - atribuiu a ascensão da engenhoca ao magnetismo, resposta naquela altura a quase todos os mistérios científicos. A Passarola, inspirada ao que parece em fábula da fauna brasileira, espalhou-se pela Europa em várias versões.
Em sgosto de 1709, finalmente, Bartolomeu fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas dimensões: na primeira, realizada na Casa do Forte, o protótipo incendiou-se antes de subir; na segunda, noutra dependência do palácio, a Casa Real, o aeróstato, provido no fundo de uma tigela com álcool em combustão,  elevou-se a 4 metros, quando começou a arder; na terceira, feita novamente na Casa do Forte, o balão, contendo no interior uma vela acesa, logrou fazer um voo curto, mas incendiou-se ao descer; na quarta, feita no Terreiro do Paço, o balonete elevou-se a grande altura, pousando lentamente minutos depois; na quinta, feita na Sala das Audiências, no interior do Palácio Real, o globo subiu até ao tecto do aposento, aí permanecendo, quando enfim desceu com suavidade.
Em 3 de outubro de 1709, na ponte da Casa da Índia, o padre fez nova demonstração do invento. O aparelho utilizado era maior que os anteriores, mas ainda incapaz de transportar um homem. A experiência teve êxito absoluto: o balão subiu bastante alto, flutuou por um tempo não medido e pousou sem problemas.

Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus protótipos à corte de D. João V.


Cinco testemunhas registaram estas experiências: o cardeal italiano Michelangelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão e José Soares, membros da Academia Real de História Portuguesa, o diplomata José Brochado e o cronista Salvador Ferreira.
Estas experiências, embora com a assistência de personalidades da época, não foram suficientes para popularizar o invento. Os pequenos balões exibidos, além de não terem sido encarados como inovação importante ou útil, por serem desprovidos de qualquer tipo de controlo - eram levados pelo vento. Foram considerados perigosos, pois podiam provocar incêndios. Estes factores não permitiram a construção de um modelo grande, tripulável.
Entre 1713 e 1716, viajou pela Europa. Registou na Holanda o invento de uma “máquina para drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar”.  Viveu em Paris, trabalhou como ervanário para sustentar-se.
O padre Bartolomeu de Gusmão voltou a Portugal, quando foi vítima de insidiosa campanha de difamação. Acusado pela Inquisição de simpatizar com cristãos-novos, viu-se forçado a fugir para a Espanha, no final de setembro de 1724.

Segundo o testemunho que, mais tarde, João Álvares, um irmão mais novo, daria à Inquisição espanhola, Bartolomeu teria feito a conversão ao judaísmo, em 1722, depois de atravessar uma crise religiosa. O relato de João Álvares ao Santo Ofício, ainda que deva ser visto com cautela, mostra aspectos místicos, messiânicos e megalómanos do "padre voador".

Em Toledo, Bartolomeu adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da Misericórdia, onde veio a falecer em 18 de novembro de 1724. Antes de morrer, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua sepultura , o que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o Brasil e  encontra-se, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São Paulo.

Bartolomeu de Gusmão figura como uma das personagens centrais de Memorial do Convento, romance de José Saramago. #238

Fonte: Opera Mundi


O CVV-Centro de Valorização da Vida foi a primeira organização voluntária de prevenção do Suicídio da América Latina. Foi fundada em São Paulo por um grupo de alunos de uma escola religiosa da Federação Espírita de São Paulo-FEESP, com sal e telefone emprestado pela instituição. Uma sugestão do CEl. Edgard Armond ao jovem Jacques Andrê Conchon, líder da turma. Eles faziam caravanas nos cortiços do centro da cidade e constataram um elevado número de suicídios e aceiram o desafio. Consultaram profissionais de psiquiatria e enfermagem para as primeiras instruções e seguiram o exemplo de uma reportagem publicada numa revista paulista que falava dos Samaritans de Londres, que fazia o trabalho com voluntários dez anos antes, sob a liderança do socerdote anglicanos Chad Varah. Este visitaria o Brasil em 1976 e propôs ao CVV a fusão das duas entidades num programa de expansão no Brasil e América latina. Uma cidades escolhidas foi Santos, cujo posto foi fundado por um grupo de vicentinos, paulistanos e santistas em 1979. É uma ONG areligiosa e sem vínculo políticos. Desde então funciona sem interrupção, 24 horas, com uma média de 60 voluntários usando um sistema desenvolvido com o Ministério da Saúde-Anatel com o telefone 188 gratuito. O CVV tem hoje cerca de 2.500 voluntários, mais de 100 postos franqueados e recebe cerca de 4 milhões de chamadas por ano. Em S.Vicente o CVV funciona em sede própria na  R. do Colégio, 130 - Centro, São Vicente - SP, 11310-210, integrada ao www.cvv.org.br # 239




A Companhia Siderúrgica Paulista-COSIPA (Usina José Bonifácio de Andrade e Silva) compôs o polo industrial de Cubatão nos anos 1950. Possuía 12 milhões de metros quadrados, incluindo um porto privativo alfandegado e que podia operar 12 milhões de toneladas/ano, e um complexo ferroviário com capacidade de atender 4 milhões de toneladas/ano. Tinha cerca de 5 500 empregados, dos quais 5 300 trabalhando diretamente na Usina de Cubatão. Eram em sua maioria moradores de Santos , São Vicente e Vicente de Carvalho (Guarujá). Cláudio Sterque(Historiador PG) reforça essa regionalidade e a ampliação de núcleos habitacionais na região: "Vamos lembrar que na Praia Grande também havia muitos cosipanos. O Conjunto Habitacional Samambaia com mais de 1,400 casas nasceu com os cosipanos sendo os maiores clientes". Na mesma direção serrana da rodovia Padre Manoel da Nóbrega ergueu-se em 1983 o Conjunto Humaitá, com 3.768 casas.
A empresa produzia aços planos não revestidos, (placas, chapas grossas, laminados a quente e a frio), para atender segmentos estratégicos da economia como o automobilístico, ferroviário, automotivo, naval, de construção civil, agrícola, de embalagens, mecânico, eletroeletrônico, de utilidades domésticas, máquinas, equipamentos e de distribuição. Foi privatizada nos anos 1990 sob a direção da Usiminas. #240


Casarão Caramuru, atual PALÁCIO MARTIM AFONSO. Ainda está localizado na esquina das ruas Frei Gaspar e Tibiriçá. A edificação foi construída como residência particular de Julião Caramuru, figura politica de destaque na São Vicente do início do século XX. Foi posteriormente herdada pela família do advogado e vereador Magino Bastos (pai do engenheiro e também vereador Tude Bastos). Alguns anos depois, o casarão foi adquirido pela terceira administração do prefeito João Francisco Bensdorp, para funcionar como sede do poder Executivo e também da Câmara Municipal. Uma curiosidade desse prédio e sede da prefeitura foi a recente e sucessiva troca de cores adotadas pelos prefeitos para marcar suas administrações. As três últimas cores ali imprimidas com intenção política ideológica foram a amarela, dos prefeitos Márcio França e seu sucessor Tércio Garcia, por sua vez mantida também pelo prefeito Billy: este adotou a cor lilás em sua administração, porém mas não pintou a prefeitura com essa cor; a cor seguinte foi a verde, adotada pelo prefeito Pedro Gouvêia; e finalmente a cor branca escolhida pelo prefeito Kaio Amado, como tentativa de quebrar a disputa e permitir que as paredes fosse iluminadas pelo calendário mensal de cores, adotado universalmente pelo ONU. #241



O PORTO DE SÃO VICENTE E O PORTO DE SANTOS. O que revelam os mapas quando são historicamente contextualizados e comparados. Usamos como fonte a carta cartográfica da Biblioteca Nacional de Portugal, publicada na página do  Instituto Histórico e Geográfico de Santos (P&B) e do Arquivo Público do Distrito Federal.
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Vejamos o detalhe do mapa do Porto de São Vicente em 1626, quando a região ainda pertencia à capitania afonsina:
- As  primitivas Vilas de São Vicente (1502) e de Santos (1540),  localizadas nos dois extremos da Ilha de São Vicente;
- Os territórios mais próximos são a Ilha de Santo Amaro (com fazendas ou engenhos);
- As Terras de Paranapiacaba, em direção ao Planalto e as vilas de Piratinga (S. André, S. Bernardo da Borda do Campo e S. Paulo).

