10/07/2019

MNEMOCÍDIO DE S. VICENTE

A primeira e mais antiga vila colonial do Brasil atravessou cinco séculos como simples e rústico núcleo urbano. E quase desapareceu no final do Império, restando apenas alguns pontos da época afonsina. Muitos desses locais, objetos e edificações remanescentes desse período foram sendo criminosamente destruídos no afã de renascimento e recuperação da autonomia no início da república. A situação agravou-se com o veranismo das últimas décadas do século XX. Imóveis históricos foram dizimados pela sanha imobiliária, espalhando edifícios com minúsculos apartamentos de férias e fins de semana. O prejuízo cultural foi devastador. À título educativo, lembraremos alguns dos crimes memoriais que mais incomodam a nossa hitória. Sorte que fomos parcialmente salvos pelas pinturas e fotografias de Benedito Calixto, que registraram oportunamente esses pontos históricos, como este do Largo Batista Pereira, local onde hoje está o também semidestruído Mercado Municipal.

Na primeira foto o Largo Santo Antônio( Século XVIII), depois Batista Pereira e atualmente Praça João Pessoa. Na segunda, Ambulatório Médico, Cadeia Pública e Câmara Municipal no início do século XX. A construção, já em ruínas em 1925, foi demolida para dar lugar ao Mercado Municipal nos anos 1930. Fotos: Caiçara Expedições e IHGSV.


A Casa de Câmara e Cadeia era o edifício-padrão onde estavam instaladas os principais órgãos da administração pública municipal: o juiz de fora, o presidente da Câmara, o procurador, o juiz de Direito e o tribunal, a guarda policial (chamada de "milícia") e a cadeia pública. Ficavam no centro da vila ou cidade, no largo do pelourinho, ou no chamado "rossio". O prédio continha na maioria das vezes, dois pavimentos, várias salas e um plenário para reuniões dos vereadores e para julgamentos (sempre no segundo andar), sendo que no primeiro pavimento ficava a cadeia e a guarda. Em vários casos, as Casas de Câmara e Cadeia eram a única edificação pública na vila, funcionando assim como símbolo do poder público. Em São Vicente foi demolida para dar lugar ao novo Mercado Municipal. No período imperial foram se esvaziando, pois a autoridade municipal perdeu as competências judiciais e de polícia, repassadas às províncias, abrigando apenas a Câmara dos Vereadores. Esta última, juntamente com as polícias e fóruns, também ganharia novos prédios públicos. É importante acrescentar que, várias casas de Câmara e Cadeia passaram a se chamar Paço Municipal, abrigando simultaneamente o legislativo municipal e o executivo, ou Prédio da Câmara ou Casa dos Vereadores, quando abrigassem apenas o legislativo. Em Santos quase foi demolida. Teve um prefeito, nos anos 1960, que pretendia colocar pastilhas azuis na Cadeia Velha, para diminuir a "feiura" do prédio.

Cenário extinto. Registro feito nos primeiros anos do século XX. Passagem do bonde pela Casa de Câmara e Cadeia no antigo Largo de Santo Antônio (século XVIII). Ao fundo o Morro dos Barbosas. Após a demolição, o antigo prédio foi substituído pelo Mercado Municipal, desativado, e que também corre o grave risco de ser levado ao chão. Tentou-se implantar alí o Poupa Tempo, mas foi em vão. Fazer o que? Poderia ser reconstruído, como réplica.




A rua Ana Pimentel (hoje travessa) liga as ruas Martim Afonso (ainda com trilhos de bondes) e XV de Novembro (ao fundo), como mostra essa antiga fotografia feita por Benedito Calixto. Das edificações centenárias ali existentes, somente foi preservada a Igreja Matriz, erigida no século XVIII. As duas edificações vistas aqui em primeiro plano foram demolidas nos anos 1960 para dar lugar aos atuais edifícios nas esquinas da rua Martim Afonso. Nessa travessa, durante uma reforma recente do calçadão ali implantado, foram encontradas, em sepulturas rasas, restos mortais de indígenas convertidos e europeus cristãos. A pedido a Diocese de Santos, as sepulturas foram preservadas "in loco", considerando a passagem como lugar sagrado e inviolável, tal qual os túmulos que estão no altar da Matriz. 



