11/07/2019

BERTIOGA


Planta manuscrita do Forte de São João da Bertioga. A planta faz parte do conjunto de “Cartas topográficas do Continente Sul e parte Meridional da América Portuguesa”, foi publicada em 1775. No documento consta um quadro de legendas apontando os danos causados na fortificação pela ação do mar.

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Credit: “Cartas topográficas do Continente Sul e parte Meridional da América Portuguesa”.Publicada em 1775. Biblioteca Nacional (Brasil)


BERTIOGA: ORIGEM DO NOME


Arrabalde histórico e pitoresco, atualmente (N.E.: 1986) primeira Subprefeitura do Município de Santos (o prefeito José Gomes criou mais duas Subprefeituras: a de Jurubatuba e a de Itatinga), situado à boca externa ou Leste, do canal do mesmo nome, à sua saída no oceano, e em frente ao ponto extremo da ilha de Santo Amaro, hoje município de Guarujá.

O nome do lugar, objeto de versões e controvérsias, segundo uma escritura de 1580, passada em favor de Domingos Garocho, era a denominação do pequeno morro local, situado na terra firme, chamado pelos indígenas de Buriquioca, "morada dos monos buriquis - pouso dos monos", porque a ele se recolhiam ao fim do dia quantidades enormes de tais macacos, em vista de ser o mesmo morro a única elevação de aquém rio Itapanhaú, em muitos quilômetros de várzea florestada. Hans Staden, o famoso viajante e artilheiro alemão, que serviu no Forte de S. Felipe (em frente) e ali foi aprisionado pelos Tamoios, muitos anos antes daquela escritura, já escrevera Brikioca - numa antecipada confirmação ao documento.

A grande diferença morfológica entre Buriquioca e Bertioga, ainda maior do que a prosódica, deu causa às versões e controvérsias verificadas entre os nossos tupinólogos, geógrafos e outros, que atribuíram ao topônimo o significado de "lugar ou morada dos paratis - das tainhas", sem outras considerações, como se não houvesse, aí, uma questão histórica a observar.

É que, em verdade, e isso não foi estudado por eles, as novas populações do lugar, quase sempre de povoadores, mateiros, gente simples, ignorante, totalmente alheia à história inicial, nada sabendo dos antigos monos ou macacos grandes, que existiram outrora no morrinho - já então chamado de São Lino, e mais tarde ainda, de Morro da Senhorinha (que até hoje conserva), e não mais existiam nos séculos XVIII e XIX -, impressionadas pelas quantidades incríveis de paratis e tainhas, existentes em redor, nas águas do rio (canal) e nas águas do mar, substituíram, talvez sem querer, o radical buriquí, pelo radical parati, que se corromperia e deformaria rapidamente, passando a barati, brati, breti e berti, criando, insensível e involuntariamente, um novo vocábulo e topônimo, com sentido completamente diferente do inicial e histórico, do documento de 1580 e do depoimento de Hans Staden (de 1549-1550).

De fato, só assim teria sido fácil às populações, sucedidas naqueles duzentos e trezentos anos, produzirem, sem violência fonética ou prosódica e morfológica, o vocábulo definitivo e atual: Bertioga.

Era muito mais compreensível a essas novas populações, tão distantes do século inicial, que Bertioga fosse uma transformação de Paratíoga (passando por Paratíoga, Báratióga e Bertioga), porque paratis e tainhas existiam ali, em seu redor, e à sua vista, aos milhões, nascendo nas águas interiores (do rio e do chamado largo do Crumaú ou Curumã-ú "água ou rio das tainhas") e passando em seguida ao mar; porque os monos não mais existiam nem eles os haviam visto ali em todo o seu tempo.

Dois aspectos pois se oferecem nesta questão histórica e toponímica. O do nome antigo, inicial, original, que era Buriquioca, com um significado justificável e básico em sua época (para os dominadores indígenas - tamoios e outros), "morada dos monos buriquis" - e o nome final, atual, trocado ou inventado pelos novos povoadores, processado pela mudança do radical antigo (de Buriquí para Parati), mais compreensível e mais justificável na nova época, tão distante da primeira, e tão separadas ambas pela ignorância e pelo analfabetismo, mais do que pelo tempo.

Bertioga não é pois uma corruptela ou transformação de Buriquióca, e sim o resultado de uma troca natural de radicais de um mesmo vocábulo, produzindo o retrato de um novo fenômeno local (a abundância dos paratis), como o anterior representava o retrato de um fenômeno de então (a abundância dos monos). Assim compreendemos hoje esta questão histórica, geográfica e lingüística, sugerida pelo topônimo.

Os fundadores de Bertioga, ou antiga Buriquióca, foram os famosos Bragas, o português Diogo de Braga e seus cinco filhos: João, Diogo, Domingos, Francisco e André de Braga, já brasileiros, e considerados, hoje, os primeiros santistas nominalmente conhecidos, heróis e mártires do povoamento vicentino, notando-se que Diogo (o filho) foi um dos fundadores do Rio de Janeiro, ao lado de Estácio de Sá, e vereador à primeira Câmara da cidade (N.E.: ...do Rio de Janeiro) em 1567.

História de Santos/Poliantéia Santista pelos autores Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti (Ed. Caudex Ltda., São Vicente/SP, 1986)


CRONOLOGIA PRIMITIVA  E COLONIAL


2000 a.C.: Tribos primitivas vivem na região e deixam como testemunho de sua existência os sambaquis, que são antigos depósitos situados na costa, em lagoas ou rios do litoral e formados de montes de conchas, restos de cozinha e de esqueletos, amontoados por tribos selvagens que habitaram  o litoral.

1531: Martim Afonso de Souza recolhe as velas de suas naus nas águas de Buriquioca, região habitada por Tupis.

1532: Martim Afonso de Souza funda a primeira vila do Brasil: São Vicente. É construída uma paliçada (espécie de trincheira) que dá origem ao Forte São João.

1537: Os Tupinambás atacam a pequena vila, resultando na morte de cerca de 200 homens nas imediações da fortificação. Entre os remanescentes estavam os irmãos Braga, filhos de Diogo Braga.
12 de janeiro de 1545: Bertioga é doada a Jorge Pires.

1547: O Forte São Tiago (hoje São João) é construído, em alvenaria.

1547: Hans Staden, um artilheiro alemão, chega ao Brasil e é nomeado condestável do Forte de São Filipe que, juntamente com o Forte São João de Bertioga, era responsável pela defesa da Vila de São Vicente. Capturado pelos Tupinambás, permaneceu prisioneiro entre eles por cerca de nove meses.

1551: Surgiu outra fortaleza, erguida ao lado oposto do Forte São Tiago, denominada São Filipe. Esses fortes tinham grande importância para a sobrevivência da Colônia Portuguesa no Brasil, pois eram dotados de um sistema de defesa estratégico.

1563: Chega à Capitania a notícia de que estaria sendo formada a Confederação de Tamoios.
14 de setembro de 1563: É firmado o Tratado de Paz de Iperoig.
Março de 1564: Mem de Sá chega a Santos e São Vicente para aliciar reforços destinados à fundação da cidade do Rio de Janeiro.

1665: 27 de janeiro: Mem de Sá e os expedicionários de Santos, São Vicente e São Paulo partem de Bertioga, após missa campal junto ao Forte São Tiago, celebrada pelo padre Manoel da Nóbrega, e fundam a futura capital do Brasil: a cidade do Rio de Janeiro.

Entre os anos de 1600 e 1700: foi criada em Bertioga a Armação das Baleias, motivada pelo advento da iluminação pública e particular do óleo de baleia no Brasil.

1764: Acontece a reforma total da fortaleza e da capela anexa à estrutura. Em louvor a São João Batista, o Forte passou à denominação de São João e contava com um regimento de fardamento ao estilo europeu, que serviu à fortificação, impedindo a passagem de invasores pelo Canal de Bertioga.


1910: A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que administra o Porto de Santos, constrói a Usina Hidrelétrica de Itatinga, junto ao Rio Itatins, para fornecer energia elétrica destinada ao cais de Santos.


Fonte: Revista Conto, Canto e Encanto com a Minha História. Bertioga a Caçula da Baixada Santistas - Editora Noovha América.


EVOLUÇÃO E TRANFORMAÇÃO POLICO-TERRITORIAL



Dinâmica dos territórios jurídicos nos três períodos políticos do Brasil. 



Desmembramentos históricos dos municípios da Baixada Santista a partir da Capitania de São Vicente. Fonte: CIDE-Central Integrada de Dados e Estatísticas do Município de Praia Grande com base no IGC e IBGE.


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Ilustração desse artigo na Poliantéia Vicentina, 1982.

Aceitam os historiadores que Bertioga tenha sido o primeiro ponto de futuro território santista, em que fundou e estacionou por alguns dias o capitão e donatário Martim Afonso de Souza [1].

O ilustre senhor de Alcoentre e Tagarro, que viera de Portugal tão armado de navios e de canhões, com quatrocentos soldados de guerra, destroçando inimigos franceses na costa de Pernambuco, apresando navios, após uma longa permanência no Rio de Janeiro, onde tentara fundar uma povoação junto à Praia Vermelha (que ficou conhecida como "Praia ou porto de Martim Afonso") e onde construíra a famosa Casa de Pedra (Carioca - no futuro Flamengo), aportara em Bertioga, lançando âncoras junto à Ilha de Guaíbe (atualmente Santo Amaro), no porto natural ali formado, em fundo de mais de dez braças.

Naquela barra teria ele, segundo a maioria dos autores, construído a primeira estacada ou primeiro fortim, da banda do continente, que guarnecera com artilheiros e soldados seus. Ali teria ele recebido, pouco depois, a visita de João Ramalho e Tibiriçá, acompanhados de quinhentos guerreiros goianases, parlamentando pela primeira vez com o famoso reinol do planalto, e combinado talvez um "modus vivendi", que permitiria a Ramalho a continuação da sua vida e dos seus negócios, e a ele, Capitão do Rei, o cumprimento manso e pacífico da última parte da sua missão, que era oficializar São Vicente, criar a Vila desse mesmo nome e desenvolver a grande colonização.

Contam os autores em geral que indígenas do litoral, assustados com o aparato das naus e caravelas e dos guerreiros de Martim Afonso, correram a avisar o patriarca português da Borda do Campo, fazendo com que ele descesse com uma parte das suas forças. Isso, evidentemente, não passa de uma fantasia. O racional, no caso, será admitir-se a atuação de Pero Capico e Henrique Montes (além de outros), antigas e conhecidas figuras da região, de longos contatos anteriores com a indiada vizinha, junto ao aborígene local (tapanhunos e miramomis), conseguindo mensageiros e estafetas para a longa caminhada até os campos de Ramalho, e para o convite ao patriarca, que produziria a sua primeira conferência com Martim Afonso, e que seria, em última análise, a preparação à entrada deste na terra dominada por ele e seus companheiros da baixada - o "Bacharel" Mestre Cosme e Antônio Rodrigues.

O resultado dessa conferência de Bertioga está bem claro. O "Bacharel", por ser um degredado e por não admitir domínio e direção de ninguém, retirou-se imediatamente do povoado que fundara (S. Vicente), voltando a Iguape e Cananéia, por mar (em suas embarcações) e por terra, seguindo as trilhas dos seus aliados, os brasílicos de Piquerobi, enquanto Antônio Rodrigues, o antigo traficante associado, permanecia no seu Tumiaru pacato, à espera da instalação dos homens do Rei.

É possível e até lógico que comparecesse à Conferência de Bertioga (muito mais importante do que se tem pensado) o último Capitão da Feitoria ou Capitania Vicentina - Antônio Ribeiro - que ali estava desde 26 de outubro de 1528, como sucessor de Pero Capico, vivendo em paz e em comum com o potentado "Bacharel" Mestre Cosme.

Como chamara João Ramalho, chamara também Martim Afonso o Capitão Antônio Ribeiro, que se destituía com a sua chegada, e que muito mais perto estava de Bertioga, o que deixa de ser uma conjectura e passa a ser uma quase certeza, de tão natural.

Voltando a S. Vicente, em seguida, Antônio Ribeiro teria transmitido ao "Bacharel" o recado de Martim Afonso, com as alternativas que este lhe oferecia: a retirada sua e de sua gente, imediatamente, para o local do seu antigo degredo, ou a luta contra os seus navios, seus canhões, seus soldados (que eram muitos) e seus cabos de guerra (que não eram poucos). Para o caso da retirada ser-lhe-iam concedidos alguns dias, após o que, o Capitão Governador desceria com sua Armada, para combater em S. Vicente e desalojá-los, ou para fundear em Iguape e Cananéia, e confirmar a presença dos intimados.

Tendo preferido a retirada, como se sabe, o "Bacharel", seu genro Francisco de Chaves e toda a sua gente foram encontrados mais tarde (com chegada recente) naqueles lugares, ao Sul da Capitania, por Martim Afonso, o qual teve, ali, cabal demonstração de que a Conferência de Bertioga produzira resultados extraordinários, o que era um bom augúrio à sua entrada.

De Iguape e Cananéia desceu Martim Afonso o oceano, até o "rio da Prata", como era desejo do rei e sua idéia, onde um naufrágio da capitânia quase transformou o panorama histórico da fundação vicentina.

Voltando litoral acima, só então veio Martim Afonso fundear no "Porto de São Vicente", dando início à colonização ampla e regular da sua Capitania, em combinação e boa paz com Antônio Rodrigues e João Ramalho, o pioneiro da baixada e do planalto, figuras importantes da nova História que se iniciava.

Deu-se aí o que já conhecemos: a criação da Vila de São Vicente e o início-fundação do povoado de Enguaguaçu, a futura Santos, cujo crescimento havia de ser muito rápido, a ponto de tornar-se Vila também, apenas treze ou quinze anos após.

O historiador Francisco Martins e um mapa regional da Capitania de São Vicente. 


Pouco depois, quando o crescimento da população local e da expansão dos colonizadores (agricultores e industriais plantadores, criadores e donos de engenhos), englobado o aparecimento das primeiras gerações santistas, trouxe a necessidade de ocupação das terras de Bertioga e da sua defesa efetiva ou permanente [2], começaram os tupiniquins ou tamoios, senhores do litoral Leste (chamado Norte pelo vulgo), desde Cabo Frio a S. Sebastião, a sentir a presença numerosa e constante do branco português (dos Peros - adulteração do Perro espanhol, que eles não podiam pronunciar - "cão", "cães) e também a sua irritação, passando eles a exercer uma vigilância relativamente passiva, e, finalmente, a organizar expedições de vulto de extrema agressividade, contra a Ilha de Santo Amaro e os sítios de Bertioga, ameaçando as duas vilas de Santos e São Vicente.

Dentro de pouco tempo, eram constantes as invasões operadas pelas hordas brasílicas de Ubatuba e S. Sebastião, em gritos, horrissonâncias selváticas, que aterrorizavam ainda mais do que os seus arcos de guerra.

Imaginavam os tamoios, e imaginavam certo, que os brancos em breve tomariam também as suas terras e os expulsariam dos seus antigos domínios, e, assim, era preciso intimidá-los, afastá-los dali, ou exterminá-los.

Abrindo-se os documentos iniciais da história santista e vicentina, verificamos que eram muitos os pioneiros da penetração agrícola bertiogana, que viam em suas terras aluvionais do continente e à beira-rio glebas ideais para a produção de cana, de arroz, de feijão, de milho e até de algodão, e para a localização de engenhos, maiores ou menores, ou de grandes monjolos, para fornecimento às duas vilas e aos navios que ali fundeavam, no porto da Capitania, a pouca distância deles.

Não tardou que no próprio sítio de Bertioga, junto à barra e depois dela, alguns colonos mais audaciosos obtivessem terras e lançassem estabelecimentos, como Diogo Rodrigues e José Adorno (desde 1545; terras confirmadas em 1557 por Antônio Rodrigues de Almeida) [3], como Estevam Raposo Bocarro, como Gonçalo Afonso (o bombardeiro de João de Sousa), Cristóvão Monteiro, Pedro Fernandes, Simão Machado, Domingos Carocho, Jorge Ferreira, Pascoal Fernandes, o ferreiro Rodrigues, Jerônimo Rodrigues (o despenseiro de João de Sousa), Jorge Pires, e outros ainda entre 1545 e 1557.

Gonçalo Afonso logo desistira da sua gleba de Bertioga, passando-a a Jorge Pires, para fundar o seu Engenho (o de "Nossa Senhora da Apresentação" - ao fim do rio Curumau, zona central da Ilha de Guaíbe, com saída para o rio de Bertioga, e em parceria com um Pires "Gago").

Semelhante audácia dos portugueses, reunida à idéia de que eles raptavam as virgens tamoias (explorada pelos franceses, que a incutiam e divulgavam entre os selvagens seus aliados), promoveu uma verdadeira fúria tupinambá, arrastando legiões imensas de Ubatuba e S. Sebastião, contra Bertioga e as pequenas fortificações ali existentes.

Em conseqüência da fúria tamoia despenhada sobre a região, pela altura de 1557, quase todos os sitiantes e povoadores de Bertioga e Ilha de Santo Amaro haviam desertado, receosos de um possível e breve ataque em massa, pelos terríveis antropófagos.

Em 1557 exatamente, quando o alemão Hans Staden já havia sofrido, junto à Fortaleza de pedra (de S. Felipe) a captura e cativeiro pelos invasores tamoios, os portugueses nomearam Pascoal Fernandes, o mais antigo fundador de Santos (o primeiro agricultor), para Condestável da Barra e Sítio de Bertioga, comandando as duas fortificações então existentes, lá indo meter-se ele com uma pequena guarnição, sua mulher e seus filhos, na Fortaleza de pedra (a de São Felipe), a cavaleiro das rochas extremas da Ilha de Guaíbe.

É o que se vê pela escritura de doação de 1º de junho de 1562, passada pelo Capitão Antônio Rodrigues de Almeida, em favor de Pascoal Fernandes, que dava aos demais o seu exemplo de coragem e destemor:

"Por elle (Pascoal Fernandes) estar e residir na dita Fortaleza de S. Felippe com sua mulher e filhos, sem haver outro morador nem Povoador na dita ilha, senam elle dito supplicante" [4].

Raros foram aqueles que se animaram a acompanhar Pascoal Fernandes, mas, entre esses raros, pôde a Civilização vicentina contar com a figura extraordinária de José Adorno, sempre presente, em todas as fases e em todos os momentos e movimentos de guerra, de ameaça e de perigo, assim como em todas as ações externas de conveniência régia ou local. A melhor prova disso é aquela Igreja enorme para a época e para o lugar, construída no ano de 1557, o mesmo da nomeação do Condestável.

Só em 1556 é que observamos as primeiras tendências para o retorno às terras de Bertioga e Ilha de Santo Amaro (extremo Leste), de todos aqueles que, amedrontados ante a fúria tamoia, dali haviam fugido anos atrás, ameaçando de pobreza e insuficiência de alimentação as duas Vilas: de Santos e de São Vicente.

Documento importante a tal respeito é a Sesmaria concedida naquele ano (1556) a Cristóvão Monteiro: [5].

"E porque até agora como estaa dito he notorio a dita Ilha esteve e estaa despovoada, e inhabitável por respeito das muitas guerras succedidas nestas Capitanias de S. Vicente e Santo Amaro, pelo qual respeito havendo este impedimento, o supplicante nam ouzou de fazer sua Fazenda nas ditas terras, sem embargo de nellas trazer muito gado vacúm, tempos atraz passados fez cannaveaes e roçaria de mantimentos nas ditas terras, e ora com ajuda de Nosso Senhor tem ordenado com seus cunhados e parentes, e alguns Índios principaes da terra, tornarem a roçar, e fazer Fazenda nas ditas terras, etc." [6].

Foi nesse lugar e nesse ambiente de luta e de morte, em que se chocavam permanentemente a barbárie e a civilização, ameaçando, a cada dia e a cada hora, o aniquilamento de toda a obra colonizadora dos portugueses, e logo ao princípio da expansão do branco, que surgiram os famosos irmãos Braga, os primeiros santistas nominalmente conhecidos, precursores da grei bandeirante e primeiros mártires espontâneos daquela Civilização (nem todos).

Surgiram aqueles cinco irmãos espartanos quando mais acesa ia a fúria assoladora dos tamoios, decididos a trancar a passagem dos bárbaros no único ponto em que isso era possível: a barra e sítio de Bertioga.

Vamos deixar que Hans Staden, o artilheiro germânico contratado para dirigir as primeiras baterias do Forte de S. Felipe, fale por eles, com a autoridade de quem, com eles, viveu os mesmos perigos e as mesmas horas de angústia [7].

"As cinco milhas de S. Vicente há um lugar denominado Brikioka, onde os inimigos selvagens primeiro chegam, para daí seguirem por entre uma ilha chamada Santo Amaro e a terra firme.

"Para impedir este caminho aos índios, havia uns irmãos mamelucos, oriundos de pai português e mãe brasileira, todos cristãos e tão versados na língua dos cristãos, como na dos selvagens. O mais velho chamava-se Johan de Praga (João de Braga), o segundo, Diego de Praga (Diogo de Braga), o terceiro, Domingo de Praga (Domingos de Braga), o quarto, Francisco de Praga (Francisco de Braga), o quinto, Andrea de Praga (André de Braga), e o pai chamava-se Diego de Praga (Diogo de Braga).

"Cerca de dois anos antes da minha vinda[8], os cinco irmãos tinham decidido, com alguns índios amigos, edificar ali uma casa forte para deter os contrários, o que já tinha executado [9].

"A eles se ajuntaram mais alguns portugueses, seus agregados porque era a terra boa. Os inimigos Tuppin-Inbás, logo que isso descobriram, se prepararam na sua terra, dali distante cerca de 25 milhas, e vieram uma noite com 70 canoas, e, como de seu costume, atacaram de madrugada. Os mamelucos e os portugueses correram para uma casa, que tinham feito de pau a pique, e aí se defenderam. Os outros selvagens fugiram para suas casas e resistiram quanto puderam. Assim, morreram muitos inimigos, mas por fim venceram estes e incendiaram o sítio da Brikioka; capturaram todos os selvagens, mas os cristãos, que eram uns oito mais ou menos, e os mamelucos, nada puderam fazer porque Deus quis salvá-los. Aos outros selvagens, porém, que tinham capturado, esquartejaram-nos e repartiram-nos os entre si, depois do que voltaram para sua terra (São Sebastião)".




COMO OS PORTUGUESES REEDIFICARAM BRIKIOKA E DEPOIS FIZERAM UMA CASA FORTE NA ILHA DE SANTO AMARO

"Depois disto pensaram as autoridades e o povo que era bom não abandonar este lugar, mas que cumpria fortificá-lo, pois que deste ponto todo o país podia ser defendido. E assim o fizeram.

"Quando os inimigos perceberam que o lugar lhes oferecia grandes dificuldades de ataque, vieram de noite, mas por água, e aprisionaram a quantos encontraram em S. Vicente. Os que moravam mais longe pensavam não correr perigo, visto existir uma casa forte na vizinhança, pelo que sofreram muito.

"Por causa disso, deliberaram os moradores edificar outra casa ao pé da água, e bem defronte de Brikioka, e aí colocar canhões e gente para impedir os selvagens. Assim, tinham começado um forte na Ilha; mas não o tinham acabado, à falta de artilheiro português que se arriscasse a morar ali. Fui ver o lugar. Quando os moradores souberam que eu era alemão e que entendia de artilharia, pediram-me para ficar no forte e ajudá-los a vigiar o inimigo. Prometiam dar-me companheiros e um bom soldo. Diziam também que se eu o fizesse seria estimado pelo Rei, porque este costumava ver com bons olhos aqueles que, em terras assim novas, contribuíam com seu auxílio e seus conselhos.

"Contratei com eles para servir 4 meses na casa, depois do que um oficial devia vir por parte do Rei, trazendo navios, e edificar ali um forte de pedra, para maior segurança; o que foi feito [10].


"Depois de alguns meses, chegou um oficial por parte do Rei, pois que lhe tinham escrito quão grande era o atrevimento dos selvagens e o mal que os mesmos lhes faziam. Também tinham escrito, quão bela era esta terra e não ser prudente abandoná-la. Para então melhorar essas condições, veio o governador Tomé de Susse (Thomé de Sousa) para ver o país e o lugar que queriam fortificar.

"Fizeram a casa de pedras, puseram dentro alguns canhões e ordenaram-me que zelasse bem da casa e das armas".

Este trecho de Hans Staden restaura a verdade de Bertioga, mostrando quem eram os irmãos Braga, e como, quando e por que foram feitas as primeiras fortificações daquela barra histórica.

Por aqui se vê que Martim Afonso de Souza, em sua provável estada na Bertioga, de passagem para o Sul e para S. Vicente, instalou ali somente uma estacada ou pequena casa forte, para refúgio e abrigo provisório de alguma gente que deixaria naquele ponto, casa esta que ele mesmo fez abandonar no ano seguinte, não se podendo contar, dali, a existência real da Fortaleza.

Frei Gaspar exagerou alguma coisa, quando atribuiu a ereção da Fortaleza de Sant'Iago a Martim Afonso, sendo ele o autor dessa versão sem consistência. A verdade aí está; ela só passou a existir mesmo em 1547 e desde então nunca mais deixou de ser conservada, restaurada, reconstruída e reaparelhada, partindo dessa casa-forte dos Irmãos Braga.

