09/07/2019

MORADA DOS MORTOS

 HISTÓRIA DA MORTE E DO RITO FUNERÁRIO VICENTINO 

As sepulturas da Igreja da Matriz e da Travessa Ana Pimentel
O velho Cemitério Municipal
 Areia Branca e o novo Marco Divisório São Vicente -Santos
As Necrópoles Verticais

....
Foto: Memorial Vicentino, 2017.

  

TEMOS ONDE CAIR MORTOS 


                                                      DALMO DUQUE DOS SANTOS                                                        

Sepultar corpos é uma prática pré-histórica surgida com o sedentarismo e com os costumes desenvolvidos nas primeiras aldeias agrícolas. No período nômade  os membros dos grupos que tombavam mortos, de forma natural ou em confrontos, eram deixados para trás e com seus corpos abandonados desapareciam também as memórias dessa convivência instável e sem endereço fixo. Os rituais funerários surgem exatamente quando as populações já desfrutam de hábitos coletivos num espaço comum de moradias e sobrevivência local. 

O impacto da perda e o cultivo da memória afetiva explicam  o aparecimento e a função desses rituais de passagem, bem como a criação de espaços exclusivos para esse culto. 
Primeiramente,  nas aldeias, os sepultamentos eram feitos próximos das casas, como extensões das moradias dos mortos. Os cultos eram domésticos, a exemplo dos deuses "lares" das civilização greco-romana.
Com o surgimento das cidades e dos templos, era muito comum que os mortos, com seus familiares, desfrutassem desses espaços sagrados por meio de cerimônias públicas, segundo suas posições sociais. No entanto, os velórios continuaram sendo domésticos, sendo público apenas o féretro e o sepultamento nas necrópoles, monumentos ou nas igrejas.  Na Igreja Matriz de São Vicente há várias sepulturas de personalidades influentes em suas épocas. Na rua Ana Pimentel, na lateral da igreja, foram encontradas sepulturas de pessoas consideradas menos importantes, incluindo religiosas católicas,  os indígenas cristianizados e os negros escravizados. 

Nos séculos XIX e XX as cerimônias fúnebres - a exemplo também dos gregos e romanos- tornaram-se eventos cívicos e espetaculares, quando os defuntos eram celebridades politicas ou artísticas. Os velórios passaram a durar vários dias, para satisfazer a curiosidade popular, e os traslados, féretros e sepultamentos seriam compostos de cerimoniais espetaculares. São memoráveis os funerais de Victor Hugo, Napoleão Bonaparte e Frederic Chopin em Paris, bem como os de grandes celebridades atingidas por tragédias de grande comoção social como Lincoln e Kennedy; ou mesmo no Brasil como Vargas e Ayrton Senna. 

Os cemitérios se tornam então espaços urbanos especiais, monumentais, com projetos arquitetônicos e paisagísticos e, consequentemente, alvos de frequentes visitações devocionais e turísticas.  
Com o crescimento da população e também com a mudança para o regime republicano no Brasil, surge a necessidade dos cemitérios públicos, capazes de receber os mortos de todas as camadas sociais, até mesmo os indigentes. Estes passam a ser diferenciados na concepção e na arquitetura dos túmulos perpétuos e sepulturas comuns, cujos despojos são acumulados nos ossários coletivos. 

No período colonial e no Império os registros de óbitos e sepultamentos eram funções das paróquias. As igrejas, seguindo a tradição medieval, tinham não não somente o controle dos livros de registro, mas do tempo histórico e social por meio de rituais e celebrações. As comunidades não católicas, geralmente protestantes, imigrantes judeus,  árabes, eslavos e asiáticos, passaram a ter cemitério próprios ou, em alguns casos, alas diferenciadas nos cemitérios públicos. 

Depois da proclamação da república, a função de registro e notificação passa para os cartórios, com escrituras de propriedades,  ou então simples atestados e declarações comprovando a “causa mortis”. A partir dessa secularização, todos passam a ter "onde cair mortos", identificados e indigentes, contrariando o conhecido ditado popular sobre o status quo dos vivos que passam à condição de finados. 

As necrópoles também sofrem mudanças de localização, como todos os estabelecimentos que são atingidos pela dinâmica urbana. Elas eram geralmente construídas em locais afastados do centro das cidades e, como o passar dos anos, passaram a fazer parte de uma nova paisagem, rodeadas de ruas, avenidas, residências e estabelecimentos comerciais. 

Elas também passam ser pontos de referência e marcos divisórios territoriais. Quando se esgotam as possibilidades de abertura de novos jazigos, a solução é encontrar novos espaços em lugares ainda desabitados. Foi o caso, por exemplo, do Cemitério de Areia Branca, de Santos, que foi instalado que pertencia a São Vicente.  A partir dele, a divisa entre as duas cidade foi redefinida após um acordo político entre as duas prefeituras. A divisa original de São Vicente com Santos na zona noroeste era próximo à atual avenida Jovino de Melo e depois foi estabelecida na Vila São Jorge, que era vicentina e também foi dividida,  no monumento do Tambores. Pesou nessa decisão também as modernas linhas de bondes elétricos que substituíram as de tração animal. Os bondes modernos também tinham vagões funerários especiais.

O Cemitério Municipal de São Vicente, também conhecido como Cemitério da Saudade, também teve a mesma transformação de lugar ermo e distante do centro quando o Bitaru tornou-se alvo de loteamentos e suas antigas chácaras foram sendo substituídas pelas propriedades menores e em número cada vez maior maior. 

A transformação não parou aí: com a explosão populacional dos anos 1970 e 1980 na Ilha de São Vicente, houve um novo esgotamento de espaço horizontal de jazigos. A solução foi a verticalização das necrópoles. Surgiram em Santos e  posteriormente em São Vicente os cemitérios em formato de edifícios de andares sobrepostos, de propriedade privada. Em São Vicente eles foram construídos próximos e anexos ao antigo cemitério municipal. 

Historicamente  todas essas mudanças estão inseridas num grande contexto de modernização industrial. É o período de aceleração e massificação urbana no qual a morte sofre também uma transformação antropológica, passando a ser assunto e atividade sob controle científico e sanitário. Os riscos de epidemias e pandemias, a exemplo do que ocorreu no século XIV com a Peste Negra, forçaram a cidades a dar um novo tratamento e controle dos hábitos fúnebres.  A morte doméstica é então transferida para os hospitais, que passam a administrar os trâmites burocráticos dos óbitos, os velórios e os sepultamentos. A cremação de corpos passa a ser um novo serviço inserido no rito mortuário, apesar do alto custo individual. As empresas funerárias também evoluem nos seus negócios e passam a empreender seus próprios cemitérios, com toda a estrutura científica e oferta de rituais fúnebres, em espaços horizontais e verticais. Algumas entram no ramo da medicina e da saúde, combinando planos de saúde com plano funerários.

