11/07/2019

SV IMPERIAL

DE 1822 (INDEPENDÊNCIA) A 1888 (FIM DO II REINADO)


   

SÍNTESE 

Uma crise política em Portugal força o retorno da Família Real e ao mesmo tempo amadurece um antigo projeto de emancipação política do Brasil. Com já foi dito, não houve rupturas estruturais. A aristocracia rural escravocrata conspira para que o Brasil continue sobe seu comando, tendo um regime monárquico-imperial que lhe atenda os interesses econômicos. D. Pedro I, com destino incerto em Portugal, aceita o papel de representação aristocrática de uma nobreza brasileira criada para esse fim, mas logo se indispõe com as lideranças que pretendem impor limites ao seu poder. O Brasil político é o retrato da restauração europeia do Congresso de Viena após a derrota de Napoleão. Ao mesmo tempo que acontece a construção do Estado Nacional, por meio da constituição de 1824. O país avança na produção massiva de café, cujos índices de produção atingem marcas jamais vistas. As fazendas, sempre abarrotadas de estoques, ainda funcionam com mão-de-obra escravizada e toda a produção é escoada nos portos marítimos, em direção ao hemisfério norte. O meio principal de escoamento são as ferrovias, tecnologia britânica e alemã que funciona no Brasil como expansão territorial e fundação de futuras cidades no interior dos estados. O porto de Santos, ainda desorganizado, passa a receber grandes fluxos das safras de café e surge então a ideia de uma rede ferroviária de muitos ramais interligados e diretamente ligada ao cais modernizado. Grandes investidores se unem ao governo paulista para viabilizar novas áreas de plantio e também de transporte do produto conhecido como “rubiácia” e que faz um sucesso estrondoso de consumo. Multiplicam-se as ferrovias e triplicam-se os pés de café. Regiões novas como Campinas e Ribeirão Preto superam o antigo Vale do Paraíba e iniciam uma nova fase da economia cafeeira por meio do sistema de produção de parceria. Aos poucos a escravidão vai cedendo espaço para a mão-de-obra dos imigrantes europeus. Era uma adaptação empresarial à proibição do tráfico negreiro (1815) e sucessivas leis de extinção gradual do trabalho compulsório. Santos é a principal praça exportadora de café. As empresas comissárias ocupam o entorno portuário e surge uma elite de intermediários dedicados exclusivamente a esse negócio altamente lucrativo. Suas mansões e chácaras se espalham na Capital e em Santos, bem como nos arredores, sobretudo São Vicente, que é a morada preferida dos europeus radicados na ilha. É também um período de transformações da paisagem urbana, alterada pela luz elétrica, pelas linhas de bondes e pela mudança de costumes. As ferrovias, com seus sistema de redes, aceleram a produção e distribuição não somente do café mas de novas formas de consumo, alterando profundamente os costumes e estabelecendo uma nova cultura. No final do século XIX o cenário geográfico e político sofre modificações importantes. O porto torna-se um empreendimento organizado com uma parceria entre o poder o poder público e a iniciativa privada. Funda-se a Companhia Docas de Santos, cuja licença de exploração duraria exatamente 100 anos. Os investidores alavancam outras parcerias e atraem para a região novas linhas ferroviárias, usinas de eletricidade e a implantação de terminais portuários especializados. Grande parte dos executivos do porto de Santos são  vicentinos (natos ou residentes)  e estrangeiros que ali se instalaram atraídos pela paisagem bucólica, o clima fresco e a proximidade com seus núcleos de trabalho. O advento da república, agora sobre controle dos cafeicultores, levaria o produto aos picos do prestígio e também ao ponto mais crítico da sua história.

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D. PEDRO II EM SÃO VICENTE


A visita aconteceu em 1846 e fazia parte dos compromissos políticos do Imperador
Acompanhado da Imperatriz Dona Teresa Cristina de Bourbon e uma grande comitiva, a excursão imperial foi também iniciada pela Província do Rio Grande do Sul., como aconteceria com a Princesa Isabel e o Conde d”Eu no final século XIX.
 
Descendo até a de São Paulo, chegou "à cidade de Santos às 5 horas da tarde do dia 18 de fevereiro de 1846", visitando, também, São Vicente.
 
Nessa rápida passagem o imperador foi recepcionado festivamente pela população e especialmente por um conhecido admirador vicentino, Fernando Augusto Bittencourt. A visita à Igreja Matriz foi o principal compromisso de Pedro II na antiga Vila. Ali havia o costume de colocar tapetes no chão para que os devotos fizessem confortavelmente as suas orações. Conta-se que nessa ocasião especial Bittencourt, então presidente da câmara e depois intendente (já na república), ofereceu a D. Pedro e à Imperatriz uma colcha de damasco para que suas majestades ajoelhassem. Pedro II era constantemente homenageado por recepções formais luxuosas, porém dava muita atenção às manifestações respeitosas dos súditos mais simples. Bittencourt era um desses. 

Conhecido pelos costumes rústicos e tradicionais, residia no sítio Acaraú, na área continental vicentina, local onde havia nascido e batizado o Frei Gaspar da Madre de Deus. O Imperador voltarias outras vezes. Em uma dessas visitas à São Vicente almoçou como sua comitiva na residência do farmacêutico e politico José Ignácio da Glória.

 
A Família Imperial: dona Isabel, Conde d'Eu, dona Leopoldina e dom Luís Augusto; dom Pedro II e dona Teresa Cristina.