Este foi o Porto do Açúcar ou Sacarina. 

O texto (lido por IA) no cabeçalho do mapa descreve o Porto de São Vicente como um dos melhores portos do Brasil, com uma barra de 3 a 7 braças de profundidade. A área é considerada abundante em terras e saudável. O porto permite a entrada para a Vila de São Paulo e é um local de comércio constante. A profundidade da barra do porto varia de 3 a 7 braças. A área é fértil, saudável e com terras abundantes. O porto serve como ponto de acesso para a Vila de São Paulo. 
No século seguinte a capitania vicentina, já decadente, seria substituída pela Capitania de São Paulo, tendo em vista o interesse dos novos fidalgos pelos negócios da mineração. 

No segundo mapa, do século XVIII, a descrição geográfica cita Santos como cidade e Cubatão (que pertenceria à Vila de São Vicente até 1840, sendo anexada por Santos). Eram os primórdios do Porto do Café, sucedido pelo Porto das Industrias  e Bananas. Foi nesse longo período que a influência política de Santos se ampliou, aliada à São Paulo, denominando não somente a barra e o porto, mas também a bacia marítima. 

Ao explicar essa dinâmica política regional , a  historiadora santista Wilma Therezinha lembra que São Vicente era um nome realmente muito forte , seguindo uma tradição de nomenclatura católica portuguesa. Se não fosse a mudança do nome para Capitania de São Paulo (influência jesuíta), provavelmente seríamos sequencialmente Capitania de São Vicente, Província e Estado de São Vicente e finalmente Bacia Marítima de São Vicente. São Vicente foi se apagando e  somente retomou as rédeas da sua autonomia no início do século XX por meio de dois executivos portuários: o prefeito Antão Alves de Moura (que residia no então bairro de Praia Grande)  e o presidente da Câmara, Hermann Reipert, residente na chácara e atual bairro Boa Vista). #245
Dalmo Duque-CALUNGAH.









Em 1949 o Conselho Nacional do Petróleo determinou  que fosse construída uma refinaria com capacidade de processamento de 45 mil barris/dia, volume que na ocasião correspondia a 80% do consumo de derivados. Pela proximidade do Porto de Santos e das industriais da Grande São Paulo, foi escolhida como ponto estratégico a cidade de Cubatão, formando com a Companhia Siderúrgica Paulista-COSIPA a base do nosso polo petroquímico regional. A Refinaria Presidente Bernardes  (RPBC) pertence à Petrobras, com capacidade instalada para 170 mil barris/dia. Seus principais produtos são: gasolina Podium, gasolina comum, gasolina de aviação, óleo diesel, coque, GLP, nafta, gás natural, butano, benzeno, xilenos, tolueno, hexano, enxofre, resíduo aromático, bunker, hidrogênio e componentes para a gasolina da Fórmula 1. É responsável por 11% do fornecimento de derivados de petróleo do País. A RPBC foi a primeira grande refinaria brasileira, projetada pela empresa norte-americana Hydrocarbon Research, Inc. em 1952, com equipamentos fornecidos pelo consorcio francês Fives-Lille/Schneider & Cie. Foi inaugurada pelo presidente da República João Café Filho, em 16 de Abril de 1955, sendo na ocasião responsável por 50% do abastecimento do Brasil.
Segundo Walter Hori (Petróleo: a história começa em Cubatão), a Via Anchieta surgia como uma das melhores rodovias do mundo. Tudo era importado: caminhões, automóveis, combustíveis e até mesmo o asfalto que substituiria o cimento na pavimentação. O consumo nacional de combustível era da ordem de 70 mil barris por dia (barril = 159 litros). Nessa época, iniciava-se, em Cubatão, a fase pré-operacional da Refinaria de Petróleo, visando, numa primeira etapa, processar diariamente 45 mil barris de petróleo. No sopé da serra, junto ao pontilhão do Caminho do Mar, barracões de madeira acomodavam da melhor forma possível o centro de treinamento, sala de projetos e restaurante. A Petrobrás estava recrutando pessoal para a área de refino, exploração e transporte de petróleo e derivados. #242.



Espaço de confinamento de gado à espera de abate no matadouro de Santos, o Magueirão foi utilizado durante muitos anos e foi aos poucos perdendo sua utilidade quando  o próprio matadouro foi também perdendo sua utilidade urbana, causada pela rápida distribuição de carnes feitas pelos frigoríficos do interior e da Capital. Nas década seguintes a área seria ocupada por loteamentos. Mas enquanto funcionava, o era motivo de reclamações pelos inúmeros incidentes causados pela fuga e dispersão - provocados ou acidentalmente- do gado pelas ruas, causando inúmeros transtornos entre os moradores dos bairros vizinhos. As reclamações eram tantas que o assunto foi até motivo de debate na Câmara de Santos, onde estava o maior estabelecimento de abate da região.  #243
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NO TEMPO DO MAGUEIRÃO No texto a seguir juntamos comentários de pessoas que viveram próximo desse local emblemático da cidade, entre os anos 1930 e 1960. Quais os bairros e ruas que ele abrangia?
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SÍTIO DO BUGRE, MANGUEIRÃO, BOIADEIROS, RAMAL FERROVIÁRIO, HOTEL E QJosé Roberto Frutuoso: Lá no início, perto do centro de São Vicente na década de 50 e 60, tinha o Mangueirão dos bois que eram conduzidos na madrugada pelas ruas por boiadeiros até o matadouro. De vez em quando alguns bois escapavam pela cidade e tinham que ser caçados. Aí quando meu pai ia trabalhar as 5 horas da manhã e topava com os bois tinha que pular um muro e se esconder dentro de um quintal. 

O espaço maior do Mangueirão ficava junto à atual avenida Martins Fontes e Aleixo Garcia. 

Eunice Requejo Costa: “O mangueirão começava atrás da Fábrica de Sabão e terminava antes de chegar na avenida Mota Lima. Lã no final tinha outra porteira de onde os boiadeiros em seus cavalos os conduziam na madrugada em manadas até o Matadouro. Esses boiadeiros - um deles era filho da dona Juventina Parteira - também trabalhavam na estação de trem e quando tinha as manobras dos trens eles ficavam nos ramais para desviar os trilhos da via principal. De um lado ficavam as galerias dos bois, na linha que ia até ao Mangueirão atravessando a avenida Martins Fontes, atrás dos chalés da Vila Sorocabana, depois FEPASA. Do outro lado da linha principal, ficavam os vagões fechados e inda tinham os vagões de areia que descarregaram ali para a Areia Vieira. Tirei muito estrume de bois dentro da galeria e levava para o jardineiro ali na Rua Tenente Durval do Amaral. Hoje ficou imaginando como eu e meu irmão rastejávamos por baixo dos bois para enchermos os baldes. Era uma época boa”.

Jansen Gallo: Excelentes lembranças de um tempo que não voltará jamais. Hoje posso dizer que tive a felicidade de ter “participado” dessas correrias fugindo dos bois pelas ruas de terra no Parque São Vicente e adjacências. Tempos felizes de garoto, livre e solto pelas ruas do bairro.

Carmen Jabuca: Minha mãe subia nas árvores para fugir dos bois. A irmã de criação, que era terrível, montava neles.

Silvia Martin Leme: Eu morava na XV de novembro e de vez em quando os bois corriam pelas ruas
Antonio Augusto Gorni: No início dos anos 1990 ví um anúncio de leilão de vários terrenos da Fepasa em São Vicente que se situavam no região do malfadado ramal para o Porto. A maioria estava ocupada ilegalmente.

