09/07/2019

SÃO VICENTE ERA UM JARDIM


Incluindo: 

SÃO VICENTE PRIMITIVA E PEQUENINA (Costa e Silva Sobrinho)

HISTÒRIAS DE SEUS EVARISTO



Centro e Praça  22 de Janeiro em 1922 a partir do Morro dos Barbosas.. Imagem cedida ao site Novo Milênio pelo historiador santista Waldir Rueda.


Wilson Verta (1936) - Victor Lopes Veleije (1937)
Osvaldo Lescreck Filho (1939)- Júlio Vasques Filho (1938)
Reinaldo Machado (1934)- Antônio Lima de Andrade (1934) 


Relatado por um grupo de amigos que viveram na infância o período dos anos 30/50, e a adolescência de 50/70, de um início de um tempo que não participavam das dificuldades dos seus progenitores e da cidade, onde cada família tinha a sua particularidade, e os olhos voltados a inocência de uma criança. Não poderíamos deixar de repassar estes momentos 

OS ANOS 1930/1950 
Não poderíamos deixar de repassar estes momentos aos descendentes daquela comunidade e aos atuais vicentinos de sangue ou adoção que desconhecem esses momentos maravilhosos, para que gravem em seus corações, inclusive em um período de 1941/1945 da 2ª Guerra Mundial, tenso e de desabastecimento, porém sem alterar o bem viver da família e vizinhos da tranquilidade da nossa querida São Vicente. 

RIQUEZA DA ÉPOCA 
São Vicente estava atrelada aos tempos áureos da cidade de Santos, onde ficava o maior porto exportador de café, que era a riqueza produtiva do país, denominado “ouro verde”. Consequentemente, com as atividades econômicas fortalecidas, surgiram muitas mansões e palacetes dos representantes considerados magnatas das exportadoras, embaixadas e mesmos fazendeiros (Café), que procuravam residir em nossa cidade devido às belezas das praias, e do sossego de uma cidade tranquila e pacata. 

BONDES ELÉTRICOS 
Mudanças na Ilha de São Vicente, com a introdução e construção das linhas de bondes pela companhia City, empresa inglesa que mantinha o monopólio eletricidade, ligando Santos e São Vicente, através das linhas 1, 2, 13 e 22, dando origem ao desenvolvimento turístico e econômico da nossa cidade. Os bondes ligavam os extremos da ilha de São Vicente através das linhas 1, 2, 13 e 22.A linha 1 seguia pelo Matadouto, bairro Santa Maria; As linhas 2,13 e 22 transitavam pela Praia. O bonde 22 era o único que ia até o final da av. Capitão Mor Aguiar, Porto Guamium e retornava para a Estação de de Bondes, que ficava entre as Ruas Jacob Emerich e Frei Gaspar, quase divisa com a Praça Barão do Rio Branco. 
A Praça Barão do Rio Branco não atingia a rua Jacob Emerich. Existia um prédio da Cia. City, que integrava o conjunto da Estação de Bondes e reduzia a Praça e a tornava irregular. O Prefeito Polydoro de Oliveira Bittencourt desapropriou o imóvel e tornou a praça mais ampla. 

PUJANÇA DA CIDADE 
São Vicente era considerada uma cidade de rara beleza, pelas suas praias, ilha, baía do Gonzaguinha e contorno do Mar Pequeno. Outro atrativo era a Biquinha de Anchieta, ponto de lazer e relaxamento onde as famílias, inclusive da vizinha cidade de Santos, traziam as crianças para comerem doces caseiros, que eram famosos, e brincarem com as pombinhas, onde mais tarde construíram um Pombal Supenso para acomodá-las (um tempo em que as “pombinhas” não eram consideradas transmissoras de doenças). 

MANSÕES E PALACETES 
Única mansão preservada desse período é a que pertencia a Kurt Gustav von Pritzelwitz, um conceituado gerente da firma Theodor Wille & Cia. Ltda, onde atualmente está localizado o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente- IHGSV. E na mansão que existia defronte a Prefeitura somente restam duas palmeiras do tipo imperial , que o Shopping Brisamar conservou de frente à rua Jacob Emerich. Infelizmente, as demais foram demolidas, inclusive prédios históricos como as residências de Martim Afonso de Souza e Benedicto Calixto e tantos outros. 
O casarão da família de Ivo Roma Nóvoa (Jornalista/Chefe agência AT da cidade), hoje existe ao lado de um edifício, foi preservado, onde está instalada a Diretoria de Ensino, localizada na rua João Ramalho, atrás do IHGSV. 

OS CLUBES FREQUENTADOS PELA ELITE 
CLUBE HÍPICO, frequentado para reuniões esportivas e das famílias, que tinha a sua sede na Avenida Antonio Emmerich. Hoje transformado em um conglomerado comercial. 
GOLF CLUBE DE SANTOS/SÃO VICENTE, também frequentado para reuniões esportivas e familiar e a sua sede ainda está em atividade, porém com menor intensidade, localizada entre a Vila Ferroviária; Jardim Nosso Lar e Campo Belo, todos no bairro do Catiapoã. 
CASSINO ILHA PORCHAT 
Que teve seus áureos tempos de jogos e luxo, atualmente sede do ILHA PORCHAT CLUBE, localizada na Ilha Porchat. 
JOCKEY CLUBE DE SÃO VICENTE 
Conhecida como Pista Prateada, pela sua bela iluminação noturna, surgiu nos meados de 1950 com o loteamento do atual bairro Jockey Clube e complemento do Parque São Vicente, pela família de Fábio e Armando Bei. 

O BAIRRO DE PRAIA GRANDE 
Os bairros eram de baixa densidade populacional e se limitavam a Ilha de São Vicente. 
Bairros localizados na área continental Lado Mar, antes da emancipação, hoje cidade de Praia Grande. No Canto do Forte existia um belo recanto e os moradores e turistas aguardavam a retirada de rede de pesca, que era puxada por bois.. Um dos desbravadores de Praia Grande foi o senhor Heitor Sanchez, que loteou os Jardins Guinle, Matilde e Guilhermina e inaugurou o famoso Restaurante Lagosta. Família radicada e teve como genro Osvaldo Toschi que se tornou vereador representante daquela bela localidade. No Boqueirão da Praia Grande, esquina com a praia, existia a conhecida Cantina do Vitorino; Bar e Mercearia do Pinheiros; o conhecido senhor apelidado de Açúcar, que era Presidente do E.C.Flamengo e pai do Rubens Sales, ex-profissional de futebol. E no bairro Solemar um morador muito conhecido chamado Júlio Secco de Carvalho, presidente do E.C. Solemar. Personalidades. Consta que Oscar Niemeyer, arquiteto de projeção internacional, e que mais tarde projetou Brasília no tempo de Juscelino Kubtscheck, possuía uma casa de veraneio, a qual colocava à disposição dos seus arquitetos para se concentrarem em projetos arquitetônicos; também o famoso artista cômico chamado Mazzaropi e muitas outras personalidades. 

Praia Grande em 1945. Acervo: Claudio Sterque.


VILA SAMARITÁ 
Na área continental do Lado Serra, ficava a Vila Samaritá, região conhecida pelas minerações de areia branca destinada às indústrias de vidro; e também um local que possuía um capinzal onde tinha muitos passarinhos tipo canários e coleirinhas; O desbravador da época chamava-se Armindo Ramos, que loteou a Vila Samaritá e tinha uma mineração de areia branca; e posteriormente seu filho Armindo Ramos Filho, que se casou com a professora Tereza, filha do coletor estadual, senhor Olegário. Em Samaritá ficava o entroncamento da linha férrea onde separava o lado Praia sentido Juquiá; e do lado Serra do Mar sentido São Paulo, via paradas Cipó e Gaspar Ricardo. 

RISCOS DECORRENTES DA MARÉ ALTA E CHUVAS 
Não existia rodovia e os transportes eram realizados por via férrea através dos trens de passageiros e cargas. Era uma aventura chegar de automóvel ou caminhão até a cidade de Itanhaém, pois o único acesso seria pelas praias durante as marés baixas; e quando chovia havia o risco da formação de córregos em toda extensão da Praia Grande, pois se parassem na areia da praia os carros seriam sugados. Os caiçaras ficavam na espreita para empurrar e ganhar uns trocados, caso contrário acabavam afundado na areia e seria perda total. No lado da Serra do Mar, no bairro Samaritá, ficava o entroncamento das linhas férreas Juquiá- Mairinque. 

SÍNTESE DA CIDADE 
Veículos automotivos contavam-se nos dedos. Inclusive, era raridade na época construções de garagens nas casas. As ruas estavam iniciando calçamentos com paralepipedos. Rua XV de Novembro, que liga via férrea (Catiapoã) até a Igreja da Matriz, onde ainda existe a conhecida Padaria Rio Branco, que pertencia ao português Cruz Leite. Uma das filhas casou com José Teixeira Mattoso. Em frente morava e tinha armazém o português Gabriel Lopes Pereira, pai do Gabriel que foi o Fundador e Diretor do Horto Municipal; Na foto aparecem duas das suas filhas olhando os calceteiros e provavelmente por curiosidade quando tiravam a foto. Ao lado moravam as famílias de Reynaldo Saboya, Desidério e o seu pai tocava trombone na bandinha da cidade, mais adiante farmácia do senhor LAPENNA; e adiante Antonio Militão de Azevedo; e do outro lado vizinho a padaria o Orfanato São Gabriel, na sequência a loja distribuidora de leite, onde morava o Luiz Carlos apelidado de “Leiterinho”;


No sentido Matriz e Mercado Municipal, tinha a loja do Correio; Lavanderia Quilombo e a Farmácia do Sebastião. 
Lojas existentes, exceto do Correio, que foi demolida. 

Na esquina com a rua Jacob Emmerich existia o casarão da família Horneaux de Moura (Dr. Olavo, médico, Jaime ex-vereador e Padre Paulo Horneux de Moura), hoje um posto de gasolina. 

Em frente, também de esquina, a Casa Prandini, e do outro lado a casa que morava o pároco Cônego Teófilo Fraile, que algumas vezes deixava propositalmente o portão aberto para as crianças pegarem frutos das árvores que ficavam em frente à casa; E mais.. Sempre que se dirigia para a Matriz com as vestes de padre, as crianças pegavam sua mão, beijavam e pediam a benção; E ele amorosamente pegava do bolso um santinho e as presenteava. 

Na Praça João Pessoa, onde se localiza a Matriz e o Mercado Municipal, existia o Seminário São José, que era administrado pelo Monsenhor Pestana (Infelizmente foi demolido), e que muitos desconhecem. 

Rua XV ao lado do casarão dos Horneaux, em um porão de uma das casas geminadas ensaiava o pequeno grupo da Banda Vicentina, onde o pai do Desidério tocava trombone. 

Defronte ao casarão que mais tarde transformou-se no “Colégio Nações Unidas” do professor Carlinhos; Nesta rua residiram as famílias de Osvaldo Lescreck; dentista Dr. Pires Nobre; Jônio Garibaldi Garcia, que casou com a filha do Dr. Pires Nobre; senhor Nicolino Bozzela, pai e avô do ex-vereador Bozella Filho e Neto; Família Moura, de Mauricy, Maurício e Leco; Família Retz, pais da Maria de Lourdes, mãe da Tânia e prima da Raquel Retz; José Lino Cavaleiro que tinha a sua carroça de verduras; E posteriormente Geraldo Volpe, ex- vereador e Haroldo Ludovico, procurador do estado, entre outros. 

COSTUMES DA ÉPOCA 
Era comum os vizinhos das ruas do centro e mesmo dos bairros, colocarem cadeira nas calçadas para conversarem. E geralmente a conversa durante a semana ia até a hora da ... Novela do rádio, na época o sucesso do momento era... “O Direito de Nascer”, e neste horário as senhoras largavam tudo e corriam para ouvirem no rádio de válvulas. E quando terminava, retornavam para comentar e continuar o bate-papo, e nos finais de semana ficavam até altas horas, principalmente no verão, pois não existiam ar condicionado e ventiladores, e o negócio era abanar com lenço ou leque. Desta aproximação entre vizinhos reinava a cordialidade e solidariedade, fosse para emprestar uma xícara de sal ou mesmo um auxilio em caso de doença. 

FESTAS JUNINAS 
Os vizinhos se reuniam para fazer cordão de bandeirinhas; balões (não existia a refinaria e o céu ficava florido com tantos balões, inclusive com lanternas); fogueiras e guloseimas de batata-doce assada na fogueira, bolo de fubá, Quentão e Vinho quente; Água com groselha para as crianças, etc. Entradas de vielas como a Santo Antonio da Rua Henrique Ablas, próximo da casa onde morou o ex-prefeito José Monteiro, bem lembrado pelo Reinaldo Machado que morou no local; viela da rua Marquês de São Vicente entre a praça João Pessoa (Matriz) e rua Visconde Tamandaré, onde morava Eliezer Lopes Fernandes, pai do Soneca, Mengalvio e Célia, depois casada com Olavo. E outras ruas do centro e dos bairros. 

HISTÓRIAS QUE MARCARAM UM TEMPO 
Rua João Ramalho, pelo fato de ser passagem obrigatória dos que desciam dos bondes para chegar a estação de trem, onde na esquina da rua campos Sales próxima à estação existia o BAR ZÉ QUE DANÇA, ponto praticamente obrigatório de quem queria fazer suas refeições ou pernoitar. No andar superior tinha um grande salão com camas arrumadas. Neste trecho entre o Jardim da City e Estação residiam a família Cecchi que tinha uma transportadora de areia branca e mantinha o Clube S.P.R.; Teixeira pais do Delfin, Nelson e Toninho; Major Favalli; Marinho e Orieta Verta, pais do Wilson, Zinho (Gabriel Verta) e Iracema; Família Rossi pais do Darcio, Espartero, Dinah e outro irmão. 

Rua Ipiranga com Benjamim Constante, onde se achava estabelecido o Depósito de Construção Neves, hoje um posto de gasolina, em frente existia um terreno baldio onde as crianças jogavam bola e o Padre, após o jogo, levava a criançada para a casa dos pais do Zé Macarrão e Funato, que cedia a sala da frente para ensinar catecismo, pois tratava de uma família religiosa. 

SIRENE DA FÁBRICA DE VIDROS 
Acionada durante a semana, ás 7:00 entrada dos funcionários e 11:00 horas, horário de almoço; E as 13:00 horas retorno e ás 17:00 horas o encerramento do expediente. Onde estivesse, fosse na Vila Melo, Parque Bitarú, Parque SãoVicente ou Gonzaguinha, todos ouviam a Sirene da Fábrica de Vidros, um tempo de uma cidade pequena e do silêncio pela inexistência de autos e caminhões. Tinham mamães que recomendavam os filhos se recolherem das ruas (areia) para tomar banho. Ou seja, a população acompanhava as horas pela Sirene. 

TRANQUILIDADE DA CIDADE 
Era costume das crianças brincarem nas ruas de areia de esconde-esconde, garrafão, cobra cega, bolinha de gude, tacos e tantos outros. Crianças não andavam sozinhas nas ruas após as 22:00 horas. Existiam os Inspecdores de Menores (Inspetores com “C”) e os pais diziam às crianças que durante a noite aparecia o Homem da Capa Preta, que pegava crianças, para colocar medo nas crianças não andarem sozinhas tarde da noite. A iluminação, principalmente nas vias públicas eram precárias; Mas em compensação não existia violência; e quando aparecia algum caso era um comentário geral. Andava-se nas ruas tranquilamente. 

