21/09/2008

RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE

O CASO DA MÉDIUM FRANCISCA CESÁRIO (ÂNGELA, A SANTA)



Na segunda metade do século passado, sucedendo a fase histórica dos médiuns de efeitos físicos, surgiram em vários lugares do mundo e também no Brasil as chamadas cirurgias mediúnicas feitas por guias espirituais por meio médiuns. No Brasil o mais conhecido foi Zé Arigó, de Congonhas do Campo-MG. Mesmo sofrendo denúncias e prisão, o famoso médium mineiro continuou realizando cirurgias atribuídas por ele ao Espírito Dr. Fritz , médico alemão morto na I Guerra Mundial. Fritz também se manifestaria anos mais tarde por outros médiuns. O caso de São Vicente não fugiu desse padrão de manifestações e envolvimento popular. “Ângela, a Santa” era provavelmente o Espírito Guia da médium Francisca Cezário. Para a Doutrina Espírita, os médiuns não são necessariamente seguidores do espiritismo e da sua filosofia moral. A habilidade mediúnica é natural e pode se manifestar em todos os lugares, incluindo fora dos ambientes religiosos. Os médiuns espíritas são orientados por meio de órgãos federativos a evitar práticas curativas que colidam com o exercício legal da medicina. A maioria dos estabelecimentos  espíritas oferece meios curativos de magnetismo, alertando aos público que tal prática não dispensa o tratamento médico. Ao contrário das práticas tradicionais espíritas e outros segmentos espiritualistas, muitos médiuns assumem riscos pessoais alegando que se trata de uma ação de compromissos individuais e independente das instituições socialmente estabelecidas. 

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BASÍLICA VICENTINA

PROJETO TURÍSTICO-RELIGIOSO QUE NÃO SAIU DO PAPEL 


LUIS RENATO THADEU LIMA




Rosto do folheto autorizado e distribuído pela Diocese de Santos


Na década de 1960 a cidade de São Vicente tinha três paróquias: São Vicente Mártir (Centro), mais que bi-centenária, Nossa Senhora das Graças (Vila Valença), ampla e em estilo moderno, e Nossa Senhora Aparecida (Vila Fátima) criada oficialmente em 1968 com o trabalho do padre Júlio López Llarena.

Em época de temporada a Matriz não comportava o numero de fiéis e muitos participavam da missa numa sala ao lado da nave (atual secretaria) apenas ouvindo o som.

Monsenhor Geraldo Borowski (1918-1988), pároco de 1961 a 1988 propôs a construção de uma Igreja ampla e moderna, cujo projeto foi feito pelo arquiteto Benedito Calixto de Jesus Neto (1906-1972), autor da Basílica Nacional de Aparecida e outras igrejas em várias cidades brasileiras. e neto do famoso pintor de mesmo nome.

Originalmente o local escolhido pela paróquia foi a Praça Bernardino de Campos, mas a prefeitura insistiu no espaço ao lado da Biquinha, onde era o Luna Park, considerado pouco conveniente pela proximidade com a Praia do Gonzaguinha, embora mais próximo da primeira igreja destruída por um maremoto.

Não sei se por este impasse ou outros motivos a idéia foi posta de lado. Em 1975 já havia sido reformada a casa paroquial e construído o Salão Paroquial, em estilo moderno, e que serviu de Igreja após o incêndio da antiga Matriz em setembro de 2000.

Curiosamente no atual projeto de restauro há uma segunda fase que prevê a demolição deste salão e casa paroquial e sua transferência para um sobrado, de propriedade da paróquia, localizado a Rua Dona Ana Pimentel, e até hoje não executado.

A única referencia que encontrei sobre o projeto da Nova Matriz de São Vicente Mártir está neste antigo folheto, e espero que esta publicação acrescente novos dados a este fato.


Julho de 2023

Fontes: www.diocesedesantos.com.br

Relatos orais de Camillo Thadeu (1897-1987)


Verso do folheto autorizado e distribuido pela Diocese de Santos


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Foto da Matriz em 1944 na qual ainda aparece o Salão Paroquial em sua aparência original. Revista Flama.  Acervo Arquivo e Memória de Santos. 


Os templos mais antigos de São Vicente certamente são as igrejas, capelas e pequenos santuários católicos, em função da cultura portuguesa dominante na colonização. 

Os jesuítas que aqui passaram eram mais voltados às práticas educativas do que ritualísticas e isso pesou na demora da construção de templos, já que a educação religiosa não dependia de templos com sofisticação arquitetônica. Os altares devocionais dessa ordem religiosa , bem como da população primitiva da Vila, eram improvisados à moda doméstica.  

A igreja mais antiga que se tem notícia, como edificação arquitetônica em alvenaria, é do século XVI, a Igreja Nossa Senhora da Praia, que sucedeu a Mariz de Nossa Senhora da Conceição, que foi destruída pela ressaca ou maremoto ocorrido em 1641. Ela foi erigida, segundo alguns historiadores, no mesmo local da atual Matriz, no Largo de Santo Antônio. A construção dessa igreja foi autorizada pela Câmara da Vila em 1545, aproveitando-se os sinos retirados do fundo do mar pelo morador Pedro Colaço. Nessa operação de resgate, pela qual recebeu a quantia de 50 mil réis, estava incluído o serviço de retirada e transporte do pelourinho submersos. Os moradores Jorge Mendes e Jerônimo Fernandes receberam parte dessa quantia pelos serviços de resgate, transporte e instalação dessas peças no local da nova matriz. 

Pintura memorial da Igreja Matriz antes da restauração,  por Camillo Thadeu de 1977.  Acervo de família.   


A Matriz atual, com a configuração arquitetônica tradicional das igrejas do período colonial – muitos parecidas entre si- é do século XVIII, tendo sido inaugurada em 1757. Em Santos, cidade da Ilha de São Vicente que possui o maior número de edificações religiosas, sobretudo católicas, teve sua Igreja Matriz foi inaugurada em 1746.  Nesse mesmo período, a partir de 1770, foi construída a Matriz de Sant’Ana de Itanhaém.  Importante lembrar que os espaços internos e externos da igrejas católicas, considerados sagrados, eram usados para sepultamentos dos devotos, leigos e religiosos. Com o passar dos anos essa prática foi sendo transferida para os cemitérios. Na Catedral de Santos ainda existe no sobsolo uma espaço exclusivo para o sepultamento dos membros do clero.

Essa organização arquitetônica e urbanística, no moldes europeus, foi herdada dos sistema de cúrias e paróquias romanas, com a ocupação territorial dos lugares estratégicos das comunidades. A experiência milenar romana de ocupação de locais já existentes -praças e largos- ou dos bairros nascentes também foi reproduzida no Brasil colonial e mantida ao longo dos séculos até o atual período republicano. Simultaneamente ao processo administrativo municipal, ocorre  de forma paralela a implantação das paróquias, geralmente antecedidas pelas capelas e pequenos santuários devocionais.

Alguns templos da cidade registrados na Poliantéia Vicentina em 1982. Editora Caudex. 


TEMPLOS E EVENTOS CATÓLICOS 


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CAPELA DA SANTA CRUZ




Foi construída no ano de 1890 pela tradicional familia Henrique Ablas, no largo Santa Cruz, depois Largo das Lavadeiras e hoje Praca Bernadino de Campos. 

As festividades da Santa Cruz eram comemoradas no mês de maio, pelo Capelão Francisco Xavier dos Passos "Chico Botafogo". 

Em 1920 a Capela foi demolida pela administração do prefeito João Francisco Bensdorp, que julgou não ter mais utilidade pelo seu estado de abandono.

 A família de Manoel Pedro de Almeida, então residente na rua Padre Manoel, entre as casas de d. Mafalda de Azevedo e Antônio Emmerich, por muitos anos zelou pela capelinha. Antes da sua demolição, d. Cipriana Bastide, coaólica fervorosa, residente na rua do Porto (hoje Marquês de São Vicente), também teve o mesmo desvelo, quando lhe esteve confiada a única chave. 

No altar menor figurava uma cruz grande de madeira, pintada de preto, um crucifixo, castiçais antigos e vasos com flores artificiais. O pequenino sino que servia para chamar os fiéis às ladainhas, que repicava nos dias de festas, desapareceu mais tarde, constando depois ter sido roubado.