Ivo De Moraes Pistéco: Aí os bois escapavam e adentraram na praça foi uma correria , veio bombeiros p laça- Los eu estudava no 1 ginásio da Vidrobrás em 1964 anexo do Martim Afonso


MANGUEIRÃO FOI DISCUTIDO NA CÂMARA DE SANTOS

Em sessão extraordinária em 2 de junho de 1955, a Câmara Municipal de Santos discutiu os problemas causados pelo Mangueirão. Num clima de bom humor, os vereadores, na verdade, pretendiam iniciar outra discussão: a urgência de obras de um novo matadouro na cidade, que seria construído na margem santista do rio São Jorge, na avenida N.S. de Fátima, no Chico Paula. Detalhe: a prefeitura vicentina foi apontada como "indiferente ao assunto".  A discussão confirma todos os depoimentos relatados aqui pelos nossos seguidores  e que viveram sua infância essa época.




Câmara Municipal de Santos

Sessão Ordinária, em 2 de Junho de 1955

PRESIDENCIA: Srs. João Carlos de Azevedo e Remo Petrarchi

SECRETARIOS: Srs. Francisco Mendes e Domingos Fuschini

O SR. JOAO CARLOS Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o Requerimento ora apresentado, de minha autoria, representa ura esforço da Câmara Municipal de São Vicente e da Câmara Municipal de Santos, no sentido de evitar-se a ocorrência de cenas degradantes para a cidade, como a que tivemos oportunidade de assistir hoje de manhã - um estouro de boiada. É uma cena multo interessante, o estouro de uma bolada, com o consequente espalhamento das reses pela cidade inteira. Foi uma cena cómica, não há dúvida nenhuma, mas que, efetivamente, não se enquadra nos nossos foros de civilidade.

O SR. LA SCALA Trágico-cômica...

O SR. JOAO CARLOS - Trágico-cômica, não há dúvida...

O SR. LA SCALA ...e de pavor...

O SR. JOÃO CARLOS -...de pavor, sim, mas que motiva, também, boas rizadas...

A Câmara Municipal de São Vicente também está bastante preocupada com o assunto porque todo o gado levado a pé de São Vicente para o Matadouro de Santos, para ser sacrificado. Quase todas as manhãs, cenas como a que assistimos hoje sede toda ordem, como de que cria problemas de propriedades, muros, cercas, jardins, plantações, e, como disse o nobre vereador Luiz La Scala, causando pavor à população. E' um fato que revela falta de organização. Há necessidade premente de cuidar-se de assunto e modificar-se o estado de coisas reinantes.

Antigamente, o transporte de gado era feito, de São Vicente para o Saboó, como os colegas se lembram, em galeras, que eram puxadas por uma maquininha branca. Assim, o gado era conduzido àquele Matadouro sem ter necessidade de passar. como atualmente, pela linha 1. Esta situação lembrada pela Câmara Municipal de São Vicente, determinou a providências daquela Edilidade, consubstanciada num Projeto de Lel transformado em lei já, através do qual cobra-se do proprietário uma multa de 200 cruzeiros por rez que seja encontrada transitando pelas ruas. Quanto se cobrará de uma boiada, uma vez que não há outro caminho para o transporte?

Isto, a meu ver, não é uma solução porque quem vai continuar pagando a multa? E o gado, não será mais transportado? A solução seria a construção ou, melhor, a colo- cação de mais um trilho na linha 1, de São Vicente para cá. Mais um trilho adaptado à linha, possibilitaria o trans- porte em galeras como se fazia antigamente. Penso que a solução, nesse particular, compete ao Executivo Santista, pela SMTC, já que a Autarquia está subordinada à Prefeitura Municipal.

Nestas condições, o Requerimento que apresentei, visa, sendo aprovado, juntar mais este elemento aos inúmeros outros que já se apresentaram nesta Casa, e constituirá mais um problema para ser tratado pela Comissão Especial de Vereadores junto à direção da Sorocabana, pois, certamente à Estrada de Ferro Sorocabana caberia solução definitiva do problema. Mas este é um assunto que demanda o máximo de urgência por parte da Câmara, pois se espera, há muito, solução adequada.

O SR. PRESIDENTE Continua em discussão. O SR. ARISTOTELES FERREIRA

Sr. Presidente,

Sobre o assunto em tela, na sessão de 7 de outubro de 34 apresentei e foi aprovado pela Câmara um Requeri- mento assim redigido:

(Le): "Requeiro, ouvido o Plenário e em regime de urgência, seja oficiado ao Exmo. Sr. Prefeito Municipal, transmitindo-lhe o teor da noticia publicada no "Estado de São Paulo" e transcrita no jornal local "O Diário", relativa ao transporte de gado para o matadouro desta cidade, no sentido de que o Executivo apure devidamente as dificuldades all apontadas e tome as necessárias e  imediatas providências para e indispensável regularização desse transporte".

Sr. Presidente, como disse, em 7 de outubro do ano passado, aprovava esta Câmara um Requerimento com referência ao assunto.

Entendo que o Sr. Prefeito Municipal deve ter um es- tudo sobre o mesmo, porquanto não é admissível que S Excia., tendo recebido esse Requerimento, acompanhado de uma nota do jornal "Estado de São Paulo", transcrita no "Diário", de Santos, não tenha cuidado do assunto.

Portanto, sugiro que a Comissão, à qual vai ser envia- da esta proposição, se entenda também com o Sr. Prefeito, porque, como disse, S. Excla. deve ter estudos sobre o assunto.

O SR. JOAO CARLOS. Realmente, V. Excia. tem razão. E' de meu conhecimento que o Sr. Prefeito Municipal tem estudos sobre o assunto. Mas, achou S. Excia. que a Câmara também deveria estudá-lo, entrando em contacto com o problema através da Câmara Municipal de São Vicente. Porque, disseram Vereadores de S. Vicente, que o Prefeito Municipal de lá não tem o menor interesse na questão. A Câmara Municipal é que, de "motu-próprio", deliberou enfrentar o problema, aprovando a lei de que falei no início deste debate. Assim, também se dirigiram a nós, para que, em conjunto, decidíssemos,

O SR. ARISTOTELES FERREIRA

O meu fito, ao usar da palavra, é o de esclarecer a Câmara que em outubro do ano passado já ventilamos o assunto e nesse sentido fol enviado o meu Requerimento ao Sr. Chefe do Executivo.

O SR. LUCIO GRAÇA Sr. Presidente, exatamente hoje, lendo noticias locais no "O Diário", vi a transcrição de artigo de redator de "O Estado de São Paulo". Nestas condições, pediria ao ilustre apresentante do Requerimento que concordasse em que constasse dos trabalhos da Comissão, a sugestão feita pelo matutino "O Diário" e que está assim redigida: (Le):

"Urge que se faça sentir ao governo do Estado a conveniência de se construir um novo Matadouro Modelo, para servir a região de Santos, cuja localização ideal seria, in- discutivelmente, em terrenos da Alemoa, pertencentes à "Santos-Jundiai", com desvios fáceis e pronta saída para a Via Anchieta, além de proporcionar facilidades para o caso de uma possível exportação, com acesso para o lado do mar".

E' esta a solução que encaminho para ser oferecida à Comissão encarregada de estudar o problema. A Mesa consulta o nobre Vereador João Carlos se aceita o adendo oferecido ao seu requerimento.

O SR. PRESIDENTE

O SR. JOAO CARLOS (Pela ordem) Sr. Presidente, o assunto é correlato. Se bem que não seja pertinente, é correlato, pois trata da questão do matadouro e deve ser incluído.

O SR. PRESIDENTE Continua em discussão o se- requerimento. (Pausa) Está encerrada a discussão. Os Srs. Vereadores que forem favoráveis ao Requerimento, com o adendo do nobre Vereador Lúcio Graça, queiram conservar- se como estão. (Pausa) Está aprovado.

Será encaminhado a Comissão Especial que está tratando do assunto.

A TRIBUNA Quarta-feira, 8-6-1955


Há segredos ainda não desvendados na história da primeira Vila do Brasil, denominada pelos índios de Ipanema e batizada pela expedição de Américo Vespúcio, de São Vicente. Fonte e Ilustrações : São Vicente Sociedade Alternativa. É incontroverso que São Vicente, antes de 22 de janeiro de 1502, era porto conhecido e freqüentado pelos aventureiros dos mares. Martim Afonso quando veio de Cananéia para instalar aqui o primeiro núcleo da civilização ocidental no Brasil, ancorou no porto de São Vicente, entrando pela Barra Sul.