CASARÕES E SOBRADOS DO LARGO SANTO ANTÔNIO (BATISTA PEREIRA) E ARREDORES. Esse Largo abrigava várias edificações centenárias. A ânsia pela modernização por parte do poder público e o temor da desvalorização pelos proprietários não conteve a destruição. Este era o nosso principal centro histórico, que poderia ter sido preservado em grande parte em sua originalidade. Além da Igreja Matriz, o Largo abrigava edificações residencias e comerciais como estas que aparecem na foto; e outras em várias direções. Ali haviam casas tão antigas que estavam desmoronando naturalmente, tal a situação de abandono e falta de conservação. Acreditava-se que o local era irreversivelmente decadente e que somente as demolições poderiam renová-lo. Vários estabelecimentos sofreram ao mesmo tempo o desgaste do abandono, a demolição e reformas danificadoras da originalidade. A farmácia e residência de José Ignácio da Glória foi um exemplo. Na praça Bernardino de Campos (Praça das Lavadeiras), bem próxima, essas casas do período colonial e imperial eram muitas e foram todas postas abaixo. Ali havia também um oratório de novenas e promessas. Foi demolido. Não houve nenhum protesto documentado. Os desenhos de Edison Telles de Azevedo indicando as moradias de antigos vicentinos atestam esse desleixo com a nossa história urbana. Para piorar a situação, já nos anos 1990, foi demolida a praça para dar lugar a uma vila cenográfica que, ao invés de revitalizar, acelerou a decadência do Largo e também do Mercado Municipal. Num dos imóveis destruídos funcionou a primeira Escola do Povo. A Igreja resistiu, em parte. O antigo salão paroquial, como provam algumas fotos, foi horrivelmente modernizado. Uma pena.



CACHOEIRAS DO VOTURUÁ. Uma das cachoeiras do Sitio Voturuá fotografada na década de 1940. Essa propriedade era de Dona Felipa Emmerich, que doou ao município para a criação do parque e captação de água. Essa intervenção provocou um desequilíbrio e esgotamento do fluxo natural das águas, fazendo desparecer a paisagem original. As terras do sítio foram transformadas no Horto Municipal, criado em 1954.


Mansão da família Robert Barhan (provavelmente Robert Ellis Barhan, agente bancário, membro da Associação Comercial de Santos e ligado à exportação de café. A casa foi demolida há mais de dez anos, restando um terreno baldio apenas algumas colunas do antigo muro frontal na rua Visconde do Rio Branco, 280. Muitas outras edificações como esta foram demolidas para manter o patrimônio dos proprietários, pois os processos de tombamento ao invés de proteger causam graves prejuízos aos herdeiros. A Casa do Barão, por exemplo, só foi preservada porque ficou sob a tutela da CEF, que cedeu o imóvel ao IHGSV em regime de comodato. Posteriormente foi tombada.

A imagem foi extraída da Poliantéia Vicentina, álbum histórico editado em 1982 por Fernando Martins Lichti , do IHGSV. 


Orla da Praia de S. Vicente, antiga praia Mahuá, memória que somente alguns poucos antigos moradores conservaram há alguns anos e que conseguimos anotar e guardar. Nos anos 1940 começou a ser chamada de Gonzaguinha, cuja imitação era o "foot" praticado no Gonzaga santista. Um prefeito tentou neutralizar esse apelido com um novo nome que não pegou: Praia das Caravelas. Um pedaço dela também era chamada da Praia da Usina (memória de uma colaboradora nossa que vive no interior), por causa da estação elevatória de esgoto que existe até hoje. Mas a grande transformação negativa do lugar foi a intensa urbanização que destruiu grande parte da praia - que ia até a atual avenida P. Wilson, demolindo as mansões e verticalizando o todo o bairro. Mesmo assim, o Gonzaguinha não perdeu sua beleza de orla da Baía de S. Vicente, a mais bela e de desenho único em todo o litoral, tendo como contra-ponto estético a Ilha Porchat, a Biquinha a Ponte Pênsil e as praias do Morro do Japui. O sucesso durou algumas décadas, com os moles e muretas e hoje somente passagem barulhenta de carros vindos de Santos e Praia Grande. A beleza resiste, mas poderia ser de outra forma...