A última vez que vemos os irmãos Braga em exercício da heróica missão de sentinelas da barra de Bertioga é pela altura de 1554, em companhia de outros dois filhos da terra, sacrificados ao canibalismo do gentio litorâneo - Jerônimo e Jorge Ferreira.

É ainda Hans Staden que nos vai contar a ação assistida por ele, já como prisioneiro da tribo de Ubatuba:

"Alguns dançaram em homenagem aos seus ídolos, e quiseram neste mesmo dia ir à terra dos seus inimigos, a um chamado Boywassukange (Boissucanga), esperando aí até que anoitecesse.

"Ao deixarmos o lugar onde tínhamos pernoitado, chamado Maynbipe (Ilha de S. Sebastião, etc.... .."

"Quando perlongávamos a terra, avistamos, por detrás de uma ilha, umas canoas que se dirigiam a nós. Gritaram então - 'Aí vêm os nossos inimigos, os Tuppin Ikins'. Quiseram ainda assim esconder-se com as suas canoas por detrás de um rochedo, para que os outros passassem sem os ver. Mas foi debalde, viram-nos e fugiram para a sua terra. Remamos com toda a força atrás deles, talvez umas quatro horas, e os alcançamos. Eram cinco canoas cheias, todas de Brikioka. Conheci-os a todos. Vinham seis memelucos em uma dessas canoas, e dois eram irmãos. Chamava-se um Diego de Praga (Diogo de Braga) e o outro Domingo de Praga (Domingos de Braga). Defenderam-se estes valentemente, um com um tubo (espingarda) e o outro com um arco. Resistiram na sua canoa, durante duas horas, a trinta e tantas canoas nossas. Acabadas as suas flechas, os Tuppin-Inbá os atacaram e os aprisionaram, e alguns foram logo mortos a tiro. Os dois irmãos não saíram feridos, mas dois dos seus mamelucos ficaram muito maltratados, bem como alguns dos Tuppin-Ikin, entre os quais havia uma mulher.




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"Entre os que foram assados de noite, havia dois mamelucos, que eram cristãos. Um era português, filho de um capitão e se chamava George Ferrero (Jorge Ferreira), cuja mãe era índia (filha de João Ramalho).

"O outro, chamava-se Hièronymus (Jerônimo); este ficou prisioneiro de um selvagem morador na mesma cabana em que eu estava e cujo nome era Parwaa (Parauá). Assou a Hièronymus de noite, mais ou menos à distância de um passo do lugar onde eu estava deitado. Esse Hièronymus era parente consangüíneo de Diego Praga (Diogo de Braga)."

Fica, assim, devidamente reconstituído o ambiente heróico de Bertioga, primeiro ponto civilizado da Capitania, assolado pela gente antropófaga de Aimberê e Cunhambebe, atalaia das primeiras vilas paulistas.

Quem seriam porém, verdadeiramente, esses Braga?

Pela época atribuída por Hans Staden ao seu primeiro aparecimento em Bertioga, com a construção da casa-forte por ele citada (1547/1548), somos levados a supor que o mais moço, por efeito da ação exigida de cada um deles, naquela vida de guerra que levavam, tivessse no mínimo dezoito anos de idade e o mais velho dos cinco, vinte e cinco ou vinte e seis. Assim, recuado no calendário o tempo eqüivalente às idades máximas e mínimas desses irmãos, temos que o nascimento de todos eles fora anterior à chegada de Martim Afonso, visto que o mais moço teria nascido em 1529, e o mais velho em 1521/1522.

Admitida a certeza com que se expressou Hans Staden, jamais posta em dúvida por qualquer dos historiadores que trataram do mesmo assunto e repetiram as cenas por ele descritas, somos obrigados a aceitar que Diogo de Braga, o velho, progenitor destes primeiros santistas, foi também um dos misteriosos e esquecidos da primeira colonização, ao lado de João Ramalho e Antônio Rodrigues, ocupante, talvez, de terras adjacentes ao lugar da futura Santos, companheiro ainda do "Bacharel" Mestre Cosme, de Gonçalo da Costa, de Francisco de Chaves, de Pero Capico e Henrique Montes (estes dois vindos em retorno com Martim Afonso de Souza, como práticos da região e escrivão da Armada).

O essencial é sabermos que os Braga existiram e que foram, até às proximidade do acordo de Iperoig, as figuras exponenciais, abroqueladoras de toda a obra de Martim Afonso, o fundador do Brasil, título que cabe melhor do que o de fundador de São Vicente, com mais direito e com mais verdade, dando a Bertioga a posição privilegiada de Colunas de Hércules da primeira Civilização brasileira.

Se os gregos aprenderam a venerar as suas Termópilas e o seu Leônidas, lendário ou não, deviam os paulistas, pelo menos, aprender a amar e venerar as suas Termópilas e os seus Leônidas (cinco) do sítio e barra de Bertioga, representados naquele momento que a idade não conseguiu vencer, e que contêm toda uma grande História, de São Paulo e do Brasil.

Afinal, todo o heroísmo dos Braga e toda a coragem de Pascoal Fernandes, aceitando o posto de Condestável naquele reduto avançado mas não inexpugnável de Bertioga em 1557, teria sido inútil se não sobreviesse, coroando toda aquela longa página de esforços, heroísmo e sacrifício, o Armistício de Iperoig, que foi mais, em verdade, um perfeito tratado de paz, começado apenas com o armistício de 1563.

Anunciava-se a Confederação dos Tamoios, isto é, a reunião de todas as tribos sujeitas a Coaquira, Aimberê, Cunhambebe e Pindobussu, num total de quinze a vinte mil guerreiros, para uma descida de extermínio sobre a Bertioga, Santos, São Vicente, para que nada ficasse ali dos "peros" ou portugueses. Afirmava-se que a onda humana visava não só à reconquista da terra como à punição de alguns apresamentos de tupinambás, especialmente mulheres, levados a efeito por caçadores reinóis.

Soavam lugubremente, nas solidões de Maiembipe e Ubatuba, os trocanos de guerra; e as danças selvagens, as poracés prenunciadoras de batalhas, já se realizavam em torno das grandes tabas ubatubanas.

A notícia terrível caíra em Santos e S. Vicente como um dobre de finados, alarmando os arraiais cristãos com a tempestade selvagem que se armava sobre as suas cabeças. Bertioga seria o primeiro ponto arrasado pela onda irresistível e barbaresca.

Para conjugar a ameaça anunciada, organizou-se às pressas em Santos uma embaixada de paz destinada a Ubatuba. Voluntários da morte deviam integrar essa embaixada, que, pela melhor das suposições, nunca mais voltaria.

Manuel da Nóbrega e José de Anchieta foram os iniciadores desse movimento. E quem senão eles? Mas encontraram num civil, José Adorno, o nobre rico e genovês, senhor do Engenho de São João, que tão ativamente participara da fundação de Santos, o secundador e companheiro, o condutor destemeroso para Ubatuba.

E foi numa clara manhã, após o ato religioso celebrado na Capela dos Adornos ou de Santo Antônio de Guaíbe, em Bertioga, que partiram os barcos de José Adorno, conduzindo a pequena expedição de paz para o terrível ambiente de guerra. Os fatos são conhecidos e até hoje rememorados.

Um mês depois, José Adorno voltava trazendo apenas Manuel da Nóbrega, mas vinham alguns tamoios dos mais classificados. Soube-se de tudo então. José de Anchieta ficara como refém, garantindo a volta de Nóbrega e dos próprios tamoios, afiançando o cumprimento do armistício combinado das pazes entre indígenas e portugueses e seus descendentes, nas bases estabelecidas em Iperoig (que era o nome da praia de Ubatuba).

Tudo saiu bem. Os emissários tamoios foram bem recebidos e festejados, em Santos e São Vicente. Estava salva a obra de Martim Afonso e seus continuadores, Anchieta voltaria glorificado.

E só daquele ano de 1563 em diante puderam os portugueses e brasileiros de Santos tornar às antigas glebas da região, para a nova fase agrícola industrial da marinha, que deveria dar vitalidade e força à penetração do planalto e dos sertões.

Pouco depois, de 1565 a 1568, novos acontecimentos extraordinários tinham palco em Santos e Bertioga. Aprestavam-se as expedições de socorro ao Rio de Janeiro, onde Estácio de Sá pretendia fundar a cidade de São Sebastião, em cumprimento às ordens do Rei.

Grande papel têm, nessas páginas cívicas e militares da região e do Brasil, Manuel da Nóbrega e Bertioga, onde a Armada, reforçada por todos os barcos de José Adorno e toda a gente do seu Engenho, escravos e colaboradores, incluindo seu gerente, o alemão Eleodoro Eobano (nomeado comandante da força particular), aguardava a ordem de partida, da qual resultaria, afinal, a fundação da primeira São Sebastião, na antiga praia de Martim Afonso.

Foi na manhã de 27 de janeiro de 1565 que partiu de Bertioga a Armada estaciana, em que seguia a flor da população da Vila santista, para cumprimento da grande missão civilizadora. Homens como Francisco Velho venderiam suas casas de Santos, para poderem povoar a nova cidade da Guanabara, e a este mesmo caberia dar o primeiro nome à Enseada (o seu próprio nome) que mais tarde passaria a denominar-se de "Botafogo". O próprio juiz de Santos - Pedro Martins Namorado - seria, pouco depois, o primeiro juiz de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Na fundação da futura capital brasileira, uma notícia alegrava os santistas, mais do que todas as outras. Dois daqueles heróis de Bertioga - Diogo de Braga e Domingos - não haviam morrido; exatamente aqueles que Hans Staden vira os tamoios aprisionarem, descrevendo-os e destacando-os entre os seis mamelucos, que durante duas horas haviam lutado contra trinta e tantas embarcações tamoias, representando uma força de seiscentos guerreiros indígenas.

Domingos e Diogo de Braga, os dois irmãos remanescentes dos cinco, apareciam ao lado de Estácio de Sá, combatendo os franceses de Villegagnon, e a indiada feroz da Guanabara, e prosseguindo combate ao lado de Mem de Sá após aquele glorioso embate de 20 de janeiro de 1867 (N.E.: ano correto é 1567) (batalha de Uruçumirim) em que seria ferido de morte o chefe Estácio de Sá.

Diogo de Braga, o renascido do cativeiro tamoio, apareceria depois, como um dos três primeiros vereadores do Conselho da Câmara de São Sebastião do Rio de Janeiro [11].

Era a história de Bertioga heróica, a se estender pela nova história que Diogo e Domingos de Braga ajudavam a criar.

Bertioga hoje é o grande e único Distrito do Município de Santos (N.E.: o texto é anterior à criação do Município de Bertioga). A história do seu desenvolvimento através dos séculos, apesar da sua sede santista e do abandono em que por muitos e muitos anos esteve, é rica de detalhes, de pitoresco e de poesia. A partir do século XVII a vida do antigo núcleo do continente extinguiu-se quase de todo. A falta de água limitou o desenvolvimento de Bertioga, que foi passando para a Ilha de Santo Amaro, onde havia um núcleo antigo, água pura e abundante, terras para cultivo, fortaleza de pedra para defesa, grande igreja para orações, bom porto de calado, material de construção, madeira, barro, pedra e cal de sambaqui e haveria, ainda, uma grande indústria: a de pesca das baleias e produção de óleo para iluminação pública e particular, com a instalação do Real Contrato da Armação.

Bertioga em 1700 transfere-se totalmente para o outro lado e transforma-se numa Vila, que por pouco seria oficializada.

Era essa a sua situação, ainda em 1807, quando por ali transitou o mineralogista inglês John Mawe, saído de Santos de canoa, cujo depoimento descrevemos [12].

"Assim desenganados, resolvemos não aguardar navio em Santos, mas seguir para o Rio de Janeiro numa canoa, margeando a costa. Alugada uma, embarcamos; depois de remarmos toda a noite num estreito que separa o continente da Ilha de Santo Amaro, que constitui uma das passagens para Santos, chegamos ao nascer do sol a Bertioga, situada no extremo daquela Ilha. É pequena a cidade, com algumas construções toleráveis e boas, erguidas por conveniência do Capitão-mor e seus ajudantes que superintendiam um estabelecimento de pesca, similar ao das proximidades de Santa Catarina, pertencente à mesma Companhia, mas muito inferior em tamanho e capacidade. Em ambos, os negros mais hábeis ocupavam-se no preparo de barbatanas de baleia, produto de considerável comércio, embora sejam menores e de menor valor que as da Groenlândia. O litoral que costeamos, possui várias e belas baías, onde, na estação piscosa, apanha-se, anualmente, grande número de baleias. Os edifícios para derreter a gordura e armazenar o óleo estão convenientemente instalados.

"O famoso porto de Bertioga é bem abrigado dos ventos, e a própria cidade, situada no topo da colina, acha-se protegida das inclemências do tempo e, às vezes, bastante quente. A base da colina é de granito primitivo, composto de anfibólio, feldspato, quartzo, e mica. Belas nascentes de água, jorrando de vários pontos, dão grande variedade ao cenário, e uma agradável frescura ao ar. Embora o lugar apresente aspecto pobre, não se observam indícios de miséria; o mar fornece grande quantidade e variedades de peixes comestíveis, e o solo produz leguminosas de todas as qualidades, e arroz que, em grande porção, é transportado em barcos para Santos. As  pessoas com quem tratamos mostraram-se corteses, parecendo ansiosas por adivinhar e satisfazer os nossos desejos. Doente, o Capitão-mor não pôde auxiliar-nos na procura de passagem para São Sebastião, fomos portanto obrigados a alugar uma canoa, a fim de prosseguir, etc...." [13].

O depoimento é importante, como vemos, e aponta a existência de uma cidade - pequena mas com algumas construções toleráveis e boas, instalações industriais, edifício para derreter gorduras e armazéns de óleo, e um famoso porto bem abrigado dos ventos, cercada de produções de legumes e de arroz exportáveis; fontes de excelentes águas, e outras coisas mais [14].


NOTAS:

[1] O estudo do topônimo Bertioga, inicialmente ligado ao único morrinho local de Buriquióca - mais tarde "de São Lino" e atualmente da Senhorinha, consta do capítulo especial e apropriado: "Toponímia Santista". Para ele enviamos o leitor.

[2] É sabido que Martim Afonso, logo após sua entrada em São Vicente e sua posse da Capitania, mandara os soldados e defensores de Bertioga abandonarem o Fortim e se recolherem à Vila capital, convencido de que ninguém iria molestar a sua obra e a sua gente.

[3] Foi nesta aventura agrícola de José Adorno que o ilustre fidalgo genovês, o maior dos fundadores de Santos, construiu a Igreja ou grande Capela de Santo Antônio de Guaíbe (documentada no mapa setecentista existente no Museu Naval de Madri, de autor anônimo), ainda hoje uma das mais belas ruínas históricas de Bertioga (lado da Ilha de Guaíbe ou Santo Amaro).

Também esta ruína é hoje (N.E.: texto escrito originalmente em 1937) assistida pelo Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, evitando-se, desse modo, a sua destruição pelo tempo.

Anos atrás, seu abandono era completo e as figueiras brancas, com suas poderosas raízes, como tentáculos enormes, tanto protegiam algumas partes dela como destruíram e ameaçavam destruir outras partes, deslocando os blocos de pedra e cal de sambaqui.

Certa vez, um grande embaixador de país europeu, ao visitar esta ruína, onde lhe servíamos de "cicerone", contemplando-a, ao lado do prefeito de Santos, não conteve estas palavras:

 "- Em meu país esta ruína seria um monumento nacional, e aqui, pelo que vejo, não chega a ser nem mesmo uma ruína zelada!"

Nessa ocasião, tirando do bolso a carteira, dela sacou uma nota de 500$000, convidando o prefeito a fazer o mesmo:

"- Senhor prefeito, vamos casar aqui um dinheiro, para mandar limpar este monumento?"

Foi uma grande lição dada pelo embaixador estrangeiro ao alcaide santista, a que assistimos entre envergonhados e satisfeitos.

Consta que o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido daquele mencionado Instituto Histórico, vai restaurar a célebre igreja bertiogana.

[4] Cartório da Provedoria da Fazenda Real de S. Paulo - Livro de Registro de Sesmarias - Lit. 1562 até 1580, fl. 11, verso - Transcrição em Frei Gaspar da Madre de Deus, Memórias para a História da Capitania de São Vicente, 3ª ed., p. 289.

[5] Este Cristóvão Monteiro era exatamente sogro de José Adorno e fazia parte do conselho da Vila de Santos.

[6] Cartório da Provedoria da Fazenda Real de S. Paulo - Livro de Registro de Sesmarias - Lit. 1562 até 1580, fl. 45, verso - Transcrição em Frei Gaspar - obra citada p. 289.

[7] Hans Staden - Viagem ao Brasil - Versão do texto de Marpurgo, de 1557, por Alberto Lofgren - Edição da Academia Brasileira de Letras, 1930, p. 55/57.

[8] Ele viera em 1549/1550. A construção indicada era de 1547.

[9] A casa-forte era o primeiro forte de São Tiago (Sant'Iago), sem levar-se em conta aquela primeira estacada construída por Martim Afonso em 1531, destruída e abandonada por ele mesmo em 1532. Assim, o ano de 1547 deve ser considerado como o da fundação ou ereção desta Fortaleza, que em 1947 completou quatro séculos de existência, ocasião em que publicamos um opúsculo em homenagem à efeméride (e ao mesmo tempo ao 10º aniversário de fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Santos), sob o título de Bertioga Histórica e Legendária - 1531/1947 - Edição Armando Lichti, 51 págs.

[10] Documenta-se desta forma a construção do Forte de pedra "São Felipe", mais tarde "São Luís" (a partir da restauração de D. Luís Antônio de Sousa). Ordens de Tomé de Sousa; execução de Brás-Cubas, Capitão-mor.

[11] A primeira Câmara da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro tinha a seguinte composição: Aires Fernandes (Juiz Ordinário), Francisco Dias Pinto, Cristóvão Monteiro (sogro de José Adorno), e Diogo de Braga (vereador), Gomes Ennes (ou Eanes?) - procurador do Conselho. Funcionava esta Câmara ou Conselho em casa do juiz Aires Fernandes, enquanto a casa da Câmara estava ocupada pelo Governador Geral.

[12] John Mawe - Viagens ao Interior do Brasil principalmente aos distritos do Ouro e dos Diamantes, 1807/1808 - Tradução de Solena Benevides Viana - Introdução e notas de Clado Ribeiro Lessa - Rio, ed. Zélio Valverde, 1944.

John Mawe é o autor também da obra publicada em Londres, no ano de 1812: The Mineralogy of Debershire.

[13] O viajante não se refere ao outro lado do rio (a Bertioga de hoje), às Fortalezas e à secular Igreja de Santo Antônio de Guaíbe, ali mesmo junto à cidade que ele descrevia, e junto aos tanques ou depósitos iniciais do óleo saído das caldeiras. Também não faz um cálculo dos habitantes ali sediados nem do número dos escravos e trabalhadores de Contrato de Armação ou da produção, o que devemos fazer, por indução e analogia, calculando que, entre chefes, soldados, técnicos de fabricação, escravos, operários especializados, arpoadores, remeiros, marinheiros, canoeiros, cordoeiros, famílias, agricultores, pescadores e outros, a cidade de Bertioga, encontrada por John Mawe, não podia ter menos de 500 ou 600 habitantes.

[14] Que resta hoje do famoso porto de Bertioga. Transferindo-se a vida bertiogana para a terra firme (o outro lado do rio, baixo, doentio, paludoso, sem água, sem matéria-prima para construções) após a extração da indústria da pesca das baleias (cerca de 1830), foi Bertioga decaindo, transformada em sítio e chácaras pobres e de veraneio das famílias abastadas de Santos, parecendo uma tapera ao princípio do século XIX, apenas cercada de belezas naturais, tranqüilidade, pitoresco e poesia. Até o porto antigo (famoso em 1807), e tão rico de história, onde fundeara Martim Afonso em fins de 1531, foi abandonado, restando dele apenas um pequeno trecho de cais em ruína. Suas fontes de águas minerais, magnesianas, alcalinas e talvez oligometálicas, foram abandonadas ao mato, e, assim, o pouco que restou da sua antiga grandeza.

Hoje, já nem peixe, quase, se encontra em Bertioga, sendo necessário que seus hotéis e suas pensões se abasteçam de pescado e crustáceos em outras praças para atender à preferência de seus hóspedes. Outrora, com uma horticultura domiciliar, porém bem diversificada, suficiente para o seu consumo, hoje, também, depende das verduras e legumes de fora para a alimentação da vila. Até as frutas desapareceram... a carambola, o jambo, a goiaba, o cambucá, o cambuci, a laranja, o caqui e a tangerina... tudo desapareceu, restando apenas algumas poucas árvores isoladas. Só a banana resistiu por mais tempo, em algumas áreas, mas já está sendo dizimada, e não subsistirá muitos anos.

Sob esse aspecto o progresso arruinou Bertioga. As áreas, ontem, de cultura, foram transformadas em loteamentos. Lamentavelmente, os pescadores e os pequenos lavradores não tiveram nenhuma proteção.

História de Santos/Poliantéia Santista. Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti (Ed. Caudex Ltda., São Vicente/SP, 1986)


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HANS  STADEN NA BERTIOGA




São Vicente, c. 1624. O Forte da Bertioga está assinalado pela letra "G", ao fundo.

MAPA-GRAVURA retratando a colonização portuquesa na América do Sul. Américo Vespúcio, Gaspar Lemos e Gonçalo Coelho foram os argonautas do mundo mercantil moderno. João Ramalho foi Jasão. São Vicente era a Cólquida, onde teve início a busca do Velócino de Ouro.
***
Atlas de Kurstman, publicado entre 1502 e 1504. Na indicação das rotas marítimas para o sul, estão registrados os nomes “Rio de São Vicente” e “Porto de São Vicente”. Já Cananéia aparece, em 1527, em relatos de uma expedição espanhola ao rio da Prata. Ao retornar, os espanhóis embarcaram em São Vicente cerca de 800 índios comprados do bacharel de Cananéia. Era o primeiro registro da prática que se tornaria a principal atividade dos habitantes de São Vicente: a escravização dos nativos. (Terras Paulistas- História, artes e costumes - Os paulistas em movimento) 



O Forte de São Filipe da Bertioga localizava-se na ponta da Baleia, no sopé do morro da Armação, extremo nordeste da ilha de Santo Amaro, atual município de Guarujá, no litoral do estado brasileiro de São Paulo.

Após o ataque indígena de c. 1548 à Casa-forte da Bertioga (STADEN, 1947:74), cuja estrutura foi reforçada (Fortim de São Tiago da Bertioga), os Tupinambás de Ubatuba passaram a evitar essa posição, o que levou à ereção de nova posição defensiva, na ilha fronteira de Santo Amaro. A Provisão-Régia de 18 de junho de 1552 determinou a fortificação do local "(...) por ser necessário defender o importante passo à entrada de Bertioga". Hans Staden narra-nos:

"Como os inimigos agora percebessem que a povoação estava fortificada demais para que pudessem atacá-la, passaram-lhe ao pé uma noite, furtivamente, e chegaram [em canoas] através do canal entre a ilha e o continente até às proximidades de São Vicente. Aí fizeram prisioneiros a quantos puderam, pois os moradores de São Vicente não haviam cogitado de perigo algum, pensando estar abrigados por Bertioga fortificada. Tiveram que sofrer as conseqüências de tal suposição.

Determinaram por isso construir bem em frente de Bertioga, na ilha de Santo Amaro, próximo ao mar, uma casa, destinando-lhe uma guarnição e peças de artilharia com tenção de impedir a passagem dos índios. Assim já haviam encetado a construção de uma fortaleza na ilha, mas não a tinham terminado porque, como me contaram, nenhum artilheiro português queria aí arriscar-se.

Fui lá e examinei a situação do lugar. Quando os habitantes souberam que eu era alemão e que entendia um pouco do manejo de canhões, propuseram-me que me estabelecesse na casa da ilha e que os ajudasse na espreita do inimigo. Poriam aí alguma gente e me pagariam bem. Disseram também que se eu aceitasse isso saberia o Rei de Portugal agradecer-me, pois costumava ser um soberano generoso especialmente para com aqueles que o ajudavam e assistiam nas novas terras.

Combinei com eles servir quatro meses na casa. Então devia chegar um encarregado do Rei com navios e construir um edifício de pedra seguro, que tinha de ser mais forte. E assim se fez.

A maior parte do tempo passei eu na casa com dois outros homens. Tínhamos alguns canhões, estávamos porém em grande perigo e nunca seguros diante dos índios, pois a casa não era muito sólida. (...)
Depois de alguns meses chegou o lugar-tenente do Rei [o governador-geral Tomé de Sousa (1549-1553), que visitou a capitania de São Vicente no início de 1553], pois a Câmara havia escrito a Sua Majestade com que insolência se portavam os inimigos que vinham do Norte, como era bonita a terra e que não seria avisado abandoná-la. (...) Ele inspecionou a região da Bertioga e também o lugar que a Câmara quisera fortificar. (...)

Sobre isso [a prorrogação por dois anos do contrato de serviços de Staden, e sua futura recompensa pelo Rei] passou-me o lugar-tenente um contrato em nome do Rei, como o recebem os artilheiros reais, quando o solicitam.

Construiu-se a fortaleza de pedra, pondo-se nela alguns canhões. O forte e estas peças me foram confiados; devia vigiá-los e manter boa guarda." (STADEN, 1974:76-77)
Infere-se do relato que existiram duas estruturas no local:

a primeira, desde 1552, uma casa-forte artilhada, onde Staden serviu inicialmente por quatro meses, e
a segunda, desde 1553, após a visita de Tomé de Sousa, uma fortificação artilhada (BARRETTO, 1958), confiada a Staden por um contrato assinado de dois anos.