A Barra Sul era conhecida também por “Rio de São Vicente” porque antes de 1543 o Rio Piassabuçu desembocava no Oceano Atlântico no sopé do pontão do Morro do Itaipu, na Praia Grande. Em 1543, houve um maremoto que alterou a geomorfologia da região. O cataclisma destruiu a vila construída por Martim Afonso. Mergulhadores retiraram do fundo do mar os sinos da igreja e o pelourinho por ele construído. Depois desse desastre ecológico, a Barra Sul tornou-se imprópria para a navegação de navios de médio e grande porte.

Em 22 de janeiro de 1502, a expedição de Américo Vespúcio, comandada por Nuno Manoel, percorreu a costa brasileira de Norte para o Sul. Avaliou as riquezas do litoral e batizou com o nome dos Santos do dia da chegada, os lugares mais importantes, como se vê do relatório designado à posteridade o dia a que a elas aportava, do modo seguinte:

“A 22 do dito (mês de janeiro) NO PORTO DE SÃO VICENTE”, ou seja, no dia 22 de janeiro, as três caravelas ancoravam no porto que, a partir daquele instante passou a designar-se de São Vicente. (Varnhagem 7ª edição / pág. 83).

Vespúcio batizou São Vicente como PORTO e não como um lugar qualquer. Daí, a certeza histórica da antiguidade do PORTO DE SÃO VICENTE, que remonta à época anterior ao descobrimento oficial do Brasil. O porto das Naus e o Porto de Tumiaru, formavam o Porto de São Vicente. O maciço Xixová-Japui-Itaipu, formavam a Ilha de Guaibe, fronteiriça ao Porto de Tumiaru, este, na Ilha de São Vicente.
“Da Ilha de Guaibe, onde é o Porto das Naus, defronte desta Ilha de São Vicente, onde todos estamos e da banda Sul, partem com a barra e porto da dita Ilha de Guaibe, e desta de São Vicente, que é onde ancoram as naus quando vem para este porto de São Vicente”, (Frei Gaspar – Memória para a História da Capitania de São Vicente – pág. 49/texto de 1536).

O Padre José de Anchieta, em uma de suas cartas diz que: “São Vicente era rica e hoje é pobre porque perdeu sua barra”. Pesquisando chegaremos à verdadeira história de São Vicente.
FONTE: Boletim do IHGSV.

Tendo em vista que na época do descobrimento os mapas eram elaborados de acordo com a visão que os navegadores tinham olhando do mar, nota-se que a geografia da área é um pouco diferente da realidade.
Também, mapa com a SUPOSIÇÃO de como poderia ter sido a Barra Sul de conformidade com a teoria defendida pelo Professor Teleginski. #244


(O Professor Teleginski é especializado em terras, divisas e territórios, sendo autoridade nessas matérias e participação preponderante no projeto que instituiu o Parque Estadual Xixová-Japuí).
Seus conceitos para a Barra Sul:

***

SÃO VICENTE TINHA BARRA PRÓPRIA PARA O MAR.
ERA A TERCEIRA BARRA OU BARRA SUL

Documentos - Pe. José de Anchieta em 1585 escreveu dizendo que São Vicente fora, antigamente, porto de mar. Palavras textuais: “Mas depois, com a corrente das águas e de terras do monte se tem fechado o canal, nem podem chegar as embarcações por causa dos baixos e arrecifes.” (Porto Seguro - História Geral do Brasil - I Vol. pág. 155)
Fernão Cardim, na mesma época observa, em relação a São Vicente, que:

“Foi rica, agora é pobre por se lhe fechar o porto de mar e barra antiga.”
(Fernão Cardim - Tratado da Terra e Gente do Brasil - pág. 315/316).

Para melhor compreensão dos fatos, cumpre alertar para o seguinte: - A Vila São Vicente foi destruída pelo mar, entre 1542 a 1545. Os documentos que falam da Barra de São Vicente tratam da barra por onde entrou a armada de Martim Afonso. Não se referem ao canal estreito, como sempre sobre o qual atravessa a Ponte Pênsil, por onde caravelas de 150 toneladas de calado não passariam senão com grande risco de acidente.

Frei Gaspar da Madre de Deus, no livro MEMÓRIAS PARA A HISTÓRIA DA CAPITANIA DE SÃO VICENTE, pág. 46 e seguintes, irrita-se e se embaraça, quando fala sobre a Barra de São Vicente. Ele faz confusão, não sei se proposital, entre o canal da Ponte Pênsil e a antiga barra de São Vicente, ou Barra Sul.

São palavras suas:

"É opinião ou erro comum que a esquadra de Martim Afonso entrou pela mencionada Barra de São Vicente. Dizem eles, que nesse tempo ela conservava fundo suficiente para naus maiores e que depois se areara e hoje somente é capaz de canoas.” pág. 46.

Na pág. 48:
“Ainda teimam os moradores desta Vila, que todos os navios antigamente entravam pela sua barra e davam fundo no Porto de Tumiaru.”
O mesmo Frei Gaspar traz um documento de Sesmaria dada em 31 de dezembro de 1536, a Estevão da Costa, por Gonçalo Monteiro, vazado nestes termos: (documento anterior à destruição da Vila)
“Da Ilha de Guaibe, onde é o Porto das Naus, defronte desta Ilha de São Vicente, onde todos estamos..... e da banda do Sul partem com a barra e Porto da dita Ilha de Guaibê, e desta de São Vicente, que é onde ancoram as náus quando vem para este porto de São Vicente.”

JERÔNIMO LEITÃO ao pedir o uso do Porto das Naus, dentre outras coisas, diz em seu requerimento:
“Martim Afonso ........ deu na dita terra ao Conselho um tiro de arco em roda, para varadouro dos navios “ (porque naquele tempo parece que varavam ali). (doc. de 1580 posterior à destruição da Vila).
Confirmando tudo o que acima ficou dito, quero trazer ao conhecimento dos leitores, um documento que reputo de grande valia para o tema em exame. Trata-se da doação que fez Pero Correia, à Casa da Companhia da Ilha de SãoVicente, das terras que recebera em Sesmaria, de Gonçalo Monteiro, em 1542:

“... digo ser verdade que no livro do tombo são duas cartas registradas das terras que Gonçalo Monteiro sendo Capitão deu ao dito Pero Correia. A primeira que foi dada que é defronte desta ilha e Vila de São Vicente que era antes dada pelo Governador a um Mestre Cosme Bacharel, que o dito Gonçalo Monteiro houve por devoluta, começa a partir do Porto de Naus ......... Começou a partir que é no dito Porto das Naus, ficara um rocio de um tiro de arco, assim como foi mandado e ordenado pelo senhor Governador que fica livre e desembargado para quando as naves ali ancorassem.”
(Serafim Leite - História da Companhia de Jesus no Brasil - Tomo I - Ed. 1938)

Esse documento lavrado em cartório, em 1553 dá conta, de maneira inequívoca sobre a real situação da Vila de São Vicente, antes do fenômeno marinho que a destruiu em 1542/45

Outra feição importante é situar a Ilha de Guaibê, que não é outra senão o belo maciço que se estende desde o Porto das Naus, Prainha (praia de Paranapuã ou das Vacas) até a Fortaleza de Itaipu.
Anos atrás poder-se-ia ir de canoa do Mar Pequeno, até a ponta de ltaipu, por água, sem pisar em terra firme, em dia de maré alta (com o assoreamento e depois canalização do rio, isto não é mais possível).
Resta, ainda, também, o maciço tornado Parque Ecológico por Decreto Estadual de nº 37.536 de 27/09/93.

Neste particular, São Vicente é, também, pioneira.

A antiga Ilha de Guaibê é Parque Estadual, unidade de preservação de relevante significado científico, cultural e ambiental.

Desde 1988 a UNESP vem desenvolvendo trabalhos de ensino e de pesquisa na região, através de seu Centro de Ensino e Pesquisa do Litoral Paulista - CEPEL. Conta atualmente, com o aporte técnico-científico e diversas equipes de docentes dos diferentes “campus” da Universidade espalhados pelo Estado. Além de estarem sendo desenvolvidos inúmeros projetos para o aperfeiçoamento e especialização dos profissionais em biologia, microbiologia, oceanografia e outros profissionais da baixada santista, existem, em andamento, pesquisas científicas, neste Parque, pioneiras no mundo, como é o caso da absorção e transformação dos poluentes pesados, por organismos vivos das águas marinhas.