PRAIA DA USINA


PRAIA DA USINA. foto de Takashi Iratsuka, 1965, já com os moles de pedras idealizados pelo engenheiro Rinaldo Rondino. Foto colorida original. Neide Castro: "Essa era a praia da Usina* que frequentei durante toda minha infância. Meu pai levava uma faquinha e limão e comíamos ostras das pedras, mar sem poluição, águas limpas". .

*Referindo-se à primeira Usina Elevatória de esgoto, projetada por Saturnino de Brito e construída no Largo Tomé de Souza, entre as avenidas Presidente Wilson e Embaixador Pedro de Toledo. A segunda usina está no Morro dos Barbosas exatamente no ponto de fixação dos cabos de sustentação da Ponte Pênsil, lado insular, antes da Casa das Bananadas. 


VICRI, VIDROBRÁS, SANTA MARINA, SAINT-GOBAIN. Não se trata de um crime contra a memória porque os proprietários tomaram o cuidado de consultar o Conselho do Patrimônio Histórico sobre as mudanças e adequações necessárias à segurança da área industrial que começava a ser desativada. Sugerimos na época que fossem feitos registros fotográficos para que parte da memória dessa fábrica fosse mantida. Mais tarde ela seria totalmente desativada. Sugerimos também que a prefeitura buscasse recursos para implantar ali um equipamento cultural tipo SESC Fábrica de Vidros. E que a parte externa fosse transformada em terminal rodoviário municipal juntamente com a Estação do VLT. É uma briga de altos investimentos, pois trata-se de uma área de grande demanda imobiliária que comporta edifícios de apartamentos e também grandes supermercados. Vamos torcer para que vença a causa da cultura e do transporte coletivo. Na Estação São Vicente, o VLT já mudou o status para "estação de transferência"


São Vicente INDUSTRIAL E FERROVIÁRIA : estação de passageiros na rua Campos Sales, uma composição de cargas e pátio de serviços da Estrada de Ferro Sorocabana no bairro Catiapoã. Acima, lado centro da cidade, os galpões e a chaminé principal da Fábrica de Vidros : Vicri, Vidrobrás, Santa Marina e depois Saint-Gabain. Foi desativada em 2023. A matéria-prima dessa produção (areia de sílica) era extraída na área rural do bairro rural Samaritá, que dividia aquela região com alguns sítios de lazer; e os pastos de quarentena do gado (quarentenário), que era trazido de trem para o abate nos frigoríficos de São Vicente e Santos. Foto original dos anos 1970 em p&b, colorizada artificialmente.




 



DÚVIDA SOBRE A LOCALIDADE DESSA IMAGEM DO CARTÃO POSTAL: Parecer do historiador Domingos Pardal Brás:

"Essa linha deve ser uma anterior, que seguia o curso da Bento Vianna, dali se veria o Xixová nessa posição. Daí a incerteza da localização. Pois havia outra linha mais antiga que passava por trás da igreja do Amparo, seguindo o curso da Bento Vianna. Fui pessoalmente constatar. É mesmo a linha do bonde e essa veredinha é mesmo a Cap. mor de Aguiar. Pois se o outeiro final estivesse coberto de vegetação assim seria visto pouco depois da Marques de S Vicente. Logo, essa foto é anterior à construção das casas sobre o outeiro. As casas remontam a 1905. Portanto, a foto em questão deve ser, no mínimo de 1904 e ao fundo está o portinho do Tumiaru. A construção ao lado só pode ser a antiga chácara, assinalada por Benedito Calixto como existente cerca de 1854 naquele sitio. Sendo assim é uma foto única. Eu vi linhas por baixo de prédios já demolidos, dos anos 20, que cortavam a Marquês de São Vicente na direção da rua do Colégio. Schmidt, na descrição da antiga S Vicente, declara que pelos idos de 1895 estavam fazendo túnel no morro dos Barbosa para que passasse uma linha de trem.
Essas a que nos referimos são as dos trens. Haviam duas. Uma do final do século XIX, que não existe mais e é muito pouco conhecida e a que segue o curso do atual VLT, de 1911 e que ia na direção do litoral Sul até Juquiá. Caso seja a do Bonde a rua só pode ser a Capitão mor Aguiar".