Em muitas cidades surgem também, juntamente com os planos de saúde, os velórios e cemitérios  para animais de estimação, substituindo alternativamente, para quem pode arcar com os custos, o descarte de corpos nos aterros sanitários. A cultura "pet", que antes era somente um hábito antigo e comum de domesticação dos animais, também sofreu o impacto da urbanização industrial e cresceu demográfica e mercadologicamente com o seus cultivadores e consumidores. A solidão das grandes cidades popularizou  o hábito "pet" obviamente porque ele  preencheu uma carência social crescente. A marca dessa cultura é a humanização dos animais como forma de vínculo e sentido existencial.  O pet torna-se membro afetivo dos lares solitários e por isso passa a ter todas as características e necessidades humanas: a alimentação, a vida social, o vestuário, a saúde e a higiene, as  celebrações de datas marcantes e finalmente o luto e os ritos fúnebres. 

O antigo ditado popular “Não tem onde cair morto”, incluindo agora o animal de estimação,  vai aos poucos sendo substituído por um novo axioma: “Morrer não é para quem quer, mas quem pode”. Mesmo assim, todos precisam e são sepultados.

Serenata fúnebre no dia do falecimento do violonista vicentino Maurício Moura. Era 2 dezembro de 1964, Dia do Samba. Acervo Clube do Chôro de Santos.  
 

NECRÓPOLE VICENTINA. O cemitério de São Vicente guarda no seu acervo tumular os restos mortais das mais antigas famílias da cidade, das simples até as mais aristocráticas. Algumas delas cuidam dos túmulos como relíquias e monumentos aos seus mortos. Se fosse melhor cuidado, o cemitério de São Vicente não ficaria devendo nada às necrópoles mais visitadas do mundo, onde foram enterradas suas celebridades. E poderia ser também ponto diário da curiosidade e visitas turísticas, como acontece em Paris, por exemplo, nos túmulos de Chopin, Allan Kardec e Jim Morrinson. Aliás , São Vicente deveria ter em local de destaque um Panteão dos Fundadores do Brasil, com os restos mortais ou memoriais de João Ramalho, Tibiriçá, Bartira, Cosme Fernandes, Antônio Rodrigues, Gonçalo Monteiro, Manoel da Nóbrega, Anchieta e muitos outros construtores do Tumiaru e da Vila Afonsina.

Túmulos de antigas famílias vicentinas. Foto: Waldiney La Petina.


Primeiro atestado médico de óbito do cemitério municipal, da época do império, datado de 24 de abril de 1889. Causa mortis: hepatite. Acervo do IHGSV- Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente.

*
ENTERRAMENTO DA SENHORINHA ZILDA DE SOUZA AGUIAR


Em 25 de setembro de 1925 a sucursal do jornal A Tribuna registro o enterramento de uma jovem senhora de tradicional família vicentina, falecida três dias antes, com numeroso acompanhamento anotado pelo cronista composto de personalidades das antigas famílias e de destaque da politica vicentina. Provavelmente a maioria dos citados também está sepultada na mesma necrópole :

DE S. VICENTE

Enterro

Conforme noticiamos, realizou-se ante-hontem, no cemitério desta cidade, o enterramento da inditosa senhorinha Zilda de Sousa Aguiar.

Do numeroso acompanhamento pudemos tomar nota das seguintes pessoas:

Luis Antônio Pimenta, Jayme e Antônio Hourneaux de Moura, Líbero e João Pariselli, José Adelino Soares, Bruno Malegny, Eduardo Araújo dos Santos, João Francisco Bensdorp, Ignácio, Cicero e Homero Requejo: José Rodrigues, José Brito, José Martins Viana, Antônio Heitor, Caramuru, Eduardo do Freitas; Didimo de Sousa Santos, Waldemar Duarte, Helli e Flávio Botto, Ernesto Entrieri, João Rittes. José Rittes Filho, Adriano dos Santos, Germano Brume, sargento Joaquim Alves Rodrigues, Rodolpho Plothow, Tabajara Paranhos, Euclydes de Miranda, Rubens C. Rocha, João Baptista de Alencar, Enior Lima, Auto Dias, João lochido, José e Francisco Antônio Fructuoso, Benedito Ferreira, Baldomero Lopes Fernandes, Honório Pires de Camargo, Paulo Augusto Freitas, Acácio P. Duarte, Benedicto Vieira, Bernardo Teixeira, cabo Washington Roso, Merival Emmerich, José Serranno, Eduardo Simon, Milton Pinto Manuel Vicente de Paula, Oswaldo da Silva Primo, Antenor Villas Boas, João Richetti, João Paulo de Lara, Divo Raul, Sylvio de Sousa Aguiar; Antônio Joaquim, Alfeu Ortiz, Benedito Leite de Paula, José Augusto do Oliveira e senhora, Brasillo de Sousa Moreira, Anisio Marques, Nicolau do Moraes, Orestes Telles, Guilhermo Alves,  Issac do Valle, Lao Y. Rodrigues, Antônio José da Rocha, Domingos Marques, Issac Passos Pilho, Álvaro de Medeiros por si e familia; João Marinho de Freitas, Antônio Pierre. E. Assumpção. Augusto Veleije Lule Lopes, Edison Telles, Antonio Thiago de Carvalho, Lucas Alves, Antônio Mauri, José Tumolli, José Gomes e Olegário Herculano Alves

Sobre o ataúde foram collocadas a seguintes coroas de flores naturaes:

A boa Yaya, saudades de sua mãe e irmãos.

A' Yaya, último adeus de Divo Tuna;

A boa Yayá, saudades de Bilu Santa e filhos:

Saudades eternas da Congregação



Foto: Memorial Vicentino, 2017.


FAZEDOR DE ATAÚDES


ALGUNS VULTOS SEPULTADOS 

VICENTINOS HISTÓRICOS. Personalidades marcantes na História Contemporânea de São Vicente foram registradas em diversas obras, entre elas: Vultos Vicentinos (Edison Telles de Azevedo,1972), Guia de Ruas (Narciso Vital de Carvalho, 1978), Poliantéia (Fernando Lichti) e Á Bocca do Coffre (Dalmo Duque e Waldiney La Petina). Embora a figura másculina tenha sido predominante nas épocas passadas, as mulheres também tiveram muita influência na vida cotidiana vicentina. Outra forma que encontramos para identificar essas figuras foi o registro necrológico do Cemitério Municipal.
Vicentinos memoráveis: as professoras Maria Pacheco Nobre e Adelaide Giebler Macedo;o músico Maurício Moura e o padre Paulo Horneaux de Moura.