Imagem: Evocação da Capela de Santa Cruz. Bico de pena de Edison Telles de Azevedo. Texto publicado em 1º de dezembro 1963 no jornal A Tribuna.

Acervo do pesquisador genealogista Waldiney Lapetina.

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Concepção artística da Vila de São Vicente no século XVI em quadro do pintor e historiador Carlos Fabra. 

A VILA VELHA DE SÃO VICENTE 

PADRE PAULO HORNEAUX DE MOURA FILHO


A história traz-me, hoje, a visão do passado. Empresta-me os olhos do passado para que eu veja as coisas que se foram
Tudo, então, se me parece antigo.
Os índios alvoroçados com as novidades portuguesas... Os poucos negros, com o batuque da terra distante, fazem melancólicos e taciturnos os eventos da vila.
Que padre é aquele que vem lá? Gonçalo Monteiro, Anchieta, Nóbrega, Leonardo Nunes ou Frei Gaspar da Madre de Deus?
E aquele ancião, cercado de indiozinhos? João Ramalho ou outro lusitano, semeador de vida branca por aqui? Sei lá! O que sei é que vejo minha terra natal como deveria ter sido, exalando cheiro antigo na modernidade do ano 2001.
A Vila Velha soube ressuscitar, no desvario dos dias modernos, a placidez dos séculos passados. Quem é aquele menino, filho de português e india, que eu vejo rezando tanto, mais que os outros, prenunciando a glória religiosa de uma cristandade nascitura? Seria André de
Soveral, o meu irmão martirizado, aquele menino rezador?
Séculos se foram. E eu vejo, hoje, como se fosse ontem, os embalos ingênuos de quase cinco séculos vividos.
O milagre da história colocou-me sentado ao lado dos pais da pátria. Eles me falavam da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, do Colégio dos Meninos de Jesus, da água milagrosa da Biquinha dos encantos das praias virgens, da altivez da ilha do Mudo, do ancoradouro das Naus, dos engenhos de açúcar e aguardente, da evangelização religiosa, das lutas com os índios, do embarque dos bandeirantes, das noites de luar e das manhãs ardentes, das tempestades de outono, das festas religiosas, dos quitutes africanos e dos remédios de ervas, que os índios manipulavam... Falavam, principalmente, da pureza de costume.
O sonho contagiou-me. E eu sonhei até o instante em que alguém me lançou no batente: "Padre, está na hora de o senhor celebrar a missa do Padroeiro. O Sr. Bispo já chegou".
Adeus, Vila Velha! Adeus, São Vicente antiga! Adeus meus ancestrais! Passado, presente e futuro, tudo é uma coisa só, para quem ama!
"E eu te amo, São Vicente."
Pe. Paulo H. de Moura São Vicente, na Vila Velha, ano 2001


IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS



IGREJA PRIMITIVA DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS. Desmembrada da Paróquia de São Vicente por Decreto de 12 de dezembro de 1952 de Dom Idílio José Soares. Foi seu primeiro Vigário o Pe. João Beil.

O padre João Beil liderou a formação da comunidade católica e a construção da Igreja N.S. das Graças, hoje nome da estação do VLT. A matéria histórica foi publicada em A Tribuna, em 1975. As quermesses promocionais tornaram-se durante muitos anos um procurado ponto de diversão durante os festejos juninos na cidade. Pesquisa: Waldiney La Petina.

Neide Castro: Me lembro dele, sotaque alemão forte, grande, enérgico. Antes da igreja nova existia uma pequena em madeira. Eu frequentava a missa para as crianças às nove nos domingos Um senhor servia de auxiliar, creio que o nome era David.

Márcio Papa: Da igreja não lembro , mas lembro do padre João que foi responsável pela pavimentação de uma rua próxima a igreja



PADRE FELICIANO, RECORDE DE BATISMOS



Padre Feliciano Arrastia Martinez: este é o homem que mais batizou na cidade! Nascido na Espanha e vivendo no Brasil desde 1961, o Padre faz parte da comunidade vicentina há muito tempo. 
Fundador da Paróquia São Pedro “O Pescador” (Itararé) agora está a mais de 20 anos à frente da Igreja Senhora das Graças (Vila Valença). Todo esse tempo pertencendo à comunidade vicentina e tantos anos de Paróquia lhe trouxeram em uma semana o batizado de 100 pessoas. “Foi na semana de Natal. Eu particularmente não ligo para os números, mas não tem como negar, sou o padre que mais batizou em São Vicente”. O Padre Feliciano já realizou mais de 2 mil batismos e se sente contente de fazer parte da vida das pessoas.  SEICOM PMSV






CAPELA DE SANTA MATHILDE EM PRAIA GRANDE






Capítulo importante da história cultural de Praia Grande, na época ainda um bairro vicentino. A Capela Santa Mathilde, situada no loteamento Jardim Matilde, foi inaugurada em 27 de agosto de 1950 com missa campal celebrada pelo Bispo de Santos, Dom Idílio José Soares. Segundo Suely Toschi, neta do pioneiro praia-grandense, a capela foi idealizada por seu avô Heitor Sanchez em homenagem a sra. sua bisavó Mathilde e devota dessa Santa caridosa. Em ato solene realizado em meados de 1980 a capela foi doada à Cúria Metropolitana de Santos. Suely lembra também que todos os descendentes de Heitor Sanchez foram batizados na capela, netos, bisnetos e tataranetos, bem como casamentos de neta e bisneta.

Publicação:  Claudio Sterque com informações de Suely Toschi, membros fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande e colaboradores do Museu da Cidade.


REINAUGURAÇÃO DA CAPELA DE  NOSSA SENHORA DA GUIA

SÍTIO XIXOVÁ, 24 DE AGOSTO DE 1963.



Capela de Nossa Senhora da Guia no Sítio Xixová. Foi restaurada em 1963 por José Pereira Soares, imigrante português e bananicultor. Acervo: Museu da Cidade. Havia na orla do Boqueirão a Capela de Santo Antônio, construída por Francisco Sá, proprietário do local e que residia em São Vicente. Foi incendiada e no local foi erigida a atual Igreja de Santo Antônio. Acervo: Museu da Cidade-PG






 
Fotos-drone de Emílio Cid-Viver em SV e Região.




CAPELA DE SANTO ANTÔNIO- VILA ZUFO 



RUA JOSÉ ANTONIO ZUFO. Conheça as ruas de sua Cidade. Narciso Vital de Carvalho, 1978. Acervo: Casa Martim Afonso.

Nota. Vila de casas projetadas por Camillo Thadeu e construídas por Zufo na década de 1930, tendo ao fundo a Capela de Santo Antônio. O local é espaço tradicional dos festejos juninos;

OCUPAÇÃO CATÓLICA NO MORRO DO ITARARÉ 




Procissão católica da Paróquia do Boa Via Vista ( São Pedro Pescador) na comunidade nascente no Morro do Itararé. 


SÃO VICENTE INVISÍVEL E DESCONHECIDA. Registro de março de 2018 do fotógrafo Ailton Martins na comunidade do Morro Vaturuá-Itararé realizando uma Via Sacra de Ocupação do Morro com o Padre Albino Schwengber, Pároco da Igreja São Pedro Pescador de São Vicente.



Igreja São Pedro Pescador , avenida Manoel da Nóbrega esquina com a rua 11 de Junho. Foto: Viver em São Vicente. 

Foto de Dalmo Duque, São Vicente na Memória.  2016.


São Vicente na Memória.  2016.

São Vicente na Memória.  2016.

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VISITA PASTORAL. Entre setembro e outubro de 1909 , D. Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, esteve em São Vicente, Praia Grande e seguiu para Itanhaém, para concluir suas visitas às paróquias do litoral sul. A visitação do acerbispo foi patrocinada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento local, com o prestígio do prefeito, vereadores, professoras e alunos e grande cortejo popular entre o Porto Tumiaru, Porto do Rei e o Piassabussu. Nesse trajeto marítimo do Mar Pequeno, o clérigo paulistano foi acompanhado até o continente por três jovens atletas remadores do C.R. Tumiaru. Em Praia Grande, D. Duarte lanchou e repousou na vivenda do prefeito Antão de Moura e também visitou a Capela de Santo Antônio , no Boqueirão.
Fonte: A Tribuna, 01-10-1909

CORPUS CHRISTI


Preparativos para a procissão de Corpus Christi. 25 de maio de 1970. Jornal Cidade de Santos,


MEMÓRIA DA RELIGIOSIDADE NOS ANOS 60 E 70
 

DALMO DUQUE E SAGRADO LIBERTO





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TERREIROS DE CANDOMBLÉ E TENDAS DE UMBANDA




Iemanjá na réplica da Vila de São Vicente. Foto de Ailton Martins.