VISITAS IMPERIAIS TINHAM FUNÇÃO POLÍTICA
 
"Desde sua ascensão ao trono - assinala Rodolfo Garcia na sua obra Viagens de d. Pedro II - manifestou desejos de visitar as províncias do Império, para melhor conhecer de suas necessidades e de seus recursos naturais, que uma inspeção individual havia de tornar mais palpitantes nas futuras deliberações governamentais. Entretanto, razões de ordem pessoal umas, de ordem política outras, fizeram protrair a visita imperial cerca de um lustro, de modo que somente em outubro de 1845 pôde o imperador empreender sua primeira viagem, que teve como objetivo as províncias do Sul..."
Dotado de um imenso patriotismo, desde cedo o imperador demonstrou o desejo de conhecer pessoalmente as cidades das províncias brasileiras. E, assim, em companhia da imperatriz, que desposara em 1843, saiu dois anos depois em excursão às províncias do Sul, partindo do Rio de Janeiro, junto com a Esquadra Imperial, sob o comando do chefe Greenfell, no dia 6 de outubro de 1845. Os imperantes viajaram a bordo da fragata Constituição comandada pelo capitão-de-fragata Joaquim Ignácio, e que chegou a Santa Catarina no dia 12 do mesmo mês.
Após demorada excursão pelas províncias do Sul (entre Santa Catarina e São Pedro do Rio Grande do Sul) - o vapor Imperatriz partiu no dia 17 de fevereiro de Santa Catarina, trazendo os ilustres visitantes de regresso para a corte. Mas, antes de aportar no Rio de Janeiro, o monarca deveria visitar ainda alguns pontos da província de São Paulo, constando do seu roteiro as cidades de Santos, São Paulo (Capital), Sorocaba, Itu, Campinas; as vilas de São Roque, Porto Feliz e Jundiaí, além dos povoados de Cotia e São Bernardo.
De fato, na tarde do dia 18 de fevereiro, s.m. o imperador d. Pedro II e sua esposa a imperatriz dona Tereza Cristina desembarcaram em Santos debaixo da ovação popular, pois o capitão Antônio Martins dos Santos, presidente da Câmara, havia recebido ordem do então governador da província, marechal Manuel da Fonseca Lima e Silva (futuro barão de Saruí) para promover uma pomposa recepção aos augustos soberanos.
Sua Majestade retornou a Santos. Visitou-a em agosto de 1875, com o Conde de Iguassú; em setembro de 1878, com a Imperatriz Tereza Cristina; em novembro de 1886 com o grande Sinimbu. Para as reiteradas visitas do Augusto Senhor foi então construído um carro especial, carro ainda existente bem conservado no galpão interno da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Numa placa existente se lê:
“Este carro foi construído no ano de 1879 pela São Paulo Railway para uso de S.M. o Imperador do Brasil D. Pedro II” (Cidade de Santos – J. Muniz Jr, 18 de maio de 1980)

1822 – Dia do Fico (9 de janeiro). Grito do Ipiranga (7 de setembro). José Bonifácio nomeado Ministro do Reino.
 
- Nasce Fernando José Augusto Bittencourt, em 12 de novembro.
 
Desempenhou graciosamente os cargos de presidente da Câmara (prefeito), no Segundo Império, continuando na República. Foi intendente (correspondente ao cargo de prefeito), vereador, juiz de paz, delegado de polícia, político e agricultor. O Sítio Acaraú vem da herança dos Bitencourt, aí existiu a Capela de Santana do Acaraú, onde nasceu e foi batizado frei Gaspar da Madre de Deus; foi ali que Fernando José Augusto, durante 40 anos, foi agricultor dos mais importantes da época. Era fabricante da afamada Pinga de Acaraú, de melado, farinha de mandioca e biju, entre outros produtos. (Poliantéia Vicentina)
 
1823- Noite da Agonia. D. Pedro intimida com as tropas a Assembléia Constituinte. Nascimento do Capitão Gregório Inocêcio de Freitas.
 
1824- Constituição outorgada implanta o Poder Moderador e agrava confronto de D. Pedro com a aristocracia rural.
 
1825 – O Viajante Luiz D'Alincourt descreve as vilas de Santos e de São Vicente, em folheto publicado em Cuiabá em 1826, raríssimo, e que foi em 2004 republicado pelo Senado Federal.



SÃO VICENTE E A VILA DE SANTOS

LUIZ D’ALINCOURT

Benedito Calixto de Jesus - Panorama de Santos, 1822, Acervo do Museu Paulista da USP