Intendente Antonio Lima Machado – 19 de outubro de 1911, em campa perpétua doada pela prefeitura.Sua esposa Helena Anta Machado também lá está sepultada.
Coronel Júlio Maurício da Silva -19 de Abril de 1930 e sua esposa Maria do Carmo Jardim Maurício da Silva (Dona Mariquinhas).
Antonio Emmerich –  Em 24 de junho de 1881, sepultado no Paquetá (Ordem 3ª do Carmo) em Santos, tendo seus restos mortais transladados para o Cemitério de São Vicente em campa particular da família. E sua esposa Dona Filipina Emmerich (Dona Felipa), em 1916, sendo o mausoléu um dos mais antigos da necrópole.
Antero Alves de Moura -  Em 5 de setembro de 1941, aos 77 anos; e sua esposa Isabel Horneaux de Moura (filha de imigrantes franceses refugiados durante a revolução), em 18 de setembro de 1843, aos 68 anos. Antero, Adão e Antão de Moura foram jovens portugueses imigrados para São Vicente no século XIX. Antão foi prefeito, Adão morreu ainda jovem e Antero era empresário de transportes (travessia de barcos entre o Japui e o Porto dos Reis), homem da política e intensas atividades culturais. 
Pai Bento – Escravo de 105 anos, vindo aos 50 anos de Eldorado (Xirica)  a mando do seu senhor para alistar-se na Guerra do Paraguai. Foi comprado piedosamente  por Bento Viana, em troca de outro escravo mais novo. Com a morte de Viana, Pai Bento ficou sob a proteção de Antônio Emmerich, trabalhando espontaneamente  até sua morte e vivendo num quartinho na casa do patrão e amigo.
José Ignácio da Glória – 19 de junho de 1927, farmacêutico, político e jornalista, campa perpétua 781-N. Quadra 2.
Dr. José Rubin César- 11 de dezembro de 1897, advogado de alto prestígio em Santos e orador oficial de São Vicente.
José Fernando Antônio Bittencourt – Campa perpétua, em 18 de novembro de 1903, herdeiro dos avós e agricultor do histórico Sítio Acarau, onde nasceu o Frei Gaspar; vereador e presidente da câmara.
Alberto Martins de Oliveira – 29 de novembro de 1929, esportista, presidente da Câmara, delegado de polícia. Fundador do CR Tumiaru e Chantecler EC. Aposentou-se como funcionário da Cia. Theodore Ville, comissária de Café, em Santos. Era natural de Monte Cabrão.
José Joaquim Azevedo (Juca Morgado) -Em 27 de abril de 1933, aos 81 anos. Sua esposa Catarina Lapetina  também está sepultada na mesma campa.  Imigrante português, era industrial e comerciante, construtor e administrador de importantes obras públicas e monumentos da cidade.
Capitão Gregório Inocêncio de Freitas – fazendeiro, produtor e exportador de café procedente de Xirica (Eldorado), presidente da Câmara; sepultado em 22 de setembro de 1901. Túmulo 657 P, 3ª sepultura da 1ª fila da quadra 2, à direita de quem entra no cemitério, onde também está sepultada Rita Cândida de Freitas, segunda esposa do capitão. O Dr. Moura Ribeiro atestou o óbito.
João Pereira  de Almeida (João do Morro)- em 30 de março de 1946, aos 103 anos. Morador do Morros dos Barbosas, próximo à Biquinha. Figura rústica e muito popular, caiçara, pescador e canoeiro que salvou do afogamento muitos banhistas que frequentavam a praia de São Vicente.Foi sepultado às expensas da família, porém a prefeitura concedeu a ele campa perpétua , lei 42, de 30 de setembro de 1948.
Alferes Marcolino Xavier de Carvalho – em 3 de julho de 1917. À 4:30 horas, aos 62 anos. Alferes da Guarda Nacional, figura folcórica vicentina; foi carcereiro, policial, mesário, músico de banda e dono de birosca em frente ao cemitério e boteco no Largo Batista Pereira. Aparece batendo continência em foto da inauguração da Ponte Pênsil, em 1914. Era também fabricante de ataúdes para famílias pobres que não tinham condições de arcar com enterros particulares.
Maria Pacheco Nobre –em 12 de junho de 1949,aos 49 anos, sepultada em túmulo comum e anos depois seus despojos foram para do jazigo 36. Mestre-escola no Boqueirão da Praia Grande, tendo nascida no sítio do Itaipu.
Salvador Malaquias Leal - Em 12 de abril de 1931, aos 70 anos. Nascido em Santos e residente na rua Ypiranga, onde faleceu. O Dr. Atilio Pabis atestou sua morte, tendo seu corpo sido sepultado em campa perpétua397 D, quadra 7. Funcionário durante 24 anos da firma Zerrener Bullow , tornou-se depois funcionário de confiança do prefeito Francisco Bensdorp.
Francisco Xavier dos Passos – 22 de agosto de 1915, aos 77 anos. Bem como sua esposa Laurinda Marcelina dos Passos, em 14 de julho 1919. Chico Botafogo era puxador rezas, coroinha da Matriz e zelador de capela. Sitiante, músico da banda. Foi um dos primeiros arruadores durante a expansão urbana moderna e figura muito popular na cidade. Seu funeral foi uma mais concorridos de então, com a presença da banda musical da qual era membro.
Theotônio Gonçalves Corvelo – Faleceu durante um passeio de Praia Grande em 10 de maio de 1916. Era comerciante, guarda-livros e dedicou-se à política como presidente da Câmara. Muito culto e voltado para as artes, foi o mecenas que financiou os estudos musicais da menina Georgina Moura, mãe dos famosos músicos Maurício e Mauricy Moura. Georgina foi reconhecida professora de piano e mestra, entre outros, do grande musico Cesar Camargo Mariano ( futuro marido de Elis Regina) quando este residia na rua Frei Gaspar.
Adelaide Giebler Macedo. Faleceu em 6 de dezembro de 1965 no Hospital São José e foi sepultada na campa perpétua 963 “O”, onde também foram enterradas sua irmã, falecida em 1922; e sua mãe, falecida em 1919. Mestre-escola atuante, juntamente com sua irmã Isabel Giebler, fundadoras de uma conhecida e simples escola primária, mantida com grande dificuldade.
Coronel José Lopes dos Santos – Está sepultado em campa perpétua doada pela prefeitura, bem como sua esposa Gabriela Carneiro Lopes (Maninha), aos 97 anos. Era membro da Guarda Nacional, político e grande benfeitor vicentino. Faleceu em São Paulo na tarde de 21 de maio de 1896, na Estação da Luz em São Paulo, enquanto aguardava o trem de volta para Santos. “ À passagem do féretro, muitos circunstantes se ajoelharam em respeitosa postura, em reconhecimento pelo muito que o Cel. Lopes dedicou a sua existência aos humildes e enjeitados da sorte”.
Eduardo Vitor de Freitas – Em 03 de julho de 195, aos 96 anos de idade e sepultado na campa perpétua 267- L. Sua esposa, Dona Amância Gonçalves, com quem teve 18 filhos, faleceu em 25 de maio de 1939. Além dos filhos, cuidavam de diversas crianças pobres que os pais não tinham condições de criar. Foi servidor público em Santos na Recebedoria de Rendas e funcionário de duas administrações municipais vicentinas.
João José de Souza – em 20 de março de 1957. E também sua esposa Laudelina Emmerich, neta de Jacob Emmerich e Felipina Emmerich. Era genro de Thiago Emmerich. Foi Juiz de paz, desportista de destaque, na patinação e no bilhar.
Marcílio Dias do Nascimento – em 23 de maio de 1940, ao 57 anos de idade, em suas residência, à rua Jacob Emmerich, 920. Foi sepultado em túmulo doado pela prefeitura em reconhecimento aos serviços comunitários , como dentista e colaborador de iniciativas filantrópicas.
Anadir Dias de Carvalho – Em 11 de novembro de 1954, tendo comparecido ao seu funeral uma massa de amigos e admiradores. Fundador do CR Tumiaru em 1905 e presidente do clube em vários mandatos, tendo sido um dos atletas e líderes esportivos mais celebrados da época. Era funcionário federal, tendo sido guarda aduaneiro no Porto e fiscal da Alfândega.
Paulino José Ribeiro Ratto- Em 23 de fevereiro de 1924, três dias após uma queda acidental no jardim de sua casa. Está sepultado na campa perpétua 79 C, na quadra 1. Comerciante cafeeiro e dono de grande fortuna, residia em ampla residência , na rua Frei Gaspar, 67. Foi vereador e autor de vários projetos de melhorias da urbanização da cidade.
Capitão Luiz Horneaux – Em 24 de abril de 1920, em sua residência, na rua Martim Afonso, 23. Era figura de destaque no comércio aduaneiro e no esporte de regatas. Seu féretro teve o acompanhamento de grande multidão de amigos e admiradores, chocados com sua morte prematura por pneumonia dupla, após ingerir bebida gelada no Bar do Esporte após longo percurso de bicicleta sob sol escaldante. Está sepultado na campa perpétua 171 C, quadra 2. Sua irmã Isabel Horneaux (Titina) era casada com Antero de Moura, unindo dessa forma duas conhecidas famílias vicentinas.
Joaquim Dias Bexiga –Em 28 de fevereiro de 1930, aos 68 anos, em sua residência na avenida Capitão Mór Aguiar, 365. Está sepultado em campa perpétua, nº 192 D, bem como sua esposa Flora Gonçalves Bexiga, falecida em 1965, aos 98 anos. Bexiga era um comerciante inquieto, mistura de engenheiro, inventor e cientista experimental. Sua loja de ferragens era batizada de Oficina Enciclopédica, que resumia suas ideias e atividades tecnológicas.
Capitão Luiz Antônio Pimenta – Em 8 de agosto de 1936, aos 68 anos, sepultado na campa perpétua 455 E, Quadra 4. Casado com Olímpia Rubin Cesar, filha do famoso advogado e orador. Foi dirigente esportivo, vereador e destacado membro do Partido Republicano Paulista.
Ignacio Gonzalez Requejo – Em 14 de novembro de 1944. Faleceu no Hospital São José, deixando inúmeros descendentes, a maioria comerciantes como ele e outros dedicados a profissões de formação acadêmica. Imigrante espanhol, era proprietário da famosa Casa Requejo. Foi um dos sustentáculos da obra social Chácara dos Inocentes, dedicada aos órfãos e inspirada e dirigida por Anália Franco. Sua esposa Eulâmpia Requejo também está sepultada na antiga necrópole da cidade.