As religiões de matriz africana estão presentes em todas cidades da região. É só verificar no google maps, que pontua a localização dos terreiros de candomblé e de umbanda, cuja nomenclatura revela suas origens culturais. O mesmo acontece com as pequenas igrejas evangélicas. Quanto mais periféricos os bairros e ruas, maior a quantidade desses núcleos. 

Perseguidos historicamente pela intolerância do período colonial  e pontualmente pelo código civil da república velha,  os grupos matriz pelos senhos africana foram criando inúmeras formas de práticas devocionais, geralmente informais e alternativas aos ritos tradicionais. A forma mais comum era o sincretismo, que permitia aos escravizados frequentar as igrejas e desfrutar das cerimônias de batismo, missas e datas comemorativas. Mas haviam as prática exclusivas e secretas, realizadas em espaços domésticos externos naturais como florestas e cachoeiras. 

Tudo isso era possível por causa da tolerância vigiada e também por causa da atração que as famílias aristocráticas tinham pelos rituais e curas, por necessidade humana. Na repúblicas, em funções de perseguições policiais,  muitos grupos passaram a utilizar a denominação "espírita" (de origem europeia) como forma de proteção social; assim faziam há séculos, como dissemos,  com as práticas do catolicismo, em formato de sincretismo religioso. 

Embora não tenham templos fixos e de arquitetura imponente, como as religiões tradicionais da classes mais abastadas e estáveis, os núcleos de umbanda e candomblé atuam e se expandem informalmente com amplo lastro social e formam um importante patrimônio da nossa cultura imaterial. Seus templos funcionam nos quintais das casas simples, nas praias e nas florestas próximas, com celebrações fortemente ligadas à Mãe Natureza. 

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O jornal Cidade de Santos noticiava em 13 de maio de 1970 as festividades do Dia do Preto Velho na Baixada Santista. 

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OS TEMPLOS  PROTESTANTES



FOTO 1. Cerimônia de Ação de Graças nas obras da Igreja Batista em 1955 na Avenida Presidente Wilson, esquina com a rua Tibiriçá. A Igreja seria inaugurada no ano seguinte. Ao fundo as árvores do Clube Hípico e o prédio de esquina da rua Amando Sales de Oliveira com a avenida Mal. Deodoro, na Vila Melo. Fonte: site da PIBSV.

FOTO 2. Preleção de Tecê Bagby na Primeira Igreja Batista da Vila Mariana, em São Paulo.


Retrato do missionário batista T.C. Bagby. 

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PROTESTANTISMO, IMIGRAÇÃO E AÇÃO SOCIAL:
 A HISTÓRIA DO PRESBITERIANISMO VICENTINO

José Antônio Lucas Guimarães[1]

Primeiro templo na Av. Capitão-mor Aguiar, ainda sem o letreiro “Templo presbiteriano” na faixada, 1961.


INTRODUÇÃO

A presente exposição é resultado de pesquisa realizada, em 2009, para comemoração dos 50 anos de organização da Igreja Presbiteriana de São Vicente (IPSV).[2] Quando em análise da Ata de organização, foi possível perceber um número significativo de membros oriundos do Nordeste do Brasil. No desenrolar da pesquisa, através de documentos e entrevistas e, principalmente depois de concluído o pretendido histórico, começamos a desenvolver uma suspeita. Nela afirmamos que o presbiterianismo vicentino, implantado na cidade em meados do século XX, serviu de mecanismo de inserção dos nordestinos, de referencial de integração e de afirmação de identidade àqueles que se viram esvaziados de sua condição anterior devido ao processo de migração, bem como forneceu o ambiente propício à sua mobilidade social. Restava apenas elaborar um estudo que fundamentasse o que insistia em figurar como tese. Tendo esse caminho a seguir, pretende-se o que almejava Max Weber (1994), ao afirmar sua intenção de empreender a compreensão do fato religioso:

...não é da essência da religião que nos ocuparemos, e sim das condições e efeitos de determinado tipo de ação comunitária cuja compreensão também aqui só pode ser alcançada a partir das vivências, representações e fins subjetivos dos indivíduos – a partir do sentido – , uma vez que o decurso externo é extremamente multiforme.

Toma-se como fontes históricas a Ata de organização da IPSV, bem como as entrevistas realizadas com seus membros, que abordaremos apenas como constatação. No que se pretende, essa documentação é suficiente para, a partir das condições sociais e históricas, encontrarmos a demonstração do ethos do presbiterianismo vicentino. E. P. Thompson (1981) observa que:

Um historiador [...] deveria ter plena consciência disto. O texto morto e inerte de sua evidência não é de modo algum “inaudível”; tem uma clamorosa vitalidade própria; vozes clamam do passado, afirmando seus significados próprios, aparentemente revelando seu próprio conhecimento de si mesmas como conhecimento.
Essa observação sugere que é necessário fazer com que o passado se torne conhecido e parte da construção da realidade, como que se comunicando com o presente. Em busca de alcançar essa tarefa, procuraremos esclarecer dois pontos. A história da IPSV tem pertinência para figurar como parte da formação historiográfica moderna da cidade de São Vicente? É possível estabelecer como fato histórico que a igreja serviu de mecanismo de inserção de imigrantes e que a migração nordestina contribuiu para a expansão do protestantismo presbiteriano?
A pesquisa, ao tomar esse rumo, mostra-se plenamente pertinente ao estudo da relação entre imigração e religião protestante e da própria construção da história moderna de São Vicente, senão também do Brasil.

1. O PRESBITERIANISMO VICENTINO E SEU PIONEIRISMO HISTÓRICO

O presbiterianismo tem suas origens históricas no trabalho do reformador protestante João Calvino, em Genebra. Contudo, popularizou-se como movimento com essa denominação pelo trabalho de John Knox (1514-1572), na Escócia. Inspirado num governo eclesiástico, formado por um Conselho, que João Calvino vivenciou em seu pastorado em Genebra, as comunidades presbiterianas são lideradas por um corpo de presbíteros, daí o nome “Presbiterianismo”. Os presbíteros são escolhidos democraticamente pelos membros da comunidade religiosa para a representar – sistema representativo de governo. O presbiterianismo tem como símbolos doutrinários a Confissão de Fé de Westminster e seus Catecismos (Breve e Maior), cuja origem remonta ao documento originário de acordo doutrinário ocorrido na Abadia de Westminster (1643-1646), na Inglaterra. Com as perseguições religiosas na Europa, grupos de presbiterianos emigraram para a Nova Inglaterra, o que seria hoje os Estados Unidos. É da Igreja Presbiteriana americana que vem para o Brasil, em 12 de agosto de 1859, o missionário americano, rev. Ashbel Green Simonton. Essa data é considerada como marco da implantação do presbiterianismo no Brasil.

