10/07/2019

MEMÓRIA DA SAÚDE E DA MEDICINA


DALMO DUQUE DOS SANTOS


A Ilha e a Capitania de São Vicente foram os primeiros cenários da fusão e desenvolvimento da medicina tropical e europeia estabelecida Brasil colonial. Foi  nas vilas de São Vicente, Santos e no planalto paulista, entre os séculos XVI e XVIII, que surgiram as primeiras observações e conhecimentos pré-científicos sobre as doenças e as práticas curativas. Doença e saúde fez parte do amplo e duradouro encontro de culturas do Brasil colonial, marcado pelo convívio entre europeus, índios e africanos, dentro do mesmo contexto de miscigenação racial e  sincretismo cultural e religioso. 

A medicina formal nascente na América e na Europa e os costumes e conhecimentos do curandeirismo popular  foram desenvolvidos e ampliados simultaneamente.  Encontraram no Brasil um terreno fértil para trocas de experiências e aprendizagem na arte de diagnosticar e curar. Médicos e curandeiros, farmacêuticos , donos de boticas e feirantes de ervas e raízes,  enfermeiras e parteiras, tira-dentes, protéticos, massagistas dividiam os mesmos espaços das necessidades medicinais das elites e das camadas sociais populares. Fórmulas alopatas e homeopatas, rezas e benzimentos, doutores, pagés, pretas e pretos velhos,  todos nasceram e povoaram- como acontece até hoje - o universo cotidiano da doença e da saúde no Brasil. 

RUA DO COLÉGIO. BIQUINHA.  Marco da Fundação da Primeira Escola de São Vicente e Segunda do Brasil (Salvador -BA), monumento instalado pela Ordem Jesuíta do Brasil em 1954 em comemoração dos 400 anos da presença ignaciana no Brasil.  

Além dos costumes domésticos de prevenção e cura trazidos pelos primeiros colonizadores, o  Brasil conheceu a medicina pré-científica europeia por meio dos jesuítas, cujo acervo de obras literária e curiosidade dos educadores dessa ordem foram se disseminando nos lugares por onde se instalavam as missões.

Desse acervo teórico e práticas básicas, os jesuítas, bem como os colonos, observavam e aprendiam os conhecimentos e as práticas dos indígenas e também dos escravizados africanos, ambas culturas com vasto e farto material de prevenção e tratamento a partir da flora e da fauna selvagem brasileira.

As primeiras boticas e serviços farmacêuticos foram iniciativas de religiosos dessa ordem em cujos quadros sacerdotais eram encontrados estudiosos e praticantes da medicina que ingressavam na Companhia de Jesus para obterem recursos de formação básica e aperfeiçoamento intelectual.

As chamadas drogas do sertão, amplamente difundidas e comercializados na colônia pelos feirantes e curandeiros – locais e nômades- compôs no decorrer dos primeiros séculos o acervo medicinal do Brasil.

Os primeiros médicos brasileiros formados na Europa também incorporaram esse acervo cultural primitivo aos seus elementos pré-científicos trazidos pelos jesuítas e depois pelos bacharéis formados em Portugal e Espanha.

Somente com a vinda da Família Real em 1806 é que foi possível o estabelecimento da medicina científica no Brasil, formando as primeiras gerações de médicos e farmacêuticos que iriam atuar nas cidades coloniais do litoral e  regiões do sertão. 

Gravura do século XVIII de uma Botica no período colonial. Nota-se nessa ilustração alguns aristocratas em conversação científica e de negócios, o balconista e prático farmacêutico e o escravo, com vestimentas da época, porém descalço, aguardando para levar a medicação solicitada pelos seus senhores.  

A partir do século XIX, com estreitamento cultural entre o Brasil e a Europa industrial, as políticas de saúde pública tomam corpo científico e profissional. Foi também a fase da propagação e combate das chamadas doenças tropicais e da medicina social , desenvolvida pelos médicos sanitaristas de grande projeção como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas.

Também no início do século XX aparecem as primeiras inciativas da criação de redes de atendimento e internação hospitalar, incluindo os sanatórios de doenças pulmonares e as colônias psiquiátricas, todas seguindo modelos estruturais e concepções científicas europeias, sobretudo da França. No caso dos manicômios, como aconteceu na Europa, inicialmente os doentes mentais conviviam com criminosos  comuns, classificados genericamente como alienados mentais, sendo a reclusão vista como profilaxia e ao mesmo tempo solução social.

Essas transformações, estimuladas pelo desenvolvimento econômico e urbano, também causadas pelas epidemias trazidas pelo comércio marítimo, influiu também no aperfeiçoamento das escolas de medicina, algumas delas se tornando referência internacional.

A Baixada Santista, por estar próxima à Capital do estado, teve um rápido desenvolvimento dos serviços de saúde pública e privada. Isso ocorreu por causa da presença de europeus que vinham morar na região em função dos negócios de transporte ferroviário e da industrialização nascente. 

No final do século XIX e início do XX, a cidade de Santos teve um rápido crescimento urbano em função da movimentação portuária, porém não havia uma infraestrutura de saneamento básica proporcional. Era uma cidade de clima com altas temperaturas e considerada insalubre, de fácil propagação de doenças epidêmicas. Por esse motivo muitas famílias europeias instaladas na região preferiam morar em chácaras nos arredores como São Vicente, Cubatão e Guarujá. Esse problema sanitário começou a ser solucionado com as obras dos primeiros canais projetados pelo engenheiro Saturnino de Brito. O esgoto de Santos e São Vicente era bombeado através de canos e estações transmissoras e despejado na ponta do Itaipu em Praia Grande. Inicialmente, a Ponte Pênsil tinha essa função condutora de esgoto. 

Mas a principal referência de saúde e medicina da  Baixada Santista foi durante décadas a Santa Casa de Santos, instituição secular que teve que ser ampliada e modernizada em função do rápido crescimento populacional santista e das localidades vizinhas, sempre muito carentes e desprovidas de equipamentos públicos de saúde. 

Santa Casa de Misericórdia de Santos, em 1935. Foto de August Tegtmeier. Fonte: Memória Santista. 


A classe médica de Santos e da região era tradicionalmente formada em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Na década de 1960 esse cenário vai mudar com a criação da Faculdade de Ciências Médicas em 1966, mantida pela Fundação Lusíadas, responsável pela formação das primeiras gerações de bacharéis médicos da região. Havia em toda a região um grande anseio pela instalação de cursos universitários e o movimento para a criação do curso de medicina liderou politicamente essa reivindicação. 




Notícia sobre o processo de autorização do curso de Medicina em Santos em 1967.



Edital dos vestibulares da FMS para turma de 1970. Jornal Cidade de Santos. 


Jornal Cidade de Santos. Trote de calouros de Medicina nas ruas de Santos, 8 de março de 1969.


Jornal Cidade de Santos, 1969. 



Cidade de Santos, sexta feira, 31 de outubro de 1969, página 5.



Vestibular 1970. 


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A BOTICA DE JOSÉ INÁCIO DA GLÓRIA






Bico de pena de Edson Telles de Azevedo. 


"José Ignácio da Glória nasceu em 29 de outubro de 1845, filho do boticário do mesmo nome; faleceu com 82 anos, em 19 de agosto de 1927. Casou-se na cidade de Santos com d. Ana Lourenço, casou-se em segundas núpcias com d. Josefina Lopes dos Santos, e por terceira vez, com d. Celestina Ribeiro de Melo.