LEITEIROS AMBULANTES 
Prova disso, eram os leiteiros, que colocavam nas portas das casas o litro de leite e pães, pois naquela época existiam entregadores com carroças puxados à mão, as embalagens eram de vidro e ninguém mexia. A Cadeia Pública, era no mesmo local, atrás do Hospital São José, rua João Ramalho com a rua XV, uma construção pequena com uma escadaria externa onde ficavam as celas e os policiais eram conhecidos, Cabo Garrido (Pai do Antonio Garrido Filho), Pisca-Pisca, Moura e o investigador Moncaio, eram poucos em uma cidade tranquila e pacata onde todos se conheciam. A Delegacia ficava na Rua Ipiranga em um casarão, e o escrivão chamava-se Antonio Lua Filho, era muito conhecido na cidade. 

FARMACÊUTICOS ERAM OS GUARDIÕES DO POVO 
Um tempo que a população olhavam as farmácias de outra forma, e que os farmacéuticos eram procurados pela população quando se tratava de doenças corriqueiras. Os conhecidos da cidade chamavam-se Braga, Laroca, Sebastião, Lapena, Lima, Hernandes, Paulo e outros; Geralmente pequenos sintomas onde mediam pressão e temperaturas, receitavam remédios para dores, gripes e outros, aplicavam injeções como eucalipetina, para gripes e pulmol, para proteger os pulmões. Não tinha tantas variedades e não existia penicelina (antibiótco). 

MÉDICOS DA FAMILIA E PARTEIRAS 
Eram poucos e dependendo da gravidade eram chamados nas residências como “médico da família”. Alguns após consulta tomavam até café e batiam papo. As parteiras eram chamadas para fazerem o parto nas residências e todas eram conhecidas. 

ESTOURO DA BOIADA 
Existia na cidade um local chamado Mangueirão, localizado na Rua Martins Fontes próximo ao complemento da rua XV (lado Catiapoã), após linha de trem, e que servia de Páteo de Descanso onde ficavam os bois, e durante a madrugada os boiadeiros Octavianho e Flávio os levavam em manada (galope) pela Linha 1, Av. Antonio Emerich, até o Matadouro de Santos. Os moleques faziam uma farra, alguns até se atreviam subir na garupa dos bois agarrados nos mourões do cercado; Passavam correndo dentro do Magueirão para mostrar coragem (coisa de criança). Algumas vezes no desembarcar os bois que passavam de um vagão para outro, um ou outro ficava preso entre os vagões, caía fora e desembestavam pela cidade deixando todo mundo em alvoroço inclusive senhoras, e que os boiadeiros com muita pericia laçavam e levavam de volta para o Mangueirão. Teve o caso de um dos bois fugir no trajeto para o matadouro e cair no canal da cidade vizinha de Santos, em meados de 1968. Um trabalho de muita pericia e quando os moleques avistavam a boiada vinda a galope pela Avenida Antonio Emerich rumo ao Matadouro, sempre bem tarde da noite, tratavam de subir nos muros para apreciar. Os boiadeiros eram conhecidos e tinham muita pericia para tocar a manada, pois o caminho era longo e os bois em sua maioria estavam exaustos... E estressados da longa viagem, pois tinha como origem o estado de Mato Grosso. 

COMÉRCIO LIMITADO 
Um tempo que não existiam atacadistas e supermercados, e os poucos se sujeitavam a serem comerciantes, de bar ou mercearia, que os imigrantes portugueses enfrentaram com muita paciência. Festas de casamento , aniversários ou grandes festas, os moradores procuravam o depósito de bebidas da Antártica (Único) que tinha como gerente o Alcides, filho mais velho da família; Onde estava estabelecido e residia na rua XV de Novembro com a Rua Frei Gaspar, defronte Hospital São José (atualmente lojas e salas). 

Mais adiante na mesma Rua XV esquina da Rua João Ramalho ficava o Bar e Mercearia do casal de portuguêses Carlos e Elmira, onde as famílias da redondeza faziam suas compras anotadas nas conhecidas “cadernetas” para pagamento no final do mês; Os bons pagadores eram presenteados com uma garrafa de vinho ou uma lata de doce. Esta mercearia ficava defronte a Cadeia Velha, onde o seu sobrinho Ulisses após o falecimento dos tios assumiu a Mercearia, e mais tarde comprou as residências defronte e lado da Cadeia, onde residiam os senhores Pompeo, Amorim, Moacir Dias (filho onde seu pai fez uma vila abrindo a rua São Luiz); Dentista Dr. José Meireles e na esquina mercearia da família Furegato, onde atualmente esta estabelecida o supermercado Ao Fiel Barateiro. Um verdureiro que vendia legumes e frutas em carroça e conhecido nas imediações do centro da cidade chamava-se Lino, nome completo José Adelino Cavalheiro, que com a sua buzina de mão tocava nas frentes das residências dando sinal da sua presença. E também um vendedor de roupas chamado senhor Paschoal Gezbien. 
Todos se conheciam e confiavam à venda nas famosas cadernetas, onde existia respeito e gentilezas. Mais tarde montou a sua loja 

CLUBES DA CIDADE 

SÃO VICENTE PRAIA CLUBE tinha sua pequena sede com a quadra de esportes em um terreno na esquina da rua Ipiranga com Jacob Emerich, onde jogaram Nelson de Barros, apelido de Titio, Pecente, Leôncio Juan Farinelli e muitos outros inclusive jogadoras residentes nas proximidades; Depois transferido para o bairro do Guamium, onde construiu uma bela sede defronte av. Capitão Mór Aguiar, hoje vizinho da sede do Corpo de Bombeiros, local onde muitos saudosistas vão recordar os bailinhos aos sábados. 
CLUBE BEIRA MAR tinha sua sede em uma casa de frente para a rua XV de Novembro, quadra da Estação de Bonde e defronte ao Bazar Ideal, do senhor José Fernandes, onde as crianças pulavam o carnaval fantasiado. Na sala da frente, cantando as marchinhas “Mamãe eu quero mamar; Jardineira” e outras daquela época. Mais tarde compraram o prédio de uma pensão na esquina com a rua Benjamim Constant onde construíram o edifício mais alto da cidade. Construíram mais tarde uma bela sede recreativa no bairro do Japuí, lado continente após a Ponte Pênsil. 
CLUBE DE REGATAS TUMIARÚ, clube elitizado da cidade de onde saíram grandes jogadores de seleção como Wlamir Marques, conhecido como Alemão, filho do dentista dr. Osvaldo Marques;  Robles Lucchesi, Noquinha, Heleninha, Zilá e muitos outros que inclusive honraram nossa seleção de basquete. Ainda mantém uma bela sede defronte a Praça Cel. Lopes (Praça da Ligth, hoje Correio), com quadra de esportes e recreação ao lado com a Rua Benjamim Constante, onde nos fundos confrontava com o E.C.BEIRA MAR. Também tem uma sede náutica no Japui, de onde saíram excelentes nadadores e remadores de regatas; Inclusive muita gente aprendeu a nadar com o conhecido treinador Zequinha, ao lado do trapiche de acesso aos barcos. Atualmente o CR Tumiaru e o EC Beira Mar, são vizinhos com na avenida Tupiniquins, em frente ao Mar Pequeno, onde nas proximidades residiam no sopé do morro Antonio Buena Capoluto (Ex-vereador e Presidente da Câmara) e como vizinho Dr. Alberto Lopes dos Santos (ex-vereador), defronte ao Porto das Naus. 

CLUBE ATLÂNTICO VICENTINO, conhecido como TRANQUINHO, e todos os fins de semana patrocinava “Bailinhos para os Jovens”, inclusive foi palco da coroação das Mais Belas Banhistas da Cidade, (inclusive da Princesa e Rainha do Bangú F.C). Com sede na Rua João Ramalho esquina com a rua Tibiriçá, hoje Edifício Paladium. . Imagem; Poliantéia Vicentina, 1982.  





SÃO VICENTE ATLETICO CLUBE 
Único clube da cidade com estádio e que tinha como personagens fundadores Mansueto Pierotti (âncora do clube), Pedro Spilotros, Pedro Pacheco, Liezer Lopes Fernandes e muitos outros. Iniciou como FEITIÇO ATLÉTICO CLUBE e em 1950 o presidente Mansueto propôs mudar para São Vicente A. C. 

PULANDO CARNAVAL NOS SALÕES 
Um tempo que os diretores (Leôncio Juan Farinelli era um deles) circulavam pelo salão para manter a ordem e todos pulavam e se divertiam com respeito, inclusive uma tranquilidade para as famílias que participavam das MESAS a volta do salão. 

BAIANAS SEM TABULEIRO 
O SÃO VICENTE A.C. que em 1936 iniciou o desfile das “Baiana Sem Tabulereiro” capitaneado pelos irmãos Murias, Irmãos Sbavratti (Natalino e Alberto conhecido por Babá e Totó Ferrugem) e outros. O porta-estandarte era o Francisco Serrano e depois Lauro Rocha. Com o falecimento do Babá o desfile passou a ser chamar...“Ba-Baianas Sem Tabuleiro”. Desfilavam somente homens travestidos de baianas com fantasias de “papelote crepon”, pois no final do desfile quase todos mergulhavam na praia do Gonzaguinha. Saiam da sede desfilando pela contramão subindo a rua Marquês de São Vicente, XV de Novembro e desciam a rua Frei Gaspar passando pela praça Barão do Rio Branco, Prefeitura e Mansão (Hoje Casa do Barão) até chegar no posto de salvamento do Gonzaguinha, onde quase todos mergulhavam no mar com a fantasia de crepon. Descendo a Rua Frei Gaspar em frente a mansão de um gerente da firma Theodor Wille & Cia. (exportadora de café), atualmente Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente. 
RECREAÇÃO DOS MORADORES 
Nos sábados as famílias se dirigiam com as crianças para a Praça Barão do Rio Branco, ponto central da cidade, onde se aglomeravam para assistirem no alto do Edifício Zufo onde tinha no topo uma tela de cinema da empresa Royal de Publicidades, onde passava filmes e todos assistiam, ou seja, um tempo que não existia TV e era uma distração gratuita. Os jovens faziam “tour” entre a Praça Barão descendo a rua Martim Afonso e a Praça 22 de Janeiro e Biquinha. Do outro lado seguiam a Rua Martim Afonso até a praça Cel. Lopes (Light) onde tinha o Coreto e a Banda de São Vicente tocava as suas marchinhas. Locais agradáveis onde os jovens passeavam e as famílias com as crianças se acomodavam nos bancos dos jardins que era a Cel. Lopes, administrada pela Light conservando os bancos, alamedas e jardins: Inclusive a Praça era cercada com madeiras trabalhadas e pintadas com horário de ocupação (dia de semana até as 22:00 horas) 
ESCOLAS E DESFILES 
A escola com mais destaque da cidade era o conhecido Grupão, Escola do Povo curso primário do Estado. O Ginásio Martim Afonso de Souza; o colégio particular Externato São Luiz. 
ESCOLA DO POVO (GRUPÃO) 
Localizado na Praça Cel. Lopes, hoje conhecida como Praça do Correiro, chamada de Escola do Povo, onde teve os diretores professores Leonardo, Valdomiro e Manoel Pio de Freitas Queiroz (1949); Nesta escola primaria estudaram Lescreck, Verta, Tércio Garcia (pai do ex-prefeito); Miguel Papai, Borba, Emídio, Célio, Borges, Pinheirinho, Chiquinho, Aldo Ramaciotti, Rubens Sales e muitos outros... Personalidades que passaram pelo Grupão como Orlando Intrieri, ex-prefeito e posteriormente Márcio França, atual Vice-Governador de São Paulo. 
EXTERNATO SÃO LUIZ 
Teve as suas atividades de educação iniciadas em uma residência da Rua Jacob Emmerich defronte a entrada da Estação de Bondes (bem lembrado por Antônio Lima); Transferiu-se para um casarão onde era a sede do E.C.UNIÃO na rua Martim Afonso esquina com a rua João Ramalho. E por último uma casa defronte à Praça Cel. Lopes, hoje praça do correio, e diretora proprietária a senhora Júlia Nogueira de Almeida, onde estudou Lauricy Lucchesi, que se formou em 1953 e em 1959 casou-se com o Wilson Verta. 


Desfile cívico do Externato São Luiz, na Praça Cel. Lopes esquina com João Ramalho. Ao fundo o prédio do CR Tumiaru. Antes , na esquina da rua Expedicionários Vicentinos, a casa que foi do engenheiro João Camilo onde hoje está o Bradesco. São Vicente de Outrora. 

GINÁSIO MARTIM AFONSO DE SOUZA 
Localizado na Rua José Bonifácio, próximo da praia do Gonzaguinha, colégio estadual, porém com muitos estudantes da cidade vizinha (Santos). 
PRÓXIMO DOS ANOS 50 
Em direção ao bairro VILA MELO... 
A Vila Melo tinha a mercearia da família de Domingos Sierra, as compras eram entregues pelo carroceiro Feijó, sempre acompanhado do cão que atendia por Goés; Alfaiataria do Nabor; Bomba de Gasolina de rua na esquina da Praça 1º de Maio do Brasileiro ( de apelido de Antônio); Farmácia Santa Terezinha, do senhor Nelson depois Paulo. 
LOJA MAÇÔNICA DUQUE DE CAXIAS 
O inicio se deu por intermédio do Manoel Vileije Omos, que era participante da Loja XV de Novembro, de Santos, e junto com amigos resolveram fundar uma loja maçônica da cidade e que recebeu o nome de Duque de Caxias. No inicio se reunia na sua residência na avenida Antônio Emerich nº 403, onde sua esposa Alice levava os filhos menores (Victor, Vilma e Vital) para passear na residência da sua irmã Ana, esposa de Antonio Sierra que residia na mesma avenida nº 560. E na sala da frente com os amigos Edson Telles de Azevedo; Gabriel Lopes; José Macia; Cremiro Azevedo; Moacyr de Andrade Lima, Clóvis Gonçalves, Gal.. J Joaquim da Silveira Vargão, Paulo Lie se reuniam. Com o crescimento da entidade José Macia, pai do Macia e José Macia Filho (jogador Pepe), cedeu o galpão que tinha nos fundos da sua mercearia, e com isso deu inicio definitivo da Loja. Mais tarde com o crescimento da loja e por iniciativa do Sr. Moacyr Andrade de Lima, o grupo foi transferido para o Cine São Jorge, de sua propriedade, localizado na Rua Frei Gaspar (Beira Mar). Em seguida compraram uma casa na avenida Capitão Mór Aguiar e construíram nos fundos um galpão com churrasqueira e zeladoria. Após o falecimento de Manoel Veleije, o seu afilhado maçônico Mário Diegues durante sua gestão construiu, o Templo Maçônico Duque de Caxias, onde se acha instalado até hoje. 