O presbiterianismo vicentino é fruto indireto do trabalho missionário do evangelista leigo Willis Roberto Banks.[3] Ele foi o responsável pela presença do presbiterianismo no Vale do Ribeira e no Litoral Sul Paulista. Em 1924, mudaram-se para a cidade de Santos presbiterianos vindos do Litoral Sul, os quais se organizaram em uma pequena congregação. Em 1934, essa congregação foi organizada em igreja, hoje 1ª Igreja Presbiteriana de Santos.[4] A IPSV é resultado direto do trabalho missionário dessa igreja.
O início dos trabalhos religiosos de implantação do presbiterianismo em São Vicente ocorreu num local bem diferente de onde se encontra atualmente.[5] Foi próximo à praia, em frente à Ilha Porchat, na residência de D. Leonor Villares, propriamente, na av. Manoel da Nóbrega, número 20.[6] O boletim informativo de nº 01 da Igreja Presbiteriana de Santos, datado de setembro de 1949, já apresentava esse trabalho com atividade religiosa regular. No boletim informativo de número 104, datado de 17 de março de 1953, da referida igreja, já consta o trabalho em São Vicente como congregação. Esse primevo trabalho foi realizado sob o pastorado do rev. Boanerges Ribeiro, então pastor da Igreja Presbiteriana de Santos. Nessa ocasião, as atividades religiosas constavam de Escola Bíblica Dominical e culto aos domingos à tarde (16 horas), funcionando também um departamento da Sociedade Feminina de Santos.
“Projetando o futuro, concluiu-se que o local não era o mais apropriado para o funcionamento de uma futura igreja”, era conclusiva a análise, que consta em Ata, sobre a condição da igreja em termos de espaço físico e da capacidade de frequência às atividades religiosas públicas, bem como de aspectos geográficos. Assim, no dia 7 de junho de 1953, as atividades da congregação foram transferidas para o Bairro Catiapoã, instalando-se à rua Piquerobi, na residência do senhor Francisco Muniz. A essa altura, passaram a congregar as famílias dos senhores Francisco Muniz, Sátiro Xavier, Amantino Xavier, Benedito Bueno e João de Abreu. Houve uma fase de animação, mas o trabalho não se expandia devido à falta de espaço. Novamente, viam-se com o mesmo problema que a pouco mesmo de um ano os fizeram mudar de endereço. Em 1954, já sob o pastorado do rev. Pérsio Gomes de Deus, designado desde julho de 1953, foi comprado terreno sob o número 426, da rua Piquerobi. Em 18 de setembro de 1955, foi inaugurado o modesto templo de madeira, que serviria às famílias presbiterianas vicentinas como espaço para adorarem a Deus em “espírito e em verdade, com ordem e decência, amor e temor”, como é relatado em Ata.
Os seguintes nomes estão ligados à história do presbiterianismo em São Vicente, em sua implantação: rev. Boanerges Ribeiro, primeiro pastor, e rev. Alfredo Stein, segundo pastor. Ainda, também, os leigos Sátiro Xavier, Amantino Xavier, João de Abreu e Carlos Heilliz, bem como Francisco Damião de Lima e Joaquim Camargo Júnior, presbíteros de Santos. Dentre as senhoras, destacou-se, com o trabalho com as crianças, a senhora Ruth Xavier.


Comissão organizadora da igreja, 1959.

No dia 22 de fevereiro de 1959, a IPSV foi organizada através da Comissão nomeada pelo Presbitério Paulistano (PLIS) do Sínodo Meridional da Igreja Presbiteriana do Brasil. A Comissão foi composta pelos presbíteros docentes: rev. Pércio Gomes de Deus (relator), rev. Boanerges Ribeiro e rev. Rubens Pires do Amaral Osório (eleito secretário); e pelos presbíteros regentes: Dr. Marcílio Ribeiro Josias Navarro e Luiz Pieire.[7] A reunião de organização teve início às nove horas e cinquenta minutos. A Comissão resolveu que o corpo de oficiais seria formado por quatro presbíteros e quatro diáconos, sendo eleitos os seguintes nomes:
- Presbíteros: Joaquim Camargo Júnior, Francisco Damião de Lima, José Rodrigues e Ezequias Pereira Alves, sendo os três primeiros presbíteros em disponibilidade.

- Diáconos: João de Abreu, Benedito Bueno, Adarcir Seidl e Benedito Guerra dos Passos.
A ordenação e instalação dos oficiais foram realizadas às quinze horas e dez minutos, em evento posterior à organização da Igreja, mas no mesmo dia 22 de fevereiro de 1959. A Igreja contava na organização com 60 membros comungantes e 64 não-comungantes (crianças).[8] Ela possuía uma Escola Dominical com 106 alunos matriculados, a Sociedade de mulheres (com dois departamentos e 31 sócias), a Sociedade de jovens (com quatro departamentos e 25 sócios) e a Sociedade de homens em funcionamento. Seu estatuto foi aprovado em reunião do Conselho em 21 de maio de 1959 e encaminhado à Assembleia Geral realizada em 02 de julho de 1959. Ele foi registrado em Diário Oficial do Estado de São Paulo em 21 de outubro de 1959 e em Ata de nº 13, em data de 09 de abril de 1960. Quando a Congregação foi elevada à condição de Igreja, provocou a produção de um empolgado editorial do jornal “A UMP em Marcha”, órgão oficial da Mocidade na época. “Podemos dizer com os olhos rasos d’aguas (sic) que o ‘Primeiro sonho de 1959 está realizado: São Vicente é igreja’”, dizia o editorial.
Sobre a compra do terreno, que se tornaria a futura sede da IPSV, foi apresentada proposta na reunião do Conselho, datada de 20 de agosto de 1959, que, decidido pela compra, encaminhou à Assembleia Geral, ocorrida em 13 de setembro de 1959, sob a presidência do rev. Rubens Pires do Amaral Ozório.[9] A pedra fundamental do novo templo foi lançada em culto festivo, em 31 de março de 1961, com a presença do rev. Pérsio Gomes de Deus, convidado para este fim. A mudança ao novo templo, na atual avenida Capitão-mor Aguiar nº 612, ocorreu em 20 de agosto de 1961, seguindo a seguinte programação: Abertura da Escola Dominical e Culto de despedida (10h); Culto de Ação de Graças no novo templo (15h30), tendo como pregador o rev. José Borges; e Culto público (20h), tendo como pregador o rev. Natanael de Almeida. Na fachada do templo foi escrito: “Templo Presbiteriano”.

Com objetivo de angariar recursos financeiros para o término da construção do templo, foi organizada uma campanha para que cada membro comprasse sua cadeira. Os coralistas foram os primeiros a se engajarem, ressalta um membro da Igreja com muito entusiasmo. As tábuas da construção foram usadas como bancos improvisados até a compra dos bancos definitivos. “Não era pobreza, era a riqueza do Reino de Deus que da simplicidade tornava nossa Igreja um farol de amor e vida em Cristo na primeira cidade do Brasil”, expressa um membro relembrando a época. Diante de uma decisão do Conselho, relacionada aos gastos financeiros, o secretário do Conselho, Joaquim Camargo Júnior, deixou aflorar seus sentimentos, fato raro nas Atas pesquisadas, quanto à situação econômica do momento: “O Conselho estudou a situação da Igreja, as dificuldades com ela, lutas, os poucos membros que são dizimistas, as dívidas com que começou este ano [1962], o que temos de fazer este ano com respeito as despesas da construção e o grande orçamento que temos pela frente. Enfim, somos pequenos demais para tão grande obra mesmo na parte material.” Mesmo assim, o Conselho aprovava as verbas necessárias ao funcionamento das atividades religiosas regulares e da construção do novo templo. Segundo relato dos membros mais antigos, esse foi o melhor período da Igreja, pois “havia muito interesse, união e firmeza de propósitos.”
“De um nada se fizeram grandes coisas”, lembrava com saudades o presbítero Francisco Damião de Lima. Após 18 anos dedicadas ao serviço religioso, foi necessária a construção de novas instalações para comportar a igreja que crescia e se comprometia com sua tarefa de evangelização e ação social na cidade. A programação de inauguração deu-se do dia 25 a 31 de dezembro de 1979. No dia 25, realizou-se o culto inaugural, juntamente com as festividades do Natal. No dia 29, pregou o rev. Boanerges Ribeiro, vice-presidente do Supremo Concílio da IPB. E, finalmente, no dia 30, o presbítero Paulo Breda Filho, MD, presidente do Supremo Concílio.[10] Consta da foto comemorativa da despedida das antigas instalações por ocasião da reinauguração do templo, quando houve os últimos acréscimos e demolição dessas antigas instalações, em 1995, as palavras de Jesus, registradas em Mateus 11.28: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu aliviarei.” Essa passagem bíblica era o lema da Igreja. Ela estava escrita na parte interna do templo, acima do púlpito. O templo reinaugurado é o que atualmente atende à comunidade presbiteriana vicentina.[11]