MANGUEIRÃO



MANGUEIRÃO DE SV FOI DISCUTIDO NA CÂMARA DE SANTOS. Em sessão extraordinária em 2 de junho de 1955, a Câmara Municipal de Santos discutiu os problemas causados pelo Mangueirão. Num clima de bom humor, os vereadores, na verdade, pretendiam iniciar outra discussão: a urgência de obras de um novo matadouro na cidade, que seria construído na margem santista do rio São Jorge, na avenida N.S. de Fátima, no Chico Paula. Detalhe: a prefeitura vicentina foi apontada como "indiferente ao assunto". A discussão confirma todos os depoimentos relatados aqui pelos nossos seguidores e que viveram sua infância essa época.


SÍTIO DO BUGRE





"A imagem em questão retrata a belíssima praia do Gonzaguinha, nas proximidades da Biquinha de Anchieta e da atual Praça 22 de Janeiro, local onde se encontra o primeiro monumento público do litoral paulista. Trata-se do monumento em alusão ao 4º Centenário do Descobrimento do Brasil, inaugurado em abril de 1900. Na fotografia, é possível observar o Morro dos Barbosas estendendo-se até a areia da praia, compondo uma paisagem deslumbrante, emoldurada por belos casarões ao fundo e áreas adornadas por majestosas palmeiras imperiais. Embora a história de Santos tenha se iniciado como um sítio vinculado à Capitania de São Vicente, a cidade vizinha começou a perder seu status de referência principal nos mapas e relatos sobre o litoral já no século 19. Santos passou a assumir essa posição de destaque, em alguns casos de maneira exagerada, já que quase todo o litoral sul passou a ser classificado como parte de “Santos”. São Vicente foi incluída nessa generalização, como comprovado por diversos postais da época e também pela imagem presente no acervo do Instituto Histórico.
- Sérgio Willians . Memória Santista - Fundação Arquivo Memória de Santos - FAMS


AVENIDA PIQUERUBI


São Vicente vista da antiga avenida Piquerobi (hoje Getúlio Vargas). Benedito Calixto, 1919. Destaque para o rio Sapateiro ( ou Sapeiro) e o automóvel de Juca Morgado passeando pela praia.




O CORTUME DE SÃO VICENTE. O Japuí nos tempos áureos da indústria de couros e dos bananais de exportação. As famílias Cardamone e Barreiros era os maiores empreendedores do bairro.








 






CONJUNTO EDIFÍCIO ZUFFO


O Edifício e conjunto Zuffo, sede da Royal Alto Falantes, dinamizada nos anos 1930 pelo produtor cultural Antônio Peixoto. Praça Barão do Rio Branco, esquina das ruas Frei Gaspar e Martim Afonso. Nessa quadra funcionaram alguns dos mais importantes cinemas da cidade: Cine SV, Cine Anchieta e Jangada. Fotos: Polianteia e F.T. Roxo

Rua Martim Afonso anos 1940. Nela vê-se a linha de bonde no atual calçadão da Praça Barão, a Casa Syria e o Edifício Zuffo na esquina da rua Frei Gaspar. Publicação: SV de Outrora.







IGREJA MATRIZ


A Igreja Matriz em 1935.Acervo e publicação do IHGSV.


A lateral da Matriz, com muro de isolamento, na travessa Ana Pimentel. Registro da revista 4-QUATRO RODAS em 1964. Acervo de colecionador.
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Reportagem completa da revista em edição em 1964.
Acervo de colecionador.



CHÁCARA DOS INOCENTES



CHÁCARA DOS INOCENTES. Em 24 de julho de 1906, é fundada a Casa de Caridade São Luiz, por iniciativa de D. Anália Franco. A obra assistencial seguia modelo implantado pela conhecida educadora em São Paulo por meio do ensino moral e profissional para meninas e meninos órfãos e abandonados. Seguida da Casa São Luiz, Anália Franco organizou no centro da cidade um núcleo feminino que ficou conhecido com Chácara dos Inocentes. Devido à crise econômica no período da I Guerra o núcleo foi transferido para Santos e no local foi instalado o Hospital e Maternidade São José.

Foto: Revista A Fita. Santos. Acervo Digital da Biblioteca Nacional. 