BAILE GAFIEIRA
Na Praça 1º de maio existia o Supermercado do Sesi e o Cine Petrópolis, que foi demolido e construíram um prédio de apartamentos. Na Avenida Prefeito José Monteiro morava o conhecido Pedro Piche, que trabalhava como contínuo da Câmara Municipal, pai do Abelardo, que foi presidente da Federação Nacional dos Estivadores, e aos sábados promovia em sua casa um “Baile- Gafieira”, pois era um exímio dançarino e não admitia bagunça ou desrespeito. Nesta mesma avenida, antes da Irmandade da Santa Casa lotear o Jardim Independência, era o campo do Paulistano onde tinha dois bons jogadores, irmãos Rubens e Edmundo. Um tempo que gás encanado somente tinha no centro e não existia venda em botijões, o que imperava eram as carvoarias que se destacavam e as entregas eram realizadas por carroças, a granel. Profissões de alfaiates, sapateiros, ourives, relojoieiros,músicos e outras atividades profissionais manuais eram consideradas “profissões artes”. 
RETORNANDO AOS ANOS 40 

PONTO DE ENCONTRO 
Era na Praça Barão do Rio Branco e Edifício Zufo . E os jovens aproveitavam para fazer o “tour” descendo a rua Martim Afonso, passando pela Praça 22 de Janeiro até a Biquinha. Outro local muito procurado pelas famílias era a Praça da City. Enquanto as famílias se deliciavam com as músicas, as crianças brincavam pelas alamedas dos jardins bem cuidados. O “tour” quando descia a rua Martim Afonso passava pelo Casarão onde morou Benedicto Calixto, que era ocupada pelos seus descendentes, inclusive família de Maria Adilis, depois casada com Carlos Santos Amorim. E mais adiante, antes da Praça 22 de Janeiro, tinha de esquina o Bar Guapo, e a casa de Martim Afonso de Souza. Nesta mesma rua quase defronte o o casarão do Benedito Calixto, onde existia um enorme terreno armavam Circos, e em uma das apresentações o Silvio Santos, ainda jovem, se apresentou com o seu Macaquinho, que carregava no ombro. 
ATITUDE DE UM JOVEM DA ÉPOCA 
Há exatos 85 anos, um jovem enamorado de uma moça da cidade elaborou uma carta fazendo um pedido de licença ao futuro sogro para namorar, e que a transcrevemos mostrando como era o respeito dos jovens da época. 
São Vicente, 5/11/1934 
Nesta 
Ilmo. Snr. Mario (Nome presevado) 
Tomo a liberdade de dirigir-me a V.S. pedindo vênia para uma pretensão, o qual deveria ser feito verbalmente. Porem como é a primeira vez que faço um pedido desta natureza, aproveito-me, como é natural, possuído de certa timidez minha por isso que formulo a presente. 
Como V.S. já deve estar ciente, há alguns mezes que falo com sua filha, mas sem a prévia autorização de V.S. e como julgo isso não seja de sua inteira satisfação, não obstante ter notado a sua boa attenção para comigo, peço por ora o seu consentimento para falar com ella, pois por enquanto não posso pretender mais em vista de estar, a bem dizer começando a vida. 
Convém frizar que pertenço a uma família modesta e sou um simples auxiliar de comercio, porem tenho vontade de vencer na vida, ei de esforçar-me para consegui-lo, com o fim de um dia obter o que mais almejo, que é ser feliz e fazer a felicidade de sua filha para quem dispenso as melhores intenções possíveis. 
Esperando a sua decisão qual será acatada inteiramente, aproveito a oportunidade para apresentar-lhe os mais sinceros votos de felicidades em companhia de sua exma esposa e família. 
Respeitosamente, 
(nome preservado) 

GUAMIUM E PESCADORES 
Outro local atrativo da cidade era a rua Japão no PORTO DO GUAMIUM, onde ainda existem as garagens náuticas de propriedades do Hitiô, Matcha, hoje representado pelo filho Alfredo Tsuneo e outros pescadores artesanais como os irmãos Salvador e Angelo Verta, depois o filho Vicente, cunhado Jesus e o filho Zezinho e muitos outros, que tinham os seus sustentos dos peixes que pescavam nas redes e cerco que ficavam armados próximos aos manguesais, hoje infelizmente invadidos pelas palafitas e na área do manguezal está instalada a Favela do México 70. Também tinha a família Yamauiti, que mais tarde construíram uma fábrica de gelo e venda de pescados. 
ACONTECIMENTOS MARCANTES 
Um acontecimento que abalou a cidade de um funcionário do Correio (prédio demolido ao lado da LAVANDERIA QUILOMBO próximo a Igreja Matriz), que namorava uma moça da cidade e por uma questão de ciúmes foi assassinado por um outro rapaz e uma das “balas do revolver” ficou alojada na parede do Depósito de Construções” do senhor Alexandre Neves. O local virou atração principalmente nos finais de semana na hora do tour, onde as pessoas se aglomeravam para ver o “Buraco da Bala”, pois se tratava de um escândalo e fatalidade de um momento raro. Contando até parece conto de ficção!... 
FANTASMA DE UMA MULHER VESTIDA DE BRANCO” 
Um “causo” contado pelos moradores antigos e ocorrido no inicio da década de 30/40, na Praça 22 de Janeiro vizinha a Biquinha de Anchieta, quando mais parecia um vilarejo, e nos finais de semana já faziam “tour” entre a Praça Barão do Rio Branco e Biquinha. A iluminação dos logradouros públicos era precária e após as 22:00 horas a população se recolhia e a cidade ficava em um silêncio total. Os moradores da cidade não se atreviam a passar pela Praça 22 de Janeiro durante a madrugada, pois o comentário geral era que costumava aparecer o fantasma de uma mulher vestidade branco, que atravessava correndo pelo meio da praça e em seguida desaparecia. Este mistério perdurou muito tempo até, que dois moradores resolveram fazer escondidos uma prontidão durante algumas noites até que... Em uma noite de luar surge correndo pelo centro da praça o fantasma da dama de branco, que estava apavorando a cidade. Os dois moradores com as pernas trêmulas assistiam a uma distâncias, aproximada de 100 metros e favorecidos pelo luar resolveram ir até ao fim para esclarecer esse mistério, seguindo a distância quando a viram entrar em uma das poucas residências que existiam e lá ficaram até amanhecer para saber quem morava naquela casa, quando descobriram que o fantasma não passava de uma senhora sonâmbula que durante a madrugada, sem que ninguém da casa soubesse, atravessava correndo pelo meio da praça vestida de “penhoar” (camisola branca). 
Era costume dos moradores contarem “causos” no bate-papo da noite, onde alguns diziam que no final da rua Anita Costa subida do morro da Voturuá sentido morro da Nova Cintra (Uma passagem desconhecida por muita gente) existiam Lobisomens... 
ANOS 50/70 - ADOLESCÊNCIA 
Na década de 30/50 a estrada para São Paulo era chamada de Serra Velha ou Caminho do Mar; Em 1953 foi construída a Rodovia Anchieta, fator que deu origem às invasões na Serra e consequentemente nos manguesais, considerando que a mão-de-obra era de outros estados e quando concluída, sem opção e falta de fiscalização, invadiam e construíam casebres nas áreas do Estado (preservação) e terras da União (manguezal). 
Antes da construção da Via Anchieta era utilizada a Estrada Velha, e São Vicente era atendida pela empresa de de ônibus ÚTIL, que fazia ponto na rua Frei Gaspar defronte à Mercearia do João, ao lado Casa Paulistana. Depois com a construção da Anchieta, a empresa de ônibus chamava-se Expresso Brasileiro, com ponto na “Praça Barão”. 

PRAÇA BARÃO DO RIO BRANCO 


Considerada Marco Zero da história recente da cidade, onde desde 1941 existia a Casa Funerária do Matoso, que era casado com a filha do português José Cruz Leite da Padaria Rio Branco; depois vendeu a Roberto Rodrigues (Bibi), irmão de Jonas Rodrigues (ex-prefeito); A Casa Silva de ferragens e nos fundos (nº 48) morava o comerciante português Alberto Soares Martins, pai da Dalila Soares Martins, depois Melarato (casou-se com Valter Melarato) ex-vereador; e em 1948 fundou a Papelaria Cruzeiro (rua Frei Gaspar); Restaurante Transmontano, Adega Central de Mário Diegues, cunhado de José Fernandes, onde reuniam-se para jantar os maçons da Loja Duque de Caxias, no Bar do Amigo Campos, do José Campos: João Cachjian, hoje estabelecido Café Floresta, esquina com a rua Frei Gaspar: 
Casa Nico Presentes e do outro lado com a Rua Jacob Emmeric a Imobiliária Fiel, de Carlos H. Boucal em um casarão onde foi construído o Edifício Lascane, onde se instalou na esquina o Restaurante Itapura do Abrahão, hoje gerenciado pelas filhas Lourdes e Valéria. Do outro lado da esquina a loja do senhor Diogo Martins, pai do Rubens Martins, que jogou na Portuguesa Santista com Barbosinha e Zinho e depois Santos F. C.; Ao lado a loja do JahJah. Também na praça, entre outros tinha a loja Sandalha de Prata do senhor Pascoal e como gerente Pagani (Duque). 
Na outra esquina uma loja comercial que foi demolida. No local demolido o português senhor Alexandre Neves Teixeira construiu um prédio de dois andares onde mais tarde se instalou as Casas Pernambucanas e a Sapataria “A Veranista” do senhor Vaz Afonso e na parte superior além de salas comerciais, no 2º andar instalou-se a Câmara Municipal, antes instalado nos altos da Padaria Rio Branco. 
Do lado da Estação dos Bondes ficava o Bar do José Júlio onde residia nos fundos com esposa e filhos; Em frente tinha um terreno baldio que frequentemente se instalava os Circos Irmão Queirolo e Chic-Chic. 
Do outro lado da praça, de esquina ficava a Padaria Chic da família de Paulo Lie. Ao lado pela Rua Frei Gaspar a Barbearia Salão Rios, ponto de encontro dos políticos da cidade, onde trabalhavam os barbeiros Toninho, Geraldo, Alcides, Bigurrilho e Margarido (filho foi vereador). 
A outra esquina o Bar Esporte e do lado (frente a praça) a Casa Olimpia (esportivos) de Mario Lopes, mais tarde transferiu-se para Rua Martim Afonso ao lado do Cine Anchieta. 
Em seguida os irmãos Carlos e Leon Sarkissian, depois Ramez Lascane, que adquiriu o Jornal Vicentino do ex-vereador Rochinha. 

PRIMEIRO CINEMA DA CIDADE 

Cine Anchieta, de propriedade do senhor Moacyr Andrade Lima, depois se transformou no Cine Teatro Jagada. Num dos lados do cinema tinha um corredor para saída dos espectadores, também utilizado pelos moradores de uma vila de casas residenciais (particular) com frente para a rua XV de Novembro, onde morava Rubens Alves Simões, ex-vereador e sobrinho do Matoso; Casou-se com a Núbia filha do senhor Silvio Torre, gerente do Banco Moreira Sales; De um dos lados do cinema tinha o escritório de despachantes do Edmar Dias Bexiga, ex-vereador; Alfaiataria do Nicolino Simone também ex-vereador, e vizinho um casarão onde morava o senhor Moacir com a família (filhos: Juca, Lima, João e filhas). 
Em frente ao cinema existia o depósito de bebidas do senhor Alexandre Borges, pai do Fernando que trabalhava na Coletoria Federal, onde vendia estampilhas e mais tarde exator da Receita Federal de Santos. Nesta ocasião o coletor federal se chamava João de Deus Assis, o secretário Luiz de Vasconcelos, onde também trabalhou a senhora Efigênia que era muito conhecida na cidade e, mais tarde como office-boy Wilson Verta (1950/52). Na mesma rua Martim Afonso, próximo a Padaria Chic ficava a Relojoaria Tic Tac., dos irmãos Fausto e Fernando Figueiredo. Na parte superior o Escritório de Contabilidade Confiança do senhor Valdomiro, que se associou com Wilson Costa Pinto, que antes tinha um escritório adquirido de Salvador Curci com escritório na garagem fundos da mansão do Horneaux, vizinho a casa do senhor Jarossi, gerente de banco e sua irmã Hermelinda, professora, onde também trabalhou Reinaldo Pedra, depois sargento do Exército Brasileiro e o menino Wilson Verta antes de ser convidado pelo coletor federal para ser office-boy. 

BAR SELETO 
Continuando pela Rua Martim Afonso ao lado do Tic Tac, localizava-se o Bar Seleto, ponto de reunião dos jovens e no inicio como proprietário o senhor Luiz, depois Manoel Cruz Leite (Maneco) com o gerenciamento do seu filho conhecido Fuminho (na verdade não fumava), onde ao lado tinha um enorme galpão com mesas de snooker, mais conhecido de Bilhar (sinuca) onde reunia os jovens da cidade e tinha exímios jogadores. Nesta época existiam uns valentões chamados Carlinhos e Tedesco, possuidores de porte atlético e exibicionistas, mas não eram maus e violentos, simplesmente fanfarrões. 
Em frente ao Bar Seleto ficavam as sorveterias conhecidas na baixada que se chamavam São Paulo e Paulista, de propriedade do senhor Belchior e do senhor Luiz, pai do Lico, que era conhecido como eximo jogador de futebol de várzea. Estas sorveterias eram conhecidas pela confecção de sorvetes com frutas naturais, e aos sábados lotavam com frequentadores de São Paulo e principalmente de Santos, em seguida dirigiam-se a Biquinha onde vendiam doces caseiros, e o Pombal para as crianças darem pipocas e brincar com as pombinhas (Neste tempo as pombinhas não eram discriminadas por causa de contaminação de doenças). 

ROTEIRO DO CENTRO 
Retornando para a Praça do Grupão, achava-se estabelecido a Papelaria Pergaminho, do Joaquim Figueiredo e esquina residência do médico Dr. Alcides de Araújo, depois loja Pata-Pata. Do lado oposto com a rua João Ramalho a Alfaiataria Canalonga, onde tinha um cliente ilustre chamado Edson Arantes do Nascimento, nosso PELÉ, que fazia os seus ternos; e na esquina com rua Martim Afonso a Padaria bandeirantes, antes um bar da família Pinto. 
A família Andrade Lima, donos do Cine Anchieta, também inauguraram os cinemas São Jorge, no final da Rua Frei Gaspar/Beira Mar; Depois Cine Maracanã, na rua Campos Sales e no centro à rua Frei Gaspar o Cine Rosário, lado do posto de gasolina do pai do Del Vechio (jogador de futebol e cunhado do Nico); Onde tinha como vizinho o senhor Luiz Araújo, autor da letra de música do Hino de São Vicente, bem lembrado pela Nilza-APAE; Casa A Paulistana que vendia lãs e aviamentos do senhor Ernesto Nascimento; em seguida o Unibanco, Açougue Pastoril e nos fundos a serralheria do senhor Botica. 
Do outro lado da rua tinha a loja de ourives do senhor Miguel Pasquarelli, ex-vereador, a Loja de artigos fotográficos do Joãozinho; ao alto o escritório do engenheiro Faro Politi; mercearia do senhor João e esposa Doca; Mas adiante na esquina com a rua Padre Anchieta a Padaria Alemã, cujos proprietários mais tarde construíram o Cinemar na descida da rua Benjamim Constante. Do outro lado de esquina a loja de ferragens da família Franklin Clasen de Moura, que trabalhou na Prefeitura como contador no tempo da Lourdes Retz; Do outro lado também de esquina o Armazém do Minho, hoje Alfaiataria do Messia, e mais adiante pela rua Padre Anchieta morava o Olavo, apelidado de Martelo. 
Rua Padre Anchieta sentido Avenida Presidente Wilson do lado esquerdo, a loja de Azulejos Azulemart pai do Valdemar, mais adiante quase defronte em um sobrado morava o Dr. Luiz França, pai do Marcio França, atual Governador, seu irmão Luiz Claudio, hoje médico, posteriormente mudou-se para o Jardim Aralinda. 
Esquina com a Rua João Ramalho a residência do Dr. Luiz Ribeiro Gomes, pai do Maurity, Marcos e Delen. Mais adiante ao lado do grupão Laurindo Mirabelli, esportista da cidade, e do outro lado mais adiante Cartório de Registro Civil do Tabelião senhor Valdomiro Aranha e dona Alice, pais de Celso e Gerson, hoje respectivamente advogado e médico da cidade. 
Mas adiante esquina com Avenida Presidente Wilson o jornalista Dr.. Luiz Tramonte Garcia que tinha uma página no São Vicente Jornal, e do outro lado os irmãos Noé e Alexandre Vaz, esportistas do C.R.Tumiaru. 
Retornando para a Rua Frei Gaspar defronte Armazém do Minho (hoje Messias), sede da Companhia Telefônica Brasileira, onde ficavam centralizadas as telefonistas, pois naquele tempo os telefones eram movidos à manivela e comunicação individualizadas. 
Continuando o roteiro da rua Frei Gaspar sentido praia, após Messias, loja de Laticínios e em seguida Papelaria Cruzeiro, do português Alberto Soares Martins, depois vendido para Mario Diegues; 
Farmácia do senhor Ernani; Costureira e Modas Helena e depois Insinuante Modas, da Alzira: Bar Municipal, do senhor João, pai do Manoel Blaz Rodrigues (advogado e conhecido por Manolo); João e o Senem, que trabalhou no Cartório do Registro de Imóveis com Olavo (Martelo); Peres (Cunhado do Mourão, prefeito de Praia Grande) e Nelson Robert, depois tabelião; A Casa Funerária dos irmãos Rodrigues, sendo que Jonas Rodrigues foi ex-vereador e prefeito da cidade; Mercearia do irmãos Bruno e Iram; 
Em frente sorveteria Iaia do senhor Joaquim e dona Margarida, sua filha Belandina casou com Mário Diegues; Ao lado farmácia do seu Lima onde trabalhou o marido da Sidnéia, depois funcionária da Prefeitura; Ótica Luzia, do senhor Orlando, conhecido por Nenê, hoje defronte a Casa do Barão administrada pela sua filha Renata. 
Retornando do outro lado a vidraçaria da família Grossi, sua filha casou-se com o advogado Santelmo Couto Magalhães; Loja de Eletrodomésticos do senhor Fontoura, pai da Marilene que casou com o Oséas, desenhista e funcionário da Prefeitura e um exímio jogador de bola que dava show com a bola parada; E na sequência o Bar do Oliva, filho da dona Ana que tinha uma pensão ao lado da Matriz e o pai fotógrafo que ficava na Praça 22 de Janeiro para tirar fotos, tempo que tinha que colocar a cabeça dentro de uma cabine escura e portátil; e ao lado do bar divisa com a Prefeitura . 
Descendo sentido praia a Casa do Barão, na época Instituto do Dr. Jarossi, esquina com a rua Visconde do Rio Branco, de um lado Boite Savoy onde constantemente Plínio Metropolo tocava piano. 
Do outro lado o cartório do tabelião Walter Leal de Lima , escrivães Amilcare Rienzzi (Ele e Rômulo Ramaciotti jogavam futebol no E.C.Beira Mar, que tinha um esquadrão); O Ayres depois tabelião, senhor Paulo e serventuários auxiliares Alvaro e Martins, aliás o Alvaro trabalha até hoje no Cartório localizado na rua Martim Afonso (Ufa!... que fôlego). -Aposentou-se recentemente. 
BINDERS BAR em um casarão esquina da rua João Ramalho com Rua Amador Bueno da Ribeira; Do outro lado a Mansão da Família Francarolli, proprietários do Cassino da Ilha Porchat e em frente um posto de gasolina com ponto na pequena praça tipo ilhota. 
Ainda na Rua João Ramalho, em uma das esquinas o Jardim Aralinda (vila de casas onde morou Dr. Luiz França e Marcio França ainda jovem) e a outra esquina a Mansão da Família Cardamone, dono do Cortume de São Vicente estabelecido na Avenida Tupiniquins; mais tarde fundaram a Companhia Telefônica de São Vicente, depois encampada pela TELESP. 

