10/07/2019

ESCOLAS E EDUCADORES


ÁLBUM DE FAMÍLIA
UMA TÍPICA TRAJETÓRIA ESCOLAR VICENTINA


ESTUDANDO EM SÃO VICENTE ENTRE 1931 E 1942



Neyde Nunes Thadeu nasceu em São Vicente no dia 23 de setembro de 1926, e hoje com quase 97 anos ainda tem lembranças dos tempos de escola.

Em 1931, com cinco anos de idade, passou a freqüentar o jardim de infância na Escola Particular da Professora Raquel de Castro Ferreira localizada na Rua Campos Salles.


Dona Raquel em pé à direita, Neyde é a segunda da fila sentada com laço de fita na cabeça (da direita para a esquerda).


Raquel de Castro Ferreira era casada com o Maestro Oscar Augusto Ferreira e mãe do ex Diretor Administrativo da Prefeitura de São Vicente Luiz Beneditino Ferreira que foi prefeito interino em algumas vacâncias do cargo, nomeado (1947) e eleito (1956 a 1959).

Nessa escola a Professora Raquel era muito próxima aos alunos e familiares tendo desempenhado importante papel na gripe espanhola.

Dá seu nome a duas escolas municipais, uma no Guarujá e outra em São Vicente (criada em 1958 quando seu filho Luiz era prefeito).

Depois cursou o primário no Grupo Escolar de São Vicente, mais conhecido como Grupão, na Praça Coronel Lopes. Sua professora do primeiro ano foi Dona Marieta, cujo sobrenome ela não se lembra, mas que era bastante enérgica com as alunas.
 

Dona Marieta em pé à esquerda e Neyde sentada a direita da menina com o globo terrestre.

No terceiro e quarto anos (1937 e 1938) teve como professora Dona Alzirah Becker.



      Dona Alzirah à esquerda, Neyde é a primeira da segunda fila a direita


Dona Alzirah residia em Santos e tinha três filhas: Dirce, Cacilda e Cleide.

Cacilda Becker (foto abaixo) e Cleide Yaconis (sobrenome do pai) foram atrizes famosas do teatro e televisão). Neyde lembra com detalhes que Dona Alzira incentivava a filha Cacilda e a levava para dançar na sala de aula colocando um disco numa vitrola. Cacilda, nascida em 1921, era cinco anos mais velha que Neyde.





        Diploma de Neyde no Grupo Escolar de São Vicente -1938. Verso do diploma com assinatura da Professora Alzirah Becker


Em 1939, terminado o curso primário, foi estudar na primeira turma do Ginásio Martim Afonso, instalado naquele ano pelas professoras Zina de Castro Bicudo e suas irmãs Dirce e Elza, e localizado na Rua 11 de Junho (atualmente Liga do Professorado Católico). Depois funcionou num casarão da Rua José Bonifácio onde Neyde concluiu o ginásio no final de 1942.


 
   Neyde Nunes Thadeu formanda no Ginásio Martim Afonso em 1942


Luis Renato Thadeu Lima. Agosto de 2023. 
Informações sobre Raquel de Castro Ferreira: Polianteia Vicentina e Jornal Vicentino



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Foto de encerramento do ano letivo das escolas públicas de São Vicente, em 10 de dezembro de 1904, na esquina da rua XV de Novembro com rua Jacob Emmerich, vendo no grupo o Intendente Salvador Leal e o Inspetor Literário Militão Azevedo. (Poliantéia Vicentina)

(... ) Quem cursou o velho grupo escolar de São Vicente, que outrora se chamava Escola do Povo, haverá de recordar-se sempre do velho “Bento”, o porteiro que tangia o sino avisando o início das aulas. Lembrar-se-á do velho professor Osório Alves, figura impressionante de mestre, que à inteligência, sabedoria e compreensão, aliava o talento de ficcionista, premiando os alunos com suas histórias saborosas de aventuras, cuja lembrança ainda nos emociona.

A Mestra Da. Lovely Planchut, que acompanhou várias gerações de alunos, educando-os, instruindo-os, e encerrando entre as paredes daquele casarão amarelo a primavera da sua mocidade.

O intransigente Diderot Teotônio Santana Espinhel Júnior...

E a tristeza de ver desfeito e mutilado aquele formoso jardim tão cuidado, primorosamente desenhado, fronteiro à Escola, onde à noite havia projeções cinematográficas aos domingos...

Quem como eu viveu em São Vicente há trinta e tantos anos, freqüentou os bancos da Escola do Povo e repastou os olhos naquele jardim, identificou-se com a alma dessas coisas (...)

Derosse José de Oliveira - São Vicente, história e memória –Poliantéia Vicentina, 1982.

“Professoras e professores que se dedicaram com muito amor ao magistério vicentino, verdadeiro sacerdócio do ensino, formando a base cultural, cívica e moral de tantas famílias radicadas em São Vicente, através de tantos anos”.









Escola no bairro do Catiapoã nos anos anos 1940, em imóvel doado pelo morador Francisco Marques Sopa. Acervo: IHGSV.

RECORDANDO ANTIGOS PROFESSORES

Cotinha Brasiliense - Idalina Viegas Gil - Profa. Amélia - Antonio Pedro - Osório Alves- Eulina Trindade - Francelina Passos Elias - Maria Luiza Viana - Paulo Pires - Lovely Planchut - Maria Lídia Salzedo - Alice Jacob - Aparecida Janira Rocha -Dagmar Cerqueira Leite - Diva Fazzio Micelli - Elza Eda Trica Neves – Geni Carfácio Baronti - Iracema de Morais Camargo – José Olívio Menezello Torlay- Maria de Lourdes Arruda- Maria Helena Kreigne Guimarães- Maria Stela Miranda Mariane- Rosa Feiz - Ruth Robilard de Margny - Vanda Ramos – Zélia Carneiro de Campos- Edmundo Capelari –Zina de Castro Bicudo - Elza de Castro Bicudo- Renê Cabral Guedes - Helena Marieta Cabral Santos Garcia – Mafalda Azevedo – Isabel Gibler - Adelaide Gibler Macedo – Carlos Borba – Mariquinha Nobre – Iracema de Mello Roma Pimenta - Júlia de Almeida Pires – Emília Viana Aguiar- Maria Ermelinda Miranda – Prof. Ataliba – Ada Fioravanti dos Santos – Arlete Cecília de Campos - Diolanda dos Santos Gaspar Aires – Edith Guimarães Machado – Eunice Nunes de Oliveira Lobato – Ieda Sendin Alves – Jandyra Baenninger - Judith Machado de Melo – Maria do Carmo Pires Gonçalves – Maria Helena Arruda Penteado – Maria José Alves – Neusa Eva Machado Lima – Ruth Mary Menezelo Catelli – Tarcilla Fratucelli dos Santos – Yolanda Fressoni de Freitas – Zélia de Paula Almeida – Antonio Borges Fonseca – Dirce de Castro Bicudo – Creusa Veloso – Thereza Alves Ramos. (Poliantéia Vicentina).




Anúncios de convocação no jornal Cidade de Santos, em 1970.








Quando as escolas eram bem longe e o carro popular era barato. jornal Cidade de Santos , 15 de janeiro de de 1970. Dalmo Duque dos Santos publicou no grupo Santos Antiga. 

Comentários

José Paixão: Em 1970 um Fusca custava 95 salários mínimos, veja a equivalência hoje ? Era caríssimo, pouquíssimas pessoas podiam comprar um Fusca zero, não tinha nada de carro popular

Sérgio Lucas Junior: "AGORA EQUIPADO COM CINTO DE SEGURANÇA E EXTINTOR DE INCÊNDIO"

Camila Mayer Mayer: Não tinha os retrovisores nas laterais.

Eliana Romanis Diegues: Tive um consórcio desses! Meu primeiro “ Fusca” como professora que dava aula em escola longe!!!!

Antonio Caldas Barbosa: Trabalhei no Consórcio do Professores (Canton & Cendon) na década de 70. Depois fui trabalhar na Gaivota Veículos, dos mesmos sócios. Bons tempos.

Antonio Carlos Paes Alves: Se não estou enganado, o primeiro consórcio de veículos em Santos foi criado pela Santos Motriz S/A. (revendedora Volkswagen) em 1964.

Osnir Santos: Gasolina barata sem trânsito sem CT era uma maravilha

Paulo Antonio Oliveira: Osnir Santos , sem o CT era mais perigoso. Os PMs ficavam rodeando teu carro até achar um problema. Muita gente, preventivamente já andava com uma cédula de dinheiro, no documento, pois sabia que teria que fazer um "agrado".

João Carlos Gouvêa: Em 1975, eu participei desse consorcio, 50 meses, dei lance de R$ 9.000,00 para tirar um fusca 1300 L e no final do grupo não recebi p****** nenhuma...





SÃO VICENTE NOS ANOS 60 E 70
 

DALMO DUQUE E SAGRADO LIBERTO







Parque Bitaru,1973. No Grupo Escolar e Ginásio Estadual Prof. Leopoldo José de Sant'Anna, operários da Diretoria de Serviços Públicos da Prefeitura Municipal de São Vicente recuperam a estrutura do telhado, ameaçado de cair pela ação de cupins. Durante a reforma, seus mais de 600 alunos foram provisoriamente realocados no Liceu Educacional Itá, Colégio Henrique Oswald e Colégio Nissei.
Inaugurado em 1959 e demolido em 1983, este foi o primeiro prédio do Leopoldo e sua localização era exatamente onde hoje encontra-se a E.M.E.F. República de Portugal. Jornal Cidade de Santos. São Vicente de Outrora.





COLÉGIO DOS MENINOS



Padre Leonardo Nunes nasceu na freguesia de São Vicente da Beira, Concelho de Castelo Branco, Portugal, em data desconhecida e faleceu num naufrágio a 30 de junho de 1554 quando rumava a Lisboa em missão especial. Integrou a primeira expedição jesuíta liderada pelo Padre Manoel da Nóbrega, que acompanhou o primeiro governador geral do Brasil Tomé de Souza, desembarcando no Brasil no ano de 1549. Inicialmente exerceu o ministério em Ilhéus e Porto Seguro, mas logo recebeu missão especial, deslocando-se para São Vicente, capitania de Martim Afonso de Souza, ali fundando o Real Colégio de São Vicente, seminário e uma das primeiras escolas do Brasil. Para alguns historiadores a ele caberiam as honras de ter sido o primeiro Professor do Brasil. Ele teve importante papel na região do ABC, pois em 1550 em viagem a esta região, conseguiu agrupar portugueses que por aqui andavam dispersos e índios e por meio da pregação da doutrina cristã, os convenceu a construir uma ermita dedicada à Santo André, em torno da qual surgiu um povoado. Em fevereiro de 1553, Tomé de Souza em visita a esse povoado, mandou fortificar o sítio elevando-o à categoria de vila, dando-lhe o nome de Vila de Santo André da Borda do Campo atualmente São Bernardo do Campo.
Fonte: P.M. de S. Bernardo do Campo. Projeto Político Pedagógico 2012.
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A primeira escola fundada em São Vicente, foi o Colégio dos Meninos de Jesus, fundado pelo Padre Leonardo Nunes, em 1549, e inaugurado oficialmente pelo Padre Manuel da Nóbrega, em 2 de fevereiro de 1553. No século XVIII, o Padre Manuel Gomes Loureiro, Vigário da Paróquia, impulsiona o ensino em São Vicente, abrindo novas “aulas” na Vila, onde se destacam os professores Indalésio Constâncio Ferreira e D. Mafalda Virgínia das Dores, Padre Agostinho Santana entre outros.


                          



                                   

O CLERO INDÍGENA DA AMÉRICA PORTUGUESA




Manuel da Nobrega chefe da primeira missão jesuítica ao Brasil, tinha planos de recrutar alguns filhos dos indígenas para serem enviados para Europa e se formarem no sacerdócio. Eles seriam escolhidos entre os melhores das Aconfrarias dos meninos, formadas pelos jesuitas com criancas indigenas. 

Em 1552, Nobrega diz ja ter dois meninos que ja sabiam ler, escrever, cantar e que eram bons pregadores, os quais ele gostaria de enviar a Europa para aprender Iatim. Eram eles Cipriano do Brasil, o primeiro jesuita nascido da America,  nascido em Sao Vicente, enviado em 1552 para Portugal e Baltazar Gonsalves, natural da Bahia. Em 1563 eles residiam em Lisboa. Ambos porém morreram jovens, em Coimbra, para onde haviam sido inicialmente enviados e onde haviam estudado e trabalhado como caligrafos e enfermeiros 

Entre os primeiros entrados na Companhia, menciona Diogo Jácome em 1552 no colégio da Bahia que muitos Índigenas foram admitidos como Irmãos Jesuítas, entre eles: Diogo Tupinambá, Piribira, Mongeta e Quatiá. Esses índios trabalhavam quase exclusivamente nas comunidades jesuítas como cozinheiros, alfaiates, secretários, contadores, bibliotecários e ajudantes de manutenção , eram, portanto, tecnicamente conhecidos como "coadjutores temporais", pois auxiliavam os padres professos realizando as tarefas trabalhos mais "mundanos", liberando os professos dos quatro votos e os "coadjutores espirituais" para assumir as missões sacramentais e espirituais da Companhia.

Nos colégios dos Jesuítas crescia entre os curumins a cultura europeia. os costumes indigenas eram respeitados e incentivados naquilo em que não conflitava com os ensinamentos do cristianismo.  
Um desses curumins foi Diogo Fernandes, que entrou na Companlúa em São Vicente, recebido pelo Padre Manuel da Nóbrega e ainda aí residia em 1562, passando pouco depois para a Capitania do Espírito Santo, onde já se encontrava em fins de 1563.

Diogo Fernandes, primeiro padre brasileiro da Companhia de Jesus, foi e, disto não há dúvida, um dos grandes missionários e sertanistas do seu tempo. 

Fez nove entradas ao sertão, donde desceu para as aldeias da costa e a catequese cristã perto de 12 000 almas. Os últimos catálogos trazem-no sempre em Reritiba: em 1600 como superior; em 1601 como companheiro do superior; e o de 1606-1607, de nôvo superior, cargo em que faleceu a 28 de abril de 1607. Sempre teve fraca saúde ( "infirma valetudine"), mas ainda assim viveu 64 anos. 

Esses primeiros clérigos nativos do Brasil contribuiram em muito para que a catequese, ou a conquista das almas, seria mais facilmente realizada se usassem da língua dos naturais. 

Na Região Amazônica colonos e clérigos vieram em favor da participação ativa dos índios no processo  de catequese, resultando na primeira ordenação  de padres indígenas no Norte Brasil. 

O Padre Antônio Vieira, provincial da Companhia, defendia abertamente a incorporação de nativos na Companhia, estimulando com isso a intenção da abertura de um noviciado no Estado do Maranhão e Grão-Para.

Entre esses grandes missionários estavam dois índios guarani, Pe. Antônio José de Araújo Silva e Pe. José Inácio da Silva Pereira, das missões jesuíticas no Rio Grande do Sul; dois aldeados no Rio Grande do Norte: Pe. Antônio Álvares Alves da Cunha, índio procedente da Vila de Estremoz e o Pe. Antônio Dias da Fonseca,  índio da Vila de Ares. E, finalmente, o Pe. Pedro da Motta, índio cropó, dos sertões do Xopotó em Minas Gerais.

Terra de Santa Cruz
ALMEIDA, Rita Heloísa de. O diretório dos índios: um projeto de civilização do Brasil no 
século XVIII. Brasília: Ed. UNB, 1997. Fonte: Cartas do Brasil e mais Escritos do Pe. Manuel da Nóbrega. Por Leite, Serafim, Manuel da Nóbrega




OBRAS EDUCATIVAS DE ANÁLIA FRANCO



Em 24 de julho de 1906, é fundada a Casa de Caridade São Luiz, por iniciativa de D. Anália Franco. A obra assistencial seguia modelo implanta pela conhecida educadora em São Paulo por amio do ensino moral e profisional párea meninas e meninos órfãos e abandonados. Seguida da Casa São Luiz, Anália Franco organizou no centro da cidade um núcleo feminino que ficou conhediodo com Chácara do Inocentes. Devido à crise econômica no período da I Guerra o núcleo foi transferido para Santos e no local foi instalado o Hospital e Maternidade São José. 

A CHÁCARA DOS INOCENTES 

Residência da Chácara dos Inocentes , da Instituição Anália Franco, que seria adpatada pra funcionamento da primeira instação do Hospital São José (Poliantéia Vicentina). O local onde foi construído o Hospital São José era uma grande área central conhecida como Chácara dos Inocentes, onde anteriormente funciova uma extensão de um conhecida instituição assistencial que atuava há muitos anos nos estado de São Paulo. Essa curiosidade histórica foi registrada na Poliantéia Vicentiva , em 1982: 
"A maioria dos leitores, notadamente a nova geração, desconhece que no local onde funciona o Hospital São José, antes era uma grande chácara denominada "Inocentes", em cujas dependências funcionou a Associação Anália Franco, entidade com o objetivo de acolher e dar assistência a órfãs. Uma banda musical, formada por meninas e moças ali recolhidas chegou a exibir-se várias vezes em público, sempre recebida com simpatia" 
(...) A 29 de novembro de 1918 a Sociedade Protetora do Hospital São José adquiria de D. Maria das Dores de Vasconcelos Meijers a área situada no centro da cidade e conhecida como Chácara dos Inocentes, cuja compra foi realizada por RS30.000$000 (trinta contos de réis), com dedução de RS 5.000$000(cinco contos de réis) que a proprietária reverteu em donativo, por ser tratar de uma instuição beneficente e que necessitava de recursos para proceder a adaptação do prédio residencial existente na chácara em hospital. A transação foi feita em nome do Sr. João Bensdorp-Prefeito Municipal – mediante hipoteca ao Dr. Murilo Porto. Logos que quitada a dívida, o imóvel foi tranferido para o Hospital São José”. 
Essa mesma obra assistecial era realizada na Capital (onde hoje é o bairro com seu nome) e dezenas cidades do interior, incluindo Santos. Dona Anália mantinha, através de donativos, escolas profisionalizantes e orfanatos numa época que a infância e a juventude não tinham quase nenhuma proteção do Estado. O trabalho dela começou no século XIX, recolhendo crianças filhas de escravas, expulsas das fazendas pela Lei do Ventre Livre e abandonadas nas cidades. Em  1914, a revista santista A Fita registrou em suas páginas alguma notas e fotos dessa obra também conhecida com Asylo de São Vicente, que comportava um casarão onde funcionav o orfanato e uma creche-escola.