Declaração de óbito  Maria Rosa Brando Lapetina em 1908. Acervo de Waldir La Petina. 

 Francesco La Petina - Em 3 de julho de 1933. Faleceu um dia antes no Hospital São José. Era natural de Tramutola, Potenza, Itália, onde nasceu em 1844. Imigrou para São Vicente em 1879. Sua esposa Maria Rosa Branda La Petina, nascida na Itália em 27 de março de 1860,  faleceu dia 19 de março 1908 e foi sepultada no cemitério de São Vicente no dia 30. Era avó  do Padre Paulo Horneaux de Moura. Segundo o Almanaque Santista (1885), Francesco era um dos comerciantes mais antigos em atividade, tendo primeiramente uma taverna, secos e molhados e depois uma pedreira. Foi pai de 12 filhos, 10 vicentinos e dois italianos. Sua filha Maria Helena casou-se com Antônio Pinto Amorim (irmão de Luiz Pinto Amorim, dono do famoso Iate Etelvina, que fazia a travessia para Praia Grande, no Porto Tumiaru), com quem teve sete filhos. O caçula dessa prole de Maria Helena e Antônio foi o famoso médico Dr. João Amorim, que fez brilhante carreira científica e gestora em importantes núcleos da medicina paulistana, incluindo os hospitais Pérola Byington, Matarazzo e Pro-Matre. 
Nota do jornal O Progresso sobre  falecimento de Francisco Lapetina em julho de 1933. A grande maioria de parentes citados na notícias está sepultada no cemitério municipal.  Acervo e informação de Waldiney La Petina. 

Maurício de Moura - Em 2 de dezembro de 1964 (Dia do Samba), aos 40 anos. Era filho de Hugo Mora e da pianista Georgina de Araújo Moura (professora de César Camargo Mariano, marido e arranjador de Elis Regina). Seu velório foi acompanhado de uma grande serenata de dezenas de músicos e admiradores. Era irmão de Muricy Moura, cantor famoso no meio artístico Rio-São Paulo, falecido em 23 de agosto de 1977, aos 51 anos. 
Padre Paulo Horneaux de Moura Filho - Em 23 de janeiro de 2012. Lider religioso regional muito querido e popular. Em Santos foi homenageado com o nome de uma escola de samba no Macuco. Era filho do Dr. Paulo Horneaux de Moura, advogado, jonalista e desportista-dirigente do Santos F.C. E neto de Antero de Moura.

Pietro Ubaldi - Faleceu no Hospital São José no dia 29 de fevereiro de 1972. Seus restos mortais estão sepultados no Cemitério da Saudade, quadra 13 -72S. Célebre escritor e médium italiano, autor de vasta obra filosófica inspirada pela entidade "Sua Voz". Seu livro mais famoso é o tratado científico A Grande Síntese, que recebeu elogios significativos de Albert Einstein, sobre os revolucionários conceitos de física quântica ali contidos. Chico Xavier (Emmanuel) definiu o livro como "O Evangelho da Ciência". Pietro Ubaldi viveu toda a década de 1960 em São Vicente.