José Ignácio da Glória fundou a primeira "Botica de seu Glória". A Câmara Municipal da Vila de São Vicente, em 1883, nomeou-o para o cargo de vacinador. Durante o surto de febre amarela que invadiu São Vicente em 1892, teve José Ignácio da Glória destacada atuação no combate a doenças; a Santa Casa de Santos também exigiu a sua presença, no combate à febre amarela. Em 1918, durante o surto de "gripe espanhola", destaca-se novamente.

Foi nomeado intendente de São Vicente. Exerceu as funções de juiz de casamentos. Como jornalista, foi diretor de A Imprensa, fundado por seu pai em 1870, em Santos, onde em 1808 (N. E.: o ano é 1875) fundara também o Rabecão. Em 1890, José Ignácio funda em São Vicente o bissemanário O Futuro, impresso em tipografia própria. Além de O Leque, fundou O Vicentino em 1898. Foi também abolicionista.

Ocupou o cargo de agente do Correio em São Vicente, em 1885. Já era eleitor nesta cidade, em 1876. Foi juiz federal antes da criação das coletorias federais. Secretário e procurador da vereança municipal, sem remuneração. Ocupou o cargo de coletor federal vários anos.

O imperador d. Pedro II foi recepcionado em São Vicente, na residência de José Ignácio da Glória. O Governo nomeou-o Protetor dos Índios. Trabalhou com o dr. Oswaldo Cruz no saneamento do Rio de Janeiro. Doou a sua parte do Morro dos Barbosas à Prefeitura". 

Vultos Vicentinos. Edson Telles de Azevedo, 1972. 


Praça João Pessoa nos anos 1950 ainda com o prédio da antiga Farmácia de José Ignácio da Glória. A publicação dessa fotografia na página São Vicente de Outrora resgata a imagem original do prédio na esquina da rua Erasmo Shetz, antes só conhecida por desenho em bico pena no livro Vultos Vicentinos, de Edson Telles de Azevedo.



Dr. Martins Fontes, Chefe Regional do Serviço de Saúde em Santos. 

Vultos Vicentinos. Edson Telles de Azevedo.

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A FUNDAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL SÃO JOSÉ



Membros da Irmandade e autoridades em visita às obras do Hospital São José no início dos anos 1930. Acervo do IHGSV.


Em São Vicente, o marco da transformação dos serviços de saúde foi, em 1918, a fundação  e início da  construção do Hospital São José, empreendido pela Irmandade da Santa Casa local. O empreendimento foi desenvolvido no antigo terrenos onde funcionava a Chácara dos Inocentes e um creche e escola infantil, sob os cuidados da conhecida benemérita paulistana Anália Franco.  


A IRMANDADE DA 

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO VICENTE

POLIANTEIA VICENTINA (1982)

Coube ao jornal "O Progresso", em janeiro de 1918, promover uma campanha objetivando mobilizar a comunidade vicentina para a fundação da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente, pois o surto de gripe (a chamada gripe espanhola) que assolava todo o litoral, criava sérios embaraços de atendimento, pela falta de hospitais em São Vicente e pela superlotação de doentes na Santa Casa da Misericórdia de Santos.

Sensibilizada por essa campanha, que mostrava a gravidade da situação, D. Ofélia Chaves Meirelles, esposa do Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Vereador José Meirelles, tomou a iniciativa de coordenar a fundação do hospital vicentino, contando, de pronto, com a solidariedade, com a ajuda e a movimentação de mais duas senhoras vicentinas D. Maria das Dores Bensdorp e D. Maria José do Amaral Reippert -transformando-se, de pronto, num dinâmico trio feminino, que não mais cessou suas empreendedoras atividades em prol desse ideal, até que o hospital vicentino se trans- formasse numa realidade.

Sob a liderança de D. Ofélia Chaves Meirelles foram promovidas numerosas reuniões, na casa do casal José Meirelles, à Rua Antônio Rodrigues n.o 172, com a participação dos Srs. Silvio Pereira Mendes, Pérsio de Souza Queiróz, José Rittes, João Francisco Bensdorp, Dr. Lobo Viana, Nicola Patrício Moreira, Raul Serapião Barroso, Luiz Antonio Pimenta, João Wenceslau Emmerich, Dr. João Queiroz de Assunção Filho, Olegário Herculano Alves e Edison Telles de Azevedo, a fim de ajustar todos os detalhes para a fundação do hospital.

E, com esse propósito, foi convocada uma Assembléia Geral, através do jornal "O Progresso", aprazada para o dia 26 de setembro de 1918, no recinto da Câmara Municipal de S. Vicente (hoje prédio da Prefeitura), aberta a quantos desejassem participar dessa fundação e prestigiar a criação do hospital vicentino. Efetivamente, no recinto do Paço Municipal, as 20 horas, no dia 16 de setembro de 1918, D. Ofélia Chaves Meirelles instalava essa assembléia geral, cuja presidência, por aclamação dos presentes, foi transferida ao Capitão José Meirelles, que convidou para Secretariá-la o Sr. Olegário Herculano Alves. Discutida a denominação da instituição que se fundava, por proposta do Sr. Olegário Herculano Alves, foi aprovada a manutenção da denominação provisória que a Comissão Coordenadora das três senhoras havia escolhido ASSOCIAÇÃO PROTETORA DO HOSPITAL SÃO JOSÉ. 

Dr Pérsio de Souza Queiroz, Membro da Comissão Elaboradora dos Estatutos.


Por sugestão do Sr. Pérsio de Souza Queiroz a Comissão Iniciadora, integrada pelas senhoras Ofélia Chaves Meirelles, Maria das Dores Bensdorp e Maria José do Amaral Reippert, foi eleita como Diretora Provisória, até que, aprovados os Estatutos, viesse a ser eleita a Diretoria para o primeiro mandato. D. Ofélia Chaves Meirelles assumiu a Presidência, D. Maria das Dores Bensdorp, assumiu a Secretaria e D. Maria José do Amaral Reippert, assumiu a Tesouraria. 

Para integrar a Comissão de elaboração dos Estatutos foram designados os Srs. Dr. Pérsio de Souza Queiróz, Benedito Calixto de Jesus e Dr. João Pedro de Jesus Neto. 

Para constituir a Comissão de F Srs. Presidente, José Rittes; Secretário, Eduardo de Freitas Júnior; Tesoureiro, Olegário Herculano Alves; Membros: Antônio Rodrigues Fernandes, Alberto Martins de Oliveira, Olympio Militão de Azevedo, Hordecio Lopes dos Santos Júnior, Antônio Mendes Batista, Marcilio Dias do Nascimento, José Meirelles, João Francisco Bensdorp, Alberico Robillard de Marigny, Dr. João Queiroz de Assumpção Filho, Thomas Alves Pinto, Divo de Souza Aguiar e Carlos Borba.

A Diretoria Provisória informou a assembléia, que durante a coordenação preparatória da fundação do Hospital havia sido obtida, por doações, a importância de RS. 4:272$000. 

Além de todas as pessoas mencionadas nos trabalhos da assembléia de fundação, também estiveram presentes: Maria Caiaffa Borba, Ana Bensdorp, Sofia Bensdorp, Antonio Figueiredo Júnior, Sílvio Pereira Mendes, Hermann de Castro Reippert, Antônio Augusto Dias Carneiro e Oscar Meirelles da Silva.

Alberico Robillard de Marigny, membro da Comissão Iniciadora.