Conjunto Jardim Aralinda, rua João Ramalho esquina com rua Cândido Rodrigues. Fundação Arquivo e Memória de Santos. 

HOTEL LIDO, estabelecido na rua Antonio Rodrigues, de frente para a praia do Gonzaguinha, frequentemente hospedavam os time do São Paulo F.C. quando desciam para jogar com o Santos F.C. e que o jogador Bauer, sempre simpático e atencioso distribuía autógrafos. 
RESTAURANTE BOA VISTA 
Casa sempre lotada, famosa com os pratos defrutos do mar. 
FAMOSO “MARES DO SUL” DA ILHA PORCHAT 
Tinha como presidente Odárcio, que promovia os bailes de carnaval e shows com artistas famosos. 
EDIFÍCIO GRAJAHÚ 
Edifício construído sob as pedras defronte da Praia do Gonzaguinha e onde residiu mais tarde Osvaldo Lescreck e o engenheiro Rinaldo Rondino, que apresentou projeto dos “Molhes de Pedras” para recuperar as “areias das praias”, que estavam sendo arrastadas pela vazão da maré. 
PRAIA DO GONZAGUINHA 
Neste tempo o “tour” dos jovens era na orla do Gonzaguinha, onde tinha sido reformada pelo Dr. Forbes (ex-prefeito) que colocou uma fonte lumnosa (demolida) mantendo a tradição das famílias e crianças na Biquinha. 
PARQUE DE DIVERSÕES (Luna Park) do senhor Felipe Garcia, irmão da Corina Garcia Ramirez. Depois transferido para a Praia do Itararé. 
RODA DE SAMBA 
Do lado do Posto de Salvamento um grupo de jovens todo final de semana se reunia e formava uma roda de samba, onde tocavam Maurício Moura, nesta época o seu irmão Mauricy já era músico famoso, Buick do Pandeiro, Santoro e sempre cercados pelos jovens da cidade Lauro Rocha, Roberto Besson, Wilson Verta, Kubalo (José Maria), Victor, Lescreck, Júlio, Lima, Jonio Garcia, Alvaro Fernandes (Cartório) e o Leco também irmão do Maurício e outros. 
Mais adiante tinha na esquina a Churrascaria Choupana, onde em início de carreira costumava apresentar Chitãozinho e Xororó. 
A CASA DA BANANADA E BOLOGNA 
Lado esquerdo da av. Newton Prado lado do Mar Pequeno, onde ainda existe a Casa das Bananadas de propriedade do Valdemar Blume, hoje administrada pela família, e mais adiante também de frente para o Mar Pequeno o restaurante Bologna de propriedade do José Abraão, também proprietário do Itapura no centro da cidade, gerenciado pelas filhas Valéria e Lourdes. Recanto maravilhoso com frente para o Mar Pequeno e a rua Japão, onde se avistava as canoas pescadores ancoradas, e quando a maré ficava baixa virava um atoleiro (mangue) onde os pescadores amadores atolados pegavam siri, e nesta mesma rua moraram os pais do Santelmo Guimarães. 
PARQUE PRAINHA 
Na Avenida Saturnino de Brito localizava-se a Boite Prainha, muito conhecido na época, e mais adiante o Hotel Sobre as Pedras com frente para a Baía de São São Vicente, hoje infelizmente não existem mais. 
Relembrando que na Rua José Bonifácio, próximo do Gonzaguinha, existia a Colônia de Férias da Força Pública (demolido). Mais adiante a Pensão do Airton Alexandre, conhecido por Kiko, e mais tarde em frente a esquina com a rua Padre Anchieta o Restaurante Kiko’s; e na rua Jacob Emerich nº 89 a Pensão da Dona Iolanda, esposa do ex-vereador Miguel Pasquarelli e Presidente da Associação dos Capacetes de Aço, da Revolução de 1932, onde participava entre outros o TTE. João Alberto LucchesiI, maestro da Banda do Corpo dos Bombeiros, e em tempo de greve dos funcionários dos Bondes tinham que exercer as funções motorneiro (1953). 
Retornando para a Rua Martim Afonso vamos complementar com a Alfaiataria do Neves, em frente da sua loja A Tamancaria, do senhor Antunes e filhos, mais tarde o Galpão foi transformado em oficina do São Vicente Jornal, do senhor Antônio Peixoto, onde trabalhou o jornalista Paulo Rosa e outros. Na frente ficava Magazine Q’Amor gerenciada pela sua filha Míriam Peixoto, que mais tarde casou-se com o Nico (Cunhado do jogador Del Vecchio) 
Esta empresa jornalística foi vendida para Fernando Martins Lichti, e posteriormente para Antônio de Andrade Lima e sócio José Fernandes Filho, o primeiro do grupo empresarial de cinemas e o segundo proprietário do Bazar Ideal, onde tinham o escritório e oficinas na Rua João Ramalho, atrás do Hospital São José. 
O senhor Antônio Peixoto também era proprietário da Empresa Publicidade Royal (Altos do Edifício Zufo) onde trabalhou como radialista o funcionário público municipal Marcos Machado. 
A Coletoria Federal mudou-se para a Praça Barão do Rio Branco, sala ao alto da loja onde se instalou o Cartório do Ayres, lado da Sapataria Veranista e do outro um sobrado onde na garagem estava instalada a Alfaiataria do pai do Chuvisco, que por sinal tinha umas irmãs bonitas e admiradas por muitos jovens da cidade. 
PESSOAS FOLCLÓRICAS DA CIDADE 
Tinha um jovem que perdia o controle emocional quando o chamavam de Giginho Parafuso, xingava as pessoas e quando se tratava de molecadas ameaçava atirar pedras. Também um senhor alcoólatra aposentado da Polícia de São Paulo, e gesticulava muito e ameaçava correr atrás quando as crianças o chamavam de Marta Rocha. Barbinha de Ouro, um senhor alcoólatra magrinho que vivia nas ruas, porém tranquilo, e de família bem sucedida de São Paulo e recusava voltar para casa. 
MÉDICOS DESTE PERÍODO 
Alcides de Araújo; Olavo Horneaux de Moura (pai do Ricardo e Fábio), José Ribeiro (pai do Maurity, Marco e Delen); Luiz Gonzaga de Oliveira Gomes (pai do Marcio e Cláudio Luiz), Hélio Ramos; André Stucchi, primo de Antenor Stucchi, que era avô do Ivo Stucchi; Francisco Jarussi (Clínica São Vicente). 
PERIFERIA DA CIDADE 

Vamos entrar pela LINHA 1, ou seja, Avenida Antônio Emmerich em direção à Vila Melo, onde de madrugada passava a boiada a caminho do Matadouro de Santos. 

No início da avenida ao lado direito existia uma bomba de gasolina na ilhota entre a ponte e Av. Marechal Deodoro, em seguida uma linda residência toda arborizada e bem cuidada onde residia o Comendador Simone, pai do Nicolino Simone, ex-vereador e sua família. Na outra ponta da quadra esquina com a rua Comendador Freixo o estabelecimento de Materiais de Construção Valença, de propriedade do português Manoel da Costa. 

Do outro lado da avenida uma área enorme tipo chácara com uma bela residência, propriedade de Ilo Feliciano, sobrinho do deputado Federal Antônio Feliciano e seu irmão Lincoln Feliciano, que foi interventor federal em São Vicente. Uma bela residência com ares de uma chácara -fazenda onde sua filha costumava galopar com um belo cavalo. Tinha vacas, gansos, galinhas e outros animais, onde um dos seus empregados apelidado de Leiterinho ordenava as vacas e com a charrete fazia transporte. Esta área foi transformada nos loteamentos Jardim Três Estrelas. Detalhe: Esta casa ainda tem uma parte preservada na avenida central) e Jardim Feliciano. 

Em seguida o Clube Hípico, Depósito de Materiais de Construções J. N. Santos e ao lado direito a mercearia do português Alexandre Cro, chamada Casa da Sogra, que foi o primeiro supermercado, pois não existia na época; E a sua filha casou com o advogado Natividade, cartorário e ex-vereador. 

CLUBES AMADORES CONHECIDOS DA CIDADE 

PAULISTANO A. C. que tinha campo de futebol onde hoje localiza-se o Jardim Independência; 
E.C. CORINTHIANS da vila Cascatinha; 
CLUBE PALMEIRINHAS no final da rua Morvam Dias de Figueiredo, Vila Voturuá; 
FLUMINENSE F. C. onde tinha como goleiro o Valter Melarato que casou-se com Dalila e ex-vereador. ITARARÉ F.C. presidido pelo senhor Tumoli, com sede no sopé do morro divisa com a estrada de ferro e mando de jogo no campo do Itararé, hoje campo com alambrado nos jardins da praia do Itararé; GUAMIUM no porto do Guamium, onde jogavam os irmãos Wilson, Silas Top,; Darci Marftins, goleiro, irmão do Rubens Martins que foi jogador profissional; Pudim, Leonildo, Leopoldo e seu irmão Ditá;
E. C. BRASIL, onde tinha seu campo de futebol hoje instalado do Fórum, no Parque Bitarú; onde jogou Jerico e Jeriquinho, Buiunga, Torquato e outros; 
e o SPR F.C. da família Cecchi onde tinha como técnico Augusto Ruiz conhecido como Patesco. 

A HISTÓRIA DOS IRMÃOS MACIA 
Mário Macia e José Macia Filho, filhos do senhor José macia e dona Clotilde, onde tinha o Bar e Armazém Central com frente para a avenida Antônio Emmerich quase defronte onde os bondes tinham a junção de trilhos (Vila Melo). 
Mário além de gerenciar o armazém da família era um excelente goleiro e amava futebol, foi um dos fundadores do COMERCIAL F. C. onde jogaram jogadores famosos como Pecente, Del Vecchio e outros.. Com um grupo de amigos Reinaldo Machado, Léo Ribeiro (irmão do Célio, Lourdes, Nilza presidente da APAE, casada com Jaime) Osvaldo, Faustão, Molina e muitos outros, resolveram encerrar o COMERCIAL e criar o CONTINENTAL F. C. que mantém a sua sede na avenida Mota Lima, clube que deu muitos títulos e alegria ao bairro da Vila Melo. 

C.R. CONTINENTAL no ano de 1963, onde PEPE (Macia) aparece na ponta ao lado direito de camisa preta. Esquerda para direita: Jorginho pixe, Wyll, Zózimo, Angelo, Nelsinho, Osmar e Pepe. Agachados: De Paula, Pipiu, Gaiola, Cilas e Jarinha; 
Futebol de Salão 
José de Andrade Lima (JUCA), Oberdan, Orlandinho, Reinaldo. Agachados: Zé Preto, Léco, Nininho, Waltinho. 

Rainha do C. R. Continental (foto) quando junto com o senhor Luiz Beneditino Ferreira, Prefeito Municipal cortava o bolo acompanhados pelos olhares de Reinaldo Machado, José Carlo Viveiro (Sem-Sem) e senhor Antonio Peixoto, proprietário do São Vicente Jornal e da empresa Royal de Publicidades. 

Mais... Ainda sobrou tempo para o Mario fundar o Bangú A. C. com as camisas do Comercial que tinha encerrado, para ajudar um grupo de jovens onde está incluído o Wilso filho de Marinho Verta, os irmãos Dirceu e Edmar Martins filhos do senhor Evaristo e a dona Isabel, que veio a ser a massagista e que cuidava das camisas em apoio á garotada, João e Melito filhos do senhor Tertulino; Tote, Reinaldo (Batateiro),Todos moravam na mesma quadra da Rua Armando Sales de Oliveira, e outros que serão citados adiante na história do Bangú. 
Qualidades do Mário Macia pelo amor ao futebol e o companheirismo, sempre com muita gente em seu redor que acabava congestionando o estabelecimento do seu pai onde gerenciava, razão pelo qual o Bangú A.C. foi transferido para a Vila Valença. 
E como não podia ser de outra forma a família Macia foi premiada com os dotes profissionais de um dos seus membros chamado José Macia Filho, o Pepe, conhecido como o Canhão da Vila e orgulho do C.R.Continental e Bangú F.C. e da nossa São Vicente. 

BANGÚ A. C. 
O ano de 1952/53, o jovem Verta, com 15 anos de idade e trabalhando na Prefeitura como contínuo, e ajudado pelos colegas fiéis de tesoureiro Rubens Alves Simões, Renã Lopes Faria e Ricardo Botelho, elaborou uma carta ao senhor Silverinha, patrono do Bangú F. C. do Rio de Janeiro e proprietário da Fábrica Bangú de Confecções, solicitando um jogo de camisas o que foi atendido, inclusive receberam também os shorts totalmente idênticos aos do Bangú F.C. do Rio de Janeiro, conforme foto abaixo. 

Foto ano de 1953 quando estreavam uniformes novos. Em pé da esquerda para direita; Mario, Gilberto, Flavio, Ademar, Aurélio, Julio, Vadico, Guri, Índio, Reis e Egidio. Agachados: Mangolini, Verta, Nelson, Badalóca, Abóbora, Milton, Kubala, Cabra, Agripino e Nivio. 