ESCOLA DO POVO



Primeira instalação da Escola do Povo, no Largo Batista Pereira.

A notícia mais antiga que encontramos da Escola do Povo é: "que em 1894 passa aos cuidados do Governo, mantendo porém o mesmo nome”, (Edison Telles de Azevedo, em Vultos Vicentinos). Isto é evidência de que já na época era bem conhecida, e que naturalmente a sua fundação é anterior, a essa data.
Em 1895 começa um movimento entre os habitantes de São Vicente, que formam um Sociedade Civil, para a construção do prédio da “Escola do Povo”.
Em 1896 a Escola funcionava no Largo Batista Pereira, mudou-se depois para a Rua XV de Novembro. Finalmente em 1898, a Escola do Povo, mudouse para prédio próprio, na Praça Cel. Lopes.
Em 1900, a Escola do Povo, oferecia nas suas salas a Exposição Arqueológica, Artística e Histórica, como parte das comemorações do IV Centenário da Descoberta do Brasil.



                    
Em 1904, é fundada na Escola a Banda de Música Infantil “Escola do Povo”, e foram seus diretores Alexandre Lopes dos Santos e Jerônimo dos Santos Moura, coube ao maestro Antônio Pedro de Jesus, organizar e conduzir os meninos. Os instrumentos foram adquiridos por meio de subscrição entre o povo vicentino. Em setembro de 1909 a Banda ganha diploma e medalha em festival de Bandas realizado em São Paulo.


                  

Em 1913, no dia 6 de agosto, depois de ampliado o prédio da Escola do Povo, o Governo cria o 1.o Grupo Escolar de São Vicente, com 8 aulas, sendo o seu diretor o prof. Antônio de Mello Cotrim.
A sua primeira Caixa Escolar é criada em 1922, nesse mesmo ano são realizadas no prédio da Escola, as festividades oficiais do 1.o Centenário da Independência do Brasil, sendo escolhida como melhor local para realização das comemorações.
Em 1947 o Interventor Federal de São Paulo, dá a denominação de Grupo Escolar “Capitão-mor Gonçalo Monteiro" ao Grupo Escolar de São Vicente, como homenagem ao primeiro Vigário e Capitão-mor, nomeado por Martim Afonso, na Capitania de São Vicente.
No ano de 1949, o Governador do Estado, muda a denominação para Grupo Escolar de São Vicente” novamente.
Em 1955 é organizado o Serviço Dentário Escolar no estabelecimento. É inaugurado a 16 de agosto de 1956 o Serviço de Assistência Alimentar.
Em 1962 é inaugurado o Parque Infantil, doado pelos pais de alunos.
Em 1963 a escola conta com Biblioteca Escolar, com 700 volumes, mantém um Orfeão Escolar e o Jornal Infantil.
Até hoje a “Escola do Povo" ou "Grupão”, passou por diversas reformas, aumentando muito a sua capacidade inicial. Na atualidade a sua denominação oficial é: Escola da EEPG Profa. Zina de Castro Bicudo.

DIRETORES
1913 – Antônio de Mello Cotrim
1914 – Gastão Ramos
1917 – Eudoro Ramos Costa
1920 - Evandro Feliciano da Silva
1924 – Adolpho Franco Figueiredo
1925 – Theotônio de Santana Espinhel Júnior
1932 - Francisco Roberto de Almeida Júnior
1939 – Leonardo Banducci
1947 – Valdomiro C. Nascimento
1949 - Manoel P. Queiroz
1955 – Maria Assunta Regina de Maria
1958 – Petronilha Grauce
1960 Elias Alves Lima
1966 - Neusa Eva Machado Lima
1968 - Elias Alves Lima
1970 – Vanda Ramos
1973 – Neusa Eva Machado Lima
1975 - João Domingos Paque
1976 - Claudete Maria Baffa
1979 – João Batista dos Santos
1980 – Edna Terezinha Sarmento Posada
1980 – Liberato Gros 1981 – Plínio Amaral
1982 - José de Almeida Pinheiro Júnior e José Augusto Parreira Duarte.

O nome dos diretores anteriores a 1913, não nos foi possível relacioná-los por falta de informação.

O Grupo Escolar de S. Vicente é hoje inaugurado oficialmente

A Tribuna, em 15 de novembro de 1913, na página 4, reservada às notícias do correspondente em São Vicente.
Sem embargo de se achar funcionando há dois meses o nosso decantado Grupo Escolar, dá-se hoje, oficialmente, a abertura de suas portas às crianças vicentinas que necessitem do pão espiritual.Esse Grupo Escolar de que há muito a nossa terra, berço da civilização paulista, se ressentia, parecia-nos, como a todos que presenciavam o analfabetismo crescente da nossa mocidade, apenas um sonho, nada mais que uma utopia!Os esforços eram constantes dos políticos dominantes, apoiados pela luta insana da imprensa diária; o clamor dos pais, pelo indiferentismo do governo para com a instrução nesta terra, subia já às raias de justificável indignação, tanto mais justa quanto é certo que cidades de menos importância dos sertões do nosso Estado possuem, muitas delas, mais de um estabelecimento de ensino mantidos pelo governo estadual.
O ensino público no nosso Estado - toda a gente sabe - é largamente defendido e muito sabiamente; no entretanto, resultava em contraste a nossa S. Vicente, partícula deste mesmo Estado, sem um grupo escolar, sem mesmo um estabelecimento de ensino capaz de levar seus filhos a obterem os necessários ensinamentos para a grande luta pela vida! E passada a borrasca, que parecia cada vez mais tenebrosa, vem hoje a bonança, aliás muito promissora para o futuro de nossos filhos.
S. Vicente exulta, e exulta com muita razão!
A idéia concebida por Adaucto Felix de Lima e Manoel Henrique de Lima para a fundação desta escola onde a infância vicentina recebesse os rudimentos da instrução, e amparada pelo coronel José Lopes dos Santos, capitão Antão Alves de Moura e Joaquim Duarte da Silva, teve a sua realidade em 10 de junho de 1893, com a fundação da Escola do Povo, que durante dezoito anos viveu com a cooperação de muitos cavalheiros desta terra, entre os quais Francisco Emilio de Sá, Julio Mauricio da Silva, Luiz Yaukens, João Wenceslau Emerick, Alexandre Santos, dr. Percio de Souza Queiroz e Jeronymo dos Santos Moura - espalhando a instrução aos filhos de S. Vicente.Em reunião de diretoria de 18 de junho de 1910, o presidente, dr. Percio de Souza Queiroz, declarou ter recebido cartas e telegramas do sr. secretário do Interior, propondo reunir as escolas públicas desta cidade, na Escola do Povo.Essa proposta foi largamente discutida, ficando resolvido que a diretoria, depois de ouvir a assembléia geral, apresentasse ao governo as condições pelas quais seria aceita a sua proposta.
As bases apresentadas pela diretoria, que julgou satisfazerem os interesses da sociedade, foram as seguintes:

"1ª - Será fundado um grupo escolar no edifício da sociedade;
2ª - Esse grupo terá a denominação de Escola do Povo;
3ª - O governo colocará nesse grupo os professores que a sociedade contratou para o seu serviço e que são diplomados pelo Estado;
4ª - O governo obriga-se a construir um salão com capacidade suficiente para instalação da aula de música e teatro infantil;
5ª - Do terreno da sociedade serão destacados trinta metros e respectivos gradis que continuam a pertencer-lhe, na frente da Praça Coronel Lopes, fazendo esquina com a Avenida Misericórdia e fundos até a Rua Padre Anchieta, e neste terreno será construído o referido salão;
6ª - A sociedade só entrega ao governo o edifício e sua sede, à Praça Coronel Lopes, com sessenta metros de terreno e fundos até a Rua Padre Anchieta, e tirando todos os móveis, utensílios e o mais que nele existe, que continuam a pertencer-lhe".
O governo aceitou as condições acima propostas, com exceção da que se refere à colocação dos professores no próprio Grupo Escolar, por ter dúvida quanto aos mesmos terem o tempo necessário de ensino em escolas públicas, que lhes dê direito a esse lugar, mas comprometeu-se a dar-lhes colocação vantajosa em outras escolas, se a lei não lhe permitisse nomeá-los para o nosso grupo. Também não aceitou o encargo de construir o salão pedido, mas contribuiu com a importância de 15:000$000 para esse fim.
E em assembléia de 15 de julho de 1910 era o edifício da sociedade Escola do Povo doado ao governo do Estado e concedidos ao presidente da diretoria, dr. Percio de Souza Queiroz, todos os poderes necessários para, em nome da sociedade, entregar ao governo o seu prédio à Praça Coronel Lopes, assinando a respectiva escritura de doação.
Em 29 de julho de 1911, após dezoito anos, um mês e dezenove dias, era dissolvida a sociedade Escola do Povo, por não ter mais razão de existir, porquanto, com a entrega do seu edifício escolar ao governo, desistiu de prosseguir nos fins para que foi criada, sendo o seu material escolar entregue à Câmara Municipal de S. Vicente, para uso das escolas municipais. De posse do edifício, o governo do nosso Estado levou cerca de dois anos para adaptá-lo convenientemente para o funcionamento do desejado grupo escolar desta cidade.
Após uma luta insana dos dirigentes do governo municipal, S. Vicente conseguiu ver as portas da instrução abertas para os seus filhos que por aí viviam atirados à ignorância por culpa exclusiva do Estado, que protelava, injustificadamente, os serviços necessários à adaptação do majestoso edifício que se ostenta na Praça Coronel Lopes.
É justificada, pois, a satisfação que desde há dias vem se notando na população vicentina pela instalação, que se verifica hoje, do Grupo Escolar.
O belo edifício está todo internamente engalanado com flores, palmeiras e festões, num aspecto garrido e surpreendente. Os salões das diversas aulas, ornamentados pelos próprios professores, dão uma idéia chique da bela festa de hoje, nesse estabelecimento de ensino.À hora em que lá estivemos ontem, grande era a azáfama na decoração do edifício. Desde a entrada pendem cordões de flores entre palmeiras artisticamente distribuídas.
O Grupo Escolar de S. Vicente, que hoje faz a sua inauguração oficial, está sob a direção provecta do sr. Antonio de Mello Cotrim, e as aulas estão assim distribuídas:

Secção feminina:
1º ano A - professora d. Lucia Bressane - 51 alunas; 1º ano B - professora d. Iracy Nogueira Wuitke - 41 alunas; 2º ano - professora d. Idalina Viégas - 37 alunas;
3º ano - professora d. Maria Adelaide - 37 alunas.
Secção masculina: 1º ano A - professora d. Domitilia Menezes - 61 alunos; 1º ano B - professora d. Amelia Pinto do Valle Moura - 49 alunos; 2º ano - professor Osorio Bella - 48 alunos; 3º ano - professor Carlos Borba - 32 alunos.
As salas dessas aulas acham-se garridamente ornamentadas impressionando agradavelmente ao visitante. Na sala do 3º ano espalham-se pelas paredes escudos homenageando Portugal, Chile, Argentina, Inglaterra, Suíça, Turquia e Espanha, sobre os quais a bandeira do respectivo país entrelaçada com a da nossa pátria. Também vê-se escudos com os nomes do Brasil e Estado de S. Paulo. Na lousa, sobre festões, vêem-se dois escudos com os nomes do dr. Rodrigues Alves, presidente do Estado, e dr. Altino Arantes, secretário do Interior.O sr. Antonio de Mello Cotrim, a fim de que todos que se interessam pelo progresso do ensino público, nesta cidade, possam compartilhar das festas comemorativas da instalação do nosso Grupo Escolar, dirigiu convites especiais somente à imprensa e às autoridades locais, esperando, por isso, o comparecimento de todos os cavalheiros e exmas. famílias.As festas inaugurais terão começo ao meio dia. A essa hora, o diretor do grupo, corpo docente, autoridades locais, representantes do governo e da imprensa percorrerão todo o edifício.
Depois de pequeno descanso, passarão todos para o teatro do Club Vicentino, onde, pelos alunos do grupo, será executado o seguinte programa:

Primeira parte:
I - Hino Nacional, cantado pelos alunos do 3º ano. II - Hino de Saudação, cantado pelas alunas do 1º ano A, feminino. III - "A Escola", poesia pela aluna do 2º ano, Mercedes Cotrim. IV - "A Pátria", poesia pela aluna do 3º ano Mathilde de Souza Queiroz. V - "13 de Maio", poesia pelo aluno do 2º ano, Rubin Cezar Alves. VI - Discurso pelo aluno do 3º ano, Edison Telles.
Segunda parte:
VII - Valsa das Setas, pelas alunas do 1º ano A, feminino. VIII - "Nobre ambição", poesia pelo aluno do 2º ano, David Pimenta. IX - "A Bandeira", poesia, pela aluna do 3º ano, Carmen Vasques. X - "13 de Maio", poesia pelo aluno do 3º ano, Firmino Pacheco Júnior. XI - "A Tosca" (piano e violino) pelo aluno do 3º ano, Mario Santos, acompanhado pela senhorita Noemia Santos.
Terceira parte:
XII - Saudação, pelos alunos do 3º ano. XIII - Discurso, pela aluna do 3º ano, Jenny Roso.
XIV - "A Escola", poesia pela aluna do 3º ano, Leduina Riedel. XV - "As Caravelas", poesia pelo aluno do 2º ano, Renato Pimenta. XVI - "A Escravidão", poesia pelo aluno do 2º ano, Ignacio Requeijo. XVII - "A Esmola do Pobre", poesia pela aluna do 3º ano, Edith Roso. XVIII - "Serenata de Braga" (piano e violino), por Mario Cotrim, acompanhado pela senhorita Durcilia Garcez Freitas.
Quarta parte:
XIX - "Ante a bandeira", poesia pela aluna do 3º ano Vicentina Vianna. XX - "A Bandeira", poesia pelo aluno do 2º ano, Jayme de Moura. XXI - "Hino à Bandeira", pelos alunos do 3º ano. Todos novamente no edifício do Grupo Escolar, e depois do necessário descanso às crianças, será executada a Quinta parte: - Ginástica com bastões pelas alunas do 3º ano. - Ginástica simples pelos alunos do 3º ano. (Fonte: Novo Milênio)

Primeira denominação foi “Escola do Povo”

A história do Grupão começou no dia 10 de junho de 1893, no armazém de secos e molhados do capitão Antão Alves de Moura, onde um grupo de cidadãos vicentinos decidiu fundar a Escola do Povo. A maioria pertencia à Loja Fraternidade de Santos, que auxiliou no trabalho de construção do prédio.A unidade chegou a funcionar provisoriamente na Praça João Pessoa (antigamente conhecida como Largo Batista Pereira) e na Rua XV de Novembro, antes de se transferir definitivamente para a Praça Coronel Lopes, em 1898.Em 1913, a Escola do Povo passou a ser administrada pelo Governo do Estado, que resolveu ampliá-la, construindo um prédio em forma de U, dando fundos para a Avenida Padre Anchieta. Passou a ser denominada, então, Primeiro Grupo Escolar de São Vicente, com oito classes.Em 20 de dezembro de 1979, o Estado mudou mais uma vez a denominação, agora para Escola Estadual de Primeiro Grau Ziná de Castro Bicudo, que permaneceu até a desativação do imóvel como unidade escolar, há cerca de três anos, passando a ser ocupado pela Diretoria Regional de Ensino.A desativação da escola foi justificada pelos investimentos realizados pelo Estado em São Vicente, que ampliou a rede escolar em vários bairros. (A Tribuna, 26 de julho de 2004) Bico de pena de Edson Telles de Menezes do primeiro grupo escolar (grupão) no final do século XIX na Praça João Pessoa.


Certificado de conclusão do 4º Ano da Escola do Povo, frente verso, emitido em 20 de dezembro 1926 ao aluno Silvéro Pandozzi Júnior. Acervo: Waldiney La Petina, sobrinho-neto do diplomado.


ESCOLAS NA IMPRENSA.

ANÚNCIOS E AVISOS DAS ESCOLAS VICENTINAS
 NO JORNAL CIDADE DE SANTOS EM 1967






O jornal Cidade de Santos, em 1967, noticiou em várias edições, o atraso do pagamento de salário das professoras da rede municipal, efetivas e concursadas, e que já durava quatro meses. O Interventor Lincoln Feliciano alegava que conseguia liberar o pagamento por causa de regras tributárias impostas pelo governo federal.



Em primeiro plano, a garagem da SAAV-Superintendência de Abastecimento de Água de São Vicente (incorporada pela SABESP), rua Fernando Costa, 60, esquina com a rua Armando Sales de Oliveira. Aos fundos as obras do prédio da E.E. Sorocabana que já teve os nomes Antônio Pedro e Vila Melo - e hoje EMEF Constant Luciano Clemente Hulmont, que era educador nessa unidade na década de 1970).


DIA DA ÁRVORE








 

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ZINA DE CASTRO BICUDO



A jovem educadora Zina de Castro Bicudo com as mãos nos ombros de um dos seus alunos vicentinos.



ZINA DE CASTRO BICUDO, UMA VIDA VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO
Lizete Moraes* - Maria Suzel Gil Frutuoso**
Ações culturais, sociais e políticas.