INSTALAÇÔES PROVISÓRIAS E QUERMESSES

A instalação provisória do Hospital São José foi feita no salão da Casa Paroquial, por cessão do Padre Leopoldo Ripa, onde foram alojados e tratados, sob a assistência médica do Dr. Guilherme Raposo de Almeida, os enfermos mais graves e mais carentes, atingidos pela "gripe espanhola". Muito ajudaram nesse surto de gripe, os membros da Sociedade S. Vicente de Paulo e do Tiro de Guerra n. 11, presidido pelo capitão Luiz Hourneaux. A 29 de novembro de 1918 a Sociedade Protetora do Hospital São José adquiria de D. Maria das Dores de Vasconcelos Meijers a área situada no centro da cidade e conhecida como "Chácara dos Inocentes", cuja compra foi realizada por RS. 30.000$000 (trinta contos de réis), com a dedução de RS 5.000$000 (cinco contos de réis) que a proprietária reverteu em donativo, por se tratar de uma instituição beneficente e que necessitava de recursos para proceder a adaptação do prédio residencial, existente na chácara, em hospital. A transação foi feita em nome do Sr. João Bensdorp Prefeito Municipal - mediante hipoteca ao Dr. Maurilio Porto. Logo que quitada a dívida, o imóvel foi transferido à propriedade definitiva do Hospital São José.

Para a construção de um novo prédio foram realizadas sucessivas quermesses, das quais podemos destacar algumas barracas; em 1921, a barraca do C. R. Tumiaru, coordenada por D. Catarina Neves e a do Feitiço A. C.; em 1925, a barraca das Flores, coordenada pelo Dr. Pérsio de Souza Queiroz e a barraca das Borboletas, coordenada por D. Ofélia Chaves Meirelles arrecadara, RS. 2.2465000; em 1926 a barraca S. Vicente, coordenada pela Profa. Odila Bittencourt arrecadou RS.1.700$000, arrecadando igual importância a barraca Barão do Rio Branco, coordenada por D. Ofélia Meirelles e também se destacando a barraca Beija-Flor; em 1928, essa senhora coordenou a barraca Independência. Nesse ano também se destacaram as barracas: Santos Futebol Clube, coordenada por D. Zizi Melo e Deus Braham, falo Sr. Luiz da Silva Primo. 

Em 1929, voltaram a se destacar as barracas Beija-Flor F. C. e União F. C. Em 1937, destacou-se a barraca S. Cristóvão, coordenada por D. Olga Mirabelli. As campanhas em prol do Hospital São José prosseguiam, permanentemente, recebendo valores em espécie, áreas imobiliárias, donativos em dinheiro, além das promoções financeiras através de rifas, sorteios, leilões.

Os primeiros títulos honoríficos concedidos pela Sociedade, datam de 5 de janeiro de 1919 e foram concedidos, num justo preito de reconhecimento, a D. Ofélia Chaves Meirelles - Irma Benemérita; a D. Maria das Dores Bensdorp - Irmã Benemérita; ao Sr. José Meirelles Irmão Benemérito; a D. Maria José do Amaral Reippert - Irmã Benemérita e a João Francisco Bensdorp Irmão Benemérito.

O Hospital São José - no primitivo prédio da Chácara dos Inocentes, ligeiramente adaptado, foi inaugurado a 29 de junho de 1921, sob a Presidência do Sr. José Meirelles.

Em 1929, ainda sob à Presidência do Sr. José Meirelles, e sendo Diretores, Dr. José Avelino Ribas D'Ávila, Norberto Neves, Edison Telles de Azevedo, Raul Serapião Barroso e Nicolau Patrício Moreira, foi iniciada a reforma do prédio, com sua ampliação e construção do 2. pavimento, inclusive com elevador, cujas obras foram concluídas em 1932. 

Em 1951, na gestão do Sr. Antônio Bueno Capolupo, fez-se mais um adendo ao prédio, no andar térreo, para a instalação da Maternidade, cujo melhoramento só veio a ser concluído e inaugurado sob a Provedoria do Sr. Marcilio Dias Hourneaux.

Em 1950 foram inauguradas as novas dependências da cozinha e despensa. Essas obras foram realizadas sob a administração do Eng. Rafael Faro Politi. Ainda em 1951 foi adquirida uma nova mesa para o centro cirúrgico e um novo aparelho para anestesia. Também o prédio foi ampliado em seu segundo pavimento. Entretanto, desde 1941, a Irmandade vinha vendendo lotes de terre- nos de sua propriedade, para fazer face a esses investimentos na área hospitalar.

Em 1939 o Hospital São José atravessou talvez sua crise mais alarmante, pois a própria prefeitura Municipal havia suspendido o pagamento de suas subvenções, por atravessar também dificuldades financeiras. Contudo, com a interferência do Sr. Aberlardo  Soares de Souza, em janeiro de 1940, a municipalidade normalizou o pagamento atrasado de suas subvenções e com isso o Hospital pôde superar, aquela crise. O Sr. Abelardo Soares de Souza foi distinguido pela Irmandade, em reconhecimento aos seus serviços, com o título de Irmão-Benfeitor.

Em março de 1953, mediante contrato com a municipalidade, o Pronto Socorro Municipal passou a funcionar no Hospital São José. Em 1955 é feita a ampliação do Centro Cirúrgico, com recursos provenientes da venda de mais alguns lotes de terreno, cujas obras foram ir auguradas em 1957.



Hospital São José em 1967. Foto do jornal Cidade de Santos, feita da janela de um prédio na esquina da ruas Frei Gaspar com XV de Novembro. Acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.


Em 1960 a Irmandade tinha 200 Irmãos Beneméritos e Benfeitores; 550 Irmãos Remidos e 300 Irmãos Contribuintes. Nesse ano a situação financeira do hospital voltou a agravar-se, sendo necessária a venda de lotes de terrenos para enfrentar a crise. Em 1967, para que se concretizasse o convênio com o INPS, se tornou necessário proceder a diversas reformas non prédio , cujo orçamento atingia a mais de Cr$10.000,00. Em 1969 foram colocados à venda novos títulos de sócios no valor de Cr$550.000,00.

Em 1970 foi solicitado à Caixa Econômica Federal um empréstimo para a construção do Pronto-Socorro Infantil. Em 1971 foi adquirido um novo Aparelho de Raio-X. Ainda neste coordenada pelo Comando do 20 BC, em ano foi realizada a "Operação S. Vicente" prol da construção do Pronto-Socorro In- fantil, campanha essa que contou com muita cooperação de pessoas e firmas da cidade, com destaque especial para o Deputado Athiê Jorge Coury, Cia. Votorantim, H. Quintas & Cia., Coca-Cola Refrigerantes, Sociedade Civil Parque São Vicente, Rafael Faro Politi & Cia., Rossi & Cia., Materiais para Construção Valença, todas as pedreiras vicentinas e, em especial, do Lions e do Rotary de São Vicente. Em 1973 nessa ala construída, foi inaugurado o Pronto-Socorro Infantil e o Banco de Sangue.

Ainda em 1973 novas ampliações foram feitas ao Hospital São José, de modo a permitir a instalação do novo equipamento de Raio-X, nova lavanderia e gerador de emergência, transformando as antigas instalações do raio-x numa enfermaria para 12 leitos e alojamento para os médicos-estagiários vindos, por convênio, da Faculdade de Medicina de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro.

