09/07/2019

ITANHAÉM



Anita Malfatti. Rio Itanhaém - (com Hotel Pollastrini e igreja). Aquarela sobre papel. 1942. Coleção particular. Reproduzido no livro "Anita Malfatti, 120 anos de Nascimento" - Catálogo da Obra, Documentação, Biografia e Estudo da Obra por Marta Rossetti Batista, págs. 110, 114 e 129.



Cartão postal de Itanhaém, dos anos 1950. 


HISTÓRIA E MEMÓRIA 


ÉPOCA COLONIAL

Em 1532, o Rei de Portugal enviou uma expedição às suas terras no Continente Americano, visando à colonização e fundação dos primeiros núcleos populacionais europeus. Assim, segundo a tradição e a hipótese mais provável, como atestam Paulino de Almeida, Pedro Taques e frei Vicente do Salvador, entre outros historiadores gabaritados,Martim Afonso de Sousa, líder desta expedição, durante os dois anos em que permaneceu na região de São Vicente, teria fundado o núcleo original da cidade de Conceição de Itanhaém em 22 de abril de 1532, à margem oriental da foz do Rio Itanhaém, sob os pés do Morro do Itaguaçu sendo, portanto, o segundo núcleo populacional criado pelos colonizadores portugueses no território brasileiro. Outras teorias, menos comprovadas e aceitas, afirmam que Itanhaém viria a ser fundada algumas décadas mais tarde pelos portugueses João Rodrigues Castelhano e Cristóvão Gonçalves, ou por Antônio Soares, ou ainda por Pedro Namorado. Frei Gaspar da Madre de Deus não teria achado nenhuma povoação ao redor da foz do Rio Itanhaém em 1555. É certo, porém, que o povoado de Itanhaém já existia em, pelo menos, 1561, quando documentação histórica oficial eleva o povoado local, previamente já existente, à categoria de vila. O mapa mais antigo conhecido até o momento que mostra a existência de Itanhaém é de 1597.

O povoado surgiu aos pés do "Convento Nossa Senhora da Conceição", estrategicamente construído no alto do Morro do Itaguaçu. Tal localização visava o refúgio e a defesa dos moradores no Convento, em caso de ataque de índios inimigos. Posteriormente, a povoação foi elevada a categoria de vila em abril de 1561 pelo capitão-mor Francisco de Morais, sendo então nomeada "Vila Conceição de Itanhaém", e ficava próxima a onde hoje está a Praça Doutor Carlos Botelho — um local que, na época, ficava às margens do antigo leito do Rio Itanhaém. Assim, desde então, passou a ter sua própria Câmara Legislativa e o primeiro núcleo político. É possível que parte das paredes originais da Casa de Câmara e Cadeia datem desta época.

Uma das primeiras igrejas do Brasil foi construída, originalmente, em território de Itanhaém, restando hoje apenas as chamadas ruínas de "Abarebebê", atualmente no território do emancipado município de Peruíbe. Em 1563, o famoso navegante alemão Hans Staden naufragou em alto-mar, tendo nadado para a Vila de Itanhaém e, daí, partido para o litoral norte. Outra figura importante na história da cidade foi o padre José de Anchieta, hoje elevado a santo católico, que peregrinou várias vezes pela região durante o Século XVI, catequizando índios locais.

De 1624 até 1753, Itanhaém chegou a seu auge em importância ao ser elevada à condição de "Cabeça da Capitania de Itanhaém" governada pela Condessa de Vimieiro e por seus descendentes. Ser cabeça de capitania na época equivaleria hoje a ser capital estadual. A condessa era neta e herdeira de Martim Afonso de Sousa e governaria a Capitania de São Vicente, da qual Itanhaém fazia parte. Mas, após um questionamento judicial, a condessa foi destituída de seu cargo de donatária. Assim, por conta própria, criou a Capitania Conceição de Itanhaém, decisiva para a História do Brasil, pois dela saíram as primeiras grandes entradas e bandeiras que desbravaram o interior do continente e que levou ao surgimento de estados como Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso. Em sua máxima extensão, a Capitania de Itanhaém teria um território que viria desde Cabo Frio no norte do Rio de Janeiro indo até a Ilha do Mel[10] na atual divisa de São Paulo com o Paraná, sendo que o Vale do Paraíba e até mesmo o atual território de Minas Gerais teriam pertencido à Capitania de Itanhaém. Foi devido a este entendimento que a Condessa de Vimieiro permitiu que exploradores buscassem riquezas e fundassem vilas a seu mando, como Taubaté, primeira cidade do Vale do Paraíba e da qual, anos mais tarde, saíram bandeirantes que fundaram Mariana, primeira cidade e primeira capital mineira, além de Campinas. Itanhaém só viria a fazer parte do Estado de São Paulo a partir de 1753, quando a capitania que levava seu nome foi comprada pela Coroa Portuguesa e extinta, passando seu território ao governo da Capitania de São Paulo.

Em 1654, foi construído um novo "Convento de Nossa Senhora da Conceição", o qual ficou popularmente conhecido como "Convento dos Franciscanos". 

Em 1761 foi inaugurada a Igreja Matriz de Sant'Anna. 


A CAPITANIA 

A Capitania de Itanhaém foi uma das capitanias hereditárias do Brasil Colônia. Seu território englobava praticamente todo Litoral Sul Paulista, Vale do Ribeira e Litoral Norte Paranaense. No entanto, sua total extensão legal foi motivo de muita controvérsia, sendo que sua Primeira Donatária, a Condessa de Vimieiro, promoveu incursões de exploradores nas regiões do Vale do Paraíba, Litoral Norte Fluminense e sul de Minas Gerais, por entender que todo este enorme território, que vinha desde a região da atual Cabo Frio no Rio de Janeiro, até a Ilha do Mel, na atual divisa entre São Paulo e Paraná, passando por todo o interior e sertões inexplorados pertenceriam ao território da Capitania de Itanhaém.

A princípio, Mariana de Sousa Guerra, Condessa de Vimieiro, neta de Martim Afonso de Sousa, era herdeira deste, sendo declarada Donatária da Capitania de São Vicente, em 1621.Porém, em 1624, após controvérsias sobre seu direito de posse sobre a Capitania, suscitada por um outro herdeiro, o Conde de Monsanto, a Condessa acabou sendo destituída do cargo de Donatária de São Vicente. Não concordando com isso, Mariana, por conta própria, funda sua própria Capitania Hereditária em 6 de fevereiro de 1624, e transferindo sua sede para a Vila Conceição de Itanhaém, atual município de Itanhaém, criando assim a Capitania de Itanhaém. A Condessa Mariana era uma portuguesa que nunca esteve no Brasil. Assim, nomeou um Procurador-mor para governar localmente, sob suas ordens. O primeiro procurador -mor da Capitania de Itanhaém foi Djalma Fogaça e o último foi João de Moura Fogaça

A Capitania acabou sendo decisiva para o progresso da Colônia e do futuro país, pois dela partiram as primeiras incursões mais longas para o interior do continente,primeiro criando povoações em território hoje localizado no interior paulista, como Taubaté e Sorocaba, e, posteriormente, as primeiras grandes Entradas e Bandeiras de exploração nas regiões que mais tarde se tornaram os estados do Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

A Capitania prosseguiu com vida e governo próprio paralelamente à Capitania de São Vicente. De ambas , ao longo das décadas seguintes, grupos de exploradores buscavam riquezas nos sertões onde hoje fica Minas Gerais. Quando Ouro foi encontrado, grupos de exploradores vindo de outras partes da colônia e mesmo do exterior disputaram a posse e exploração da região mineira, o que levou muitos exploradores originários de Itanhaém, a aliarem-se a exploradores de São Vicente, em uma guerra contra os forasteiros, a Guerra dos Emboabas. Vicentinos e Itanhaenses acabaram conhecidos como Paulistas,tendo, no entanto, sido derrotados ao final desta. Em 1709, como consequência da Guerra dos Emboabas, o território mineiro, então pertencente à Capitania de Itanhaém, foi juntado ao território da capitania de São Vicente,a qual foi extinta, sendo criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Porém, a Capitania de Itanhaém continuou existindo por décadas ainda.

Durante toda sua existência, A Capitania de Itanhaém foi pertencente a Condessa de Vimieiro e seus descendentes, que assumiam o título de Conde da Ilha do Príncipe. Estes lutaram judicialmente como os titulares da família do Conde de Monsanto, tentando retomar a Posse da Capitania de São Vicente, em um processo que durou mais de um século havendo apenas uma breve vitória de um Conde da ilha do Príncipe, com uma rápida retomada da posse de São Vicente, brevemente desfeita pelo Marquês de Cascais, um herdeiro da Família Monsanto. A Vila Conceição de Itanhaém foi sempre a cabeça da Capitania em toda sua existência.

A Capitania existiu por anos, entre 1624 e 1753, quando seu Donatário, o Conde da Ilha do Príncipe, um herdeiro e descendente da Condessa de Vimieiro, a vendeu para a Coroa Portuguesa,e esta a anexou à Capitania de São Paulo.


IMPÉRIO E REPÙBLICA

Em 1888, graças à ideia de Isaías Cândido Soares e João Batista do Espírito Santo, a Câmara Municipal fundou o "Gabinete de Leitura", objetivando a levar educação aos moradores locais. O Brasil começou o Século XXI ainda enfrentando problemas como altas taxas de analfabetismo, enquanto Itanhaém, graças à iniciativa do gabinete, quase erradicou o analfabetismo entre seus moradores ainda no Século XIX. 