                                
MORREU PIETRO UBALDI, O FILÓSOFO ESPIRITUALISTA

"O filosofo espiritualista Pietro Ubaldi, 86 anos, morreu na madrugada de segunda-feira, em São Vicente, vítima de um efizema pulmonar, dois dias depois de terminar de escrever o seu último livro da serie A Grande Síntese. Ubaldi foi enterrado no Cemitério de São Vicente às 17 horas, com a presença de grande numero de pessoas, membros do Núcleo Ubaldiano de Metafísica e o representante do prefeito Jonas Rodrigues.
Estava internado há 35 dias no Hospital São José, para tratamento cardíaco. Durante esse tempo, iniciou o seu último livro, declarando aos médicos que morreria logo após o termino da obra. Sexta-feira, terminando a obra. Teve grande melhora no seu estado de saúde, segundo declarações do médico Ivan Coelho Maciel. Sábado pela manhã, entrou em agonia, falecendo aos 45 minutos de segunda-feira, sem recuperar a consciência. A morte surpreendeu o médico.
Pietro Ubaldi foi sepultado na tumba n° 948, onde está enterrada, desde 1963, a sua esposa Maria Antonieta Solfanelli Ubaldi. Sua filha - que preparará a edição do seu último livro - não presenciou o enterro, porque ficou em repouso absoluto, seguindo ordens médicas.
Durante o enterro, o presidente do Núcleo Ubaldiano, sr. Claudio Picazo, leu uma mensagem espiritual datada de 11 de fevereiro, na qual o espírito de Domingos Alves de Carvalho previa a morte do filósofo. A mensagem foi recebida pela médium Izilda C. Pinna e diz: "uma grande alma deixa o corpo e caminha para Jesus".
Quando tinha 75 anos, Ubaldi escreveu o livro Profecias, no qual previa a própria morte para 1972, descrevendo as circunstâncias da morte e o local.
"Logo que terminar de escrever meu último livro vou morrer, para fazer cumprir as palavras de Jesus Cristo. Ele disse que terminando a minha obra terrena, eu iria a seu encontro".
Segundo o médico Ivan Coelho Maciel, era surpreendente a força de vontade do filósofo.
"Ele escrevia dois dias seguidos e piorava. Parava dois dias para tratamento e reiniciava a obra. Eu o proibi de ditar o livro ao gravador, porque se emocionava bastante. Por isso, passou a escrever. No último capitulo, explicou, à sua maneira, o que estava sentindo e qual a sua doença. Ubaldi tornou-se meu amigo e sua morte, no ponto de vista da medicina, foi uma coisa extraordinária; apresentava um quadro clínico satisfatório. Antes de entrar em coma, ainda escreveu duas cartas. Depois, não disse mais nada. Sua família assistiu comigo aos seus últimos instantes.

UM DOS MAIS FAMOSOS DA CIDADE
Notícia da morte de Ubaldi no jornal santista A Tribuna.


A morte de Ubaldi foi lamentada pelas personalidades culturais da cidade. Foi um dos moradores mais famosos da Cidade. Costumava brincar com as crianças nos dias de sol na praça 22 de Janeiro, em São Vicente. Era visto constantemente na janela do seu apartamento em longas meditações. A noite, ficava até alta madrugada escrevendo, enquanto ouvia música clássica.
Por causa da avançada idade, já andava um pouco curvo, mas a filha afirma que ele manteve, até o ultimo instante, uma lucidez pouco comum em pessoas dessa idade. Disse certa vez que escolhera o Brasil para divulgar a sua obra, porque era a terra da promissão, o país do futuro, a terra do amor e da paz".
SUA VIDA
Pietro Ubaldi, nasceu na pequena cidade de Foligno, Itália, em 1886. Desde pequeno, já demonstrava uma grande necessidade de aprender. Para ele, a humanidade era egoísta e sempre lhe parecia estranha: dai surgiram suas buscas as respostas existenciais: Quem somos?
Para onde vamos? Quem é Deus? Procurando sempre nos livros. Mas eles nunca o satisfizeram.
Pietro Ubaldi formou-se em Direito em 1913, na Itália. Ele nunca chegou exercer a profissão. Mesmo sem conhecer o Brasil, sua tese de doutoramento foi a Expansão Econômica da Itália no Brasil. Apesar de ter herdado grande fortuna, não fez uso dela; achava que não tinha mérito, pois não foi conseguida por si. Preferiu lecionar inglês, para sustentar a família.
Sua carreira literária começou em 1933, com o livro A Grande Síntese, considerado uma de suas principais obras.
Veio pela primeira vez ao Brasil, em 1951, a convite da Confederação Espírita do Brasil, a fim de realizar uma série de palestras por todo o País. Entusiasmado com sua experiência, retornou em 1952 com toda a família, radicando-se definitivamente em São Vicente, dividindo seu tempo em escrever e fazer palestras.
Suas obras foram editadas em inglês, italiano. espanhol e esperanto, e por esse motivo foi indicado para o prêmio Nobel da literatura. O grande filósofo foi fundador do Núcleo Ubaldino de Metafísica, entidade com sede em São Paulo, encarregada de imprimir e divulgar seus trabalhos."

Antônio Luiz Barreiros - , bem como sua esposa Isabel da Encarnação Barreiros.  Imigrante português, foi agricultor e exportador de banana produzida no seu sítio no Japuí. Uma de suas filhas - Prazeres Barreiros - foi a primeira mulher médica da Baixada. Seu neto Sérgio Barreiros de Santana Azevedo, filho da Dra Prazeres, é diplomata e foi embaixador do Brasil no Panamá.
Edison Telles de Azevedo - Em 18 de dezembro de 1973. Foi bancário, jornalista, memorialista, fundador do IHGSV. Autor do livro biográfico Vultos Vicentinos. Ilustrador em bico de pena, maçom, benemérito de diversas entidades assistenciais e vereador vicentino. Era filho Antonio Militão de Azevedo.
Antônio Militão de Azevedo - Em 20 de março de 1935, vítima de uma curioso e fatal acidente por afogamento. Era leiloeiro em Santos, político influente  e membro de antiga família de São Vicente. Sua esposa Rosalina Telles também está sepultada na mesma campa, assim como o filho deles, Edson Telles de Azevedo. 
PS. Luiz Pinto Amorim, 3ª figura do painel, faleceu em S.Paulo e foi sepultado no cemitério do Araçá. 
Gravuras e textos extraídos das biografias do livro Vultos Vicentinos. Edson Telles de Azevedo. 1972.