Hoje, o estudo da biodiversidade representa, para o amanhã, riqueza de projeção incalculável.
Nesse Parque de 901,00 hectares razoavelmente preservado, biodiversidade e os ecossistemas de Mata Atlântica guardam, ainda, características notáveis.

O Parque, além de servir de pouso e reprodução de aves migratórias, apresenta, ainda, moluscos e outras espécies marinhas que não existem mais, em outros lugares da região.
Com a criação do Parque Xixová-Japuí, São Vicente não terá problemas com favelas em morros. Quando desaparecerem as favelas urbanas, com o desenvolvimento das populações hoje carentes, São Vicente prosseguirá desenvolvendo sua vocação histórica de cidade pioneira do Brasil.

Ilha Porchat, 11 de Janeiro de l995.

Dr. Antonio Teleginski.



HERMENEGILDO LA PETINA nasceu em São Vicente, no dia 07 de junho de 1888. Filho de: Francesco La Petina , italiano nascido em 28 de setembro de 1854 em Tramutola, na província de Potenza), radicado em São Vicente desde dezembro de 1879 e segundo o Almanaque de Santos de 1885, um dos comerciantes mais antigos da cidade;  e Maria Rosa Branda. Batizado na Igreja Matriz de São Vicente no dia 08 de Outubro de 1888, foram os padrinhos Hermenegildo da Silva Ablas e Dona Margarida Emmerich Ablas, esta filha de Jacob Emmerich e Filipina Emmerich.
Hermenegildo era o sexto filho de uma família de onze filhos. Estudou no colégio do povo dos dez aos dezessete anos de idade, trabalhou nos estabelecimentos comerciais de seu pai, um Empório na Rua do Porto (Rua Marques de São Vicente), uma Taverna na Rua Visconde de Tamandaré e uma Pedreira no Morro dos Barbosas.

Em 1910, Hermenegildo fez parte da Diretoria de um curioso clube filantrópico de São Vicente, o “Clube dos Em pés”. Os sócios desse clube em sua maioria eram comerciantes e políticos vicentinos. A curiosidade desse clube é que nas reuniões de diretoria todos permaneciam em pé porque não havia cadeiras no recinto.

Hermenegildo era músico tocando na Banda Municipal de São Vicente e aos domingos no coreto que existia na Praça Coronel Lopes. Entre 1919 e 1921, Hermenegildo foi membro da Irmandade do Hospital São José e usando de sua influência na Alfândega de Santos, conseguiu varias doações. Em 1922 pediu sua saída do cargo de Despachante da Alfândega de Santos e veio trabalhar na cidade de São Vicente assumindo o cargo de escrivão de policia na delegacia local. Em 1930, acumulou além da função de escrivão, a de carcereiro. Aposentou-se em 195.  Faleceu em 04 de Fevereiro de 1955. #245

Publicado originalmente  no Boletim do IHGSV.  Colaboração de Waldiney La Petina - Genealogista


Em 01 de janeiro de 1913 foi fundado em São Vicente uma curiosa agremiação. O memorialista Costa e Siva Sobrinho relata em suas anotações que um grupo de rapazes se reunia à noite num imóvel na rua Martim Afonso  e todos permanciam por horas seguidas em pé e resistindo ao cançaço. Nesse tempo promoviam calorosos debates sobre diversos assuntos. O jornal A Tribuna, através da sua sucursal vicentina reproduziu em sua edição a festa do 1º aniversário do clube e identificou todos o membros presentes. # 246
 
Pesquisa:  Waldiney Lapetina, nos arquivos da FAMS. 
“CLUB DOS EM PÉ" 
Este club celebrou na noite de ante-hontem, a passagem do eu primeiro anniversario, offereando aos seus associados, convidados e representantes da imprensa local e de Santos, no Rink Vicentino una lauta ceia. 
Antes, porém, dessa refeição, foi constituida, por acclamação,  a directoria que tem de gerir os destinos sociaes no anno vigente. 
O sr. Heraldo Lapetina, presidente dessa sympathica aggremiacão recreativa, tendo aberto e sessão em que deveria ser eleita a directoria, convidou para assumir a presidencia dr. Pinto Paccs, que, accedendo ao convite e assumindo a direcção dos trabalhos, recebeu calorosa salva de palmas. 
Por proposta do sr. Santos Amom, foi acclamada a seguinte diretoria:
Presidente, Heraldo Lapetina; Vice-presidente, Guilherme Figueiredo.
Secretários, Manoel Freiro de Carvalho, Benedicto Ribeiro.
Tesoureiro, Alvaro dos Santos Barbosa.
Conselho deliberativo: capitão Anthero de Moura, major Joaquim Neves Figueiredo Junior, cel. Francisco de Souza Junior, José Leite Forjaz, Carlos José da Rocha.
Acclamada a directoria, o sr. Guiherme Figueiredo, fazendo uso da palavra, agradeceu a sua reeleição, prometteu trabalhar, como até aqui, com todos os seus esforços em prol do "Club dos Em Pé" e incitou os seus companheiros a seguirem-no nesse mesmo esforço.
O dr. Pinto Paoca, numa bella allocução, discorreu sobre o "Club dos Em Pé", animando os associados a proseguiren sempre пеssa união demonstrativa da sociabilidade vicentina,
Os srs. Benedicto Ribeiro, Miguel Barcalla, Santos Amorim e outros fizeram uso da palavra, referindo-se a commemoração que fazia o "Club dos Em Pé".
A festa anniversaria dessa associacão, como era esperada, decorreu com muito enthusiasmo. À mesa, em forma de T, sentaram-se as 28 seguintes pessoas: Anthero de Moura, João Lapetina. Franklin Alves de Moura, José P. Martins, Luiz Pimenta, Genaro Fernando Otero.  Benedicto Ribeiro, dr. Gustavo Pluto Pacca, Antonio C. Bibeiro, Alvaro dos Santos Barbosa,  dr. Rocha Carvalho. Heraldo Lapetina, Ramiro Calheiro, Estácio de Moura, Antonio Santos Amorim, Antonio Bruno. Sebastião Bittencourt, Lydio de Almeida, Affonso Lopes Fernandes, José Carmo Neves.  Julio Teixeira Junior, Antonio Emmerich. ck Junior, Angelo Richetti, Guilherme A. de Figueiredo. Armando Requejo, Miguel Barcalla, Francisco Rienze, Manoel Freire de Carvalho. Antonio da Rocha Carvalho, Idelfonso A. de Oliveira e J. de Santiago, 
por esta succursal".



Figuras antigas de São Vicente imortalizadas em biografias e bico de pena pelo jornalista e vereador Edson Telles de Azevedo. A obra foi publicada anteriormente em série nas páginas do jornal A Tribuna, de Santos, e  editada em 1972 pelo próprio autor em parceria com a Revista dos Tribunais. #247 
***