Por fim, em 1906, já durante a República Velha, a Vila Conceição de Itanhaém foi elevada à condição de município, passando a ser governada por um Prefeito a partir de 1908, com João Baptista Leal. A cidade ainda fez história ao ser a primeira no Estado de São Paulo, e a segunda em todo o Brasil, a ter, como prefeita eleita, uma mulher: Spasia Albertina Bechelli Cecchi, ainda em 1936.

Em princípio, Itanhaém permaneceu até o começo do século XX apenas como uma pacata e isolada vila de pescadores e agricultores caiçaras, e só se tornou uma cidade com viés turístico, atraindo visitantes temporários de outras partes, após a chegada da ferrovia ao local em 1913. Foi por meio dela, inclusive, ao receber turistas que buscavam as belas e intocadas praias, ilhas e morros, que nasceram e se desenvolveram bairros afastados, como o "Bairro do Poço", atual "Belas Artes", e Suarão, todos na primeira metade do século XX. 

O turismo existia na então cidade, mas ainda era pequeno por conta da precariedade dos meios de transporte, uma vez que a única opção era a Linha Santos-Juquiá (Sorocabana). O turismo no município sofreria o salto definitivo com a inauguração da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega em 1961. A partir desse ano, o acesso à cidade ficou muito prático para os turistas que estivessem de carro, vindo de qualquer parte do estado. Ainda em 1961, a Breda Turismo passou a operar uma linha de ônibus ligando a cidade à Grande São Paulo.

Por fim, Itanhaém acabou perdendo boa parte de seu enorme território com as emancipações dos municípios de Itariri em 1948, e de Peruíbe e Mongaguá, ambas em 1959.

EVOLUÇÃO E TRANFORMAÇÃO POLICO-TERRITORIAL


Dinâmica dos territórios jurídicos nos três períodos políticos do Brasil. Dalmo Duque. 


Desmembramentos históricos dos municípios da Baixada Santista a partir da Capitania de São Vicente. Fonte: CIDE-Central Integrada de Dados e Estatísticas do Município de Praia Grande com base no IGC e IBGE.


 Estação da Estrada de Ferro São Paulo Railway, em 13 de dezembro de 1913. 

Mapa da linha-mãe e ramais do interior e litoral  da Estrada de Ferro Sorocabana. 1970.



O final da Década de 1990 e início da Década de 2010 foi um período que apresentou mudanças sensíveis à antiga cidade, após décadas sem grandes alterações. Em duas décadas, a população da cidade dobrou de tamanho, saltando de 46 074 habitantes em 1991 para 87 057 moradores em 2010, fato que modificou muito o antigo clima local de "cidade pacata de interior", com poucos carros, baixa criminalidade e baixo movimento de pessoas em dias comuns.

A Ferrovia foi privatizada e linhas de trens de passageiros que circulavam diariamente por Itanhaém desde 1913 foram suprimidas em 1998. Em 2003, o trem cargueiro diário também foi suprimido, estando o centenário Ramal de Cajati completamente abandonado e sem tráfego desde então, assim como as antigas estações ferroviárias, apesar de haver pleitos locais e regionais pedindo o retorno dos trens à região. 

Funcionários da E.F. Santos-Mairinque, em visita de cortesia aos amigos de Itanhaém. A ferrovia mudaria de nome para E.F. Sorocabana. 1935. Acervo Waldiney La Petina




SPASIA, MULHAER  PREFEITA 




Ao assumir a prefeitura de Itanhaém, Spasia Cecchi tornou-se uma das primeiras mulheres a serem eleitas para um cargo de governo no poder executivo da História do Brasil e, mais exatamente, a terceira mulher a se tornar prefeita em toda a história do Brasil.


POLÍTICA

Itanhaém foi elevado à condição de vila em abril de 1561, tendo desde então, em sua vida política, uma Câmara de Vereadores. O poder Executivo Municipal foi administrado por Prefeitos ou Intendentes eleitos indiretamente pela Câmara de Vereadores, no período entre 1908 e 1947. A partir de 1948, o Poder Executivo vem sendo administrado por Prefeitos eleitos diretamente pela população.

O primeiro prefeito de Itanhaém foi João Baptista Leal, que governou de 1908 a 1915. O primeiro Prefeito eleito por voto direto foi Harry Forssell, para governar entre 1948 e 1951. O prefeito que governou por mais tempo foi Miguel Simões Dias, que em dois mandatos, administrou por praticamente 9 anos o município. O prefeito mais jovem ao assumir foi Totó Mendes, com apenas 26 anos de idade ao assumir a Prefeitura em 1926. Por fim, Itanhaém foi inovadora ao eleger ainda em 1936, pela primeira vez em todo Estado de São Paulo, uma mulher para prefeita, Spasia Albertina Bechelli Cecchi.

Spasia era filha de Lorenzo e Maria Bechelli. Viajando na Itália, conheceu Mansuetto Cecchi, casando-se com ele, com quem viveu pelo resto da vida, sem nunca terem tido filhos. Viveram na região central de São Bernardo do Campo, tendo depois se mudado para um bairro mais afastado, o qual futuramente se desmembraria, tornando-se o município de Ribeirão Pires. Mudaram-se, mais tarde, para Itanhaém.

Spasia foi eleita prefeita por voto indireto, pelos vereadores da Câmara Municipal, sendo nomeada prefeita em 23 de maio de 1936. Ela foi a terceira mulher a se tornar prefeita em toda história do Brasil,atrás apenas de Luiza Alzira Soriano Teixeira, a qual havia sido eleita na cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte em 1928, tomando posse como prefeita em 1929;[3] e de Maria Teresa Silveira de Barros Camargo, eleita e nomeada prefeita de Limeira em 1934.[4] Foi só a partir de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, que uma lei nacional regulamentou e garantiu o direito das mulheres votarem, concorrerem e serem eleitas a cargos políticos no Brasil.

Em seu governo, reurbanizou a praça central, arborizando-a, e ainda fez obras em prol da melhora do abastecimento de água, em combate ao analfabetismo e ao problema da falta de habitação. Seu mandato terminou no dia 26 de outubro de 1937,durante a comoção nacional provocada pela denúncia do Plano Cohen, duas semanas antes do golpe de estado dado por Getúlio Vargas, impondo o Estado Novo no Brasil. Após 1942, Spasia e seu marido voltaram para Ribeirão Pires. Está enterrada na Itália, junto com seu marido Mansuetto, que faleceu em 1970.

Spasia Albertina Bechelli Cecchi veio a óbito em 1964, enquanto estava em uma viagem pela Itália. Já Mansuetto, por sua vez, veio a falecer em 1970, igualmente durante uma jornada pelo território italiano. Ambos foram sepultados nesse país, onde originalmente se conheceram e uniram em matrimônio. Apesar de não terem descendentes, o legado de Spasia ficou notabilizado pelo seu papel pioneiro na esfera política, quando esteve à frente da Prefeitura.


Wikipedia. Referências
 «Condessa de Vimieiro». Almanaque Urupês. Consultado em 24 de junho de 2021. Cópia arquivada em 18 de julho de 2021
 Redação do Correio do Litoral (1 de abril de 2015). «Conceição de Itanhaém: 483 anos de idade». Correio do Litoral. Consultado em 18 de julho de 2021. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2021
 Camões Filho (4 de dezembro de 2013). «Resumo da História de Taubaté». Irani Lima. Arquivado do original em 13 de abril de 2015
 Calixto, Benedicto (1927). Capitanias Paulistas 2ª ed. São Paulo: Casa Duprat e Casa Mayença (Reunidas). 310 páginas. Cópia arquivada em 12 de setembro de 2014

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Placa comemorativa ao III centenário da Capitania de Itanhaém. Foto publicada entre as páginas 296 e 297 da obra Capitanias Paulistas.


DISCURSO

Ao ser inaugurada a placa comemorativa, no edifício da Câmara Municipal da Vila de Itanhaém, a 8 de dezembro do ano de 1924, pelo sr. dr. João Pedro de Jesus Neto, orador oficial

Meus senhores,

A placa, que ora foi descerrada e que vedes embutida na vetusta parede desta velha casa, comemora aere perennius, a passagem do 3º centenário do estabelecimento da Capitania de Itanhaém.

Ereta por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, relembrará ela implicitamente os nossos vindouros toda a extensão e toda a largueza de ação que destas plagas abençoadas se irradiava naqueles tempos, por todos os recantos onde então se iniciava a civilização colonial.

Sim, largueza de ação, direi mais, predomínio de ação, mas de ação pujante, forte e decisiva, muito embora continuem os historiadores contemporâneos à imitação dos cronistas do século XVIII, a claudicar, falsear e omitir criminosamente nas suas narrativas, as ocorrências e cometimentos grandiosos que tiveram por teatro e por cenário este torrão ridente e belo, tão da preferência do grande capitão Martim Afonso e seus descendentes, e mais de um vez abençoado por Leonardo Nunes e Anchieta!

Claudicam, falseiam, omitem, muito embora estejam hoje em franca evidência todos os fatos notáveis da nossa história colonial, principalmente aqueles que se relacionam com o período da expansão territorial que estabeleceu e firmou os domínios lusitanos no continente sul-americano, pela audácia e intrepidez dos nossos Bandeirantes.