Nascida na cidade de Santos em 25 de setembro de 1905, às quatro horas, em casa, na Rua da Constituição 177 B, conforme reza a sua certidão de nascimento e falecida em 19 de outubro de 1977. Filha legítima de Roberto de Campos Bicudo, natural de Capivari e Urbana de Castro Bicudo, natural de Campinas. Neta paterna de Luiz de Campos Bicudo e Thereza do Amaral Mello e neta materna de João Gabriel de Castro e Anna Maria Cordeiro de Castro. Seu pai, o senhor Roberto, mudou-se para Santos em 1887 e conheceu dona Urbana, de tradicional família campineira, na casa de parentes comuns no Guarujá. Casaram-se onze anos depois. A residência do casal fixada na Baixada Santista deveu-se, de acordo com informações da família, à profissão de corretor de café, uma vez que Santos era considerada à época a maior praça cafeeira do planeta, sendo a profissão de corretor, uma das mais prestigiadas. Presume-se que a mudança da família de Santos para São Vicente, por volta de 1909, deveu-se ao clima da cidade ser bem mais ameno, mais aprazível e salutar, com população de número bem inferior à cidade vizinha, oferecendo melhores condições e cuidados para com os pequenos. Bartira, Vasco, Rui, Zina, Yago, Elza, Dirce, Saulo, Maria Luiza e Lucia, compunham a prole do casal Castro Bicudo, respeitado e prestigiado pela comunidade vicentina do século XX, tomando-se como referência as ações que revelaram os valores morais e a dignidade da família.
A relevante atuação e prestígio da família Castro Bicudo é atestada pelo número de homenagens, agradecimentos, medalhas, diplomas de honra ao mérito, cartas e reportagens na mídia impressa, que integram o acervo composto por documentos pessoais. Quando do falecimento do senhor Roberto de Campos Bicudo, a Câmara Municipal de São Vicente prestou-lhe uma homenagem na qual demonstrou a grande consideração pela família Bicudo:
Tendo se dedicado ao comércio cafeeiro, exerceu o ilustre – extinto a gerência de várias firmas, entre elas Lara Toledo & Cia., Ferreira da Rosa & Cia. e, por último,Pedro Mello & Cia. Dentre os seus muitos relevantes serviços, colaborou com os santistas nas campanhasabolicionista e republicana. E trabalhou, Roberto de Campos Bicudo, com todas as suas forças, enquanto as teve; trabalhou, movido por uma inteligência viva e aguda, verdadeiramente incomum, e inspirado por um ideal de probidade cujo cumprimento o eleva ao nível dos varões ilustre das nossas crônicas. As ações de benemerências demonstram o envolvimento da família Bicudo nas questões sociais da comunidade. O senhor Roberto foi agraciado com o Diploma da Irmandade da Terra Santa, indicador dos princípios cristãos e participação ativa na igreja, extensivos aos demais membros da família, a exemplo da professora Dirce de Castro Bicudo, que atuou como assistente do 4º Congresso Eucarístico Nacional.
Roberto de Campos Bicudo, Saulo e Yago de Castro Bicudo emprestam seus nomes a logradouros e Zina à antiga Escola do Povo, o “Grupão”, criada no final do século XIX, (hoje ETEC Ruth Cardoso), marco do ensino primário público em São Vicente, que passou a se chamar no ano de 1979, Escola Estadual de 1º Grau Profa. Zina de Castro Bicudo, em homenagem à educadora. Assim como a família, a formação religiosa e cultural da professora Zina foi aprimorada ao longo de sua vida e dedicada também às ações sociais e de benemerência. A certificação do Curso de Pedagogia Catequética da Liga da Professora Católica da Diocese de Santos, do Colégio Stella Maris, oferecido no período de 14 de abril a 24 de agosto de 1958, demonstram o empenho em sua formação para preparação da vida religiosa dos jovens.
Seus guardados, caprichosamente conservados, tornam-se acervo da memória familiar e da história educacional do município de São Vicente, atestando a relevância e consideração pelo povo e pela cidade que, mesmo não sendo a de sua naturalidade, lhe era muito cara. Em uma folha de papel de caderno, amarelada pelo tempo e escrita com a própria letra consta uma poesia intitulada “Saudação a São Vicente”, sem registro de autoria, que levanta a possibilidade de ser a própria, a autora da poesia.


[...] Cidade encantamentoCélula de outras mil
Tu és um monumento
Da história do Brasil
Teus filhos foram por ínvios caminhos
Entre perigos e lutas sem par.
E, abrindo estradas, construindo ninhos,
Este país lograram dilatar [...]


O encanto dessa mulher não estava em sua aparência física e sim, na cultura, educação, elegância de se conduzir e nas causas que defendia, na dignidade expressa em seu jeito de ser, revelada por seus valores humanísticos, dedicação à família e à comunidade. Era discreta, falava baixo, não se abria muito, mas muito centrada nas atividades pedagógicas. Era uma pessoa muito querida. Nunca usava pintura, séria, focada, grande conhecimento, falava e orientava com disciplina e bondade. Era uma mulher de decisões.
Professora Zina era pessoa admirada na sociedade vicentina, não somente na área educacional, como também nas esferas cultural e política. Além da sua credencial de vicentina, das mais dignas e prestimosas, tem você o título de professora, que conquistou pelos seus méritos próprios, e ao qual tem dado indiscutível relevo no arduíssimo exercício do magistério, em longos anos sem repouso, trabalhando com afinco e patriotismo pela instrução e educação de várias centenas de jovens, esperanças de ontem, realidades de hoje, no sentido do engrandecimento do nosso querido Brasil. Nessa espinhosa jornada, o seu nome fulgura, nessa terra que tanto a quer e que tanto lhe deve, porque você, na realidade, tem sido e é uma batalhadora infatigável, sem desânimos e sem canseira, que tem realizado o máximo possível em benefício da família escolar.[...] Fala-se agora – e eu dou a notícia em primeira mão, plenamente satisfeito – que você, minha distinta conterrânea, vai assumir a direção do Partido Democrata Cristão, nessa terra, afim de pôr em ordem o que se encontra desorganizado.
A assunção da presidência do partido, citado pelo autor do bilhete em sua entusiasmada manifestação, demonstra que a professora Zina era uma pessoa atilada com a política partidária. O Partido Democrata Cristão foi fundado em São Paulo, no dia 9 de julho de 1945, pelo Professor da Universidade de São Paulo, Antonio Ferreira Cesarino Júnior e entre seus membros destacam-se os nomes de André Franco Montoro e Jânio Quadros. Com relação ao Programa do Partido
“[...] se oferecia como alternativa entre o capitalismo liberal e a doutrina socialista revolucionária.” Os democratas cristãos defendiam “[...] os valores familiares e sobre o papel das comunidades intermediárias, no respeito pela propriedade privada, na busca da participação nas relações de trabalho e no pluralismo político”
O programa do partido ia ao encontro dos princípios abraçados pela professora Zina no que tange aos valores cristãos e familiares e a sua postura, uma vez que não se limitava à mera expectadora da realidade. Ela atuou como primeira Secretária do Conselho Deliberativo da Sociedade de Assistência à Infância, fundada em 26 de setembro de 1941, na cidade de São Vicente; também como primeira Secretária da Diretoria da Associação Feminina Santista em Santos. Foi componente da Comissão de Alfabetização de Adultos da cidade de São Vicente e trabalhou para expansão das escolas nos bairros de Guamium, Barreiros e Nossa Senhora do Amparo.
Uma das causas acompanhada e defendida pela professora Zina foi, sem dúvida, a oferta de instrução de qualidade na Baixada Santista e que não se limitava ao discurso teórico enriquecido pelas leituras e questões sempre atualizadas, mas especialmente pela força de sua atuação fomentada pelo espírito de luta e defesa de ideais.
Em sua participação na enquete “A que atribui a decadência do ensino?
”, Zina expressa: Prefiro, no entanto, considerar o estado atual do ensino não propriamente como decadente, mas como culminante de uma crise de crescimento em que a quantidade dos que procuram se instruir forçosamente prejudicou a qualidade. Convenhamos, porém que a quantidade também é uma boa qualidade, pois é índice seguro da aspiração de progresso de nosso povo. Tempo houve em que os serventes dos grupos saíam pelos arrabaldes recrutando crianças e multando os pais displicentes, ao passo que hoje, nos dias em que se abrem as matrículas, vemos os diretores das escolas públicas em dificuldade para atender o grande número de candidatos e evitar atropelos. O desenvolvimento do Brasil tem sempre ultrapassado a previsão dos nossos homens de governo, forçados assim a solucionar as situações já criadas e impossibilitados de lançar planos que atendam as necessidades futuras. Contudo, se não queremos tachar de decadente a instrução, não podemos sem fugir à realidade, deixar de constatar a sua deficiência, quer no curso primário, quer no ginasial.
A enquete, que contou com a participação de eminentes figuras do ensino, foi acompanhada e elogiada por autoridades ligadas à educação e pela sociedade. Participaram, além da professora Zina, então professora do Colégio Stella Maris e do Liceu Feminino Santista, o Dr. Simões Filho, ministro da Educação e Saúde, a Sra. Lúcia Magalhães, diretora do Ensino Secundário no Brasil, Prof. Paulo A. Siqueira, catedrático do Colégio Estadual Canadá e o Dr. Paulo de Almeida, cirurgião dentista, que embora não sendo professor, manifestou sua opinião a respeito do tema no seu papel de pai de aluno.
A opinião de Zina era requisitada e respeitada nos mais diversos assuntos. Fato confirmado por documentos analisados, declarações dos entrevistados e as lembranças de sua sobrinha Marília Dreyfuss.
À sua atuação como educadora, soma-se a prática de ações sociais e de benemerência, que foram constantes em sua vida. Em janeiro de 1927, ainda com 22 anos de idade, recebeu o Diploma de Irmã Honorária da Irmandade do Hospital São José e o Diploma de Sócio Honorário da Associação Protetora do Hospital São José. Agraciada em agosto de 1952 com o Diploma de Irmão Benfeitor da Irmandade do Hospital São José; em 8 maio de 1955, com o Diploma de Sócio Benfeitor da Sociedade de Assistência à Infância e em maio de 1962, foi-lhe conferido o Diploma de Mérito pela colaboração prestada à Cruzada pela Sobrevivência da Santa Casa.
Cabe ressaltar a sua atuação em ações culturais. Ocupou a Cadeira número 45 como membro do Instituto Histórico Geográfico de São Vicente, cujo patrono é o padre Luiz da Grã.
Dentre as inúmeras atribuições, o canto coral mereceu grande atenção. Constam em seu acervo fotografias e recortes de jornais, que registram a participação de suas irmãs e de sua mãe e testemunham a música como parte relevante da cultura familiar.
Em outubro de 1955, foi homenageada pelo Coral de São Vicente com o Diploma de Honra ao Mérito, pelo reconhecimento por sua colaboração ao grupo, regido e dirigido à época pelo maestro Azevedo Marques. D. Zina de Castro Bicudo, sem dúvida alguma a alma e vida do conjunto, pronunciou em seguida belíssima saudação, agradecendo ao Atlântico e a todos seus esforços e compreensão, embora arrostando sacrifícios para atingir aquele louvável grau de aperfeiçoamento.
Falaram ainda, o dr. Alberto Lopes dos Santos, componente do coral, e o maestro José Jesus de Azevedo Marques, este agradecendo as simpáticas referências feitas à sua pessoa e a homenagem à sua esposa.
Professora Zina deixava-se envolver e comprometia-se com rigor e responsabilidade em todas as áreas nas quais se propunha a atuar.

Formação Acadêmica

Entre os documentos pessoais analisados, não foram encontrados registros sobre a sua formação docente inicial e documentação que comprove ter realizado o Curso Normal; o que seria possível somente se tivesse estudado em outro município, que não os que constituem os da Baixada Santista.
Entretanto, considera-se a hipótese de ter sido uma das alunas do Liceu Feminino Santista, que oferecia, desde o ano de 1902, o “Curso Superior de Professora de Escolas Preliminares ou Diretora de Escolas Maternais e Curso Complementar de Professora de Escolas Maternais”. Liceu Feminino, um marco na formação de professores A cidade de Santos contava para formação de docentes desde 1902 com o “Liceu Feminino Santista”. Teve seu primeiro pedido de equiparação oficial no ano de 1905, solicitação encaminhada pela Associação Comercial de Santos. Negada a equiparação pelos poderes públicos, continuou a funcionar “como uma verdadeira Escola Normal Livre”. Registrada em 1937 como professora particular de curso primário e, em 1947, através do Certificado emitido pela Secretaria de Ensino Secundário, Decreto Lei 8.777 de 22 de janeiro de 1946, obteve a habilitação para lecionar Português, Geografia Geral e Geografia do Brasil no Segundo Ciclo, em qualquer parte do território nacional. De acordo com o decreto número 19.890 de 18 de abril de 1931, disposto em seus artigos 68, 69 e 70, o “Registro de Professores” determinava condição e possibilitava a autorização para lecionar no ensino primário e nas disciplinas do currículo do ginásio, mediante critérios de avaliação específicos. Cumpre ressaltar, entre esses critérios, a competência para a função docente, comprovada através do conhecimento das áreas específicas e da didática. O acesso a cursos de formação e de atualização não eram comuns na Baixada Santista, assim como em São Paulo, com ofertas praticamente escassas em uma época em que os meios de transporte eram limitados. O compromisso da professora Zina com o investimento em seus conhecimentos pedagógicos e de gestão administrativa, buscados na literatura, na observação e análise das práticas e dos resultados, amplia a admiração por esta mulher que superou dificuldades e obstáculos e encontrou caminhos que levaram à realização de projetos isentos de fins individuais e, sim, voltados à sociedade vicentina.
Diplomou-se no Curso Superior de Língua Francesa pela Associação de Cultura Franco Brasileira de Santos, Aliança Francesa, em dezembro de 1950. Em janeiro de 1951, recebe o diploma da “Ecole Pratique de Langue Française”.

Atuação Profissional

Ainda bem jovem já atuava na formação de crianças como professora ou auxiliar de turma. A instituição “Externato Moderno São Vicente”, como consta na figura número 4, não foi identificada em registros históricos sobre as escolas do município de São Vicente ou na cidade de Santos. O primeiro registro como professora é pelo Ginásio Stella Maris, em Santos, datado de 15 de maio de 1928, constando sua saída em maio de 1946. O segundo registro é no Colégio Alemão, em março de 1930; trabalho concomitante ao do Colégio Stella Maris.
Em 1931, funda o Colégio São Paulo no município de São Vicente. Retorna ao Colégio Stella Maris em março de 195129, permanecendo na instituição por um ano. Pela Associação Feminina Santista lecionou de setembro de 1934 a março de 194330, retornando à Associação em março de 1949. Integra a Diretoria da Associação Feminina Santista nos anos de 1952 e 1953, como primeira Secretária32. Ingressa no Colégio Tarquínio Silva em maio de 1953, permanecendo até fevereiro de 1957.
Em maio de 1953, ao completar 25 anos de atividade docente, recolheu aposentadoria de todo o salário e, em março de 1964, retorna às atividades e assume a direção do primário do Colégio Stella Maris.
Destacou-se pela atuação como docente em escolas renomadas da cidade de Santos; concomitantemente, atuou como administradora e gestora do Colégio São Paulo; inicialmente no endereço de residência de sua família e,posteriormente, como Ginásio Martim Afonso, contemplando com satisfação a demanda de jovens e de seus pais por uma instituição ginasial em São Vicente.
Colégio São Paulo

Em São Vicente a Escola do Povo, conhecida popularmente como Grupão e mais tarde Grupo Escolar de São Vicente, oferecia o Curso primário atendendo crianças nos primeiros anos escolares. Entretanto, uma parcela da população optava por enviar os filhos às escolas particulares, que geralmente funcionavam na residência das professoras.
Nesse contexto é criado o Colégio São Paulo, pelas irmãs Castro Bicudo, ocupando a função de diretora a professora Zina. Essa instituição passou a atender a uma clientela com condições financeiras, para arcar com as despesas de uma educação privada, com salas menos numerosas.
Em 1931, iniciaram-se as atividades do Colégio São Paulo na praça Coronel Lopes, número 28, esquina com a rua João Ramalho, estendendo-se até à rua Padre Anchieta, em São Vicente. Alguns relatos coletados nas entrevistas afirmam que o prédio da escola era um casarão construído em um terreno grande, na residência da família Bicudo, vizinho à Escola do Povo. A demanda pelas matrículas e a mudança da família para a Rua XV de Novembro obrigou a busca por espaços mais amplos: Com o crescimento da escola que alcançou grande prestígio pelo seu alto padrão educacional o colégio transferiu-se em 1934 para o prédio da praça Coronel Lopes, esquina com a Praça da Bandeira. Em 1936 por necessitar de maior área construída, para ampliação de suas classes, o Colégio São Paulo foi transferido para a Rua Martim Afonso, instalando-se na antiga casa do pintor Benedito Calixto (hoje nº 190), de onde se mudou em 1939 para a Rua 11 de Junho [...], para funcionar como o Primeiro Ginásio de São Vicente.
O empreendimento, que requereu uma série de providências burocráticas, organização de espaços e currículos, recebeu em 03 de abril de 1933 autorização de funcionamento da Diretoria Geral de Ensino; órgão, à época, responsável pela autorização e acompanhamento das unidades escolares na região.
Cabe ressaltar os fundamentos legais que amparavam a iniciativa dos educadores empreendedores e mantenedores do ensino particular, fiscalizados por inspetores para o cumprimento do disposto no artigo 149, páginas 45 e 46, do Código de Educação do Estado de São Paulo, decreto número 5.884 de 21 de abril de 1933:
O Serviço de Orientação e Fiscalização do Ensino Particular tem por objetivo fiscalizar as escolas particulares de todo o território do Estado, velando por que nelas se cumpram as disposições deste Código, e orientar o ensino nesses estabelecimentos, respeitada a autonomia didática de seus professores, de modo a dar-lhe feição condizente com os interesses nacionais.
A autora do empreendimento buscou oficializá-lo, apesar das exigências burocráticas que deveriam ser cumpridas, prevendo a regularidade da situação escolar das crianças matriculadas e a idoneidade do colégio. O registro do acompanhamento da inspeção de ensino, iniciado em 1933, é testemunho da dedicação e do cuidado em manter uma instituição cumpridora das políticas educacionais e dos parâmetros relativos à qualidade do ensino.
“Em visita ao Colegio São Paulo, modelar instituto de educação inteligentemente dirigido pela professora Zina de Castro Bicudo, observei muita ordem e disciplina. Examinei os cadernos de trabalhos gráficos dos alunos, que revelam adiantamento, prova de que aqui as professoras trabalham com carinho pelo progresso dos alunos. Conversei com as senhoritas professoras aconselhando o uso das series de linguagem escrita. Dei instrução detalhada sobre a maneira de se fazer corretamente escrituração escolar. É indispensável que se faça mensalmente separados por classe os resumos do movimento, de sorte a ser facilitado, ao fim do ano letivo, o preparo das estatísticas oficiais”.
São Vicente, 31-08-1933. Malaquias de Oliveira Freitas. Inspetor de Ensino Particular.