PORTO DAS NAUS E PONTE PÊNSIL



REAFIRMAÇÃO HISTÓRICA DE SÃO VICENTE. Recuperar a autonomia e a memória colonial foi a nova ordem no início do século XX. A construção da Ponte Pênsil, como monumento moderno e tecnológico, contrastava com o passado longínquo da antiga vila. A cerca de obeliscos conduzia os turistas ao monumento moderno levando-os até o Porto das Naus , antigo engenho de Jerônimo Leitão. O plano deu certo e durou longas décadas como atração único acesso rodoviário ao litoral sul, que resultaria anos mais tarde na emancipação do bairro de Praia Grande. Ainda existem vestígios dessa cerca em alguns trechos da avenida Tupiniquins. Acervo: Casa Martim Afonso-FAMS.

Caminho para Ponte Pênsil - talvez entre 1914-1920- com trilhos de bondes e antes da conhecida cerca com mini-obeliscos. Um dúvida: os bondes atravessavam a ponte e seguiam pela avenida Tupiniquins até o Japuí e Boqueirão ou contornavam o Morro do Barbosas na direção do Porto Tumiaru onde tinha ponto final deles?




KABELHÄNGEBRÜCKE. Uma ilustração em bico de pena da Ponte Pênsil foi divulgada na Europa em 1914 como modelo de tecnologia alemã. A publicação especializada cita Santos como local da obra e dá detalhes técnicos em quatro idiomas sobre sua estrutura e dimensões.


Inauguração da Ponte Pênsil. 21 de maio de 1914. "Manhã de sol. Vinte automóveis vindos da Capital, trazendo elegantes senhoras e senhores de polainas, chapéu-coco, gravatas pretas, descem rumo ao litoral, para participar da festa. Entre os convidados, lá estavam Washington Luiz, prefeito da capital de São Paulo e futuro presidente da República; o presidente do Estado de São Paulo, Francisco de Paula Rodrigues Alves, e o vice, Carlos Pereira Guimarães; o prefeito de Santos, Joaquim Montenegro; o prefeito de São Vicente, Antão Alves de Moura; o pintor Benedito Calixto; o jornalista Afonso Schmidt; o sanitarista Saturnino de Brito. Duas bandas aguardavam: a da União Portuguesa, regida por José do Patrocínio; a Colonial Portuguesa, dirigida pelo flautista Burgos. Ocorreu então o primeiro congestionamento. O número dos que desejavam transpor a ponte era demasiado para sua capacidade. E houve o primeiro acidente: um motociclista da capital bateu na traseira de um coche e caiu, fraturando o crânio"

SÍTIOS DO ITARARÉ



REFÚGIO DOS VELHOS CALUNGAS. De 1888 em diante, com o fim da escravidão, São Vicente se encheu de ex-escravos, principalmente dos mais idosos, de espírito mais rebelde. Aqui se abrigavam os negros mais velhos que existiam em toda a região e tornou-se o refúgio dos "calungas", dos mais idosos, dos mais sofridos pela escravidão, daqueles que buscavam a tranquilidade comendo seu peixinho com farinha, felizes, em liberdade, cachimbando, sentados à sombra dos jambolões e das pitangueiras. Os "calungas" vicentinos eram daqueles que procuravam a paz. (Boletim do IHGSV)


PEDRA DO LADRÃO


"As tradicionaes Pedras dos Ladrões, na praia de Itararé". Capa da revista santista A Fita, edição de de 25 de junho de 1914. A impressão de imagens era feita em clichê de chumbo.

Acervo Digital da Biblioteca Nacional.



Pedra dos Ladrões antes da duplicação da avenida Manoel da Nóbrega. Acervo do Museu Paulista.


Pedra do Ladrão e rio Itararé por Benedito Calixto. 