Mas, se os Anais da Câmara de São Paulo, os documentos da Repartição de Estatística, assim como os inventários da época dos Bandeirantes, publicados hoje por determinação do governo do Estado, são omissos e mudos em relação aos fatos inegáveis de Itanhaém, é porque, como tão exuberantemente prova o prof. Benedicto Calixto, nos seus trabalhos publicados, Capitania de Itanhaen e Capitanias Paulistas, é porque esta vila estava inteiramente desligada e fora da jurisdição da Capitania de S. Paulo, que se compunha apenas de uma parte da donataria de Pero Lopes, denominada, então Capitania de S. Vicente, após a compra que el-rei d. João V efetuou, em 1709, dessa parte da capitania do marquês de Cascais, como é, aliás, bem conhecido.

As "cem léguas de costa", que constituíam a "Capitania de S. Vicente", estiveram, desde 1624, conforme podeis ver na placa comemorativa, fazendo parte da "Capitania de Itanhaém", pois a "Capitania de Santo Amaro", que, desde então, ficou crismada com o nome de "Capitania de S. Vicente", nada mais era senão a parte que constituía a donataria de Pero Lopes. Todas as vilas e povoações ao Sul de S. Vicente, e ao Norte de S. Sebastião, até Angra dos Reis, e bem assim, as do Planalto, foram criadas pelos governadores da Capitania de Itanhaém, conforme provam os documentos exibidos pelo prof. Calixto, em suas obras já citadas.

Taubaté, Jacareí, Pindamonhangaba e Guaratinguetá, que tão importante papel representaram no áureo ciclo das minerações de Cataguases, em Minas Gerais; Sorocaba, Itu, Iguape, Cananéia e mesmo Paranaguá, ao Sul, todos esses núcleos estavam, naquele período, fazendo parte integrante da Capitania de Itanhaém e, como tais, sujeitas em tudo à completa jurisdição dos respectivos governadores. E os governadores da "Capitania de Itanhaém", nessa época, conforme se vê das "relações" publicadas pelo cronista desta terra, eram "paulistas", meus senhores, porque o vocábulo "paulista" não indicava tão somente os filhos da cidade de S. Paulo, mas todos aqueles nascidos dentro das capitanias de jurisdição de Pero Lopes e Martim Afonso.

Garcia Lumbria, Dyonisio da Costa, Gonçalo de Sá, Souto Maior, Escobar, Calixto da Motta, Pedroso da Silveira e tantos outros, foram os empreendedores das grandes "entradas" nos territórios auríferos de Minas Gerais, de Sorocaba, de Cananéia, Iguape, Paranaguá, do Rio Grande do Sul e dos ínvios sertões do Paranapanema, cujo caminho primitivo partia de Itanhaém, como provam o roteiro traçado no Mapa Geral da Comissão Geográfica e as indicações de Ayres do Casal e outros geógrafos.

Foi, portanto, daqui, destas paragens, foi daqui destas plagas, foi daqui de Itanhaém, meus senhores, embora silenciem os nossos demais historiadores, foi daqui deste lugar que partiram, naqueles heróicos tempos, as primeiras "bandeiras", que, arrostando as asperezas da altaneira Paranapiacaba e Mantiqueira, afrontando, impávidos, a dureza das veredas, através de florestas, cerradas à luz do dia e cheias de mistérios, através de caudais e de pântanos pestilenciais, lançaram-se, a golpes de alvião e a golpes de machado, à conquista dos sertões do Este e Oeste, do novo continente!

Ninguém pode, meus senhores, contestar a sério estes pontos já elucidados de nossa história; provam-nos os documentos referentes às Vilas da Capitania de Itanhaen, publicados pelo prof. Benedicto Calixto; provam-nos as "memórias" de escritores, em crônicas de Vieira Santos, ora publicadas; provam-nos escritores e historiadores do Paraná e Rio Grande que, ultimamente, se têm ocupado de assunto tão palpitante das Capitanias Paulistanas.

Entretanto - é forçoso dizer -, eminentes historiadores de S. Paulo continuam, em obras de fôlego, ultimamente publicadas sob o bafejo oficial - continua, dizíamos, quando tratam da ação dos Bandeirantes, a insistir na afirmativa, sob todos os pontos de vista errônea, de que a "Vila de Itanhaém, cujo papel na História paulista é aliás apagado" - nada mais era "que um núcleo isolado nas areias do litoral, arrastando medíocre vida" - como se os documentos que vimos de citar, já fartamente publicados e fartamente espalhados pelo nosso país, não estivessem aí, materiais e palpáveis, para atestar eloqüentemente o contrário do que se afirma!

Por quê continuam estes escritores a repisar os erros de alguns cronistas, confundindo, de 1624 a 1753 ou 1773, as jurisdições da Capitania de Itanhaém com as capitanias de Santo Amaro (Capitania de S. Vicente), e depois com a Capitania de S. Paulo?

"O foco litorâneo de S. Vicente, irradiação paulista - dizem eles - são: S. Vicente, S. Paulo, e é este que gera os três outros: Taubaté, Itu e Sorocaba"; tudo isto, como se já não estivesse sobejamente comprovado que Taubaté, e mesmo Sorocaba, não fossem vilas criadas pelos governadores da Capitania de Itanhém!

"O foco litorâneo de São Vicente - continuam eles - não só fornece os melhores elementos aos focos de serra acima, como também uma expansão própria. Dele é que saem os colonizadores da orilha Atlântica na direção Norte e Sul: Itanhaém, Iguape, Cananéia, Paranaguá. São estas povoações de origem vicentina, como vicentinas de origem, são Ubatuba, Parati e Angra dos Reis!..."

Ninguém nega, meus senhores, às vilas de S. Vicente e S. Paulo de Piratininga, o papel importantíssimo que representam os anais da nossa História, ninguém nega o influxo e o decisivo apoio daquelas vilas no desenvolvimento das conquistas coloniais; o que não é justo, porém, o que não é admissível, o que não se pode, em absoluto, tolerar, é que se esbulhem as riquezas tradicionais da história de Itanhaém, menosprezando as suas glórias, com a negação das prerrogativas de que gozou nas memoráveis épocas que marcaram a expansão territorial deste belo e amado torrão, que é a nossa Pátria.

Neguem-nos, embora, o título legal de "Capitania de Itanhaém"; mas não nos poderão jamais negar o direito de "sede" da vasta donataria de Martim Afonso de Souza e seus herdeiros, de 1624 a 1753 ou 1773.

E durante esse largo período, meus senhores, era daqui, era deste recanto abençoado de Anchieta, era deste núcleo isolado nas areias do litoral - e não de S. Vicente ou de S. Paulo - que emanavam e partiam os atos oficiais

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Terra ridente de Itanhaém - Salve! Eu te saúdo hoje na comemoração tricentenária das tuas glórias passadas! Mas não é só o bronze desta placa que rememora as tuas tradições; elas também se aninham nos aspectos que te cercam: elas pairam no céu que te cobre; elas vivem nas pedras dos teus abruptos costões, elas palpitam nas areias das tuas praias, e elas cantam na voz profunda do teu mar. E, como se não bastasse, para guardá-las, teu livro mudo da natureza, ainda elas vêm se aninhar num escrínio vivo e palpitante, passando de geração em geração: o coração dos teus filhos!

"Angulus ridet!" - recanto sorridente, recanto aprazível, é o lema que se ostenta, no teu altivo e nobre brasão!

Mas qual é o teu recanato que não seja sorridente?

Vede ali o Itaguassu, a Pedra Grande, não foi o "Angulus ridet" que o fidalgo Martim Afonso escolheu em 1532, para nele fundar e erguer a Ermida da Conceição, a primeira que sob a invocação da Imaculada se erigiu na América do Sul? A colina ridente de Itaguassu, sustentando no seu dorso verdejnte a risonha ermida da Virgem, era ainda a guarda avançada, o propugnáculo, a sentinela que velava de longe as cercanias desta bela praia do Guaioçá.

"Angulus ridet!" Pelos teus recantos sorridentes, cheios de doce poesia, cheios de doce encanto, perlustrou o suave Anchieta, o amado d Virgem, a operar prodígios, a operar milagres, dentro da sua humildade de servo do Senhor.

Tu foste o "Angulus ridet" de Leonardo Nunes, o Abarebebé; e foi nestes teus recantos ridentes, diante da risonha imagem da Virgem, que se acabou de firmar aquele famoso pacto de Iperoig - começado nas praias de Ubatuba - e que foi, bem o sabeis, o início da formação da nossa nacionalidade!

"Angulus ridet" - Terra sorridente - Terra adorável - Terra três vezes abençoada de Itanhaém!

Benedito Calixto em visita à sua terra natal, fonte de inspiração da sua arte e também da sua vocação e obra historiográfica. 

Salve! 

Benedito Calixto: Capitanias Paulistas. ( Novo Milênio)

           

Benedito Calixto em visita à sua terra natal, fonte de inspiração da sua arte e também da sua vocação e obra historiográfica. 

Convento de Itanhém. Benedito Calixto.  1884. Acervo do Museu Paulista.  

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição,1922. Óleo sobre cartão, 21 x 32 cm. Coleção particular.



                   Ruínas de Itanhaém, 1900. Pastel sobre papelão, medindo 56 x 46 cm.