Organizada a Igreja, prosseguiu no pastorado o rev. Pérsio. Em agosto, do mesmo ano, o Presbitério o transferiu para outro campo, designando o rev. Rubens Pires do Amaral Ozório.[12] Ele pastoreou a IPSV até a chegada do rev. Atanael Fernandes Costa, no início do ano de 1960. A este sucedeu o rev. Boanerges Ribeiro. Foi ele quem presidiu a primeira eleição pastoral da Igreja, em outubro de 1960. Nela foi eleito o rev. Jonas Rufino Silva para o período de 1961 a 1963. Ele permaneceu, após esse período por designação, até janeiro de 1965, quando o Supremo Concílio o designou Lente do Instituto Cristão de Castro e Diretor do seu internato, no Paraná. Até março do ano seguinte, a Igreja ficou sob o pastoreio do rev. João Silva, auxiliado pelo rev. Humberto Xavier Lenz César. Foi o rev. João Silva que presidiu a Assembleia Geral que, em novembro, elegeu o rev. Elcias Alves de Mello, para o qual passou o pastorado da Igreja, no início de março de 1963.
O rev. Elcias pastoreou a IPSV por 33 anos e permaneceu em seu pastoreio até sua morte, em setembro de 1999. Em 1968, ele reestruturou o, então, Serviço Social Evangélico e o organizou como ente jurídico, tornando-o extremamente relevante em São Vicente. Durante décadas, manteve o “Lar da Criança Feliz”, chegando a atender quase mil crianças e suas famílias semanalmente. O rev. Elcias se tornou fundador e presidiu a AMENCAR (Associação de Amparo ao Menor Carente), com sede em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Foi vereador por duas legislaturas (1989 a 1996), sendo seu trabalho em prol dos desfavorecidos reconhecido pela cidade com a outorga do título de “Cidadão Vicentino” pela Câmara Municipal, em 1984. Também recebeu dessa casa a distinção honorífica com o título de “Amigo das Crianças”. Consta no requerimento do vereador Anguair Gomes dos Santos, datado de 13 de maio de 1993, depois de apresentar o histórico do Rev. Elcias em mais de três páginas, o seguinte enunciado:
Requeiro, ouvido o Plenário, sejam apresentadas as congratulações desta casa ao Reverendo Elcias Alves de Mello, pelo imprescindível e brilhante trabalho desenvolvido em defesa de melhores condições de vida para a população vicentina, especialmente em relação às crianças, ressaltando-se a relevância do seu desempenho nas grandes decisões que norteiam o exercício das atribuições desta Câmara municipal.[13]
Talvez a identificação maior da pessoa do rev. Elcias, que tenha se cristalizado no conceito de seu caráter, foi a frase inserida nos primórdios do estatuto do Lar da Criança Feliz: “um incomensurável amor pelas crianças desvalidas de nossa cidade.” É possível que tenha se tornado seu lema. Todavia, essa declaração estatutária reforça a crença de que esse empreendimento era próprio da ação do presbiterianismo vicentino, que na sua organização possuía mais crianças como membros do que adultos.
Com o falecimento do rev. Elcias Alves de Mello, a Igreja foi pastoreada por três meses pelo Rev. Milton Ribeiro até a eleição do rev. Sérgio Ribeiro Santos, filho dessa Igreja. O pastorado do Rev. Sérgio foi exercido do ano 2000 a 2003. Ao final desse período, pediu transferência para assumir o pastoreio de uma igreja em Cuiabá, Mato Grosso do Sul. O rev. Fábio Ferraz Ciribelli foi eleito em agosto de 2003 e empossado em janeiro de 2004, como pastor efetivo. Após reeleições, o rev. Vulmar Dutra de Rezende foi, no início de 2014, designado em seu lugar, sendo atualmente o pastor efetivo por eleição. Fato notável é que, desde sua organização, a IPSV teve apenas cinco pastores eleitos.[14]
A IPSV tem assumido a vanguarda na região. Duas igrejas da região são filhas de seus esforços: Igreja Presbiteriana de Vicente de Carvalho (Guarujá) e a Igreja Presbiteriana Filadélfia (São Vicente). Em sua galeria, temos a presença de oito pastores, que foram encaminhados ao seminário por ela, dentre eles o atual ministro da Educação de nosso país, o rev. Milton Ribeiro. Um dos seus pastores atuou diretamente na vida política da cidade como vereador, em dois mandatos: o rev. Elcias de Mello. Também a IPSV marcou por mais de 30 anos o jeito de realizar ação social na cidade de São Vicente. Durante décadas, o “Lar da Criança Feliz” foi referencial na região, em termos de organização e assistência às crianças carentes. Através de convênios com entidades internacionais, garantiu treinamento profissionalizante de jovens, educação às crianças e adolescentes, bem como assistência alimentar.

Foto da igreja na organização. 1959.