Vultos Vicentinos: Subsídios para a História de São Vicente
Introdução
São Vicente, cidade localizada no litoral do estado de São Paulo, é conhecida como a primeira vila fundada pelos portugueses no Brasil. Com uma rica história que remonta ao século XVI, esta cidade guarda segredos e personagens fascinantes que moldaram seu destino ao longo dos anos. E é justamente sobre esses personagens que o livro "Vultos Vicentinos: Subsídios para a História de São Vicente", escrito por Edison Telles de Azevedo, trata de forma magistral.
Capítulo 1: Os primeiros colonizadores
Neste capítulo, somos apresentados aos primeiros colonizadores de São Vicente, liderados por Martim Afonso de Sousa. O autor nos leva em uma viagem no tempo, recriando as dificuldades enfrentadas pelos desbravadores portugueses ao chegarem em terras brasileiras. Através de uma pesquisa minuciosa, Azevedo traz à luz detalhes desconhecidos sobre esses bravos homens e mulheres que lutaram para estabelecer uma colônia duradoura em solo brasileiro.
Capítulo 2: As mulheres fortes de São Vicente
Neste capítulo, o autor destaca a importância das mulheres na história de São Vicente. Ele nos conta histórias emocionantes de mulheres corajosas que enfrentaram os desafios da época e deixaram um legado significativo para a cidade. Desde as índias que se uniram aos colonizadores até as mulheres que desafiaram normas sociais para lutar por seus direitos, Azevedo nos mostra como essas vultosas figuras femininas moldaram a identidade de São Vicente.
Capítulo 3: Os líderes políticos
Neste capítulo, o autor nos apresenta os líderes políticos que governaram São Vicente ao longo dos séculos. Ele analisa suas trajetórias, suas conquistas e seus desafios, revelando as estratégias e os dilemas enfrentados por esses homens que buscavam o progresso da cidade. Através de uma narrativa envolvente, Azevedo nos transporta para os bastidores do poder, mostrando como esses líderes influenciaram diretamente o desenvolvimento de São Vicente.
Capítulo 4: Os artistas e intelectuais
Neste capítulo, o autor mergulha no mundo dos artistas e intelectuais que fizeram de São Vicente um celeiro de cultura e conhecimento. Ele nos apresenta poetas, escritores, músicos e pintores que encontraram inspiração nas belezas naturais e na rica história da cidade. Com uma escrita sensível, Azevedo nos faz apreciar o talento desses vultos vicentinos, cujas obras ainda ecoam nos dias de hoje.
Capítulo 5: As lendas e folclores
Neste capítulo, o autor nos leva para o lado místico e folclórico de São Vicente. Ele nos conta histórias de assombrações, lendas e manifestações culturais que permeiam a cidade. Com uma abordagem cuidadosa, Azevedo nos faz refletir sobre a importância dessas tradições para a identidade local, resgatando personagens e eventos que muitas vezes são esquecidos pela história oficial.
Conclusão
"Vultos Vicentinos: Subsídios para a História de São Vicente" é um livro que nos convida a mergulhar nas profundezas da história da cidade de São Vicente. Com uma narrativa envolvente e uma pesquisa minuciosa, o autor Edison Telles de Azevedo traz à tona personagens fascinantes que moldaram o destino desta cidade ao longo dos séculos. Ao ler este livro, você será transportado para um passado rico em acontecimentos e descobrirá segredos escondidos por trás das ruas e monumentos de São Vicente.
Se você é um amante da história, da cultura e do folclore brasileiro, não pode deixar de ler "Vultos Vicentinos: Subsídios para a História de São Vicente". Este livro é uma verdadeira ode à cidade de São Vicente e seus personagens ilustres. Adquira agora mesmo e embarque nesta incrível jornada pelo passado de uma das cidades mais antigas do Brasil. #248  

Resenha publicada no site da "Amazon"



















Em 2022 a "Poliantéia-450 Anos de Brasilidade" completou 40 anos da sua edição. Foi a primeira tentativa de resumir a história de São Vicente numa publicação única. Não é uma obra de historiografia acadêmica e sim um álbum memorial comemorativo da fundação da Vila de São Vicente. Foi impressa  num formato gráfico fora do padrão dos livros convencionais, o que tornou difícil a sua distribuição comercial. Hoje, a Poliantéia só é encontrada em bibliotecas, coleções particulares e sebos, ofertada em média por cerca de 140 reais. O álbum foi organizado e produzido por uma equipe editorial liderada por Fernando Martins Lichti, subsidiado financeiramente por patrocinadores anunciantes e contribuintes; e comercializado pela Editora Caudex.

"Com doze capítulos e 392 páginas, editorada em formato e conteúdo de álbum-almanaque, a Poliantéia tinha como base uma rica cronologia de fatos históricos vicentinos, descrição geográfica e cultural das entidades vicentinas, com seus destaques, eventos e finalmente uma coletânea de artigos de diversos autores memorialistas. Eram personalidades especialmente convidadas para abrilhantar a edição comemorativa, entre muitos outros, Francisco Martins do Santos, Jaime Mesquita Caldas, Jaime Franco, Esther de Figueiredo Ferraz, Lincoln Feliciano, Costa e Silva Sobrinho, Jaime Horneaux de Moura, Antônio Tellegisky, Lydia Federici, Jonas Rodrigues e Edson Telles de Azevedo (jornalista de A Tribuna, célebre autor do livro de biografias Vultos Vicentinos e editor da revista A Rosa). A obra foi publicada em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, dirigido na época por Odete Veiga Martins dos Santos". #249


O Historiador santista Jaime Caldas propôs que São Vicente adotasse como padrão das calçadas a estampa da Cruz da Ordem do Cristo, símbolo da expansão marítima portuguesa e que teve nas capitanias vicentina e pernambucana seus principais pontos de ocupação no continente americano. A ideia surgiu em 1982 durante as comemorações dos 450 anos da fundação da Vila, pelo donatário Martim Afonso de Souza e sua Armada composta de 400 colonizadores. A Cruz de Portugal é também chamada de Cruz da Ordem de Cristo. A Cruz tem os braços verticais e horizontais proporcionais, formando um quadrado. É vermelha e foi bastante utilizada durante as cruzadas. Ela simboliza a religiosidade, a vontade dos membros da Ordem de Cristo de espalhar o cristianismo em suas expedições marítimas. Este símbolo nacional português descende de outros símbolos da Ordem dos Templários, que foi dissolvida em 1312 pelo Papa Clemente. Em 1317 o rei Dom Dinis pede o reconhecimento da Ordem de Cristo e para ser dono de todas as posses dos Templários em Portugal. A Cruz da Ordem de Cristo foi instituída entre 1317 e 1319. #250


Dois ícones do final do século XIX, quando São Vicente estava renascendo com sua autonomia política e urbana. A praça da City , construída e mantida pela companhia que explorava as linhas dos bondes SV-Santos, pela orla e pela zona noroeste. Ao fundo, com vizinhança residencial, a Escola do Povo, empreendimento de benfeitores das duas cidades da Ilha e que formou diversas gerações na região. Os nomes dos dois pontos foram trocados, porém a história não esquece as sua origens. # 251

PRAÇA DA CITY na década de 1910, atual Coronel Lopes, Correio e Camelódromo. Cenário bucólico mantido pela Companhia City e também da linha 1 do bonde que trafegava num longo e deserto trecho até o centro de Santos. Ainda não existiam as avenidas Antônio Emmerich nem a N.S. de Fátima. 
Acervo: Waldiney La Petina. #252


ESCOLA DO POVO

(... ) Quem cursou o velho grupo escolar de São Vicente, que outrora se chamava Escola do Povo, haverá de recordar-se sempre do velho “Bento”, o porteiro que tangia o sino avisando o início das aulas. Lembrar-se-á do velho professor Osório Alves, figura impressionante de mestre, que à inteligência, sabedoria e compreensão, aliava o talento de ficcionista, premiando os alunos com suas histórias saborosas de aventuras, cuja lembrança ainda nos emociona.

A Mestra Da. Lovely Plauchut, que acompanhou várias gerações de alunos, educando-os, instruindo-os, e encerrando entre as paredes daquele casarão amarelo a primavera da sua mocidade.

O intransigente Diderot Teotônio Santana Espinhel Júnior...

E a tristeza de ver desfeito e mutilado aquele formoso jardim tão cuidado, primorosamente desenhado, fronteiro à Escola, onde à noite havia projeções cinematográficas aos domingos...

Quem como eu viveu em São Vicente há trinta e tantos anos, freqüentou os bancos da Escola do Povo e repastou os olhos naquele jardim, identificou-se com a alma dessas coisas (...)

Derosse José de Oliveira - São Vicente, história e memória –Poliantéia Vicentina, 1982.
“Professoras e professores que se dedicaram com muito amor ao magistério vicentino, verdadeiro sacerdócio do ensino, formando a base cultural, cívica e moral de tantas famílias radicadas em São Vicente, através de tantos anos”.


Primeira instalação da Escola do Povo, no Largo Batista Pereira.


A notícia mais antiga que encontramos da Escola do Povo é: "que em 1894 passa aos cuidados do Governo, mantendo porém o mesmo nome”, (Edison Telles de Azevedo, em Vultos Vicentinos). Isto é evidência de que já na época era bem conhecida, e que naturalmente a sua fundação é anterior, a essa data.