Ruínas do Convento. Óleo sobre tela, mede 25 x 30 cm. Coleção particular.

 Convento - Itanhaém. (vista posterior).Óleo sobre cartão 27x35,1 cm, Coleção particular.

Convento de São Francisco - Itanhaém, este óleo sobre tela. 32x37 cm. Coleção particular.

Itanhaém. Óleo sobre tela de 26,5x43. 1908. Acervo:Banco Itaú/Itaú Cultural.

FONTE: Novo Milênio
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MULHERES DE AREIA

O ator Gianfrecesco Guarnieri durante as gravações da novela Mulheres de Areia (de Ivani Ribeiro) produzida e exibida pela TV Tupi nos 1970.


APÓS 40 ANOS, ITANHAÉM É RELEMBRADA
PELA GRAVAÇÃO DE "MULHERES DE AREIA

Mariane Rossi. Do G1 Santos - 20/04/2013

A cidade de Itanhaém, no litoral de São Paulo, ficou conhecida nacionalmente após as gravações da versão original da novela Mulheres de Areia, na praia dos Sonhos, na década de 1970. Toda a agitação que as gravações provocaram na pequena cidade litorânea estão na memória dos moradores mais antigos. Após 40 anos da novela, eles lembram dos artistas, das curiosidades e de todos os detalhes das gravações de uma novela de sucesso e das marcas que a ficção deixou na vida dos itanhaenses.

Dulcineia Batista Mendes Fão nasceu em São Paulo, mas se encantou por Itanhaém logo quando passou as primeiras férias na cidade, ainda quando criança. Quando tinha 9 anos, a família decidiu morar na cidade do litoral sul. Dulcineia teve a oportunidade de acompanhar, na Praia dos Sonhos, as gravações das cenas da primeira versão da novela Mulheres de Areia, exibida na extinta TV Tupi. Dulcineia, que está com 50 anos, é casada e tem filhos, e relembra com felicidade o quanto a novela marcou sua infância e a história da cidade que ela tanto ama.

A comerciante conta que o pai começou a fazer amizade com os pescadores e a trabalhar com eles. Ainda menina, ela acompanhava a rotina de idas e vindas dos barcos no mar. O dia a dia da Praia dos Sonhos mudou com a chegada dos atores e da produção da novela na cidade. “Eles vieram e era aquela coisa de ter artista na cidade. Era uma festa, isso aqui lotava de gente”, fala, em frente a praia onde aconteceram as gravações. “Para tornar a cena mais real, o ambiente mais natural, às vezes eles aproveitavam a saída das canoas para o mar. Por várias vezes, meu pai acabou aparecendo nas cenas porque ele estava botando a canoa para dentro ou chegando. Eles aproveitavam o movimento natural porque o comércio não podia parar”, descreve.

A novela contava a história de duas irmãs gêmeas idênticas, Ruth e Raquel, com personalidades diferentes. Ruth se apaixona por Marcos Assunção, o rapaz rico que chegou à cidade litorânea de Itanhaém. O galã acaba se casando com Raquel, que só tem interesse no dinheiro dele. Quem protege e ajuda Ruth a ficar com Marcos é Tonho da Lua, famoso por esculpir mulheres nas areias da praia, que dá o nome a novela. As gravações não aconteciam todos os dias, já que as cenas do núcleo rico da novela aconteciam em São Paulo. Mas os principais artistas, que interpretavam as personagens que viviam na ‘Praia dos Pescadores’, é que eram vistos em Itanhaém. A atriz Eva Wilma interpretava as irmãs Ruth e Raquel, Carlos Zara que fazia o papel de Marcos Assunção e ator Gianfrancesco Guarnieri era o Tonho da Lua, eram presença frequente no local.

Dulcineia estima que 90% das cenas eram gravadas na Praia dos Sonhos. A moradora fala que uma casa bem próxima as pedras, e ao final da praia foi cedida por um pescador conhecido como ‘Bagrinho’. O local servia como residência das gêmeas, da mãe e do pai delas, que também era pescador. “Ficou uma coisa bem natural, porque a casa era bem simples”, conta Dulcineia. Após as gravações, o morador de Itanhaém voltou para a casa, mas logo depois que ele faleceu a construção foi demolida e nada mais foi erguido ali.

Não só as cenas das novelas fizeram parte da infância de Dulcineia, mas, principalmente, tudo que acontecia nos bastidores e na cidade por causa da gravação de Mulheres de Areia. “Depois que acabava, às vezes, ficava os scripts, os textos, e a gente pegava e levava para casa para brincar. E eu nunca tinha visto um script. A gente pegava os textos e brincava de fazer novela. Naquela época era tudo batido na máquina, datilografado”, lembra. Além ver o antes, durante e depois das cenas que passavam na televisão, ele estava perto dos artistas. “Eu lembro que eu meu pai chegamos em casa com um maço de folhas. Eram postais em preto e branco de todos os artistas. O nome deles, o papel que eles representavam e estava autografado. Eu lembro que eu guardei durante anos” diz ela.

O pescador José Aparecido de Souza, mais conhecido como Zé do Biancardi, também participou, de certa forma, das gravações da novela Mulheres de Areia. "Eles pediam para gente fazer manobras no mar, compravam bancas de peixe e pagavam tudo na hora", lembra. Souza conta que a praia ficava lotada de pessoas querendo ver os artistas. Segundo o pescador, o barco dele foi utilizado na cena em que uma das gêmeas caia de uma embarcação. "Eles pediram o meu barco e eu deixei. Era o barco que a Eva Wilma ficava na cena que ela cai do barco. Ela foi sentada, caiu e já tinham várias pessoas segurando ela no mar", contou o pescador, que diz que a embarcação já foi vendida mas tinha as cores vermelho, amarelo e branco.

Na ficção, o personagem Tonho da Lua fazia esculturas de areia em formato de mulher em homenagem à sua amada, a gêmea Ruth. Na verdade, quem esculpia as "Mulheres de Areia" era o ator Serafim Gonzalez, que fazia o papel de Alemão na novela. “Todo dia ele tinha que fazer e não adiantava deixar aqui porque desmanchava. Todo o dia que tinha gravação tinha que fazer. Às vezes mais de uma vez.”, conta Dulcineia.

A novela foi um grande sucesso da TV Tupi e da televisão brasileira na fase preto e branco. A autora Ivani Ribeiro teve até que estender a trama. Mulheres de Areia contou com 253 capítulos, ficando quase um ano no ar. "A gente vê novelas que não emplacaram, que terminaram antes. Essa novela foi ao contrário. Ninguém queria que acabasse”, diz a moradora. Eva Wilma ganhou vários prêmios como melhor atriz por interpretar as irmãs gêmeas, que apareciam ao mesmo tempo na televisão, uma novidade para a época.

Da ficção para vida real. Após o término da novela, o ator Serafim Gonzalez quis fazer uma homenagem à cidade que acolheu o elenco. Ele esculpiu uma estátua de concreto semelhante a da novela e deu de presente a cidade de Itanhaém, para que as gravações da novela ficassem lembradas para sempre na Praia dos Sonhos. A estátua "Mulheres de Areia" foi fixada em uma das pedras da praia, já recebeu alguns reparos, mas permanece lá até hoje, após 40 anos do término da trama original.

As gravações da novela se tornaram parte da história de Itanhaém. "Mulheres de Areia" divulgou o nome da cidade, que vive do turismo. A estátua se tornou um ponto de referência muito visitado por todos que vem passar alguns dias nessa cidade do litoral sul. Há placas indicando onde a estátua está localizada, já que é preciso colocar o pé na areia e estar bem perto do mar para apreciá-la. "O interessante é que eu sempre trabalhei no comércio e às vezes passavam os turistas perguntando onde era a praia que tinha a estátua da Eva Vilma. É um ponto de referência.”, diz Dulcineia. Ela também revela que a novela trouxe algumas mudanças na cidade. Segundo ela, a partir da novela que abordou o tema da exploração dos pescadores, foi criado o Sindicato dos Pescadores de Itanhaém. A trama também falou do analfabetismo. A professora Ruth, a gêmea boa, teve a idéia de expandir esse benefício aos pescadores que também quisessem aprender a ler e escrever. Na época, o Governo Federal fazia um imenso alarde por conta do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que visava erradicar o analfabetismo no país, o que também mobilizou os itanhaenses.

Depois da novela, a praia dos Sonhos também se modificou. As casas simples dos moradores deu lugar a residências mais luxuosas. A marca registrada do lugar ainda está presente, com canoas e barcos, que quando não estão no mar, ficam estacionados no meio da rua. Os pescadores andam pela Praia dos Sonhos para arrumar a rede ou para ficarem apenas conversando, não muito diferente de quarenta anos atrás.
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Remake. Uma nova versão da novela Mulheres de Areia foi exibida pela TV Globo em 1993. A autora Ivani Ribeiro reescreveu a trama com a com a colaboração de Solange Castro Neves, e se baseou na primeira versão da novela e em O Espantalho, também assinada por Ivani. As cenas da nova versão foram gravadas no Estado do Rio de Janeiro. A novela contou com 201 capítulos e ficou quase oito meses no ar, sendo exibida no horário das 18h. A atriz Glória Pires fez o papel das irmãs gêmeas Ruth e Raquel, Guilherme Fontes foi Marcos Assunção e Marcos Frota, o Tonho da Lua. Carlos Zara e Serafim Gonzalez, do elenco original, também atuaram no remake. Serafim Gonzalez, novamente, ficou responsável pelas "Mulheres de areia" esculpidas na praia.