O Colegio São Paulo, otimamente instalado e com excelente material didático, está em condições de mercê também da dedicação e cultura do seu corpo docente, de dar ótima instrução ás crianças que o frequentam. Estão matriculados 68 alunos – 35 meninos e 33 meninas. Examinei em geografia os alunos do 2º ano. São Vicente, 2 de agosto de 1934.
Malaquias de Oliveira Freitas. Inspetor de Ensino Particular.
A administração do Colégio São Paulo não provocou o desligamento de Zina como professora de escolas da rede privada em Santos, comprovado pelos registros em Carteira Profissional, aumentando seu compromisso como docente e gestora. Exerceu a função de diretora da escola, enquanto suas irmãs, Dirce e Elza atuavam como professoras. A equipe, composta pelas irmãs Bicudo, inovou a educação em São Vicente, quando atendeu a demanda das famílias da classe média do município: “Foi o consolidador do ensino particular de São Vicente [...] o mais completo colégio particular, com Jardim de Infância e Primário e posteriormente o 1º Ginásio, com o nome MARTIM AFONSO”.
Manifestando admiração e reconhecimento pela iniciativa e pelo trabalho das irmãs Castro Bicudo nessa instituição educacional, vale ressaltar o artigo escrito por “Um Vicentino” no Jornal Gazeta de São Paulo: UM ESTABELECIMENTO DE ENSINO QUE HONRA S. VICENTE
O Collegio S. Paulo, fundado recentemente na vizinhacidade, sob a direção da senhorita Zina Bicudo, realizou ante-hontem, no pitoresco recanto do “Bugre”, a sua festa de encerramento do ano lectivo.
A interessante reunião, de cujo programma constaram numeros de declamação, canto e representação de ligeiras peças theatraes pelos alunos de ambos os sexos, proporcionou á festa o ensejo de avaliar o grau de adiantamento das creanças, dando aos seus papeis um desempenho á altura de verdadeiros artistas de 4 a 12 anos de edade...
A todos impressionou a veia artística dessa “troupe” infantil que se exhibiu no teatrinho do “Bugre”, revelando todos os seus componentes a instrucção aprimorada que vêm recebendo no conceituado collegio da praça Coronel Lopes.
É o contraste evidente dos velhos processos de ensino em nosso paiz, quando a palmatoria figurava ainda como elemento decisivo no despertar das nossas energias intellectuaes...
Apavora-me essa rotina seguida pelos nossos antigos educadores querendo modelar cérebros á sua imagem, sem jamais favorecer o desenvolvimento da personalidade com a experiência que os tempos iam proporcionando na sua contínua sucessão.
Presente á festa do “Bugre” e á exposição brilhante dos trabalhos manuais executados pelos alunos durante o anno, senti-me orgulhoso dessa manifestação inegável do progresso de minha terra, através da cruzada educativa, moderna e proveitosa, em que se empenham as prendadas irmãs Bicudo.
“Coordenando, organizando, unificando as forças culturaes, penetrando ao coração de nossa creança, através de uma didactica persuasiva, sustentada pela razão clara e firme, pela demonstração viva e palpitante”, o Collegio S. Paulo vae executando um trabalho digno de admiração e do apoio incondicional da população vicentina.
Que essa tarefa prossiga sem vacilações por parte das competentes educadoras de São Vicente, - a tarefa árdua, mas sublime do magistério - pois, como disse Froebel: “Educação - exemplo e amor - nada mais”.
Relatos de alguns dos entrevistados e registros deixados pela professora Zina denotam que essa educadora e suas irmãs possuíam concepções de escola e práticas que possibilitavam ao educando: aprender fazendo; método defendido por Anísio Teixeira, fundamentado nas teorias de John Dewey.
A jardinagem, a preparação das crianças para atuar na encenação de textos, escritos ou adaptados de histórias infantis pela professora Zina, o canto e a participação de um senhor que vinha de Santos e que ensinava a fazer os cenários das peças teatrais, podem ser consideradas práticas inovadoras adotadas pelo Colégio São Paulo, em uma cultura escolar que adotava as lições e exposição dos docentes como única maneira de aprender.
O testemunho da senhora Déa, ex-aluna do Colégio São Paulo, relata que a professora Zina e irmãs eram pessoas muito cordiais e na escola havia um ambiente de aconchego e grande interesse pelas crianças: “Além das aulas normais do curso primário, havia um jardim, um quintal com plantas e as crianças plantavam e cuidavam de plantinhas. Além das brincadeiras no recreio, havia passeios instrutivos na praia.[...] Dona Zina era uma pessoa educada, inteligente, culta e elegante. Tinha firmeza em suas opiniões”.
As práticas pedagógicas desenvolvidas pelas professoras concordavam com o disposto no artigo 238 do Código de Educação do Estado de São Paulo, decreto número 5.884 de 21 de abril de 1933, página 67:
O ensino terá como base essencial a observação e a experiência pessoal do aluno, e dará a este largas oportunidades para o trabalho em comum, a atividade manual, os jogos educativos e as excursões escolares.
§único – O uso de manuais escolares, indispensáveis como instrumentos auxiliares do ensino, deve ceder a passo, sempre que possível, a exercícios que desenvolvam o poder de criação, investigação e crítica do aluno.
É possível reconhecer a espontaneidade e alegria dos grupos de crianças nos registros de atividades realizadas fora do espaço escolar e que já demonstram “o estudo do meio” como recurso de uma prática que possibilita ao educando aprender através da observação, coleta e organização.
Para os sobrinhos da professora Zina, a leitura dos livros de histórias em capítulos à noite era extremamente agradável e inesquecível. Arrisca-se afirmar que o objetivo era o de despertar o interesse pela leitura e a curiosidade; um dos caminhos para incentivar a construção do conhecimento. Não houve relatos dos ex-alunos entrevistados sobre essa prática; entretanto, defende-se que nessa situação concepções apropriadas são incorporadas às posturas pedagógicas e didáticas dos educadores.
Nos registros escolares dos alunos encontram-se, entre outros, os nomes de Paulo Horneaux de Moura Filho e suas irmãs Clélia e Célia, Fernando Lichti, Maria de Lourdes Retz Lucci, Maria Luiza e Lucia de Castro Bicudo, Regina e Roberto Sandall, Carmelita Ribas d’Ávila, Odette Mello, Mercedes e Adolpho Teuber, Wanda Caldeira, Renee Paiva, Flavio Gil Curado, Ady Gardon, Altair C. Terra, Cremilda dos S. Silva, João França Neto, que aprenderam as primeiras letras no Colégio São Paulo. Em 22 de janeiro de 1939, o Colégio São Paulo transforma-se no primeiro ginásio da cidade, com o nome de Ginásio Martim Afonso, mantendo o curso primário.

Ginásio Martim Afonso

A rua 11 de Junho, no bairro da Boa Vista, foi o último endereço do Colégio São Paulo e o primeiro do Ginásio Martim Afonso. Constata-se algumas informações divergentes sobre a instalação do Ginásio Martim Afonso; sem dúvida trata-se do antigo “Colégio São Paulo”.
O relato da senhora Cecília, que atuou como professora no Colégio São Paulo e mais tarde como secretária do Ginásio Martim Afonso, responde em parte, ao questionamento sobre o aporte financeiro da professora Zina para o investimento:
Dona Zina amadureceu a ideia de não ter só quatro anos de aula. A ideia dela era pra frente [...] e o colégio não tinha vaga, estava apertado. Os bancos eram aqueles bancos antigos de dois lugares e a Boa Vista inteirinha era de palacetes de estrangeiros que trabalhavam no café. Era um bairro de elite. Então, o pessoal de lá se juntou e foi falar com Dona Zina. Disseram que era muito difícil eles mandarem todo o dia para o Colégio Stella Maris, quando a pirralhada chegava no quarto ano. Perguntaram se Dona Zina não queria que o Colégio virasse um ginásio, porque assim as crianças entravam e faziam todos os quatro anos primário e mais os cinco do ginásio. Eu não participei disso, eu só soube como é que aconteceu.
O Jornal “A Tribuna” publicou em duas notícias, datadas de 13 de outubro e 04 de dezembro de 1938, sobre a criação de um Ginásio em São Vicente, demonstrando que já havia cogitações nesse sentido: “O seu corpo docente será composto por pessoas de reconhecida competência e idoneidade, constando mesmo que a direção dessa nova casa de ensino será confiada a conhecido e emérito educador aqui residente”.
O Ginásio é fundado em 22 de janeiro de 1939, na cidade de São Vicente, com o nome de Ginásio Martim Affonso, situado na rua 11 de Junho,número 43, onde já funcionava o Colégio São Paulo. É feita a fusão entre o curso primário, oferecido pelo já reconhecido colégio administrado pela professora Zina, e o curso ginasial, tão aguardado pela sociedade vicentina.
Em um mesmo informativo consta uma comunicação da professora, então mantenedora do Colégio São Paulo, e outra, dos signatários do Ginásio Martim Affonso, esclarecendo a fusão, divulgação e convite à matrícula:


Exmo. Senhor.
Venho, pela presente, comunicar-lhe que tendo recebido dos Snrs. Drs. Luiz Silveira, Adelino Leal e Antenor Paz, a proposta para fundir o meu Colegio São Paulo com o modelar Ginasio que se propunham fundar, considerei, primeiramente, o interesse dos alunos. Entre as vantagens que lhes adviriam dessa fusão, ressalta o fato de poderem completar a educação no mesmo estabelecimento, não sofrendo assim os prejuízos consequentes de alterações no método de ensino ou no sistema de educação. Reconhecendo, tambem, a importancia do empreendimento e, principalmente, a relevancia dos nomes que o encabeçam, deliberei aceitar o honroso convite para cooperar na realização de um justo desejo do povo vicentino.
Dess’arte, a 22 de janeiro de 1939, será inaugurado o sucessor do “Colegio São Paulo”, o “Ginasio Martim Affonso”, que será dirigido pelo Snr. Dr. Luiz Silveira, homem cujas altas qualidades morais e intelectuais prescindem de qualquer referencia minha, visto serem sobejamente conhecidas pela sua atuação, não só no magisterio superior , como na imprensa, e nos elevados cargos que tem desempenhado.
Farão parte, também, da Diretoria, os srs. Dr. Adelino Leal, ex-Diretor do Laboratorio Bromatologico do Estado de São Paulo e fundador dos Ginasios Oswaldo Cruz e Minerva e Antenor Paz, cuja cultura já é bastante conhecida em nosso meio. O Curso Primario continuará sob minha direção, e o ensino será ministrado pelas mesmas professoras. Assim poderão os alunos usufruir de todos os melhoramentos que serão introduzidos, e receberão a instrução por métodos pedagogicos já experimentados e eficientes.
Assim sendo, espero que o “Ginasio Martim Affonso” continue a merecer-lhe a preferencia, pois, auxiliada pelos valiosos elementos aos quais me associei, sinto--me mais capaz de corresponder á confiança com que V. Exa. Sempre me honrou e mais apta a atender-lhe a justas exigencias relativas á instrução e educação de seus filhos.
Respeitosas saudações
Zina De Castro Bicudo

Da parte do “Ginasio Martim Affonso” apresentam-se os senhores Luiz Silveira, Adelino Leal, Antenor Paz e a própria professora Zina de Castro Bicudo expondo os objetivos do “Ginasio”:

[...] ministrar a instrução primaria e secundaria a alunos de ambos os sexos. Terá, ainda, um curso comercial e um Jardim da Infancia onde serão admitidas creanças de 5 a 7 anos de idade. [...] Não tendo sido possível aos organizadores do Ginasio, por angustia de tempo, socilitarem inspeção federal para o estabelecimento, o curso ginasial e do comercio só poderão ser iniciados em março do ano vindouro50.

Entretanto, a sociedade entres os signatários foi encerrada em 9 de agosto de 1939, uma vez que:
[...] em virtude de disposições do decreto federal, o ministério da Educação resolveu suspender o registro de professores para o curso secundário, estabelecendo ainda que, de 1943 em deante, só poderiam lecionar as matérias desse curso os diplomados pelas Faculdades de Filosofia, Ciencias e Letras. Em conseqüência dessas novas disposições teria o Ginasio de contratar professores devidamente habilitados para iniciarem o curso ginasial em 1940. Isso importaria em aumento de despesas que a receita prevista não comportaria. [...]
Submetido o assunto á deliberação dos quotistas presentes, resolveram estes, por unanimidade, dissolver o contrato firmado em 5 de janeiro do corrente ano e que tinha por escopo explorar o Ginasio Martim Affonso. As despesas com o Ginásio praticamente consumiam os investimentos mensais dos cotistas. Quando a sociedade foi desfeita ficou resolvido que:
[...] a desistencia de toda e qualquer reclamação referente ás quotas subscritas, cedendo, como cedem, todos os seus direitos, sem indenização alguma, á quotista


D. Zina de Castro Bicudo que, como diretora do Colegio São Paulo, entrou para a Sociedade com o ativo do mesmo Colegio constante do material escolar e do nome do estabelecimento, sem divida alguma, e dirigiu e lecionou no Ginasio até esta data sem receber remuneração de qualquer especie.
Embora, sem a autorização imediata do Departamento Nacional de Educação, os esforços da professora Zina para contemplar as exigências do decreto número 21.241 de 04 de abril de 193253 foram hercúleos. Resiliente, assumiu a incumbência de levar adiante o projeto ansiado e apoiado pela sociedade vicentina e, no ano de 1940, reitera o pedido de autorização e abre as matrículas para o curso ginasial. Está, pois o nosso Ginasio por muitos motivos fadado a um êxito certo e a um futuro muito promissor, sobretudo porque, para vencer as primeiras dificuldades da sua instalação, congregou os elementos essenciais á sua estabilização: o apoio e o prestigio da Prefeitura, o esforço e a competência de Corpo Docente, o estimulo e a confiança dos pais dos alunos e a simpatia geral do povo de S. Vicente.
O valor do depósito, que deveria ser feito na Tesouraria Geral do Ministério da Educação e Saúde, era superior aos seus recursos financeiros e ao manifestar a dificuldade, contou com a colaboração dos pais dos alunos devido à confiança e respeito que cultivara com seu trabalho e o de suas irmãs. Mas não foram somente as questões financeiras para o depósito inicial, exigido pelo Departamento Nacional de Educação para concessão de inspeção a estabelecimentos de Ensino Secundário, que tornaram espinhoso o desenvolvimento do sonhado projeto da comunidade vicentina. O prédio da rua 11 de Junho não correspondia às exigências da legislação em relação ao espaço físico e a luta tornou-se árdua. Empreendeu todos os esforços possíveis, chegando a solicitar pessoalmente a intervenção do Ministro da Educação, Sr. Gustavo Capanema, enquanto aos que creditavam-lhe confiança em sua competência, buscava meios junto ao presidente Getúlio Vargas.

Com autorização do Snr. Prefeito foram passados ao chéfe da Nação, o Dr. Getulio Vargas, ao Ministro da Educação, Dr. Gustavo Capanema, telegramas subscritos por diversas pessoas que pediam fosse suspensa a ordem de fechamento. Ainda o Snr. Pires do Rio pediu a intercessão de seu amigo D.R. Rodrigues Alves Sobrinho, então Secretário do Estado, que muito se interessou pelo caso. Como depois de decorridos 2 meses nenhuma solução favorável se tivesse obtido, a conselho do Sr. Secretário e com sua recomendação segui para o Rio afim de tratar pessoalmente do assunto.

Firmado o compromisso de providenciar “[...] uma instalação conveniente ao ginásio[...]57, a Sra. D. Francisca Richard, proprietária do imóvel na Rua José Bonifácio nº 14, propôs à professora Zina sua compra e “[...] Generosamente e sem fito de lucro o Snr. Harols La Domus efetuou a compra do prédio para transferi-lo ao ginásio[...]”.



Fachada da Pensão Familiar, de Iracema de Oliveira Ross, nos anos 1930, imóvel de propriedade de Francisca Richard, na Rua José Bonifácio, 14, onde mais tarde seria construído o prédio do Ginásio Estadual Martim Afonso de Souza( anexando os números 42 e 102).  Acervo familiar publicado na tese "Zina de Castro Bicudo, uma vida voltada para a educação", das pesquisadoras Lisete Moraes e Maria Suzel Gil Frutuoso. Revista Leopoldianum. Ano 41, 2015 nºs113, 114 e 115

Após obtenção da ordem de prosseguimento das atividades educativas do ginásio, através da intermediação do senhor Rodrigo Pires do Rio e do Dr. Rodrigues Alves Sobrinho, iniciaram-se os estudos para a reforma do prédio, que contou com o auxílio do prefeito de São Vicente, o engenheiro Polydoro de Oliveira Bittencourt. Em junho de 1.943 foram inauguradas as atuais instalações do ginásio e em dezembro, afim de melhor garantir a sua estabilidade, com empréstimo conseguido por intermédio do Snr. Pires do Rio, adquiri o imóvel e hipotequei-o para pagar algumas das dívidas contraídas com a reforma. Chama a atenção o fato da numeração do edifício variar em alguns documentos, na hipótese de ter havido a unificação de imóveis. São citados os números, 14, 42 e atualmente 102. Sob a administração da professora Zina a escola formou cinco turmas. Mas os gastos acumulados durante os anos de batalha, os juros da hipoteca da casa, os custos com o material didático e a justa valorização dos salários dos professores, não permitiram que prosseguisse. Por isso, outra batalha iniciou-se por volta de 1945: para não fechar as portas ofereceu o Ginásio à Prefeitura, comprometendo-se a acompanhar e colaborar no que fosse necessário, pois sabia que muitos jovens dependiam da instituição para que continuassem estudando.