A Vila de Santos existe nos 23º56'15" de Latitude S. e nos 331º39'30" de Longitude de Ferro e na Longitude 45º24'30" de Greenwich, colocada na parte setentrional da Ilha de São Vicente, em um terreno chamado noutro tempo pelos indígenas guaianazes Enguaguassú (nome composto do substantivo Enguá e do adjetivo guassú), que vem a dizer - Pilão Grande - que os índios derivavam da configuração do lugar, que lhes pareceu semelhante aos instrumentos em que faziam suas triturações; o qual ocupa a parte da ilha desde os Outeirinhos (hoje Armazém Frigorífico) até o golfo de Canéu, com pouca diferença. 
Os primeiros que assentaram casa em Enguaguassú foram Pascoal Fernandes Genovez e Domingos Pires, que, formando sociedade, se estabeleceram fronteiro ao largo, que faz o rio (canal) e onde se divide em dois: um que vai formar a barra da Bertioga e outro a do Meio (de Santos): deste lugar abriram estrada por terra para São Vicente, e assim se conservaram até 1539, em que se lhes passou carta de sesmaria nas terras que ficam a leste do ribeiro de São Jerônimo. 
Braz Cubas, cavalheiro fidalgo, possuía as terras de Jerybatiba (Jurubatuba), que estão além do rio em frente a Enguaguassú; e por ficarem muito distantes de São Vicente lembrou-se de fazer o estabelecimento em sítio mais azado para o embarque e desembarque dos gêneros, que, sendo de fácil comunicação com a vila, estivesse ao mesmo tempo próximo à sua fazenda, e para este fim comprou a um dos sócios parte das suas terras, a qual se achava ainda coberta de mata virgem, e compreendia o Outeirinho de Santa Catarina (atual rua Visconde do Rio Branco), junto ao qual deu princípio à nova povoação em 1543; e com ele o teve igualmente a vila de Santos, que reconhece ao mesmo Braz Cubas por seu fundador. 
Foi ele que restabeleceu a Casa de Misericórdia, que é a mais antiga do Brasil; ao princípio teve simplesmente o nome de Porto, querendo dizer, que era o porto da Vila de São Vicente porque bem depressa os navegantes largaram o antigo ancoradouro e vieram desembarcar os seus efeitos à nova povoação, de onde eram conduzidos por terra à vila, o que se lhes fazia mais cômodo; o mesmo praticavam todos os fazendeiros da Bertioga, Santo Amaro e mais terras deste lado. Assim se conservou a povoação por alguns anos, até que o sobredito Braz Cubas fundou um hospital junto à Casa de Misericórdia para socorro aos marinheiros, que adoeciam, e que lhe deu o apelido de Santos, à imitação de um semelhante em Lisboa. 
Este nome bem depressa se estendeu a toda a povoação, que até hoje se ficou chamando Porto de Santos, que, pelos cuidados do seu fundador, foi ereta em Vila, nos fins do ano de 1546. Teve seu princípio junto ao Outeirinho de Santa Catarina, como disse, mas pelo tempo a diante foi ficando deserto este lugar, e a Vila estendeu-se para o Ocidente (Valongo), mesmo além do ribeiro de São Jerônimo, ocupando assim um local muito inferior ao primeiro, que por ser mais baixo e cercado de colinas, é assaz abafado no tempo dos caniculares. 
A esta mudança deu motivo a proximidade das fontes (Itororó, São Jerônimo, São Bento, Macaia etc.) e assistência dos moradores de serra acima, que procuravam sempre chegar da Vila mais perto do Cubatão, posto na fralda da Serra, onde embarcavam para Santos; e desta maneira se conservou até que se edificaram os Quartéis da Tropa, atrás da Igreja Matriz. 
Foi Santos a poderosa rival de São Vicente, que pela concorrência no seu porto, comércio e aumento de população eclipsou todo o esplendor de que esta se via revestida. 
O terreno que a Vila ocupa é plano e inclinado para o lado do ribeiro de S. Jerônimo, onde as ruas são mais povoadas, e onde labora o maior comércio; elas são dispostas pelo gosto antigo com mais alguma regularidade; as menos povoadas são diretas e espaçosas, colocadas por detrás das primeiras, estendendo-se para o leste (ruas General Câmara, João Pessoa, Amador Bueno, São Francisco e Bittencourt ou na nomenclatura antiga: Nova, do Rosário, das Flores, de São Francisco e Fresca) em direção pouco mais ou menos paralela à margem do rio (Valongo); os edifícios são de pedra e cal, alguns bem construídos; tem Casa da Misericórdia, como já disse, um convento de Franciscanos, um Hospício de Bentos e outro de Carmelitas Calçados; o Colégio Jesuítico é atualmente o Hospital da Tropa; tem um cais regular e de cantaria no qual finda uma praça mediana, ornada pela parte de Leste com palacete dos excelentíssimos capitães-generais, que também faz frente para o rio e para a praça dos Quartéis (da Matriz, depois Visconde do Rio Branco e atualmente da República) junto à qual há um pequeno forte, cuja artilharia está em péssimo estado. 
É esta Vila o interposto de todos os objetos de exportação e importação da Província, assim como de muitos gêneros que entram para as Províncias de Goiás e Mato Grosso, ou conduzidas por terra ou pelos rios. As produções que descem dos estabelecimentos centrais, para saírem a barra, são açúcar, algodão, tecidos do mesmo, toucinho, aguardente, café, courana, fumo e carnes chamadas ensacadas (charques); estes gêneros são transportados em sumacas a outras províncias, com especialidade às do Rio de Janeiro e Bahia. Os estrangeiros levam daqui açúcar, algodão, café e courana. 
O clima é muito cálido, principalmente quando, no estio, venta o Noroeste, que se torna insuportável. A vila de Santos nem é a mais antiga, nem foi a principal da província; a de São Vicente é a primeira, e em outro tempo mui populosa: ela deu o nome à Capitania, cujos limites foram bem diversos dos que tem hoje a Província de São Paulo. 

1827 – Abertura da estrada Santos-Cubatão. 

1929- Pedro I rompe com a Marquesa de Santos e casa-se com uma princesa européia de 17 anos (Amélia de Leuchtenberg). 

1830 – Assassinato de Líbero Badaró em São Paulo causa grande comoção e impopularidade de D. Pedro. 

1831 – Abdicação de D. Pedro. Criação da Guarda Nacional. Nascimento da intendente Julião Caramuru, na Paraíba. 

1832 – Charles Darwin chega ao Rio de janeiro. 

1834 – Ato Adicional. Rebeliões Regenciais nas províncias. 

1835 – Posse do prefeito José Gonçalves Aguiar. 

Nascido em São Vicente em 10 de setembro de 1762, José Gonçalves de Aguiar foi batizado pelo padre Vital Gomes Freire, que está sepultado na Matriz. Além de capitão-mor, nomeado pelo rei de Portugal, José Gonçalves Aguiar foi também grande lavrador, um dos maiores produtores de farinha da região. Em 1823, ele aparece no recenseamento com uma produção de 200 alqueires. O capitão-mor também foi um dos proprietários mais importantes da Fortaleza de Itaipu. Responsável pelo recenseamento da cidade em 1813, foi ainda edil e juiz, vereador, procurador da Irmandade do Santíssimo Sacramento, juiz municipal e presidente do Senado da Câmara em 1822. Dele descendem importantes famílias vicentinas, entre elas, a de Ariel Ribas, ex-funcionário da Prefeitura. Último capitão-mor de São Vicente, José Gonçalves Aguiar faleceu em 22 de dezembro de 1843 e foi sepultado na Igreja Matriz. (Vultos Vicentinos) 

1836 –Nasce em Portugal, a 15 de julho, José Lopes dos Santos.
                                         