Capa do disco long-play da trilha sonora da novela em 1973



ITANHAÉM NO INÌCIO DO SÉCULO XX


Quadro de Anita Malfatti. Coleção particular. 




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BENEDITO CALIXTO, UMA BIOGRAFIA




Autoretrato, 1927



Benedito Calixto de Jesus (Itanhaém, 14 de outubro de 1853 – São Paulo, 31 de maio de 1927) foi um pintor, desenhista, fotógrafo, professor, historiador, decorador, cartógrafo e astrônomo amador brasileiro e é considerado um dos maiores expoentes da pintura brasileira do início do século XX.

O artista manifesta a tendência para a pintura desde muito jovem. Em 1881, passa a residir em Santos, cidade que lhe serve de inspiração para vários quadros. Seu trabalho causou tamanho entusiasmo que a elite da cidade concede uma bolsa para que aprimore seus conhecimentos em Paris. É com o quadro Inundação da Várzea do Carmo (1892), que o artista consegue maior destaque: a crítica da época aponta a exatidão admirável com que representa a cidade de São Paulo e alguns de seus principais pontos.

O artista realiza diversas obras para o Museu Paulista, sob encomenda de Afonso d'Escragnolle Taunay, sobretudo cenas da cidade de São Paulo antiga e paisagens. Para seus quadros históricos e religiosos, realiza estudos fotográficos preparatórios, para os quais se vale de minuciosa pesquisa histórica. As paisagens são a temática mais cara ao artista. Nessas obras, apresenta uma pintura lisa, com o uso de velaturas e um colorido sempre fiel às características locais, embora trabalhado de maneira bastante pessoal no uso dos verdes, azuis e ocres. Benedito Calixto, dispunha de amplo conhecimento sobre o litoral paulista, e atua ainda como cartógrafo, realizando ensaios de mapas de Santos, e como historiador, escrevendo sobre as capitanias paulistas de Itanhaém e São Vicente.

Biografia

Diferente da típica trajetória dos consagrados artistas brasileiros da época, Calixto não frequentou a Academia Imperial de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro.[1] Começando como autodidata, teve sua formação em ateliês e escolas de arte do estado de São Paulo.[4] Iniciou sua carreira como retratista na cidade de Brotas, no interior estado. Passou a realizar trabalhos de propaganda em Santos, onde teve seu talento reconhecido pela elite da cidade, através da Associação Comercial, que acabou por patrocinar a sua ida à França, onde estudou na Académie Julien, em Paris. Teve como mestres Gustave Boulanger, Lefebvre e Robert Fleury.

Destaca-se em suas obras um gosto acentuado pelo tema regionalista. O artista preocupou-se em construir uma carreira voltada para organizações ligadas à esfera pública e seus interesses. A cidade foi a temática central em todos os seus domínios. A afinidade às tradições populares, cívicas e religiosas formam seu traço característico, tendo se dedicado, nos últimos anos de sua vida, à pintura histórica, de costumes regionais e temas religiosos.  Com obras compostas por pinturas de cenas históricas, retratos de figuras históricas e personalidades, painéis decorativos e vistas das cidades, Calixto escreveu memórias históricas sobre São Paulo, Santos, Itanhaém e o litoral santista. O maior aspecto de sua obra se concentra nas paisagens marinhas do litoral paulista. A fotografia foi grande aliada e importante referência para o artista em suas produções, utilizada para estudo de composição, registro de cenas, preparação de posturas e organização dos personagens que povoavam sua pintura. O artista também escreveu contos, como o intitulado Costumes de Minha Terra e manteve contribuição intensa com jornais locais, nos quais publicava diversos artigos.

Apesar de encomendas de quadros religiosos e de temática histórica e documentarista serem o que lhe rendeu maior reconhecimento, a observação da natureza e telas de paisagens e marinhas continuaram a ser parte importante de sua produção. Além da pintura, Calixto mantinha grande interesse pela história do litoral. Tal interesse fez com que, em 1895, o artista se tornasse sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), onde recebeu grande destaque pelas suas obras. A instituição também foi importante para a formação de seu pensamento historiográfico, na medida em que procurava honrar com integridade os fatos do passado. O artista escreveu diversos artigos para a revista da instituição, além de publicar livros e participar dos estudos que deram origem a um dos principais mapas que buscam reconstruir o processo de urbanização da cidade de Santos. Calixto foi também sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Santos. O artista teve sua carreira profundamente identificada com a elaboração de uma iconografia paulista associada ao acervo do Museu Paulista, sob a direção de Afonso d'Escragnolle Taunay, e com a colaboração do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo

Benedito Calixto manteve a atividade de pintor, trabalhando em constantes encomendas, até sua morte. Sua última exposição foi realizada no mês de junho de 1926, no Teatro Coliseu de Santos, onde apresentou principalmente cenas históricas. Deixou aproximadamente mil pinturas e, como forma de manter e valorizar suas obras e sua memória, instalou-se em Santos a Pinacoteca Benedito Calixto, onde um centro de documentação de sua obra foi instalado.

Afonso d'Escragnolle Taunay (Nossa Senhora do Desterro, 11 de julho de 1876 – São Paulo, 20 de março de 1958) foi um biógrafo, historiador, ensaísta, lexicógrafo, tradutor, romancista, heráldico e professor brasileiro. Ocupou a cadeira n.º 1 da Academia Brasileira de Letras, onde foi eleito em 7 de novembro de 1929. Foi Diretor do  Museu Paulista e membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, contemporâneo de Benedito Calixto. 


INTRODUÇÃO DE CAPITANIAS PAULISTAS

"Viveu Benedicto Calixto embevecido com as coisas de sua Fé, de sua Arte e de sua Terra. Crente fervorosíssimo, deliciava-se com o estudo das grandes tradições do catolicismo. Empolgavam-no os lances da vida dos santos e a aspereza dos trabalhos de nossos catequistas primevos. Punha todos os recursos da vocação pictórea ao serviço da piedade intensa. E ao mesmo tempo que se ocupava em retraçar episódios da existência dos mártires célebres da Igreja, como Santa Cecília e S. Sebastião, ou imaginava quadros sobre os grandes assuntos dos Evangelhos, estudava com paixão os primórdios de nossa catequese litorânea.

Nas belas praias de sua querida Itanhaém, de S. Vicente, S. Sebastião e Ubatuba, em face daqueles matizes de mar que com tanta fidelidade fixara na retina, deleitava-se ora em colocar Anchieta a escrever nas areias o poema a Nossa Senhora, sob a aclamação das revoadas de gaivotas, ora em apresentar as surpresas da ameaça de agressão súbita aos gloriosos reféns de Iperoig, pelos tamoios, logo desarmados pela aparência do Taumaturgo, ora ainda em ressuscitar as cenas cruéis da chacina dos mártires de Cananéia e assim por diante.

E como amava colocar nas suas soberbas marinhas as belas caravelas e os bojudos galeões de velas avermelhadas pelo sangue das Cruzes de Cristo! Como se sentia feliz ao idear a construção do anedotário pictóreo dos lances da primeira história do litoral paulista! Como o desembarque de Martim Afonso de Souza, do Museu Paulista, a fundação de Santos, da Bolsa de Café etc. etc.

Desta conjugação de afetos à terra natal e à tradição de sua gente decorreu-lhe muito naturalmente o pendor ao estudo da História, de que deixou excelentes padrões, como ninguém ignora.

Professava Capistrano, pelos seus conhecimentos da História de S. Paulo, o mais real apreço. E consagrava-lhe a maior simpatia, chamando-lhe Béné, amistosamente. Horas e horas, debatiam em longas conversas sobre os nossos primeiros séculos, pois Capistrano, sabedor exímio de todas as questões da nossa tradição, tinha particular preferência pela dos paulistas, a das bandeiras, dos criadores de gado, da mineração, como a cada passo demonstrava.

Martim Francisco vai morrer logo - dizia-me sobremodo acabrunhado o mestre em princípios de abril deste ano. - E o bom Béné também não durará muito. É duro perder assim os amigos de seu tempo. Morreu Jaguaribe, não irei mais a S. Vicente...

Homem da mais absoluta probidade, procurou sempre Calixto, e com o maior afinco, em seus trabalhos e quadros históricos, respeitar a verdade dos documentos e fugir do anacronismo. De sua obra tradicional, sobressai este belo livro das Capitanias Paulistas, de que seus amigos dedicados e admiradores preparam a linda edição agora reaparecida em segunda tiragem, ajuntando à primeira elementos angariados pelas últimas e árduas pesquisas do autor, nos arquivos regionais e nacionais.

Nele se esclarecem os pormenores daquele intrincadíssimo e interminável pleito Monsanto-Vimieiro que, por um triz, escapou de cindir os paulistas em duas circunscrições territoriais.

Corrige Calixto os enganos dos cronistas, à luz dos documentos, e discrimina as quatro fases do litígio famoso, capital para a história de S. Paulo. Esta a questão ventilada pelo erudito itanhaense com grande abundância de documentos e sobretudo o criterioso exame da pendência que realizou à luz de prolongada meditação e perfeita assimilação do assunto.