“Em 23 de fevereiro de 1948 por proposta do Deputado Lincoln Feliciano, a Lei nº 7560” “[...] creava o Ginásio Estadual em S. Vicente, o Ginásio Martim Afonso dava por concluída a sua missão[...]61” passando oficialmente a funcionar através da administração do Estado de São Paulo em 28 de abril de 1948.
Embora a Constituição de 1934 instituísse o direito de todos à Educação, não havia de fato a democratização do ensino, sendo furtada a muitos a possibilidade de conclusão da educação primária. A obrigatoriedade passa a vigorar a partir da Carta Magna de 1988, artigo 245, reforçada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação número 9.394 de 1996, quando a educação passa a ser Direito Subjetivo.
Assim, ampliar o número de escolas no município de São Vicente, representava para professora Zina a oportunidade de oferecer aos munícipes uma opção de manter suas crianças estudando próximo de suas residências e uma educação diferenciada, de acordo com seus ideais pedagógicos e capacidade de administrar recursos humanos e materiais.
O Colégio São Paulo, além do valoroso trabalho educativo desenvolvido por cerca de oito anos, foi a gênese do Ginásio que manteve, por muitos anos, o prestígio de uma escola responsável pela formação acadêmica dos jovens, da alfabetização à formação secundária. O percurso empreendido da escola primária, Colégio São Paulo ao Ginásio Martim Afonso, exigiu vontade, abnegação e capacidade de administrar as adversidades na concretização do sonho em realidade. Sonho este que não foi só da professora Zina, mas de jovens e de suas famílias para que pudessem prosseguir seus estudos.
As dificuldades financeiras enfrentadas por Zina de Castro Bicudo na educação vicentina, durante os anos em que lutou pela autorização do ginásio e pelo necessário investimento na estrutura física do prédio da escola, não abalaram seu compromisso para com uma educação de qualidade, fundamentada em teorias, princípios e valores coerentes e alinhados com sua postura e prática.
A cidade de São Vicente contou com o protagonismo de uma empreendedora que investiu no capital humano, defensora das mais valiosas moedas que se podem deixar como herança: dignidade e conhecimento. (REVISTA LEOPOLDIANUM ANO 41 2015)

* Licenciada em Desenho e Plástica pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e em Educação Artística pela Faculdade de Artes Plásticas Santa Cecília (UNISANTA). Cursou Licenciatura em Pedagogia na Faculdade Dom Domenico. Mestre em Educação pela Universidade Católica de Santos( U N I S A N T O S ) .
** Licenciada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santos ( U N I S A N T O S) . Mestre em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP).

Fontes entrevistadas
Aniloel Serpa Gomes - Nasceu em São Vicente – SP no dia 13/10/1926. Professor,Técnico em Contabilidade e Advogado. Entrevistado em 10/01/2007, por Lizete Moraes.
Cecília Pires Gonçalves Moreira – Nasceu no dia 19/10/1918. Exerceu a função de professora primária e a primeira Secretária do Ginásio Martim Afonso. Entrevistada em 16/09/2008, por Lizete Moraes e Maria Suzel Gil Frutuoso.
Déa Vilela Peckolt – Nasceu em Santos – SP no dia 03 de janeiro de 1928. Exerceu a função de professora primária e auxiliar administrativa do Liceu Feminino Santista. Foi aluna do Colégio São Paulo e primeira Secretária da Mesa das Assembleias da Associação Feminina Santista em Santos, 1952. Entrevistada em 11/05/2016, por Lizete Moraes e Maria Suzel Gil Frutuoso.
Fernando Martins Lichit – Nasceu em Santos – SP no dia 27 de julho de 1925. Historiador e escritor. Foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente – SP. Entrevistado em 19/08/2008, por Lizete Moraes e Maria Suzel Gil Frutuoso.
Maria de Lourdes Retz Lucci – Nasceu em São Vicente – SP no dia 21/02/1923. Formou-se Técnica em Contabilidade e foi Diretora da Fazenda da Prefeitura Municipal de São Vicente – SP . Entrevistada em 04/01/2007, por Lizete Moraes.


"GEMA"- 26/08/23- SÁBADO. "A ESCOLHA"


Hoje retorno à década de 40 quando aos 7 anos de idade iniciei à minha carreira escolar no Colégio D. Pedro ll em São Vicente. Ali aprendi o be a ba. Em seguida fui para uma escola municipal à fim de terminar o curso primário. Até ali fui um ótimo aluno, sem falhas e sem outros objetivos.
Depois prestei exame de admissão e entrei no Colégio Martim Afonso. Naquele tempo era uma escola particular pertencente à família Bicudo. Mais tarde o Estado o encampou e passou a chamar-se "Ginásio Estadual Martim Afonso", mais conhecido como "GEMA". Alí fiz o curso ginasial.
Aos 11 anos comecei a gostar de esportes e dei inicio à pratica de varias modalidades. Nadava no Tumiaru e ali também iniciei no vôlei e no basquete. Com isso comecei a jogar vôlei e basquete no Gema. Praticava o atletismo na praia, e no gol defendia o E.C.Beira Mar na várzea.
À partir dali deixei de ser um bom aluno. Minha cabeça deu uma reviravolta e passei a me dedicar ao esporte de forma mais intensa. Um certo dia comecei a sentir palpitações cardíacas e à conselho médico diminui as minhas atividades. Fiquei só com o basquete, meu preferido.
Próximo das quadras, foi a melhor escolha. Muito cedo comecei a me destacar e não deu outra. Aos 16 anos fiz a minha transferência para Piracicaba. Em seguida fui convocado pela 1ª vez para uma seleção brasileira adulta, atuando por quase 20 anos de forma ininterrupta! Wlamir Marques



Wlamir Marques (São Vicente, 16 de julho de 1937),ex-jogador de basquetebol brasileiro. Fez parte da geração de ouro do basquete nacional bicampeã mundial em 1959 em Santiago, no Chile, e em 1963 no Rio de Janeiro. Professor de Educação Física e cronista e comentarista da ESPN Brasil. Ganhou o título de Cidadão Emérito de São Vicente. Foi premiado com o Cruz do Mérito Esportivo (1953), Troféu Heims de Melhor Atleta da América do Sul (1961) e a Medalha do Mérito Esportivo. A edição brasileira da Revista ESPN apontou Wlamir Marques como 9º maior atleta brasileiro de todos os tempos, em uma lista de 50 nomes publicada em novembro de 2010.Em 2023 entrou para o Haal da Fama da FIBA, entidade internacional de basquete.

Aos dez anos de idade, Wlamir Marques já jogava pelo Tumiaru. No ano seguinte em 1953, Wlamir passou a jogar pelo XV de Piracicaba, onde aprimorou o seu jogo, até que, aos 25 anos foi contratado pelo Corinthians em 1962. Foi dez vezes campeão do Campeonato Paulista de Basquete: em 1957 e 1960 com o XV de Piracicaba e 1964-1971 com o Corinthians. Além disso, com a seleção de Piracicaba ganhou seis vezes os Jogos Abertos do Interior. Depois de se transferir do Tênis Clube de Campinas para o Palmeiras na década de 70, optou pela carreira de técnico.

É considerado um dos maiores jogadores de basquete da história do Brasil, juntamente com ídolos como Amaury Pasos, Algodão, Rosa Branca e Ubiratan liderou a geração mais vitoriosa do basquete brasileiro durante as décadas de 50 e 60, quando a seleção foi bicampeã mundial. Ganhou dois apelidos logo no começo de sua carreira: Disco Voador e Diabo Loiro, o mais famoso.

*


Desfile de 7 de Setembro de 1976 na avenida Presidente Wilson, esquina com a rua Amador Bueno da Ribeira. Acervo Heliane Santos- Grupo Alunos do Martim Afonso.


SESSÕES ELEITORAIS E REDE ESCOLAR EM 1968


Jornal Cidade de Santos. 14 de novembro de 1968. Hemeroteca da Biblioteca Nacional.


EXTERNATO YPIRANGA



Comentários sobre a postagem e foto na página do Facebook de Paulo Miorim

Neide Castro

Fiz o curso de admissão ao ginásio no Externato Ipiranga em 1958, a professora era Dona Lídia, esposa do Major Passos ( dono do colégio) . Nossa sala era em cima da Garagem . Os dois primeiros lugares na prova para o Martim Afonso foram de lá : João Carlos que vinha de trem de creio Samaritá 1º lugar e eu em 2º com nota 8,5 . Ganhei medalha em cerimônia no Tumiaru .

Orlando Bexiga

Neide Castro o major sempre entrava na sala de aula com uma bengala curta debaixo do braço e as vezes fazia umas bolinhas de maça de pão e jogava nas nossas mesas.

Neide Castro

Orlando Bexiga ele era amigo de meu pai e sempre ficava batendo papo na alfaiataria onde meu pai trabalhava, em frente ao Bar Seleto. O bastão estava sempre com ele, é próprio do exército.

EXTERNATO SÃO LUIZ




1954. Turma do 1º ano primário do Externato São Luiz. Funcionava onde hoje fica o Bradesco da Praça do Correio. São Vicente de Outrora. Acervo: Tânia Retz Lucci.

COLÉGIO COMERCIAL NAÇÕES UNIDAS


Fundado em 1951 pelo casal de educadores Carlos Araújo do Santos e Itália Schepis Araújo dos Santos. Teve como corpo docente nos seus primórdios os seguintes educadores:Inácia Gilda de Azevedo Andrade, Ilma Machado, Sônia Campos Caldeira, Elisabeth Carvalho de Farias, Arlete Machdo Marques, Aniloel Serpa Gomes, Míriam F. de Mello David. 

Funcionava na Avenida Capitão-mór Aguiar, ao lado do complexo Colégio Henrique Oswald-Centro Espírita Redenção, no lado Bitaru. 

Fonte: Polintéia Vicentina, 1982. Foto: acervo de Paulo Miorim.



1970. Desfile da Primavera. A Avenida Presidente Wilson era o palco dessa grande celebração que começava às primeiras horas da manhã e se estendia até o final da tarde. São Vicente de Outrora. Acervo e memória de Fátima Nogueira Dall Agnol: "Em 1970 fui Rainha da Primavera no Colégio Nações Unidas. Meu vestido representava a ONU". 


Desfile de 22 de setembro de 1979.  Nota do jornal Cidade de Santos. 


ESCOLA VISCONDE DE MAUÁ



Itararé, 1971.Avenida Presidente Wilson, 101. "Minha sala, 01, Escola Visconde de Mauá". Da esquerda para direita: Eliana, Maria Regina, Carlos Henrique, Tia Marisa, Paulo e Luiz. Sentados: (?), Fátima e Edgard."



Certificado da Escola Acosta - de João de Oliveira Acosta- nos anos 1970. Nota. Documento original encontrado causalmente em imóvel no Boa Vista

*

ESTUDEI NO MARTIM AFONSO
O Curso Ginasial do I.E.E Martim Afonso


Paulo Miorim

Em 1959, após prestar concurso de admissão ao ginásio, fiz minha matrícula no IEEMA e passei a integrar a sala da 1ª série ginasial “E”. A passagem do ensino primário para o ginasial, foi motivo de muita alegria, um forte estímulo para estudar, o que aguçou as expectativas de aprender novas matérias e me aprofundar naquelas com as quais já havia tido contato nos anos anteriores. Agora havia um horário para cada matéria, com provas e professor também separados para cada uma. Nada a ver com as sabatinas do curso primário com as aulas e um só professor lecionando todos os assuntos. Um monte de livros, haveria aulas de Latim, Português, Matemática, História, Geografia, Canto Orfeônico, Trabalhos Manuais, Educação Física etc. Um complicador era a grade horária semanal de aulas, pois exigia colocar na pasta (mochila era coisa de campista e soldados) os cadernos e livros das aulas de cada dia. Muitas vezes deixei de colocar a material correto e, na hora da aula, os professores eram rigorosos nas admoestações com essas falhas. A medida que iríamos progredindo no curso outras matérias comporiam a grade horária da série cursada.
Tudo era novidade e até hoje lembro a sensação de conhecer cada um dos mestres, que, para nós alunos, eram superespecialistas na matéria que lecionavam. Havia alguns inesquecíveis. O sr. Cruz, de Canto Orfeônico, era um gordinho simpático, mas exigente e fazia cada aluno cantar canções que ensinava e, maioria delas, totalmente desconhecidas. Lembro de “A Malga de Barro” (Na malga de barro há verde e fresquinho, ai que vinho, ai que sabor...), que nunca consegui dar a entonação correta, pois sempre fui um péssimo cantor. O Professor Esmanhoto, de Latim, um ex-seminarista, sempre falava que era de uma cidade mineira chamada Carangola. Mais magro que um louva-deus, suas mãos eram enormes e possuía a mania de torcer os dedos enquanto falava. A professora de Geografia se achava uma superstar, muito brava e falante, mas sua pedagogia não era das melhores. Já senhora, laurentina era uma figura inesquecível e folclórica. Não era bonita, vestia o que hoje seria estilo perua, sempre ameaçando botar para fora da sala quem fizesse bagunça. Mas isso nunca aconteceu. Suas aulas pareciam feira livre, uma falação desenfreada. Na segunda ou terceira série, laurentina veio trabalhar trajando um vestido azul escuro brilhante, de tafetá ou coisa que o valha. Entrou na sala, toda chique, avisou que após as aulas iria a um casamento. Sentou na cadeira junto a mesa e fez a chamada. Um detalhe: um dos nossos santinhos havia riscado o assento com giz, de modo que a professora colocou seu bumbum numa superfície todinha branca. Começaram as risadas e a mestra, com seu vestido novo e a traseira branca, indagou o porquê de tanta empolgação. Até que, ao se aproximar da mesa após uma severa bronca andando por toda a sala, ela viu a cadeira manchada de giz. Torceu o corpo com uma mão nas nádegas e viu seu traje manchado. Ficou possessa, berrou ameaças, e, finalmente, mandou os três maiores suspeitos para a diretoria. Tinha o professor Mendonça, um gentleman, nunca perdeu sua postura de verdadeiro mestre lecionando Português. Mario dava aulas de Trabalhos Manuais era muito gente boa. Outro professor notável era o Monsieur Jean, que era francês de verdade e encantava as mocinhas com sua elegância, charme e olhos azuis. Evidente que lecionava Francês. Se não me falha a memória Armando dava aulas de Geografia, Clóvis de Educação Física. E outros que até hoje povoam minhas lembranças. Destaque para umas pessoas que eram responsáveis pela disciplina fora das salas: os inspetores de alunos Dona Neves, querida mãe do meu irmão Jorge Monteiro; seu Borba, um careca sempre com cara de bravo, mas muito legal; seu Sérgio, com uns cabelos sempre reluzindo a Brilhantina Glostora, que era usada até pelo Oscarito, o comediante da época. Seu Borges, de Inglês, tinha uma das orelhas faltando um naco, diziam que um cachorro o havia mordido quando criança (o cão já era adulto).

Coisas de São Vicente 14/02/2019


Funcionários do Martim Afonso nos anos 1950. Grupo Alunos do I.E.M.A.





Jornal do Grêmio Estudantil da E.E. Martim Afonso nos anos 1960. Acervo da escola.
Foto da frente arquitetônica original da I.E. Martim Afonso, com elementos vazados, pedras ornamentais e muros baixos. Acervo de Neide Andrade (Castro).



A TURMA DO CLÁSSICO DO MARTIM AFONSO
PAULO MIORIM

Classe mista do I.E. Martim Afonso nos anos 1970.

Em 1963, iniciei o chamado Curso Científico no glorioso IEMMA-Instituto de Educação Municipal Martim Afonso, em São Vicente. Era uma época que o ensino secundário nas escolas públicas oferecia três cursos: Normal para quem desejava se tornar professor de curso primário, Clássico para aqueles que pretendiam seguir profissões relacionadas a Humanas, e Científico aos que queriam seguir carreiras relativas a Ciências Exatas. Em outras escolas haviam cursos profissionalizantes e a moda era estudar Químico Industrial. Cada um desses cursos tinha características bem distintas e os alunos, com o tempo, formavam grupos de amigos entre os seus colegas de escola. Haviam turmas do Científico, do Clássico,do Normal e não se misturavam muito. Embora minha intenção fosse cursar Engenharia, pessoalmente lia tudo que me caia nas mãos e minha preferência era assuntos relativos a Psicologia, Filosofia, História e demais Ciências Humanas.
Dias antes havia mudado para o sobrado vizinho à nossa casa uma família carioca. O pai, João Chrisóstomo, era telegrafista de navio, na época uma importante profissão. A esposa chamava-se Nancy e o casal tinha quatro filhos, três moças e um garoto. Eneida, a filha mais velha, havia se matriculado no primeiro ano do curso Clássico, Verônica, a do meio, e Márcia, cursavam o ginásio. Mauricio, caçula, ainda cursava o primário. Eneida, a primeira da pessoa de família que conheci, era uma linda morena alegre e comunicativa, ficamos amigos a primeira vista. Verônica, também morena e bonita, era mais calada e não consegui vê-la como amiga, pois despertou em mim outro sentimento, tinha um sorriso lindo com dentes separados e olhos negros muito vivos e expressivos. . Márcia era alta e desengonçada como é próprio das moças em início da adolescência. Maurício era um garoto dos seus onze ou doze anos com a chatice própria da idade, vivia dizendo gracinhas e frases fora de hora, mas ficou meu amigo. Os pais eram gente boa, embora seu João fosse muito sério. Ficava ausente muito tempo devido sua profissão de marítimo, mas conversava muito comigo quando em casa. De modo geral, fiquei muito chegado à família e passava as tardes na casa das meninas. Eu voltava do Martim Afonso com a Eneida conversando, e através dela conheci outros alunos do Clássico, que se tornaram meus amigos.
Era turma ótima, interessada em literatura, poesia, filosofia, música e cultura em geral. A professora Lídia fazia parte da turma e incentivava seus alunos a se reunirem e discutirem assuntos humanos. Alem do que Francisco Rodrigues,o Chicão, era da minha turma de amigos e meu primo Jorge Monteiro, filho da saudosa Dona Neves, era o exemplo de bom estudante, um aplicado aluno que se tornaria um intelectual, ambos cursavam o Clássico. Conheci e fiquei amigo do Evaldo Ferreira, Flávio Moita, Claudio José, Benedito, Zuza (tia do Márcio França), Roberto Inglês (que eu já conhecia), José Miguel Wisnick (primo das minhas amigas Wislawa, Olga e Irene Tulik) e outros. Convidado pela Eneida, fui a uma reunião do grupo na Vila Melo, na casa do Cláudio José, em um sábado à tarde. Interessado em me aproximar da Verônica, senti haver uma reciprocidade em meus sentimentos e conversei a tarde inteira com ela. Resultado: saímos da reunião como namorados. Minha primeira namorada oficial, guardo com muito carinho as recordações desse relacionamento. Aquela coisa de sentir novas emoções, de despertar para o amor, de dormir e acordar pensando na pessoa. E da corrente elétrica que corria no meu corpo quando estava com ela, dos inconfessáveis desejos que Verônica me despertava. Como éramos vizinhos, todos os dias nos falávamos e minha amizade com Eneida fortalecia minha ligação com toda a família. Foi uma época ótima, dona Nancy era a bondade em pessoa e excelente mãe. Hoje posso avaliar o quanto era imaturo em coisas de amor e da minha enorme timidez.
As reuniões aos sábados se tornaram rotinas e se realizavam no sistema de rodízio, a cada sábado era combinado em casa de quem se realizaria a reunião do próximo sábado. Cada um desses encontros etílicos-filosóficos-letrários-culturais-dançantes se marcou por eventos diferentes que vou recordar “em passant”:
• Benedito quebrou a vidraça da casa da Eneida.
• Na casa do Evaldo a reunião foi estilo “Cocktail”, foram servidas vários tipos de drinks e bebidas.
• Na casa do Roberto Inglês, Benedito tomou um porre homérico e quase caiu do quinto andar, provocando uma gritaria das moças.
• Comecei a namorar Verônica na reunião da casa do Cláudio José
Agora, ao recordar essas inesquecíveis experiências, vejo o quanto a educação pública de então difere da atual, totalmente corrompida pela desvalorização dos professores que, na época, eram considerados personagens importantes e respeitados pela sociedade.
Mas foi maravilhosa a convivência que tive com a turma do Clássico.
Paulo Miorim 04/01/2021

Alunos do IEE Martim Afonso na rua José Bonifáco em 1967. São Vicente de Outrora.