Cursou boas escolas em Portugal e São Paulo. Trabalhando inicialmente no comércio cafeeiro em Santos, consegue reunir algum capital, podendo depois trabalhar no mesmo ramo, por conta própria. Com 34 anos, casa com d. Gabriela Carneiro, e passa a morar em São Vicente. Co-fundador da Escola do Povo. Em 1876 é eleito vereador à Câmara Municipal de São Vicente. Era em 1877 presidente da Câmara, enfrentando dificuldades financeiras do municípios e adversários políticos. Nas fileiras do Partido Liberal, era já declarado republicano, cujas atitudes lhe valeram a simpatia de Floriano Peixoto. Este, por ocasião da Revolta de 1893, confiou-lhe o comando do 192º Batalhão da Guarda Nacional de São Vicente, no posto de coronel, prestando relevantes serviços à ordem e segurança da terra vicentina. Grande filantropo, ajudava os pobres e doentes. Faleceu em São Paulo, em 21 de maio de 1896. (Poliantéia Vicentina 1532-1982)

- Segundo o Quadro Estatístico da Província de São Paulo organizado pelo marechal Daniel Pedro Muler, São Vicente não possuía escolas e, quanto ao resto... "a sua dificultosa barra concorreu para que a maior parte de seus primeiros habitantes elegessem a posição da vila de Santos e afluíssem para esta que tem engrandecida, enquanto aquela tem ido em decadência; contendo 745 habitantes, possui a vila os edifícios públicos da Matriz, com invocação de São Vicente, e a Casa da Câmara".
 
- O missionário metodista norte-americano Daniel Parish Kidder visita a Santos e São Vicente, fazendo uma descrição geogéfica e histórica das duas vilas afonsinas.
 
1838- Nascimento, em 03 de março, de Francisco Xavier dos Passos, o Chico Botafogo, demarcador de ruas e músico tocador de baixão da banda.
 
Chico tornou-se uma figura popular, um dos mais conhecidos “calungas“ da sua época. Era morador proprietário do Morros dos Barbosas, área que seria doada para o município para a construção da primeira caixa reservatório da cidade, cuja água era captada das próprias nascentes do morro e usa para o abastecimento da população. Esse reservatório foi construído em 1887.Chico Botafogo também era conhecido como devoto religioso e “puxador de rezas” nas procissões e terços, eventos públicos e também na cerimônias fúnebres. Faleceu em 28 de agosto de 1915.
 
                                             

O “ARROJO”DOS BARBOSAS
O problema da água é mais que secular nessa cidade; pois surgiu ele em 1822, quando a Câmara tratou de adquirir metade do Morro dos Barbosas. Pertencia este a diversos pardos forros, como Caetano Barbosa, Raimundo Barbosa, Domingos Barbosa, José Mariano Barbosa, Maria Barbosa, Inácia Barbosa e Mariana Barbosa. Intimados todos eles pelo Senado da Câmara para exibir o seu título de domínio e assinar um termo pelo comprometessem a não fazer novas plantações, e nem derrubar pau algum nas redondezas da fonte ali existente, recusam-se a apresentar o referido documento e não quiseram assinar termo algum. O juiz presidente e os vereadores estranharam esse tamanho “arrojo”, com que se atreveram eles a faltar às ordens do Senado e, por isso, mandaram que os recolhesse à enxovia. No mesmo instante um deles principiou a dizer que padecia de um reumatismo teimoso, outro que sofria de asma, outro que tinha uma lesão no coração, uma das mulatas, caipira esquiva como uma onça nova, pôs-se a chorar; e, em conclusão, acabaram acrescentando que não tinham dúvidas em assinar o termo que o Senado da Câmara determinasse e daquela hora em diante jamais plantariam nem cortariam árvores alguma na dita metade do morro. O morro inteiro lhes tinha custado 12$000. Para que não fossem prejudicados pagou-lhes a Câmara a metade dele 6$400. E assim conservou São Vicente, sob um docel verde de ramarias, a frescura das águas cantantes da fonte chamada outrora “dos jesuítas”.
Costa e Silva Sobrinho, Cenas e figuras do passado Vicentino (Poliantéia Vicentina)

Nota do organizador: o mesmo morro desapropriado pelas autoridades daquela época seria ocupado por famílias aristocráticas paulistanas, religiosos e até estrangeiros que ali construíam mansões de moradia fixa e de veraneio.
 
1839 – Nasce em Santos, em 28 de fevereiro o vereador Alberto Martins de Oliveira.
                                                

Em 1853 muda-se com a sua família para São Vicente, quando tinha 14 anos. Com a idade de 18 anos ingressou nos escritórios do serviço de água, e com 22 anos, na firma Theodor Wille e Cia., em Santos. Foi fundador do C. R. Tumiaru (22 de outubro de 1905) e dos Clube Carnavalesco Adristas, em 1884. Exerceu graciosamente os cargos de delegado de polícia, em 1900; presidente da Câmara, vereador três vezes (12 anos); foi convidado para ocupar o cargo de prefeito, porém abdicou, devido a seus muitos afazeres. Era membro do Partido Governista. Fez parte da comissão revisora do alistamento eleitoral, em 1895-1897, sendo nomeado também para a função de mesário. Faleceu em 29 de novembro de 1929, na sua residência, na Rua Visconde de Tamandaré, 53. (Polianteia Vicentina).
 
-O diplomata e historiador brasileiro Francisco Adoplho Varnhagen redescobre em Lisboa o Manuscrito de Pero Lopes de Souza. Na obra, Pero Lopes narra, além de sua biografia e a de Martim Afonso, episódios da colonização do Brasil, como a fundação das "duas primeiras colônias regulares de portugueses no Brasil", São Vicente e São Paulo de Piratininga (que teria sido pouco depois abandonada e refundada pelo padre José de Anchieta em 1554), assim como os descobrimentos do Rio de Janeiro, do Rio da Prata e da ilha de Fernando de Noronha.



 
1840- O pai de Luiz Gama, fidalgo baiano, vende o filho de dez anos como escravo para o comandante Patacho Saraiva.
 