PEDRA DOS LADRÕES

Era um bloco de pedras formado pela ponta do morro do Itararé, que avançava até a praia. Essa ponta foi seccionada para a construção da Ferrovia da Estrada de Ferro Santos-Juquiá, em 1910. Depois, novamente cortada para a passagem do bonde que ligava Santos a São Vicente.
Ainda não existia a via de acesso para veículos. Segundo contavam antigos moradores, alguns ladrões costumavam se esconder entre as pedras que foram seccionadas e junto às quais passava o bondinho de tração animal, o qual, com facilidade, era interceptado pelos ladrões, que, rapidamente saqueavam os passageiros, levando relógios, dinheiro, anéis e demais pequenos pertences de valor.
Essas remanescentes pedras da antiga ponta do morro Itararé ficaram sendo conhecidas como a legendária “Pedra dos Ladrões”, e assim chamadas por dezenas de anos, até serem totalmente removidas, destruídas por dinamite, para a passagem da 2ª via da avenida, junto à faixa de jundu, cuja obra foi iniciada pelo então prefeito José Monteiro, no início de 1950, ligeiramente continuada pelo Prefeito Charles Alexander de Sousa Forbes, em 1965, e finalmente construída, alargada e asfaltada pelo Prefeito Jonas Rodrigues, em 1972, hoje Av. Ayrton Senna (Tapetão).
Diz a história que a Capitania de São Vicente terminava na projeção de uma ponta de pedra de morro que avançava praia adentro. Uma dessas pontas seria a do morro do Itararé (Pedra dos Ladrões), a outra, seria a ponta de pedra que avançava até a praia do José Menino, bem na curva, atual divisa entre Santos e São Vicente.
Não se sabe efetivamente se uma das duas pontas de pedra servia de divisa entre as duas Capitanias - São Vicente e Santo Amaro. Parece-nos mais provável que a divisa possa ter sido a ponta do Itararé, em razão do oceano chegar até o morro em toda a extensão da praia durante o século XVI, fato comprovado pelo achado do fóssil de uma baleia, no início da década de 90, junto à linha férrea próxima ao morro, a uma profundidade de aproximadamente 6 metros.

FONTE: Boletim do IHGSV



Casa antiga na rua Djalma Dutra, vizinha do Colégio Itá. Construção dos anos 1930-40. Uma propriedade que poderia ser facilmente adquirida e restaurada pelo poder público e mantida como equipamento cultural.


LARGO BATISTA PEREIRA E PRAÇA JOÃO PESSOA (DA MATRIZ). Casa e Pharmácia de José Ignácio da Glória, prático farmacêutico, vereador, jornalista e editor do jornal O Vicentino. Nesse prédio funcionou a Botica do Glória. Nela Também se hospedou D. Pedro II e Dona Leopoldina  numa de suas visitas à S. Vicente. Foi nessa farmácia que ocorreu a treta entre o Glória e o médico Martins Fontes, encarregado de multar e fechar o estabelecimento após diversas denúncia de curandeirismo. A primeira imagem é um bico de pena de Edison Telles de Azevedo mostrando o prédio antigo. A segunda é uma fotografia dos anos 1950. A edificação rústica foi modernizada e depois demolida para dar lugar a um prédio de três andares. No Largo também havia uma praça, que foi destruída para dar lugar à réplica de uma vila colonial.



"Um curtume desativado. Quem atravessa a Ponte Pênsil em direção ao Litoral Sul avista, antes da divisa com o município de Praia Grande, no bairro do Japuí, antiga edificação industrial, abandonada. Ela é um marco da economia vicentina do início do século XX: o Curtume, que teve seu fim decretado com a desativação do Matadouro de Santos, já que dele dependia para a obtenção de matéria-prima, o couro a ser curtido (pois o Matadouro de São Vicente - instalado em 1891 por Luiz Pinto do Amorim e Jacob Emmerich, aproximadamente na área do atual Clube Hípico - foi fechado em 1916)".
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Em 28 de março de 2004, o jornal A Tribuna publicou matéria da sucursal vicentina, relatando o estado de abandono das instalações, os planos existentes para o seu aproveitamento e os entraves surgidos nas três últimas décadas do século XX:

Acervo digital: Novo Milênio: Histórias de S. Vicente.


MEMÓRIA DO CURTUME CARDAMONE. O curtume funcionou em São Vicente por cerca de 60 anos, chegando a empregar nesse período 400 funcionários na Cidade. Com a desativação do matadouro de gado em Santos, na década de 70, o estabelecimento entrou em fase de decadência, uma vez que dependia da matéria-prima de outras cidades, e acabou sendo fechado pelos proprietários. Locatário do imóvel, o empresário Daniel Martines montou uma fábrica de tecelagem no prédio, que funcionou por pouco tempo. Há cerca de quatro anos, ele tentou ainda montar um estacionamento para ônibus de excursão, com o objetivo de estimular a vinda do turismo de um dia para o Município. Entretanto, foi obrigado a encerrar as atividades com a criação do Parque Estadual Xixová-Japuí, que tornou a região uma área de preservação ambiental.
Acervo digital: Novo Milênio: Histórias de S. Vicente





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