Em 1975 foi iniciada a construção de um novo prédio, para proporcionar ao Hospital S. José uma nova Maternidade, um novo Centro Cirúrgico, além de apartamentos de classe "A" para proporcionar maior renda ao nosocômio. Essa construção, pelo seu vulto, contribuiu para o agravamento da situação financeira do hospital, além de exigir a paralisação da obra em 1977. A crise do hospital foi superada, nos últimos três anos e hoje a nossa Santa Casa está em absoluta estabilidade financeira. As obras paralisadas, a quase cinco anos, foram reiniciadas, embora lentamente, por iniciativa do Lions Clube de São Vicente e da Prefeitura Municipal, que passou a destinar a essa obra hospitalar a receita proveniente do Estacionamento Regulamentado do Município.

Em 1952 a Irmandade dispensou a valiosa cooperação das Freiras que prestavam serviços ao Hospital -por se tornar imprescindível ao nosocômio a utilização da ala residencial ocupada pelas Irmãs de Caridade.

Em 1938, em Assembléia realizada a 21 de dezembro, por propostas do Sr. Jayme de Almeida Paiva, a denominação do Hospital deveria ser mudada de Sociedade Protetora do Hospital São José para, Irmandade do Hospital São José- Santa Casa da Misericórdia de S. Vicente, Essa proposta foi apoiada pelos srs. Carlos de Barros Faria e Aparicio Mascarenhas. Entretanto a ela se opôs o Dr. Guilherme Gonçalves, que concordava apenas com a transformação do nome em Irmandade do Hospital São José, que apoiado pelos Srs. Pérsio de Souza Queiroz, José de Castro Tibiriçá, Mário de Souza e outros, teve sua proposição aprovada.

Entretanto, na década de 70, a Assembléia Geral, por exigência da Previdência Social e das instituições de Assistência Social do Estado, veio a adotar a denominação de Irmandade do Hospital São José Casa da Misericórdia de S. Vicente confirmando a assertiva da denominação proposta pelo Sr. Jayme de Almeida Paiva, em 1938.

Hoje a Santa Casa da Misericórdia de S. Vicente conta com modernas instalações de traumatologia, Raio-X, Maternidade e, Farmácia, Banco de Santos, Centro Cirúrgico, Sala de Recuperação, Laboratórios de Análises, Pediatria, Pronto Socorro, Clínica Genicológica e Obstétrica, Fisioterapia, além de moderna cozinha, lavanderia, refeitório para médicos e funcionários, Capela, velórios, Berçário e dependências administrativas. É uma instituição benemérita que muito cresceu, ultimamente, mercê de suas boas administrações e dos convênios firmados com a Previdência Social e IAMSP e que continua a merecer e a precisar do apoio de toda a comunidade vicentina, à qual ela vem prestando inestimáveis serviços há 64 anos consecutivos.


 
OS PRIMEIROS ADMINISTRADORES DO HOSPITAL SÃO JOSÉ

1918-1919- D. Ofélia Chaves Meirelles

1920-1921- João Francisco Bensdorp

1922-1930- José Meirelles

1931-1935- Luiz Antônio Pimenta 

1936-1939-Carlos Vieira da Cunha 

21 de dezembro de 1938 - Transformação em Hospital São José- Santa Casa da Misericórdia de São Vicente - Criação do Conselho Deliberativo e o cargo de Provedor. 

Membros pioneiros da Irmandade que exerceram as funções de presidente do conselho e provedores entre 1939 e 1982 (ano dessa publicação) :

Dr. Luís Silveira, Pérsio de Souza Queiroz , Dr. Alcides de Araújo, Nicolau Moreira, Antônio Bueno Capolupo, Silvio Fortunato, Marcilio Dias Hourneaux, Raul Carlos Oliveira, José Gomes dos Santos Neto, Dr. Polydoro de Oliveira Bittencourt, Lauro Pereira Carvalho, Dr. Álvaro de Assis, Antônio Peixoto, Aube Pereira, Fernando Barbosa Dias.


2018 - CENTENÁRIO DO HOSPITAL SÃO JOSÉ.



Imagem de 1976 da fachada principal do Hospital e da antiga Maternidade, na quadra da rua Frei Gaspar, entre as Ypiranga e XV de Novembro. Site do IBGE. 






AGONIA DO HOSPITAL SÃO JOSÉ. Em 1960 vereadores vicentinos tentam, obter da presidência da república um auxílio especial de 10 milhões de cruzeiros para socorrer o Hospital São José. No grupo estava a vereadora Maria Luisa Infantini. Os três primeiros ofícios descrevem o processo encaminhado ao Executivo pelo deputado federal Antônio Feliciano até chegar à Comissão da Câmara Federal. Esta última, presidida por Maurícío Joppert da Silva, já em 1962, no quarto ofício, rejeita o pedido, dando parecer desfavorável.

 

PERSONALIDADES DA MEDICINA VICENTINA



DR. GUILHERME RAPOSO DE ALMEIDA




No dia 20 de julho de 1894, nascia Guilherme, na Fazenda de Santo Antônio do Rio Manso, distrito e município da comarca do Espírito Santo do Pinhal, neste estado. Casou-se no Rio de Janeiro, em 2 de outubro de 1917, com d. Dulce Teixeira Pinto. Terminando os preparatórios no Instituto de Ciências e Letras em 1911, matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo. Sentindo que não era a Engenharia a sua vocação, ingressa na Medicina, formando-se na Universidade do Paraná, em 3 de março de 1920.

Veio para São Vicente em setembro de 1920. Apresentou-se como voluntário no quartel da Cruz Vermelha, em São Paulo, por ocasião da Revolução de 1930. Foi designado chefe do Serviço de Saúde das Forças Revolucionárias, no setor de São José do Rio de Janeiro, abrangendo parte de Minas Gerais, acompanhado do seu sobrinho Aníbal Raposo do Amaral, médico residente em São Vicente há 30 anos.

Em São Vicente era chamado o médico dos pobres, pois não costumava cobrar as consultas dos pobres.

Organizou em janeiro de 1924 uma excursão náutica São Paulo-Buenos Aires, dois barcos, pelos rios Tietê, Paraná e Prata. Faleceu em 5 de outubro de 1933, em São Paulo. Vultos Vicentinos, 1972.


MARCÍLIO DIAS DO NASCIMENTO



Embora nascido em 10 de junho de 1883, conviveu entre nós quase desde os primórdios de sua existência. Era filho do velho alfaiate Benedito André do Nascimento, oriundo de Vilabela, popular e também benquisto entre os vicentinos, e que foi casado com Joana Antônia do Nascimento.

Instruído, com inclinação para a odontologia, Marcílio Dias do Nas- cimento licenciou-se na profissão de seu pendor, ao longo da qual não fez fortuna, nem sequer chegou a amealhar o necessário para fruir uma velhice sem preocupações. Sua clientela compunha-se, em maior número, de desprovidos de meios, que, não poucas vêzes, lhe ficavam a dever. Mas nem por isso Marcílio deixava de persistir em sua missão de minorar o sofrimento alheio, sem se ater exclusivamente a vantagens pecuniárias. E assim se comportou ao longo da vida, quer em sua atuação profissional, quer nas várias atividades filantrópicas da cidade, das quais era figura obrigatória.