- Nasce Paulino José Ribeiro Ratto, em Santos, a 22 de junho.
                                                    
Ingressou, como aluno interno, no Colégio São Vicente de Paulo, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Preferindo o comércio, voltou à sua terra, dedicando-se ao comércio do café, onde se liga a importantes firmas da época. Adquirindo fortuna, passa a morar em São Vicente.Inclinado à política, é eleito vereador da Câmara vicentina de 1887 a 1891. Combateu a febre amarela que se espalhou em São Vicente. Obteve rápido atendimento não só junto ao Serviço Sanitário, como na Assembleia Provincial. Lutou para conseguir a iluminação pública a querosene, bem como para a canalização da água. Depois de longa atividade em benefício da coletividade vicentina, falece aos 84 anos de idade, no dia 22 de fevereiro de 1924, em São Vicente. (Poliantéia Vicentina).
- Nascimento, em Cubatão, de Antonio de Lima Machado.
                                               
Seu pai Manuel Antônio Machado e sua mãe chegaram das Ilhas Açores ao Brasil em 1814. Antônio de Lima Machado nasceu em 19 de novembro de 1840. Com a idade de 31 anos e não gozando de boa saúde, vem de Cubatão para São Vicente, já casado em 1871. Dedicado a várias atividades comerciais de compra e venda, com o produto destas atividades instala um bem montado estábulo de gado leiteiro e, devido ao seu aumento, compra terras na Praia de Paranapoan. Não existindo ainda a Ponte Pênsil, o gado era transportado para São Vicente em jangadas. Mandou construir às suas custas uma caixa d'água no Morro dos Barbosas. Foi um dos fundadores da Escola do Povo. Ocupando o cargo de intendente de São Vicente, foi candidato a vereador, pelo Partido Republicano, em 1901. Faleceu em São Vicente em 19 de outubro de 1911.

1843 – Falecimento do Capitão-mor Aguiar (José Gonçalves Aguiar).

1844 – Nascimento de Antonio Emmerich, em 10 de julho de 1844.
                                             
Sua mãe, D. Filipina Emmerich ("Dona Felipa") doou a cachoeira do Voturuá à Prefeitura local. Era carpinteiro e zelava pela Biquinha de Anchieta. Em seu barracão, com saída para a atual Praça 22 de Janeiro, existia pequena oficina de carpintaria, com algumas máquinas e tornos, para uso interno e atendimento dos amigos, da qual tomava conta Camerino "Emerich". No último quartel da vida, preocupava-se, dedicadamente, com a conservação da Biquinha de Anchieta. Trajando modestamente, sempre de brim, com o seu inseparável boné e empunhando sua bengala, dirigia-se diariamente à Fonte, como era então chamada a Biquinha. Muitas vezes confeccionava, a canivete, o batoque de madeira, que colocava no orifício por onde saía o precioso líquido. Zelava dia e noite por aquele recanto, numa demonstração viva do seu acendrado amor ao patrimônio público. (Vultos Vicentinos)
- Theodor Wille funda em Santos a mais influente casa comercial cafeeira do Brasil. Ele era vice-cônsul da Prússia no porto de Santos e tinha como base de negócios as fazendas do também alemão Franz Schmidt , de quem tornou um dos principais credores. Wille foi patrociandor de imúmeras obras de benemerência e de urbanização em Santos e São Vicente. Em 1847 voltou para Hamburgo onde faleceu em 1892.
                                      
                                         Theodor Wille e o Império do Café

Ele fundou a TWI, ganhou dinheiro e voltou para o seu país para erguer uma gigante do mundo dos negócios
Marcelo Santos – A TRIBUNA
De sua sede em Frankfurt e filiais em Dubai e Suíça, a multinacional TWI administra seus negócios de logística e commodities na Europa, Ásia e Oriente Médio. Entre as várias atividades, a empresa alemã é uma das companhias que faturam com a invasão americana no Iraque, fornecendo alimentos para as tropas no país. Mas a TWI, há muito tempo, teve um pé em Santos. Aliás, ela nasceu por aqui.
Em seu site, a TWI informa discretamente que ela surgiu em 1844 na América do Sul como exportadora de alimentos. E só. Na verdade, a multinacional surgiu em Santos há exatos 167 anos.
Por aqui cresceu e deu tanto dinheiro ao fundador Theodor Wille que o mesmo voltou para sua terra de origem, Hamburgo. Lá ele criou seu império no setor de comércio exterior, de alimentos e de imóveis, que resultaram na atual TWI (Theodor Wille Intertrade).
Desde seu começo em Santos, a TWI tem uma história de sucesso. Theodor Wille era um imigrante alemão de apenas 20 anos quando começou a comercializar café em 1938 (N.E.: correto é 1838). Ele percebeu que as fazendas estavam se espalhando pelo Estado (na época a produção se concentrava no interior do Rio e depois Vale do Paraíba) e entrou para a história do grão: foi o primeiro a exportar uma saca de café paulista.
Em 1844 fundou sua exportadora de café em Santos, que 100 anos depois construiria na Rua Visconde São Leopoldo, no Centro, o prédio que abrigará a operadora de call center Atento. No alto do imóvel, permanece o nome Armazéns Gerais Theodor Wille – funcionários da obra não souberam informar se ele será apagado.
Mas Theodor, bem sucedido, e que rapidamente se tornou vice-cônsul da Prússia (antigo reino alemão) em São Paulo, ficou com saudade da terra natal e voltou para Hamburgo em 1847. Segundo matérias antigas de A Tribuna e documentos levantados pelo site Novo Milênio, que resgata a história de Santos, ele ficou tão rico que freqüentemente fazia doações para construção de escolas, museus, praças e cursos para trabalhadores de indústrias. Também ajudou a Universidade de Kiel, fundada em 1665 como Academia Christiana Albertina, e patrocinou no Brasil o terreno do campus da USP em Ribeirão Preto.
Profissionais do setor de café não sabem quando a empresa parou de trabalhar no setor em Santos – provavelmente isso ocorreu após a Segunda Guerra. Atualmente, o negócio com as tropas americanas adquiriu tal aproximação que ela apóia a Fundação Adm Snyder, um soldado norte-americano que morreu aos 26 anos em Bayji, no Iraque.
VALORIZADO
A restauração do antigo prédio da Theodor Wille, que será ocupado pela Atento, e a movimentação de até 2 mil funcionários, trouxe uma expectativa de aquecimento na região logo após a Praça dos Andradas com Rua João Pessoa. O m² da área, que antes do investimento era de R$ 2 mil, já é exigido a R$ 3.500 por quem tem imóveis próximos, alguns deles mal conservados.
O prédio, antes da reforma, foi utilizado pela antiga rede de eletrodomésticos Domus e por uma empresa para armazenamento de cargas não-tóxicas. Segundo um empresário vizinho, a reforma é bem-vinda não só pela valorização da área, mas pela eliminação de ratos. "Você não imagina quantos ratos saíram de lá quando começou a reforma".