Nota de A Gazeta Popular, edição de 01 de abril de 1935 noticiando o acidente e a morte de Antônio Militão de Azevedo



Portal  datado de 1887 antes de ser demolido durante a construção do cemitério vertical. Publicação: São Vicente de Outrora. 


Largo da Saudade. Os mais antigos moradores lembrar-se-ão do imponente pórtico do Cemitério Municipal. Erguido em 1887, era uma das últimas construções vicentinas dos tempos do Império, bem como a capelinha à esquerda. Lembrar-se-ão também dessas densas árvores que ali vicejavam há décadas e das grades de ferro que guarneciam boa parte da frente. Tudo isso veio abaixo entre 1999 e 2000  para a construção de uma necrópole vertical, que poderia muito bem estar em outro ponto do terreno e assim preservar estas importantíssimas arquiteturas. É... nem mesmo nosso campo santo escapou da terrível sanha modernista que há 30 anos vem varrendo o passado da cidade. Impiedosamente. Foto de Tateo Ikura.Jornal Espaço Aberto. São Vicente de Outrora. 



Conheça as Ruas de sua Cidade. Narciso Vidal de Carvalho, 1978.
 

Dia de Finados no Cemitério Municipal de São Vicente. 


Alameda do Cemitério Municipal. 


HERÓIS DE 32



 

*

O Antigo Costume do Sepultamento nas Igrejas do Brasil

O costume de ir ao cemitério é ainda muito recente, se levarmos em conta que até princípios do século XIX, não existiam cemitérios tais como conhecemos hoje.
Enterrar os mortos nas igrejas era algo comum no Brasil Colonial. No espaço sagrado das Igrejas se enterravam com seus jazigos sob os assoalhos no altar-mor, ou ainda em pequenos altares laterais adquiridos pelo próprio falecido. Assim era também nos primeiros séculos do cristianismo.
Acreditava-se que enterrado no local sagrado estaria mais próximo de Deus, tendo a garantia da salvação de sua alma. Nos preparativos do ritual era determinante o local de seu sepultamento, seu vestuário, velório, cortejo e o número de missas para salvação de sua alma.
Em tese, pessoas de qualquer condição social poderiam ser enterradas nas igrejas, mas como se num movimento natural, estabeleceu-se uma hierarquia a respeito da posição, local e tipo da sepultura. O local de sepultamento, ou da “última morada” no período colonial, dependia na maioria das vezes, da classe social a que pertencia o indivíduo: os mais ricos, membros da elite e do clero eram enterrados no interior das igrejas que, dependendo da procura, cobravam taxas altíssimas para receber o corpo; para a camada mais pobre, e mesmo para alguns membros da classe média que não possuíam dinheiro suficiente, eram reservados espaços descobertos, fronteiros ou ao lado das igrejas, que se chamavam adro.
Mas ainda no século XIX esta prática começa a mudar. Campanhas higienistas vindas da Europa chegaram a conclusão de que os sepultamentos feitos dentro das igrejas prejudicavam a saúde das pessoas, que estariam expostos há contágios diretos.
Os funerais e sepultamentos dos escravos foram previstos na legislação eclesiástica, as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, que alertavam aos senhores que haviam se servido de seus escravos em vida que não se esquecessem deles em sua morte, mandando dizer missas pela sua alma, para “atalhar a impiedade” e coibir o fato de algumas pessoas mandarem “enterrar seus escravos no campo e mato como se fossem brutos animais”, o texto determinava que nenhum defunto batizado “de qualquer estado, condição e qualidade” fosse enterrado fora do lugar sagrado. (A Terra de Santa Cruz)


Duas Sepulturas Históricas de Indígenas que participaram da fundação da Nação Brasileira




O Túmulo de Dona Catarina Paraguassu (1503-1586) na Igreja de Nossa Senhora da Graça, Salvador Bahia e o Túmulo do Chefe Tupiniquim Tibiriçá (1470-1562) na Cripta da Catedral da Sé, São Paulo.
Catarina foi uma indígena Tupinambá, da região onde hoje é o estado da Bahia. Foi oferecida como esposa por seu pai, o cacique Taparica, ao náufrago português Diogo Álvares, o Caramuru, que gozava de grande proeminência entre os Tupinambás da Bahia. Adotou o nome cristão de Catarina do Brasil. Catarina e Diogo Caramuru formaram a primeira família documentada do Brasil. Catarina é considerada a mãe simbólica da nação brasileira.
Tibiriçá teve papel destacado na fundação da Vila de São Paulo de Piratininga, atual Cidade de São Paulo, em 1554. Foi convertido e batizado pelos jesuítas José de Anchieta e Leonardo Nunes. Seu nome de batismo cristão foi Martim Afonso, em homenagem ao fundador de São Vicente, Martim Afonso de Sousa. Por seu papel em proteger a Vila de Piratininga do ataque de indios hostis, Tibiriçá ganhou o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo pelo Rei de Portugal. (A Terra de Santa Cruz)




INSCRIÇÕES TUMULARES NA IGREJA MATRIZ



TRIBUTO D’AMOR GRATIDÃO E RESPEITO
AQUI JAZ O Pe MANUEL D’ASCENSÃO COSTA OQUAL. NASCIDO EM STos em 1871,E ORDENADO PRESBITERO EM JULHO D1806. PAROCHIOU ESTA IGREJA COMO COAD’or E VIGRº ENCOMMENDADO POR ESPAÇO DE 32 As NAe FOI COLLDº 1838, APOSENTDº EM 1863 E FALLECEO AFINAL NESTA Vª EM 13 D’ABRILDE 1868
...
AQUI JAZ O YNNOCENTE B.T.VIANNA Fº. NÁSCEU A 18 DE Mcº DE 1872 E FALLECEO Á 30 DEANRº DE 1873
...
AQUI JAZ OS RESTOS MORTAES DE D.FLORISBELLA Mª FOGAÇA DE ARAUJO. NASCEU 31 DE OUTUBRO DE 1823. CASOU-SE NESTA VILLA DE S.VICENTE EM 10 JUNHO DE 1840. AQUI FALLECEO EM 18 DE NOBEMBRO DE 1866.............SUAS VIRTUDES............SEU MARIDO JOSÉ JOAQUIM DA SILVA ARAUJO
...
AQUI JAZ O CHEFE DA ESQUADRA PAOLO FREIRE DE ANDRADE. NASCEO EM 1757 - FALLECEO 1854
Existem outras duas apenas com a placa de mármore em branco sem nenhuma descrição.
...
AQUI JAZEM OS RESTOS MORÁTAES DE FRANCISCO D’ ASSIS CARVALHO. EXEMPLAR DE TODA A.....................(está danificada faltando a parte inferior)

Extraído da monografia enviada ao site Novo Milênio pelo professor e pesquisador de História Francisco Carballa, em 2015.