Em 1895 começa um movimento entre os habitantes de São Vicente, que formam um Sociedade Civil, para a construção do prédio da “Escola do Povo”.

Em 1896 a Escola funcionava no Largo Batista Pereira, mudou-se depois para a Rua XV de Novembro. Finalmente em 1898, a Escola do Povo, mudou-se para prédio próprio, na Praça Cel. Lopes.
Em 1900, a Escola do Povo, oferecia nas suas salas a Exposição Arqueológica, Artística e Histórica, como parte das comemorações do IV Centenário da Descoberta do Brasil.

RELATO DO ANNUARIO DO ENSINO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Grupo Escolar de São Vicente GESC Capitão-mor Gonçalo Monteiro

 EEPSG Profª Zina de Castro Bicudo Atual: extinta São Vicente – SP 

Esse grupo escolar foi instalado pelo governo do estado em agosto de 1913.

Segundo informações de Adamastor Amado Stoffel, parte delas publicadas no jornal “A Tribuna”, em 13 de junho de 1989, essa escola está relacionada à “Escola do Povo”, fundada em 1893.
 Sobre a fundação dessa escola diz o citado autor: 

“ Os fundadores, na sua maioria, são maçons respeitáveis e pertencem à loja ‘Fraternidade’, de Santos. Um dos seus nobres objetivos é construir escolas laicas para a infância pobre. A instituição não é, portanto, um ‘colégio’ e nem esse nome recebe porque o termo, durante anos, significou ‘estabelecimento religioso de ensino com objetivos catequistas”. 

Stoffel alega que em 1894, segundo noticiário da época, o Estado pretendia assumir a escola e que, em 1895, era iniciado um movimento entre os habitantes de São Vicente para a construção de prédio próprio para esse estabelecimento de ensino. Segundo o autor, em 1896, a “Escola do Povo”, que funcionava no Largo Batista Pereira, esquina com a “Rua das Flores” mudou-se para a Rua XV de Novembro, em casa adaptada para residência do mestre José Gonçalves Paim, que viera do Rio de Janeiro, e de sua família. Lá permaneceram até 1898 quando, em setembro a cobertura do edifício social foi terminada:

 “(...)Encimando as colunas, um trabalho de alto relevo representa o globo terrestre, um livro e um compasso, simbolizando a sabedoria, a cultura e a filosofia dos fundadores da ‘Escola do Povo’...”. 
Em 10 de junho de 1903, conforme Stoffel, são realizadas as comemorações do 10º aniversário da “Escola do Povo” de São Vicente: 

“Recebe felicitações a diretoria da ‘Escola do Povo’, representada na figura simpática de seu digno presidente, JOAQUIM DUARTE DA SILVA, pelo brilhantismo da festa aniversária comemoradora dos dez anos da mais útil instituição que, iniciada em fins do século passado, inicia o presente século e tanto honra os que nela se empenham.” 

Em 6 de agosto de 1913, diz Stoffel, “... a ‘Escola do Povo’, construída com subscrições populares, acha-se, agora, sob tutela do Estado, que resolve ampliá-la, construindo um prédio, em forma de ‘U’, dando fundos para a Rua Padre Anchieta. Nessa oportunidade, o governo delibera reunir as escolas públicas isoladas que funcionam na cidade, instalando-as todas, num só estabelecimento: um Grupo Escolar.” 

Em 1915, segundo o Anuário do Ensino do Estado de São Paulo daquele ano, foram matriculados 497 alunos, com freqüência média de 304. Seu diretor era Gastão Ramos. 

Em 1922 os festejos oficiais do primeiro centenário da Independência do Brasil foram realizados nas dependências dessa escola, consideradas o melhor local para aquelas comemorações. 

Para homenagear o primeiro Vigário e Capitão-mor nomeado na Capitania de São Vicente, por Martin Afonso de Souza, a denominação da escola mudou, em 1947, para GESC Capitão-mor Gonçalo Monteiro. Em 1949 o Governo do Estado torna a mudar seu nome para GESC de São Vicente. 
A comemoração dos 50 anos da “Escola do Povo” em 1963, e a colocação no prédio da escola de placa alusiva à data, com a seguinte inscrição: 

“Esta ‘Escola do Povo’, por ele iniciada, completa meio século de serviços – 1913- 6 de agosto de 1963” , na opinião de Stoffel: “escamoteia 20 anos, um mês e 27 dias, como se esse tempo real e romântico, anterior a 1913 não existisse.”
 
Conforme lei nº 2237, de 20 de dezembro de 1979, a Escola Estadual de Primeiro Grau de São Vicente passou a denominar-se Escola Estadual de Primeiro Grau Profª Zina de Castro Bicudo. 

Em 1985 a escola passou a oferecer também o segundo grau, mudando sua denominação para: Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Profª Zina de Castro Bicudo. 

Conforme informação de Stoffel, as instalações da escola, construída em 1913 sofrem um incêndio criminoso.

Em 19 de abril de 2001 foi assinado o convênio entre o governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de São Vicente, municipalizando as classes dessa escola, que foi extinta no dia 02 de maio de 2001. Suas classes e seus respectivos alunos foram remanejados para as escolas municipais: EMEF Carolina Dantas e EMEF Prof. Constante Luciano Clemente Houlmont. Seu prédio, localizado na Praça Coronel Lopes nº 387, abriga, desde 2001, a Diretoria de Ensino – Região de São Vicente. #254

BIBLIOGRAFIA: São Paulo (Estado). Directoria Geral da Instrucção Publica. 
Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Typ. Siqueira, 1913. São Paulo (Estado). Directoria Geral da Instrucção Publica. Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Typ. Augusto Siqueira & C., 1915.



Planta Cadastral de S. Vicente. 1899. Nomes dos logradouros já modernizados após a proclamação da república. Verticais sentido centro-praia: Estrada de Ferro São Paulo Railway; Avenida sem nome (depois Misericórdia, posteriormente Presidente Wilson); ruas João Ramalho; Frei Gaspar; Jacob Emmerich; José Bonifácio; 13 de maio; Lima Machado; Santa Cruz e Largo do mesmo nome; Largo Batista Pereira. Algumas estão ilegíveis. Horizontais- sentido centro-Morro dos Barbosas: ruas Campos Salles; Ipiranga; 15 de Novembro; Martim Afonso; Padre Anchieta; Largo 13 de Maio (depois praça 22 de Janeiro); rua 31 de Outubro (depois Tibiriçá); Visconde do Rio Branco; Américo Brasiliense; Ruas sem nomes e futuramente Cândido Rodrigues. Amador Bueno da Ribeira; Benedito Calixto; Men de Sá; etc até o Itararé. #253

Ps. 31 de Outubro foi a data da abolição da escravidão em São Vicente


Até o século XIX, a Praça 22 de Janeiro situada no centro de São Vicente, ao lado da Biquinha de Anchieta, era conhecida como o Campo ou Largo da Fonte. Em 1888, com a abolição da escravidão, o local passou a ser denominado Largo Treze de Maio. Em 1918, a Câmara Municipal alterou a nomenclatura para Praça 22 de Janeiro. A praça conta com um terreno de 8.170 metros, que engloba equipamentos de lazer, como o Espaço Multicultural (antigo Cine 3D), área verde e importantes monumentos em seu espaço: o Monumento IV Centenário do Descobrimento do Brasil, o Obelisco a Pérsio de Queiroz, o Relógio de Sol e a Estátua de Benedito Calixto. A Praça é tombada pelo Conselho Municipal (CONDEPHASV- 2011). # 254



 O Monumento do IV Centenário do Descobrimento do Brasil está localizado na Praça 22 de Janeiro.
Projetado pelo historiador e artista plástico Benedito Calixto, juntamente com o arquiteto belga Florimond Colpaert e execução por Augusto Kauschus, o monumento foi inaugurado em 22 de abril de 1900, em gratidão aos fundadores da Capitania de São Vicente. O monumento tem 10 metros de altura e cada face de bronze contém inscrições com os nomes dos principais personagens da descoberta e povoamento do Brasil até 1570, brasões da capitania portuguesa, esfera armilar e ramos de palmeiras e oliveiras simbolizando a paz. #255

1899- O jornal o Estado de São Paulo noticia o envio à sua redação do projeto de construção, em São Vicente, do Monumento do IV Centenário do Descobrimento do Brasil.