INÍCIO DA CARREIRA DO PEPE 
Pepe Macia, além de jogar no Continenatal, treinava e participava de alguns jogos com a turminha do Bangú e na ocasião jogava e treinava como goleiro o Luiz conhecido como “Cobrinha” e nessa ocasião jogava no Juveil do Santos F.C., onde levou o Pepe para treinar e ficou em definitivo tornando-se o “Canhão da Vila”, pois poucos goleiros se atreviam a segurar os seus chutes, Tornando-se um orgulho tanto do Bangú como do Continental, clubes que tinham raízes por causa do irmão Mario Macia. 
Os moradores da Vila Valença adotaram o Bangú inclusive participaram na diretoria e colaboradores simpatizantes do clube como Julio Vasques (Pai do Julinho). Antonio dos Reis, Egídio, Juca e muitos outros, inclusive prestigiados pelos senhores Raul Rios, ex-vereador, pai do Raulzinho do Cartório; Lescreck, pai do Osvaldo; Antonio Chaves pai do Nelson; José Pestana que sempre levava o filho para assistir os jogos (Irmão do Ademir Pestana), hoje vereador e presidente da Beneficiência Portuguesa de Santos); e muitos outros. 
As senhoras e moças das famílias contribuíam e prestigiavam, inclusive promovendo a Rainha e Princesa onde realizavam o baile Clube Atlântico Vicentino (Tranquinho). Dayse, Neuza e a sua mãe dona Glória, Sueli e Dona Hortência, Dona Morena e outras; Na ocasião a Rainha foi a Regina Capela e a Princesa, Sueli Vasques. 

ANFITRIÃ E MASSAGISTA 
Lembramos com carinho da Dona Isabel, esposa do senhor Evaristo Martins e mãe dos irmãos Martins que além de cuidar dos uniformes com amor e carinho da garotada, ainda atendia em sua casa alguém que torcia o pé ou se machucava, pois era uma habilidosa massagista, inclusive atendeu muitos colegas do Pepe que a procuravam. Lembro-me quando um jogador desmaiou de tanta dor e dona Isabel pegou uma pena de galinha e a queimou e após dar para cheirar reanimou-se na hora. 
Nesta mesma rua Dr. Armando Salles de Oliveira moravam após o campo de Bangu, entre outros a família CurciI; Dona Emília; Pais do Alvaro Ferandes (Cartório); Senhor Benedito, conhecido como Fusco, pai do Claudio Figo, Diretor da Câmara aposentado e assessor do atual Governador Márcio França, onde de vez em quando aparecia para bater bola no campinho; Mais tarde José Maria Rey Trontino (Kubala centroavante do Bangu). 

IGREJA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS 
O pontapé inicial para fincar o Marco para inicio da construção independentemente da Igreja foi iniciativa de um Padre Alemão, que surgiu no meio dos jovens que estavam treinando no campo do Santa Cruz, time do Robalo Carvoeiro que ficava ao lado da praça e que disse em voz alta... Vamos construir nesta pracinha umas barraquinhas de festas junina para angariar fundos para inicio de uma igreja neste lugar e conto com ajuda de vocês. Todos sem exceção encerraram o jogo e gostaram da ideia da festa junina e foram ajudar a capinar o mato e separar as tábuas. Este padre morava vizinho da casa do Julinho Vasques na Rua José Gonçalves da Mota Junior e era muito ativo, e após a construção da Igreja foi o intermediador do asfalto de uma grande parte da Vila Valença. 

PEDREIRAS 
Existiam algumas pedreiras tais como: Voturuá, de propriedade de Alexandre Neves Teixeira, junto ao Horto Municipal; Santa Tereza, da família loteadora do bairro Vila São Jorge; e a pedreira O. Ribeiro onde tinham o gerente chamado Marinho e assistente Maneco. A cidade se expandia e existiam movimentos para fechamentos das pedreiras, o que ocorreu. Hoje no local da Pedreira O. Ribeiro acha-se estabelecido o Supermecado Carrefour. 

A TRISTE REALIDADE ATUAL 
Os nossos mangues e rios foram tomados por dejetos de toda natureza, jogados diretamente a céu aberto, poluindo mangues e praias, em razão das invasões de favelas e palafitas. Acabaram com o ambiente de preservação ambiental onde os peixes deixaram de reproduzir. Os caranguejos e crustácios sumiram e os núcleos de miserabilidade e violência aumentaram consideravelmente; seja seja... Quem conheceu São Vicente deste passado, com certeza, lendo o que aqui foi dito, vai ter boas recordações. 

ENCERRAMENTO 
Reunião do grupo-Honrosamente, além de prestigiar e orientar o lançamento deste livro, fomos presenteados pelo amigo, poeta e escritor Paulo Della Rosa Rosa, com uma poesia dedicada a história da nossa querida São Vicente, denominada... 

LAÇOS COM A ETERNIDADE 

Ranhuras do estêncil. 
Nos braços da Ponte Pênsil. 
Mais do que uma cidade. 
Várias verdades. 
Nos mais diversos papéis. 
Unindo e ungindo poetas, artistas e menestréis. 
Trajetos e objetos. 
O continente e a ilha. 
Todas e todos em família. 
Belezas e riquezas. 
Tempos e templos. 
Bondes e as estações. 
Conduzindo sonhos de primaveras, outonos, inverno e verões. 
Mansões, casebres e palacetes. 
Trinados, gorjeios e falsetes. 
O vaivém das marés. 
Mulheres e homens a serem aplaudidos de pé. 
Os mais inebriantes cenários. 
Um café no Senadinho e um suspiro na Ilha Porchat. 
Nuvens e ventos pra lá e pra cá. 
Um oceano de histórias. 
Contos e contas de um rosário de glórias. 
Uma tonitruante sirene. 
Bronzeadas sereias e atléticos netunos. 
A vida em perfeito prumo. 
A placidez das águas que o espírito acalma. 
Os generosos pastores de almas. 
Passa um boi, passa uma boiada. 
O passado que se foi. 
O presente ansioso por uma guinada. 
O fascinante arrebol. 
O remo, a natação, o basquete e o futebol. 
Os desfiles cívicos e os carnavais. 
A sétima arte lotando os famosos cinemas. 
A fauna e a flora sensacionais. 
Martim Afonso e o Barão do Rio Branco em festa. 
Assistindo à cultura verter por cada fresta. 
Os segredos e alquimias da Maçonaria. 
Duque de Caxias a inspirar novos dias. 
Cadeira nas calçadas. 
O sol nascente visto da rua Japão. 
Enquanto as Ba-Bahianas sem tabuleiro desfilam hilários temas. 
Anchieta e os pombos na Biquinha a entoar uma doce canção. 
Os Mares do Sul a agitar a galera. 
O folclore a nos levar por oníricas esferas. 
A poesia da periferia. O glamouroso Itararé. 
As finas areias do Gonzaguinha. 
O futuro e a obra escritos a muitas mãos. 
Cellula Mater da Nacionalidade. 
São Vicente da gente. 
A sua, a nossa, a minha cidade! 

Nota do Organizador 
“São Vicente era um jardim” foi a frase que encerrou a conversa que tivemos com Antônio Lima de Andrade, em 7 de junho de 2019, na rua Tibiriçá, 146, quando nos apresentou essa preciosa memória dos seus amigos de infância e hoje irmãos em confraria; amigos que depois de mais de 60 anos de convívio ainda se reúnem à sextas-feiras para tomar e vinho e saborear lembranças. O texto foi originalmente organizado por Wilson Verta e formatado em power-point. 























SÃO VICENTE PRIMITIVA E PEQUENINA

                                 

José da Costa Silva Sobrinho, escritor e memorialista, patrono da cadeira número 61 do Instituto Histórico e Geográfico de Santos. Foto: IHGS


RELÍQUIAS DOCUMENTÁRIAS 

COSTA E SILVA SOBRINHO




São Vicente primitiva e pequenina! S. Vicente na sua infância prodigiosa! S. Vicente de Antonio Rodrigues e de Martim Afonso de Sousa! S. Vicente de Manuel da Nóbrega, de Leonardo Nunes e de José de Anchieta! Há que tempos tudo isto vai! Os nossos olhos, os olhos da nossa memória, que é que poderão distinguir hoje através desse passado tão distante?

 Diz-nos a História, no seu perene relembrar, que muita coisa poderão eles entrever, inclusive mesmo algumas relíquias documentárias dignas de serem exumadas do esquecimento.

 Sendo assim, que remédio! Sacudamos o velho pó dos arquivos, deitemos abaixo os livros que, tratando da matéria, repousam aprumados nas estantes das nossas bibliotecas. Esforcemo-nos por ressuscitar o povoadozinho transitório.

 Não se há mister de ser muito versado na história pátria para conhecer aquele famoso bacharel que Diogo Garcia, marinheiro português ao serviço de Espanha, teria encontrado em S. Vicente em 1527, já com trinta anos mais ou menos de morada habitual, e vivendo em companhia de filhos e genros.

 Ficará, porém, de lado esse assunto. Apesar das discussões que tem suscitado, anda ele ainda muito cheio de obscuridade.

 Frei Gaspar, historiador de faro sutil, vem-nos em seguida em nosso auxílio, apontando com o dedo do lado de lá, o lado onde existiu mais tarde o Porto das Naus; pois no mistério daquelas paragens outro povoador andou.

 Merecem traslado as suas próprias palavras, que são poucas e ilustrativas:

 "João Ramalho, diz Frei Gaspar, foi o único europeu estabelecido em Piratininga, quando aqui residia Martim Afonso. Até seu companheiro Antonio Rodrigues habitava na marinha defronte de Tumiaru, em terras que por sesmaria lhe concedeu o mencionado donatário; e por isso o encontro muitas vezes no livro mais antigo da Câmara de S. Vicente, exercitando os empregos de juiz, vereador e almotacé. Suspeito que já morava ali mesmo, continua o historiador, quando aqui chegaram os primeiros povoadores, e que esta seria uma das razões motivas de fundar o capitão-mor a vila perto da última barra. Não passa de conjetura minha esta última circunstância; porém que Antonio Rodrigues assistia defronte de Tumiaru pelos anos de 1543, consta do citado livro mais antigo da Câmara de S. Vicente, no qual se acha declarado em vereação de 4 de agosto do dito ano, que deram a vara de almotacé a Antonio Rodrigues, morador da banda d'além". (Memórias, n. 155).

 Fixara-se João Ramalho no planalto para poder mais facilmente receber os escravos aprisionados no sertão pela sua gente. Dali os mandava para o litoral, para o porto de Tumiaru, destinados ao aludido Antonio Rodrigues, seu sócio, que os enviava, por sua vez, à Bahia e Pernambuco.

 A propensão mercantil dos portugueses culminara naqueles apresadores de índios. Sempre com o olho turvo no mais crescido lucro, protegia-os ainda uma lei da Câmara de S. Vicente, que vedava a compra de escravos vermelhos acima da taxa de 4$000, e ao mesmo tempo recomendava aos cristãos a maior discrição na presença dos indígenas. Nenhum branco podia maldizer do outro, nem também depreciar-lhe a mercadoria.

 Óbvio se nos afigura, apesar disso, que tanto Antonio Rodrigues como Ramalho muito fizeram em benefício dos povoadores do nosso país.

 De sua mulher, filha do régulo Piqueroby, batizada com o nome de Antonia Rodrigues, teve o primeiro numerosa descendência, à qual o linhagista Pedro Taques deixou infelizmente de referir-se, para decerto não tisnar de bugrismo os altos foros de nobreza das famílias que incluiu no seu registro nobiliário. Silva Leme, entretanto, menos apegado a primazias de nobreza, não se desdenhou de mencioná-la na Genealogia Paulistana.

 Destarte, além da companheira de Antonio Rodrigues, poderemos enumerar várias outras mulheres de povoadores e todas elas autóctones de origem. Acodem-nos à memória os nomes de Isabel Dias - Bartyra, mulher de João Ramalho; o de Margarida Fernandes, filha do morubixaba de Ibirapuera, casada com Braz Gonçalves; o de Maria da Grã ou Terebé, filha de Tibiriçá e mulher do ex-jesuíta Pero Dias; o de Ana Camacho, mameluca, descendente de João Ramalho, mulher de Domingos Luís, alcunhado o Carvoeiro, na qual radicam sua genealogia os Buenos e os Camargos; o de Suzana Dias, filha de Lopo Dias, neta de Tibiriçá, mulher de Manuel Fernandes Ramos, o desbravador do sertão de Parnaíba; o de Mécia Fernandes - a quarteirona esposa de Salvador Pires, bisneta de Piqueroby, que propagou numerosos descendentes - sendo merecidamente qualificada de Assú (Mécia-Assú) pelos subidos quilates dos seus predicados.

 Sobram os documentos para multiplicarmos essa lista de matriarcas aborígenes.

 Em vista do pequeno número de famílias existentes naquele tempo, intensivo cruzamento tinha por força de haver entre elas. Por isso, escreveu João Mendes de Almeida que, após a primeira ou a segunda geração, não haveria em São Paulo quem não houvesse recebido o sinal da chancela brasílica.

 Conta-nos Afonso de Taunay, uma das autoridades mais eminentes neste particular, que o barão de Sousa Queiroz, cidadão de grande prestígio em São Paulo, procurando certa vez instruir um parente, longos anos ausente, acerca das relações de família, assim o aconselhava: "Quando vires alguém decentemente trajado, dá-lhe o tratamento de primo, porque o é de fato". (São Paulo no século XVI, pág. 230).

 Honras de pioneiro teve o náufrago João Ramalho. Êmulo de Caramuru, patriarca dos escravizadores de índios, alcaide-mor de Santo André, capitão-mor da vila de Piratininga quando em 1562 esteve ameaçada de um assalto dos tupis do sertão, aliados aos tamoios do vale do Paraíba, foi ele pai de muitos filhos, que se ligaram à melhor gente indígena. Dele derivam inúmeras famílias. Nem há quase paulista de antiga estirpe, assevera-nos com a sua competência magistral Afonso de Taunay, que na extremidade de sua árvores genealógica não lhe encontre o nome e o de sua mulher Isabel Dias.

 Em São Vicente, entre os primeiros discípulos dos jesuítas contaram-se os seus netos. Na verdade, quando começaram, com a chegada do padre Leonardo Nunes, os ministérios dos jesuítas em São Vicente, o primeiro atrito foi com João Ramalho, porque eram eles contra as mancebias e o cativeiro injusto dos índios. Gravíssima foi a questão. Sofreu Leonardo Nunes amiudadas ameaças. Mas tudo se desanuviou em 1559, com a intervenção de Nóbrega e Manuel de Paiva, este último parente e amigo de João Ramalho.

 Naqueles dias tão distantes, os problemas relativos à moral e aos costumes deviam de fato ser tremendos.

 Na Bertioga, por exemplo, havia certo Pascoal Barrufo, que fazia servir-se à mesa por jovens escravas, no maduro esplendor das suas formas, como outras tantas Evas no Paraíso, e dava-se à fantasia de com isso afrontar os seus hóspedes mais respeitáveis. (Taunay, obr. cit., 7).


Fundação de São Paulo. Oscar Pereira da Silva.


 Quem se der ao paciente labor de respigar fatos interessantes nos nove volumes de Silva Leme, a intervalos achará uma iluminura galante para aligeirar os enfados de trabalhos como este nosso. Ponhamos um exemplo:

 No princípio da fundação de S. Paulo, em 1554, passou de S. Vicente para ali um irmão leigo da Companhia de Jesus. Chamava-se Pero Dias.

 Governava os índios daquela região o cacique Tibiriçá que foi batizado com o nome de Martim Afonso Tibiriçá. Era este violento, desabrido, tenaz, e os seus olhos encovados, como duas sinistras janelas, refletiam-lhe a alma nos instantes de capricho e de mau humor. Ao irmão leigo, entretanto, rodeava-o constantemente de inefáveis atenções. Afeiçoou-se tanto pelo leigo Pero Dias, que o pediu para seu genro.