Alguns autores atribuem a primeira estrutura ao fidalgo português Jorge Ferreira, que acompanharia Estácio de Sá (1510-1567) na segunda campanha contra os franceses na baía de Guanabara (1565-1667), participando da fundação da cidade do Rio de Janeiro (1565), e mais tarde dando combate aos corsários franceses no litoral do Cabo Frio (1572-1573), onde se radicaria com a família e escravos. Outra personalidade vicentina de destaque nesse mesmo evento foi o genovês José Adorno, que acompanhou o jesuíta padre José de Anchieta na luta na Guanabara, tendo contribuído com o envio de um reforço militar a Estácio de Sá, sob o comando do alemão Heliodoro Hessus, guarda-livros do seu Engenho São João, que lutou até à vitória decisiva em 20 de janeiro de 1567. Hessus, à testa desses homens, viria a perecer no assalto a um navio francês no Cabo Frio, a 8 de junho de 1568. José Adorno acompanhou o Capitão-mor Jerônimo Teixeira na Campanha do Cabo Frio em 1575 contra os Tupinambás, ganhando três sesmarias pelos serviços prestados: uma na Carioca, outra em Niterói, e a última no sertão (STADEN, 1974:78, 80).

Outros autores atribuem a construção do Forte de Pedra a Brás Cubas em seu segundo governo da Capitania, por ordem de Tomé de Sousa.

Em qualquer das hipóteses, a posição foi reforçada pelos portugueses em 1557, guarnecida por Pascoal Fernandes, Condestável das fortalezas e sítios da Bertioga, que residia no forte, isolado com a esposa e filhos (SANTOS, 1948). A estrutura encontra-se cartografada por Luís Teixeira (Mapa de São Vicente, c. 1573. in: Roteiro de todos os Sinais... Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa).

Foi sucedido, a partir de 1765 no mesmo local, pelo Forte de São Luís da Armação.



Bibliografia , citada na Wikpedia

BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
MORI, Victor Hugo; LEMOS, Carlos A. C.; ADLER, Homero F. de. Arquitetura Militar: um panorama histórico a partir do Porto de Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2003. 231p.
SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.
STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. 218p. il.

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VILLA YNDAIÁ, REFÚGIO DO POETA DO MAR


"Situado no costão da praia de Bertioga, Vicente de Carvalho adquiriu um terreno à beira-mar. Encantado pela beleza da região, em 1917 construiu uma casa, cujo projeto veio de Santa Catarina e montada no Yndaya e planta do próprio Vicente. Casa arrojada para a época, com água quente, paredes duplas para isolar o calor, janelas e venezianas, fogão a lenha no meio da cozinha para evitar incêndio e, no quintal, um pomar com 52 espécies de frutas. Era toda de madeira e sobre sua construção, pairavam estacas que aumentavam a circulação de ar".



Casa de praia de Vicente de Carvalho. Villa Yndaya, Bertioga, SP. Pintura de Benedito Calixto. 1917


ACERVO E NOTA DO SITE https://www.vicentedecarvalho.art.br/

"Sou bisneta de Vicente de Carvalho, meu nome é Beatriz, e propósito deste site é homenagear a vida e obra do poeta, como também a do homem público, reconhecido pelo seu carácter, simplicidade e firmeza. Modernidade no pensamento e sabedoria na ação, conquistou grandes amigos, respeito e prestígio. Passível de erros e acertos, Vicente de Carvalho deixa para seus descendentes admiração, excelência e encanto".



Visita de Whasington Luiz a Vicente de Carvalho ao Yndaya. Villa Yndaya, Bertioga, SP.1922


Vicente de Carvalho saindo para pescaria. Villa Yndaya, Bertioga, SP. 1922


Vicente de Carvalho, família e amigos. Villa Yndaya, Bertioga, SP. 1922

Casa de praia de Vicente de Carvalho. Villa Yndaya, Bertioga, SP. 1922


Mar, belo mar selvagem ...

Das nossas praias solitárias! Tigre

A que as brisas da terra o sono embalam,

A que o vento do largo eriça o pêlo!

Junto da espuma com que as praias bordas,

Pelo marulho acalentada, à sombra

Das palmeiras que arfando se debruçam

Na beirada das ondas - a minha alma

Abriu-se para a vida como se abre

A flor da murta para o sol do estio.

Vicente de Carvalho em uma pescaria, (Mostra passagem para praia de São Lourenço). Villa Yndaya, Bertioga, SP c. 1922



Vista do pomar e da casa. Villa Yndaya, Bertioga, SP. 1922

Vicente de Carvalho e sua filha Vicentina (Botão). Villa Yndaya, Bertioga, SP. 1922


Vicente Augusto de Carvalho nasceu em Santos, SP no dia 5 de abril de 1866 e faleceu em 22 de abril de 1924, devido a uma pneumonia. Foi advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro (Franca-SP), empreendedor, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro.

Fez o primário na cidade natal e, aos 12 anos, seguiu para São Paulo, matriculando-se no Colégio Mamede e, depois, no Seminário Episcopal e no Colégio Norton, onde fez os preparatórios. Formou-se com 20 anos de idade pela Faculdade de Direito de São Paulo, no curso de Ciências Jurídicas e Sociais (sendo que para matricular-se teve de ter licença especial da Assembléia Geral do Império por não ter a idade mínima para cursar a cátedra de Direito. Uniu-se ao mesmo tempo, ao grupo de poetas que defendiam a estética parnasiana. É considerado um dos principais nomes da poesia parnasiana brasileira. É considerado o poeta do mar, teve seu valor reconhecido com o livro “Rosa, Rosa de Amor”, onde expressa a sua predileção pelo mar, sua grande paixão. Com “Poemas e Canções”, um de seus livros mais famosos, esse amor à natureza se define claramente. Os temas sociais também foram explorados: a escravidão surge em “Fugindo ao Cativeiro” e a miséria aparece como preocupação em “A Voz do Sino”, temas que o situam como poeta do Parnasianismo.

Participou na Boemia Abolicionista, encaminhando escravos fugitivos para o Quilombo Jabaquara.

Em 1888, casou-se com Ermelinda Ferreira de Mesquita, teve 15 filhos, criaram-se 13.

Dizia-se livre pensador, não adepto à religiões. E aderiu, por certo tempo, ao positivismo, que defendia a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro.

Depois de formado, dedicou-se ao jornalismo, à política e ao comércio de café (nesta última atividade, graças a uma fazenda que comprara em Franca, no interior de São Paulo - 1896 a 1901). Depois de três viagens à Europa, mudou-se para sua cidade natal, Santos-SP, onde residiu até falecer.

Republicano combativo, Vicente de Carvalho desempenhou papel importante no jornalismo: em 1889, era redator do "Diário de Santos", fundando, no mesmo ano, o "Diário da Manhã" (também em Santos). Até 1913, escreveu para "O Estado de S. Paulo" (utilizou também do pseudônimo João d'Amaia) e a "Tribuna". No fim da vida, cansou-se do jornalismo, mas continuou em contato com seus leitores através dos poemas que publicava na revista "A Cigarra".

Admirador profundo de Camões, dizia, de maneira carinhosa, que era caolho de um "braço", assim como Camões maneta de um "olho".

Tornou-se Deputado do Congresso Constituinte do Estado em 1891, participando então na Comissão Redatora da Constituinte. 

Em 1892 foi Secretário do Interior, tendo abandonado a política logo após.

Em 1909 foi eleito para a Cadeira nº 29, na sucessão de Artur Azevedo, foi recebido na sessão de 7 de maio de 1910, por carta. Pertenceu também a Academia Paulista de Letras.

A partir de 1914, ministro do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Em Iguape-SP foi sócio-fundador da Empresa Fluvial Sul Paulista, que fazia a navegação no Rio Ribeira de Iguape tanto de passageiros como de produtos da região.

Tempos depois de sua morte, muitos de seus poemas foram traduzidos para o italiano por Giusepina Stefani.

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COLÔNIA DE FÉRIAS DO SESC RUY FONSECA



Imagens: Blog Caiçara

No dia 30 de outubro de 1948 foi inaugurada a Colônia de Férias Ruy Fonseca, projetada pelo engenheiro Prestes Maia, com 28 casas pré-fabricadas que acomodavam 200 hóspedes. O projeto foi pioneiro em associar o bem-estar e o desenvolvimento sociocultural dos trabalhadores.

O primeiro registro de atividades musicais no Sesc informa a realização, durante o ano de 1949, de 37 shows, sendo 36 na Colônia de Férias de Bertioga e um em São Paulo, no Conservatório Dramático e Musical.
Segundo a edição de agosto de 1956 da Revista do Comerciário, 40.367 pessoas aproveitaram as férias na Colônia do Sesc entre 1948 e 1955.

Ao completar 10 anos, em 30 de outubro de 1958, a Colônia de Férias Ruy Fonseca ganhou uma edição comemorativa da Revista do Comerciário e conquistou a marca de 63.839 caravanistas.

Em 1960, foi inaugurada a reprodução da gruta milagrosa de Nossa Senhora de Lourdes e Santa Bernadette, oferecida por Dona Olga Monteiro, esposa de David Portes Monteiro, então presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e dos Conselhos Regionais do Sesc e Senac.


Construído entre 1962 e 1964, o ginásio esportivo, projetado por Ícaro de Mello Castro, arquiteto que desenhou outros espaços esportivos bastante conhecidos, como o Ginásio do Ibirapuera, por exemplo.
Uma das características marcantes de sua obra, que pode ser claramente percebida no ginásio do Sesc Bertioga, é a utilização de diversos sistemas de infraestrutura, combinando vigas de madeira a estruturas de concreto armado, pórticos e treliças. Na unidade, chamam a atenção os encaixes entre as pilastras de pedra que emolduram o jardim externo e as grandes vigas de madeira pintada de vermelho que sustentam o teto.
O projeto Avifauna foi implantado em 1992 para recuperar a fauna original da região.

Em 1997, o Sesc Bertioga e o Sesc Pompeia sediaram o Encontro Internacional “Aliança Para Um Mundo Solidário e Responsável”, com atividades que focavam no tema da cidadania mundial. A programação, marcando a Manifestação Pública da Aliança em São Paulo, incluiu relatos de experiências, shows musicais, apresentações artísticas e o lançamento da “Declaração de São Paulo Para Um Mundo Responsável e Solidário”.

Em 6 de maio de 2012 foi formalizado o processo de criação de uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), lançada oficialmente em 2016. É a primeira RPPN do Estado de São Paulo dentro dos domínios de Mata Atlântica com predominância de Floresta Alta de Restinga.

Ao longo desses quase 70 anos, muitas práticas sustentáveis foram adotadas, como o sistema de tratamento de esgotos, o viveiro com mudas de espécies nativas da região para plantio dos jardins e a captação de água da serra. Atualmente, o Centro de Férias Sesc Bertioga tem 12 conjuntos de apartamentos, 50 casas, e realiza reservas on-line. Recebe hóspedes, visitantes de um dia e moradores que participam das programações. São atendidas por volta de duas mil pessoas por dia.







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CRONOLOGIA CONTEMPORÂNEA


CONHEÇA A HISTÓRIA DE BERTIOGA

JAMILSON LISBOA SOBRINHO



Bertioga nos tempos do Império (1822): Com o fim da Armação das Baleias, provavelmente em 1825, Bertioga é quase totalmente esquecida, não fosse por algumas inspeções realizadas periodicamente no Forte São João.

Extração de madeira para o Arsenal da Marinha de Santos (1825): Bertioga passa a ser usada como local de extração de madeira para ser usada no Arsenal da Marinha de Santos, destinada a construção e reparo de embarcações.

A Educação na época do Império: Em 1857 foi criada a cadeira de primeiras letras de Bertioga. Manoel do Espírito Santo Guimarães ofereceu sua casa em Bertioga para que funcionasse como escola. Em 1866 foi designado Boaventura José Ribeiro como professor.

Linha do Telégrafo Elétrico (1865): Com a Guerra do Paraguai, o maior conflito armado já ocorrido na América do Sul, entre 1864 e 1870, o Império tornou urgente a instalação do sistema até o sul do país. Em 1865 foi instalada a linha do telégrafo nacional passando pelo Forte São João, mas o Posto do Telégrafo de Bertioga somente foi instalado em 1907.

Bertioga das excursões e dos piqueniques (1880): O ciclo do café e a riqueza dele decorrente, fez com que fazendeiros, comerciantes, grandes proprietários de terras e políticos escolhessem Bertioga para os seus passeios de fim de semana, com o propósito de conhecer as ruínas históricas do Forte São João e da Ermida de Santo Antonio do Guaíbe.

Batalhão Alfredo Ellis (1893): Marechal Deodoro da Fonseca, em 1891, aplica um golpe, dissolvendo o Congresso Nacional. Houve resistência e uma das principais forças militares contrárias ao governo de Deodoro foi o Batlhão Alfredo Ellis, que realizou treinamento em Bertioga.

Euclides da Cunha em Bertioga (1904). Um dos maiores autores da literatura brasileira, Euclides da Cunha, quando trabalhava para o Instituto Histórirco e Geografico Brasileiro, visitou o Forte São João e o Forte São Luis, produzindo um relatório que alertava para a situação de ruína das fortificações.
A Escola Municipal instalada pela Prefeitura de Santos (1906). A Prefeitura de Santos promulgou no dia 14 de novembro de 1906 a Lei Municipal nº 242, que criava a “Escola de Instrução Primária para o sexo masculino no bairro da Bertioga”. Foram instaladas duas escolas em Bertioga, destinadas exclusivamente ao sexo masculino. Uma ficava na Vila de Bertioga, tendo suas aulas iniciado em 1907, e a outra no Indaiá (Enseada), com início das aulas em 1908. A escola da Vila era municipal e a escola da Enseada era estadual, mas as duas tinham professores designados pela Prefeitura de Santos. Na Escola Municipal do sexo masculino de Bertioga, no ano de 1907, foram seus primeiros professores Onofre Leite (titular) e Gabriel Bento de Oliveira Filho (substituto).

Levantamento acerca das terras devolutas (1906). Um relatório sobre as terras devolutas, realizado em 1906, identificou que os terrenos em Bertioga, ao lado do Canal de Bertioga, já estavam ocupados, enquanto os terrenos em Guarujá, nas margens do mesmo canal, ainda não possuíam ocupação.  
Posto do Telégrafo. Em 1907 foi instalado o Posto do Telegrafo em Bertioga, aproveitando o sistema de fios existente, a “linha do telégrafo”. O serviço foi implantado dentro do prédio do “quartel” do Forte São João. O local já era usado pela Força Policial de São Paulo. Foi na década de 1920 que o sistema por ondas de rádio eletromagnéticas foi instalado no Forte São João.
Chácara dos Jambeiros. João Bazílio dos Santos instala em meados de 1910, no entrono do Forte São João, a “Chácara dos Jambeiros”, utilizada para o cultivo de algumas frutas e recepção aos excurcionistas.

Usina de Itatinga (1910). Com a finalidade de produzir energia elétrica para a modernização e expansão do Porto de Santos, foi instalada em Bertioga a Vila de Itatinga, com uma usina de energia, com padrão e tecnologia inglesa.

A Vila de Bertioga (1910). Na década de 1910 Bertioga era formada por uma pequena comunidade de pescadores e produtores agrícolas. O acesso até essa comunidade somente era possível através de embarcações, que geralmente trafegavam pelo Canal de Bertioga. Na década de 1910 ocorre a instalação da Usina de Itatinga. Porém, o fato mais importante foi o início do serviço de transporte de passageiros entre Santos e Bertioga através de lanchas pelo Canal de Bertioga.
Ruy Barbosa visita Bertioga (1912). Um dos maiores juristas da história do Brasil, quando passava um período de descanso em Santos, veio com seu genro até Bertioga conhecer as ruínas das fortificações e da Ermida de Santo Antonio do Guaíbe.

O transporte de passageiros entre Santos e Bertioga, as lanchas da “Santense” e a ponte de atracação (1913), O serviço de transporte público de passageiros e cargas entre Santos e Bertioga tem início no ano de 1913. Era executado pela empresa de Affonso Porchat de Assis e depois pela “Companhia Santense de Navegação”.

Grande baleia encalha ao lado do Forte São João (1916). Com mais de vinte metros, uma baleia encalha na Barra de Bertioga.

Inspeção do Governador Altino Arantes. Em junho de 1917 Bertioga foi inspecionada pelo Governador do Estado de São Paulo, Altino Arantes Marques

Vicente de Carvalho em Bertioga. O poeta Vicente de Carvalho, viveu em Bertioga de 1917 até 1923 com alguns de seus familiares, em um sítio que por ele foi denominado de “sítio Yndayá”, que daria nome mais a tarde ao bairro do Indaiá.

Gripe espanhola em Bertioga (1918). A gripe espanhola foi uma pandemia que aconteceu entre 1918 e 1919, atingindo todos os continentes e deixando um saldo de, no mínimo, 50 milhões de mortos. Bertioga também foi atingida pela pandemia, recebendo o atendimento médico e a distribuição de medicamentos dos órgãos públicos.

A Vila de Bertioga. O grande destaque da década de 1920 é a inauguração do prédio da Colônia de Pescadores para nele funcionar, por empréstimo e de forma gratuita, a escola municipal. Deve-se destacar, também, a limpeza e restauração do Forte São João por iniciativa de Washington Luís (então Governador do Estado) e a primeira iniciativa de urbanização da Vila com abertura de ruas e demarcação de lotes, por Joaquim Tavares, que tinha comprado quase toda a Vila de Bertioga da Irmandade dos Carmelitas Fluminense (mesmo com ocupações consolidadas e moradores).

A abertura da Avenida Vicente de Carvalho (1920). Diversos fatores contribuíram para a abertura da atual Avenida Vicente de Carvalho (orla do Canal de Bertioga): a) a instalação da ponte de atracação; b) a limpeza e restauração do Forte São João; c) a comercialização de lotes por Joaquim Tavares; d) a abertura das primeiras casas de comércio.

Washington Luís, os passeios em Bertioga e a restauração do Forte São João (1920). Eram frequentes as visitas de Washington Luís em Bertioga. Em sua gestão como Governador, executou uma limpeza e pequena restauração no Forte São João.

O renascimento da Vila de Bertioga (1920). Com o início do serviço de transporte de passageiros entre Santos e Bertioga e a instalação da ponte de atracação das lanchas da “Santense”, a comunidade começa a ser transformada de uma vila formada exclusivamente de pescadores e agricultores para uma vila de comerciantes de alimentos, armarinhos, bebidas, tecidos, além do desenvolvimento do mercado imobiliário.

Fundação do Bertioga Futebol Clube (1920). O primeiro equipamento de recreação criado na Vila foi o Bertioga Futebol Clube, fundado, em 1º de janeiro de 1920, por iniciativa, principalmente, de Luiz Pereira de Campos e Aristeu Tavares.

O “Hotel Bertioga” (1921) é mencionado em publicações de jornais, sem referências sobre sua localização. Pode ser que tenha antecedido a “Pensão Bertioga”, instalada em 1922, no mesmo local, ao lado do Forte São João, ou terem coexistido em locais distintos, dentro da Vila.

A “Colônia de Pescadores” (1921). A história antiga da Colônia de Pescadores Z-7 de Bertioga pode ser dividida em três momentos: a) instituição e inauguração, em 1921; b) doação do terreno para a construção da sede e lançamento da pedra fundamental, em 1923; c) conclusão das obras e cessão para a Escola Municipal, em 1924.

José Ermírio de Moraes (1923). Um dos empresários mais bem sucedidos do país, José Ermírio de Moraes adquire em 1923 o sítio Indaiá, que pertencia a Vicente de Carvalho. Como homem de negócios, viu Bertioga como um local de lazer para ele e sua família, mas também acreditou na possibilidade de realizar investimentos imobiliários, apostando em um futuro promissor.

A Escola Municipal “Vicente de Carvalho” (1924) A Escola Municipal de Bertioga foi instituída em 1906, por lei municipal de Santos. Em 1923, Joaquim Tavares e sua esposa Maria do Carmo Pinto de Campos Tavares doam por escritura pública à Colônia de Pescadores o terreno localizado no nº 26, da atual Avenida Vicente de Carvalho. A doação era destinada à construção da sede da Colônia de Pescadores, que também funcionaria como escola para atender aos pescadores associados e moradores locais. No dia 26 de maio de 1924, a Câmara Municipal de Santos aprovou a indicação subscrita por vários Vereadores para atribuir a Escola Mista de Bertioga o nome de Escola “Vicente de Carvalho”.

A Vila de Bertioga . A década de 1930 é marcada novamente por uma profunda transformação da Vila de Bertioga, continuando ser impulsionada pelo turismo, nesta época promovido comercialmente e culturalmente em São Paulo pela “Sociedade Amigos de Bertioga”. O Forte São João, assim como o Forte São Luís e a Ermida de Santo Antônio do Guaíbe estavam arruinados. É nesta época que surgem os primeiros estabelecimentos destinados a hospedagem dos excursionistas e visitantes que vinham para piquenique ou passar alguns dias em um paraíso bucólico. Não tinha água encanada e nem energia elétrica, mas as famílias de Miguel Bichir, Elias Nehme, João Sabino Abdalla, Epiphânio Batista (Faninho) e Nestor Pinto Florêncio de Campos consolidavam-se na Vila, com suas famílias e seus negócios.

A “Pensão Bertioga” (1922). O casal de alemães Bertha e Germano Besser adquirem parte das terras de João Basílio dos Santos e ali constroem uma vivenda, destinada a serviços de pensão e alimentação aos visitantes. Era chamada de “Pensão Bertioga”.

Distrito de Paz de Santos (1932). O Decreto nº 5.627, de 8 de agosto de 1932, do Governador do Estado de São Paulo Pedro de Toledo, dividiu o Município de Santos em dois distritos relativos à competência para julgamento dos processos judiciais (primeiro e segundo distrito), e estabeleceu que o “bairro” de Bertioga pertenceria ao segundo distrito.

Revolução Constitucionalista (1932). Um marco na história de São Paulo e do país. A Revolução Constitucionalista representou o inconformismo de São Paulo contra a ditadura do presidente Getúlio Vargas e custou a vida de mais de 800 soldados do lado paulista e cerca de 400 aliados do governo. Segundo alguns moradores antigos, havia a presença de soldados no Forte São João, que orientavam a população a apagar as luzes dos lampiões.

A “Pensão Paulista” (1933)  foi aberta em 1933 pelo imigrante libanês Elias Nehme. Ficava na Avenida Thomé de Souza, em frente à praia.

Comício do Partido Constitucionalista (1934). No dia 7 de dezembro de 1934 o Grêmio Acadêmico do Partido Constitucionalista realizou um comício em Bertioga.

Debate na Assembleia Legislativa (1935). O deputado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Dr. Dante Delmanto, em plenário, fez um duro pronunciamento em 24 de maio de 1935, sendo interrompido diversas vezes pelos demais deputados, que não aceitavam as críticas realizadas em função da situação de miséria das populações do interior, em especial de Bertioga, onde os alunos e professores estavam sem um local adequado para estudar.

Cemitério de Bertioga (1935). Atualmente, o cemitério está localizado no centro de Bertioga, na Rua da Saudade, próximo a Prefeitura. Este cemitério foi aberto em 1935, por iniciativa da Prefeitura de Santos, pois nesta época Bertioga era qualificada como um “bairro” de Santos, vindo a se tornar Distrito somente em 1944. Porém, existem interpretações e documentos históricos que informam a existência de dois cemitérios anteriores: a) o cemitério de soldados ao lado da Capela de São Thiago (Forte São João); b) o cemitério instalado no entorno da Capela de São João Batista, em frente à praia.

Escola de São Lourenço (1936). A Escola da Praia de São Lourenço foi uma das grandes conquistas de Luiz Pereira de Campos para a comunidade local. Foi inaugurada no dia 02 de agosto de 1936 com a presença do Diretor Regional de Ensino, Prof. Luiz Damasco Pena. Recebeu o nome de “Escola Mixta Estadual da Praia de São Lourenço”.

Visita oficial do Prefeito de Santos (1937). Antonio Iguatemy Martins Júnior, foi um dos maiores Prefeitos da história de Santos. Administrou a cidade de 1936 a 1938. Teve a iniciativa de realizar uma visita oficial à Vila de Bertioga em 1937. Seriam dados ali os primeiros passos para a construção da nova escola e acertada a instalação de um posto médico na Vila.

A interdição da escola e o prédio provisório (1937). Diante das condições precárias do prédio da Colônia de Pescadores, onde funcionava a escola municipal, a Prefeitura de Santos determinou sua interdição e transferiu, provisoriamente a escola para outro imóvel.

Fundação da Sociedade Amigos de Bertioga (1937). A iniciativa de fundar a Sociedade Amigos de Bertioga foi do médico Francisco Quartim Barbosa. A finalidade da associação era promover assistência social aos moradores de Bertioga, através de atendimento médico e medidas preventivas de saneamento, bem como a promoção cultural de Bertioga na capital paulista, para a realização de excursões até a Vila.

Ambulatório da Sociedade Amigos de Bertioga (1938). Antes da instalação do ambulatório da Cruz Vermelha, em 1939, a Sociedade Amigos de Bertioga tomou a iniciativa de manter um posto de atendimento médico em uma casa localizada próxima ao Forte São João.