Haverá ainda quem lhe dê retoques a detalhes; ninguém escreve história integral. Estes provirão do maior esclarecimento das fontes, sobretudo do que há no Arquivo de Marinha e Ultramar de Lisboa. Mas o arcabouço arquitetural de Calixto representará sempre um belo edifício das letras históricas de S. Paulo.

Foi um livro feito com amor e é um livro da boa fé e da inteligência.

Antepondo-lhe estes desvaliosos conceitos, seja-me permitido agradecer ao promotor, aos promotores, desta bela segunda tiragem das Capitanias Paulistas, a honra que me deram de o apresentar ao público e o prazer que me proporcionaram por poder prestar ao saudoso amigo a homenagem da minha real saudade e do meu sincero apreço à sua obra".

Affonso de E. Taunay

S. Paulo - Dezembro - 1927



LINHA DO TEMPO

1853 – 1872
Benedito Calixto de Jesus nasceu no dia 14 de outubro de 1853, na então Vila de Conceição de Itanhaém, no litoral sul paulista, que em 1906 tornou-se o município de Itanhaém. Filho de João Pedro de Jesus e Anna Gertrudes Soares, Calixto tinha sete irmãos. Nesta época, a vila era considerada um lugarejo semi-isolado do litoral. Seus habitantes se limitavam à pesca e eram de famílias remanescentes dos anos de sua maior importância econômica e administrativa, quando a vila era o centro da Capitania de Itanhaém, extinta em 1753. Benedito Calixto passou a infância entre a escola do mestre João Batista do Espírito Santo e as brincadeiras próprias da infância em cidade pequena.

1873 – 1876
Calixto aprendeu o ofício de marceneiro com o pai, João Pedro de Jesus, que era também ferreiro. Porém a cidade oferecia poucas oportunidades de trabalho e foi preciso sair à procura de melhores oportunidades em cidades mais ativas. Chega até a cidade de Santos, onde começa a pintar tabuletas de propaganda e composições de paisagens em casarões da época. Depois, vai à Brotas, no interior do estado de São Paulo, onde residiam seus tios Antonio Pedro e Joaquim Pedro. Antonio era maestro da banda local e ensinou noções básicas de música a Calixto. Seu tio Joaquim o levava para ajudar no trabalho, limpando e pintando as imagens da igreja matriz da cidade. Tendo em mãos todo o material para pintura, é nesse período que Calixto pinta suas primeiras telas.

1877 – 1880
Aos 24 anos, Calixto retorna a Itanhaém, onde se casa com sua prima Antônia Leopoldina de Araújo, com quem teve três filhos: Fantina, Sizenando e Pedrina. Sizenando e Pedrina vieram a dedicar-se à pintura e o filho de Sizenando, João Calixto de Jesus, seguiu a carreira de Benedito Calixto e foi professor de pintura na Escola de Belas Artes de São Paulo.[10] Já o filho de Fantina recebeu o nome em homenagem ao avô: Benedito Calixto Neto tornou-se um profícuo arquiteto especialista em construção de igrejas. Após o casamento, Calixto volta a Brotas, onde passa a viver com seu irmão, João Pedro. Começa nessa época a pintar retratos e vistas das fazendas locais a pedido dos proprietários.

1881
Calixto realizou sua primeira exposição no saguão do Correio Paulistano, foi reconhecido pela crítica, porém, nenhuma tela foi vendida. Retorna a Santos, onde volta a realizar trabalhos de propaganda, como o mural Deusa da Fortuna para uma casa de loterias, além de farmácias e outros comércios. Seu primeiro trabalho executado na cidade foram quatro medalhões com o tema de paisagens e marinhas do porto de Santos, para a decoração do saguão de entrada do escritório comercial de Hygino Botelho de Carvalho, homem influente do partido conservador e pai do poeta Vicente de Carvalho. Companhias como as Docas de Santos e a São Paulo Railway Company, recém chegadas à cidade encomendaram paisagens a Calixto. Seu sucesso na cidade foi o que lhe garantiu a possibilidade de realizar estudos mais aprofundados. No mesmo ano, Calixto pinta Porto das Naus e Desembarque de Martim Afonso de Souza. O pintor foi o primeiro a se dedicar a pintar imagens relacionadas à chegada de Martim Afonso de Sousa.

1882
Já conhecido na cidade, é convidado por Garcia Redondo, engenheiro responsável pela construção do Teatro Guarani, para decorar essa nova sala de espetáculos. Calixto ficou responsável pela pintura do teto e do pano de boca. Ponto de destaque em seus primeiros anos de carreira, os trabalhos no Teatro Guarani marcam uma encruzilhada na trajetória de Calixto, que vai de artesão de prestígio a artista. Devido à repercussão de suas obras, Garcia Redondo solicita a um dos beneméritos do município de Santos, Visconde de Vergueiro, que financiasse os estudos artísticos de Calixto em Paris. Na época, membros dos poderes públicos santistas, das sociedades dramáticas e de associações privadas representantes de comerciantes e cafeicultores (Associação Comercial de Santos), configuravam uma elite que precisava adquirir capital simbólico e que, para tanto, abriu espaço para prestigiar seus artistas. Assim, Calixto é financiado para se aperfeiçoar em Paris.

1883
Aos 29 anos, Calixto se muda para Paris, onde passa a morar em Asnières, um bairro afastado do centro da cidade. Inicia seus estudos no ateliê de Jean-François Raffaëlli, porém deixa o ateliê, por não se moldar à técnica impressionista. Entra então na Académie Julian, onde tem como professores Tony Robert-Fleury, Gustave Boulanger, Jules Lefebvre e William Bouguereau. Estuda composição de desenhos a partir de modelos vivos. Com a tela Uma Cena do Dilúvio, obtêm o segundo prêmio em um concurso de pintura histórica. Durante sua estada na França, Calixto teve a oportunidade de expor suas pinturas na Académie Julian.

1884 – 1889
Calixto retorna a Santos trazendo, além da tela Longe do Lar, uma câmera fotográfica, que mais tarde o auxiliaria no registro de cenas para a elaboração de suas telas históricas e religiosas. Em Santos, o artista pinta paisagens da cidade e das transformações urbanas pelas quais passa, principalmente no porto, além de retratos de personalidades santistas. Passa a dar aulas de desenho no colégio Azurara e faz algumas exposições de suas obras. A principal exposição do período foi realizada em um edifício na rua General Câmara, onde o artista expôs cerca de 45 pinturas entre temas religiosos, acadêmicos, cenas de Paris e retratos. Também foram expostos 42 desenhos, realizados a partir de estudos de modelos vivos na academia.


A Villa de Itanhaem segunda povoação fundada por Martim Affonso de Souza, estudos historicos sobre sua fundação, seu desenvolvimento, sua decadencia e estado actual. Santos. Editor: Typ. do "Diario de Santos". 1895. Biblioteca Brasiliana. Guita e José Mindlin.


1890 – 1893

Proclamação da República.

Na tentativa de ampliar seu mercado de compradores, muda-se para São Paulo, onde expõe na Casa Levy com bom sucesso para a época. Recebe sua primeira grande encomenda da pintura histórica A Inundação da Várzea do Carmo, que é exposta em 1892. Em 1893 realiza as obras Evangelho nas Selvas e Proclamação da República. Nesse período, Calixto realizou obras que tinham a própria cidade como tema. Suas obras incluíam imagens produzidas a partir de fotografias de Militão de Azevedo, dando continuidade a seu interesse pelo estudo e preservação do patrimônio histórico.

1894 – 1896
Insatisfeito com o retorno financeiro de suas exposições em São Paulo, Calixto retorna ao litoral em 1894, para São Vicente, onde permanece até o fim da vida. Publica seu primeiro livro “A Vila de Itanhaém” em 1895, mesmo ano em que se torna sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP). No ano seguinte, Calixto realiza as obras “Jesus no Horto” e “A Bandeira do Divino” ambas sobre costumes do litoral.

1897 – 1899
Calixto pinta a tela José de Anchieta e a Fera. Muda-se para uma nova residência em São Vicente, na Rua Martim Afonso, 192, com amplo espaço para seu atelier, além de um laboratório fotográfico construído com o equipamento que trouxe de Paris. Recebe medalha de ouro de 3.ª classe na 5.ª Exposição Geral de Belas Artes, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o quadro Panorama do Porto de Santos e do Novo Cais. Em 1898, pinta Gólgota, para a Irmandade dos Passos em Santos, e expõe no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde recebe medalha de ouro de 3.ª classe.

1900 – 1906


Retrato do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.


Realiza, em 1900, O Poema de Anchieta e Fundação São Vicente. Expõe novamente no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Entre os anos de 1901 e 1903, realiza as obras O Poema a Virgem Maria, Padre José de Anchieta, José Bonifácio de Andrade e Silva, Padre Bartolomeu de Gusmão, D. Pedro I, Capitão Mor de Itu Vicente da Costa Taques Góes Aranha e Brás Cubas. No ano de 1902, Calixto inicia sua extensa série de trabalhos sobre o passado histórico do Brasil e, principalmente, de São Paulo, para o Museu Paulista. As transformações urbanas de Santos e de São Paulo se fazem presentes nas telas do acervo do Museu Paulista, principalmente nas de Calixto. O artista não era só um pintor de telas para o museu, mas também um importante informante de descobertas e aspectos históricos das cidades do litoral. Expõe, no mesmo ano de 1902, na primeira Exposição de Belas Artes de São Paulo. Em 1903, o artista realizou a pintura Domingos Jorge Velho, para o Museu Paulista. No mesmo ano deu início a estudos sobre vida e a obra do Padre Jesuíno do Monte Carmelo. No ano de 1904, com a obra Os Falquejadores, é premiado com medalha de ouro na Exposição Internacional de Saint Louis, nos Estados Unidos.