OBRA EM SV ENCONTRA OSSADAS DE 400 ANOS

O prefeito Tércio Garcia observa os trabalhos arqueológicos no Bulevarde D. Ana Pimentel. Foto: Márcio Pinheiro/ PMSV

AE - Agência Estado -25 de agosto de 2010
A cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo, continua revelando detalhes da história 478 anos após a sua fundação. Foram encontradas três ossadas humanas praticamente inteiras durante escavações para uma obra onde nasceu a primeira vila do Brasil. O mais surpreendente da descoberta é que embora os corpos estejam enterrados bem ao lado da Igreja Matriz - onde comumente eram enterrados os leigos cristãos -, provavelmente os corpos são de uma população pré-colonização, de índios tupis ou tupi-guaranis.
"Esses corpos são de 500 anos para trás. Mais recente não pode ser, pois há um tratamento diferencial no sepultamento de um cristão para um indígena", explicou o arqueólogo Manoel Mateus Gonzalez.
"O corpo do cristão geralmente está estendido e, no caso do indígena, ele está na posição fetal." No entanto, só exames de DNA e carbono 14 vão determinar exatamente a etnia e a datação dos indivíduos. "Mas tem mais de 90% de chance de serem indígenas, pela curvatura dos pés."
A descoberta foi feita dois meses após o início da construção do Boulevard Ana Pimentel (mulher de Martim Afonso, fundador da cidade). Orçada em R$ 500 mil, a obra de drenagem e pavimentação de uma via ao lado da Matriz é monitorada desde o início pela equipe de Gonzalez. "Nessa escavação, para nossa surpresa, encontramos esses esqueletos inteiros e começamos a encontrar vestígios de sambaquis, que seriam sítios pré-históricos de 3 mil anos atrás, e também algumas cerâmicas tupis." Já foram retiradas mais de 1,5 mil peças do local.
Achados arqueológicos remetem à fundação da Vila de São Vicente. Trata-se de ossadas humanas de três adultos, com partes inferiores das pernas e do pé, fragmentos de crânio e mandíbula, além de parte das costelas e peças de cerâmica. Por conta da descoberta, as obras do Boulevard tiveram de ser paralisadas, de acordo com normas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por se tratar de uma região de grande valor histórico e por ser próxima a um monumento tombado (Matriz). Foi feito o mapeamento do local onde se iniciaram as escavações. Toda essa ação é coordenada pelo arqueólogo Manoel Gonzalez, responsável por outros achados importantes como fragmentos da primeira edificação erguida no Brasil e vários objetos que recontam fatos que aconteceram há 3.000 anos, na Casa Martim Afonso.
“O mais interessante é o fato dos ossos estarem sobrepostos e rodeados de cerâmica indígena. O que levanta teorias diferentes da origem dos achados, que podem pertencer a sepultamentos feitos pela Igreja Cristã ou de alguma aldeia indígena”, diz Gonzalez. Mas somente após uma pesquisa detalhada será definido que tipo de enterramento foi realizado no local.
O historiador e presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Cultural e Turístico de São Vicente (Condephasv), Marcos Braga, ressaltou a importância do feito e o interesse do poder público na preservação da história da Cidade. “A mudança na postura da Administração Municipal, que há três anos dá apoio a essas descobertas, é fundamental para revelar partes da história ainda não conhecidas”, afirmou.
O prefeito Tercio Garcia esteve no local para conferir as escavações e garantir a preservação desses achados. “O importante agora é alterar o cronograma das obras de forma a preservar o local das descobertas e os direitos dos comerciantes”.
Para o arquiteto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-SP), Victor Hugo Mori, essa descoberta é mais um indício da importância de São Vicente no contexto da história de desenvolvimento do Brasil. “Toda a história está no subsolo, portanto só a arqueologia pode fazer aflorar esse passado e ampliar os relatos já existentes”.
www.saovicente.sp.gov.br


Foto: Memorial Vicentino, 2017.







LENDA E DEVOÇÃO

A MENINA FILOMENA

MIRTES DOS SANTOS SILVA FREITAS

Há anos li, em um livro publicado por uma amiga, sobre um fato ocorrido na época em que ela cursava a segunda série ginasial no Ginásio " Martim Afonso", no ano de 1949. Ela contou que algumas alunas , que cursavam a primeira série, tiveram uma aula vaga. Como teriam prova na aula seguinte, resolveram sair da Escola e ir estudar na praia, perto dali. Chegando lá, sentaram- se em algum lugar. Tiraram os sapatos e as meias, ficando à vontade. Entre risos e brincadeiras infantis, abriram os livros e os cadernos, dispostas a revisar a matéria. Uma das meninas, porém, resolveu entrar no mar para molhar os pés, perto do Marco Padrão. É sabido que ali há muitas pedras, que formam o Ilhéu da Pedra do Mato, onde se encontra o monumento.
Embora pareça raso, quando a maré está baixa, é um lugar perigoso, pois as ondas escavam a ilhota, formando buracos. Filomena, a menina em questão, ingenuamente, dirigiu- se para aquele local. Num instante, desapareceu. As colegas ficaram desesperadas! Algumas estacaram, sem ação. Outras gritaram por socorro! Logo, apareceram pessoas, querendo saber o que tinha ocorrido, tentando ajudar. Os bombeiros foram chamados e iniciaram as buscas. Logo, a notícia foi espalhada e todos, na Escola, tomaram conhecimento. Consternação geral!
Três dias depois, o corpo de Filomena foi encontrado. Minha amiga não participou do velório, nem do enterro.
Na época, os velórios eram, geralmente, feitos em casa e o caixão, branco para os anjinhos e crianças, era levado pelas ruas, até o cemitério. As pessoas , que faziam parte do cortejo fúnebre, costumavam levar buquês de flores, colhidas nos próprios quintais. É provável que tenha acontecido assim.
Isso ocorreu há muitos anos! Poderia ter sido apagado na lembrança de todos. A vida, ou a morte, no caso, tem seus mistérios. O local, onde a menina foi enterrada, passou a ser um ponto de visitação, até pelos que não a conheceram. Como era estudante, jovens passaram a fazer pedidos para ela, a fim de serem aprovados. Como pagamento da promessa, iam ao seu túmulo, para jogar os cadernos utilizados durante o ano. Não sei se isso ainda acontece, mas sei que há plaquinhas de " Agradecimento à Menina Filomena pela graça alcançada". Eu, que não a conheci, tenho o costume de visitar sua campa, no Cemitério Municipal de São Vicente*. Acho que muitos fazem isso, pois os funcionários sabem, prontamente, indicar o local.
A história da menina continua comovendo os corações.
28/4/2021