DENTISTA À DOMICILIO
Marcílio Dias do Nascimento era um profissional competente e aplicado. Levava sua dedicação ao ponto de atender clientes a domicílio, quando os mesmos, necessitados de tratamento de urgência, não podiam ir ao seu consultório. Quando isso se dava, Marcílio munia-se dos vá- rios petrechos, incluindo um rotador portátil, desmontável, acionado a pedal, e que funcionava satisfatoriamente. O cliente era convenientemente socorrido em sua própria casa, graças a esse valor a mais que o dedicado dentista acrescentava ao bom e completo desempenho de sua atividade profissional; assim se inculcava na preferência dos clientes, naquela época muito menos numerosos do que agora, e em geral esquivos pelo receio que ainda hoje inspira, a muita gente, esse tratamento.

O fator de poder dar atendimento, a domicílio, ao cliente necessitado, assim como a peculiaridade da instalação do maquinismo em tais circunstâncias, eram motivo não só de curiosidade, mas também de lisonjeiros comentários, que reforçavam o conceito em que era tido, de propugnador do bem-estar alheio.
LEILOEIRO DAS QUERMESSES

De gênio alegre e divertido, sua presença e operosidade eram disputadas em iniciativas e instituições de filantropia; em quermesses sua fama de "leiloeiro" emérito "corria mundo". Além de São Vicente (no lendário e secular adro da Matriz), em Santos, em Itanhaém (recebeu diploma de "leiloeiro honorário"), São Sebastião, Iguape e adjacências, seu concurso era requestado nessas ocasiões, e sua contribuição nos trabalhos de leiloar era invariavelmente tão prestimosa quão desinteressada. E assim levava a vida, trabalhando honestamente, ao mesmo tempo constituindo-se num dos mais ardorosos e eficientes obreiros das boas causas, onde quer que sua presença fosse solicitada.

Na época da "gripe espanhola", no ano de 1918, Marcílio Dias do Nascimento, como soldado integrante do memorável Tiro de Guerra n. 11, de Santos, prestou em São Vicente, juntamente com outros colegas de farda, os mais relevantes serviços, seja no atendimento ao incontável número de atingidos pela famigerada epidemia, que tantas vidas arrebatou à família brasileira, seja na condução de padiolas, na remoção e internamento de doentes, na angariação e na distribuição de medicamentos, enfim numa faina esgotante, por longas semanas em que expôs a própria vida a mortal perigo. (Edson Telles de Azevedo. Vultos Vicentinos, 1972.)


DR. JOÃO AMORIM

O PRIMEIRO MÉDICO CALUNGA.


     

Dr. João Amorim. Filho de Antônio Pinto Amorim e Helena Lapetina, João Amorim foi o caçula de uma família de sete irmãos. Nascido em 23 de junho de 1913 no município de São Vicente, fez seus estudos no Ginásio Santista, então dirigido pelos Irmãos Maristas. Ao final do curso, chamado pelo reitor da instituição para uma conversa, insistiu-se que João deveria seguir com os estudos. Assim foi, e em 1938 João Amorim formou-se pela Faculdade de Medicina da USP, sendo o primeiro cidadão de sua cidade a tornar-se médico. Um dos pioneiros na especialidade da ginecologia-obstetrícia, foi fundador e primeiro Diretor da Casa Maternal e da Infância, hoje Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, criada pelo governo de São Paulo em 1944 para o atendimento a mulheres carentes, gestantes e parturientes. Dr. João Amorim exerceu a medicina durante intensos 65 anos e, graças à sua perícia, dedicação e ética, construiu uma vasta clientela particular, sem nunca abdicar de seu trabalho social. Durante muitos anos foi o Diretor Clínico da Cruzada Pró-Infância (hoje Hospital Pérola Byington), hospital beneficente de inestimável trabalho junto à população em situação de vulnerabilidade social. Foi também Chefe da Maternidade do Hospital do Servidor Público Estadual, Diretor Clínico da Maternidade Matarazzo e Diretor Clínico da Maternidade Pró-Matre Paulista. Nos hospitais e maternidades em que atuou, além de seu trabalho cotidiano como médico, dedicou-se também à formação de novos profissionais, promovendo cursos em sua especialidade. Desta forma, formou várias gerações de ginecologistas e obstetras, incluindo profissionais de renome. Dr João Amorim faleceu em São Paulo capital em 10 de março de 2006, aos 93 anos.

Fonte: O CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
Pesquisa: Waldiney La Petina.


DRA. PRAZARES BARREIROS

A PRIMEIRA MÉDICA VICENTINA E DA BAIXADA SANTISTA

                 


Filha de Antônio Luiz Barreiros e Isabel da Encarnação Barreiros, recebeu esse nome em homenagem a tia paterna falecida na pandemia mundial de gripe espanhola. Antônio Luiz Barreiros decidiu que sua primeira filha se chamaria Albertina ou Prazeres em homenagem as duas irmãs mortas de gripe espanhola no início do século passado. 

Passou sua infância e adolescência em São Vicente, cidade em que nasceu e desde cedo demonstrou seu talento pela arte . Datam dessa época os primeiros quadros pintados por ela. Mudou - se para o Rio de Janeiro para cursar Medicina na UFRJ , tornando-se a primeira médica da baixada santista e de São Vicente. Formou - se em 1953. Exerceu a Medicina no Rio de Janeiro como pneumologista e sanitarista, com grande amor e abnegação pela profissão.

Casou-se com o goiano Imar de Santana Azevedo em 1954, tendo tido dois filhos Sérgio Barreiros de Santana Azevedo, diplomata, e Lilian de Santana Botelho, médica, além de quatro netos. O engenheiro Imar de Santana Azevedo e Antônio Luiz Barreiros estiveram a frente do empreendimento do loteamento Belvedere Mar Pequeno em terras que pertenceram a Antônio Luiz Barreiros, infelizmente não obtiveram o sucesso esperado, pois foi realizado próximo a 1964 , período de muita instabilidade política e econômica.

Prazeres Barreiros de Santana Azevedo abandonou a Medicina na década de 1980 para se dedicar a sua grande paixão, a pintura. Assumiu o pseudônimo de Zenize, tendo recebido inúmeros prêmios nas exposições de pintura no Rio de Janeiro. Deixou uma obra com mais de quatrocentos quadros pintados por ela. Mudou-se para Goiânia em 1997 , onde faleceu em 2002. 

Dra. Lilian Santana Botelho, São Vicente na Memória. 

Comentários:

Gabriel Barreiros: A Medicina está no sangue da família Barreiros! Que orgulho ❤️

Lilian De Santana Botelho: Gabriel Barreiros obrigada. Verdade.😍

Adriana Barreiros Lapetina: Arildo Aparecido Alves olha a tia da minha mãe..grande mulher

Arildo Aparecido Alves: Adriana Barreiros Lapetina lembranças boas né muito bão a família ter uma história

Lenny Addor: Linda história....Uma vida bem vivida...Jamais a esqueci...Achava interessante ela conciliar a medicina e a pintura...e fazia isso mto bem...Pelas fotos ...vc esta mto parecida com ela...Sds de vc...

Jocelino Pereira da Silva: Bom dia, maravilha a história de Prazeres Vicentina, vc tem raízes e com grande história no Litoral Paulista. Parabéns. Abraços


DR. OLAVO HORNEAUX DE MOURA

DEPUTADO ESTADUAL


Olavo Hourneaux de Moura nasceu em São Vicente, Estado de São Paulo, em 17 de abril de 1917, era filho de Anthero Alves de Moura e de Isabel Hourneaux de Moura.

Após os estudos regulamentares, em sua cidade, formou-se em medicina. Tendo realizado curso de especialização no Hospital St. Louis, de Paris, França. Como médico, foi funcionário do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e proprietário da antiga Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora das Graças.