1907 – 1910
No início do período, realiza O Naufrágio do Sírio. Faz uma exposição em Belém do Pará, na qual alcança excelente resultado financeiro. Em 1909 pinta Santa Ceia, e dá início aos seus trabalhos para a Igreja de Santa Cecília, na cidade de São Paulo. Calixto recebe a encomenda e executa dez pinturas de óleo sobre tela, sendo este seu primeiro trabalho de fôlego executado no campo da arte sacra. O artista recebe a encomenda de Dom Duarte Leopoldo e Silva, então bispo de São Paulo e faz um amplo estudo sobre a vida de Santa Cecília, que dá nome ao templo. Calixto não só atende a encomenda religiosa, como também atua como historiador, vertente esta que sempre o acompanha em suas pinturas. O Batismo de São Valeriano, Aparição do Anjo do Senhor, Morte de Santa Cecília, Os Funerais nas Catacumba, estudos para Santa Cecília perante o Tribunal, A Morte de Santa Cecília e A Imposição do Véu são datadas no mesmo período. Calixto inicia os trabalhos para o Palácio Episcopal de São Carlos, entre eles Tobias e o Anjo. Em 1910, realiza Pedro Correa Via Damasco ou A Conversão de Pedro Correa, a primeira de suas telas a retratar a vida do bandeirante Pedro Correa, Verdadeira Efígie de São Carlos Borromeu e Leitura.

1911
Participa da primeira Exposição Brasileira de Belas Artes no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Realiza as obras O Batismo de Cristo, Corpo de Cristo Morto, O Martírio de Pedro Correa, além de trabalhos para a Igreja de Santa Ifigênia: Anunciação à Maria, Deposição de Cristo e A Ceia de Emaús. Realiza obras para o Palácio São Joaquim, no Rio de Janeiro: Conversão de São Paulo, Investidura de São Pedro, Martim Afonso a caminho de Piratininga e Partida de Estácio de Sá. Em 1915, realiza Santo Afonso para os padres redentoristas da Basílica de Aparecida, e publica Memória Histórica sobre a Egreja e o Convento da Imaculada Conceição de Itanhaém. A produção religiosa de Calixto se insere no contexto de união entre Igreja e Estado. O artista executa aproximadamente dezessete encomendas religiosas para igrejas, matrizes, conventos e mosteiros na cidade de São Paulo, no litoral paulista e no interior do estado, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, trabalhando livremente para a igreja. Além disso, sua produção também se adéqua aos anseios da elite cafeeira, na medida em que executa pinturas com temáticas interessantes e adequadas aos mesmos. Assim, o artista se insere em um mercado de arte religiosa fortemente estruturado, tendo em vista as ligações com a elite cafeeira do início do século XX.

1917 – 1919
No ano de 1917, as obras A Imposição do Véu, Santa Cecília perante o Tribunal, Santa Symphorosa e São Tarcísio, realizadas para a Igreja Santa Cecília de São Paulo, são finalizadas. No mesmo ano, Calixto inicia trabalhos para a Catedral de Ribeirão Preto, com as pinturas Restituição da fala a Neófita Zoé e Serás o Defensor da Igreja de Cristo. Calixto realiza também seis estudos referentes aos quadros da vida de São Sebastião. Em 1918, o artista pinta A Santa Ceia e Lava-pés, na catedral de Amparo, interior de São Paulo. A partir de fotografias de Militão de Azevedo, o pintor inicia uma série de quadros da cidade de São Paulo. Calixto realizou a transposição integral para a tela de algumas dessas fotos que, nesse processo, ganhavam cores intensas que caracterizam as telas do artista. Paço Municipal e Fórum e Cadeia de São Paulo foram obras patrocinadas pelo Museu Paulista, sob a direção de Afonso d'Escragnolle Taunay. Na mesma época, Calixto realiza obras para a Igreja da Consolação e para a Catedral de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

1920 – 1926

Entre os anos de 1920 e 1923, Calixto realiza as obras Marechal Deodoro da Fonseca, Rua da Quitanda, Estação da Luz em 1860, Na Cabana de Pindobuçu, Santos Antiga, Porto de Santos, Fundação da Vila de Santos, Panorama de Santos em 1822, Panorama de Santos em 1922 e Martim Afonso de Souza. Em 1924, inicia seus trabalhos para a Igreja Matriz de São João Batista. Além de realizar desenhos sobre a vida de Santa Teresa d'Ávila para seu mosteiro, na cidade de São Paulo, Calixto também decorou a igreja da Ordem Primeira do Carmo, no Convento do Carmo de Santos. Publicou Capitanias Paulistas, pintou o quadro O Cristo Benze o Pão Eucarístico para a igreja Matriz de Itanhaém, e realizou desenhos para vitrais do Convento de Itanhaém, tendo sido agraciado pelo Papa Pio XI por suas obras religiosas. Em 1926, trabalhou para o Convento de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha, no Espírito Santo. Sua última exposição foi realizada em junho de 1926, no Teatro Coliseu Santista, onde apresentou principalmente cenas históricas.

1927
Os últimos trabalhos sacros de Calixto foram realizados para a Catedral de Santos. Morre no dia 31 de maio, em São Paulo, na casa de seu filho Sizenando. Quando faleceu, Calixto estava em negociações com o Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldino e Silva, para realizar a decoração da Capela do Carmelo, no bairro de Perdizes e com os frades capuchinhos, para a decoração da Igreja da Imaculada Conceição, ambos em São Paulo.

Obra
Contexto e estilo

Benedito Calixto foi pintor de paisagens, marinhas, costumes populares, cenas históricas e religiosas. Considerado pintor de história e religioso, gêneros nos quais deixou produção abundante, suas obras de cenas portuárias e litorâneas o consagraram como artista. Dedicado a temas históricos e a paisagens, suas telas são registros raros de cenas e eventos marcantes do passado do litoral paulista, bem como de vistas urbanas e de marinhas à época em que viveu. Além da pintura e da fotografia, Calixto se desenvolveu na palavra escrita. O artista escreveu e publicou vários artigos e livros.

Produziu obras importantes para vários museus, entre eles o Museu Paulista, em São Paulo, para inúmeras igrejas em todo o país, associações, fundações, instituições. Além da pintura se revelou-se como historiador, escritor e fotógrafo. Como historiador, resgatou a existência da então ignorada Capitania de Itanhaém, assim como sua importância na história da exploração e colonização do interior do Brasil, raças a minuciosas pesquisas a a documentos seculares esquecidos em Itanhaém, São Vicente e São Paulo.

Retrato do Padre José de Anchieta. Benedito Calixto


Capitanias paulistas

Na obra reconhecida como a mais importante do artista como historiador, Calixto enaltece a índole e a história dos paulistas identificados como os bandeirantes, expõe suas descobertas, interpretações e impressões sobre a história dos vicentinos. O historiador transita de uma história fundiária privada com fortes tons e acentuada inclinação genealógica até os aspectos mais gerais sobre a história do Brasil. Uma versão preliminar de Capitanias Paulistas foi originalmente publicada em 1915, na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), com o nome de Capitanias de Itanhaen, mas seu formato revisado fora publicado somente em 1924. O livro tinha como objetivo apresentar os desdobramentos dos primeiros anos colonização do litoral paulista por meio das disputas das famílias herdeiras dos irmãos Martim e Pero Afonso de Souza, entre 1535 – criação da capitania de São Vicente – e 1791 – extinção da capitania de Itanhaen.

Para Calixto, ao visar instituir a história como “ciência”, essa necessitava de um elenco de personagens-mito e tradições, a tornando capaz de compreender o passado como um conjunto de estruturas controladas e pretensamente imutáveis. Empenhado na representação da história e na “invenção” de uma paisagem do litoral paulista, Calixto contribuiu para a representação iconográfica do mito “bandeirante” através da tela O Mestre de campo Domingos Jorge Velho e seu lugar-tenente Antônio Fernandes de Abreu (1903) e do vitral Epopeia dos Bandeirantes (1922). Mais que uma ilustração, a tela O Mestre de campo Domingos Jorge Velho e seu lugar-tenente Antônio Fernandes de Abreu efetivamente é a constituição do mito bandeirante.