OS LIVROS E OS CADERNOS DA MENINA FILOMENA

DALMO DUQUE DOS SANTOS
                          
A Escola Estadual Martim Afonso, na primeira quadra da rua José Bonifácio, talvez seja a única na cidade a não ter uma quadra de jogos e espaço para a prática de esportes. Desde à sua instalação próximo à orla até os dias atuais, em alguns períodos, os alunos atravessam o ano letivo e seus ciclos escolares inteiros sem aulas práticas de educação física. A escola foi construída alí no final anos 1950 perto da praia e num bairro onde o metro quadrado sempre foi muito valioso. No início, essas aulas comuns aconteciam em prédios improvisados; e as de atletismo eram feitas no calçadão da orla e na areia praia. Era um tempo em que a cidade era mais tranquila e os alunos podiam ir e vir sem causar preocupações aos pais e educadores.
Mas as coisas nem sempre foram assim.
Reza a lenda que, certa feita, um grupo de meninas do Martim Afonso saiu da escola - que na época funciona na mesma rua, porém na instalação de antiga pensão - e foram em direção à praia para realizar alguns estudos e colocar assuntos específicos em dia. Estavam de aula vaga. Não satisfeitas com os bancos do calçadão, tiraram os sapatos e entraram na areia, sentando-se num alegre círculo, colocando os cadernos e livros no chão para ganhar tempo até quando chegasse a hora de irem para suas casas. Eram minutos preciosos de liberdade e diversão. Uma delas, em incontido e inexplicável impulso, sem que nenhuma delas discordasse e impedisse, resolveu por si refrescar os pés no vai e vem das ondas. Sob a curiosidade e até inveja de algumas, ela foi entrando lentamente no mar até que as águas cobriram seu corpo, restando somente a cabeça e os braços estendidos dos ombros em movimento de equilíbrio, dando a impressão de que flutuava. E assim permaneceu por alguns minutos até que as amigas se distraíram e não perceberam que ela havia desaparecido complemente de suas vistas. Todas em pé, algumas se aproximam da água, olham para todos os lados e busca da colega e nada avistaram. Nos rostos, a angústia e algumas lágrimas desespero, já querendo respostas para o que acabara de acontecer.
Como explicar aquele súbito desaparecimento? O que diriam aos pais dela, aos professores e às suas famílias?
Voltaram apressadas para a escola e alertaram a direção. Nesse ínterim, no calçadão e na areia, já havia alguns curiosos querendo se inteirar da novidade. A notícia se espalhou rapidamente e chegou à delegacia de polícia, que ordenou rapidamente as buscas. Diferente dos turistas que se afogavam por distração ou suicídio, a menina parece ter sido tragada rapidamente por uma força estranha, sem nenhuma resistência da parte dela. Sumiu no mar.
Como acontece com a maioria dos afogados, o corpo da jovem estudante, sugado pelas águas e por impulso da maré, seria encontrado dias depois boiando próximo da Pênsil na direção do Mar Pequeno. Uma tragédia diferente daquela que atingem turistas desconhecidos. A moça não era desconhecida e sim uma menina de 14 ou 15 anos, agora mais do que nunca, muito conhecida na cidade. Uma grande comoção popular tomou conta dos vicentinos no velório e sepultamento.
Mas naquele dia fatídico e inesquecível, quando todos se retiravam do local onde ocorrera o sinistro, alguém olhou para trás e avistou alguns pertences na areia. Foi até o lugar e, no chão, onde haviam se sentado em círculo, e viu que lá ainda estavam os cadernos, os livros, o par de sapatos e as meias da colega desaparecida para sempre. O par de sapatos e as meias foram devolvidos para a família. Os livros e os cadernos foram conservados em segredo entre as colegas, que guardaram como lembrança e depois uma preciosa relíquia usada em suas orações para matar saudades da amiga e também auxílio místico em outros momentos de angústia e incerteza. Que segredos poderiam conter nas anotações dos cadernos ou notas esparsas dentro dos livros? Que força estranha e secreta teria impulsionado seu mergulho para a morte? Teria sido uma simples fatalidade, causada por um mal estar súbito, um choque de temperatura e congestão? Ou então uma queda acidental numa cava formada pela maré? Escondia ela algum segredo íntimo que se transformou em tormento e que jamais poderia ser revelado? São dúvidas que só ela ou alguém muito próximo poderiam esclarecer.
Foi assim que, aos poucos, o hábito de cultuar esses objetos entre as amigas mais íntimas da jovem estudante afogada espalhou-se como devoção popular entre mulheres religiosas, que passaram a levar livros e cadernos dos seus filhos colocando-os sobre o túmulo da Menina Filomena. Era assim que ela se chamava, talvez, em homenagem à menina martirizada aos 13 anos em Roma e que depois se tornou santa. O túmulo da menina Filomena, sem que a família pudesse ter algum tipo de controle, durante muitos anos ficava repleto de livros e cadernos no dia de Finados; e também recebia a visita em dias comuns, quando as causas e pedidos de ajuda não podem esperar o distante dia dos mortos no final do ano. Também pode ter sido por isso que, de tempos em tempos, as aulas práticas de educação física no Martim Afonso são suspensas sem maiores explicações.

NOTA de Nelson Jose Gonçalves:

"Conheci Filomena, nos chamávamos de Filó, menina magra de cabelos compridos até a cintura e sua irmã de olhos verdes muito bonita, moravam na rua Marcílio Dias do Nascimento, no Catiapoã, terceira casa descendo do lado da vila sorocabana perto da praça Walter do Amaral, seu pai sr. Tibúrcio, foi candidato a vereador mas não ganhou. Me lembro de uma passagem eu estava brigando em frente a sua casa com meu amigo Miguelzinho camisa preta por causa de bolinha de gude e ele sr. Tibúrcio saiu no portão: "Ei meninos o que vocês estão fazendo aí", entrou na briga para separar-nos e mandou todo mundo para casa. Isto aí que aconteceu com a Filó me entristeceu muito quando soube que ela tinha
morrido afogada. Eu tinha na época 14 para 15 anos, ela também quase a mesma idade; foi enterrada com seu vestido de primeira comunhão. Me lembro como se fosse hoje. Isto ocorreu mais ou menos em 1958, não em 1949. Foi um choque para todos nós. Moro em São Paulo e todas as vezes que desço à Baixada para ver meus parentes e visitar o túmulo de meus pais, visito a quadra nr. 08 do cemitério de São Vicente onde está enterrada Filó, companheira de infância. Seu túmulo está cheio de placas grudadas de (milagres) graças alcançadas".
Comentário feito no grupo Amigos do Martim Afonso - Facebook.




MAIS RECENTE

A CIVILIZAÇÃO DOS PORTOS

   Banner.  São Vicente e Santos em 1615, em gravura do roteiro do Almirante Joris Van Spilberg idealizada pelo ilustrador Jan Janes. Fonte:...