RECORDAÇÕES DO I.E.E.M.A.

Blogue Jornal FLIT PARALISANTE . 23/01/2010 – Acesso em abril de 2018.

ROBERTO CONDE GUERRA E GRUPO

- Estudou do M.A. em que ano, Guerra? (Juan)
- De 1970 a 1977. Bons tempos de infância e adolescência. Apesar das aulas do Professor Joaquim, dentro do 2º BC.
Quando eu ingressei no ginásio, depois do tal vestibulinho, ainda usávamos uniforme e havia aulas aos sábados. O Jarbas Passarinho fez algo de bom (pra mim) acabou com as aulas aos sábados… rs Bem, ele acabou mesmo foi com o ensino público. No lugar de Filosofia, reforço de Educação Moral e Cívica… rs. Criou mais uma turma encurtando as aulas e os intervalos. Nada como um Coronel do Exército pra dar solução para a falta de vagas… Ah, além da reforma ortográfica de 71, para nos phoder a partir de 72… Levei uns 10 anos para deixar de grafar êle, nêle, êsse…etc. Agora, já que não preciso de nota (apenas cédulas), quero que a atual reforma se phoda…rs. Imperdoável acabar com o trema, pois só apedeutas escreverão qüinqüênio… Mas não posso reclamar da minha educação no “Afonsinho”, pois aos 10 anos já tinha lido 26 livros do Monteiro Lobato… A trilogia do Tesouro dos Martírios, de Francisco Marins… E as memórias de Hans Staden “Duas viagens ao Brasil (tinha umas 1000 páginas). Bastou complementarmos essa vasta cultura com a revista MAD, a revista Geração Pop (que sempre foi uma merda, pois a maioria dos colaboradores não sabia nada de nada; acabavam inventando ). Bem depois – QUANDO A DITA ABRANDOU – com todas as revistas “Ele e Ela” , “Status” e depois “Playboy”. Eu era apaixonado pela Rose Di Primo; tinha até um pôster dela montada acho que numa moto Triumph. Fiquei tão letrado que ganhei um banheiro exclusivo no fundo do quintal.
Eu era um bom garoto até que o meu pai teve uma idéia brilhante: para eu parar de fazer barulho com a guitarrinha comprou, quando completei 15 anos, um Yamaha RD 50, azul, a primeira motocicleta Made In Manaus. Assim, quando no 3º ano colegial rumava para o Afonsinho pela praia, pois “soy latino americano e nunca me engano“. O problema é que não dava pra ficar com a bunda na cadeira agüentando aulas como as do Professor Renato ( Física ). Numa das escapadas fui imitar o Adu Celso – ( Eduardo Celso Santos , falecido em 5 de fevereiro de 2005, em Juquey-SP, um famoso piloto de motocicletas e empresário de São Vicente, um dos filhos do Sr. Celso Santos, dono da Cidade Náutica Imóveis e de toda a praia de Pernambuco , no Guarujá, Hanga Roa, Bertioga, Juqueí, etc. ) – ; acabei atropelando um coqueiro da Avenida Padre Manoel da Nóbrega ( também conhecida como “Tapetão” do Itararé).Resultando, prá mim, 5 meses de cama; para o meu pai quase uma “cana”. O diploma ficou para depois; a faculdade de Direito, idem.
No ano seguinte, muito revoltado porque ” andava a pé e achava que assim estava mal” , mudei para o período noturno, já que depois de quase um ano gessado e de muletas – não tinha porrada que me fizesse levantar da cama as 6h30.
No período noturno redescobri a alegria de viver; passei a estudar no Batidão e no Cruzeiro do Sul. Além de aprender política, filosofia e ficar falando Jacomi, também aprendemos a arte de causar curto-circuito no Afonsinho e explodir bombinhas de São João no banheiro (quatro das gordinhas bem amarradas); aprendi a saborear o bom e velho Fogo Paulista. Culpa de uma turma de celerados que migraram compulsoriamente do Vidrobrás para o Afonsinho, pois acabaram com o curso colegial da Escola Vidrobrás. O que foi muito bom, pois as moças eram mais interessantes e emancipadas. A maioria já trabalhava, inclusive. Até hoje não entendo a razão de as moças da época, embora mais baixinhas, nascerem mais bonitas e harmoniosas do que as das gerações posteriores.
Naquele tempo não chovia o ano inteiro na Baixada; a madrugada era estreleda e perfumada pela dama-da-noite. Não tinha ladrão armado. O que estragava o sossego de quem andava na madruga eram as “Barcas da Polícia Civil” e do “Juizado de Menores”. A PM – com os fusquinhas e veraneios acho que nas cores vermelho e preto – não incomodava. Mas como na PC, da época, a maioria era ganso com carteirinha de inspetor de quarteirão, todo cuidado era pouco. Cabeludo com violão sofria: aí “maluco beleza” ( era o sucesso do Raul daquele ano ) balança o pinho pra gente ver se não tem bagulho! E leva aí “Abismo de Rosas” prá gente conferir se tu sabe tocar…Mas seu guarda, só aprendi solar “O Milionário”…
Playboy, que guarda? Tá vendo guarda onde? Aqui é Polícia, apito tu vai ouvir na orelha… já, já! “De menor” na rua de madrugada, tu tem pai? Tenho sim senhor! Ele deixa? Não, esperei ele dormir e pulei o muro! Filho da puta…sobe…sobe…sobe! Pelo amor de Deus, deixa eu ir embora… O caralho! Farei melhor “seu punheta” vou te deixar no colo da mamãe. Fui salvo pelo rádio, mas o guarda grandão da “petra e branca” me fez tirar o sapato e sumir correndo pela av. Quintino Bocaiúva… FDP, ainda não era asfaltada…cheia de pedregulho; eu correndo com o violão debaixo do braço e os sapatos na outra mão…Mas achei melhor obedecer e não olhar pra trás.
Assim, em dezembro de 77, em vez de velinhas e bolo de aniversário, bomba levei eu. Com direito a honrosa jubilação para outra escola mais compatível com o meu elevado nível intelectual e cultural. O restante contaremos daqui a dez anos, ainda não cheguei à fase de escrever minhas memórias.
Mas eu amava aquela escola; amava mais ainda três pessoas: A Dnª Suely, nossa professora de Geografia; a Dnª Iracema, professora de História e a Dnª Cleuza, Diretora; que apesar de muito austera foi uma espécie de anjo protetor. E tinha uma que eu odiei por anos: a professora Zuleica. O Pink Floyd fez a música The Wall, certamente inspirados nalgum professor como ela. Eu tinha lá algumas limitações matemáticas; durante quatro anos eu lhe dei trabalho extra no mês de fevereiro. Pois sistematicamente no 1º bimestre ela me dava 0 (zero), no 2º 0,5 (meio), no 3º uns 2,5 ( dois e meio ), só começava a melhorar no final do ano, tirava 5,0 ( cinco ). Assim já sabia que passaria as férias, todos os dias, acompanhado de professora particular. E chegava para fazer a prova na base do tudo ou nada, ou seja: precisando no mínimo de 9,5 (dez né?). Eu conseguia, dias depois começava tudo novamente. Por uma única razão, como era um dos menores e o mais novo, quando um ano a dois, alguns três anos mais velhos, faz uma baita diferença, entrava apanhando e saia apanhando. Logo no primeiro bimestre, do primeiro ano do ginásio, as minhas notas nas duas provas foram 0 (zero). A mulher fazia questão de mostrar as provas e anunciar as notas nominalmente; fazendo seus comentários. Iniciava pela maior nota e decrescia: eu fui o último. Ela disse em voz alta:

- O nº 33, “seu” Roberto Conde Guerra, 0 (zero) na primeira e 0 (zero) na segunda, média final 0,5(meio).
A classe desabou na gargalhada. Constrangido só me restou dizer em voz alta: Dnaª Zuleica, a Srª se enganou, zero mais zero não é igual a meio! A mulher possessa: meio em respeito ao trabalho do seu pai que pagou as folhas de papel almaço.
- Tá bom, professora, mas então arredonda prá um. Meio pelo trabalho do meu pai que compra as folhas; meio pelo trabalho da Srª em me ensinar!
- Fora! Fora! Prá diretoria. O senhor (naquele tempo as professoras tratavam as crianças por senhor), em matéria de cinismo é um “Einstein” (prá mim era o humorista da foto com a língua de fora…rs). Vai contar piada pra Inspetora.
Phodeu-se! Daquele dia em diante deixei de ser o “Marciano”, virei o Einstein piadeiro… Chegava o dia da prova era um massacre: estudou Einstein? Vai tirar dez hoje Einstein? Fala Einstein piadeiro!
Só depois de uns dez anos eu compreendi o motivo de tanta raiva. Ela estava me humilhando dando meio para o trabalho do meu pai; pensou que com a minha resposta estivesse dando meio pelo trabalho dela como professora. Mas eu não possuía inteligência para compreender, tampouco responder, conscientemente, daquela maneira. Estava absolutamente arrasado pela vergonha, pela gargalhada da classe… Ela viu cinismo, não viu nosso choro sufocado. E os anos passam, mas, intercorrentemente, fatos semelhantes vão se sucedendo.

Professores e funcionários lembrados pelos alunos que comentaram a postagem no blog Flit Paralizante.

Dona Cleusa (Diretora), Joaquim (Química), Yolanda Conte (Português e Latim), o casal Edmundo (Matemática) e Sara Capellari (Português), Borges (Inglês), Disaró (Matemática) o casal Raquel (Português) e Pereira (Francês), Serra (Artes Industriais), Dna. Neves (Inspetora mãezona), Maria Isabel (Geografia) Prof. Mário (Artes) Prof. Cruz (Música), Prof. Jean (Francês), Maria Isabel (História), Prof. Clóvis (Educação Física), Prof. Sebastião (Física e Química), Profa. Laurentina (Geografia), Prof. Artur Ewbank (Diretor), Prof. Noronha (Ciências), Prof. Esmanhoto (Latim), Prof. Eng. João Ivair, Prof. Mario, Profa. Zuleica, Profa. Helena (Português e Literatura) Profa. Sueli (Geografia), Prof. Panzoldo (História), Profa. Lidya (Português), Prof. Nilson (Matemática), Prof. Wilson (Geografia), Profa. Aparecida (1º ano primário), Profa. Marli (2º ano), Profa. Thilia (3º e 4º anos), Celso (Inspetor), Prof. Canuto (Ciências), Prof. Iracema (História), Orlando (Português), Cidinha (Desenho Geométrico), Joaquim (latim), Conceção (Psicologia), Prof. Breno (Desenho), Profa. Gisela (Francês), Profa. Romilda, Profa. Maria Esther Lapetina, Prof. Sérgio(Ciências).

Lembranças de ex-alunos
Tânia Guahyba disse:
Vim de Sampa com e estudei de 1966 à 1975 (fora 2 anos de bomba por causa da bronquite ainda fiz 4 anos do Curso Normal para ser professora, ok?…rs). Estudei com Denise, Cida, Jorge, Sansonetti, Costeck, Vicente, Robson, Jah Jah, Tadeu….perdão meninas, mas só lembro dos nomes dos meninos….kkkk Eu era da “turma do fundão”, mas nunca fui periguete como as meninas de hoje – todos me respeitavam. Ah! Namorei com o Pablo, surfista… meu irmão me ensinou a surfar no Itararé. Mas eu era apaixonada mesmo pelo Jorge (nunca mais tive notícias – a última vez eu soube que ele era da Polícia Civil de Sampa). Fiz poesia no aniversário do Martim Afonso que até saiu no jornal…Toquei anos na fanfarra, e era uma maravilha, ser chamada para ensaios no meio da aula…sair rindo e zombando dos colegas que ficavam nas aulas!!!! Principalmente o dia em que ensaiávamos no calçadão da praia e o Tadeu caiu com bumbo e tudo dentro de um bueiro…só ficou o bumbo de fora o Tadeu desapareceu!!!kkkkkk
Saudades de “bolar” aula para ver a ressaca no edifício Gáudio. Lembro que um dia vários prédios tiveram de ser evacuados (será que não era um tsunami?….naquele tempo não havia tanta informação na mídia como há hoje). Mas era bom demais chegar toda molhada em casa e olha que eu sempre morei em Santos (cansei de chacoalhar no Circular 1 e 2) mas gostava mais de São Vicente.
Obrigada por trazer á memória situações e professores tão bons (apesar das diferenças) que ficaram marcados na nossa educação, cultura, caráter e emoções.
Hoje trabalho em um aeroporto internacional e o que sei de Francês foi com o Pereirâo que aprendi. Tinha dó do Prof. Cruz, que usava uma lupa pra fazer chamada, enquanto ele chamava um aluno, o anterior já tinha “vazado” da sala…teve um dia que só ficaram eu e mais dois, o prof. acabou a chamada, levantou a cabeça e olhou pra nós…deu aula como se nada tivesse acontecido, mas sei que por dentro ele ficou muito triste e eu quase chorei…nunca me esqueci.
Amigo, até a foto que vc colocou do tapetão do Itararé me fez lembrar quantas vezes Deus me livrou da morte, porque quando na Faculdade São Leopoldo eu estava sempre apostando corrida e dando cavalos de pau com os colegas lá…sem falar a idiotice de quem desce primeiro da Ilha Porchat depois de várias cervejas… Hoje sou Capelã no Aeroporto,pastora e escritora (tá explicado este texto tão grande – vc pensou?) e isto tudo serve para alertar os jovens de como NÃO ser. Bem, acho que falei demais… espero não ter te cansado.

Roberto disse:
Estudei em 1955 fazendo o quarto ano primário. Meu pai era ferroviário da Estrada de Ferro Sorocabana, trabalhava em Santos mas nós residíamos na Vila da Sorocabana, em São Vicente. Lembro-me de duas coisas importantes, uma era de que era gamado por uma menina linda , que não me recordo o nome, que estudava na mesma classe, e outra é que ao invés de subir na direção da vila onde residia, descia até a praia , caminhava molhando os pés no mar , até a Biquinha e depois subia em direção a minha casa. Estou hoje com 70 anos de idade. Hoje acessei um site sobre uma Associação de ex alunos do Martin Afonso, vou enviar a foto que tenho, que era praxe tirar , de todos alunos com a professora e associar-me. Hoje resido no litoral do Paraná, cidade de Guaratuba, é bonita, mas meu coração balança por São Vicente apesar de ter morado somente 1 ano e meio .A razão desse amor pela cidade, é que foi uma das fases mais bonitas de minha infância.Morávamos em Sorocaba quando meu pai foi transferido para Santos, isso aconteceu em julho de 1954 mas infelizmente ou felizmente não conseguimos ser matriculados no Martin Afonso por estar no meio do ano. Dessa forma fiquei vagabundeando por meio ano, o dia inteiro jogando bola, se embrenhando no mangue, caçando preá, coquinho, recolhendo bolas de golfe que caia fora da cerca do Golfe Clube , enfim , naquele tempo criança podia andar sozinha por todos os cantos. Só voltava para almoçar , jantar depois saia novamente para ficar brincando aquelas brincadeiras inocentes, passa anel, cabra cega, etc..Só em 1955 é que fui matriculado. Lindo demais.

Hermínio Cardoso disse:

Surpreso por encontrar este blog e contente por me comunicar com você depois de tantos anos. Lendo as mensagens enviadas, recordei os anos em que estudei no Martim Afonso (70 a 73). Bons tempos! Além dos colegas de classe e professores já mencionados. Depois de concluir o “ginasial” comecei a “ralação” em busca de trabalho decente: Senai, Escola Técnica, Aeronáutica, COSIPA, Staübli (metalúrgica em Diadema) até migrar para o nordeste em 82 onde trabalhei numa empresa e posteriormente virei Fiscal de Tributos(Rendas) da SEFAZ/AL(concursado), concluindo o curso de Direito na mesma década. Reconheço que foi no Martim Afonso que adquiri sólidos conhecimentos que me permitiram lograr êxito nas avaliações que enfrentei durante a vida. Louvo também os grandes mestres que tivemos, numa época em que a qualidade do ensino era visível (antes da maléfica “reforma do ensino” implementada no final dos anos 70). Anualmente vou a São Vicente e não deixo de passar em frente à “velha escola” de boas lembranças. Espero um dia encontrá-lo para recordarmos essa época de ouro do nosso aprendizado escolar.