2. IMIGRAÇÃO E AÇÃO SOCIAL: O PRESBITERIANISMO VICENTINO COMO PARADIGMA DE INSERÇÃO SOCIAL

A Ata de organização da Igreja Presbiteriana de São Vicente, datada de 22 de fevereiro de 1959, revela que em sua organização, dos 60 membros comungantes arrolados, 24 membros (40%) eram oriundos de Estados do Nordeste, principalmente da Bahia. A partir dessa constatação, percebe-se que o presbiterianismo serviu como referencial de integração e oportunizou uma identidade àquele que se viu esvaziado dessa condição, bem como criou o ambiente propício à ascensão social deles.
Em meados do século passado, a migração nordestina com destino a São Paulo superou os valores de imigrantes até então registrado, sendo considerado a maior migração da História do Brasil (VILLA, 2000). Esse período ocorreu no segundo governo do presidente Getúlio Vargas. Entre os anos de 1951 e 1953, o fluxo de imigrantes para São Paulo foi muito intenso. Monia Ferrari (2005) enfatiza:
Assim, na primeira metade da década de 1950, quando a migração foi muito intensa, os estereótipos negativos em relação aos migrantes nordestinos já estavam consolidados, resultando em preconceito, discriminação e generalizações, que podem ser percebidas na rotulação de todos os migrantes vindos da região Nordeste como baianos.
Essa rotulação “baianos” surge porque entre as décadas de 60 e 70 do século XX a maioria dos imigrantes eram de origem baiana. Isso é possível perceber nos membros da IPSV em sua organização. Como citamos, 40% dos membros eram de imigrantes, a maioria de origem baiana.
Não se pode negar que o fator climático não esteja presente nas motivações do imigrante, principalmente ao perceber que no início da década de 50 do século XX foi de intensa seca no Nordeste. Contudo, temos que observar com Eunice Durhan (1973) que:
...a imigração não decorre, em geral, de uma situação anormal de fome ou miséria, desencadeada por calamidades naturais. Ao contrário, a emigração aparece como resposta a condições normais de existência. O trabalhador abandona a zona rural quando percebe que ‘não pode melhorar de vida’, isto é, que a sua miséria é uma condição permanente. Isto não quer dizer que calamidades naturais ou acidentes não sejam fatores que precipitem a emigração... Mas, fundamentalmente, a emigração decorre de uma situação desfavorável que é vista como permanente.
O destino do imigrante, dentro dessa perspectiva, são os lugares onde está ocorrendo a expansão industrial e o crescimento da região, oportunizando emprego e melhoria de vida. É justamente o que ocorre com o Estado de São Paulo. A Baixada Santista, a partir de 1940, tornou-se uma região de grande atração migratória. Comparando o Censo do ano de 1940 com 1950, percebe-se que a população de São Vicente quase dobrou: de 17.294 para 31.684 habitantes. Já em relação ao Censo de 1960, a população mais que dobrou. Nesse Censo, consta que São Vicente tinha 75.997 habitantes.[15] Um dado importante que mostra a influência da imigração nordestina, é o fato desses censos constarem a população masculina superior à feminina. Como a maioria dos imigrantes eram solteiros e sem família, observa-se nas entrevistas com os membros que muitas uniões conjugais ocorreram entre imigrante e natural vicentino.
O fluxo de imigrante para a região na década de 40 do século XX foi devido à construção da atual Via Anchieta na Serra do Mar. Quanto ao fluxo da década de 50, foi motivado pela construção da refinaria, que teve seu início em 1951. Convém considerar que, a partir da década de 50, o Porto de Santos passou por reestruturação, o que acarretou um aumento na necessidade de mão de obra (especializada e não especializada).
É dentro desse contexto que o presbiterianismo se insere em solo vicentino. Ele se organiza na periferia da cidade, onde a presença imigrante é muito forte. Como consta em registro, seu primeiro templo era de madeira, semelhante às construções próprias da periferia e numa área geográfica da cidade com total ausência de benfeitorias sanitárias. É nesse espaço que ocorre o “processo de mudanças da realidade subjetiva” ao extremo. Como diz Peter Berger (1974), “há uma transformação quase total, isto é, no qual o indivíduo ‘muda de mundos’.”[16] Isso como processo de “ressocialização” e não apenas como mudança de endereço (espaço geográfico). Entretanto, é necessário que seja encontrada uma “estrutura de plausibilidade” à pessoa, de forma a estabelecer uma estrutura afetiva significativa. Para Peter Berger, isso é possível a partir da “conversão religiosa.”[17] Ela possibilita que a pessoa localize uma nova identidade. Essa identidade encontra na comunidade seu reconhecimento e sua confirmação. Agora a condição de forasteiro é anulada e a força do preconceito perde sua capacidade de agressão a condição social da pessoa. Por mais que em outros espaços não ocorra a plausibilidade, agora na comunidade a interação social reconstrói as conexões perdidas no processo de imigração.[18] A comunidade não apenas validada uma nova identidade, mas estabelece uma função social. O indivíduo ocupa o espaço e faz dele seu lugar: universo de esperanças, sonhos, lutas e superações. Em entrevista com os antigos membros da IPSV, pode-se perceber que os sentimentos do imigrante em relação à igreja e à liderança assume uma profunda semelhança ao que se sente na dinâmica familiar (igreja como se fosse a mãe e o líder como um pai). Isso porque, segundo Peter Berger, a pessoa passou por processo semelhante à “socialização primária”, de identificação fortemente afetiva como é característico da infância.[19]
Estabelecida a identidade com a plausibilidade do grupo, a pessoa avança em sua socialização com a própria sociedade ao redor. Pelo que se pode perceber dos imigrantes na organização da IPSV, a ascensão social deles ocorreram mais nesse nível. A maioria padecia de analfabetismo, consequência da realidade nordestina da época, o que tornava a ascensão social prejudicada. Deve-se considerar que a partir da igreja sua condição social foi alterada. Em nível local, houve ascensão social. Muitos passam a assumir cargos na igreja e começam a se relacionar com pessoas de outras classes sociais. Ainda não se percebe a ascensão em nível financeiro. Todavia, essa ascensão social a partir da igreja, comportam possibilidades futuras. Vê-se que muitos estabelecem sua ascensão a partir dos filhos ou netos: constrói-se a possibilidade de que os filhos ou netos ascendesse socialmente. Como consequência da socialização da comunidade que proporcionou interações, houve a possibilidade de melhor educação aos filhos e netos ou a possibilidade da fuga de subempregos. Tudo como consequência das interações sociais adquiridas pela ressocialização proporcionada pelo grupo.
É apoiado nessas considerações, que definimos o presbiterianismo vicentino como um agente de transformação social e de afirmação da identidade do imigrante. Ela gerou o ambiente que acolheu, validou e socializou, bem como estabeleceu o mecanismo de contatos e serviços que possibilitou que esse imigrante fosse encaminhado à ascensão social. Como essa ação ocorreu de forma intencional e programática, ela assume uma condição de paradigma de ação social que haveria de, posteriormente, revela-se profundamente significativa no amparo de crianças, a partir da década de 70, com o Lar da Criança Feliz. Assim, historicamente, a presbiterianismo vicentino apresenta-se como uma força de ação social que, desde antes de sua organização, estabeleceu uma dinâmica de inserção do imigrante. Posteriormente, voltou sua ação aos grupos que padeciam de exclusão social, tornando a realidade vicentina palco de lutas em prol da dignidade humana, consciência cidadã e combate à pobreza.
Por outro lado, pode-se afirmar que o imigrante favoreceu a expansão do presbiterianismo vicentino com as características que lhes são próprias (caridade, afetividade, compromisso e trabalho) e desempenhou um papel significativo na própria identidade do presbiterianismo na cidade. Assim, o imigrante não atuou como expectador, mas ocupou um status de sujeito. Sua necessidade de assumir uma nova identidade fez com que o presbiterianismo vicentino se identificasse com as identidades sociais em estado de exclusão social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Censo de 2000, a cidade de São Vicente declarava-se como tendo mais de 20,43% de sua população formada por imigrantes nordestinos.[20] Resgatar a história da imigração através do presbiterianismo nordestino é estabelecer laços culturais e fundamentar a própria identidade vicentina. Como disse o pedagogo Rubem Alves (1982):
O historiador (...) é alguém que recupera memórias perdidas e as distribui, como se fossem um sacramento, por aqueles que perderam a memória. Na verdade, que melhor sacramento comunitário existe que as memórias de um passado comum, marcadas pela experiência da dor, do sacrifício e da esperança? Recolher para distribuir. Ele não é apenas um arqueólogo de memórias. É um plantador de visões e de esperanças.
As Atas da IPSV e as memórias de seus membros fundadores não podem serem esquecidas. Elas revelam a pertinência da ação do presbiterianismo vicentino como acontecimento marcante à história moderna da cidade de São Vicente. Sua relação com a imigração norteia os posteriores olhares sobre essa temática. Sua ação social deve figurar no rol dos empreendimentos em prol dos excluídos da cidade. E não apenas isso. Vê-se um pioneirismo do presbiterianismo vicentino que pode até contribuir para a compreensão da expansão do protestantismo brasileiro.
As vozes do passado não se calam. O problema é sempre da audição do presente. Que cada nordestino e cada pessoa atendida pela ação presbiteriana vicentina, através da inserção social e da assistência social, possam agradecer e se afirmarem como parte da construção da cidade de São Vicente nessa audição de sua história. A história da Igreja Presbiteriana de São Vicente é a história de migração e ação social em solo vicentino.