Lido Hotel (1938). O primeiro empreendimento hoteleiro de Bertioga foi o “Lido Hotel”, construído em 1938 e inaugurado em janeiro de 1940, de propriedade de Raphael Costábile, conforme entrevista por ele concedida ao Jornal Folha de São Paulo, no ano de 1946.

A “Sociedade Urbanística Bertioga” foi fundada em 12 de janeiro de 1938, tendo como sócios Alberto Hugo de Oliveira Caldas, José Ermírio de Moraes, Francisco Quartim Barbosa, Octácilio de Oliveira e outros. A “Praias Paulistas” foi fundada em 29 de outubro de 1946, tendo na época como sócios Alberto Hugo de Oliveira Caldas, Névio Marçal de Oliveira Caldas, João Baptista de Mello Peixoto, Oswaldo Quartim Barbosa, Arthur Alves de Souza Brasil, entre outros. Essas empresas, ao adquirirem grandes parcelas do território de Bertioga, por escritura pública, nas décadas de 1930 e 1940, foram responsáveis por garantir o ordenamento territorial do solo urbano.

A “Pensão Holandesa” - Hotel 27 (1939). Foi com esse nome, que provavelmente no ano de 1939, Elza e João Scardini inauguram sua “Pensão Holandesa”, na Barra Nova, em frente à Praia da Enseada de Bertioga.

Ambulatório da Cruz Vermelha (1939). No dia 12 de agosto de 1939, um sábado, foi inaugurado em Bertioga um posto médico (ambulatório), noticiou o “Correio Paulistano”. Era um serviço que passaria a ser prestado pela Cruz Vermelha (filial Santos). O prédio da Cruz Vermelha em Bertioga estava localizado em um imóvel alugado de Norberto Luiz, situado na esquina da Avenida Vicente de Carvalho com a Rua Irmãos Braga.

Inauguração da Estrada Guarujá-Bertioga (1940). O responsável pela execução do trecho compreendido entre a Barra de Bertioga e a comunidade da Cachoeira, de oito quilômetros, foi o empresário José Ermírio de Moraes, com os recursos pessoais. Já o trecho que liga a comunidade da Cachoeira até o Perequê ficou sob a responsabilidade da Prefeitura do Guarujá. Somente foi totalmente asfaltada em 1959.

Vila Bertioga. Nos anos de 1940 o grande destaque fica com a consolidação da Vila de Bertioga, com a definição das suas primeiras ruas e traçado urbano. É o grande momento para os comerciantes libaneses e empresários do ramo de hospedagem, que lucram com o enorme fluxo de passageiros e turistas que chegavam diariamente em Bertioga pelas lanchas da “Santense”.

Em 15 de fevereiro de 1941 era inaugurada a primeira Colônia de Férias de Bertioga, de iniciativa da Liga das Senhoras Católicas. Recebeu o nome de “Colônia de Férias Dona Helena Pereira de Moraes”, que era esposa do empresário José Ermírio de Moraes.

O novo prédio da escola. No dia 19 de abril de 1942, em homenagem ao aniversário do Presidente da República Getúlio Vargas, a Prefeitura de Santos inaugurou a Escola Municipal Vicente de Carvalho, na Avenida Thomé de Souza, em frente à praia, no prédio ocupado atualmente pela Casa da Cultura.

Distrito Policial de Bertioga. Pelo Decreto nº 12.899, de 25 de agosto de 1942 foi oficializada pelo Governo do Estado a instalação do “15º Distrito Policial de Bertioga”, vinculado a Comarca de Santos.

Granja Zilá (1942). Onde hoje está o Parque dos Tupiniquins, Armando Lichti montou a Granja Zilá, que tinha finalidade totalmente decorativa, sem qualquer propósito comercial. Era um bosque com jardins e gramados para piqueniques, locais para peixadas e churrascadas.

Cooperativa de Pequenos Trabalhadores (1944), Por iniciativa de Francisco Quartim Barbosa, Presidente da Sociedade Amigos de Bertioga e médico do Juízo de Menores e Comissão de Menores do Estado de São Paulo, foi criada em Bertioga, no ano de 1944, uma cooperativa de menores, sob a orientação de Nair Ortiz, Subinspetora do Departamento de Assistência ao Cooperativismo.

Distrito de Santos. Foi por meio do Decreto-lei nº 14.334, de 30 de dezembro de 1944, que o Governador do Estado de São Paulo, Fernando Corrêa da Costa, fixou a divisão territorial do Estado e criou o Distrito de Bertioga, recebendo o mesmo nome do povoado, subordinado ao Município de Santos.

Resolução do Prefeito de Santos pela energia elétrica e serviço telefônico. O Prefeito de Santos publica em dezembro de 1944 uma resolução determinando que fossem realizados estudos no sentido de dotar Bertioga de luz elétrica e serviço telefônico.

“Bar e Padaria São João da Barra” (1945). Afonso Paulino veio para Bertioga para trabalhar na construção da Colônia de Férias do SESC. Com a conclusão das obras nesse empreendimento, Afonso Paulino abriu um estabelecimento comercial destinado a fabricação e venda de pães. A primeira padaria de Bertioga. Ficava na esquina da Rua Irmãos Braga com Avenida Vicente de Carvalho. Em 1946 é vendida para José Rodrigues, que logo muda ela para o prédio ao lado, construído por ele, com restaurante, bar e lanchonete. No dia 8 de julho de 1961 foi inaugurado um novo prédio, na Rua Irmãos Braga. Recebe o nome oficial de “Bar e Padaria São João da Barra”.

Primeiro Subprefeito de Bertioga. O Decreto-lei nº 15.584, de 25 de janeiro de 1946 autorizou que o Prefeito de Santos nomeasse subprefeitos para o Distrito de Bertioga. Assim o fez o Prefeito de Santos, Edgardo Boaventura, nomeando naquele mesmo ano o Tenente Coronel Ary da Fonseca Cruz o primeiro subprefeito de Bertioga, considerado na época como homem de absoluta idoneidade.

Posto Telefônico. No dia 2 de fevereiro de 1946 foi ligado à rede interurbana da Companhia Telephonica Brasileira um posto telefônico, atendendo a reivindicações de moradores locais.

Posto de Puericultura. A Sociedade de Amparo aos Praianos de Bertioga foi fundada na década de 1940 e no dia 20 de junho de 1946 inaugurou um posto de puericultura, gabinete dentário, farmácia e instalações anexas.

A primeira sede da Subprefeitura de Bertioga. Em 1º de agosto de 1947, a Prefeitura de Santos, representada pelo seu Prefeito Rubens Pereira Martins, celebrou contrato por dois anos com Cristovam Ferreira de Sá para locação de uma casa para instalação da primeira sede da Subprefeitura do Distrito de Bertioga. Esta casa estava localizada na atual Avenida Vicente de Carvalho, esquina com a atual Rua Irmãos Braga.

Hotel Umuarama (1948). Na esquina da Avenida Tomé de Souza com Avenida Vicente de Carvalho, Coriolano Mazzoni construiu o segundo hotel de Bertioga, o Hotel Umuarama. Tinha confortáveis apartamentos, restaurante e bar.

Colônia de Férias do SESC. No dia 30 de outubro de 1948, Dia do Comerciário, foi inaugurada a Colônia de Férias Ruy Fonseca, projetada pelo engenheiro Prestes Maia, com 28 casas pré-fabricadas e mobilhadas que acomodavam 200 hóspedes, de modo a permitir aos comerciários uma recuperação física em clima propício e ambiente agradável.

Primeiro condomínio. O Edifício Sylvia Mara foi o primeiro condomínio construído em Bertioga. O projeto e a construção foram executados em 1949 pelo engenheiro Silvio Rodrigues, que também foi Subprefeito de Bertioga.

Colônia de Férias para Menores. Francisco Quartim Barbosa era um visionário para a época. Em 1949 foi construída a Colônia de Férias para Menores, sendo que toda a mão-de-obra empregada era dos próprios internos do Serviço Social de Menores, que dirigidos e orientados, edificaram sua própria casa de veraneio. Eram menores abandonados ou desajustados, que precisavam ser educados para reintegração à sociedade.

A Vila de Bertioga. A década de 1950 é marcada na Vila de Bertioga pelo início do serviço de travessia de balsas, o que permitiu que veículos automotores cruzassem o Canal de Bertioga.

Oficialização do primeiro sistema viário de Bertioga (1953). Foram as Leis nº 1.137, de 1950 e nº 1460, de 1953, que estabeleceram as primeiras denominações de ruas que integravam o sistema viário de Bertioga.

Sistema de abastecimento de água potável (1954). Após a realização de obras executadas pela Prefeitura de Santos, criando uma rede de distribuição de água que ligava o reservatório da Colônia de Férias do SESC até o Centro de Bertioga, foi possível que a comunidade da Vila de Bertioga fosse abastecida com água.

O serviço de travessia de balsa (1954). O serviço de travessias de balsas, ligando o Guarujá até Bertioga, foi implantado e inaugurado pelo Governo do Estado de São Paulo em 10 de dezembro de 1954.

A “Viga-Mestra” (1955).  Foi a primeira loja de materiais de construção de Bertioga, instalada na Avenida Vicente de Carvalho, nº 28, por Coriolano Mazzoni.

O primeiro cinema (1956). O cinema de Bertioga chegou em 1956, por iniciativa de Coriolano Mazzoni. Era o “Cine Umuarama”.

Plebiscito. No dia 07 de dezembro de 1958 foi realizado o primeiro plebiscito em que se reivindicava a independência político-administrativa de Bertioga do Município de Santos. A emancipação foi rejeitada. Foram 163 votos pelo “não” e apenas 56 votos pelo “sim”.

Jânio Quadros em Bertioga, vereador de São Paulo, Prefeito de São Paulo, Deputado Estadual por São Paulo, Governador do Estado de São Paulo e Presidente da República. Ocupou esses cargos entre 1947 e 1961. Neste período, frequentou por diversas vezes Bertioga, acompanhado do amigo José Ermírio de Moraes, empresário fundador do Grupo Votorantim.

O filme “A Ilha”, de Walter Hugo Khouri, gravado em 1962, teve diversas cenas filmadas em Bertioga. O filme é um drama, escrito e dirigido por Walter Hugo Khouri e lançado em 1963 nos cinemas. O elenco contava, dentre outros, com Eva Wilma e José Mauro de Vasconcelos.

Posto Médico. No dia 23 de abril de 1963 houve a inauguração do Posto Médico de Bertioga, instalado pela Prefeitura de Santos, em uma casa localizada em frente à Avenida Vicente de Carvalho, onde hoje é o Parque dos Tupiniquins.

O primeiro banco (1965). A primeira agência bancária de Bertioga, instalada por iniciativa de Coriolano Mazzoni, foi o Banco Nacional da Lavoura e Comércio, que funcionou de 1965 a 1968, tendo como seu gerente o próprio Coriolano Mazzoni.

A energia elétrica. Antiga reivindicação da população, a inauguração da energia elétrica em Bertioga ocorreu, oficialmente, no dia 8 de dezembro de 1965.

Plano de Urbanização de Bertioga. Pela Lei nº 3.532, de 16 de abril de 1968 são aprovadas as “normas ordenadoras e disciplinares do planejamento físico do Distrito de Bertioga”.

Primeiras linhas de ônibus. O Prefeito de Santos Silvio Fernandes Lopes inaugurou em 20 de abril de 1967 as primeiras linhas oficiais de ônibus de Bertioga.

As indústrias de beneficiamento de pescados. Na década de 1960, instalaram-se no Canal de Bertioga, ao longo da Estrada Guarujá/Bertioga diversas indústrias de beneficiamento de pescado, principalmente sardinha (Interpesca, Pescatlan, Edemar, Sipesca e Sardimar).

A urbanização do Centro e as primeiras vias pavimentadas de Bertioga (1971). No dia 16 de janeiro de 1971 ocorreu a inauguração do “embarcadouro”, da pavimentação e da canalização da Avenida Vicente de Carvalho.

O Pronto-socorro (1972). O Posto Médico inaugurado em 1963 passou por uma reforma em 1972 para se tornar pronto-socorro.

A inauguração da escola pré-primária Prof. Delphino Stockler de Lima. No dia 15 de agosto de 1972 é inaugurada a Escola pré-primária Prof. Delphino Stockler de Lima.

Usina Nuclear (1975). Em novembro de 1975, a CESP propôs ao Governo do Estado de São Paulo alguns locais para instalação de uma usina geradora de energia nuclear. Bertioga estava entre esses locais.

Lions Clube de Bertioga. Em 1976, Fernando Martins Lichti funda o primeiro clube de serviço, o Lions Clube de Bertioga.

Posto de Salvamento (1976). O primeiro posto de salvamento foi construído em 1976.

O amplo e moderno Pronto-Socorro. Na tarde do dia 31 de janeiro de 1977 foi inaugurado o amplo e moderno Pronto-Socorro de Bertioga, instalado na Praça Vicente Molinari. Era maior do que o Pronto-Socorro Central de Santos.

Avenida João Ramalho. Foi inaugurada em 17 de setembro de 1977, com recursos da PRODESAN, mas ressarcidos através de lançamento de “contribuição de melhoria”.

Nova Delegacia de Bertioga. Em janeiro de 1978 foi inaugurada a nova Delegacia de Bertioga, localizada na Praça Vicente Molinari.

Festa da Tainha. Foi realizada em 1978 a primeira Festa da Tainha de Bertioga, organizada pelo Lions Club. Porém, muito antes, a comunidade do Indaiá também realizada a Festa da Tainha, com o apoio da Prefeitura de Santos.

Nova sede da Administração Regional (1978). É inaugurada a nova sede da Administração Regional de Bertioga na Praça Vicente Molinari.

Morte de Joseph Mengele (1979). Morre afogado em Bertioga, em frente ao Hotel 27, o médico nazista Joseph Mengele, considerado como o “Anjo da Morte”, foi responsável por diversos experimentos científicos bizarros com humanos.

Riviera de São Lourenço (1979). Importante empreendimento imobiliário, a Riviera de São Lourenço é de 1979, e promoveu o aumento na arrecadação de tributos e geração de empregos.

Colégio Armando Belegarde. Inaugurado em 9 de maio de 1980.

Avenida Anchieta (1980). O projeto de abertura da Avenida Anchieta, de 1961, tem o primeiro trecho pavimentado de 400 metros, sendo parcialmente concluído em 1980.

 A Rodovia Dom Paulo Rolim Loureiro, conhecida popularmente como Rodovia Mogi-Bertioga, SP-98, liga os Municípios de Mogi das Cruzes e Bertioga. O trecho ligando a Bertioga foi concluído em 1982.

Maré Vermelha. No final de agosto de 1983 houve um florescimento de algas no Canal de Bertioga, propagando-se para as praias do litoral norte, provocando a suspensão do consumo de peixes e crustáceos da região.

A primeira Festa da Primavera foi organizada pela Sociedade Amigos do Jardim Rio da Praia. Realizada em setembro de 1983, ao lado da escola Willy Aureli, com o apoio da Prefeitura de Santos.

O desastre ecológico. Foi um acidente que ocorreu em 14 de outubro de 1983, com o rompimento de um oleoduto da PETROBRAS, provocando o derramamento de petróleo pelos mangues e praias de Bertioga.

Avenida Tomé de Souza. Inaugurada em 1985, é a avenida da orla da praia da Enseada de Bertioga.

Rodovia Rio-Santos. A Rodovia Doutor Manuel Hipólito Rego, SP 55, faz parte da Rodovia Rio-Santos, BR-101. O trecho de Bertioga foi concluído e entregue em 1985.

Área Indígena Guarani do Ribeirão Silveira. Foi criada por decreto federal em 1987.

Mercado de Peixes. Inaugurado em 30 de junho de 1988.

Alteração da divisa entre Santos e Bertioga (1989). Uma lei inconstitucional do Município de Santos, tentou alterar a divisa com Bertioga, como forma de retaliação ao movimento emancipacionista, reduzindo significativamente o território de Bertioga.

A emancipação de Bertioga. No dia 19 de maio de 1991 foi realizado o segundo plebiscito em que se reivindicava a emancipação político-administrativa. Votaram 3.925 eleitores. Foram 179 votos pelo “não” e 3.698 votos pelo “sim”. Votaram em branco 21 e anularam o voto 27. Bertioga virou cidade.


Barcas da Santense que ligavam antigamente, nos anos 1950, Santos e Bertioga. Acervo: Eurípedes Ferreira. Grupo Santos Antiga. 





O PLEBICITO DE 1958


Em 1951 falava-se na realização de um plebiscito, para anexar Bertioga ou parte dela à Mogi das Cruzes. Políticos mogianos queriam uma faixa no litoral. Havia a ideia de construir uma rodovia ligando Mogi das Cruzes ao litoral. Empreendedores imobiliários pressionavam para esse fim, nem sempre pautados por interesses republicanos.

Os santistas, principalmente os políticos, desaprovavam essa iniciativa. E isso era muito natural e compreensível. O resultado da emancipação seria a diminuição do território santista e, consequentemente, a arrecadação de Bertioga deixaria de ser destinada à Santos. Além disso, o eleitorado de Bertioga não votaria mais em Santos, reduzindo a área de influência de alguns políticos. Os Vereadores diziam que essa tentativa de emancipar o Distrito era fruto da cobiça e da vaidade de alguns latifundiários e comerciantes. A população reclamava da falta de interesse de Santos na promoção de investimentos em Bertioga. Na década de 1950 destacava-se a falta de abastecimento de água potável. O serviço foi instalado com a ajuda da Colônia de Férias do SESC, e através de contribuições financeiras de moradores locais, como Corionalo Mazzoni e Hugo Marçal de Oliveira Caldas.

A Prefeitura de Santos cobrava a taxa de conservação do calçamento, sem que no Distrito houvesse um metro sequer desse melhoramento. O imposto predial em Bertioga era maior do que algumas ruas nobres de Santos.

O procedimento jurídico-legislativo de emancipação de Bertioga teve início no dia 22 de abril de 1958, quando foi protocolada uma “representação” na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pedindo que fossem dados os passos necessários para que o Distrito de Bertioga fosse elevado à categoria de Município. Para tanto, a representação foi instruída com os documentos exigidos pela Lei Orgânica dos Municípios (Lei Estadual nº 1, de 1947).

Foi assinada por diversos moradores e assim qualificados como autores do pedido. Dentre vários nomes, podemos identificar Ary Fonseca Cruz, Adherbal Alves, Roberto Bichir, Miguel Macedo, Ephipanio Batista, Renato Faustino de Oliveira, Henrique Costábile, Coriolano Mazzoni, Lionésia Piques, Odair Xavier, Alberto Hugo de Oliveira Caldas, Vitorina Luiza Ferreira, Raphael Arcanjo do Nascimento, Walter Sabino, Waldemar Bittencourt Abdalla, Maria Bittencourt Abdalla e Zoraide Bittencourt Abdalla. Posteriormente, alguns moradores apresentaram petições no processo voltando atrás no pedido inicial de emancipação.

A Prefeitura de Santos, de modo velado, ameaçou com demissão os servidores públicos que trabalhavam em Bertioga caso se manifestassem favoráveis ao desmembramento.


Capa do processo arquivado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por onde tramitou o processo de emancipação político-administrativa de Bertioga e com a realização do plebiscito em 1958.


Em uma conferência realizada em 26 de outubro de 1956, na Câmara Municipal de Santos, o historiador Francisco Martins dos Santos se declarou contrário ao movimento separatista, apresentando amplos argumentos histórico-culturais que ligavam Santos ao Distrito. A transcrição dessa conferência foi juntada ao processo de emancipação pelo Presidente da Câmara Municipal de Santos, Vereador Remo Petrarchi. Em sessão realizada no dia 24 de abril de 1958 a Câmara Municipal de Santos, por unanimidade, tinha aprovado que fosse solicitada a Assembleia Legislativa que legisle no sentido de impedir o desmembramento de Municípios que tenham surgido no primeiro século do descobrimento. O Vereador Vicente Molinari acusou o Deputado Federal Brasílio Machado Neto e o Deputado Estadual Luiz Roberto de Carvalho Vidigal de trabalharem pelo desmembramento de Santos, envolvidos na época em um escândalo de repasses de recursos federais ao SESC. Embora todos os Vereadores santistas fossem contra a emancipação, Vicente Molinari e José Gomes bateram-boca. Vicente Molinari foi acusado de não conhecer adequadamente os problemas do Distrito, embora tivesse recebido expressiva votação em Bertioga. Outros Vereadores questionaram as condições do serviço de transporte fluvial prestado pela “Santense”, o preço e a precariedade das lanchas e atracadouros. 

A Prefeitura de Santos também apresentou petição contra o pedido de emancipação de Bertioga. Assim como: o Sindicato dos Operários nos Serviços Portuários de Santos, o Centro de Expansão Cultural de Santos, o Centro de Taquígrafos de Santos, a Associação dos Servidores Municipais de Santos, a Associação Comercial de Santos, a Sociedade Amigos da Cidade de Santos, o Sindicato dos Corretores de Navios de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos.

Mesmo assim, a “Comissão de Divisão Administrativa e Judiciária” da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo proferiu parecer favorável a emancipação, pois o pedido inicial preencheu os requisitos legais. Esse parecer resultou na aprovação de uma resolução com a finalidade de autorizar o plebiscito.

A Resolução nº 252, de 14 de novembro de 1958, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo determinou a realização de plebiscito para consultar a população de Bertioga se aceitava elevar o Distrito à condição de Município.


Documento original com a Resolução nº 252, autorizando a realização do plebiscito.





Publicação da Resolução nº 252, no Diário Oficial do Estado do dia 15 de novembro de 1958.


Segundo Fernando Martins Lichti, em “Poliantéia de Bertioga”, destacaram-se como idealizadores do movimento emancipacionista Humberto da Silva Piques, Nevio Marçal de Oliveira Caldas, Epiphânio Batista (Faninho), Henrique Costábile, Aldo Ennos de Moraes e Valter Perina. Participou ativamente desse movimento Laureano Dias.

Assim, em um domingo, dia 07 de dezembro de 1958, foi realizado o primeiro plebiscito em que se reivindicava a independência político-administrativa de Bertioga do Município de Santos.

Em Bertioga, dos 276 eleitores aptos a votar, compareceram 219, havendo uma abstenção de 2%. O plebiscito teve início às 08:00 da manhã, e a votação ocorreu no Grupo Escolar Vicente de Carvalho (a escola localizada na Praia, onde hoje é a Casa da Cultura Norma dos Santos Mazzoni). Era apenas esta escola, com uma seção e uma urna. Os eleitores fizeram uma fila, de modo ordenado, para preencher a lista que se encontrava na mesa presidida por Belmiro Dancini, auxiliado por Antonio Diob e Alaor Santana. Após a assinatura, o eleitor dirigia-se a cabina de votação, onde escolhia a cédula do voto “sim” ou a cédula do voto “não”, depositando, em seguida, a cédula lacrada na urna. Em todos os cantos da cidade o assunto era comentado. O plebiscito transcorreu sem nenhum problema. O pleito foi acompanhado pelo Delegado Helio Pantaleão, do DOPS e pelo juiz das 118ª e 119ª Zonas Eleitorais, Leoncio Cavalheiro Neto. A votação encerrou-se às 17:00. A apuração foi efetuada em Santos, na 118º Zona Eleitoral. A urna foi escoltada até Santos por policiais da Força Pública. A emancipação foi rejeitada. Foram 163 votos pelo “não” e apenas 56 votos pelo “sim”.

 

Ata de apuração do plebiscito.


Reportagem do jornal Cidade de Santos em 1968 como o historiador Francisco Martins cita duas tentativas antes da emancipação de 1991. Uma ponte ligando as ilha de São Vicente e de Santo Amaro impediria acabaria com o isolamento e impedia a ruptura territorial. ( Documento anexado por este blog)



Cidade de Santos. Edição de 17 de janeiro de 1971


FINALMENTE A EMANCIPAÇÃO  EM 1991


A primeira iniciativa de emancipação político-administrativa de Bertioga foi realizada em 1958, através de um plebiscito onde a população foi consultada e decidiu permanecer como Distrito de Santos.
Em 1982 surgiu um novo movimento emancipacionista, por iniciativa do industrial Paulo Reis e dos comerciantes José Flavio Romero Gomes e Antonio Augusto Pacheco Ferreira de Sá. Esse grupo resolveu tomar a iniciativa de colocar em discussão os ideais de autonomia em relação ao Município sede, Santos. Eles conseguiram mais de 100 assinaturas, em apenas um dia e meio, em um abaixo-assinado pedindo a autonomia político-administrativa de Bertioga.

Eram críticos a gestão do Administrador Regional, Luiz Carlos Rachid, especialmente pela omissão quanto ao lançamento de esgoto “in natura” nas praias e o tráfego caótico na Rua João Ramalho. Em relação ao orçamento, criticavam o fato de Santos ter investido no Distrito apenas 30% do arrecadado em Bertioga no ano anterior (1981).

A partir do que escreveu Fernando Martins Lichti, em seu livro “Poliantéia de Bertioga”, esse grupo foi formado em uma reunião no Flavio’s Restaurante, que ficava ao lado da Colônia de Férias do SESC, onde também estavam presentes Adilson Pires, José Toledo, Licurgo Mazzoni, José Flavio Romero Gomes, Ney Moura Nehme, Antonio Augusto Pacheco Ferreira de Sá, Oswaldo Biel, Fioravante de Maria, Pérsio Dias Pinto. Mas não foi criada uma associação civil ou estabelecida qualquer forma de organização ou coordenação dos trabalhos.