Sandra Camargo disse:
Estudei no Martim Afonso , de 63 a 70, se vc estudou nesta época entre em contato…lembro do prof Wilson de geografia, Iracema de história, Orlando de português, Capelari, Breno etc…tenho uma irmã gêmea a Ana Maria, eramos bem loiras, estávamos sempre juntas no recreio com nossa turmina, Rith Brisac, Sônia Exel, Ana Maria, Deborah, etc…achei excelente este blog para matar as saudades desta época deliciosa e que escola pública era sinônimo de inteligência!! Repetia de ano por décimos e ai de você se não estudasse, bombava mesmo!
O Martim Afonso nos deu uma ótima base, vê-se através do seu texto e outros mais…muitos escritores!!
Agora o Capelari não fez nenhum matemático, que homem doido heim? Escrevia na lousa, na parede , na porta…minha irmã só tirava 10 com ele e eu na primeira prova, fui chamada na frente da classe ( como vc) e ele entregava sua prova e falava sua nota, qdo ele disse :- Zero , eu como zero? E ele completou …dias piores virão e eu retruquei, pior que zero o que seria!???
Também adorava a professora Iracema, amava as suas aulas, mas sempre me lembro dela gravida, será qtos filhos teve ?
Teve um professor de ciências, que marcou a prova, no dia ficamos quietos…ele esqueceu…passou um tempo falamos e as notas das provas?? Pois nâo é que ele trouxe notas para todos?? A maioria tirou notas boas e quem tirou baixa fizemos calar a boca!! Esqueci o nome dele…era idoso, gordinho.
Minha irmã gêmea também só tirava 10 de desenho, como eu precisava de nota ela fez umas provas pra mim…mas era uma egoísta, já tinha media ótima e fazia meia prova pra mim e a dela inteira…muito errado nao??foi o único ano que estudamos na mesma classe, pois como o nome dela começa com A era uma classe e o meu S em outra.
Pensava dela fazer prova de geografia pra mim, mas achava o prof. Wilson tão bruxo e tinha medo dele ter gravado alguma diferença da gente…e precisava fazer mapas e mapas em nanquim pra ganhar mísero meio ponto na nota! Mas numa segunda época de geografia deste prof. Wilson, ficaram uns 40 alunos.Me trancava no quarto e dizia que ia estudar e ficava jogando baralho com uma prima, dei uma lida na materia um dia antes do exame pra desencargo de consciência e não é que existem milagres??
Fui a única aprovada, precisava de 7.5 e tirei 7.8 …tive transmissão de pensamento com ele, só pode ser, pois pensei nas únicas coisas que sabia de geografia e ele fez as perguntas exatamente do que eu pensei!! Qdo vi no mural reprovada…reprovada…e só no meu nome aprovada, fui na secretaria, pois achava que estava tendo visões kkkkkkkk
Quando vejo o que se tornou o ensino público me arrepio, que ponto chegou o Brasil.? Cadê os excelentes professores, a obediência, o respeito (perto dos de hoje éramos santos). Hoje alunos nãoo sabem escrever, não sabem fazer uma redação e já vi erros cabeludos de professores!!

Laercio disse:
Olá Sandra, fui aluno do Capellari também, já nos anos 70. O que podia ser pior que o zero? O apagador, atirado por ele, colidindo em alta velocidade com sua cabeça! Ele costumava fazer isso. Tanto que, lá pelo ano de 1975, no 3º período os alunos trancaram a porta e deram uma surra nele. Nessa época eu cursava o matutino. Infelizmente, concordo com você quanto aonde estarem os professores, a obediência e o respeito… Parte do problema, talvez seja fruto dos maus professores da nossa geração.

Sandra Camargo disse:
Que delicia saber que fui vingada deste louco do Capelari(que Deus o tenha…)meus parabéns para os que deram uma surra nele!!! Acabei mudando de escola por causa desse professor, em vista que não consegui mudar de classe !! A minha irmã foi junto, justo ela que só tirava 10 com este facínora e com outro chatíssimo, o Wilson de geografia. Acredite ela chegou a corrigir erro do Capelari, ela era gênio em matemática, ele a tratava como um diamante….!!! Até hoje ela se arrepende de ter saído do Martim Afonso por minha causa. Mas eu tinha trauma deste homem…nao podia olhar pro cara …
Um dia tb peguei um prof casado beijando uma prof tb casada, imagine se nao tirei proveito…precisava de nota de português e o mestre me deu uma nota muito da boa…
Uma vez a minha irmã escorregava no corredor de um lado pro outro, até que a inspetora me pegou saindo da classe e falou:- vamos pra diretoria, eu argumentei que não estava fazendo nada errado.E ela: e ficar escorregando no corredor é certo? Daí na diretoria expliquei que tinha irmã gêmea e ela e que cometeu o erro e não eu. Foram na classe chamar minha irmã, e ela deu uma assim... corredor? como? Eu?…imagine se a melhor aluna da classe faria isso …conclusão tive 3 dias de suspensão pela inflação cometida e por denunciar falsamente minha irmã!! E a minha gêmea chorou de tanto rir, nem meus pais acreditaram em mim, pois sempre eu que aprontava, ela uma santa!!
Quem lembra da Magda uma menina super gracinha, que se suicidou?.
Ela foi encontrada num hotel no Rio de Janeiro e ao seu lado estava um livro sublinhado, onde o escritor falava de AMOR! Na época saiu notícias na Tv, jornais etc…se não me engano ela morava em Itanhaém, era da minha classe, daquela turma do fundão! Nunca soube exatamente o porque deste ato…diziam que ela havia marcado com o namorado de fugir, e que o mesmo não apareceu, sei que os pais dela eram bem rígidos, eles a levavam e a pegavam na escola. Se alguém lembrar me escreva, pois vc então foi da minha classe.

Ruth Brisac Stucchi disse:

Olá amigos do colégio “Martim Afonso”. É grande a minha emoção! Poder encontrar alguns colegas do ginásio, depois de tanto tempo é inacreditável…. É com o coração apertado e os olhos lacrimejante que saboreio cada palavra, cada lembrança e nomes dos “BONS TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS….” Que sensação mais deliciosa; pois por várias vezes eu tentei encontrar alguém, ou, alguns dos alunos do meu tempo (1962/1972) e nada…Eu sou a Ruth Brisac, sempre fui bem bagunceira, estava na fase: “tudo era lindo e sem problemas; então vamos ser felizes”!. Pregava papelitos nas costas de todos (com dizeres engraçados) fugia das aulas, colava prá caramba, jogava pó- de- mico na classe(para suspender provas)pulava o muro do colégio(uma vez o CHARUTINHO me pegou no flagra kakakaka). Era superamiga do Davson Queirós(seria um sonho poder encontrá-lo)amiga(até hoje) das gêmeas: Ana e Sandra, da Rosabel, Soninha Maluca, Maria Deolinda, Célia Regina Rodrigues e irmão, Walquíria e Wanderlei Sanches, Nelson e Miguel Wisnick (Miguel músico e escritor famoso), Rivaldo F. da Silva, Pedrão (muito alto e forte; era meu guarda-costas. Muito bom amigo; me tirava das encrencas), Wanda Maria Guimarães….e outros. Seria possível programar um encontro com os EX ‘s do Martim Afonso? Estarei esperando pela melhor notícia da minha vida! Beijão com saudades a todos.







T.E.M.A. TEATRO ESTUDANTIL MARTIM AFONSO
ROSA MARIA MARQUES LOTO




Estudei no Martin Afonso de 1967 a 1971, Fiz o Clássico a noite e o Magistério pela manhã... Participei também do TEMA - Teatro Estudantil Martin Afonso, 1967-1971. O nosso diretor era Vicente de Salvo. Levamos várias peças como "A exceção e a regra" , e Bertold Brechet; " O bem amado", de Dias Gomes; "A Pílula", de autor norteamericano e o musical de compilações "Brasil, Rosas. Amor e Dor", esta apresentada em São Paulo no Equipe Vestibulares, e com a estréia no Cine Teatro Jangada em novembro de 1969.
Nossa turma do Tema no aniversário de 15 anos de minha irmã Maria Alcina. Foto feita pelo nosso amigo fotógrafo João Vieira (fotógrafo de A Tribuna) em 6 de maio de 1968.
MANIFESTO de apresentação do T.E.M.A. , grupo de Teatro da E.E. Martim Afonso no final dos anos 1960, escrito e assinado pela professora Sarah Capelari.


                          
HISTÓRICO
O Grupo que atualmente jorna o T.E.M.A. é constituído de jovens artistas. Êles mesmos pesquisam os textos, fazem o roteiro, dirigem-se, fazem a movimentação e a iluminação. São uma autêntica equipe artística.
Jovens que exercem a arte, arte de vanguarda, mas que apreciam e respeitam a arte tradicional clássica, sabendo selecionar dela os valores perenes.
Através dos estudo dos textos da literatura clássica, romântica, parnasiana e moderna e contemporânea, textos estes nacionais e extrangeiros; desde o imortal Camões e o polêmico Brecht, expressam em “Brasil , Rosas... Amor e Dor” o ideal dessa juventude consciente, patriota e esperançosa. Eles estão cumprindo um destino, não são omisso, são autênticos participantes da realidade brasileira em evolução.
Ouçamos suas vozes porque elas se harmonizam no canto da Poesia e da melhor Música Popular Brasileira Moderna: de Vandré, Gilberto Gil, Chico Buarque, Dorival Caymi, Edu Lobo e outros que cantam o Brasil e o levam além de nossas fronteiras.
Nas mensagem da Poesia e da Música está a bela mensagem de nossa juventude: crença no Amor, na Paz, na Justiça, a triologia que sempre salvou e salvará a Humanidade.
Profa. Sarah Ortiz Capellari
Catedrática de Português do I.E.E.M.A. 



Elenco amador da peça A PÍLULA, composto por alunos do TEMA Teatro Estudantil do I.E. Martim Afonso. A foto é de 14 de novembro de 1969, publicada no jornal Cidade de Santos.  A escola era e ainda é a única da cidade que possuía uma sala-auditório - com palco-para essas atividades artísticas.







UM PROFESSOR.....O PROFESSOR

MIRTES DOS SANTOS SILVA FREITAS



1958. Durante os onze primeiros anos de minha vida, eu era uma cunhantã que vivia junto a um pequeno afluente, viajando em uma casca de noz. Circulava por um restrito quadrilátero, explorando o entorno do meu bairro. Estudava num Grupo Escolar com, apenas, quatro salas de aula. É o que se costuma dizer hoje: vivia no meu quadrado.
De repente, dei um salto.Caí num grande, imenso rio. Amazonas? Talvez. Conheceria, em breve, as emoções da pororoca. Silêncio! Reconheço essa música. Ela surge de minhas remotas lembranças. É a lenda da " Cobra Grande".(Waldemar Henrique da Costa Pereira)
" Credo! Cruz!
Lá vem a Cobra Grande
Lá vem a boiúna de prata
A danada vem rente à beira do rio
E o vento grita alto no meio da mata
Credo! Cruz!".......................................
Curioso! Eu teria aulas de Música. A disciplina tinha o nome de Canto Orfeônico e o professor se chamava Luiz Gomes Cruz. Foi ele quem nos ensinou a música da Amazônia lendária e cheia de mistérios. Encantada, comecei a nutrir um profundo respeito por aquele que me acompanharia pelos anos seguintes, até minha partida, em 1966.
As aulas do Professor Cruz eram diversificadas. Quando o sinal tocava, lá vinha ele, confiante, com uma mansidão estampada no rosto e nos gestos. Nunca levantou a voz para chamar nossa atenção e se preocupava, sempre, em saber se estávamos aprendendo.
Naquela época, os professores trajavam camisa social e terno. O Professor Cruz usava , predominantemente, terno cinza, claro ou escuro. Outros usavam cores diferentes.As professoras usavam saia e blusa ou vestido. Nenhuma usava calça comprida, considerada traje masculino. Mulheres não podiam utilizar tal vestimenta em Órgãos Públicos, inclusive, na Igreja.
Após a chamada nominal, o Professor Cruz iniciava a aula. Empenhado em nos iniciar em Educação Musical, desenhava a pauta na lousa, com as linhas suplementares inferiores e superiores. Colocava as claves de Sol e de Fá. As notas passeavam pelas linhas e espaços. Distinguíamos a nota naquele solfejo ritmado. Ele nos apontava a semibreve, com sua batuta. Ta- a-a-a. Agora, era a mínima quem se apresentava: Ta-a! A lousa, antes despida de significado, sob seu comando, sugeria o passeio daquela barquinha de noz, flutuando nas ondas dos sons musicais.
Nem só de solfejo vivíamos. A emoção estreitava o laço entre aquelas meninas, a cada música que ele nos ensinava. Primeiro, ele usava o diapasão, para fixar o lá e, dali, afinar toda a melodia. E era "A Preta do Acarajé", de Dorival Caymmi, que muito me impressionava: " Dez horas da noite/ Na rua deserta/ A preta mercando/ Parece um lamento/ Ê o abará.".......ou, então, " God bless América ----Deus salve a América", de Irving Berlin: " Quando nuvens negras/ como um negro véu/ descem sobre as serras/ empanando o céu...."Como era bom ter aquela pessoa dedicada e constante, lapidando nossa sensibilidade! E os Hinos do nosso amado Brasil? Maravilhosos! E os cânones? " Mestre Sapo"...." Meu sininho".....
Tive a sorte e a honra de ter convivido com aquele Professor que só me fez bem e de quem guardo ótimas lembranças. Ele foi a única pessoa que nos falou sobre o Esperanto, a Língua Universal que congraçaria todos os povos.
O Professor Cruz nasceu em 1907. Começou a lecionar em 1925.Foi maestro, compositor de hinos escolares, poeta.
Escreveu para jornais e revistas.Foi membro da Associação Santista de Teatro Amador. Lecionou em mais de uma dezena de Escolas. Ingressou no " Martim Afonso", em 1943. Deixou- nos um grande legado: O " Hino do Martim Afonso" e o " Hino da Normalista". Ainda sinto a emoção de recordá- los, ligados àquele senhor baixo, simpático e amigável que nos viu crescer.
No final de 1966, as meninas, agora moças, partiram para o futuro deixando, para trás, o velho professor. Qual teria sido o sentimento dele? Com certeza, o sentimento do dever cumprido. E o que mais? Saudade de uma turma preparada para difundir seus ensinamentos.
Em 2016, quando completamos cinquenta anos de Magistério, cantamos, emocionadas, o " Hino da Normalista". Também homenageamos o Professor Cruz, com uma medalha personalizada, que enviamos ao seu filho Luís. Ele já tinha partido. Fora encarregado de reger um coral de anjos, com sua velha batuta, imortal e etérea.
Recordo- me do meu último dia de aula no " Martim Afonso".Faço um breve retrospecto: ingressei naquele Estabelecimento em uma casca de noz. Graças ao Professor Cruz e a muitos outros, percorri o grande rio e cheguei à foz. Enfrentei a grande onda e caí no oceano. Sobrevivi. Continuo navegando........................
Em tempo: Informações a respeito do Professor Cruz encontradas em Vias Públicas de Santos/ SP- Novo Milênio. Há uma rua, em Santos, com seu nome.
10/ 9/ 20.

INCÊNDIO NO I.E. MARTIM AFONSO

Poucos hão de se lembrar do incêndio na Secretaria do " Martim Afonso", nos idos de 1958. Indiretamente, faz parte de minhas lembranças, porque agreguei um valor sentimental ao fato.Sei, hoje, por pesquisa, que colocaram fogo nos prontuários dos alunos, na noite de 13 para 14 de outubro do citado ano.
Sei que foram queimadas as escriturações dos alunos do Curso Normal.Não sei se houve danos às notas de outras turmas.
Lembro- me bem do dia 14.Naquele dia, aprontei- me, como de costume,e almocei.Peguei os livros e cadernos e despedi- me de minha mãe.Ah! Sem esquecer a caderneta vermelha, que era carimbada, diariamente, pela Sra. Neves Prado Monteiro,uma boníssima pessoa, que era nossa Inspetora de alunos.Na tal caderneta estava anotada nossa vida escolar: comparecimentos, ausências, suspensões( Cruz credo!) e notas: azuis, as queridas, e vermelhas, as abominadas. Como ia dizendo, saí de casa em direção à minha querida Escola, orgulhosa de ser Afonsina. Saia de casemira, pregueada, blusa branca, gravata preta, meias brancas e sapatos pretos, do tipo colegial. No bolso da blusa, se não estou enganada, havia um emblema com a sigla GEMA, bordado manualmente.
Meu caminho para o " M.A.",naquele ano, era pela Rua Pérsio de Queiroz Filho(não sei se já tinha o nome de Avenida). Ora, esqueci- me de dizer que morava no Jardim Nosso Lar, lá no fundão do Catiapoã. A rua era extensa e parecia mais extensa ainda, porque era um imenso areal ou areião, como dizíamos. Era, quase, uma areia movediça. Nela, nossos pés afundavam e parecia que nos transformávamos nos astronautas da Lua, em câmera lenta.De um lado, o Golf Clube, todo cercado de árvores.Nas árvores, em dias quentes, um número incalculável de cigarras, cigarrinhas e cigarronas entoava seus cânones intermináveis.Até parece que eram ensaiadas pelo saudoso Prof. Luiz Gomes Cruz, que lecionava Canto Orfeônico.Para lá das árvores, no verde gramado, ricos felizardos manejavam seus tacos de golfe, mirando a bolinha branca, tão desejada por muitas crianças.Às vezes, eu via a bolinha alçar vôo e se esconder dentro dos orifícios do gramado.Seus donos sorriam, felizes. Eu apressava o passo,transpirando, naquela rua interminável.
Agora, vamos aos fatos.Dia 14 de outubro.Como esquecer tal data? Cheguei à pracinha do Catiapoã. Por ali, moravam algumas colegas. Dali, no mesmo horário, todas saíam, aos pares ou em pequenos grupos. Rostos infantis, sorridentes, preparando- se para o futuro.Cheguei, então, à casa da primeira colega.Chamei- a.Ela se dirigiu ao portão. Estranhei, porque estava sem uniforme. Disse- me, então:

---Mirtes, hoje não haverá aula. Puseram fogo na Secretaria e queimaram as notas dos alunos.
---Como? Quem?
---Não sei.Meus irmãos não tiveram aula de manhã e me avisaram que não haverá aula hoje.
Despedi- me da colega. Dei meia- volta.
Minha passagem pela pracinha foi de júbilo. Um resquício das chamas que devoraram aqueles papéis tomou corpo em minha mente.
Que sorte! Era outubro. Eu acabara de completar doze anos e já me preparava para receber minha primeira bomba. Estava com notas vermelhas em Desenho Geométrico, Trabalhos Manuais e Latim.Aliás, nem sabia se essa Língua era prima do Grego e tia do Árabe, de tão indecifrável que era. Sim, era Latim, porque o padre rezava a missa na tal incompreensível Língua. Aliás, nosso professor, Antônio Smanhotto, alto e magro, com seu terno preto e gravata da mesma cor, parecia mesmo ser um padre.
Eu era muito ingênua, mas aquela chama em minha mente logo se apagou.Raciocinei: se as folhas com as notas foram queimadas, vão pedir a caderneta. Não adianta.Verão que tenho notas vermelhas.
No dia seguinte, nenhum abalo.O Diretor Edu Botelho Baraúna, como sempre, passou por nós, sem nos cumprimentar.Não houve conversa sobre o que ocorrera.Todos se comportaram, galhardamente.
Hoje, após ter lido alguns livros de Aghata Christie e de saber sobre a existência de um certo Sherlock Holmes,não deixaria por menos.Faria minha investigação particular.
---Por onde entrou o maroto? Maroto, não! Criminoso! Era aluno? Era irmão de aluno? Era pai de aluno? Usava luvas? Jogou álcool ou querosene? Usou fósforos Fiat Lux ou marca Olho? Talvez isqueiro? Nada! Acho que ninguém tem respostas para isso.Espero que, pelo menos, o gajo tenha se confessado ao padre.
Sei, hoje, que houve uma saída inteligente para que os alunos não fossem prejudicados.O Governador da época, Sr. Jânio da Silva Quadros, publicou o Decreto de número 34638, em 29/1/1959,resolvendo o caso das notas perdidas, considerando as notas dos anos anteriores. Tudo foi acertado. Só o meu caso continuou piorando.Em dezembro, foi consumada a reprovação sumária, sem direito à segunda época, já que " um é pouco, dois é bom, mas três é demais!"
Ao chegar em casa, minha mãe perguntou:--- Mirtes, não houve aula hoje?
--- Não, mãe, puseram fogo na Secretaria da Escola.
É... só eu sei!!!