PARCEIRO E ALGOZ DO REI DO CAFÉ
 

Enquanto Theodor Wille exportava café, outro imigrante alemão, Franz Schmidt, enriquecia plantando o grão no Interior. Ficou tão rico que virou o Rei do Café.
Schmidt conheceu o café aos 8 anos, em 1858, na fazenda do senador Nicolau Vergueiro (o filho José Vergueiro foi vereador em Santos) próxima a Limeira. Aos 23 se casou com Albertine, uma cubatense de origem alemã, e aos 29 se tornou corretor de café da Theodor Wille – em 1879 uma grande companhia com prédios imponentes em Santos, Rio e Hamburgo.
Após a abolição, Schmidt,um escravocrata convicto segundo relatos históricos, tomou posse da Fazenda Monte Alegre (atual campus da USP de Ribeirão Preto) – o dono não pagou a dívida.
O fazendeiro ficou mais poderoso, mas a Theodor Wille ainda dava as cartas. No início do século 20 foi ela quem fez o projeto de financiamento do Convênio de Taubaté, com o qual o governo comprava o excedente de café para equilibrar os preços.
Schmidt morreu em 1924, mas não viu o fim de seu império. Logo veio a quebra da Bolsa de Nova Iorque e a Theodor Wille cruzou com os negócios dos Schmidt. Os herdeiros entregaram terras no interior para pagar dívidas. A Theodor decidiu lotear essas fazendas, vendendo-as em pequenas propriedades. Surgia então a atual Votuporanga.

                               
                              Casa Comissária Theodore Ville no centro de Santos. Novo Milênio.

A ECONOMIA DO CAFÉ
 
Na metade final do século XIX, a monocultura cafeeira começou a mudar o panorama econômico brasileiro, surgindo uma nova classe política, a dos barões do café. Porém, parte importante desse crescimento dependeu de financiamentos, pois havia que esperar até seis anos para que o pé de café começasse a produzir, e era necessário capital para todos os investimentos iniciais, bem como para ampliações e para resistir à flutuação dos preços internacionais. Esse dinheiro estava geralmente nas mãos das casas comissárias, que de meras intermediárias entre produtores e importadores, ganharam grande força econômica com as operações de comércio, tanto no financiamento aos fazendeiros como na compra antecipada de safras, e principalmente na cuidadosamente balanceada mistura dos grãos de café de diferentes fazendas, formando os chamados cafés blended de qualidade padronizada, que obtinham melhores cotações no mercado mundial. Tais firmas se concentravam principalmente em Santos, para onde convergiam os cafés transportados pelas ferrovias, onde se situavam os armazéns que estocavam o produto, bem como ficavam os especialistas em degustação/classificação dos cafés, e de onde o produto partiria por mar com destino aos importadores europeus e norte-americanos.
Reminiscência de um velho comércio
 
Francisco de Marchi - A Tribuna em 5 de maio de 1985:



Recuando no tempo, trinta ou quarenta anos, e dentro do tranqüilo ambiente de uma casa comissária de café, levantaremos lembranças de alegres contornos. De saída, a atmosfera em que pontificava um alquimista perseguindo o ouro - o classificador de café - sempre debruçado sobre fileiras de xícaras com algum café torrado e moído, sem açúcar, cobertas depois por água ebuliente, mistura que ele sorvia em pequenos goles, sem degluti-la e de forma ruidosa.
Era o duro trabalho de pesquisa e análise na composição de "pilhas", não raro de 2.000 sacas, na liga de cafés de conta própria e de conta alheia e que, graças à sua competência, se traduziria pela melhoria do grande lote, no aspecto e na bebida, reputando os preços de venda, a favor do comissário, a favor dos comitentes...
Na vida doméstica das empresas de pequeno porte, ocorriam de quando em quando episódios engraçados. O do comitente que, havendo vendido a partida de café que consignara por bom preço, vai ao cassino para aumentar os ganhos e perde tudo no pano verde. De manhã, ao chegarmos ao escritório, lá estava ele sentado na soleira da porta de entrada, arrasado, visando à obtenção de "algum dinheiro" para o retorno ao Interior, de trem.
Ou do outro cliente indignado com nossas prestações de conta: "Não me queixo dos preços; detesto, porém, que xinguem meus cafés, tachando-os de baixos em tipo, de descorados ou mofados e outros insultos". Nas seguintes contas de venda que lhe remetemos, com preços bem menores - o mercado entrara em baixa -, "adoçamos" a descrição dos cafés vendidos. Pela volta do Correio, o comitente bateu palmas: "Recebi as contas de venda e estou satisfeito. Remeterei mais café".
Um terceiro comitente tinha o vezo, ridículo para nós, de sempre declarar nos conhecimentos um valor incompatível com o mau café que embarcava. Aconteceu que houve um incêndio na Sorocabana e o vagão que trazia os cafés daquele cavalheiro ardeu por inteiro. O sujeito não concordou com a reposição em espécie proposta pela Estrada: ajuizou contra ela uma ação, tendo por piso o valor declarado nos conhecimentos, e ganhou-a. Depois nos dizia, com ar malicioso: "Devemos sempre reputar o que é nosso. É do jogo!". Infelizmente, para ele, nunca mais conseguiu perder mercadorias em incêndios!
E havia os golpistas. Um deles, "recomendado por antigo cliente", quis nos vender cinco conhecimentos de café fino, de 100 sacas cada. Bem, analisando os documentos, percebemos que o frete neles lançado pela Estrada correspondia apenas a uma saca! O meliante adulterara os conhecimentos, acrescentando à mercadoria embarcada (uma saca) mais dois zeros! Foi-lhe preparado um efetuoso flagrante e acabou por dialogar na polícia...
Assisti na firma que trabalhava a uma cena inesquecível. Um pequeno fazendeiro, que tinha sua conta em descoberto, veio pedir ao nosso superintendente, Ataliba de Almeida Moura, paulista quatrocentão, financiamento de café por preço superior aos vigorantes em sua zona!
- Então - indagou Ataliba, surpreso - você quer que lhe adiante o custo do café e ainda um hipotético lucro? Que garantia dará?
O solicitante vacilou. E apenas estendeu as duas mãos abertas, maltratadas, repletas de cicatrizes, tomadas por monstruosos calos:
- Estas mãos, "seu" Moura!
Ataliba ficou de pensar. No começo da nova safra, percorrendo o interior, resolveu passar na fazendinha daquele que lhe solicitara tão esdrúxula ajuda. Encontrou-o, bem como seus quatro filhos, numa atividade brutal, sob sol abrasador. O primeiro filho no terreiro, o outro na plantação ressequida, o terceiro na capinação e o quarto puxando por uma carroça de burros. Diante do quadro, dos que nada possuindo lutam desesperadamente contra os maus fados, Ataliba comoveu-se e concedeu o empréstimo pedido. E nunca veio a se arrepender de seu gesto.
Numa firma da Rua do Comércio, e próxima à nossa empresa, trabalhava o velho e dinâmico Álvaro Moura, um dos que mais lutaram pela arregimentação de sua classe, no respectivo sindicato. Primava pelo tratamento de sua escrituração contábil, com nomenclatura precisa, codificada e em escala decimal. Nélson Ribeiro, contador que no Banco do Brasil analisava os balanços recebidos, contou-me que o sisudo estabelecimento, por quem de direito, chegou a elogiar a clareza e estrutura das peças contábeis de Moura.
Na ocasião, o nosso entusiasta sindicalista amargava a visita de um fiscal do Imposto de Renda, que pusera em xeque o valor dos estoques de café lançados no balanço da firma. Moura sublinhava as alternativas que lhe cabiam na determinação daquele valor, exibindo documentação do custo da mercadoria e seus gravames e as cotações do dia, na Bolsa Oficial. Até que, perdendo as estribeiras, encheu a mesa com as amostras dos cafés armazenados - cabeças e "rabos" de lote - e explodiu:
- O senhor tem aí o torrador, a mesa de provas e as amostras. Vai torrar e beber esses cafés para depois discutir se os valores a eles atribuídos no balanço estavam corretos!
O fiscal, já mais compreensivo, passou a tratar de outros itens da fiscalização.
Conversando recentemente com Nagib Salim Haddad, uma das figuras tradicionais do mercado cafeeiro, relembramos a época em que foi promulgada, no governo de Ademar de Barros, a lei que regulamentava as operações de consignação de café. Na expedição de uma conta de venda passava a aparecer novo imposto, o de consignações. Bitributação, no duro. O novo ônus iria acabar com as remessas de café em consignação. A Praça gritou, Haddad foi ao judiciário e, por fim, foi derrubado o malsinado tributo. Infelizmente, começavam a soprar outros ventos: a abertura de agências bancárias, espalhadas pelo Interior, para financiamento direto aos produtores; selava-se a morte das consignações de café!
Mas o café tinha mesmo as costas largas. Ao tempo da chamada Lei do Selo - lei já extinta e que não deixou saudades - a fiscalização arremetia insistentemente contra os comissários de café para farejar-lhes a papelada: correspondência, compromissos de remessa de café, telegramas. Geralmente o valor dos compromissos estava coberto por adiantamentos feitos contra saques de letras de câmbio. Mas o Fisco, numa simples carta de sondagem de negócios, numa informação de preços por telegrama, já rosnava tratar-se de operação conclusa, ou de direitos transferidos, tributáveis... Era um inferno!
Tempo em que as ligações telefônicas para o Interior eram difíceis, demorando às vezes 24 horas ou mais; em que os telegramas, para não se tornarem caros, eram passados em código (o ABC era uma das codificações mais usadas). E não havia TV, nem satélites orbitando no espaço para precisar, com antecedência, as deslocações das frentes frias ou chuvas diluvianas, prejudiciais aos cafezais e às colheitas, e que hoje previnem negócios precipitados!
Cafés coloridos
Em 1907, importante firma importadora de café dos EUA dirigiu-se por carta a respeitável casa de nossa Praça, denunciando o aparecimento de cafés brunidos ou artificialmente coloridos. Recomendava, ao mesmo tempo, a não remessa de produto em tais condições, visto que não podia entrar na Bolsa de Nova Iorque, por ser considerado não negociável.
Como é cediço, há lei em tal sentido, votada pelo Legislativo do Estado, que em seu art. 7º preceitua: "Para os efeitos desta Lei será considerado adulterado o artigo quando, no caso do alimento, for misturado, colorido, manchado etc., de modo a tornar imperceptível sua inferioridade ou seus defeitos".
Anos depois, em 1921, segundo denunciou o Jornal de Liverpool em notícia difundida no Rio de Janeiro e em São Paulo, organizou-se na antiga Capital da República verdadeira indústria para explorar a exportação para a África do Sul de cafés pintados. O produto, apurou-se, era pintado com plombagina, oca e outras substâncias, provavelmente não nocivas à saúde, mas que positivamente tornavam de mau gosto e prejudicavam a qualidade.
O mercado da África do Sul dava preferência aos cafés pintados, e essa circunstância isentaria de responsabilidades os exportadores cariocas, pois em comércio é regra elementar ir-se ao encontro do consumidor.
Os cafés coloridos, no entanto, também eram embarcados do Rio para outros portos nacionais...
Segundo lemos no Relatório da Diretoria da ACS, presidida pelo Dr. Belmiro Ribeiro de Morais e Silva (N.E.: período 1921-1922), "respeitável firma exportadora de nossa Praça já tentou fazer exportação regular de café para a África do Sul, onde ainda conserva um agente; mas não conseguiu ver coroados seus esforços porque as ordens que recebia eram sempre para cafés pintados, o que não foi possível atender, porque em boa hora o Congresso do nosso Estado votou uma lei proibindo a adulteração dos cafés exportados por Santos ou qualquer outro ponto do Estado".