Segundo entrevista conjunta concedida por Paulo Reis, Flavio Romero e Ferreira de Sá ao Jornal “A Tribuna de Santos” no dia 3 de fevereiro de 1982, eles lançariam um impresso em formato de jornal, periódico, chamado de “Notícias de Bertioga”.

O grande destaque desse movimento era José Flavio Romero Gomes, com 36 anos em 1982. Em entrevista ao Jornal “A Tribuna de Santos” negou que fosse um dos mandantes da violência pela posse da terra no Sítio Itapanhaú, do qual foi acusado na época, por moradores. Romero, admitiu diversas vezes que pretendia se candidatar ao cargo de Prefeito de Bertioga para trazer o progresso à população. Mesmo sendo dono de uma imobiliária, disse não ter interesse particular algum na emancipação. Romero recebeu duras críticas na Câmara Municipal de Santos, em especial do vereador Eduardo Castilho.

Autoridades santistas questionaram os verdadeiros interesses por traz desse abaixo-assinado. O ex-Prefeito de Santos, Manoel de Carvalho, acusou o grupo de querer a emancipação de Bertioga para alterar a legislação urbanística, permitindo o parcelamento do solo em lotes pequenos, com um maior aproveitamento do solo pelos proprietários de imóveis.

Ainda em 1982, o Prefeito de Santos, Paulo Gomes Barbosa, destacou que a cidade de Santos não tinha competência constitucional para emancipar o Distrito. De nada adiantaria entregar um abaixo-assinado na Prefeitura de Santos se não competia a ela decidir sobre esse desmembramento.

Em 1983, Antonio Augusto Ferreira de Sá se afasta do movimento, em carta aberta, publicada
no Jornal “A Tribuna de Santos”.

Romero pretendia fundar uma associação civil, responsável por organizar o movimento emancipacionista. Porém, no 26 de setembro de 1984, Romero foi brutalmente assassinado em sua residência, com dois tiros na cabeça, e o seu corpo foi levado e abandonado próximo a
ponte do Rio Itapanhaú, ao lado da Rodovia Rio-Santos, onde propositalmente o incendiaram.
O crime não foi motivado pela atuação política dele em prol da emancipação.

No início do governo do Prefeito de Santos, Oswaldo Justo, associações civis de Bertioga pleitearam que o Distrito tivesse autonomia para escolher o seu Administrador Regional, de preferência alguém que morasse e com vínculos familiares com o local.

Em junho de 1984 houve a mobilização de um grupo de jovens, liderados por Silvio Magalhaes,
Orestes do Amparo Filho e Renato Faustino de Oliveira Filho, com o propósito que fosse realizada uma eleição para que a comunidade local escolhesse o seu Administrador Regional, ao invés de ser indicado por ato unilateral do Prefeito de Santos. Eram citados nomes como Licurgo Mazzoni, Fioravante de Maria e Luiz Carlos Rachid para o cargo.

Oswaldo Justo ignorou tudo isso e nomeou José Mauro Dedemo Orlandini, que estava há apenas cinco anos em Bertioga e não votava no Distrito.

Em 18 de agosto de 1984 houve uma reunião no Restaurante Zezé e Duarte, com a presença dos vereadores santistas Telma de Souza e Alcindo Gonçalves, para discutir as propostas de dar início a um processo de desmembramento de Santos. Essas reuniões passaram a ser frequentes.

No dia 13 de fevereiro de 1985 um novo grupo de empresários cria o “Movimento de Autonomia e Emancipação de Bertioga”. Segundo consta da ata de fundação, tinha como membros: Licurgo Mazzoni (Presidente), Jeronimo de Souza Lobato (1ª Vice-Presidente), Antonio Duarte (2º Vice-Presidente), Pérsio Dias Pinto (1º Tesoureiro), Abelardo Araujo Barros (2º Tesoureiro), Eunice Olsen Lobato (1ª Secretária), Irene Vaz de Pinto Lyra (2ª Secretária). Na primeira reunião do movimento, realizada em 12 de março de 1985, vários moradores de Bertioga se fizeram presentes. Esse “movimento” também recebeu o nome de “Comissão pró- Emancipação”. Era coordenada por Rubens Puccetti.

No dia 9 de abril de 1985 esse grupo se encontrou no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo,
com o Governador Franco Montoro. O encontro foi possível em razão do apoio do Vice- Governador, Orestes Quércia. O Secretário de Governo, Luiz Carlos Bresser Pereira, presente no encontro, disse que acreditava que Bertioga já era um Município, ficando surpreso que ainda fosse Distrito de Santos. O movimento emancipacionista ganhou o apoio do Governador e de sua equipe. Entre os deputados estaduais que trabalharam pela autonomia de Bertioga estava Florivaldo Leandrine. Em entrevista ao Jornal “O Estado de São Paulo”, no mesmo dia do encontro com o Governador, Licurgo Mazzoni mostrava-se otimista, diante da filosofia decentralizadora de Franco Montoro.

Entre os anos de 1986 e 1987, esse grupo se desarticulou por causa do prazo para pleitear a emancipação, que precisava ser até dois anos antes das eleições. Apenas continuaram ativas em seu trabalho quatro lideranças: Licurgo Mazzoni, Pérsio Dias Pinto, Jerônimo de Souza Lobato e Eunice Lobato.

Como resultado da necessidade de se organizar politicamente, em 9 de março de 1986 é fundada a Associação Comercial, Industrial e Pesqueira de Bertioga, entidade cujo propósito era que representasse os empresários locais em questões comerciais e políticas.

O deputado estadual pela Assembleia Legislativa de São Paulo, Mauricio Najar, apresentou em 1987 um ofício ao Presidente da Assembleia com a reivindicação dos moradores de Bertioga pela apresentação de um projeto de lei destinado a aprovar a realização de um plebiscito para emancipação. Esse processo legislativo deu origem ao projeto de resolução nº 08.



Pedido protocolado em 1987 na Assembleia Legislativa pelo Deputado Estadual Mauricio Najar. Os anexos contêm as cem assinaturas de moradores necessárias para instauração do procedimento.


O Tribunal Regional Eleitoral, até agosto de 1989, não tinha apresentado qualquer parecer acerca do projeto de lei do deputado estadual Mauricio Najar, mas o Cartório da 272ª Zona Eleitoral anunciou que se houvesse parecer favorável do Tribunal Regional Eleitoral, estaria preparado para rapidamente realizar o plebiscito. No dia 31 de agosto de 1989, o então deputado estadual Rubens Lara, advogado e Professor da UNISANTOS, publicou artigo no Jornal A Tribuna de Santos fazendo algumas ponderações sobre os motivos do movimento emancipacionista:

(…)
Entendemos que a emancipação do Distrito é irreversível, mas adiável. Por ora entretanto, não vemos condições estruturais para que Bertioga se constitua como Município, desde as dificuldades para formar uma Câmara de Vereadores e os vários departamento de uma Prefeitura, até os problemas para organizar e aparelhar serviços essenciais como transporte, abastecimento, coleta de lixo e outros. Será difícil, também, controlar a especulação imobiliária, que poderá levar o recém-nascido Município litorâneo à destruição de seus mais preciosos atrativos: as brancas praias, que parecem não ter fim, e que o turismo desorganizado já começa a afetar. Basta olhar a orla santista para imaginar um paredão semelhante isolando as praias de Bertioga e criando uma “muralha de egoístas”, que tantas consequências nefastas acarreta ao clima e à paisagem. Esses argumentos não são artifícios para esconder preocupações meramente bairristas, mas é obvio que também pensamos nos prejuízos que Santos sofreria. Afinal, se perder Bertioga, para onde Santos vai crescer? Como retomar os planos da expansão, tão cuidadosamente acalentados ao longo dos últimos anos? Onde instalar as anunciadas indústrias não poluentes e todos os demais projetos feitos sob medida para o Distrito? Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que Bertioga tem razão de reclamar: não pode permanecer para sempre a espera das poucas migalhas que lhe são atribuídas pelas administrações municipais. Os prefeitos têm preocupação mais imediata, mais próximas, como os morros e a zona noroeste, mas isso não justifica a adoção do ditado “o que os olhos não veem, o coração não sente” – ou seja, deixar Bertioga de lado, ano após ano. Caso contrário, Santos logo receberá a resposta dura, irreversível e merecida, na forma do “sim” ao plebiscito.

(…)
A distância, a falta de uma ligação terrestre e a precária visão política e administrativa dos governantes acabaram criando um abismo entre Bertioga e a sede – que parece tornar-se instransponível a partir de agora. A população, cansada do ostracismo a que sempre se viu relegada, vê a emancipação como única alternativa de desenvolvimento, mas há quem esteja participando do movimento separatista guiado apenas por interesses particulares – e esse detalhe não pode ser ignorado. O destino de Santos – continente e ilha – merece mais que soluções apressadas e oportunistas.

Havia uma grande tensão política. O que antes eram apenas boatos e reuniões em restaurantes, tornava-se agora um procedimento jurídico-administrativo que poderia levar Santos perder Bertioga.
Em maio de 1989 foi formada a Frente Jovem pela autonomia de Bertioga, com trinta filiados. Os principais idealizadores foram Luiz Antônio Batista Simões e Maurício Miki Borges, ligados ao diretório distrital do PT. Já existiam outros comitês destinados a promover a emancipação de Bertioga, mas a Frente Jovem conseguia esclarecer, com maior facilidade e em uma linguagem mais simples e compreensível as vantagens em tornar Bertioga livre de Santos. O objetivo era informar a população e promover debates sobre o assunto. Embora o nome mencione a palavra “jovem”, o movimento era aberto a todos os que desejassem participar.

No dia 13 de setembro de 1989 o vereador santista Marcus de Rossis publicou um artigo no Jornal A Tribuna de Santos com críticas à emancipação de Bertioga, alegando que Santos precisava de Bertioga para garantir seu futuro, pois é a maior faixa territorial dos limites santistas:

(…)
Para nós, essa ideia “libertária” é inoportuna e ao mesmo tempo pretenciosa, porque, no estado em que hoje se encontra Bertioga tem mais características de um terreno abandonado do que de um reduto pronto para virar Município. É aquele distrito, isto sim, uma terra-de-ninguém, à mercê dos especuladores imobiliários e grileiros. O espaço construído e o comercio, pequeno, já se compõem como ameaças a uma estruturação urbana futura. Ai entra a nossa preocupação com a ecologia do lugar; com a manutenção das áreas verdes que forma um verdadeiro santuário; contra os excessos e a falta de fiscalização da administração pública em trechos habitados ou não.
(…)
Bertioga não tem um comércio em condições de manter com o pagamento de impostos e tributos uma cidade inteira. Não há indústrias para o desenvolvimento econômico-social imediato, nem atividade agrícola ou qualquer outra que absorva a mão de obra local. Não existem meios orçamentários para a formação e estruturação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, tampouco para instalação dos básicos órgãos dos serviços públicos. E, principalmente, não há possibilidade de um planejamento urbanístico, capaz de absorver a defesa do patrimônio natural, que para nós constitui uma prioridade.
(…)
O povo santista, no geral, deve opinar no plebiscito proposto para decidir o destino de Bertioga, e não apenas uma ínfima parcela.

O Procurador Regional Eleitoral, Antônio Carlos Mendes, proferiu parecer favorável a emancipação político-administrativa, através de um plebiscito, com a participação somente dos moradores do Distrito. A solução colocava nas mãos de cerca de 4.500 eleitores de Bertioga decidir sobre o seu destino, enquanto Santos tinha mais de 280.000 eleitores. Os santistas queriam também participar dessa votação. O parecer foi submetido ao Tribunal Regional Eleitoral.

A Câmara Municipal de Santos formou uma “Comissão Especial de Vereadores” que acompanhava a questão relativa à emancipação e diante do parecer do Procurador Regional Eleitoral propôs que fossem tomadas medidas judiciais para garantir a participação da população santista nesse plebiscito. A Constituição do Estado de São Paulo estabelecia no artigo 18, §4º, que o plebiscito seria com a participação das “populações diretamente afetadas”. Existia o entendimento que Santos seria afetada com a separação de Bertioga, sob os aspectos econômicos e sociais.

Na manhã do dia 15 de setembro de 1989, no Paço Municipal de Santos, em uma audiência entre a Prefeita Telma de Souza e a Comissão Especial de Vereadores, ficou acertado entre a Prefeitura e a Câmara que trabalhariam juntas contra a emancipação de Bertioga. Telma alegou que havia um projeto para anexar Bertioga a Mogi das Cruzes, que o Distrito não possuía infraestrutura e que a Prefeitura de Santos estava proporcionando uma série de melhorias, dentre as quais um hospital. Participaram dessa reunião com Telma de Souza, os vereadores Beto Mansur (presidente da Comissão), Suely Maia e Adelino Rodrigues. Há necessidade de uma ação conjunta para combater a tese dos “autonomistas”, disse Adelino Rodrigues ao Jornal “A Tribuna de Santos”.

O Secretário de Assuntos Jurídicos de Santos, Sérgio Sérvulo da Cunha informou que começaria agir logo que o Tribunal Regional Eleitoral marcasse a data do plebiscito.

Bertioga não recebia a atenção adequada da Prefeitura santista, motivo pelo qual vinha acumulando diversos problemas com o avanço de empreendimentos imobiliários e construções desordenadas.
Bertioga sofreu uma grande retaliação de Santos. No dia 19 de setembro de 1989 foi promulgada pela Prefeita Telma de Souza a Lei nº 607, que diminuía o território de Bertioga e aumentava o de Santos, estabelecendo como limite entre os dois, o Rio Itapanhaú. Essa lei foi declarada alguns anos depois inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

Em 21 de setembro de 1989 o Tribunal Regional Eleitoral aprovou a realização do plebiscito de Bertioga, sem definir uma data específica.

Divergindo da Prefeita de Santos, Telma de Souza, o Administrador Regional de Bertioga, Renato Faustino de Oliveira Filho, declara, publicamente, que é a favor da emancipação, ressaltando que esta era a vontade da população.

No dia 12 de outubro de 1989 o Tribunal Regional Eleitoral marcou a data do plebiscito: 5 de novembro de 1989. O Juiz Eleitoral disse que a 272ª Zona estava pronta. Seriam 12 seções, distribuídas entre as escolas Armando Belegarde e William Aurelli.

Através da Resolução nº 27, de 18 de outubro de 1989, o Tribunal Regional Eleitoral fixou as regras para a realização de plebiscitos em 18 distritos de Municípios, entre eles, o de Bertioga.
Teve início a propaganda, realizada através de carros ou caminhões com autofalantes e panfletagem.


Propaganda na Avenida Vicente de Carvalho


No dia 27 de outubro de 1989 o Tribunal Superior Eleitoral concedeu liminar no Mandado de Segurança impetrado pela Prefeitura de Santos, suspendendo o plebiscito. A decisão foi do Ministro Octávio Gallotti. O principal argumento de Santos no recurso foi a preservação da unidade e da continuidade histórico-cultural do ambiente urbano, tal como previsto no artigo 18, §4º, da Constituição Federal.
A “Comissão Pró-Emancipação” realizou um protesto em Bertioga, na histórica Avenida Vicente de Carvalho, promovendo o enterro simbólico da Prefeita Telma de Souza, pois coube a ela a decisão de impetrar o Mandado de Segurança contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral. O movimento pela emancipação prometeu que ingressaria com um “agravo”, medida judicial, recorrendo ao plenário do Tribunal Superior Eleitoral.

Em 31 de outubro de 1989, ao apreciar o “agravo”, o Ministro Octávio Gallotti, não reconsiderou sua decisão anterior e manteve a suspensão do plebiscito em Bertioga.
Licurgo Mazzoni, presidente da Comissão, não desanimou e disse que, “julgado o mérito, a nova data pode ser marcada ainda para esse ano”.

A Prefeitura de Santos começou a distribuir panfletos em Bertioga, contrários a emancipação e apresentando os motivos pelos quais Bertioga deveria se manter como Distrito de Santos. A Prefeita Telma de Souza argumentava que pela primeira vez na história Bertioga receberia em investimentos mais do que arrecadava, atendendo a antiga reivindicação.

O clima em Bertioga era de profunda indignação com Telma de Souza. Chegou a ser cogitada a realização de uma consulta popular informal, um plebiscito simbólico no dia 5 de novembro de 1989, mas logo a própria “Comissão Pró-Emancipação”, por meio de Licurgo Mazzoni, refutou que isso fosse realizado, mesmo como protesto.

O Jornal “A Tribuna de Santos” fez uma pesquisa em Bertioga, com 256 entrevistados, entre os dias 01 e 10 de novembro de 1989, e obteve como resultado 93% apoiando a emancipação, 5,8% contra e 0,78% de indecisos.

No dia 15 de novembro de 1989 foram realizadas as primeiras eleições presidenciais após a redemocratização, mas o que dominava o cenário nos colégios eleitorais de Bertioga eram os comentários sobre a suspensão do plebiscito, que era visto pela população como a única solução para o abandono da Prefeitura santista.

Eunice Lobato, em entrevista ao Jornal “A Tribuna de Santos”, no dia 6 de dezembro de 1989 disse que os ânimos estavam tensos em Bertioga, e alguns populares já tinham até ameaçado fechar a Rio-Santos. Segundo Eunice Lobato, “no tempo do Oswaldo Justo, a Telma vinha constantemente, às quartas-feiras, em Bertioga, e dava apoio na luta pela emancipação”. Eunice se referia aos encontros realizados algumas vezes no Restaurante Zezé e Duarte, com o movimento emancipacionista, na época em que ela era vereadora. Completa Eunice Lobato, “ela chegou a entregar documentos da Assembleia Legislativa para nos auxiliar na separação; agora, gasta dinheiro público para contratar advogado para impedir a mesma emancipação. Age como cobra de duas cabeças. Ela traiu Bertioga, por isso essa revolta”.
Apreciando o processo judicial, a Procuradoria Geral Eleitoral deu parecer contrário a emancipação de Bertioga. O parecer foi elaborado pelo Subprocurador Geral, Geraldo Brindeiro, com aprovação do Procurador Geral Eleitoral, Aristóteles Junqueira Alvarenga.

Espalharam uma “fake news”, não se sabe a autoria, no dia 6 de fevereiro de 1990, dizendo que o Tribunal Superior Eleitoral revogou a liminar que suspendia a realização do plebiscito. Boato que foi posteriormente negado, inclusive com nota pública oficial da Prefeitura de Santos.

No dia 20 de março de 1990 o Tribunal Superior Eleitoral julgou o Mandado de Segurança favoravelmente a Prefeitura de Santos.

Em 31 de julho de 1990 é promulgada a Lei Complementar Estadual nº 651, dispondo sobre a criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios. Pelos requisitos e procedimento nela estabelecidos, tornou-se mais fácil Bertioga conseguir o sonho almejado de separação de Santos.
Diante destas circunstâncias, a opção foi tentar que a Assembleia Legislativa desse prosseguimento ao processo legislativo instaurado a partir do ofício apresentado em 1987 pelo Deputado Maurício Najar.
Assim, no dia 25 de setembro de 1990 a “Comissão de Assuntos Municipais” da Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o processo referente a autonomia político-administrativa de Bertioga, com a apresentação do Projeto de Resolução nº 8.

No dia 13 de novembro de 1990, o “Plenário” da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou a realização do plebiscito em Bertioga. Estava aprovado o Projeto de Resolução nº 8. A votação foi unânime. A partir da deliberação do plenário, a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa promulgou a Resolução nº 679, de 21 de novembro de 1990, para aprovar “a solicitação ao Tribunal Regional Eleitoral para a realização do plebiscito referente à emancipação no Distrito de Bertioga, pertencente ao Município de Santos”.


Resolução nº 679/1990, da ALESP, que aprovou a solicitação ao Tribunal Regional Eleitoral de um plebiscito para Bertioga decidir sobre sua emancipação de Santos.


Na mesma sessão, foram aprovados os processos de mais cinco municípios: Bela Floresta (pertencente a Pereira Barreto), Alumínio (Mairinque), Pedrinhas Paulista, (Cruzália), Araçariguama (São Roque), São Lourenço (Itapecerica da Serra). O projeto de resolução foi encaminhado ao Tribunal Regional Eleitoral para decidir a data de realização da consulta popular, o plebiscito.

Durante esse período, a Câmara Municipal de Santos, na tentativa em vão de se aproximar da população, realizou algumas sessões em Bertioga, no auditório da Colônia de Férias do SESC. A intenção inicial era que fossem realizadas na Riviera de São Lourenço, mas diante das inúmeras críticas, foram realizadas no SESC. O artigo 24, §2º, da Lei Orgânica de Santos havia tornado obrigatória uma sessão por mês em Bertioga.

Em março de 1991 o Tribunal Regional Eleitoral agendou o plebiscito para o dia 19 de maio daquele ano. E, tal como ocorreu antes, a propaganda logo teve início, com distribuição de panfletos, carros de som e muros pintados com mensagens pró-emancipacionistas.


Logotipo usado na campanha do SIM.


Era muito comum a distribuição de bottons e pequenos adesivos redondos com o símbolo da emancipação. Dos brindes de campanha mais disputados estava a camiseta branca, também com o símbolo da emancipação.


Lacração das urnas


No ensolarado e histórico dia 19 de maio de 1991, foi realizado o segundo plebiscito em que se reivindicava a emancipação político-administrativa. Os locais de votação foram as escolas Armando Belegarde e William Aureli. A votação nessa época era por cédulas de papel.
Os eleitores que desejassem podiam retirar junto a comissão emancipadora um certificado simbólico confirmando que votou no “sim”.

A apuração foi realizada em Bertioga, na antiga sede da Guarda Municipal. Teve início às 17:35, terminando às 18:30, sob a supervisão do Juiz Eleitoral Paulo Mondadore Florence. Votaram 3.925 eleitores. Foram 179 votos pelo “não” e 3.698 votos pelo “sim”. Votaram em branco 21 e anularam o voto 27.


Apuração. Foto do Jornal Costa Norte


No dia 21 de novembro de 1991 a Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa deu parecer favorável ao resultado da eleição.

Através da Lei nº 7.664, de 30 de dezembro de 1991 foi oficialmente criado o Município de Bertioga.


A Lei nº 7.664, de 30 de dezembro de 1991, em seu artigo 1º, inciso VI, cria o Município de Bertioga e estabelece o seu limite territorial. A lei foi publicada no mesmo dia de sua promulgação, na Assessoria de Técnica Legislativa do Palácio dos Bandeirantes.

No dia 3 de outubro de 1992 Bertioga elegeu o seu primeiro Prefeito, José Mauro Dedemo Orlandini, natural de Batatais, cidade do interior de São Paulo. A sua vitória somente foi possível pelo apoio do candidato a vereador Lairton Gomes Goulart. A eleição foi realizada com inúmeras irregularidades na transferência de títulos de eleitores e na apuração dos votos. Foi eleito na mesma chapa como Vice-Prefeito Natanel Giraud Filho, o “Baiaco”.

O resultado foi o seguinte: Mauro Orlandini (2.370 votos), Luiz Carlos Rachid (2.312 votos), Artur Richter (975 votos), Renato Faustino (668 votos), Pérsio Dias Pinto (354 votos) e Magrão do Bambinos (35 votos).

Foram eleitos para compor a primeira legislatura da Câmara Municipal de Bertioga os Vereadores: Lairton Gomes Goulart (490 votos), Sérgio Pastori (280 votos), Francisco Soto Barreiro Filho (251 votos), Miguel Seiad Bichir Neto (251 votos), Antônio de Jesus Henriques (236 votos), Ney Mora Nehme (204 votos), Nelson Turri (163 votos), José Carlos Buzinaro (142 votos) e Antônio Rodrigues Filho (131 votos). A posse ocorreu em 1º de janeiro de 1993.

Fonte: https://historiadebertioga.com.br/historia-de-bertioga-5/


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ESTAMOS PERDENDO BERTIOGA E A CULPA É TODA NOSSA


ÁLVARO CARVALHO JÚNIOR



"Até parece que a terra não é mais nossa. Meus vizinhos de hoje são bem diferentes daqueles que eu tinha uns 10 anos atrás, e minha casa não fica mais no meio do mato, mas próxima a uma avenida e com várias residências de gente estranha ao redor. A gente sente que aos poucos a cidade vai mudando de cara, recebendo novas pessoas, e em determinados pontos das praias não podemos sequer pescar, pois as imobiliárias estão chegando, construindo casas e criando novos lotes. A Bertioga está bem diferente e as pessoas também começam a mudar em seu comportamento. Os paulistas invadem a cidade nos fins de semana e nas férias, mesmo sendo obrigados a enfrentar várias horas na fila da balsa. Bertioga está crescendo muito". (De um morador da região, preocupado com a chegada dos estranhos).

As estradas poderão terminar com o serviço de balsas

A lei nº 4.348, de 9 de setembro de 1980, publicada no Diário Oficial do Município dia 17, passou despercebida por grande parte da população santista. Essa lei altera a estrutura administrativa da Subprefeitura de Bertioga, a composição do órgão básico e adota providências correlatas. Ou melhor: Bertioga passa a ter maior agilização administrativa, como se fosse um município autônomo, "com responsabilidade na execução dos serviços que lhe forem cometidos, de interesse predominantemente local, respeitada a orientação dos órgãos centrais competentes", como diz o parágrafo 1º, do artigo 1º. Portanto, Bertioga começa a ter vida independente, e a sonhar com uma possível autonomia político-administrativa difícil de se concretizar, mas não impossível.