 Explicaram-lhe os padres a impossibilidade de realizar-se tal pretensão. Não se capacitava, porém, o cacique de que aquele irmão leigo, em quem resplendia uma mocidade pletórica, não pudesse casar. E, pertinaz, porfiava no seu propósito. Não havia meio de o velho índio compreender o poder dos votos religiosos. Não percebia nada das razões que ao celibato e à castidade prendiam o seu afeiçoado.

 Vendo os superiores de Pedro Dias que tão poderoso e dedicado amigo começava a entediar-se com o caso, julgaram melhor consultar sobre ele a Santo Inácio de Loyola, então residente em Roma. E pelo fundador da Ordem foi resolvido, em face das ponderosas razões apresentadas, desligar o jovem leigo da Companhia e permitir-lhe, querendo, que se casasse. Destarte Pedro Dias desposou Terebé, a filha de Tibiriçá, que no batismo veio a receber o nome de Maria da Grã, em homenagem ao padre Luís da Grã, que foi o primeiro superior do Colégio de Piratininga.

 Encontrou Pero Dias na sua Terebé, a mulher predestinada, que foi para ele uma divindade reveladora, que o amou com o mesmo profundo enternecimento de uma senhora dotada das mais puras virtudes antigas. Desse consórcio surdiu, enfim, grande descendência. E Tibiriçá, o antepassado da maioria dos paulistas, na imensa embriaguez da sua felicidade, viveu mais esse sonho radiante.

 Martim Afonso Tibiriçá, companheiro de armas dos paulistas e amigo leal dos jesuítas, mereceu destes, quando faleceu, no Natal de 1562, "a maior homenagem, que os mesmos fazem aos seus amigos, ainda que sejam reis" (Serafim Leite, Hist. da Comp. de Jesus no Brasil, 1, 292).

 Essa figura, luminosa e real, ficará na memória de todos os brasileiros.

 Neta desse Tibiriçá e filha de João Ramalho, foi ainda Joana Ramalho, casada com Jorge Ferreira, cavaleiro fidalgo, capitão-mor loco-tenente da Capitania de S. Vicente por duas vezes, a primeira em 1556 e a segunda em 1567.

 Iniciou, segundo frei Gaspar e frei Vicente do Salvador, uma povoação na Ilha de Santo Amaro, a qual se extinguiu antes de ter pelourinho (Memórias, 281; História do Brasil).

 "Ele opinava conforme os empregos que tinha", diz-nos frei Gaspar (obr. cit., 287). Talvez por isso mesmo, a nosso sentir, teria fomentado a célebre questão de terras entre a condessa de Vimioso (N.E.: o nome certo é Vimieiro) e o conde de Monsanto.

 Frei Vicente do Salvador, na sua História do Brasil, que é a primeira história do Brasil composta por brasileiro, observou que os portugueses, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitavam por negligência das do Brasil, mas se contentavam "de andar arranhando ao longo do mar como caranguejos" (pág. 19).

 Insolidários neste ponto com o laureado historiador baiano, ser-nos-ia fácil demonstrar o seu desacerto com o simples exemplo dos nobres povoadores de São Vicente, se não tivéssemos de deslizar do nosso tema. Os vicentinos, a quem serviram de molde as ações dos seus maiores, souberam inscrever-se no padrão do bandeirismo.

 Falta-nos espaço para desenvolver aqui esse assunto, mas citaremos um caso para exemplificar.

 No seu viver recolhido, entre o verde das matas e o marulhar das ondas, houve sempre em São Vicente a vitalidade latente de um povo viril.

 Aí estão os Motas, os Monizes de Gusmão, os Laras, os Guerras, os Paivas, os Sodrés, os Pachecos Nobres, os Tavares, os Furtados de Mendonça, os Lopes da Silva, e tantos outros nomes de genuína cepa vicentina. São títulos que convidam a instrutivas digressões pelo passado. E bem as merece terra tão evocativa.

 Ocorre-nos, em conclusão, haver lido numa das obras de Cícero, uma passagem a respeito de um antigo solar romano que nos impressionou vivamente. Contava-nos o insigne orador que aquela vivenda tinha sido para Cnéus Octavius, parente ilustre do imperador Augusto, um título de honra que havia concorrido para elevá-lo à dignidade de cônsul, embora fosse ainda bastante moço.

 É que aquele solar era um símbolo no qual se encerravam as tradições heróicas dos seus antepassados. Ele ali estava evocando aos pósteros o amor do passado, o culto das tradições, porque o presente se alumia e encaminha pelo pretérito.

 Em S. Vicente, tudo nos projeta o espírito através das centúrias, tudo nos aproxima do passado e nos faz pensar nesse elemento plástico formador dos destinos da nacionalidade - que é a sua gente admirável.

NOTA DO SITE NOVO MILÊNIO

Nas páginas do jornal santista A Tribuna, o pesquisador, historiador e cronista Costa e Silva Sobrinho incluiu inúmeros textos, alguns dos quais foram mais tarde republicados como parte de sua obra Romagem pela Terra dos Andradas. Como este, na série Santos noutros Tempos, publicado na edição de domingo, 24 de agosto de 1952, nas páginas 21 e 20 - segundo caderno - (ortografia atualizada nesta transcrição):


CENAS E FIGURAS DO PASSADO VICENTINO

Palestra realizada a convite da Câmara Municipal de São Vicente, dia do 420º aniversário de fundação daquela cidade. 22 de Janeiro de 1952.

 Quatrocentos e vinte vezes faz hoje que esta data se reproduz na série do tempo, assinalando a fundação de S. Vicente pelo insigne guerreiro e navegador Martim Afonso de Sousa.

 Quatrocentos e vinte anos que, trazidos nas asas brancas das velas de uma heróica e deslumbrante armada, aqui desembarcavam cerca de 400 homens, da melhor gente lusitana, para colonizar e guardar as costas do Brasil.

 Dia é este portanto, que simboliza para todos nós uma hora culminante, uma hora sublime da história pátria - a da primeira alvorada da nação brasileira. E, no perscrutar  o fundo desse passado distante, confessamos a peito aberto que sentimos sempre uma sedução imensa.

 Por esse motivo, aquiescendo à gentileza do convite que nos fez o digno presidente da Câmara, nosso prezado amigo Edison Teles de Azevedo, concordamos em vir hoje aqui para convosco celebrar esta grande efeméride e reviver um pouco do pretérito da cidade.

 Para revivê-lo apenas um pouco, frisamos bem, porque nada mais faremos do que uma ligeira evocação de quadros de que S. Vicente foi cenário e teatro e de algumas personagens que aqui ou nasceram, ou viveram, ou se finaram. Não precisamos recordar o feito de Martim Afonso, que é assunto bastante conhecido.

 Para quem tem a curiosidade das averiguações, são mais interessantes os pontos menos trilhados, as veredas pouco iluminadas da nossa história. Até porque o povoado martim-afonsino, durante a sua primeira centúria, marasmou numa grande estagnação. Saint-Hilaire, na Viagem à Província de S. Paulo, menciona a povoação de S. Vicente em 1630 apenas com 200 habitantes, excluídos os escravos. Ela pouco se diferenciava da aldeiazinha de 1532.



 Vejamo-la, por isso, no mesmo dia de hoje, neste mesmo mês, mas há 337 anos, quando defronte das suas praias, à boca da barra, balouçava uma esquadra estrangeira.

 Era Jorge de Spilbergen quem ali estava, isto é, um dos melhores navegadores holandeses daquele tempo, que tinha recebido o comando de uma frota equipada pela Companhia das Índias Orientais, para atravessar o estreito de Magalhães, percorrer a costa sul-americana do Pacífico e rumar para as Molucas, donde prosseguiria viagem a fim de completar a circunavegação do globo.

 Assim, haviam zarpado de Amsterdam a 8 de agosto de 1614 as seguintes naus: o Sol grande, a Lua grande, o Caçador e a Gaivota; da Zeelândia: o Éolo; de Roterdam: a Estrela matutina. Eram ao todo seis naus.

 A 3 de outubro vogava a esquadra nas costas da Ilha da Madeira. Avistava a 23 as ilhas do Fogo e Brava, no arquipélago de Cabo Verde, e a 9 de dezembro os navios cruzavam os Abrolhos, a 30 milhas da costa da Bahia. Comemoraram essa passagem com um serviço religioso em ação de graças. E, ao jantar, cada marinheiro teve em sua mesa uma bilha de vinho espanhol.

 Em 12 de dezembro avistaram a costa do Brasil, muito alta e montanhosa. E daí em diante navegaram sempre à vista da terra. À barra do Rio de Janeiro chegaram no dia 19. Com a Gaivota sempre na dianteira, atingia enfim a frota a Ilha Grande, no dia 20, fazendo-se ali aguada e grande pescaria.

 A 15 de janeiro de 1615 a esquadra desaferrava da Ilha Grande, zarpando para S. Vicente, com o fim de pedir refresco aos portugueses. A costa paulista era vista a 17. Enxergava-se em terra grande fumarada. No dia 18 a Gaivota chegava a pouca distância da praia, em S. Vicente, onde havia muita gente.

 Gritavam os portugueses que só descesse em terra um homem e que os escaleres não tentassem ancorar. João Hendriksz, segundo piloto da Lua Grande, despiu-se, e rápido nadou para a terra Apareceu então uma porção de homens brancos seguidos de numerosos índios armados de arco e flechas. Dentre os brancos sobressaiu um que perguntou ao piloto de que nação eram os seus, donde vinham, para onde iam e que pretendiam ali. Que eram flamengos, respondeu-lhe o outro, que queriam comprar refrescos ou provisões para a guarnição, e que iam para o Rio da Prata.

 Desconfiado daqueles flamengos que não eram súditos de Portugal, respondeu-lhes o luso interpelante, que no Brasil estavam todos proibidos de traficar com os de Holanda.

 No dia seguinte, fundeou Spilbergen com quatro dos seus navios, na baía de Santos, deixando o Caçador de sentinela na frente da praia de Paranapoan, onde tinham aparecido os portugueses e os índios.

 De 20 a 22 levaram os flamengos a parlamentar com os portugueses, tendo o almirante mandado de presente a Pero Cubas, capitão-mor interino de S. Vicente, dois queijos, duas garrafas de vinho velho espanhol, um pacote de facas e várias quinquilharias para o povo.

 Não foi possível, entretanto, nenhuma avença entre eles. Pelo que, a 23, o próprio Spilbergen assumiu a iniciativa de uma ação enérgica. Investida de todos os lados, S. Vicente tinha de pagar bem caro a audácia das suas recusas.

 Parte da esquadra avançou para a entrada da barra de Santos e parte para o porto de S. Vicente. Ocuparam o grande engenho de S. Jorge, com as suas várias dependências e uma igreja, perto da nascente do rio S. Jorge, também chamado, por isso mesmo, rio da Igreja. Era ela dedicada a N. Senhora das Neves, nome que João Cornelissen de Mays, cronista daquela viagem, grafou Seignora de Nives, por conhecer o latim "nix, nivis", e no plural "nives, nivium", e ignorar completamente o português "neves". Desse lugar aprazível, onde havia pomares e extensos canaviais, trouxeram os escaleres muita fruta para bordo.

 A 24 entrou Spilbergen pelo canal, em direção à vila de Santos, e mandou que quatro chalupas subissem o rio da Bertioga em busca de refresco.

 No dia 29 voltaram as chalupas holandesas à praia de S. Vicente, dirigiram-se os soldados ao lugar de um velho baluarte, colheram nos pomares mais de 8.000 laranjas, limões e abateram vários suínos.

 Incendiaram ao mesmo tempo um engenho, um depósito de açúcar e a igreja de Santa Maria de Nague, palavra esta que o cronista erradamente grafou, devendo ser N. S. dos Navegantes, por dizer-se em latim "navigans". Tudo isso tinha pertencido a Jerónimo Leitão, conforme licença que obtivera da Câmara vicentina em 14 de agosto de 1580 para construir um engenho, um trapiche com casa de purgar e uma capela ao lado fronteiro a Tumiaru, ou fronteiro à vila (Cfr. Gaspar, Memórias, n. 35).

 E, afinal, o "velho baluarte", era o fortim mais tarde conhecido pelo nome de Fortalezinha, a qual se acha mencionada na planta hidrográfica da barra e do porto de Santos, levantada pelo barão de Tefé, em 1876; no mapa da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de S. Paulo, edição preliminar de 1911; e nos trabalhos de Calixto. Ela ficava precisamente no sítio chamado mais tarde Fortalezinha, ou Casa de Pedra.

 Numa escritura pública de venda do sítio Parnapuan, passada em 12 de fevereiro de 1891, entre Joaquim Manuel das Neves e outros e Antonio de Lima Machado e outro, pudemos verificar que aquele sítio dividia de um lado "com a Prainha, em frente à boca da barra de S. Vicente, e Pasto Grande, e partia da Fortalezinha ou Simirinduba ao cume do morro etc.".

 Esse nome tupi - Simirinduba - afigura-se-nos corruptela de Itamirindyba, que significa lugar onde existem em abundância pedras pequenas. A denominação de sítio Casa de Pedra, vamos encontrá-la por sua vez no aviso régio de 1817, época em que tal imóvel pertencia a d. Josefa Ferreira Bueno, e media 100 braças de testada por 50 de fundos.

 Estas coisas remotas, que nos levam o pensamento para os longes do passado, é pena que hoje só existam em velhos e relegados papéis. Seriam preciosas relíquias documentárias, seriam, se ainda aí estivessem, as raízes vivas desta nacionalidade que os nossos antepassados com tanto esforço, com tão entranhável carinho e tanto amor edificaram!

 Mencionaremos ainda outro iconoclasta das nossas coisas antigas.

 Na segunda metade do mesmo século XVII, havia em S. Vicente um homem de gênio arrebatado, grosseirão e violento, que se chamava Manuel Vieira Calassa. Era capitão de infantaria.

 Residiam também ali, na mesma época, o capitão Rafael Carvalho, lisbonense, e sua mulher d. Catarina de Siqueira de Mendonça. Tinha este casal uma filha, filha única, de 16 anos, cuja beleza se expandia com a graça e o perfume de uma flor. Achavam-na mesmo a figura feminina mais sedutora do vilarejo.

 Vendo-a constantemente, enamorou-se dela aquele Manuel Vieira Calassa. E começou ele a sentir então que o amor lhe serenava os estouvamentos impulsivos, aperfeiçoava-lhe a alma dura e brutal, comunicava-lhe lucidez aos pensamentos e doçura ao coração. Sentindo-se por isso possuído da maior paixão que ainda palpitou e fremiu e ardeu em coração de homem, deliberou casar-se com ela.

 Foi à casa de Rafael Carvalho. Acolhido com fidalga cortesia, pediu em casamento a encantadora Margarida. Após um ligeiro intervalo de meditação, respondeu-lhe Rafael Carvalho:

 - Pois sim, sr. capitão, vou consultar minha filha a esse respeito.

 - Segundo nossas usanças, ponderou Calassa, em tais casos compete aos pais dispor da vontade e da sorte dos filhos.

 - Não, redargüiu o pai, quero que minha filha encontre no casamento a realidade das suas aspirações. Eu preciso ouvir-lhe a voz do coração.

 - Visto isso, tornou o pretendente, que conhecia muito bem a firmeza das resoluções de Rafael Carvalho, aguardarei a resposta.

 E saiu ruminando o seu resplandecente sonho.

 Margarida, consultada, rejeitou desde logo o pedido.

 - Conheço-lhe o gênio despótico, impulsivo e estouvado - disse ela. Não porei o meu destino aos pés desse homem.

 Sabedor da recusa, teve Calassa uma explosão de cólera. Já concitava capangas e valentões para um ataque à residência de Rafael Carvalho, quando, informado disso, mandou este a mulher e a filha para a casa de Cipriano Tavares, seu cunhado e capitão-mor governador da Capitania, e dispôs-se a pelejar com os acometedores. Essa desavença, porém, deu apenas muito que falar. Não desfechou em luta.