Ingressou na carreira política concorrendo em 1962 pelo Partido Democrata Cristão (PDC) a uma cadeira de deputado estadual, obtendo 8.655 votos. Ficou como suplente da bancada de seu partido e assumiu o mandato parlamentar em diversas oportunidades na 5ª Legislatura de 1963-1967. Com o fim do pluripartidarismo, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar que havia tomado o poder pelo movimento revolucionário de 1964. Foi presidente municipal do MDB de São Vicente. Em 1966, foi reeleito para a 6ª Legislatura de 1967-1971, com 9.474 votos, pelo MDB.

Foi também fundador do Esporte Clube Beira Mar, de São Vicente, em 9 de fevereiro de 1938, entidade esportiva atuante até os nossos dias. Era viúvo de Ivaneide Mendes Guimarães de Moura e deixou oito filhos, Márcia, Olavo, Fernando Antônio, Fábio, Ricardo, Maria de Fátima, Marcelo e Eduardo, treze netos, e cinco bisnetos. 

Faleceu em São Paul no dia 4 de setembro de 2012 aos 95 anos. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Memorial de São Vicente, na cidade do litoral paulista.



DADOS DA SAÚDE VICENTINA EM 1952
Sinopse Estatística do Município

Casas de caridade e hospitais.

Possui o município os seguintes:

Hospital São José - Rua Frei Gaspar, 790.

Casa de Saúde N. S. das Graças - Rua Visconde do Rio Branco, 312.

 Instituto São Vicente - Rua Frei Gaspar, 280.

Além das citadas, conta atualmente o município com o S.M.E.S.C.A. (Serviço Municipal de Educação, Saúde, Cultura e Assistência Pública, que mantém ambulatórios médicos localizados em vários bairros, com a humanitária e filantrópica função de favorecer a classe proletária, cuja criação e desenvolvimento se deve à eficiente administração do dr. Charles Alexandre de Souza Dantas Forbes, prefeito municipal.

Os ambulatórios são os seguintes:

Ambulatório "Dona Beatriz Galvão Forbes" - Avenida Siqueira Campos, 73 - Praia Grande - Drs. Ari Garcia e André Stucchi.

Ambulatório "Dona Maria Dezonne Pacheco Fernandes" - Rua 397 - Casa 11 - Vila Cascatinha - Drs. Ari Garcia e José Singer.

 Ambulatório "Vila Margarida" - Planalto Bela Vista - Drs. Helio Ramos Costa e Áureo Rodrigues.

Ambulatório "Parque São Vicente" - Rua Frei Gaspar, 1.937 - Drs. José Singer e Hélio Ramos Costa.

Ambulatório "Dona Paulina Bei" - Vila Jockey Club.

Ambulatório "Rio D'Avó" - Avenida Capitão Luiz Antonio Pimenta, 590 - Drs. André Stucchi e Gilberto L. Cavalcanti. Sede central - Rua João Ramalho, 588 - Diretor: Dr. Sílvio Corrêa da Silva.

Dentistas:

Asthomiel Xavier - Rua Frei Gaspar, 530.

Benedito S. Pires Nobre - Rua Marquês de São Vicente, 229.

 Idler de Pontes - Praça Barão do Rio Branco, 315.

José Meireles Jr. - Rua Frei Gaspar, 582.

Manoel I. Ribas D'Avila - Rua Frei Gaspar, 658.

Otacílio M. Tavares - Praça João Pessoa - Edif. Tav.

Osvaldo Marques - R. Expedicionários Vicentinos, 75

Médicos

Dr. Alcides de Araújo - Av. Antônio Rodrigues, 339.

Dr. Alcides Garcia - Rua Frei Gaspar, 528.

Dr. André Stuchi - Rua São Luiz, 59.

Dr. Anibal R. do Amaral - Rua Frei Gaspar, 169.

Dr. Antônio Cunha de Pontes - Rua Jacob Emmerich, 541.

Dr. Antônio Militão Azevedo Neto - Rua XV de Novembro, 72.

Dr. Carlos Zindel - Rua Rangel Pestana, 46, ap. 4.

Dra. Clementina Faro - Rua Padre Anchieta, 480.

Dr. Dario O. Guimarães - Rua Américo Brasilienses, 49.

Dr. Dielson de Freitas - Fortaleza de Itaipu.

Dr. Eduardo Pirajá - Rua João Ramalho, 529.

Dr. Francisco A. Jarussi - Rua Frei Gaspar, 280.

Dr. Gilberto L. Cavalcanti - Travessa 22 de Janeiro, casa 2.

Dr. Hélio R. Costa - Rua Jacob Emmerich, ?39 (SIC).

Dr. Humberto Silva - Rua 13 de Maio, 193.

Dr. Inácio Cunha - Rua Américo Brasiliense, 330.

Dr. João B. Malbrouck - Rua Martim Afonso, 490.

Dr. José F. Ribeiro - Rua João Ramalho, 625.

Dr. José de Morais Melo - Rua Floriano Peixoto, 80, ap. 2.

Dr. José Toledo de Noronha - Av. Presidente Wilson.

Dr. José Singer - Rua Rangel Pestana, 46, ap. 4.

Dr. Odilon F. Guarita - Rua Jacob Emmerich, 451.

Dr. Olavo Horneaux de Moura - Rua XV de Novembro, 248.

Dr. Paes Alcântara - Rua Saldanha da Gama, 184.

Dr. Silvio Carvalhal - Rua Frei Gaspar, 280

Farmacêuticos:

A.C. Novais - Farmácia Anchieta, Praça Barão do Rio Branco, 308.

Agenor Lapena - Farmácia Central, Rua XV de Novembro, 12.

Ernani M. Monteiro - Farmácia Santo Antonio, Rua Frei Gaspar, 450.

José de Bonna - Farmácia Regina, Rua Benjamin Constant.

José Pinto - Farmácia Marabá, Rua Cândido Rodrigues, 27.

Nelson Corrêa - Farmácia Santa Terezinha, Av. Antonio Emmerich, 636.

Pasqual Larocca - Farmácia Avenida, Rua Martim Afonso.


INDICADOR MÉDICO EM 1970

A TRIBUNA - SÃO VICENTE DE OUTRORA


Dr. Alcides de Araújo. Residência: Rua Vicente Gil, 177 - Catiapoã- Telefone 8-3051.

Dr. André Stucchi. Praça João Pessoa, 279 - Telefone 8-3099. Residência : Rua Benedito Calixto , 240 - Telefone 8-2700.

Dr. A. Rapôso do Amaral. Clínica Geral - Ginecologia. Praça Barão do Rio Branco , 225 - Telefone 8-2421. Das 11:20 às 13 e das 16 às 19 horas.

Dr. Fauzi Simão. Consultório: Hospital São José - Telefone 8-2999. Residência: Praça Coronel Lopes, 127 - Telefone 8-2200.

Dr. Gilberto Figueiredo. Rua Jacob Emmerich,318 (nas dependências do extinto Hospital e Maternidade São Vicente) - Telefone 8-4888 e 8-3000.

Dr. José Singer. Rua Jacob Emmerich, 420 - Telefone 8-2942. Residência: Rua Pêro Corrêa, 408 - Telefone 8-3077.

Dr.Milton Davoglio: Praça Coronel Lopes , 18 - Telefone 8-4333.