É claro que em curto espaço de tempo Bertioga não conseguirá se transformar em município, mas os levantamentos sócio-econômicos deixam quase certo que Santos, nos últimos anos, não soube como manter os 360 quilômetros quadrados de terras quase virgens, 10 vezes mais extensas do que a área urbana da Cidade (36 quilômetros quadrados) e que se espalham desde a Serra do Mar até São Sebastião, numa das regiões mais bonitas do litoral paulista.

Bertioga, "o lugar onde começa o Litoral Norte", deixa de ser uma subprefeitura, e passa a ser uma administração regional, com muito mais liberdade administrativa. E os números levantados mostram que os santistas não acreditaram no desenvolvimento da região. tanto que 80 por cento das terras de Bertioga pertencem a pessoas residentes em São Paulo, Mogi das Cruzes, São José dos Campos e outras cidades do Interior, sem se levar em consideração que as empresas imobiliárias e de construção santistas simplesmente não chegaram até lá: mais de 70 por cento das firmas do ramo que hoje atuam em Bertioga são de São Paulo.

O desenvolvimento rápido da região fica provado pelo boom imobiliário, a valorização desenfreada dos terrenos e o aumento da população registrado nos últimos 10 anos. Em 1970, Bertioga tinha apenas 3.578 habitantes - 2.573 na zona urbana e 1.005 na zona rural -; hoje, os levantamentos feitos por técnicos da Prefeitura acusam mais de 6.000 habitantes, concentrados principalmente em 20 por cento da área total do distrito.

Nestes 10 anos, foram construídos três hotéis, com capacidade para receber 40 pessoas - total de 60 quartos - e implantadas cinco indústrias, três delas dedicadas à pesca e duas ligadas à construção civil.

O detalhe mais importante, entretanto, é que a participação do empresariado santista pode ser classificada como nula. A região está sendo invadida por firmas de fora, e essa invasão deverá ser fortalecida com a construção da Rodovia Mogi-Bertioga, uma estrada que ligará o Litoral e o Planalto e poderá provocar, inclusive, um esvaziamento no comércio santista. Os comerciantes instalados em Bertioga não mais precisarão se utilizar de duas balsas e percorrer os 32 quilômetros por Guarujá para realizarem seus negócios. A viagem pela Mogi-Bertioga não passará dos 50 minutos, e de Mogi a São Paulo, pouco mais de 20 minutos. Bertioga estará ligada ao maior centro comercial do País - São Paulo -, com apenas 70 minutos de viagem, tempo que diminuirá sensivelmente assim que a construção da Via Norte estiver terminada. Aí, a viagem Mogi-São Paulo não passará dos 15 minutos.

Além da Mogi-Bertioga, existem outras vias que poderão facilitar ainda mais o desenvolvimento daquela região. Com a construção da ponte sobre o Rio Itapanhaú, o complexo Rio-Santos estará ligado com a Piaçaguera-Guarujá. O acesso do santista será facilitado; porém, invariavelmente, Santos, no seu perímetro, sofrerá um processo de isolamento, quebrado apenas pelo complexo Anchieta-Imigrantes: um turista poderá sair de Porto Alegre e chegar ao Rio de Janeiro sem ter que passar por Santos. Mas, obrigatoriamente, entrará em Bertioga.

Baseando-se em todos esses fatos, chega-se à conclusão de que a autonomia de Bertioga, apesar de difícil, dependerá apenas de tempo. O santista, na realidade, não ligou para aquela região, concentrou-se na sua meia ilha, e agora não encontra mais espaços para se expandir. A única solução seria um aproveitamento racional e planejado de Bertioga, a partir da implantação de uma indústria de alto turismo, ou de instalação de um parque industrial no Vale do Quilombo - este, um projeto que permanece engavetado há muito tempo.

Mas a verdade é que a falta de uma ligação física com a Bertioga torna as coisas bem mais difíceis. Por uma incrível ironia, o santista, para conhecer a parte mais bonita e resguardada de sua cidade, precisa atravessar um município - Guarujá ou Cubatão - e enfrentar um serviço de balsas.

Código de Obras é rígido, mas poderá ser alterado permitindo edificações altas

Um processo irônico

O processo chega a ser bastante irônico: à medida que os órgãos públicos passam a se interessar por Bertioga, maiores são as chances de um movimento popular local reivindicando a autonomia. Se depender de planos, Bertioga permanecerá por pouco tempo sob a tutela de Santos, pois o prefeito Paulo Gomes Barbosa, além de aumentar os poderes administrativos da subprefeitura, ainda mandou realizar um estudo detalhado dos problemas locais, exigindo ainda várias soluções que poderão ser aplicadas a curto prazo.

Esse estudo prevê até uma alteração no Código de Obras, permitindo a construção de edificações acima dos limites atuais, mas apenas em determinadas regiões, onde as possibilidades de desenvolvimento sejam consideráveis.

Isso não significa que Bertioga sofrerá uma descaracterização. Apenas se pretende criar condições para a instalação de complexos hoteleiros, por exemplo, já que o código atual não permite construções que ocupem mais de 20 por cento da área total do lote. Com isso, fica praticamente impossível a construção de grandes hotéis, diminuindo sensivelmente as possibilidades de se atrair para a região um turismo de alto nível. Utilizando um terreno de mil metros quadrados, pode-se construir uma edificação qualquer com apenas 200 metros quadrados.

Paralelamente às alterações do Código de Obras, vários outros projetos estão sendo estudados. E a Sabesp pretende iniciar a recuperação da Barragem de Furnas, fazendo um levantamento topográfico do Rio Pelaes, onde será construída uma nova captação de água para Bertioga, uma espécie de reforço para as próximas temporadas. Pretende-se ainda aumentar o aproveitamento da captação, que, somada à barragem antiga, aumentará consideravelmente o fornecimento de água potável. Resultado: a vazão atual, que gira em torno de 40 a 50 litros por segundo, simplesmente será dobrada. "E tudo isso poderá ser feito a curto prazo, com início das obras previsto para o próximo ano", afirma o superintendente regional da Sabesp, José Lopes.

E se hoje Bertioga não tem rede de esgoto, provavelmente até o final de 81 esse problema estará superado. A Sabesp pretende iniciar obras que se estenderão até a Colônia do Sesc, envolvendo toda a área urbana, que fica próxima à balsa. Todos esses projetos serão desenvolvidos assim que o financiamento do Banco Nacional da Habitação (BNH) for liberado. "Tudo dependerá agora da liberação das verbas. Os projetos estão prontos, bastando apenas o dinheiro para que entremos na fase executiva. A previsão é para 1981", confirmou José Lopes.

A Central Energética de São Paulo mantém duas subestações no local, enquanto a Telesp já instalou mais de 500 telefones, abrangendo até a Praia de São Lourenço. Os serviços de saúde pública desenvolveram-se a ponto de Bertioga manter o melhor Pronto-Socorro da Baixada, excetuando-se o PS Central em Santos, onde já são previstas obras de expansão, caso haja necessidade. Portanto, já existe uma infra-estruturra montada na região. Até mesmo as emissoras de tevê - Canal 8 e Canal 10 - instalaram estações geradoras, apesar de não existirem cinemas, teatros ou qualquer outra forma de lazer. A não ser, é claro, as praias, bem maiores que as de Santos.

Não existe nenhum tipo de poluição em Bertioga. Seu mar é bem diferente de Santos

Paraíso, logo ali

A qualidade de vida em Santos já não é a mesma. Os 36 quilômetros quadrados, por onde se expandiu, pouca coisa - ou nada - têm a oferecer. Nem mesmo os jardins, maior orgulho da Cidade, poderão oferecer um incentivo maior ao desenvolvimento turístico. Santos vive espremida com seus quase 450 mil habitantes numa região onde os prédios descaracterizaram totalmente a paisagem, onde houve um crescimento desordenado, e agora não tem mais para onde ir. Restou-lhe apenas a região de Bertioga, onde o mar não é poluído, as áreas verdes são imensas e quase intocadas.

Nessa região de 360 quilômetros quadrados existem três bacias de pequenos rios: Itapanhaú, Itapuré e Guaratuba. Eles são formados nos esporões da Serra do Mar, espalhando suas águas ainda limpas por terras baixas, desembocando suavemente no Atlântico. A região pode ser dividida em três partes: uma quase a nível do mar, onde está concentrado o desenvolvimento urbano e onde vive praticamente toda a população local. Em seguida, existe a cota 100, terras 100 metros acima do nível do mar, formadas por matas e capoeiras, com cobertura vegetal natural e reflorestamento. Mais acima está a Serra do Mar, com altitude chegando a 500 metros acima do mar. Essa região ainda é inexplorada, representando, além de tudo, uma grande reserva florestal.

Nos levantamentos feitos por técnicos do Escritório Regional do Planejamento (Erplan), o desenvolvimento da agricultura não será nada fácil. A região é formada por terras em geral escarpadas da serra e aglomeramentos rochosos, indicados apenas para abrigo da flora e da fauna. As terras da baixada marítima são planas e arenosas, economicamente não agriculturáveis. Tanto que as produções registradas no local limitam-se ao chá e ao arroz, mesmo assim a nível doméstico. Não existem plantações. O mesmo fenômeno repete-se com a pecuária, não sendo registradas culturas de bovinos, suínos ou aves.

Mas os moradores da Praia de São Lourenço não pensam assim. Eles encaminharam projeto ao prefeito Paulo Gomes Barbosa - nº 7.710/80 -, pedindo a abertura de uma estrada no meio de uma área de 300 alqueires, com apenas uma intenção: plantar cacau. Conseguiram, inclusive, 100 mil sementes, que foram doadas pela Casa da Lavoura, e aguardam a liberação de um empréstimo estadual para iniciar a nova cultura.

No documento encaminhado ao prefeito Paulo Gomes Barbosa, a Sociedade Melhoramentos Amigos de São Lourenço afirma que, "assim, São Lourenço estaria contribuindo para o desenvolvimento de Bertioga". Nesse mesmo documento, deixam escapar o que poderia ser definido como um início a um movimento de autonomia: "O processo em questão foi encaminhado à Prefeitura de Santos por intermédio da Estaf Engenharia S/A, empreiteira contratada pelos proprietários das terras, para realizar os serviços, cuja construção não custará nada aos cofres públicos".

Talvez seja até exagero classificar-se uma frase como um sintoma de um movimento separatista. Mas a verdade é que com o desenvolvimento natural de Bertioga, o fenômeno será apenas reforçado no decorrer do tempo. Sem um posicionamento mais efetivo da Prefeitura santista em Bertioga, dificilmente ela poderá ser mantida, e a última esperança de expansão da Cidade estará definitivamente afastada.

A Tribuna, em 21 de setembro de 1980.


ESTAMOS PERDENDO BERTIOGA II


LEDA MONDIN



O trânsito na Rua João Ramalho é intenso. No número 291, mora dona Maria, que acompanha a movimentação atentamente, fixando os olhos miúdos num ponto qualquer. Depois observa as terras que foram suas. Ela nasceu em Bertioga há 80 anos, filha de pais também nascidos lá, toda uma família que parece ter brotado do solo do lugar.

Dona Maria viveu sempre perto do Forte de São João Batista e herdou da família extensa faixa de terras que vinha sendo beneficiada por gerações e gerações. Ela, que sempre ouvira falar que a terra é de quem trabalha nela, hoje possui apenas um pequeno e ameaçado pedaço de chão. Agora, à cabeceira da mesa de madeira, recebe o alerta da neta: "Logo a gente perde isto aqui também".

Os impostos estão altos, a pesca já não rende nada: "Noutro tempo, era uma fartura, só jogar a rede e ver aquela beleza. Hoje, já não há mais tanto peixe, não sei o que acontece", comenta a senhora. A rua onde mora recebe melhorias, ela não pode pagar os serviços e nem providenciar os passeios. Mas mudar dali, para onde? Dona Maria não sabe. Nem sua neta.

Nessa situação de desespero e incerteza vive essa mulher que deixou nas terras de Bertioga sua força, sua vida, seus filhos. "Tive 12, mas só dei sorte de criar cinco meninas. Não tinha médico, quase todas as crianças morreram antes de completar um ano. Para ir buscar socorro em Santos era uma noite inteira de canoa por esse canal".

Ela conta também que nos seus tempos de menina todos os moradores do lugar se conheciam, eram amigos, se ajudavam. Mas quando tinha "20 e tantos anos", Bertioga começou a mudar. O aparecimento de uma padaria foi o primeiro indício das sérias mudanças que estavam por vir. Aquele lugar, que permaneceu isolado durante tantos anos, passou a ser cobiçado por aqueles que queriam buscar o sossego que não tinham entre as paredes de concreto das grandes cidades.

A família Barreto, como tantos outros caiçaras, já não podia controlar o que era seu ou resistir às pressões dos que cobiçavam aquelas terras tão próximas da praia. E, entre perder a posse de tudo aquilo sem qualquer direito, preferiu vender por preços que não correspondiam sequer à metade do que realmente valiam.

Agora, o movimento naquelas terras que pertenceram a dona Maria é muito diferente: filas de carros, brigas e tumultos. Ela nem sabe quem são aqueles vizinhos, donos de casas tão bonitas. Do tempo da mocidade de dona Maria só resta mesmo o regime de quase comunidade em que vive com seus filhos e netos, no pouco de terra que ainda lhe resta.

Na medida em que a estrada avança, cresce a especulação imobiliária

Caiçara quer respeito - Aquele trecho de Bertioga que dona Maria conheceu, todo mato e caminhos estreitos, já não existe. Vieram as ruas, melhorias, ameaça de progresso. Os turistas lotam os ônibus com suas barracas e mochilas. Fim de semana, caiçara vira atração turística, e fala sozinho, mas quer respeito num lugar que é seu.

Sobre as antigas famílias do lugar recai todo o ônus desse pseudoprogresso. Com os turistas, vieram também as especulações de preços por parte do comércio local. As vendinhas transformam-se em mercados, hotéis e restaurantes instalam placas luminosas, não se pode mais comprar e pagar no final do mês.

Casos como o de dona Maria se repetem pelos recantos de Bertioga, tornando-se mais freqüentes desde que foram anunciadas as construções das rodovias Rio-Santos e Mogi-Bertioga. As perspectivas são ainda mais negras quando se pensa que estas obras estarão concluídas nos próximos anos, levando para Bertioga pelo menos 100 mil turistas, livres de todos os transtornos ocasionados pela balsa. Se os turistas hoje visitam Bertioga, e na temporada enfrentam até 15 horas de espera para fazer a travessia na balsa, sem esse contratempo promoverão uma verdadeira invasão.

"O que está por vir?", perguntam assustados os filhos de Bertioga. A mesma indagação faz o pároco local, padre Primo Bernardes, principalmente quando lembra que nem mesmo o terreno pertencente à igreja foi respeitado. "Há 10, 20 anos, ninguém pensava em dividir essas terras. Mas, agora, até sobre o terreno do fundo da igreja já avançaram", afirma ele.

Esse padre tem sob sua jurisdição os 53 quilômetros de Bertioga, e em três anos de convivência com a população local presenciou muita injustiça e violência. Sabe de famílias inteiras que perderam suas terras ou vivem em litígio com grupos poderosos. Hoje, apenas sofrem perdidas nos recantos do lugar.

"O caiçara é bom. Se o pressionam a deixar a terra, acaba abandonando tudo. Mas isso com muita tristeza, porque quer bem a essa terra de onde tira o sustento, não faz conta de riqueza", comenta o padre. E, às armas penduradas nas algibeiras dos jagunços, os caiçaras respondem com flores: em Itaguá, comunidade pobre que congrega 20 famílias, os moradores uniram-se e construíram uma capelinha. "Lugar que se preza e quer respeito precisa ter sua capela", dizem eles.

O movimento foi considerado vitorioso. A companhia de agricultura e pecuária que brigava pela posse do lugar "deu" terrenos para as famílias, blocos para construírem as casas e escritura. Mas a injustiça é escandalosa, e padre Primo Bernardes não pôde deixar de comentar o caso: "O pessoal está todo contente, mas, no meu entender, daquela área até o mar e o morro era tudo deles. Agora, estão com a posse só dos terreninhos".

Para as famílias de Itaguá restam a miséria e os blocos empilhados. Blocos inúteis, porque não há dinheiro para se construírem as casas.

Medo e tensão - Histórias de jagunços armados, destruição de casas, ameaças e perseguições são contadas pelos posseiros que vivem às margens do Rio Itapanhaú. De um lado, a Imobiliária Praias Paulistas e a Empreiteira Soblocos; de outro, os posseiros sem qualquer força política ou econômica, mas a firme disposição de não deixar ninguém tomar o que é deles.

"Com família de alagoano ninguém mexe", diz o posseiro José, de cabeça erguida, deixando bem à mostra o rosto angustiado e sofrido. E, apesar de terem-se passado dez anos desde que as 15 famílias da localidade entraram com a questão no Fórum, ele ainda tem a esperança que a Justiça dê uma solução definitiva para o caso. E explica: "Do contrário, a gente nem vive e nem morre".

Para quem chega, os posseiros mostram o comprovante dos impostos pagos em dia e o cadastro do Incra. Mas isso não assegura a tranqüilidade, pois quem pode ficar sossegado sabendo de jagunços armados rodando pela região? Jagunços que queimaram duas vezes a casa de Dito Branco ameaçaram com armas Luís Vieira da Silva e perseguiram a cavalo as crianças Cassiano, Davi e Luzia, filhos de Waldir Moreira da Silva.

Tudo isso acontece apesar de existirem outras provas de que as famílias são donas do lugar: a certidão de Aurelina Simplício da Silva comprova que ela nasceu lá há 36 anos; a mais nova no Itapanhaú mudou-se para lá há 20 anos.

Os posseiros não compram briga e, como diz José, dispõem apenas de facão, "que nem é arma e sim instrumento de trabalho". Como as intimidações não adiantaram, a Praias Paulistas tentou formas mais sutis de forçar os posseiros a abandonarem a área: fez ofertas de Cr$ 60 mil pelos vários alqueires de terra.

Nesses dez anos que o caso está na Justiça, a Praias Paulistas não provou que as terras são suas, e enquanto a questão tramita os posseiros não podem abrir novas frentes de cultivo para a plantação de banana, cana e laranja. Os bananais estão cansados e, de onde se tirava até dois caminhões de banana por mês, não se consegue mais que 40 cachos. É a miséria espreitando aquela comunidade e deixando sem perspectiva principalmente as 53 crianças e jovens, todos analfabetos.

"Tem noites que acordo amedrontado, preocupado, garro a pensar nisso e não consigo mais dormir. Tô para perder as terras, não sei o que será de mim, de minha família, de todos daqui", desabafa um dos posseiros mais antigos, inconformado em pensar que a Praias Paulistas e a Sobloco não plantam "um pé de nada".

A Prefeitura se omite sobre o caso, alegando tratar-se de uma zona rural, subordinada ao Incra. Os posseiros já apelaram para vereadores e deputados, mas os resultados não vieram. Sem esperança, não sabem com quem contar.

O código e suas alterações

As rodovias Rio-Santos e Mogi-Bertioga trazem em seu rastro a perspectiva da especulação imobiliária. Até fevereiro do próximo ano, deverão estar prontos os 23 quilômetros de estradas que ligam Bertioga à Rodovia Piaçaguera-Guarujá. A Mogi-Bertioga está prometida para 1982, e permitirá que se chegue do Oeste do Vale do Paraíba ao litoral paulista, em 50 minutos.

Não é à toa que existe briga por terra, comunidades inteiras vivem na iminência de serem expulsas do solo onde tiram seu sustento, e não foram poupadas sequer as terras da igreja: os terrenos já valorizaram pelo menos 500 por cento. Hoje, um lote de 500 metros quadrados pode custar Cr$ 2 milhões. "Mas, até com Cr$ 800 mil é possível comprar um terreno em Bertioga", dizem as imobiliárias.

Os empresários não brincam em serviço, e a imobiliária Praias Paulistas tem um projeto para a Praia de São Lourenço envolvendo oito mil lotes. Ou seja, mais de 50 por cento do total de lotes urbanizados existentes no distrito hoje, calculados em 14 mil.

Felizmente, Bertioga é regida por severo código que disciplina a utilização do solo e protege os recursos naturais, na tentativa de evitar a especulação imobiliária e todos os problemas dela decorrentes. O código foi elaborado pela Prodesan em 1976, tendo por base possíveis catástrofes provocadas com a abertura da Rio-Santos e da Mogi-Bertioga.

A rigidez desse código chega ao ponto de não permitir a implantação, por exemplo, de um complexo hoteleiro em Bertioga. Tanto que agora ele deverá sofrer algumas alterações, determinando áreas específicas onde as edificações poderão se levantar, muito mais como uma saída econômica do que pressões ou influências de imobiliárias. Os motivos para essa alteração têm sua razão de ser: atualmente, todo e qualquer terreno em Bertioga não pode ter uma área construída acima de 20 por cento do total da área do terreno. Portanto, uma grande construção implicaria na compra de áreas imensas.

Os fundamentos principais do código deverão ser mantidos. A mata atlântica, as várzeas, os cursos d'água, os manguezais, os morros e as praias continuarão sendo consideradas áreas de preservação permanente. As indústrias poderão instalar-se, desde que ocupem a área rural e, mesmo assim, somente aquelas que processem matéria-prima proveniente da agricultura e piscicultura. O detalhe mais importante do novo código é que as terras próximas à praia continuarão sofrendo sérias restrições, diminuindo o número de exigências à medida que os terrenos sejam no interior. Essa foi a fórmula encontrada para facilitar as pessoas de baixa renda, impossibilitadas de comprar terrenos de frente para o mar. Na realidade, a maioria dos moradores de Bertioga.



BERTIOGA E O FUTURO

BERTIOGA ESCOLHE CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO


HUMBERTO CHALLOUB E MÁRIO JORGE



A população de Bertioga confirmou nas urnas, de forma quase unânime, que deseja construir seu próprio futuro. Passada a euforia eleitoral, porém, os debates se voltam para a construção da nova cidade, que ainda tem condições e o privilégio de poder adotar um plano ideal de desenvolvimento, evitando a repetição de erros que tiveram como conseqüência a queda da qualidade de vida nos médios e grandes centros urbanos.

Com o objetivo de contribuir com subsídios que auxiliem na discussão em torno das perspectivas que se abrem na formação da nova cidade, A Tribuna inicia hoje uma série de seis reportagens abordando as principais características de Bertioga.

O trabalho estará concluído com a realização do seminário Bertioga e o Futuro, que reunirá na sexta-feira, nas dependências do Sesc, representantes da comunidade bertioguense, da Administração do Município-sede, de institutos de pesquisas e órgãos estaduais.

O Estado de São Paulo ocupa apenas 3% do território nacional e, no entanto, abriga 22% da população brasileira, sendo responsável ainda por 40% dos produtos fabricados no País, por 50% da produção industrial, 46% de todo o Imposto de Renda recolhido e por 43% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) arrecadado no Brasil.

Entretanto, a região metropolitana paulista, que também ocupa apenas 3% da área estadual, é responsável por 50% de toda a produção industrial e por 60% dos empregos nos setores secundário e terciário.

Esses números constam do estudo de viabilidade administrativa e financeira de Bertioga - desenvolvido em 1989 pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam), da Fundação Prefeito Faria Lima.

Eles foram incluídos ao trabalho para dar ênfase ao perfil extremamente concentrador das regiões consideradas desenvolvidas, modelos de progresso a qualquer custo desejados pela maioria dos municípios brasileiros.

A realidade do Litoral paulista não é diferente. Das 14 cidades que compõem a região litorânea, as quatro maiores (Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão) ocupam menos de 10% da área total, abrigam 72% de toda a população e são responsáveis por 75% dos empregos oferecidos.

Os dez municípios restantes, embora ocupando 90% da área total, têm apenas 28% do total da população e dispõem de apenas 25% dos empregos.

Dentro das análises conclusivas, o estudo da Cepam ressalta que apesar da ligação administrativa com Santos, o Distrito de Bertioga, em função de suas características, especialmente a localização geográfica, nunca esteve e provavelmente nunca estará economicamente ligado ao complexo portuário e industrial da região.

Se essa previsão restringe, em um primeiro momento, as possibilidades e opções para dar início ao processo expansionista, ela cria, em um segundo instante, a necessidade de produzir um modelo de desenvolvimento baseado nas vocações naturais e realidade local, elementos que garantam o sucesso econômico e assegurem a qualidade de vida para a população.

Bertioga pode e deve lutar pelo progresso, configurado em variadas formas e com base nos vários tipos de conceitos. Deve também saber medir e arcar com as conseqüências as decisões adotadas, sejam elas acertadas e benéficas, ou distorcidas e irreparáveis.

Sistema viário

O sistema de transporte coletivo em Bertioga é composto atualmente por 11 linhas de ônibus, sendo cinco municipais e seis particulares. Além disso, existe uma rede hidroviária que faz a travessia entre Bertioga e Guarujá por meio de uma balsa da Dersa e dois barcos particulares.

A extensão territorial da região (482 km²) e a distribuição irregular da população, no entanto, exigem uma configuração mais ampla no aspecto de transporte coletivo. Assim, o futuro prefeito de Bertioga terá três alternativas: a implantação de um sistema municipal, a abertura de concorrência pública destinada à exploração do serviço pela iniciativa privada, ou a combinação das duas opções.