 Algum tempo tinha rodado sobre esse fato. Um dia, novo casamento aparecia para a linda vicentina. Pedia-lhe a mão desta feita Domingos da Silva Monteiro, filho de outro Domingos da Silva Monteiro, sargento-mor da fortaleza do Itapema.

 Mas o tempo, grande desgastador de tenções, não havia cambiado ainda em desenganos as esperanças de Calassa. Pretendeu este procurar no pó desinteressante do arquivo da Câmara Municipal, certos documentos relativos à família do pretendente. Pedindo licença para isso ao capitão-mor, este não lha deu.

 Ele, então, a coberto das trevas da noite, conseguiu entrar naquele arquivo. A sala estava às escuras. Alumiou-a com um candeeiro de latão amarelo de dois bicos. Revolveu com mão audaz todos os livros e escritos que encontrou, deixando-os em desordem.

 De repente, a chama do candeeiro acendeu uma viva labareda num monte de papéis e um incêndio abrasou todos os livros, todos os documentos, todos os móveis do primeiro, do mais precioso arquivo do Brasil. Por esse motivo, escreveu Afonso de Taunay: "Atas seiscentistas da Câmara de S. Vicente, é coisa de que desde séculos não existem vestígios". (Na era das bandeiras, 86).

 Margarida Carvalho da Silva veio a casar-se com o aludido Domingos da Silva Monteiro, que pouco depois partia com ela para a remota Cuiabá, como provedor dos reais quintos, e lá enfim faleceu.

 O capitão Manuel Vieira Calassa, que alguns chegaram a dizer que havia enlouquecido, viveu ainda longos anos bem rijo e são. Disso aliás nos certifica este fato curioso:

 Em 26 de junho de 1701, servindo como padrinho de batismo de uma filha do capitão João Dias Mendes, pôs-lhe o nome Margarida. Demonstrava assim que permanecia na sua alma a lembrança recolhida e intensa daquela que loucamente amara.

 Ao lado desses inimigos das tradições da cidade, citemos agora alguns amigos, amigos mais chegados aos nossos dias.

 Inda no século XVII, e já no seu derradeiro quartel, chegava a S. Vicente um homem que depois veio a ser tronco de numerosas e preclaras vergônteas. Referimo-nos ao sargento-mor José Gonçalves de Aguiar, natural de S. Martinho de Lordelo, no bispado do Porto. Desposou-se com a vicentina Josefa Rodrigues de Lara e desse casamento surdiram sete filhos.

 O sétimo, de nome Gaspar Gonçalves de Aguiar, nascido em 1727, casou por sua vez com Beatriz Corrêa de Oliveira, de Conceição de Itanhaém. Figura ele na lista da Ordenança de S. Vicente, em 1765. Lavrador, punha no trabalho a força criadora de todas as suas energias; e por isso, em 1798, aos 71 anos de idade, colhia 150 alqueires de arroz, 90 de farinha e 100 medidas de aguardente. Possuía a seu serviço duas agregadas e 15 escravos. Ademais, tinha rede de arrastar, com a qual ganhava por ano 25$600. Tudo vendia para a vila de Santos. E gastava anualmente em sua casa em vestuário 100$000.

 Seis filhos teve ele, sendo que o quarto nasceu a 10 de setembro de 1765 e na pia batismal recebeu o nome de José, em 21 do mesmo mês e ano. Chegou este a capitão-mor. É o capitão-mor José Gonçalves de Aguiar, ou simplesmente capitão-mor Aguiar, o último capitão-mor de S. Vicente.

 De seu matrimônio com Vitoriana Ferreira Ribas, natural da vila de Curitiba, filha de Manuel José Ferreira e Antonia Maria Ribas, nasceram:

 1) Gertrudes Gonçalves Ribas, em 1803, que foi casada com o sargento-mor João Pereira Sodré;

 2) José Manuel Gonçalves Ribas, 1804, que casou com Rosa Maria da Assunção, filha de Manuel Antonio Machado e Domingas da Conceição;

 3) Manuel Gonçalves Ribas, 1806, falecido na infância;

 4) Manuel Gonçalves Ribas (2º), 1810, também falecido criança;

 5) Maria da Luz Gonçalves Ribas, 1812, casada com João de Azevedo Cunha; e, finalmente,

 6) Carolina de Oliveira Ribas, 1817, casada com João Pereira Machado, filho do citado Manuel Antonio Machado e sua mulher Domingas da Conceição.

 Quisemos fazer esta referência a esses vários nomes porque a quase todos eles, como a raízes profundas de uma tradição doméstica, estão ligadas importantes famílias vicentinas e santistas. Constituem o liame entre o tempo que foi e o tempo de agora.

 O sargento-mor Aguiar faleceu em 22 de dezembro de 1843, assaz entrado em anos, tendo transposto a casa dos 78, e foi inumado na igreja Matriz, defronte do altar de N. S. da Assunção.

 Habituado a medir-se com toda a sorte de trabalhos, foi grande lavrador; foi edil e juiz vereador em 1806; fez o recenseamento de S. Vicente em 1813; foi procurador da Irmandade do Santíssimo Sacramento; foi presidente do senado da Câmara em 1822; e, em 1835, exerceu o cargo de juiz municipal, com grande opinião de competência e inteireza.

 Como juiz vereador, assinalou-se em 1817 Sebastião Lopes de Azevedo. E distinguiram-se também pelo merecimento seus dois filhos: Tomaz Antonio de Azevedo, como juiz de paz, em 1841, 1888; e João Marcelino de Azevedo, como presidente da Câmara de 1871 a 1873.

 Não pode, por conseguinte, ser mais fagueira a fortuna da presidência atual da Câmara de S. Vicente, quando a vemos ocupada por uma pessoa do porte de Edison Teles de Azevedo, digno descendente desses homens que foram valorosos romeiros do progresso da cidade.

 Não cabe nas proporções da nossa palestra desenvolvermos aqui os diferentes capítulos da história desta terra.

 Conteriam eles, sem dúvida, substanciosas notícias sobre temas como estes: o Colégio dos Meninos de Jesus; o engenho dos Erasmos; o Pelourinho; o Senado da Câmara e os antigos camaristas; os capitães-mores; os vigários antigos; a Fazenda de Santa Ana (onde nasceu frei Gaspar); a agricultura; o comércio; as estatísticas; a cadeia antiga; o cemitério; as vias públicas e as suas denominações; a ponte pênsil; a instrução; a Empresa Carris de Ferro; S. Vicente na Abolição e na República; a imprensa; o marquês de S. Vicente e a razão do seu título; e vicentinos olvidados como, pondo um exemplo, o padre Manuel Gomes Loureiro, que era tão conhecedor da história de S. Vicente e de Santos que Machado de Oliveira, seu sobrinho, para escrever o Quadro histórico da Província de S. Paulo, dele colheu preciosos subsídios.

 Dois pontos, por isso, vão servir-nos de fecho e remate. São eles: o recrutamento em S. Vicente, e o problema da água.

 No período colonial, e até mesmo no Império, o recrutamento para as tropas foi o maior espantalho do nosso povo. Quem estivesse em condições e servir nas fileiras, era logo agarrado e conduzido aos respectivos postos. Para o recrutamento não existia critério algum. Dependia tudo das exigências do momento e sobretudo do arbítrio das autoridades.

 Atibaia, por exemplo, tornou-se quase erma em 1797, quando ali apareceram alguns agentes recrutadores. A população evadiu-se. Meteram-se os moços por entre a espessura das matas, donde cada um saía, pouco tempo depois, de cabeleira intonsa, barba copiosa e dispersa e o bigode a chover-lhe sobre os lábios. São Vicente foi uma das grandes vítimas desse flagelo. Contra o excessivo e constante recrutamento de jovens vicentinos a própria Câmara Municipal chegou certa vez a reclamar.

 Por isso mesmo, Rodrigo César de Menezes, quatro dias após haver tomado posse do cargo de governador da Capitania de São Paulo, já comunicava a d. João V que havia ordenado ao governador da praça de Santos que não continuasse a arrolar na milícia os moços de São Vicente "pela grande vexação (são palavras do governador) que experimentava aquele povo", e para que a vila não se despovoasse.

 Sem embargo disso, o recrutamento de quando em quando reaparecia. Caso interessante foi até o que se deu no segundo império.

 Era chefe de polícia o dr. Cardoso de Melo Filho. A Constantino de Mesquita, então primeiro suplente do subdelegado de polícia de São Vicente, oficiava ele solicitando que auxiliasse com o seu destacamento policial o serviço de recrutamento que ia ser realizado naquele município. A resposta da referida autoridade policial vicentina foi esta:

 "Ilmo. Exmo. Sr.

 "Constantino de Mesquita, primeiro suplente do subdelegado da Vila de S. Vicente, tendo, no exercício desse cargo, prestado o relevantíssimo serviço de não fazer coisa nenhuma, vem comunicar a V. Excia. que se considera demitido da tal suplência, e desiste da vara que, por ficção, constata o exercício do cargo.

 "Não concordando com as ordens do governo para que haja recrutamento - com ou sem os abusos a que se refere o último aviso do ministro da Justiça, o abaixo assinado cederia de seus intentos e começaria por caçar gente se lhe fosse permitido recrutar as três pessoas mais competentes para preencher os claros do exército: 1º) V. Excia.; 2º) o sr. presidente da Província, e 3º) o duque de Saxe".

 Seguem-se na mesma linguagem de troça outros desrespeitos, e remata deste teor: "Deus me guarde de V. Excia., do cônego Manuel Vicente, e das notas falsas. Santos, 16 de novembro de 1888. - Constantino de Mesquita".

 Agora o problema da água.

 O problema da água é mais do que secular nesta cidade; pois surgiu ele em 1822, quando a Câmara tratou de adquirir metade do morro dos Barbosas. Pertencia este a diversos pardos forros, como Caetano Barbosa, Raimundo Barbosa, Domingos Barbosa, José Mariano Barbosa, Maria Barbosa, Inácia Barbosa e Mariana Barbosa.

 Intimados todos eles pelo senado da Câmara para exibir o seu título de domínio e assinar um termo pelo qual se comprometessem a não fazer novas plantações, e nem derrubar pau algum nas redondezas da fonte ali existente, recusaram-se a apresentar o referido documento e não quiseram assinar termo algum.

 O juiz presidente e os vereadores estranharam esse tamanho "arrojo", com que se atreveram eles a faltar às ordens do senado e, por isso, mandaram que os recolhessem à enxovia.

 No mesmo instante, um deles principiou a dizer que padecia de um reumatismo teimoso, outro que sofria de asma, outro que tinha uma lesão no coração; uma das mulatas, caipira esquiva como uma onça nova, pôs-se a chorar; e, em conclusão, acabaram acrescentando que não tinham dúvida em assinar o termo que o senado da Câmara determinasse e daquela hora em diante jamais plantariam nem cortariam árvore alguma na dita metade do morro.

 O morro inteiro lhes tinha custado 12$800. Para que não fossem prejudicados, pagou-lhes a Câmara pela metade dele 6$400. E assim conservou S. Vicente, sob um dossel verde de ramarias, a frescura das águas cantantes da fonte chamada outrora "dos Jesuítas".

 Um correspondente do Diário de Santos, proclamando em 25 de dezembro de 1872 a excelência dessa água, escrevia: "Muito me tem descontentado o estado em que se acha o nosso chafariz. Ali se encontra a melhor água conhecida, e não houve quem não ficasse surpreendido, ao prová-la. É de tal forma leve e cristalina, que merece a atenção dos poderes públicos.

 "Em vez de torneira, existe uma bica, fechada com um batoque de madeira, e o que mais me indigna é ver que em razão da enorme procura, do meio dia em diante, vai-se manifestando bem sensível redução na água desse chafariz. Não se fez até hoje um reservatório, e estou vendo o momento em que ficaremos de todo sem este recurso".

 Em 1883 o Governo Provincial promulgou várias leis sobre a canalização de água potável na vila de S. Vicente. Em 1887, foi encarregado de fazer estudos a esse respeito o engenheiro dr. José Luís Coelho.

 

*

AS HISTÓRIAS DE SEU EVARISTO


Suplemento especial de A Tribuna de 24/4/1983) 

Comemorando seu 90º aniversário de publicação, o jornal A Tribuna de Santos publicou - em 24 de abril de 1983 - um caderno especial com uma grande entrevista com José Evaristo da Silva, residente em São Vicente, que nesse dia completava 93 anos de idade "e pode se gabar de ser uma das poucas pessoas a existir há mais tempo do que este jornal. Personagem que se tornou uma testemunha viva de acontecimentos históricos, dramáticos ou simplesmente pitorescos", como citou o matutino na capa desse caderno especial, que abrangeu também histórias de Guarujá e outras cidades da região. 

Serra acima - Nascido em 24/4/1890 em Barretos/SP e criado em Bebedouro/SP, José Evaristo se transferiu ainda jovem para São Vicente. Ele se lembra do histórico dia de 1913 em que ele e alguns amigos subiram a Serra Velha numa Ítala de quatro cilindros, "um pistão enorme", e foram recebidos com um almoço pelo prefeito de São Paulo, pois foi a primeira vez que alguém teve a coragem de fazer aquela viagem de automóvel. 

Cita a matéria que a Serra Velha era "um caminho por onde passavam apenas cavaleiros e tropas de burros. O senhor Evaristo tenta, mas não consegue se lembrar dos nomes de todos os seus companheiros, naquela viagem pioneira".

                   


E José Evaristo retoma o relato: "O carro era uma Ítala muito potente. Tinha só quatro cilindros, mas o pistão era grande assim. Eles me convidaram porque eu era motorista e entendia um pouco de mecânica. Foi difícil a subida e atolamos várias vezes. O carro foi retirado três vezes por cavalos emprestados pelo dono de umas olarias lá no meio da serra. Na quarta vez ele reclamou que a gente estava atrapalhando seu serviço e aí tiramos o carro na mão mesmo". 

José Evaristo lembra que ficou muito mais fácil depois de chegar a São Bernardo. Mas bom mesmo foi quando chegaram a São Paulo e o prefeito ofereceu um almoço a eles: "Foi no Rotisserie Hotel, ao lado do Viaduto do Chá. Isso aconteceu em 1913." Foi nesse mesmo ano que ele tirou sua carta de motorista, segundo sua memória. 

Ele não se esquece, por exemplo, que o lugar onde existe hoje o quartel do 2º Batalhão de Caçadores era uma sociedade alemã, o Clube Germânico: "Depois da guerra é que o Brasil tomou tudo aquilo". 

Primeiro ponto - José Evaristo teve outro pioneirismo: a abertura do primeiro ponto de automóveis de aluguel de São Vicente(em 1936, na Praça Barão do Rio Branco). Como relatou ao jornal: "Já havia uns carros de aluguel, mas ponto mesmo foi o primeiro. Era ali na Praça Barão do Rio Branco, onde só existia a estação dos bondes e um barracão de zinco grande, que era a Polícia da Cidade." 

Continua o jornal: "Os primeiros carros que chegaram por aqui eram europeus. Só mais tarde é que vieram os americanos. São Vicente tinha pouquíssimas ruas que permitiam a passagem de automóveis. No início, só havia calçamento onde passava o bonde, nas linhas 1 e 2. A linha 1 era pelo Matadouro e a 2 ia da Capitão-mor Aguiar até Santos. Mas automóvel ainda era para poucos e o trem era o grande veículo para as viagens." 