Dr. Olavo Horneaux de Moura. Rua Visconde do Rio Branco, 312 - Telefone 8-2333. Diariamente das 9 às 12 horas.

Dr. Sebastião Marão. Clínica de olhos, ouvidos, nariz e garganta. Praça Barão do Rio Branco , 94 - 1º andar - sala 106. Telefone 8-5867. Das 11 às 12 e das 13 às 18 horas.



Obras sociais do Centro Espírita Cáritas: Abergue Noturno Domingos Albano. Dispensário dos Pobres André Luiz. Escola de Corte e Costura Anália Franco. Clínica Dentária. Na foto, segundo Ana Célia Pupo, servidora voluntária da instituição, o senhor de roupa branca é o fundador da Sinagoga Espírita Cáritas, Antônio Lopes Garrido.


 PRAIA GRANDE 

SAÚDE E ASSISTÊNCIA MÉDICA


Esse trecho da biografia do farmacêutico vicentino José Ignácio da Glória revela o precário estado de saúde dos primitivos moradores de Praia Grande, "os caiçaras",  atacados pela maleita, a mais perigosa doença tropical no início do século XX no Brasil.  Mas os atingidos não eram apenas os caiçaras. A Mata Atlântica era um ambiente ainda selvagem e fértil do mosquito causador dessa moléstia. Uma das suas vítimas foi o pioneiro e loteador  Heitor Sanchez, que sobreviveu permanecendo longos anos em tratamento fora de Praia Grande até sua recuperação e retomada dos seus negócios.  Fonte: Vultos Vicentinos. Edson Telles de Azevedo. 



DONATIVO DE JÚLIO SECCO DE CARVALHO PARA O HOSPITAL SÃO JOSÉ



Documento de 1962 relatando um donativo de 2 mil cruzeiros de Júlio Secco de Carvalho, fundador de Solemar e emancipador histórico,  para a Irmandade do Hospital São José, de São Vicente. Esse recibo prova que o Hospital São José era uma causa social e  equipamento regional de saúde pública, também utilizado e mantido por moradores de Praia Grande e outras cidades do litoral sul. Acervo de Lucy Carvalho. 

POSTO DE VACINAÇÃO E TELEFONIA



"As imagens antigas são grande fontes de informação e servem também para reavivar a nossa memória de situações e comportamentos vividos. Esse era o local que nós recebíamos as vacinas no final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970. É a esquina da Pernambuco com Av. Brasil no Boqueirão, onde hoje é um restaurante. 

Nesses anos pegávamos a fila e nada dizíamos. Ninguém perguntava em que país a vacina foi fabricada, qual o laboratório e quais as possíveis consequências. Se uma autoridade da Saúde dizia que era necessário, a gente se vacinava e pronto.

Se alguém, ao negar a vacina, dissesse que liberdades individuais estariam em jogo, possivelmente seria preso pois estaria confrontando o regime militar então vigente.

O fato é que vacina nesses anos era só um agente introduzido no nosso organismo para provocar a formação de anticorpos contra determinado agente infectante. E hoje podemos dizer que depois de tantas vacinas, sobrevivemos para contar todas essas histórias". Claudio Sterque.


Final dos anos 80 no Ambulatório Médico do Recanto do Forte, na Rua Cintia Giufrida. Postagem de Claudio Sterque e foto de Augusto Viana Neto.

Comentários:

Lucy Carvalho da Cunha: Passava em frente sempre. Saudades

Dani Bueno: fiz acompanhamento da gravidez c dr maureti gaia da silveira nesse posto d saúde. o mesmo fez o parto da minha filha na beneficiência portuguesa/santos.

Maria Carmen Garcia Nieves: A casa existe até hoje!

Dayse Zanfolin: Fui muito aí levar os filhos atendimento excelente

Inês Soares: Levava meus filhos, com a Dra.Leila, pediatra competente, muito atenciosa, e querida.

Mariangela Lira: Nossa fui muito aí com minha mãe levar meus irmãos pequenos, tomar vacina.

Elisa Pulini: Minha casa ainda tem essa grade de cano no quarto 🤣 bem resistente viu!

Luis Carlos: Tirei muito serviço aí como GCM

Elizabeth Calderaro: Frequentei muito .

Maria Martha Sousa: Revendo o posto, pus me a pensar: Que solução incrível essas hastes de proteção colocadas ...permitindo que pude sse projetar a cabeça para fora...🤔🤔🤔🤔

Elenice Aparecida Nunes: Antes de ser ambulatório era uma escola jardim da infância da prefeitura , minha filha estudava aí lá pelos anos 1982 ou 1983

Cassia Motta: Foi aí que depois se expandiu o pré do Jardim Mathilde ???

Edisom Oliveira: Para quem não sabe antes de ser um ambulatório médico essa casa foi uma escolinha para crianças com idade pré escolar.

Maria Carmen Garcia Nieves: acho que era até era uma creche municipal

Edisom Oliveira:  sim algo do tipo...



Registro de um evento do setor odontológico do 1º governo do Dorivaldo Loria Junior -Dozinho (1969/72), quando foi promovida a I Semana Odontológica do Município.  Na foto estão os  dentistas pioneiros do município, Dr. Ezio Dall'Acqua Jr; Dr. Jener; Dr. Homero e Dr. Durval Capp, como também e o Farmacêutico Mendes.   Do 1º escalão do governo: Dra. Layde, Jaspe Bastos e Jodir Seabra. Dr. Ezio Dall'Acqua Jr., um dos primeiros dentistas da cidade. Se estabeleceu em 1969. Atendia  em sua residência, na  Av. Costa e Silva, 1003, Boqueirão. Acervo Edgar Dall'Acqua.

Moradores antigos da cidade lembram que José Carlos de Oliveira, o Peludo, embora não atendesse formalmente pacientes, foi provavelmente o primeiro dentista de Praia Grande, família radicada no Boqueirão desde os anos de 1930 e grande empresário da pesca de arrasto. 

Esse mesmos moradores antigos lembram também do casal de médicos Dr. Esdras e Dra.Maria Lúcia  e atendiam a população na Clínica Costa e Silva, de propriedade deles, desde os anos de 1970


SAÚDE MENTAL


"A primeira psiquiatra que atendia na cidade, Dra. Márcia Prata Ramos. Márcia implantou o primeiro programa de saúde mental em Praia Grande e também atendia no seu consultório na rua Jaú.
Uma profissional impecável ! A imagem é de 1982 e é do amigo Augusto Viana Neto". Claudio Sterque. 


CAMPANHA VETERINÁRIA





CRISE DAS AMBULÂNCIAS NO PS MUNICIPAL


Pronto-Socorro Municipal. Situação precária das ambulâncias e falta de recurso levou o prefeito Jonas Rodrigues a aceitar ajuda da prefeitura de Cubatão, que tinha recebido veículos novos, cedendo os antigos para São Vicente. Cidade de Santos, 12 de outubro de 1969.





*

 MÉDICOS QUE DERAM NOMES À RUAS DA CIDADE

Fonte: Conheça as Ruas de sua Cidade. Narciso Vital de Carvalho. 1978











*

CENTRO DE CONVIVÊNCIA

REVOLUÇÃO NA SAÚDE MENTAL 

E CULTURAL NOS AN0S 70 e 80

ENDEREÇO EMBLEMÁTICO. Neste endereço da rua Jacob Emmerich, no Gonzaguinha, onde hoje está este grande edifício, aconteceu a maior revolução cultural e saúde mental da Baixada Santista na passagem dos anos 1970 para os anos 80. Aqui existiam duas casas onde jovens universítários de várias procedências fundaram duas comunidades alternativas. Uma de vocação política, na qual os participantes teriam intensa participação nos acontecimentos das cidades da região; nela morava a vereadora, prefeita e deputada Telma de Souza. Na outra morava o casal Domingos Stamato e Maria Izabel Calil Stamato, fundadores do Centro de Convivência de São Vicente, base da criação de ideias e práticas culturais revolucionárias. Domingos era médico e Maria Isabel psicóloga.