Duas importantes rodovias cortam o território bertioguense: a Rio/Santos (SP-55) e a Mogi/Bertioga (SP-98). Essas estradas garantem o acesso aos litorais Sul e Norte e à Grande São Paulo. Não há ferrovias.

Segundo dados do Escritório Regional de Planejamento (ERP) do Governo do Estado, no período anterior a 1962, foi construída uma rodovia, paralela à praia, ligando o Distrito ao município de São Sebastião.

A Rio/Santos, construída no período de 62 a 77, possui um segmento de quase 50 quilômetros nos limites do Distrito. Desde a ponte do Rio Itapanhaú até Itaguaré, a estrada permanece a uma distância de quase dois quilômetros da linha da praia. De Itaguaré a Guaratuba, o traçado dista cerca de 500 metros da orla, enquanto que em Boracéia a via está praticamente junto à praia.

Já a Mogi/Bertioga, implantada em 86, tem uma extensão de cerca de 40 km no território de Bertioga. Esta rodovia segue a Serra do Mar, próxima ao Rio Itapanhaú, cruzando com a Rio/Santos junto ao Jardim Indaiá.

Rede de ensino

Um levantamento realizado em março do ano passado, de acordo com o ERP, apontou uma população estudantil de 2.630 alunos distribuída por 79 classes de ensino da rede pública. O Governo do Estado, nesse caso, é responsável pelo maior volume de atendimento à Educação no Distrito, contando com cinco escolas no perímetro urbano e oito na zona rural.

A Subprefeitura mantém somente um estabelecimento de pré-escola junto ao Centro, com aproximadamente 255 alunos, embora esteja construindo unidade semelhante no Jardim Indaiá. Há também, conforme o estudo, uma escola de caráter particular em Itatinga, que atende a cerca de 50 alunos em nível de 1º Grau.

Neste ano, o complexo residencial Riviera de São Lourenço abriu uma outra pré-escola, de cunho particular, para crianças da região e filhos de funcionários do empreendimento. O estabelecimento tem capacidade para cerca de 40 alunos.

O ensino supletivo é ministrado em duas escolas para um total de 149 estudantes. Quanto ao atendimento de creches, o Distrito conta com uma unidade particular e outra beneficente. Esta última, a cargo da comunidade espírita local.

Não há ensino superior e apenas a EEPSG. Professor Armando Belegarde oferece curso eqüivalente ao 2º Grau. Isso agrava a formação de mão-de-obra própria, já que muitos estudantes são obrigados a buscar especialização em centros distantes e, não raro, acabam por permanecer nesses locais ou em outros que proporcionem condições de trabalho e de aperfeiçoamento.

A rede pública estadual conta em sua estrutura administrativa com cerca de 33 funcionários e 111 professores em atividade. Já a rede municipal dispõe de oito professores qualificados e não efetivos.

Saúde pública

A área de Saúde no Distrito é composta pelo Hospital Distrital, um pronto-socorro e o Centro de Saúde. Os três núcleos de Saúde, porém, estão localizados na mesma região, fato que vem gerando críticas de moradores dos bairros mais afastados.

Ocorre que, em função da dispersão populacional, pessoas que residem em áreas longínquas carecem de atendimento médico emergencial. A alternativa, nesse caso, seria a implantação de postos avançados, levando em conta o contingente de habitantes em cada localidade e a extensão territorial.

Para amenizar o problema, as prefeituras de Santos e de São Sebastião mantêm um convênio sob o qual propiciam atendimento médico aos moradores do bairro limítrofe de Boracéia.

O Hospital Distrital foi inaugurado em fevereiro do ano passado. Até esse período, ali funcionava apenas o pronto-socorro. Segundo o ERP, o estabelecimento tem capacidade para 20 leitos e está equipado com centro cirúrgico no qual funcionam uma sala de cirurgia, uma sala de parto, uma sala de recuperação pós-anestésica, uma sala de reanimação de recém-nascidos e uma sala de esterilização. Possui também laboratórios de análises clínicas, equipamento de raios X e uma ambulância de plantão.

O corpo técnico é formado por 25 médicos, cinco enfermeiras, 27 auxiliares de enfermagem, cinco técnicos de laboratório e dois técnicos de raios X, em sistema de plantão permanente. Apesar de estar aparelhado para cirurgias de pequeno porte, até o momento tem-se observado a prática de transferir para outros hospitais pacientes que necessitam de operações mais delicadas. O Centro de Saúde é voltado para o atendimento ambulatorial.

Segurança

Em termos de Segurança Pública, de acordo com o Escritório Regional de Planejamento, os postos policiais situados na região são considerados insuficientes para o atendimento da população.

O levantamento feito pelo órgão estadual identifica um posto da Polícia Civil equipado com uma veraneio (camburão) e um tático móvel. O estabelecimento está localizado junto ao prédio da Subprefeitura, no Centro.

A Polícia Militar tem sua base localizada a 400 metros da Riviera de São Lourenço e a três quilômetros após o trevo entre as rodovias Rio/Santos e Mogi/Bertioga. A PM dispõe, no local, de dois veículos de radiopatrulha e destacamento de polícia montada.

A Polícia Rodoviária tem dois postos na região, sendo um próximo ao trevo da Mogi/Bertioga e outro na Rio/Santos. Este último posto, entretanto, ainda não foi inaugurado e deverá centralizar as operações de vigilância em Bertioga, Guarujá e Cubatão.

Existem também vários postos de salvamento marítimo ao longo dos 44 quilômetros de praias, mantidos pelo Corpo de Bombeiros. Em contrapartida, a região não desfruta de unidade de combate a incêndios.

Embora seja considerada uma área sem ocorrências mais sérias, o Distrito é composto por um grande número de residências de temporada. Essas casas, quando desprovidas de caseiros, são alvos fáceis para marginais.

Na temporada, ainda, quando é intenso o fluxo de turistas na região, o trabalho de vigilância policial é redobrado. Geralmente a PM com sede em Bertioga recebe um reforço de soldados para manter a operação normal de segurança e agilizar esquemas especiais a fim de atender aos visitantes

Saneamento

Um dos principais problemas de Bertioga refere-se ao saneamento básico. Somente 5% da população dispõem de rede de esgoto e 40% de água tratada. As valas se proliferam pelas ruas do Distrito. O novo município, necessariamente, terá de realizar convênios com a Sabesp a fim de agilizar a implantação de serviços que garantam uma boa qualidade de vida aos seus habitantes.

Conforme o ERP, antes de 62, foi construída a captação da Colônia de Férias do Sesc no Córrego Guaxinduva. O sistema está em operação até hoje, abastecendo exclusivamente o local. Conta com uma bacia de 2,2 km², com captação de 15 litros por segundo. A adutora tem 5.770 m de extensão.

Entre 62 e 77, foi construído o sistema de captação e adução do Ribeirão dos Monos, que abastece a estação elevatória do oleoduto da Petrobrás, na Praia de Guaratuba. Ainda no final da década de 70, foi instalado o sistema da Sabesp com captação em dois pontos, nos rios Furnas e Pelaes.

A obra da estatal atende essencialmente ao núcleo central do Distrito. Porém, a empresa está construindo uma nova rede no bairro de Boracéia.

Em algumas oportunidades, a iniciativa privada preferiu constituir seu próprio sistema de saneamento. Desta forma, o complexo residencial Riviera de São Lourenço possui uma bacia de captação de 180 km², no Rio Itapanhaú, além de contar com uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETA).

Outros sistemas particulares recentes são provenientes do Rio Perequê Mirim, que abastece os loteamentos Costa do Sol, Portal de Guaratuba e Barra de Indipira. Há também a captação do Ribeirão Pedra Branca, que atende o loteamento Morada da Praia, mediante uma adutora de seis quilômetros de extensão.

Base energética

A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) mantém atualmente em Bertioga 9.300 ligações elétricas que cobrem praticamente toda a área do Distrito. Esse serviço é garantido mediante a operação de seis alimentadores instalados nas duas subestações da empresa na região.

A Subestação 1 possui quatro alimentadores, enquanto que a Subestação 2 dispõe de dois desses equipamentos.

Essa suficiência em energia elétrica teve início com a implantação de uma linha de alta tensão, que corta o Distrito no sentido Leste-Oeste. O sistema possui um ramal que segue na direção da Mogi/Bertioga até os limites com o município de Biritiba Mirim.

Antes de 62, revela o ERP, foi instalada uma linha de transmissão de energia gerada pela usina hidrelétrica da Companhia Docas de Santos, situada no Rio Itatinga, que segue em direção a Cubatão e ao Porto de Santos. Hoje, a Cesp, em conjunto com a Subprefeitura de Bertioga, desenvolve um projeto de iluminação de áreas menos favorecidas, como as favelas.

O custo com a introdução desse serviço fica por conta da Subprefeitura e da própria Cesp, isentando os moradores de qualquer pagamento com a instalação. Nesse caso, os munícipes arcam apenas com o consumo correspondente em suas residências.

O transporte de combustíveis da Petrobrás é garantido por um oleoduto com cerca de 40 quilômetros de comprimento, ligando o Porto de São Sebastião à Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão.

A dutovia sofre uma bifurcação na estação de recalque na Praia de Guaratuba, em direção a Paulínea. O trecho que liga Cubatão segue um percurso paralelo à praia.


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ITATINGA

Conheça a ‘vila perdida’ que abriga menos de uma dezena de famílias no litoral de SP

Por Ágata Luz, g1 Santos

Uma vila perdida em meio à Serra do Mar abriga menos que uma dezena de famílias em uma área federal situada em Bertioga, a 30 km do Porto de Santos, no litoral de São Paulo. As casas em estilo inglês foram construídas em uma única rua ao redor da Usina Hidrelétrica de Itatinga para acolher trabalhadores e familiares. Ao g1, ex e atuais moradores do local contaram como é viver em meio à natureza.

Atualmente o espaço, que chegou a acumular fila de espera para moradia, é lar de apenas sete famílias, que precisam enfrentar um longo percurso. Eles precisam pegar transporte de bonde e uma embarcação para ter acesso a serviços básicos de saúde e educação, mas dizem que não trocam essa vida.

Um desses moradores é Felipe Alves de Oliveira. Ele foi o primeiro guarda da Autoridade Portuária de Santos (APS) que ocupou o local, em 2008. “Minha chefia procurava um guarda para colocar em caráter experimental e eu pedi”, explicou ao g1. A decisão foi movida pelas histórias que cresceu ouvindo do pai, que morou em uma fazenda próxima e desfrutou da antiga vila.

Apesar de ter deixado o local por alguns anos, quando a equipe de guardas portuários da usina foi desmontada, ele não esqueceu o encanto de viver na vila e retornou assim que uma nova equipe foi estruturada. Hoje, Felipe mora com a esposa e a filha de 7 anos.


Felipe mora em Itatinga com a filha e a esposa — Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal


Para estudar, a menina precisa descer a serra em um bonde para, então, entrar em uma embarcação e atravessar para Bertioga, onde ela estuda. Já em terra, a criança ainda embarca em uma van escolar para seguir rumo à unidade escolar. Todo o trajeto é acompanhado por um responsável.

Apesar da rotina ser cansativa com horários regrados, Felipe afirma que a filha gosta da vida na vila.

“É tranquilo, a gente tem alguns animais, como arara, papagaio, cães, gato. A gente gosta muito. Sou formado em Biologia, então para mim é morar em um laboratório”, ressaltou o guarda portuário.
Segundo ele, a menina se diverte no parquinho que tem no local. “Uma pena que não tem mais crianças”, enfatizou. Além dela, segundo ele, a vila abriga apenas mais um menino de aproximadamente 4 anos.

A sensação de segurança da família é ameaçada somente por animais peçonhentos, como cobras e aranhas. “Tem que sempre estar atento a esses problemas”. Porém, para casos de emergências médicas, ele diz que um bonde é imediatamente disponibilizado para socorro.


Vila foi construída ao redor da Usina Hidrelétrica de Itatinga — Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal


Antiga vila- As dificuldades de chegar à escola não foram enfrentadas por Rodolfo dos Santos Neto e Fabio Baptista, que moraram no local durante a infância, quando os pais eram trabalhadores da usina. Isso porque eles desfrutaram da escola que existia para a comunidade. Apesar de não morarem mais na vila, ambos seguem os legados familiares de trabalho no local. Enquanto Rodolfo é técnico portuário da APS, Fabio trabalha como engenheiro eletricista por uma empresa terceirizada responsável pela manutenção e operação da usina. A dupla revelou ao g1 grande afeto pelo espaço, principalmente pelas lembranças de antigamente, na “era de ouro” da vila.

“Tinha tudo, escola, cinema, mercado, padaria. Tinha toda a infraestrutura”, relembrou Fabio.
Hoje, a maioria dos serviços foram desativados, como o cinema e o posto médico. No entanto, a igreja construída ainda recebe missas pontualmente e a padaria permanece funcionando.


Fabio morou em Itatinga durante a infância — Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal


Quando Fabio era criança, a mãe dele era dona da padaria da vila, enquanto o pai era um dos chefes da parte mecânica da usina. A infância no espaço foi repleta de boas memórias, que o motivaram a retornar à usina como estagiário e, depois, como funcionário. O mesmo aconteceu com Rodolfo, que tem a história da família diretamente envolvida com o espaço. De acordo com o técnico portuário, o bisavô e o avô trabalharam na construção da usina e criaram os filhos no local.

“Meu pai aposentou aqui, é o legado dele”, informou. “Ao todo são 70 casas, todas elas eram cheias”, relatou Rodolfo, enfatizando sobre as moradias abandonadas que existem atualmente.

Uma das lembranças mais vivas na memória de Rodolfo é o equipamento conhecido como “WhatsApp” da usina. Trata-se de cano de ferro que permite que pessoas que estão no piso superior se comuniquem com quem está do lado de fora do prédio - que abriga as máquinas da usina. Rodolfo contou que, quando criança, usava o equipamento para se comunicar com o pai. “Pai, a marmita chegou”, dizia próximo ao cano, que ecoava a voz até o piso superior do prédio e fazia o profissional descer as escadas para almoçar com a família.


Rodolfo relembrou como se comunicava com o pai na infância em Itatinga — Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal


Vila e a Usina

De Santos, são aproximadamente duas horas para chegar a vila : uma hora e meia de catamarã e 25 minutos de bonde. O acesso é restrito a funcionários e familiares dos profissionais.


Para chegar à vila de Itatinga, é necessário pegar um bonde para subir a serra — Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal


Inaugurada em outubro de 1910, a Usina Hidrelétrica de Itatinga fica em uma área que pertence ao governo federal situada em Bertioga, a uma distância de aproximadamente 30 km do Porto de Santos, administrado pela APS. A porcentagem que abastece o complexo portuário corresponde somente à margem Direita, ou seja, do lado de Santos. Ela é usada em pelo menos dez terminais, segundo o gerente de utilidades da estatal, Rafael Apolinário dos Santos. Além disso, 99% do sistema elétrico da Autoridade Portuária são provenientes da Usina de Itatinga. Os terminais que não utilizam a força gerada pela usina recebem energia da concessionária CPFL.


Usina Hidrelétrica de Itatinga fica em uma área que pertence ao governo federal  — Foto: Ágata Luz/g1


EM ITATINGA, UMA LINHA DE BONDES QUASE DESCONHECIDA

Os bondes de Itatinga ( Novo Milênio)

Quando esta matéria foi escrita, Bertioga ainda era um distrito de Santos, cidade em que o serviço de bondes estava extinto há 13 anos e seria em breve criada uma linha turística (que durou pouco tempo, entretanto). A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) já tinha sucedido a antiga empresa privada Cia. Docas de Santos (CDS) há alguns anos na administração do porto santista - complexo que inclui a vila e usina hidrelétrica de Itatinga. O texto foi publicado no jornal A Tribuna, em 21 de maio de 1984:

Texto de Antônio Alberto de Aguiar e Áureo de Carvalho
Fotos de Walter de Melo Albuquerque


Diversas vezes ao dia, dois bondes, puxando reboques, fazem o percurso usina-cais


O único bonde da CSTC que escapou à destruição programada em 1971 retorna à praia nos próximos dias, e vai circular entre os canais 4 e 5. As oficinas da City e do SMTC desapareceram na venda de sucata, mas a Cobrasma, uma indústria de alta tecnologia, está disposta a projetar um protótipo que servirá a Santos e aos santistas.

Segundo a Cobrasma, não há mistérios ou truques na fabricação de um bonde, igual aos carros de pré-metrô do Rio de Janeiro. Basta despi-los da sofisticação, e os custos entram na linha do popular. Dessas coisas, a indústria de Sumaré entende, como poucas.

Quem não entende o bonde como meio de transporte é o ministro dos Transportes, Cloraldino Severo, que esteve na Cidade há uma semana e viu o projeto do retorno dos elétricos como faraônico. Ele prefere o ônibus a gás, lançando o veículo antes da conquista do know-how, e quer o modelo Padron, sem tomar conhecimento da situação de penúria da maioria das empresas.

O ministro talvez se tenha assustado com os custos de implantação dos trilhos, e nem quis saber que ainda existem na cidade mais de 40 quilômetros de linhas, à espera de reaproveitamento, ou de alguém com visão menos bitolada e menos imediatista.

O elétrico sobre trilhos urbanos está mais ou menos na mesma posição das ferrovias, que muitos renegam por desconhecimento ou interesses outros. Na aquisição de um ônibus, geralmente, o concessionário dá desconto ao frotista ou repassa a comissão a terceiros; nos vagões e locomotivas, feitos sob encomenda, o repasse é mais complexo, e nos trilhos, fabricados por siderúrgicas estatais, os 20% de praxe ficam com o Governo, produtor e maior consumidor.

Essa temática, quase proibida, explica muitos programas e planos que ficam vazios quando o gás acaba. Há exemplos bem próximos, como da Ciferal, que foi induzida a fabricar trólebus, e, até agora, aguarda as encomendas. No outro extremo da linha existem iniciativas isoladas, como a da Codesp, que mantém o serviço de bondes na parte continental do Município, sem depender de black-outs programados.

Os 300 moradores de Itatinga, distante cerca de 20 quilômetros do centro de Bertioga, vivem em um paraíso dentro do Município de Santos. Graças ao sistema de transporte utilizado na região, feito por bondes elétricos fabricados inteiramente nas oficinas da antiga Cia. Docas de Santos - hoje, Codesp -, a poluição, lá, é praticamente zero, e os moradores  convivem estreitamente com a natureza.

Acordam com os pássaros, pela manhã - os quais passam em bandos, o dia todo, sobre a via férrea, a usina e as casas - e dormem ao som característico das aves, caças, em completa sinfonia com o trilar dos grilos e o coaxar de sapos e rãs.

Diariamente, estudantes e outros habitantes se utilizam de dois elétricos e mais dois ou três reboques, dependendo do número de passageiros, e cobrem em diversos horários o percurso de 7.300 metros que separa a hidrelétrica do cais, na beira do rio. Desse local, em embarcação da companhia, seguem, cerca de 150 metros, até alcançar a outra margem. Daí, partem, geralmente em ônibus de Bertioga, até os colégios nesse distrito ou fazem compras na própria região ou em Santos, passando por Guarujá.

Preservação - Para Dionísio Marques Amorim, operador-chefe da Usina de Itatinga, o contato estreito com a natureza teria acabado se, depois da construção da usina, fossem utilizadas máquinas barulhentas, e poluidoras, movidas a diesel, no transporte dos materiais. Conta ele que, por volta de 1905, devido à dificuldade em levar os materiais até a raiz da Serra, para o prosseguimento das obras da hidrelétrica, a Cia. Docas resolveu assentar uma ferrovia, com bitola de 80 centímetros, pela qual começou a circular, de início, uma locomotiva a vapor de pequeno porte, que havia sido a primeira utilizada nas obras do cais de Santos.

Tempos depois, vieram mais outras, também alemãs, fabricadas em 1889, peo consórcio Locomotiv Fabrik Kraus e Cia. Munchen & Linz. Essas unidades trabalharam durante décadas, mas em 1958 a empresa resolveu eletrificar a via férrea, e as unidades a vapor passaram a ser utilizadas mais espaçadamente. Com o tempo, sobraram três unidades: a número 12, denominada Itapema, que tem quatro rodas e pesa 10 mil quilos; a número 08 (a primeira que veio para Itatinga), também com quatro rodas e pesando 7.540 quilos, batizada de Monte Serrate; e a de número 01, de nome Lavoura, com número de rodas idêntico às outras e com peso de 7.540 quilos.

Essas locomotivas estão guardadas em um depósito existente no Km 6,5 da ferrovia, em uma localidade conhecida como Fazenda Pelais, próximo de umas ruínas do tempo dos jesuítas, e podem ainda circular normalmente, necessitando algumas de pequenos reparos na parte das caldeiras, devido à inatividade a que foram relegadas. As máquinas poderiam muito bem andar por Bertioga, puxando reboques de passageiros ou mesmo de carga, já que seriam uma grande atração para o distrito, juntamente com os próprios bondes elétricos que a Codesp teria condições de fabricar para a região.

De acordo com técnicos, o solo de Bertioga é arenoso e o meio de transporte mais indicado para esse tipo de terreno é o sobre trilhos. Quem sabe, algum dia o Distrito se interesse em, pelo menos, fazer uma linha ligando a balsa do centro até as cabeceiras do rio que vai para Itatinga. O percurso poderia ser feito pelas máquinas a vapor, esporadicamente, como uma atração especial. E por bondes elétricos, oferecendo ao povo um passeio barato e longe de toda poluição. Que os administradores de lá sigam o exemplo da sede do Distrito, Santos, que no dia 27 reimplanta o sistema de bondes, em uma linha-embrião que vai do Canal 4 ao Canal 5.

Os bondes - O primeiro elétrico que chegou a Itatinga, em fins de 1956, roda até hoje, e foi fabricado, como os demais, inclusive os reboques, nas oficinas da Cia. Docas. Como havia uma estreita ligação entre a empresa e a Cia. City - a qual, após a inauguração de Itatinga, passou a receber energia elétrica dessa usina para movimentar seus bondes em Santos -, as primeiras técnicas na construção dos elétricos foram conseguidas com os engenheiros e funcionários da companhia inglesa. Como a bitola adotada pela Docas para Itatinga era de 80 centímetros, houve necessidade de se adaptar (encurtar) rodeiros métricos ou de medidas diversas, com o objetivo de equipar a primeira unidade.

Os motores saíram de guindastes já desativados ou de outras maquinarias elétricas. Desse modo, os truques duplos (rodeiros) passaram a ter o mesmo sistema de tração das unidades da City. O primeiro bonde de Itatinga, até hoje, é equipado com dois motores de 10 HP e um controler em cada extremidade do carro. Cada motor faz tração sobre um truque e a unidade possui seis bancos com capacidade para 24 pessoas sentadas e mais 15 nos estribos. Se puxar mais um reboque, que leva 40 passageiros sentados e 70 nos estribos, o conjunto chega a carregar perto de 150 usuários.

A segunda unidade, que veio para a região cerca de dois anos depois, é também duplamente trucada, mas somente impulsionada, agregado a um dos rodeiros, por um motor de 18 HP. Além disso, tem um controler no centro (porque era uma antiga locomotiva elétrica da Docas) e pode transportar igual número de pessoas. Para serem puxados pelos elétricos há, ainda, dois reboques para carga, duas plataformas e sete galeras. A ferrovia de Itatinga tem muito valor para os que lá residem, como para a própria Codesp, porque os operários que fazem a manutenção das linhas que levam energia para Santos a percorrem durante a execução dos serviços.


A linha férrea segue por trecho de vegetação variada


Codesp conserva serviço gratuito

Um dos detalhes mais importantes em Itatinga é que na linha de bondes, uma das poucas do País ainda em funcionamento, nada se cobra dos passageiros, quer sejam funcionários da empresa ou visitantes. É a única linha grátis existente em nosso território. Os materiais de reposição, principalmente trilhos - que têm de ser trocados de tempos em tempos devido à maré salitrada que chega a suas proximidades - vêm da própria Codesp e, ainda assim, as linhas férreas colocadas no percurso já têm muitos anos de uso na faixa do cais de Santos.

Os motores são reformados nas oficinas da Codesp, bem como algumas partes dos rodeiros, e a fiação aérea vem da Pirelli e é do mesmo tipo da usada pelos trólebus. Afirmam os técnicos que os cabos energizados, pelo seu formato piramidal, não sofrem tanto desgaste como os anteriores, que eram cilíndricos. Fora isso, alguns serviços são executados também em Itatinga. Atualmente, um dos reboques está passando por reformas nas oficinas de Santos. As automotrizes têm breque mecânico, devido à topografia plana do solo, e uma delas possui quatro velocidades e a outra cinco, mas não desenvolvem, a plena força, mais que 28 quilômetros por hora. Cobrem a distância do cais do rio até a usina em cerca de 18 a 20 minutos. Os motores são de corrente alternada e a fiação aérea fornece 440 volts, que são retificados de acordo com a especificação dos motores de cada unidade.

Para evitar que haja dispersão de energia, no trajeto dos 7.300 metros há sete transformadores, sendo quatro de 15 KVA e três de 25 KVA. Desse modo, os 440 volts permanecem constantes em toda a linha. Sarcasticamente, os funcionários dizem que, no dia do black-out que atingiu diversos estados, os bondes de Itatinga continuaram a rodar normalmente, porque somente dependem do fornecimento da energia da própria usina, a qual também não deixou o Porto de Santos parar e tampouco o Distrito de Vicente de Carvalho, além de casas de saúde e hospitais que a ela estão interligados em casos de emergência.