DESPEDIDAS DE 2019

Ensaio fotográfico de Verônica Esquive Duque dos Santos - do 3º ano matutino
Não é mais aquele Martim Afonso daquela São Vicente pequena e bucólica dos anos 50 aos anos 70, com muros baixos, salas e corredores relativamente silenciosos, com alunos predominantemente de classe média e moradores dos bairros próximos, bairros e cidades distantes como Praia Grande, Itanhaém; também alunos de Santos.
É uma escola pública do século XXI, com uma geração e costumes totalmente diferentes; de uma escola que tenta respirar os ares inexistentes de outras épocas.
São alunos agora predominantemente de classe baixa, residentes nos mesmos bairros insulares e agora também das área continental, que surgiram nos anos 80 e 90 e tiveram uma explosão populacional no início do século.
Mas continuam sendo jovens: rebeldes, com novas ideias e hábitos, ainda cheios de sonhos, mas sem muitas expectativas. A maioria não sabe o quer e dizem que vão dar um tempo antes de escolher uma faculdade e traçar um plano de vida. Poucos escolhem por convicção e alguns escolhem no "vácuo".
As fotos foram feitas por uma aluna com um aparelho de telefone celular emprestado de um amigo, na hora do intervalo matutino.
Não é aquele Martim Afonso do nosso tempo, mas é o do tempo deles. O mesmo Martim Afonso.
CALUNGAH

















                            
OS LIVROS E OS CADERNOS DA MENINA FILOMENA

DALMO DUQUE

                  


A Escola Estadual Martim Afonso, na primeira quadra da rua José Bonifácio, talvez seja a única na cidade a não ter uma quadra de jogos e espaço para a prática de esportes. Desde à sua instalação próximo à orla até os dias atuais, em alguns períodos, os alunos atravessam o ano letivo e seus ciclos escolares inteiros sem aulas práticas de educação física. A escola foi construída alí no final anos 1950 próxima à praia e num bairro onde o metro quadrado sempre foi muito valioso. No início essas aulas comuns aconteciam em prédios improvisados; e as de atletismo eram feitas no calçadão da orla e na areia praia. Era um tempo em que a cidade era mais tranquila e os alunos podiam ir e vir sem causar preocupações aos pais e educadores.
Mas nem as coisas nem sempre foram assim.
Reza a lenda que, certa feita, um grupo de meninas do Martim Afonso saiu da escola - que na época funciona na mesma rua, porém na instalação de antiga pensão - e foram em direção à praia para realizar alguns estudos e colocar assuntos específicos em dia. Estavam de aula vaga. Não satisfeitas com os bancos do calçadão, tiraram os sapatos e entraram na areia, sentando-se num alegre círculo, colocando os cadernos e livros no chão para ganhar tempo até quando chegasse a hora de irem para suas casas. Eram minutos preciosos de liberdade e diversão. Uma delas, em incontido e inexplicável impulso, sem que nenhuma delas discordasse e impedisse, resolveu por si refrescar os pés no vai e vem das ondas. Sob a curiosidade e até inveja de algumas, ela foi entrando lentamente no mar até que as águas cobriram seu corpo, restando somente a cabeça e os braços estendidos dos ombros em movimento de equilíbrio, dando a impressão de que flutuava. E assim permaneceu por alguns minutos até que as amigas se distraíram e não perceberam que ela havia desaparecido complemente de suas vistas. Todas em pé, algumas se aproximam da água, olham para todos os lados e busca da colega e nada avistaram. Nos rostos, a angústia e algumas lágrimas desespero, já querendo respostas para o que acabara de acontecer.
Como explicar aquele súbito desaparecimento? O que diriam aos pais dela, aos professores e às suas famílias?
Voltaram apressadas para a escola e alertaram a direção. Nesse ínterim, no calçadão e na areia, já havia alguns curiosos querendo se inteirar da novidade. A notícia se espalhou rapidamente e chegou à delegacia de polícia, que ordenou rapidamente as buscas. Diferente dos turistas que se afogavam por distração ou suicídio deliberado, a menina parece ter sido tragada rapidamente por uma força estranha, sem nenhuma resistência da parte dela. Sumiu no mar.
Como acontece com a maioria dos afogados, o corpo da jovem estudante, sugado pelas águas e por impulso da maré, seria encontrado dias depois boiando próximo da Pênsil na direção do Mar Pequeno. Uma tragédia diferente daquela que atingem turistas desconhecidos. A moça não era desconhecida e sim uma menina de 14 ou 15 anos, agora mais do que nunca, muito conhecida na cidade. Uma grande comoção popular tomou conta dos vicentinos no velório e sepultamento.
Mas naquele dia fatídico e inesquecível, quando todos se retiravam do local onde ocorrera o sinistro, alguém olhou para trás e avistou alguns pertences na areia. Foi até o lugar e, no chão, onde haviam se sentado em círculo, e viu que lá ainda estava os cadernos, os livros, o par de sapatos e as meias da colega desaparecida para sempre. O par de sapatos e as meias foram devolvidos para a família. Os livros e os cadernos foram conservados em segredo entre as colegas, que guardaram como lembrança e depois um preciosa relíquia usada em suas orações para matar saudades da amiga e também auxílio místico em outros momentos de angústia e incerteza. Que segredos poderiam conter nas anotações dos cadernos ou notas esparsas dentros livros? Que força estranha e secreta teria impulsionado seu mergulho para a morte? Teria sido uma simples fatalidade, causada por um mal estar súbido, um choque de temperatura e congestão? Ou então uma queda acidental numa cava formada pela maré? Escondia ela algum segredo íntimo que se transformou em tormento e que jamais poderia ser revelado? São dúvidas que só ela ou alguém muito próximo poderia esclarecer.
Foi assim que, aos poucos, esse hábito de cultuar esses objetos entre as amigas mais íntimas da jovem estudante afogada espalhou-se como devoção popular entre mulheres religiosas, que passaram a levar livros e cadernos dos seus filhos colocando-os sobre o túmulo da Menina Filomena. Era assim que ela se chamava, talvez, em homenagem à menina martirizada aos 13 anos em Roma e que depois se tornou santa. O túmulo da menina Filomena, sem que a família pudesse ter algum tipo de controle, durante muitos anos ficava repleto de livros e cadernos no dia de Finados; e também recebia a visita em dias comuns, quando as causas e pedidos de ajuda não podem esperar o distante dia dos mortos no final do ano. Também pode ter sido por isso que, de tempos em tempos, as aulas práticas de educação física no Martim Afonso são suspensas sem maiores explicações. (Vultos e Fantasmas)

NOTA de Nelson Jose Gonçalves
"Conheci Filomena, nos chamavamos de Filó, menina magra de cabelos compridos até a cintura e sua irmã de olhos verdes muito bonita, moravam na rua Marcílio Dias do Nascimento, no Catiapoã, terceira casa descendo do lado da vila sorocabana perto da praça Walter do Amaral, seu pai sr.Tibúrcio, foi candidato a vereador mas não ganhou. Me lembro de uma passagem eu estava brigando em frente a sua casa com meu amigo Miguelzinho camisa preta por causa de bolinha de gude e ele sr. Tibúrcio saiu no portão: "Ei meninos o que vocês estão fazendo aí", entrou na briga para separar-nos e mandou todo mundo para casa. Isto aí que aconteceu com a Filó me entristeceu muito quando soube que ela tinha
morrido afogada. Eu tinha na época 14 para 15 anos, ela também quase a mesma idade; foi enterrada com seu vestido de primeira comunhão. Me lembro como se fosse hoje. Isto ocorreu mais ou menos em 1958, não em 1949. Foi um choque para todos nós. Moro em São Paulo e todas as vezes que desço à Baixada para ver meus parentes e visitar o túmulo de meus pais, visito a quadra nr. 08 do cemitério de São Vicente onde está enterrada Filó, companheira de infância. Seu túmulo está cheio de placas grudadas de (milagres) graças alcançadas".

Comentário feito no grupo Amigos do Martim Afonso - Facebook.

PROFESSOR FANTASMA 

DALMO DUQUE

ANDANDO PELO CORREDOR, segundos antes de entrar na sala de aula, Ronaldo já percebe a inquietação: conversas, gargalhadas e arrastar das cadeiras. Aparece na porta, entra com passos firmes, porém olha tranquilamente para todos, como se os olhos tivessem saudando pessoalmente cada um dos alunos. A sala não fica totalmente em silêncio, porém o barulho geral vai diminuindo aos poucos até que cessem a maioria das conversas. Ele cumprimenta a todos com saudação típica que todos conhecem e que, nos primeiros encontros, acharam engraçada, por ser totalmente fora de época: 
“ Fala, rapaziada! Tudo bom com vocês? ”. 
A saudação logo é seguida de alguns cumprimentos isolados e espontâneos, que de certa forma falam por todos os presentes, pois não tiram os olhos do professor. As reações são diversas. Uns contentes pelo retorno, outros espantados, outros curiosos, alguns intrigados e ainda alguns desconfiados daquela figura diferente e cativante. Ronaldo destoa dos demais professores. Ele é substituto e entra nas salas eventualmente na falta de algum professor. Não entra em todas as salas. Geralmente prefere as salas do piso superior. Brinca o tempo todo, principalmente quando os assuntos das aulas são pesados e desagrada a maioria. Ensina matemática, física e química. Explica de forma muito diferente, rápida, como se fosse um youtuber. As aulas não duram mais do que dez minutos. É incrível. Todos ficam perplexos e fascinados porque simplesmente entendem o que ele fala. Diz que tem um canal no Youtube, mas não é verdade, porque ninguém encontra os vídeos. Quando diz que os conteúdos estão no Youtube todos riem porque já sabem que é uma piada ou uma forma de dizer para prestarem mais atenção. 
Ronaldo sempre chega assim, de boa, sem alarde. Dá o recado bem rápido e sai da sala dizendo outra frase muito estranha para os alunos da geração atual: 
“Saída pela direita!!! E vai embora. 
Ronaldo não fica na sala dos professores nem no pátio. Às veze é visto na secretaria, sempre calado, encostado em um dos arquivos ou sentado próximo à uma das mesas desocupadas. Outro lugar onde também é visto com frequência é no auditório, sempre lendo algum livro ou mexendo no seu celular. Ele dá as aulas nos períodos que antecedem as provas e entrega de trabalhos. Parece saber quais os assuntos que estão incomodando e reconhece os alunos que se preocupam mais com as notas: 
“Já sei o que tá pegando... “ 
Numa das salas tem uma aluna que senta perto da porta, muito discreta. Faz parte do grupo dos curiosos e desconfiados. Ela acha muito estranho um professor eventual fazer o que ele faz, mas este não é o problema, já que todos sabem como são geralmente os eventuais. Quase ninguém percebe que ele só dá aulas nas salas do piso superior. Lembra o nome de todos os alunos, mesmo o dela que nunca abre a boca, nem para responder chamada. Como ele sabe o nome dos alunos? De alguns ele sabe até coisas que ninguém sabe. Um dia ele olhou para um aluno e, do nada, disse para ele não se preocupar porque a mãe estava bem e que tinha deixado um recado no telefone da secretaria. O aluno estranhou porque a mãe não tem telefone e nem gosta de falar em telefone; estava internada em estado grave no hospital e iria passar por uma cirurgia de risco. Chegou em casa e recebeu a notícia de uma tia que a mãe realmente estava fora de perigo. 
Ronaldo dá boas dicas de memorização e toques para cada uma das disciplinas, sobretudo as consideradas mais difíceis. Um detalhe: as dicas incluem o gosto pessoal e preferências dos professores dessas disciplinas. Prestando atenção nesses detalhes alguns os alunos começaram a ter bons resultados e muitos outros começaram a aderir. 
Alguns professores estranharam a mudança dos alunos e ficaram intrigados, porque eles próprios não mudaram em nada o estilo das suas aulas. As mudanças aconteciam durante as atividades valendo pontos. Um desses professores, desconfiadíssimo, começou a questionar essas melhoras. E se aproximou dos alunos, como ele, desconfiados. Ouviu cada detalhe. Só não perguntou o nome. E os alunos durante a conversas com ele não pronunciaram uma única vez o nome de Ronaldo. Aquela aluna desconfiada, que senta perto da porta, ouviu tudo e não disse nada. Ficou mais intrigada ainda. Ela tinha visto o Ronaldo na calçada da praia. Estava sozinho em um banco de concreto olhando para o mar. Ela não achou nada estranho alguém estar olhando para o mar, porém, em um segundo de distração, olhou e não viu mais Ronaldo. Tinha sumido. Ela pensou que talvez estivesse se escondido atrás de um quiosque, mas o banco estava bem longe do mais próximo. Sumiu mesmo. 
Ano passou rápido. No final do terceiro bimestre Ronaldo desapareceu da escola. No lugar dele veio outro eventual. A menina que tinha visto Ronaldo no banco da orla também não deu mais notícias dele para os colegas. Quer dizer, até uma notícia para dar, mas achou que não seria muito legar falar sobre isso. Logo depois das festas de Natal e Ano Novo, ela e um grupo de amigos passavam pela rua da escola, já no final da tarde. Era sábado e escola estava fechada. Mas, em cima da mureta de uma das muretas do portão de entrada, alguém estava com o corpo inclinado para observar o movimento da rua, tentando enxergar também o movimento no calçadão da praia. Olha para o grupo e acena para ela. Era Ronaldo. Sorriso no rosto e o mesmo olhar tranquilo. A menina acena de volta dizendo pra si mesma: “Ele vai desaparecer”! E Ronaldo foi desparecendo, como uma imagem de nuvem que por alguns segundos parece algo bem definido e depois se desfaz antes que a gente defina e explique o que estava vendo há poucos segundos. Ela só teve tempo de gritar : “Olha, é o Ronaldo”. 
E alguns colegas soltaram gargalhas dizendo: 
“Nossa, tá chapando”!!!  (Vultos e Fantasmas) 


*

VIDROBRÁS-SAINT-HILAIRE

"Hoje tive um reencontro com a minha adolescência. Visita à Escola August Saint-Hilaire - antiga Vidrobrás, onde fiz parte do meu ensino fundamental em 1977-78. Era presidente do Centro Cívico e ator amador na peça o Noviço. Nessa época o prefeito era Koyu Iha. Aqui também estudou nos anos 1950 o  músico e escritor José Miguel Wisnik, antes de ir para o Martim Afonso. O pai dele era chefe de forno da Fábrica de Vidros". Dalmo Duque, 16 de agosto de 2019.






Casa onde funciona a Escola Municipal Carolina Dantas nos anos 1960. 


E.E. CIDADES IRMÃS - NEVES PRADO MONTEIRO



CIDADES IRMÃS, uma escola no marco da divisa entre São Vicente e Santos. Fundada em 29 de outubro de 1962 como Ginásio Estadual Vila São Jorge, funcionava na antiga Escola Municipal “André Freire”, na Praça Maria Coelho Lopes, (atual E. E. ”Benevenuto Madureira”). Transferiu-se em 1975 para o prédio da Praça Estado de Israel, na divisa dos Municípios de Santos e São Vicente, passando a se chamar, a partir de 19 de fevereiro de 1975, como Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus “Cidades Irmãs”. Em fins de 1981, por um Decreto de 29 de novembro do então Governador Paulo Maluf, sua denominação foi alterada para Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus “Neves Prado Monteiro”, em homenagem à genitora do Coordenador de Ensino do Interior da época, o Sr. Jorge Monteiro. O marco divisório das duas cidades está fixado no terreno da escola, o que torna a incorporação do nome “Cidades Irmãs” símbolo dos alunos, bem como de pais e da comunidade em geral do bairro. Fonte: http://escolanevesprado.blogspot.com.br/









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