Quarto Centenário do Brasil. Monumento 400 anos São Vicente Ferdinand Colpaert. Do jornal Estado de São Paulo, 15 de agosto de 1899, p. 3

"A Sociedade comemorada do IV Centenário do Brasil, fundada em S. Vicente, enviou-nos um desenho do monumento que pretende erigir naquela cidade em 1900.

O monumento mede 10 metros de altura da base no ápice; a primeira parte é quadrangular, de cantaria lavrada em estilo dórico, com 4 metros e 50 centímetros de altura, tendo em cada uma das faces uma placa de bronze com inscrições contendo os nomes dos principais personagens da descoberta e povoamento do Brasil até 1570.

A segunda secção do monumento é de bronze, em estilo misto; tem em cada uma das faces um medalhão enfiado de ramos de fumo e de enfé e por baixo uma grinalda. No centro do medalhão vê-se uma caravela com as velas.

É de bronze também a terceira secção, de forma octogonal, em estilo misto. Traz em duas faces mais largas o brasão de armas de Martim Affonso de Souza – Era de 1532 – e a inscrição – Deus, Pátria e Liberdade.

Nas outras duas faces mais largas o brasão de armas de Pedro Álvares Cabral, com a seguinte legenda: 22 de abril de 1500.

Monumento 400 anos São Vicente Ferdinand Colpaert. A quarta secção, de bronze, também octogonal, do mesmo estilo, tendo nas faces mais largos escudos ornadas de volutas e ramos de palmeiras e oliveiras, símbolos da gloria e paz. Esta ultima parte termina por linhas ogivas, encimadas por uma esfera armilar tendo no alto um tridente.

O projeto é executado pelo arquiteto sr. Florimond Colpaert, por indienções e desenhos do sr. Benedicto Calixto.

O monumento será colocado na praça Treze de Maio, em frente da barra de S. Vicente e será inaugurado a 22 de abril de 1900."


 O jornal O Vicentino, foi criado e publicado em 1900 pelo farmacêutico José Ignácio da Glória. 
Com ilustrações históricas da Vila de São Vicente feitas por Benedicto Calixto esse número foi dedicado especialmente a uma extensa reportagem alusiva à comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil. Santista criado e vivido em São Vicente, o Glória, como  era popularmente chamado -  foi um grande ativista contra o surto de gripe espanhola que assolou a Baixada Santista em 1892. Na Botica do Glória, todo dia e muitas noites,filas e filas de vicentinos vindo tratar com o químico-farmacêutico que era também jornalista, fundador de vários jornais e depois Intendente da cidade. Também foi juiz federal. José Ignácio da Glória casou-se três vezes. Quando D. Pedro II veio a São Vicente, hospedou-se em sua casa. O imperador e a família gostava de simplicidade, molhar os pés no córrego Sapateiro e tomar água na Biquinha.  José Ignácio aprendeu medicina sanitária trabalhando no Rio com o Dr. Oswaldo Cruz. Faleceu em 1927, aos 82 anos. #256


Ilustrações históricas da Vila de São Vicente feitas por Benedicto Calixto para o jornal "O Vicentino", de propriedade do seu amigo e também farmacêutico José Ignácio da Glória. Esse número (maio de 1900) foi dedicado a uma extensa reportagem alusiva à comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil. Acervo Digital- IHGSV.

O Glória em bico de pena de Edson Telles de Azevedo para o livro Vultos Vicentinos



Este documento faz parte do acervo da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo- ALESP. Um simples edital de chamamento de dívidas tributárias municipais que poderia passar despercebido aos olhos comuns, foi localizado num rotineira pesquisa genealógica, olhar específico que mudou totalmente o grau de importância dessa peça de arquivo.

São Vicente em 1909 era pequena e restrita ao que atualmente é somente a região central. O povoado tinha reduzido número de famílias e moradores, muitos com ascendência do período colonial, tendo algumas delas pisado em território brasileiro quando aqui desembarcaram na histórica expedição de Martim Afonso, iniciada um ano antes em Portugal. Encontramos também muitos sobrenomes estrangeiros, de técnicos e executivos do setor  comercial portuário e dos serviços das ferrovias e eletricidade que chegavam na região. 

No edital não constam apenas valores tributários e informações sobre a regularização dos débitos. Constam os nomes dos proprietários e moradores de 551 lotes em 32 logradouros (ruas e praças), membros das principais famílias da cidade. Era uma São Vicente ainda provinciana, recém liberta da condição de dependência política de Santos, com apenas dois núcleos de habitação insular: o centro e um pequena parte da orla. Na área continental predominavam os sítios distantes do Japuí, Praia Grande, Sant'Ana de Acaraú e Samaritá.  Atualmente, na ilha e no continente, São Vicente tem mais de  cinco mil ruas distribuídas em 45 bairros.

Na lista de propriedades (terrenos e edificações) aparecem nomes e sobrenomes que sobreviveram através dos seus descentes e que também deram denominação às novas ruas que surgiram com a expansão de loteamentos urbanos. # 257





Em 1926, chega a Solemar o imigrante Júlio Secco de Carvalho, em companhia de sua esposa D. Maria da Costa Carvalho, com quem havia casado em Campinas em 1915. Tornou-se sócio em negócios imobiliários com o ex-prefeito Antão de Moura. Em 1928 o casal doou uma gleba de terra à E.F Sorocabana, para qual fornecia madeira de dormentes para os trilhos. Nos anos 1950 Júlio Secco lançou as bases da emancipação de Praia Grande a partir da criação de um Distrito nesse bairro vicentino ficando estabelecido que suas divisas iam da Vila Tupiry até os limites de Mongaguá. Com o esgotamento das reservas de madeira, Júlio Secco de Carvalho teve a ideia de lotear a área, transformando-a numa vila atraente aos veranistas. Construiu uma moderna estação ferroviária, depois tratou de interessar os políticos da época em torno do local. A uns forneceu terrenos gratuitamente, a outros, vendeu lotes a preços módicos, tudo com a finalidade de conseguir melhoramentos para Solemar. Abriu ruas, construiu igreja, instalou um cartório e assim transformou a vila de Solemar. Ao lado de Nestor Ferreira da Rocha e Heitor Sanchez, foram os primeiros líderes em Praia Grande a cogitar a emancipação. Faleceu sem ver concretizada sua luta de tantos e tantos anos, mas seu nome permanece vivo na lembrança de todos os que querem bem a Praia Grande, sendo seu nome pronunciado sempre com respeito e carinho. Hoje, uma das ruas de Solemar leva o seu nome, além da escola E.E. Júlio Secco de Carvalho. #258
Fonte: Boletim Informativo da Escola com informações e fotos da família.


Silvio Luis é formado em História e Mestre em Educação, cujo objeto de investigação de sua dissertação foi a E.E. Reynaldo Kuntz Busch, onde cursou o ensino médio. Publicou também “Lembranças da Caserna”, um livro de memórias que descreve sua passagem pelo 2º Batalhão de Caçadores de São Vicente, atual BIL e Batalhão Martim Afonso em 1978. É autor de outras publicações como "Rotary Clube de Praia Grande - memórias e lembranças - 50 anos"; "E.E. Reynaldo Kuntz Busch- a primeira turma do ensino técnico profissionalizante de 2.o grau"; Testemunhos de Fé - Deus cuida de mim-um relato de uma viagem de peregrinação pelo Egito, Jordânia, Palestina e Israel; Memórias da FEFIS, uma história de superação ", formação e trajetória como professor de educação física; e "Destino… Serra Negra", que descreve a relação afetiva do autor com essa cidade interiorana. #259



Coro Santa Cecília da Matriz de São Vicente. Amigos, orquestra e cantores. Comemorações do IV Centenário da fundação de São Vicente em 1932. Acervo da professora Zina de Castro Bicudo. 
Revista Leopoldianum. 2015.Ano 41, 2015 nºs113, 114 e 115. #260





















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