Cartão postal de despedida para construção do atual templo, 1995,

NOTAS

[1] Pastor presbiteriano e professor da rede estadual de ensino de São Paulo. Licenciado em História e mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP).
[2] Doravante, usamos a sigla IPSV.
[3] Para um relato sobre Willis Banks, SOARES, Caleb. Banks: ainda hoje. Santos: Instituto de Pedagogia Cristã, 1998.
[4] No presbiterianismo, quando um trabalho regular de um grupo de pessoas em determinada localidade é organizado em congregação de uma igreja, significa que existe uma expectativa positiva, considerando diversos fatores sociais, econômicos e religiosos, da possível organização de uma igreja. É de praxe do presbiterianismo que suas igrejas somente são organizadas quando se verifica condições econômicas, religiosas e políticas (existência de pessoas para formar o Conselho, isto é, assumir o cargo de presbítero). Como organização dada ao federalismo, é a instituição que mantém jurisdição sobre a igreja, o Presbitério (órgão que reúne várias igrejas da região), que decide, a partir de análise, pela sua organização e a institui como federada à Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). O presbiterianismo é organizado como instituição religiosa nacional (federação de igrejas locais). Ele não mantém jurisdição com igrejas presbiteriana de outros países, ou seja, não detém poder de intervenção política ou eclesiástica nelas e vice-versa.
[5] Hoje a Igreja Presbiteriana de São Vicente está localizada na Avenida Capitão-mor Aguiar nº 612, Bairro Centro.
[6] Era comum aos presbiterianos sediarem suas residências à promoção de atividades religiosas. A maioria dos casos, os proprietários eram os responsáveis por essas atividades, que constavam com atividades para crianças e envolvimento de vizinhos e de outro protestantes que se envolvia devido a proximidade ou afinidade (outros presbiterianos da região que buscavam apoiar a iniciativa).
[7] No presbiterianismo, todos os membros do Conselho são chamados de presbíteros. Os pastores são os presbíteros docentes (tem função de ensino) e os demais são chamados de presbíteros regentes (representam a igreja como corpo jurídico e espiritual).
[8] No presbiterianismo, membro comungante é a pessoa que foi batizada e fez sua profissão de fé, tendo em vista ter sua maioridade completa ou foi autorizada pelos pais, em caso de não maioridade, por oferecer condições de uma ação de pronta consciência nas decisões pessoais e do grupo (como pessoa com deveres e direitos). O membro não-comungante é a pessoa que foi batizada na infância, mas não fez sua profissão por não deter capacidade de exercer seus direitos e deveres, conforme prescritos no Estatuto da organização, e nem de responder por suas decisões pessoais.
[9] No presbiterianismo, a Assembleia Geral é soberana. Ela é convocada para eleição dos oficiais da igreja, decisão sobre compra e venda de bens da instituição, dentre outros motivos.
[10] No presbiterianismo, o Supremo Concílio é a organização máxima da instituição. Assim como ocorre com o sistema federalista e democrático brasileiro, ele é a reunião de todos os representantes dos Sínodos dos Estados do Brasil. A reunião ocorre de quatro em quatro anos e é responsável pelas decisões constitucionais da IPB. O governo presbiteriano começa com o Conselho da igreja local, que escolhe represente para participar anualmente da reunião ordinária do Presbitério que, por sua vez, escolhe seus representantes para participar de dois em dois anos da reunião ordinária do Sínodo e que, finalmente, escolhe seus representantes ao Supremo Concílio. Toda decisão presbiteriana é colegiada e representativa, requerendo sempre debate em plenário e votação secreta, quando assim exigir o Estatuto.
[11] Situada na Avenida Capitão-mor Aguiar nº 612, Bairro Centro.
[12] É comum, no imaginário presbiteriano, chamar de “campo” o espaço geográfico onde se inseri uma atividade religiosa.
[13] Apud MELLO, Jorge. Reverendo Elcias: o amigo das crianças. São Paulo: All Print Editora, 2012. p. 130.
[14] Alguns pastores que consta na lista de pastoreio foram apenas designados pelo Presbitério. Essa é mais uma característica do presbiterianismo. Condicionado à decisão do Conselho com designação do Presbitério, é possível que o pastor assuma a presidência do Conselho da igreja por designação e não por eleição. Todavia, isso é circunstancial. Como possuidor de governo representativo, sempre se buscará que a igreja escolha democraticamente, através de voto, seus líderes.
[15] Dados do IBGE. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/68/cd_1960_v1_t13_sp.pdf>. Acesso em: 24 ago. de 2020.
[16] BERGER, 1974.
[17] BERGER, 1974.
[18] Não se deve menosprezar o processo de perda que ocorre na migração. Por mais intenso que fosse o sentimento da religião católica no nordestino, ele não é capaz de, por si mesmo, manter aquela identidade vivenciada. A adesão ao protestantismo, religião considerada como caminho da perdição, como era propagada pela catequese da época aos nordestinos, é prova de que realmente a “mudança de mundos” é consequência imediata e necessária numa migração dentro desse contexto, que é nosso objeto de pesquisa.
[19] BERGER, 1974.
[20] Dos 303.551 habitantes, 62.012 declararam serem imigrantes nordestinos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Rubem. Dogmatismo e tolerância. São Paulo: Paulinas, 1982.
BERGER, Peter. L.; LUCKMANN, Thomas. A construção da realidade. Petrópolis: Vozes, 1974.
DURHAN, Eunice Ribeiro. A caminho da cidade – A vida rural e a migração para São Paulo. São Paulo, Perspectiva, 1973.
FERRARI, Monia de Melo. A migração nordestina para São Paulo no segundo governo Vargas (1951-1954) – seca e desigualdades regionais. São Carlos: UFSCar, 2005.
IBGE. Censo de São Vicente – 1960. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/68/cd_1960_v1_t13_sp.pdf>.
MELLO, Jorge. Reverendo Elcias: o amigo das crianças. São Paulo: All Print Editora, 2012.
SOARES, Caleb. Banks: ainda hoje. Santos: Instituto de Pedagogia Cristã, 1998.
THOMPSON, E.P. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão - História das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX. São Paulo, Ática, 2000.
WEBER, Max. Economia e sociologia: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UNB, 1994.

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OS ESPIRITUALISTAS E FILOSOFIAS HUMANISTAS



MAÇONARIA



20 de Agosto, Dia do Maçom. LOJA MAÇÔNICA DUQUE DE CAXIAS
"O inicio se deu por intermédio do Manoel Vileije Omos, que era participante da Loja XV de Novembro, de Santos, e junto com amigos resolveram fundar uma loja maçônica da cidade e que recebeu o nome de Duque de Caxias. No início se reunia na sua residência na avenida Antônio Emmerich nº 403, onde sua esposa Alice levava os filhos menores (Victor, Vilma e Vital) para passear na residência da sua irmã Ana, esposa de Antônio Sierra que residia na mesma avenida nº 560. E na sala da frente com os amigos Edson Telles de Azevedo; Gabriel Lopes; José Macia; Cremiro Azevedo; Moacyr de Andrade Lima, Clóvis Gonçalves, Gal.. J Joaquim da Silveira Vargão, Paulo Lie se reuniam. Com o crescimento da entidade José Macia, pai do Macia e José Macia Filho (jogador Pepe), cedeu o galpão que tinha nos fundos da sua mercearia, e com isso deu inicio definitivo da Loja. Mais tarde, com o crescimento da loja e por iniciativa do Sr. Moacyr Andrade de Lima, o grupo foi transferido para o Cine São Jorge, de sua propriedade, localizado na Rua Frei Gaspar (Beira Mar). Em seguida compraram uma casa na avenida Capitão Mór Aguiar e construíram nos fundos um galpão com churrasqueira e zeladoria. Após o falecimento de Manoel Veleije, o seu afilhado maçônico Mário Diegues durante sua gestão construiu, o Templo Maçônico Duque de Caxias, onde se acha instalado até hoje.

São Vicente era um Jardim. Acervo de Antônio Lima.



Foto recente do interior do templo maçônico Duque de Caxias, localizado na avenida Capitão-mor Aguiar, 520. Página da instituição no Facebook. 



ORDEM ROSA CRUZ



Ofício de 1979, do Centro de Estudos Pitagórico para o Clube Soroptimista de São Vicente, assinado pela diretora Ailde Mendes tendo como destinaria a presidente Graziella Tonhegti Costa. A escola não existe mais na cidade. O documento foi encontrado casualmente durante a reforma de um apartamento no Boa Vista



CARTÃO COMEMORATIVO. Exaltação do amparo à infância carente, de autoria de Yeda de Burgos Martins de Azevedo. Foi distribuído pelo Centro de Estudos Pitagóricos de São Vicente nos anos 1970. A escola funcionava na rua Cuiabá, 463. Foi fundada em 31 de julho de 1972, tendo sida considerada de Utilidade Pública pelo Decreto Lei nº1716.











SEICHO-NO -IE 



Sede do templo na rua Tenente Durval do Amaral, 26, no Catiapoã. 



Seichi-no-ie é um "Movimento de Iluminação da Humanidade, que visa a iluminar a vida humana em todas as suas facetas, bem como o Movimento Internacional de Paz pela Fé, que visa a concretização da paz mundial. A Seicho-No-Ie foi fundada em 1930, pelo então jovem Masaharu Taniguchi (1893-1985), no Japão". Foi difundida no Brasil  e nas cidades paulistas por meio do membros da colônia japonesa que se instalaram no país a partir de 1908. Tem grande receptividade pela sua simplicidade e identificação com bases filosóficas do cristianismo e práticas mentalistas e de curas da espiritualidade brasileira. 


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NÚCLEOS ESPÍRITAS




MIRABELLI ASSOMBRA SÃO VICENTE E O MUNDO


Durante os dez em que viveu em São Vicente o médium Carmine Mirabelli foi foco de admiração, espanto, objeto de pesquisas, respeito e  gratidão, polêmicas, perseguições e até agressões físicas de fanáticos. Para evitar dúvidas e distorções, seus feitos psíquicos eram narrados e publicados em anúncios por testemunhas, para não deixar dúvidas sobre a sua honestidade e desinteresse. Foi comparado aos grandes médiuns que atuaram antes e depois do advento do Espiritismo na França no século XIX. Fundou e manteve duas casas de trabalho e caridade em São Vicente e Santos. A inauguração do núcleo vicentino do Centro Espírita São Luiz foi marcada por uma ação espetacular e espantosa, pois o médium estava com amigos numa estação de trem na Capital poucos minutos antes das 16 horas e instantes depois teve sua presença registrada em São Vicente para iniciar a cerimônia inaugural. A passagem de Mirabelli por SV e Santos foi cheia de fenômenos como curas, revelações de  conhecimentos científicos, psicografias, pinturas mediúnicas e até ressuscitação de mortos (catalepsia ou morte aparente).  

Inauguração em São Vicente  do Centro Espírita São Luiz  em 1917, à 16 horas. Rua Visconde de Tamandaré, 32. 