Nota do jornal A Tribuna em edição de 1983.

A REVOLUÇÃO  COMUNITÁRIA VICENTINA

No final da década de 1970, São Vicente era bem diferente do que é hoje. Pouquíssimas famílias residiam na área continental, cujo acesso era só por trem ou pela via Anchieta, em Cubatão. A periferia da cidade se concentrava na região do Jockey Club, no córrego Catarina de Moraes e uma parte da Vila Margarida. A Cidade Náutica era um grande loteamento, com centenas de lotes vazios. A maioria dos bairros próximos do centro e da orla não tinham calçamento e somente alguns deles possuíam rede de esgoto. São Vicente ainda era uma cidade pequena, mas com grandes e graves problemas sociais. O acesso à Praia Grande ainda era pela Ponte Pênsil e seus bairros eram pouco povoados. No Gonzaguinha e no Itararé, os edifícios de apartamentos eram predominantemente para uso de turistas nas temporadas. Mas ainda existiam muitas casas de veraneio, algumas delas mansões pertencentes a ricas famílias paulistanas que aos poucos foram deixando de frequentar as praias vicentinas. Eram muitas, com construções imponentes, de muitos cômodos e espaços externos de grandes quintais e árvores enormes. Eram construções aristocráticas de uma época bucólica e que começavam a ter outras finalidades.






Jornal A Tribuna, 1983.

Para fugir da agitação urbana de Santos e da alta dos aluguéis, alguns grupos, geralmente universitários, alugavam essas antigas casas e mansões para instalarem comunidades alternativas, dividindo cômodos e despesas. Eram também conhecidas como “repúblicas”. Na rua Jacob Emmerich, entre os números 155 e 129, à apenas uma quadra do Gonzaguinha, haviam duas dessas casas. Uma delas, a maior, propriedade de um conhecido industrial de São Paulo, foi alugada pelo jovem casal Domingos Stamato e Maria Izabel Calil. Eles não eram casados e viviam juntos há alguns anos e tinham duas filhas. Ele era psiquiatra e ela psicóloga. Se conheceram durante uma palestra-debate quando se uniram para derrubar os argumentos conservadores de um juiz de direito sobre recuperação de menores infratores. Ali perceberam que tinham muitas coisas em comum, inclusive uma identificação de sentimentos e uma proposta de vida diferente e completamente fora dos padrões da época. Eram chamados de "hippies", uma tentativa de desqualificar sua ideia e práticas inovadoras, mas na verdade se consideram libertários. Precisam de uma vida regular para exercer suas profissões. Tinham que ter um endereço fixo, mas não precisava ser um endereço restrito e padrão. Queriam estar livres das obrigações das propriedades privadas e cultivar um tipo de vida nos moldes comunitários, que era o tom da nova sociedade alternativa americana e europeia.

Foi a partir dessa iniciativa do casal que surgiu a ideia de um Centro de Convivência, um espaço plural de moradia, trabalho, educação, lazer e cultivo das ideias libertárias e sobretudo das artes. E assim foi: um lugar amplo, agradável, de encontros de inteligências de vários segmentos e propostas de realização pessoal e coletiva. O Centro de Convivência da São Vicente, aproveitando o que ainda restava de bucolismo e tranquilidade da velha cidade praiana, passou a funcionar em 1978, ainda pequeno e com pouca frequência, mas logo tornou-se um dos núcleos culturais mais influentes da Baixada Santista. Ali se estabeleceu de maneira informal e criativa um espaço de experiências inéditas e que se tornaria referência nas áreas em que eram vivenciadas: a música, a literatura, as artes plásticas, o jornalismo, a psicologia e a psiquiatria humanistas, enfim, todas as expressões que possuíam um diferencial de visão de mundo e ao mesmo tempo uma perspectiva transformadora. Adultos, jovens e crianças vivendo um estilo de vida independente.


A Tribuna, 1983.

As experiências do Centro de Convivência não ficaram restritas ao espaço da mansão. Eram levadas para os locais socialmente mais problemáticos e considerados perigosos da cidade, em formato de intervenções e provocações que estimulavam mudanças na vida cotidiana das periferias. Isso provocou também a atração de outros profissionais - assistentes sociais, artistas, artesãos, educadores - para aprender e replicar essas inovações. No Centro de Convivência aconteceram os primeiros partos humanizados da região e também as primeiras experiências de tratamento em psicoterapia transpessoal. A discussão sobre o uso abusivo de medicações psiquiátricas e as crises dos manicômios eram abordadas ali com muita frequência. Foi numa dessas reuniões que foi sugerida a intervenção pública na Casa de Saúde Anchieta, em Santos, conhecida na época como “Casa dos Horrores”. Vizinha ao centro de Convivência, alguns anos antes, existia uma outra comunidade de jovens universitários, cuja vocação era mais de atuação política. Um dos moradores da casa era ninguém menos que a ativista Telma de Souza, que viria ser prefeita de Santos e cujo secretário de saúde, o médico David Capistrano, encabeçou o projeto de intervenção e ocupação humanitária da Casa Anchieta, na época abarrotada de pacientes vivendo em condições desumanas. David, mais tarde como prefeito de Santos, enfrentaria outro grande desafio da saúde pública regional, empreendendo uma intensa campanha sanitária contra disseminação do vírus HIV e que havia dado a Santos o triste título de “Capital da AIDS”. Venceu a luta e Santos tornou-se referência mundial nesse combate.

Em meio a tantas experiências e desafios, pois o preconceito e a resistência conservadora era intensa diante das propostas inovadoras, nunca é tarde para lembrar que os moradores e frequentadores do Centro de Conivência experimentavam e discutiam todos os assuntos e temas que suscitassem reflexões mais profundas e diferentes, como, por exemplo, as de natureza histórica e antropológica. Numa delas, a psicóloga Maria Izabel Calil Stamato, descente de árabes pelo lado paterno, relatou numa reunião que fizera uma descoberta interessante e que havia despertado nela uma incrível atração e, naquele contexto, um vínculo muito forte com a cidade de São Vicente. No seu mapa genealógico, por parte de mãe, constava que ela era descendente de Bartira, filha do Cacique Tibiriçá e esposa do semita João Ramalho. Na mesma ocasião surgiu a informação de que toda aquela área onde estavam as edificações da quadra das ruas Tibiriçá, Jacob Emmerich, Visconde do Rio Branco e Frei Gaspar, num passado longínquo, havia sido um cemitério indígena. Eram citações sem nenhuma intenção de privilégio, mas que acentuava um profundo respeito pela história calunga e pela cidade que os havia acolhido para realizar uma missão social que marcaria a vida de muitos vicentinos e santistas.



Domingos Stamato e Isabel Calil Stamato quando em reportagem sobre educação ambiental oferecida pelo Centro de Convivência. Jornal A Tribuna, 1985.


Artigo em A Tribuna:  despedida do casal Domingos e Isabel quando se mudaram para S.J. do Rio Preto.

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