Para se andar nos bondes e visitar Itatinga há necessidade de autorização da Codesp, que pode ser obtida em sua administração em Santos. Os horários do bondinho são os seguintes: partem da usina às 7 horas e retornam às 8; saem às 10 e voltam às 10h30; às 12 e deixam o cais do rio às 12h30. Depois, largam da usina às 16 horas e vêm às 16h30; e ainda existem outros dois: um que parte da hidrelétrica às 17h30 e retorna às 18 horas (esse bonde leva os estudantes da noite e traz os do dia). e o último parte da usina às 21 horas e tem retorno às 22h30, com o pessoal dos cursos noturnos e outros moradores que se tenham ausentado da localidade. À parte de tudo isso, às 13 horas, um elétrico leva os trabalhadores, que vão descendo nos lugares de manutenção da linha energizada que segue para Santos, e também para vistoria, esporádica, na linha férrea.

Hidrelétrica - A Usina de Itatinga teve suas obras iniciadas já a partir do começo do século (N.E.: século XX), mas só começou a funcionar por volta de 1910. Seus cinco geradores norte-americanos, fabricados pela General Electric, com aletas impulsionadas por jatos de água represada na Serra, com a pressão de 64 atmosferas, produzem 15 mil quilowatts/hora, que, após transformados, passam para 44 mil KVA. Esse potencial energético, segundo os engenheiros Ariovaldo Rodrigues, chefe da Divisão de Eletricidade da Codesp, e Oscar Corradi, da área de Itatinga, é enviado para o Porto de Santos, onde chega com cerca de 40 mil KVA, devido à dispersão normal que sofre pela distância percorrida entre as torres.

Parte desse potencial é distribuído para Vicente de Carvalho e, em caso de necessidade, atende também hospitais e locais que não podem deixar de funcionar em casos de black-out na Cidade. Segundo os técnicos, mesmo que haja pane em um dos geradores em funcionamento, não há problemas no funcionamento da usina, porque existe sempre um equipamento de reserva, de idêntica capacidade, ou seja, suas aletas giram 514 vezes por minuto como os demais.

Para se ter uma idéia da pressão do jato de água que desce por uma das cinco tubulações - de uma altura de aproximadamente dois mil metros na Serra -, se à sua frente for colocada uma alavanca de aço especial, esta será destruída em poucos segundos. A Usina de Itatinga é interligada à Eletropaulo, porque, em emergência, pode receber energia dessa empresa. Porém, geralmente, a hidrelétrica da Codesp está sempre com excedente de energia e sempre o repassa à companhia de eletricidade do Estado de São Paulo.

Por volta de 1980, quando a Companhia Docas de Santos passou o patrimônio do cais para a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), contam alguns funcionários que o Ministério das Minas e Energia chegou a mandar dois engenheiros para Itatinga, com o objetivo de desativar a usina. Porém, ao visitarem a hidrelétrica, os próprios emissários mostraram-se contrários à sua desativação e foram logo embora.


A hidrelétrica responde pela manutenção do sistema


Obras da represa de Itatinga, até 1906. Foto: Museu do Porto de Santos/CDS-Codesp e Acervo Novo Milênio

ITATINGA, PIONEIRISMO NACIONAL  


RICADO EVARISTO DO SANTOS(*)


Porto & Mar - A Tribuna, em 18 de agosto de 1986:
Se quisermos retratar um dos capítulos importantes e significativos do desenvolvimento do Porto de 

Santos, teríamos que nos reportar ao surgimento da pequena vila, com suas 70 casas pintadas de verde e amarelo (cor da Cia. Docas de Santos), que se encontra encravada em plena Serra do Mar, no Distrito de Bertioga, a sete quilômetros do Rio Itapanhaú, e cujo nascimento se deve à hidrelétrica que fornece energia ao Porto.

Sua história se prende às muitas disputas em que a Light e o grupo de Gaffrée e Guinle se envolveram, numa das contendas mais acirradas para defender e garantir monopólios, tanto no transporte urbano sobre trilhos como na geração e distribuição de energia elétrica em São Paulo. Esta última foi mais polêmica entre os idos de 1909 a 1911.

A luta do grupo nacional de Gaffrée e Guinle, contra o monopólio da Light, vem desde a criação da Rio Light em 1904. Em 1888, tornaram-se concessionários do Porto de Santos, constituindo para esta finalidade a empresa Gaffrée, Guinle & Cia., com sede no Rio de Janeiro. Em 1890, a firma elevaria o capital e mudaria para Empresa das Obras dos Melhoramentos do Porto de Santos. Em 1892, seria reorganizada como sociedade anônima, adotando a designação definitiva e consagrada de Companhia Docas de Santos.

Desse modo, o grupo realizaria em Santos sua obra mais importante, construindo - sob a direção do brasileiro Guilherme B. Weinschenck - o primeiro porto nacional em condições de receber navios de grande porte. Segundo Hélio Lobo, a participação de Gaffrée e Guinle na construção da estrada de ferro e na melhoria e operação do Porto de Santos despertou a atenção dos arrojados empresários para as potencialidades no setor. Entre esses, a aquisição da Cachoeira de Itapanhaú e a construção da Usina de Itatinga, em São Paulo.

Essas obras foram incorporadas ao patrimônio da Companhia Brasileira de Energia Elétrica, fundada por Gaffrée e Guinle em 1909, no Rio de Janeiro, exclusivamente com acionistas brasileiros, entre os quais o conhecido industrial paulista Jorge Street, que muito fez para a concretude desse evento na época [1].

A princípio, Gaffrée e Guinle mantiveram relações de negócios amistosos com a Light, entre 1904 e 1905. Porém, novos atritos surgiram com as pressões do financista norte-americano Percival Farquhar, para assumir o controle da Companhia Docas de Santos, como já havia feito com outros portos importantes. Ou seja, o ponto de discordância no relacionamento entre os dois grupos poderia ter sido, na época, a tentativa da Companhia Docas de Santos de vender em São Paulo a energia excedente de sua usina de Itatinga, construída em 1906 para atender as necessidades do porto.

Desse modo, em 1907, a firma Guinle & Co., sucessora de Aschaff & Guinle, assinava um contrato com a Repartição de Águas de São Paulo para o fornecimento de 300 HP à Estação de Bombeamento. Uma semana depois, Alexandre Mackenzie insiste com os diretores da São Paulo Light & Power que procurassem o governador e o prefeito para "pôr um ponto final nos planos de Guinle & Co.". E recomendou, ainda, "que façam todos os esforços para garantir a concessão do fornecimento de eletricidade no Município de São Bernardo, a fim de criar uma nova dificuldade para a ligação entre Santos e São Paulo pretendida por Guinle" [2].

No entanto, Guinle & Co. resistem e, em 1908, conseguem a representação da GE no Brasil. Nessa época, obtêm do Governo Federal um decreto de autorização da construção de uma linha transmissora de Itapanhaú, onde pretendiam levantar uma nova usina, até São Paulo. Finalmente, em 5 de fevereiro de 1909, a Companhia Docas solicita à Prefeitura de São Paulo autorização para vender na Capital o excesso de energia da Usina de Itatinga.

O preço da tarifa oferecido era extremamente conveniente e o prefeito Antônio Prado defere o pedido, não entendendo a concessão pela companhia. Mas, a Light não se conforma e sai a campo através de uma inflamada polêmica sobre a terminologia "Lugares ocupados". Em 29 de abril do mesmo ano, a Câmara Municipal de São Paulo interpreta "Lugares ocupados" na lei nº 1.210, em sentido favorável à Light.

Após esse fato, o prefeito revoga a autorização concedida a Gaffrée e Guinle - que, no entanto, não se conformam e solicitam novo pronunciamento da Câmara, o que leva a mesma a voltar, em 22 de maio, e concordar com Gaffrée e Guinle na expressão "Lugares ocupados", referindo apenas a ruas e praças em que já estivessem instaladas luz e força. O prefeito, no entanto, mantém - para surpresa de Gaffrée e Guinle - a revogação da autorização.

O pano de fundo nisso tudo era a pressão exercida por Alexandre Mackenzie e seus pares, dando prioridade à Light, na defesa desse monopólio, levando até diminuição das tarifas de luz e força e tarifas também de bonde. Por fim, Gaffrée e Guinle resignaram-se à força da Light (e de Amforp em outros estados), desistindo do setor de geração e distribuição de energia elétrica.



Vila de Itatinga, em 1910.Foto: Museu do Porto de Santos/CDS-Codesp e Acervo Novo Milênio

Itatinga - A 10 de outubro de 1910 era inaugurada, com toda a pompa que a ocasião exigia, a Hidrelétrica de Itatinga: tratava-se de uma das maiores, entre as primeiras do gênero. Sua importância está ligada, durante muito tempo, no cumprimento das necessidades das instalações portuárias, bem como no fornecimento de toda a eletricidade consumida pelos municípios de Santos, São Vicente e localidades vizinhas.

A partir dos anos 20, a Light vai utilizar a energia gerada em Itatinga na construção da Usina Henry Borden, em Cubatão. Os equipamentos principais da Usina de Itatinga foram totalmente importados, a citar os alternadores alemães da Voith e as turbinas norte-americanas da General Electric. O prédio da Usina figura em destaque como patrimônio histórico tombado [3].

Sua instalação se deu numa área de 76,6 quilômetros quadrados, onde as águas se escoam pelo vale estreito e o mesmo rio rompe a serra - ponto onde, pouco abaixo, se acha a atual represa e o início do canal aberto. Nas enchentes, pode-se avaliar, aproximadamente, o volume máximo que se escoa, por segundo, em 360 metros.

Armazenadas as águas, por ocasião da enchente, durante um período de 11 dias, por uma barragem feita em lugar relativamente estreito, daria na época 9.000 litros por segundo.

A construção da barragem, para aproveitamento da força hidráulica, não oferecia dificuldade na época. A sua altura não era excessiva. Além de duas comportas para regularizar o fornecimento da água, a muralha seria construída com vasto vertedor para as sobras durante as grandes enchentes.

Essa construção, na época, era conveniente para garantir também o fornecimento de 3.000 litros por segundo à atual instalação. Utilizando-se os 6.000 litros que sobram, é possível construir-se uma outra usina geradora na época, em uma baixada de cerca de 1 quilômetro distante da atual. Pelo exposto, se concluía que, no futuro, se poderia dispor de uma energia total de 56.000 HP [4].

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS:

[1] LOBO, Hélio - Docas de Santos - Suas origens, lutas e realizações. Typ. do Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1936, p. 2 in Boletim Histórico Eletropaulo nº 5, fevereiro de 1986 pp. 5-6.

[2] Boletim Histórico, Eletropaulo nº 5, fevereriro de 1986 pp. 5-6.

[3] Reportagem sobre Itatinga (Conheça o seu Bairro) in Jornal A Tribuna de 14/04/85.

[4] Vários Autores - Impressões do Brazil no Século Vinte, Londres, Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltda., 1913, pp. 279-280.

(*) Ricardo Evaristo dos Santos é pesquisador, hispanófilo licenciado - 1984 - e bacharel em História, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica de Santos. Em 1984 exerceu a monitoria da cadeira Civilização Ibérica, na mesma instituição. Atualmente (N.E.: 1986) é diretor de Pesquisa e Documentação do Instituto de Estudos "Pontes de Miranda" e trabalha no Arquivo Histórico Municipal "Dr. José da Costa e Silva Sobrinho".


ITATINGA: OBRA VITAL PARA O PORTO DE SANTOS




A Usina Hidrelétrica de Itatinga não é apenas um simples apêndice do Porto de Santos. Quando a Portobrás a encampar, em novembro de 1980, juntamente com os outros equipamentos portuários, receberá, certamente, o verdadeiro centro nevrálgico do porto, fonte de onde emana toda a força que movimenta as instalações e máquinas do complexo sistema. Uma das mais importantes do início do século (N.E.: século XX) (chegou a fornecer energia para São Paulo e, ainda hoje, dispensa parte para a Baixada Santista), a Usina de Itatinga constitui equipamento primordial para o constante e irreversível crescimento do porto de Santos, já o maior da América Latina no movimento de cargas.

O porto de Santos é o único do Brasil que, para movimentar as suas instalações, tem a sua própria hidrelétrica, aproveitando uma queda d'água do Rio Itatinga (N.E.: o porto de Manaus também teve usina de força própria, mas já desativada em meados do século XX).

Construída no sopé da Serra do Mar, no Distrito de Bertioga, foi inaugurada em 10 de outubro de 1910 e, por várias razões, constitui uma obra fantástica. O prédio da usina propriamente dita é um modelo de solidez das construções britânicas do início do século, digno talvez de figurar no nosso patrimônio histórico. Peças de granito, artesanalmente trabalhadas, formam as bases dos cinco alternadores, são simples rodapés ou parapeitos das inúmeras janelas; são peças raras de lavor, importadas da Espanha e de vários países da Europa, ou lapidadas aqui mesmo no Brasil.

Os próprios equipamentos, alternadores Voith de origem alemã, e turbinas norte-americanas da General Electric, mostram a consistência e robustez das máquinas fabricadas no primeiro quartel do século. Com quase 70 anos de uso, as suas robustas placas de aço não mostram o menor desgaste, nenhuma exaustão, nem obsoletismo. Reformados em 1950 (há quase 30 anos), mantêm um funcionamento adequado, assombrando, ainda, por sua capacidade de trabalho constante.



Por estes fios a energia de Itatinga chega ao terminal santista, Foto publicada com a matéria

A usina - A tomada de água do Rio Itatinga, que nasce no planalto e desce entre as serras para o mar, é feita no alto da cordilheira, por meio de um canal de três quilômetros de comprimento. Em seguida, a água cai para uma valeta coberta, chegando, ainda no alto da montanha, às câmaras de captação.

Daí em diante, o líquido despenca, em velocidade, serra abaixo, por meio de cinco captadores (tubos de 90 centímetros de diâmetro interno) ligados às turbinas. A água chega com um peso de 640 toneladas, aproximadamente, ou 64 quilos por centímetro cúbico, fazendo girar as turbinas, que produzem a energia.

É difícil a descrição de um complexo, em suma, tão simples. A energia é produzida por cinco alternadores de 3 mil quilowatts, ou 22.250 cavalos, totalizando 15 mil quilowatts. E ela chega a Santos, por uma linha de transmissão de 30 quilômetros de comprimento, com dois circuitos trifásicos.

A média de consumo diário de energia do porto é variável, de acordo com o movimento de navios, ou mesmo do tipo dos navios que estão operando. Graneleiros exigem a movimentação de sugadores, esteiras ou semelhantes, equipamentos elétricos, enquanto os de carga geral utilizam apenas os guindastes elétricos.

Já se observou também que no horário do almoço, por exemplo, a demanda de energia é um terço menor do que durante o resto do dia. Isso não altera a produção da hidrelétrica, pois o excesso de energia é automaticamente repassado à Light, que a distribui por suas áreas de atuação.

Tal fato é sobremaneira importante, porque além de proporcionar toda a força e luz utilizada no porto, a usina de Itatinga produz, ainda, lucros para a concessionária.


Jornalistas visitaram a usina em companhia do engenheiro Peterlini. Foto publicada com a matéria

Itatinga - O encarregado geral do setor de Geração e Distribuição de Energia da Companhia Docas, Américo Peterlini, acompanhou os jornalistas que na semana anterior visitaram as instalações de Itatinga. Ao lado das explicações técnicas, sobre o funcionamento do complexo, o engenheiro Peterlini falou sobre a vila, criada pela concessionária em torno da usina.

Em Itatinga vivem hoje cerca de 120 pessoas, entre funcionários da Companhia Docas e seus dependentes. De difícil acesso (fica a 1,40 hora de Santos, de barco, pelo Canal de Bertioga e do Rio Itapanhaú), a vila conta com todos os recursos: centro médico, mercearia, padaria, escola, igreja, cinema e vasta área de lazer e esporte.

Parece ainda, com suas casas de madeira todas iguais e paralelas e a avenida atravessada pela linha do bondinho, que transporta o pessoal da usina ao porto, um centro de civilização avançado do início do século. As casas bem conservadas, as ruas superlimpas e o jardim cuidado e florido envolvem a construção principal, a usina, erguida na extremidade do pequeno vale.

O próprio silêncio é audível, segundo a impressão dos jornalistas, em seus ouvidos afetados pela constante poluição sonora das cidades. E ficam espantados que muitos dos empregados da usina moram há 20 ou 30 anos em Itatinga, ficando, alguns deles, até vários anos sem vir a Santos, ou mesmo a Bertioga.

Administrado pelo engenheiro residente, Itatinga tem uma vila praticamente independente, trabalhando lá longe, para o fornecimento constante de energia para o Porto.

O superintendente de Tráfego da Companhia Docas, Sérgio da Costa Matte, que ao lado do engenheiro Peterlini recepcionou a imprensa nas dependências da usina hidrelétrica, informou que nunca o complexo ficou paralisado completamente. As reformas e manutenções que se sucedem são feitas de modo alternado, de maneira que nunca falte energia às instalações do sistema portuário.


Captada na serra, a água cai, violenta, por estes dutos. Foto publicada com a matéria


Energia - Por intermédio da linha de transmissão de 30 quilômetros, de dois circuitos trifásicos, a energia de 44 mil volts é recebida em Santos, onde é rebaixada para 6.600 e 11.400 volts e dividida em linhas para 110 e 220 volts, de acordo com as necessidades das instalações portuárias.

Na realidade, ao longo dos seus quase 12 quilômetros de extensão do cais, ou área abrangente de seus armazéns e terminais, é difícil indicar um ponto onde a energia elétrica produzida por Itatinga não seja imprescindível ou vital.

Desde a iluminação dos numerosos pátios, armazéns, escritórios e oficinas, até a simples movimentação de suas máquinas menores, tudo ganha destaque, pelos seus efeitos de progresso. Mais importante que isso, porém, é a movimentação produzida nos notáveis complexos dos terminais especializados, como o de adubos, em Conceiçãozinha; o de sal; o do corredor de exportação, no Armazém 39; e de muitos outros menores, além dos de granéis líquidos, na Ilha Barnabé e na Alemoa.

Centenas de esteiras transportadoras, sugadoras, guindastes de pórtico e embarcadores movimentam-se, dia e noite, acionados pela energia proporcionada por Itatinga - verdadeiro centro nevrálgico do porto - fonte de onde emana a força que empurra para a frente o maior porto da América do Sul.



A Tribuna, em 10 de outubro de 2010, na página A-1 e na revista especial Itatinga 100 Anos:








Ponto de ônibus da empresa Expresso Rodoviário Atlântico nos ano 1980, que fazia as linhas Santos-Bertioga e Betioga-Boissucanga.


PRAIA DE SÃO LOURENÇO - BAIRRO INDAIÁ


Riviera de São Lourenço é uma praia do litoral central Paulista, situada na cidade de Bertioga. Seu nome também da origem ao bairro nobre em que está situada. O pioneiro e arrojado projeto de urbanização foi desenvolvido em 1979 pelos arquitetos Oswaldo Corrêa Gonçalves (Estádio Brinco de Ouro da Princesa) e Benno Perelmutter. Sua área abrange cerca de 9 milhões de metros quadrados, dentro da área urbana do município de Bertioga, que teve mais de 80% de sua área preservada de ocupação. Abriga o Clube de Golfe da Riviera de São Lourenço, projetado pelo arquiteto Dan Blankenship. Abriga também o Centro Hípico da Riviera, mantido pela Sociedade Hípica de Bertioga, está em área de 33 mil m², em área cedida pela Prefeitura, atrás do posto da Polícia Militar. Em 2016, uma área florestal de 317 mil metros quadrados compreendendo restinga e Mata Atlântica na praia começou a ser desmatada para completar um projeto de urbanização criado pela empreiteira Sobloco na década de 1970. Wikipedia.


Um sonho que virou realidade. Foi em 1979, em um vôo de helicóptero sobre a praia de São Lourenço, que a Riviera de São Lourenço começou a tomar forma.


HISTÓRIA. Neste vôo, os diretores das empresas proprietárias da gleba – Praias Paulistas S.A e Cia Fazenda Acaraú – iniciavam os entendimentos com a diretoria da Sobloco Construtora S/A para a urbanização daquela área de 9 milhões de metros quadrados. Em agosto daquele ano o contrato estava assinado. A Riviera de São Lourenço nascia. Um traçado da malha viária, de autoria dos arquitetos Oswaldo Correa Gonçalves e Benno Perelmutter, em obediência às diretrizes fornecidas pela Prefeitura do Município de Santos, representou o ponto de partida do Plano Urbanístico.

Como uma das empresas de maior experiência no campo do desenvolvimento urbano do país, a Sobloco, então apoiada pelos mais renomados profissionais, estabeleceu o disciplinamento do uso e ocupação do solo, os recuos, as limitações, os incentivos à construção, as restrições às especulações imobiliárias, a busca de soluções para os impactos ambientais, a criação dos processos de vigilância aos eventuais abusos e desvirtuamentos na ocupação de área, os detalhes das obras de infra-estrutura e a montagem de toda a estrutura jurídica do empreendimento, sempre visando a melhor qualidade de vida para os futuros moradores da Riviera.

Após ter obtido todas as aprovações, a Sobloco instalou, então, o canteiro de obras no mesmo ano de 1979, quando iniciaram-se os primeiros trabalhos efetivos de construção da Riviera. Ao mesmo tempo, iniciou-se os estudos de mercado, a análise jurídica e o detalhamento dos demais projetos de terraplanagem, drenagem, rede de água, rede de esgotos e os complexos estudos oceanográficos e de detalhamento da marina. Como todo projeto inédito, houve descrença de muitos setores. Implantar uma cidade com toda infra-estrutura, em uma praia deserta, parecia temerário e muito difícil. A sólida estrutura da Sobloco foi necessária para a arregimentação dos recursos de longo prazo para o desenvolvimento da Riviera.
A implantação começou em 1979 com a abertura das primeiras ruas, a instalação da fábrica de guias e tubos de concreto, os trabalhos de abertura dos canais, a instalação do viveiro de mudas e os estudos para captação de água. Nesta época, as rodovias de acesso ainda não estavam prontas e os caminhões e máquinas tinham que chegar na área por balsa, o que dificultava bastante os trabalhos.

Trecho da futura rodovia Rio-Santos em 1980. 


A Rodovia Mogi-Bertioga foi inaugurada em 1982, agilizando o processo. A Rodovia Rio-Santos foi inaugurada em 1985. Em 1982, já havia 20 quilômetros de ruas com guias colocadas, a primeira estação de tratamento de água (com capacidade para tratar 20 mil litros por hora) já estava em construção e o sistema de paisagismo estava bastante adiantado, com a importação de 8 mil mudas de coqueiros da Bahia em desenvolvimento no viveiro. O stand de vendas teve sua obra terminada em janeiro de 1983, quando iniciou-se a comercialização dos primeiros terrenos no Módulo 5, hoje Coqueiros.

Em 1982 foi criada a Associação dos Amigos da Riviera de São Lourenço, entidade que viria a se responsabilizar por toda a manutenção e operação dos equipamentos implantados na Riviera.
O primeiro prédio – o Riviera Flat -, no módulo 3, veio em 1983 e foi um desafio porque, nesta época, os agentes financeiros custavam a acreditar neste investimento. Tendo como garantia o nome da Sobloco, o Riviera Flat começou a ser levantado. Na praia deserta, a placa instalada junto ao edifício solitário era uma profecia, mas poucos acreditaram nela. “Aqui está sendo criado um modelo de urbanização”, dizia o painel. Foi difícil vender as primeiras unidades e só os compradores com espírito pioneiro deixaram-se seduzir. A ele seguiu-se o Edifício Sunset, também no módulo 3 – Caravelas e, um pouco mais tarde dezenas de outros prédios de diversas incorporadoras e construtoras.

Aos poucos foi crescendo também o número de casas em construção. Ao mesmo tempo incentivava-se a instalação do comércio no local. O supermercado da Riviera foi inaugurado em maio de 1986, juntamente o com o Auto Posto da Riviera de São Lourenço. O restaurante junto ao stand de vendas começou suas atividades no final de 1985.

O primeiro segmento do Riviera Shopping foi inaugurado em janeiro de 1991, representando um importante passo no desenvolvimento da Riviera. Enfim, planejando desde as macro soluções até a compra de mudas de coqueiros da Bahia e colocando o interesse comum sempre à frente: é assim que a Sobloco vem conduzindo os trabalhos.

Em 2000 o Sistema de Gestão Ambiental da Riviera foi certificado com a Norma ISO 14001, tornando a Riviera o primeiro projeto de desenvolvimento urbano a receber este reconhecimento em todo o mundo.

Hoje a Riviera tem cerca de 60% de sua área ocupada: são mais de 11 mil unidades habitacionais, distribuídas entre 2000 casas e 200 edifícios entre seis e dez pavimentos, um segmento do Riviera Shopping Center em funcionamento com 50 lojas, escolas, consultórios médico e dentário, uma completa infra-estrutura de saneamento básico, além da Associação dos Amigos da Riviera de São Lourenço, entidade sem fins lucrativos que, com mais de 500 funcionários, representa a maior empresa do município de Bertioga.

Quem conheceu a Riviera no início dos anos 80 se admira com seu desenvolvimento, e reconhece neste empreendimento um patrimônio para todo o Brasil.

Fonte: Riviera de São Lourenço – ontem, hoje…registros


Ponte sobre o rio Itapanhaú, Bertioga










      

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