ANÚNCIOS EM ATRIBUNA

Publicamos aqui diversos anúncios em A Tribuna, entre 1917 e 1926, que atestam essas experiências que confrontavam e ao mesmo tempo abriam novas perspectivas na relação entre ciência e religião, materialismo e espiritualismo, entre fé e razão. Em São Vicente seus maiores amigos, além dos irmãos espíritas, foram o prefeito Rodolpho Mikulash e o futuro governador e presidente Washington Luiz, que tinha residência na orla. Desconhecemos se deixou descendentes na cidade, embora tenha tido várias personalidades vicentinas com seu sobrenome, mas sem confirmação de parentesco.  Era filiado ao PRP, se opôs ao movimento paulista de 1932 e foi preso por isso.  Depois de uma longa jornada espiritual missionária, Mirabelli se despediu do mundo físico num acidente comum e cotidiano, quando foi atropelado por um caminhão, em São Paulo, no dia 3 de abril de 1951. 

















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COMUNIDADES ESPÍRITAS NO CENTRO 




Francisco Soares Serpa , juntamente com seu grupo fundador  do Centro Espírita "Fé em Deus" foi um dos pioneiros da propaganda doutrinária kardecista que se instalou no então centro de São Vicente no início do século XX. 

Diversas casas espíritas foram fundadas em locais muito próximos a este núcleo pioneiro da rua Santa Cruz, nº 123: 

O Centro Espírita São Luiz, fundado em 1917 na Marquês de Tamandaré, pelo conhecido médium Carmine Mirabelli; 

E nas décadas seguintes  o Centro Espírita Paulo e Estêvão, também na Marquês de Tamandaré; 

O Centro Espírita Cáritas  na rua Frei Gaspar (onde funcionavam a Biblioteca Pública e o Albergue Domingos Albano). O nome original era Sinagoga Espírita Càritas, homenagens aos comerciantes judeus que se empenharam para que a obra fosse rapidamente erguida. 

E o Centro Espírita Redenção (com o Colégio Henrique Oswald), na avenida Capitão Mor Aguiar. 

Com exceção do "Fé em Deus" (cuja sede e grupo desapareceram) e do São Luis (também demolido))  todos os demais estão em funcionamento até hoje. 

O mais novo núcleo localizado nesse bairro é o Grupo Espírita Casa do Caminho, na rua Jacob Emmerich, 903, fundado em 1996.








Foto da década de 1950. Fraternidade Cristã Vicentina, obras sociais do Centro Espírita Cáritas: Albergue Noturno Domingos Albano. Dispensário dos Pobres André Luiz. Escola de Corte e Costura Anália Franco. Clínica Dentária Fraternidade. Na foto, segundo identificação de Ana Célia Pupo, servidora voluntária da instituição, o senhor de roupa branca é o fundador da Sinagoga Espírita Cáritas, Antônio Lopes Garrido.



C.E. Cáritas. 



C.E Cáritas



C.E. Redenção e o Colégio Henrique Oswald. 









Padrão das casas da Aliança Espírita Evangélica. Esse cartão é do C. E. Caminho da Luz (abaixo).  Rua Armando Salles de Oliveira, 53.  Vila Valença.  São Vicente.






Boletim da Aliança Espírita Evangélica de 1978, com sede em São Paulo, publica relação de alunos da Escola de Aprendizes do Evangelho que passaram ao grau de "Servidores". Na lista estão os aprendizes promovidos do C.E. Irmão Timóteo, de São Vicente, que funcionava na rua Armando Sales de Oliveira, 57, na Vila Valença. O dirigente da turma era Wilson Mendonça Cavalcante. o C.E. Irmão Timóteo foi transferido nos anos 1990 para uma sede própria na avenida Capitão Luiz Antônio Pimenta, no Guamium-Bitaru, onde, na mesma avenida, também mantinha em outro imóvel a Creche Mei-Mei. (ambos desativados). No mesmo endereço antigo do C.E Irmão Timóteo hoje funciona o C.E. Caminho da Luz |(foto abaixo). 



A ÁRVORE E OS FRUTOS. O auditório do Centro Espírita Redenção, na avenida Capitão-Mor Aguiar, mais uma vez sediou as palestras da tradicional Semana Espírita de São Vicente. Esse auditório foi, em  1976, o cenário histórico da primeira aula da Escola de Aprendizes do Evangelho na Baixada Santista. A aula inaugural foi ministrada por Jacques André Conchon (foto em palestra no CVV) tendo como tema As Raças Primitivas, baseada nos livros A Caminho da Luz (Chico Xavier-Emmanuel) e Os Exilados de Capela (Edgard Armond). 

Os alunos concluintes dessa primeira turma fundariam posteriormente os seguintes núcleos espíritas: C.E. Irmão Timóteo, no Bitaru; C.E. Caminho da Luz, na Vila Valença; C. E. Estrada de Damasco, no Beira Mar; C.E. Aprendizes do Evangelho, na Ponta da Praia, em Santos; C.E União Maior, Marapé; GE Aprendizado Evangélico, no Embaré; C.E. Allan Kardec, Praia Grande; C.E. Emmanuel, em Peruíbe e muitos outros que adotaram essa linha educativa de expansão celular de núcleos.


Centro Espírita Redenção.


C.E. ESTRADA DE DAMASCO. Em 11 de Março de 1978 um grupo de alunos concluintes da Escola de Aprendizes do Evangelho, dirigida por Eugênio Lopes Corrêia, fundou na então distante Vila Margarida o Centro Espírita Estrada de Damasco. O nome foi sugerido pelo primeiro presidente da casa, o Sr. Adolfo Marreiro Júnior. Foi a segunda casa na Baixada Santista filiada à Aliança Espírita Evangélica, movimento liderado Edgard Armond desde 1950 em São Paulo. A primeira foi o C.E. Irmão Timóteo, na Vila Melo, fundado em 1976. O sistema de escolas da Aliança formam turmas sucessivas e incentiva a abertura de novos núcleos desde 1973. Hoje possui mais de 400 filiados, incluindo no exterior (EUA, Alemanha e Cuba). As casas vicentinas fundaram em Santos o Centro Espírita Aprendizes do Evangelho, na Ponta da Praia; e a Fraternidade União Maior, no Campo Grande. Um pequeno grupo de fundadores do CE Irmão Timóteo fundou o posto do CVV em Santos, em 1979. O Estrado de Damasco foi inspirado no romance histórico "Paulo e Estêvão", do Espírito Emmanuel (padre Manoel da Nóbrega), psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier. Parabéns aos fundadores e continuadores dessa obra espírita e cristã e que tenha longos anos de existência!
Sede: Rua Monte Plano 283, hoje Planalto Bela Vista.

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Lar Espírita Cristão Alvorada Nova. Jardim Rio Branco. 



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CURANDEIRISMO POPULAR

O CASO DA MÉDIUM FRANCISCA CESÁRIO (ÃNGELA, A SANTA)

Na segunda metade do século passado, sucedendo a fase histórica dos médiuns de fenômenos de efeitos físicos, surgiram em vários lugares do mundo e também no Brasil as chamadas curas mediúnicas, proporcionadas  por meio de médiuns e seus conhecidos espíritos guias. No Brasil o mais conhecido foi Zé Arigó, de Congonhas do Campo-MG. Mesmo sofrendo denúncias e prisão, o famoso médium mineiro continuou realizando cirurgias atribuídas por ele ao Espírito Dr. Fritz , médico alemão desencarnado na I Guerra Mundial. Fritz também se manifestaria anos mais tarde por outros médiuns. 

O caso de São Vicente não fugiu desse padrão dessas manifestações de caráter popular. “Ângela, a Santa” era provavelmente o Espírito Guia da médium Francisca Cezário. 

Para a Doutrina Espírita, os médiuns não são necessariamente seguidores do Espiritismo e da sua filosofia moral. A habilidade mediúnica é natural e pode se manifestar em todos os lugares, incluindo fora dos ambientes religiosos. 

Os médiuns espíritas são orientados, nas casa e por meio de órgãos federativos, a evitar práticas curativas que colidam com o exercício legal da medicina. A maioria dos estabelecimentos oferece meios curativos de magnetismo e fluídicos, alertando que tal prática não dispensa o tratamento médico. Ao contrário das práticas tradicionais espíritas e outros segmentos espiritualistas, muitos médiuns assumem riscos pessoais, alegando que se trata de uma ação de compromissos individuais e independente das instituições socialmente estabelecidas. 








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Cidade de Santos , setembro de 1970




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