Ponte Pênsil - Relata o jornal, na edição especial, referindo-se a José Evaristo da Silva: "Ele se lembra, por exemplo, do acidente de moto que aconteceu no dia da inauguração da Ponte Pênsil, em 1914, fatal para o piloto, um rapaz da família Prado. (...) No dia da inauguração da Ponte Pênsil, ele estava trabalhando. Era motorista particular de Antônio Cândido Gomes, naquele distante dia de 1914, quando todas as autoridades desceram a serra para a grande festa. Só que aconteceu o que ninguém esperava: um acidente de trânsito, com uma vítima. 'As mãos de direção eram como hoje. A gente entrava na ponte vindo pelo lado da Capitão-mor Aguiar e saía pelo lado da Biquinha. Um motociclista tentou entrar pela contramão, pegou a frente de um carro e subiu. Ele subiu até a altura do fio do poste e acho que já estava morto quando caiu no chão. Ele era da família Prado, não me lembro do primeiro nome. Só sei que era família grossa e nem saiu direito nos jornais. Nesse dia, teve um grande engarrafamento na ponte, porque o trânsito parou dos dois lados'. Parece incrível, mas a velha Ponte Pênsil já começou com um congestionamento". 

"Aqui (Vila Valença- São Vicente) era só pasto, onde o pessoal trazia o gado para descansar e não perder peso na viagem" 

Em termos comparativos, é difícil dizer o que foi mais importante para a vida de São Vicente nestes últimos 90 anos: se a inauguração do monumento comemorativo ao 4º Centenário do Descobrimento do Brasil ou a reurbanização da Praça Barão do Rio Branco que aí está; se a Ponte Pênsil ou a nova ponte sobre o Mar Pequeno; se a Via Anchieta ou a Rodovia dos Imigrantes; se a água que veio da Adutora de Itu ou o reservatório-túnel no Morro do Voturuá; se as linhas de bondes ou as avenidas de tráfego expresso; se as violentas ressacas da maré ou a total desfiguração da Ilha Porchat; se a paulatina perda de áreas limítrofes para Santos ou a emancipação de Praia Grande em um só golpe; se o Cassino Ilha Porchat ou o Jockey Club São Vicente; se o quarto centenário de 1932 ou os quatro séculos e meio no ano passado [N.E.: 1982]. 

É difícil dizer, porque cada um destes acontecimentos, e tantos outros mais registrados dia a dia por A Tribuna, desde seus primeiros números, contribuíram em sua época para afetar, de alguma forma, a evolução histórica da Cidade. 

"Ali era um grande descampado onde a boiada pastava e descansava depois da viagem, antes de ser levada para o matadouro". O ali, a que se refere o seu José Evaristo da Silva, era a área pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Santos, onde hoje estão os povoados bairros de Vila Valença e Jardim Independência. 

Nas primeiras décadas deste século [N.E.: século XX], São Vicente era toda verde. Afora as construções no Centro, onde remanesciam estoicamente alguns prédios da época colonial, o restante desta metade da Ilha era formado de densa vegetação, eventualmente cortado por caminhos, picadas e linha do bonde. A abertura da avenida de acesso à Ponte Pênsil, e a casa do João do Morro na encosta próxima à Biquinha, nem de leve afetavam a virgindade do Morro dos Barbosas, onde viviam grupos de índios aculturados. 

A Ilha Porchat, que era verdadeiramente ilha, cercada de água por todos os lados, estava inteira; apenas no sopé, onde se chegava por uma ponte vazada de madeira, o cassino movimentava centenas de contos de réis entre um e outro show de famosos artistas nacionais e internacionais. Os barões do café, os membros do corpo diplomático e os empresários da navegação construíam na Boa Vista seus casarões em estilo europeu, muita grama e muita árvore, sem faltarem as cocheiras com puros-sangues para trotes e galopes nas areias quase desertas da Praia do Itararé. 

"Glória ao berço do Brasil" foi a manchete de primeira página de A Tribuna numa sexta-feira, dia 22 de janeiro de 1932. Margeada por longa matéria alusiva ao 4º Centenário de Fundação da Cellula Mater, artístico desenho de uma nau portuguesa saudava o fundador Martim Afonso de Souza. Seu Evaristo leu tudo aquilo e mais o noticiário nas páginas internas, com muita calma pois era feriado nacional especialmente decretado pelo chefe do Governo Provisório, Getúlio Dornelles Vargas. Houve muita festa na Cidade, apesar da inquietação política que pairava sobre São Paulo. Veio o 9 de Julho e São Vicente também teve seus heróis. 

Entre umas e outras ressacas da maré, menos ou mais violentas, a Baía de São Vicente ia pouco a pouco perdendo sua faixa de areia, devido, segundo alguns, à substituição do acesso de madeira à Ilha Porchat por uma compacta ponte de concreto. Brotavam na orla do mar os "arranha-céus" Mirante, Gáudio, Icaraí e Grajahu, precursores de centenas de outros mais altos, enquanto áreas de periferia, anteriormente destinadas à agricultura (com seus canais de irrigação) eram convertidas em loteamento. 

A falta de água, que já era crítica para o morador vicentino, virava calamidade pública no verão com a chegada dos forasteiros. Durante muitos anos foi um martírio ter-se de recorrer à Biquinha ou às fontes no Itararé ou Voturuá, em filas intermináveis de garrafões e panelas à cata de água potável. A de torneira, quando havia, era armazenada em latões para o chamado na época "banho de canequinha". Quem tinha recursos, mandava furar um poço artesiano no quintal ou então abastecia as caixas subterrâneas recém-construídas com água comprada em caminhões-pipa. Apesar desta dificuldade, a Via Anchieta trazia nos fins de semana e temporadas mais e mais paulistanos para as praias ainda limpas e de águas claras. 

E aconteceu o surto imobiliário, ajudado pela parcial solução do problema do abastecimento de água com o advento da Adutora de Itu. Aproveitando a tibieza da fiscalização e os "buracos" da legislação de obras, os edifícios de apartamentos do tipo porta-e-janela pipocaram indiscriminadamente; as últimas casas antigas do Centro deram lugar a prédios comerciais e os bairros periféricos já eram sólidos núcleos habitacionais, muitos deles favelas ou palafitas sobre o mangue. 

Sem o "inconveniente" da Pedra dos Ladrões, que a insensibilidade do administrador transformara em guias e sarjetas, e com os bondes fora de circulação, a Cidade recebia suas primeiras avenidas asfaltadas, na praia e na antiga Linha 1. Era o progresso que chegava, trazendo também o telefone de disco em substituição ao de manivela da velha C.T.B.: o mesmo progresso que trocara as flores, o gramado britânico e o coreto do Jardim da City pelo estranho, importuno e feio prédio dos Correios e Telégrafos. 

Vieram os tempos bicudos. O funcionalismo municipal vivia à custa de esmolados vales nos cofres vazios da Prefeitura ou convertendo em dinheiro as mercadorias que retirava fiado na Cooperativa. Um prefeito renunciou, um vice-prefeito também, outro prefeito foi demitido pela Revolução e a Cidade andou aos trancos e barrancos nas mãos de interventores. O Morro dos Barbosas vingou-se das seguidas violações que vinha sofrendo e, em memorável rasteira, derrubou o Edifício Vista Linda, felizmente sem vítimas fatais. De abandono em abandono, o Bairro de Praia Grande não agüentava mais e acabou tornando-se Município. As pedreiras localizadas no Morro do Voturuá começavam a aterrorizar os moradores na Vila Valença e Vila Misericórdia (hoje Jardim Independência). A cada chuva mais forte, coincidindo com maré alta, ocorriam violentas enchentes na Vila Fátima e bairros vizinhos, destruindo habitações humildes e deixando centenas de desabrigados; era um desespero só. 

Depois vieram outros prefeitos, não tão bons quanto José Monteiro (foto), que foi o melhor de todos - no entender do seu Evaristo -, mas que procuraram assumir a realidade do chamado progresso e desenvolvimento; ajeitaram as finanças municipais, iluminaram e pavimentaram avenidas e ruas de praias e bairros, reurbanizaram praças, construíram escolas e pré-escolas, brigaram com o Governo do Estado por obras prioritárias etc. Viveram os adventos da Rodovia dos Imigrantes e da nova ponte sobre o Mar Pequeno, mas não conseguiram (e quem conseguirá?) solucionar o problema das favelas onde hoje vivem 45 mil pessoas. 

E o futuro? Bem, o futuro a Deus pertence, diria talvez seu Evaristo, com a experiência de quem viu sua cidade passar por tantas transformações ao longo das últimas décadas, onde a imprevisibilidade da vida quase sempre desmentiu as perspectivas feitas com base no raciocínio e na lógica dos futurólogos e planejadores. Mas, seja qual for esse futuro, São Vicente depende de decisões - principalmente ações - urgentes para solucionar os muitos e graves problemas que hoje [N.E.: 1983...] enfrenta. 

No momento, a Cidade tem nos contrastes a sua característica principal. Ao caminhar pela chamada área turística do Município, seu Evaristo encontra hoje a orla da praia totalmente ocupada por grandes edifícios, que à primeira vista dão idéia de um progresso discutível que São Vicente conheceu nos últimos tempos. Um pouco mais para trás, surge uma extensa área periférica que vai, com grandes dificuldades, conhecendo os primeiros sinais da urbanização que, na orla das praias, já é coisa antiga. Mais para trás ainda na Cidade, um enorme cinturão de favelas, abrigando 45 mil pessoas, sitia a parte insular do Município. E do outro lado do mar, após o Canal dos Barreiros, está o Distrito de Samaritá, o território continental de São Vicente, muito maior do que a área insular e praticamente inexplorado em suas potencialidades diversas. 

Há algum tempo, os administradores vicentinos têm consciência de que as possibilidades do Município dentro da ilha estão esgotadas e, na região insular, a atenção se volta agora para a busca de soluções que minorem alguns problemas que ameaçam se tornar irreversíveis. Se o boom imobiliário na orla da praia incrementou o setor da construção civil e transformou São Vicente num dos principais pólos de atração turística da Baixada, hoje é flagrante que a Cidade se ressente da falta de uma infra-estrutura para agüentar o peso dessa posição, sob ameaça de ver comprometida uma das únicas fontes de renda municipal. 

A concentração populacional nas praias provocou desequilíbrios no meio-ambiente, o mais grave representado pela poluição do mar, resultado de um sistema de esgotos não planejado para suportar tamanha sobrecarga. Atualmente, a Cidade tem apenas 16 por cento da área insular (centro e praias) com saneamento. A Sabesp, dentro de suas obras de expansão que já se arrastam há quase três anos, pretende ampliar esse índice para 60 por cento, mas beneficiando apenas a zona periférica, não havendo no momento verbas para se redimensionar o sistema na orla da praia, embora os técnicos da concessionária admitam que a situação ali é grave, com constantes extravasamentos de esgoto para o mar, durante temporadas ou fins de semana prolongados. E seu Evaristo corre hoje o risco de nunca mais ver o mar vicentino tão belo e limpo que atraiu para a Cidade tanta gente de fora. De que adianta um mar onde a gente já tem que pensar duas vezes antes de mergulhar, não é mesmo, seu Evaristo? Por isso, a luta pelo saneamento básico continuará sendo um dos itens mais importantes do futuro de São Vicente. 

Urbanizar a periferia representa uma outra tarefa árdua, especialmente em função dos altos custos que o calçamento de ruas envolve hoje em dia, inviabilizando o outrora eficiente plano comunitário de urbanização, sem que até agora tivessem surgido alternativas para substituí-lo. Nada, porém, se compara, em termos de gravidade para os problemas da região insular do Município, como as favelas. De tempos em tempos, seu Evaristo abria as páginas de A Tribuna e constatava que mais uma invasão das chamadas áreas de marinha ocorrera, com o rápido surgimento de mais um núcleo de sub-habitações. Hoje, os favelados, de acordo com as últimas estimativas (que já podem estar defasadas com a realidade), somam 45 mil, o maior índice da Baixada. 

O que fazer com toda essa gente, seu Evaristo? Essa questão vem sendo feita por todos os últimos prefeitos de São Vicente e, sem dúvida, ainda continuará ocupando lugar de destaque nas administrações futuras, embora, a nível municipal, pouco possa ser feito para resolver o problema, que exige condições financeiras que a Prefeitura vicentina dificilmente terá, mesmo num futuro mais distante. Alguns defendem a urbanização desses núcleos, que hoje já contam, em grande parte, com água encanada e luz. Tal proposta representaria uma ampliação dos esforços para urbanizar a zona periférica, logicamente com obstáculos ainda maiores aos atuais. Outros, contudo, entendem que a transferência das favelas seria a melhor opção, como meio de se ordenar o traçado urbano da cidade. Mas, transferir para onde? 

Bem em frente às duas maiores favelas do Município, Saquaré e México-70, do outro lado do Canal dos Barreiros, fica o Distrito de Samaritá, abrigando hoje uma população em torno de 15 mil habitantes, divididos em três núcleos maiores - Vila Ferroviária, Parque das Bandeiras e Jardim Rio Branco - e outros agrupamentos menores. 

Os defensores da tese da transferência das favelas vêem em Samaritá a alternativa ideal para abrigar conjuntos habitacionais que seriam ocupados pelos favelados da região insular. Área é que não falta, já que a maior parte do distrito é deserta. Os que defendem a não transferência e a urbanização das favelas colocam como empecilho a resistência natural à mudança desses milhares de pessoas, em especial devido às dificuldades de acesso entre São Vicente e Samaritá. Ambos, no entanto, concordam que o distrito representa uma das únicas saídas para resolver o déficit habitacional, não só do Município como da Baixada. 

A nível econômico, o Distrito de Samaritá é também considerado a única opção para São Vicente, que hoje tem nos impostos predial e territorial a sua maior fonte de receita na área insular. Samaritá, na opinião dos últimos administradores vicentinos, também representaria a única saída para a geração de empregos no Município, no momento restrita ao setor da construção civil e ao comércio. Simultânea à ocupação habitacional do distrito, prevê-se também sua ocupação industrial. 

Mas, nos dois casos, as dificuldades de acesso à região continental continuam sendo os maiores obstáculos. É por isso que, volta e meia, seu Evaristo abre o jornal e vê alguém defendendo, de maneira contundente, a construção de uma ponte sobre o Canal dos Barreiros que permita a integração rodoviária entre a parte continental e a sede do Município. Se esse objetivo será alcançado num futuro próximo ou mais distante, é uma questão que só o tempo vai responder, embora a posse do novo Governo Estadual tenha trazido à Cidade grandes esperanças de que a construção dessa ponte considerada tão vital poderá ocorrer pelo menos a médio prazo. 

Mas, através do jornal, seu Evaristo tem lido também que algumas pessoas, que são chamadas de ecologistas, já apontam os riscos que uma ocupação industrial desordenada de Samaritá pode provocar. Se o distrito se transformar, por exemplo, numa nova Cubatão, São Vicente poderá angariar altos recursos com os tributos arrecadados das indústrias, abrindo ao mesmo tempo um amplo mercado de trabalho no Município. Mas a opção habitacional ficará comprometida. Quem quererá viver numa nova Cubatão, seu Evaristo? Na verdade, há um novo código de obras e de uso do solo que traz, como um dos seus principais itens, medidas de preservação para Samaritá, limitando a ocupação industrial apenas por indústrias não poluentes. Tal código, entretanto, não foi até agora votado pela Câmara, embora já tenha sido elaborado há quase três anos. 

É isso aí, seu Evaristo. Como se vê, a situação da Cidade que o senhor vem vendo transformar-se ao longo desses últimos 90 anos é bastante complicada. E as perspectivas para o futuro também são muito complexas. Mas, como diz o velho ditado, a esperança é sempre a última que morre. Por isso, vamos torcer que, ao abrir as páginas dos futuros números de A Tribuna, seu Evaristo possa ler notícias que digam que os responsáveis pelos destinos da sua Cidade estão agindo no sentido de dar aos vicentinos uma melhoria sempre crescente no seu nível de qualidade de vida. 



Mansão da família Wolf, na rua Frei Gaspar, vizinha da Casa Caramuru (atual prefeitura) 





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