Calixto e as Capitanias Paulistas. Além de refinado pintor, responsável por importantes telas que compõem a memória iconográfica da Baixada Santista, Benedicto Calixto foi também historiador e produziu várias obras no gênero, como esta, Capitanias Paulistas, impressa em 1927 (segunda edição, revista e melhorada, pouco após o seu falecimento) na capital paulista por Casa Duprat e Casa Mayença (reunidas).  O exemplar, com 310 páginas, foi cedido a Novo Milênio para digitalização pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010:

Museu Paulista

Afonso d'Escragnolle Taunay assumiu a direção no Museu Paulista em 1917, quando dedicou-se a Seção de História Nacional e desenvolveu um projeto de exposições históricas visando as comemorações do centenário da Independência, em 1922. Quatro das dezesseis salas de exposições foram reservadas à história de São Paulo, duas das quatro salas foram voltadas especificamente à reconstrução da cidade em meados do século XIX: a sala da maquete São Paulo, em 1841 e a antiga Iconografia Paulista. Para a sala Antiga Iconografia Paulista, Taunay encomendou telas a óleo de pintores como Benedito Calixto de Jesus. Taunay forneceu como modelo para as telas, fotografias de Militão Augusto de Azevedo, que registram aspectos da cidade em 1862 e em 1887. Calixto trabalhou especialmente na reprodução em pinturas, dessas fotografias de Militão . As imagens no acervo do Museu Paulista, que compõem a Coleção Benedito Calixto de Jesus (CBCJ), retratam paisagens urbanas da cidade de São Paulo, da Baixada Santista e de cidades do interior do estado de São Paulo. Dentre os quadros de destaque na coleção do museu estão Inundação da Várzea do Carmo, 1892, em que Calixto registra o limite industrial de da cidade de São Paulo, destacando edificações associadas à indústria do café. Esse quadro, assim como outros do pintor, é considerado um "verdadeiro documento de época".

Arte Sacra
Vindo de uma família de católicos, Calixto acompanhava as atividades da igreja de Itanhaém desde criança. Teria feito, na adolescência, o primeiro presépio da cidade, em madeira. Mesmo depois de adulto, era o responsável pela decoração da cidade durante as encenações da Semana Santa. Nessa época, o artista criou seus estreitos laços de amizade com senhores da igreja, o que posteriormente ajudaria em sua indicação para diversas obras. Pode-se afirmar que em sua formação, o gosto pela pesquisa, pintura e a importância de sua religiosidade se fundiram. Calixto se tornou um pintor católico que pesquisa. Suas primeiras pinturas religiosas são encomendas feitas por irmandades da cidade de Santos. Calixto passa por um importante ciclo de estudo e pinturas sobre a vida do padre jesuíta José de Anchieta. Após esse ciclo, o artista vislumbra um novo mercado para seu trabalho: a decoração de igrejas, principalmente no interior e na capital paulista. A partir da década de 1900, o artista trabalharia arduamente para a igreja católica. Além de telas, realiza também a decoração interna de igrejas, como a de Santa Cecília, de Santa Ifigênia e da Consolação, em São Paulo. No interior do estado, realiza trabalhos em São Carlos, Bocaina, Catanduva e Ribeirão Preto.

Em Bocaina

Uma casualidade trouxe as telas de Calixto para Bocaina, município do centro do estado de São Paulo, que tinha em 2015, quase doze mil habitantes. A história registra que ele deveria pintar os seus quadros na igreja matriz de Jaú. Não houve acordo quanto ao preço e ele abandonou o projeto. Em Bocaina, na época, estava o padre José Maria Alberto Soares, que tinha interesse em ter as telas do pintor em sua igreja, a Matriz de São João Batista, e começou a escrever a Calixto, expressando essa vontade. Conseguiu sensibilizar o artista, que veio a Bocaina e pintou as telas por um preço bem menor daquele que pedira em Jaú. Em 10 de dezembro de 1923 começava seu último grande trabalho, a pintura das telas Salomé recebe a cabeça de João Batista e Transfiguração para a matriz de Bocaina. As obras podem ser consideradas o melhor da arte sacra pintada por Calixto, que por ter nascido e vivido em cidades litorâneas, pintou muitas marinhas. O próprio pintor considerava as obras como os seus melhores trabalhos sacros. Dominado pela ideia da morte próxima, dizia que nessa igreja seria o lugar onde se perpetuaria a sua derradeira arte.

Homenagens a Benedito Calixto

Há uma exposição permanente na cidade paulista de São Carlos, chamada Benedito Calixto na Terra do Pinhal, com amplo panorama da vida e obra do célebre pintor brasileiro e trabalhos originais realizados por ele para o antigo Palácio Episcopal de São Carlos. Os trabalhos pertencem ao acervo da municipalidade são-carlense, com oito afrescos que estão na exposição. A exposição é no Museu da "Estação Cultura" na Estação de São Carlos.

A Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, entidade sem fins lucrativos, localizada em um antigo casarão em estilo eclético e interior em Art Noveau à Avenida Bartolomeu de Gusmão, 15, Boqueirão, Santos, São Paulo, tem uma exposição permanente de obras de Calixto. Seu acervo é de cerca de sessenta obras do pintor - marinhas, paisagens, retratos e nus [desenhados na Academia Julian, Paris]. A Pinacoteca conta também com uma biblioteca, com acervo de livros de arte, e um Centro de Documentação sobre Calixto e sua obra.[24]

Foi homenageado na cidade de São Paulo com a Praça Benedito Calixto.


Bibliografia

CONCEIÇÃO, Júlio. Benedito Calixto (1853-1927): separata do tomo XVII, parte 2ª, 1932 da Revista do Museu Paulista.
BRAGA, Teodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Edit., 1942.
LOBÃO, Chiquinha Neves. Pintores de minha terra. São Paulo: s.edit., 1950.
SILVA SOBRINHO, José da Costa e. Santos noutros tempos. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1953.
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
LEITE, José Roberto Teixeira. Benedito Calixto: memória paulista. São Paulo: Banespa/Pinacoteca do Estado, 1990.
SOUZA, Marli Nunes de (org.). Benedito Calixto: um pintor à beira mar. Santos: Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, 2002.
ALVES, Caleb Faria. Benedito Calixto e a construção do imaginário republicano. Bauru: EDUSC, 2003.
POLETINI, Moisés/BRAZ, Pedro José. A pintura sacra de Benedito Calixto. Santos: Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, 2004.
BENEZIT, E. Dictionnaire, etc.. Paris: Gründ, 1999.
LEITE, José Roberto Teixeira. Arte brasileira dos séculos XIX e XX na Coleção Bovespa. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2007.

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ANTONIO PEDRO DE JESUS E A TRADIÇÃO MUSICAL DA SUA TERRA




Filho de Itanhaém e de uma família de artistas - um dos seis irmãos de Benedito Calixto - o maestro Antônio Pedro fixou residência em São Vicente na rua Martim Afonso em 1906, onde mantinha uma escola regular e também uma banda musical. Era docente e regente da celebrada Banda Infantil da Escola do Povo, sempre motivo de orgulho e histórica base educativa de futuros e destacados cidadãos. Depois dessa experiência que durou cerca de dez anos, o maestro foi residir em Jaboticabal e depois em Brotas, onde exerceu com destaque a suas atividades profissionais, sob a proteção do secretário da Câmara, seu irmão Joaquim Pedro. Faleceu em 1921


Na Vila de Conceição de Itanhaém, nasceu Antônio Pedro de Jesus, a 12 de agosto de 1858. Casou-se com d. Francisca Osória de Jesus, em 1889. Sua atividade em São Vicente, data de 1906, fundando uma escola, na Rua Martim Afonso, transferida depois para a Rua Marquês de São Vicente. Era poeta, repentista, mestre educador, e musicista. Como músico, compôs além de marchas, valsas, quadrilhas, várias peças sacras e hinos escolares. Fundou a Sociedade Musical 22 de Janeiro, sendo o seu regente, bem assim da Banda Vicentina. Lecionou na Sociedade Cultural Colonial Por- tuguesa e foi integrante da Banda da Humanitária. São Vicente possuiu a Banda de Música Infantil "Escola do Povo". Fundada em 1904, e mantida pela Sociedade Cívica, os seus diretores foram os srs. Alexandre Lopes dos Santos e Jerônimo dos Santos Moura, os instrumentos foram adquiridos por subscrição pública vicentina. O maestro Antônio, foi convidado a organizar e dirigir a banda, apresentou-se, executando concertos em diversas oportunidades e lugares. No concurso realizado em São Paulo, nos dias 5 e 7 de setembro de 1909, conquistou, sob a regência do maestro Antônio, o lugar de vice-campeã. A de São Vicente era a única infantil, quatro peças deviam ser apresentadas, o Hino Nacional, e a sinfonia de abertura de o "Gua- rani", eram obrigatórias. Convidado insistentemente para o magistério em Jaboticabal, para lá se transfere, depois doente, muda-se para Brotas, onde falece, em meados de 1921. (Polianteia Vicentina, 1982)

O maestro e os componentes da Banda em frente à Escola do Povo, na Praça Cel. Lopes.


Matéria biográfica do jornal A Tribuna em edição de 1963 sobre a Banda Musical dirigida pelo maestro Antônio Pedro: tradição de Itanhaém levada à outras terras. 


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Facha principal da Igreja Matriz

Interior da Igreja Matriz


Biblioteca pública. 



Construção padrão do núcleo colonial : Câmara e Cadeia


Praça central nos anos 1950. IBGE.



Embarque fluvial nos bananais nos anos 1950. 


OS TRILHOS E ESTAÇÕES DA E.F. SOROCABANA




 Trilhos da E.F. Sorocabana em 1956.
Trilhos urbanos da E.F. Sorocabana em 1969. 


Trechos Itanhaém-Peruibe da E.F. Sorocaban.


Locomotiva da E,F. Sorocana.1972. 


Centro histórico e ferrovia vistos do Morro do Itaguaçu. 

Jornal Cidade de Santos, 1971. 

Praia dos Santos, 1965. 






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