Há quase um século Theodor Wille embarcava diretamente para a Europa a primeira saca de café paulista!
Em janeiro de 1892, faleceu em 1892 em Hamburgo (Alemanha) o adiantado comerciante Theodor Wille, chefe da importante firma Wille, Schmillinski e Cia., da praça do Rio de Janeiro, e da Theodor Wille e Cia., de Santos e da Capital, sendo que a mesma firma era estabelecida com loja de fazendas e armarinhos por atacado, no prédio situado no largo do Ouvidor, esquina da Rua José Bonifácio nº 2.
O mesmo comerciante Theodor Wille residiu no Brasil por muitos anos, sempre cercado da estima e da consideração gerais, graças às suas belas qualidades de espírito e de coração. Amigo que era, e dos mais sinceros, do Brasil e dos brasileiros, Theodor Wille jamais deixou de socorrer os deserdados e desprotegidos, sendo essa sua norma de ação, reveladora de um coração nobilíssimo, seguida pelos seus sucessores, constituindo uma das mais belas e gloriosas tradições dos chefes da firma Theodor Wille nos dias atuais.
Em 1844, Theodor Wille fundou em Santos a sua importante e acreditada casa comercial, que leva a glória imorredoura de exportar para a Europa a primeira saca de café da então Província de São Paulo, que veio hoje a ser o empório desta cultura.
Por carta patente do Governo Imperial de 5 de dezembro de 1844, foi Theodor Wille confirmado no cargo de vice-cônsul da Prússia no porto de Santos, havendo o marechal Manoel da Fonseca Lima e Silva, então presidente da Província, cumprido a referida carta-patente, expedindo, em data de 12 de junho de 1845, as competentes participações às respectivas autoridades para que o reconhecessem como tal e o deixassem servir no mesmo cargo na forma ordenada pelo referido Governo Imperial.

OS FOCLÓRICOS CORRETORES DE CAFÉ

Francisco de Marchi

                            
Nos dias presentes, de agressiva competição, não são muitas as criaturas propensas ao riso aberto e à galhofa. E dentro de uma mesma atividade profissional constituem elas, via de regra, percentagem pouco significativa.
Todavia, numa rua de Santos, de traçado um pouco irregular, que no passado era servida por linha de bondes (de burros), espremida entre velhos edifícios cujas fachadas de tanto assistirem à corrida do tempo ostentam ar de sonolência, e onde se agitam profissionais de certa forma folclóricas, sempre se riu à larga, e o otimismo tem tido disparada prevalência sobre a inquietação e o desânimo. Uma fonte de sublimação num panorama de trabalho, uma classe compactamente unida pelos interesses profissionais e ausência de maiores preconceitos.
Contudo, numa confrontação entre a presente e passadas épocas, é nossa opinião que a alegria, hóspede habitual da Rua XV de Novembro, foi mais espontânea e refinada no passado. Talvez porque os problemas domésticos, inerentes ao exercício de qualquer atividade, não fossem, como agora, agravados por outros problemas paralelos, de ordem geral, abusivos, que têm infelicitado o País. E é nessa minúscula fatia do centro da Cidade que vamos desfilar recordações de alguns corretores de café, cujos nomes, apesar de afastados de nosso convívio por motivos diversos - falecimento ou aposentadoria - enriqueceram a memória da Rua XV.
Gostaríamos, se tempo e espaço nos sobejassem, de falar dos velhos profissionais que naquela época - e já são corridos decênios - se revelavam perpétuos adolescentes, fidalgos no trato, cultores da alegria desatada e pura, tolerantes com as piadas venenosas e de endereço certo e ligados aos colegas mais novos por um espírito de solidariedade comovente.
Desconfiamos que no café cru se escondem, insuspeitos, poderes mágicos que favorecem o devaneio e a libertação de nosso EU. À força de aspirar-lhe o aroma, para bem classificá-lo - cafés moles? Zona da Mata? - o corretor experimentaria uma sublimação mental... Será o café um haxixe de novo tipo, um inebriante que não entorpece, estimulador de nossas forças físicas e de nossa mente?
Sob o prisma afetivo, iremos de início reportar-nos a antigos corretores, através de seus apelidos: Nenê Camisola (Ângelo Guerra), dono das corretagens nos negócios de entregas diretas, operações que hoje se encontram em ponto morto; Nenê-sem-jeito, concunhado de Ângelo Guerra. E os Santarrita? Esse apelido fora dado a Carlos Vieira da Cunha, que já mexia com café em 1902, pelo fato de ter ele trabalhado, anteriormente, com produtos da Santa Rita, empresa que comerciava com a água mineral do mesmo nome. A alcunha passou de pai para filho e hoje iremos encontrar no Edifício Rubiácea, na Rua do Comércio, o tradicional Escritório Santarrita, sempre dedicado a corretagens.
Pombinha do Telhado, alcunha dada a um corretor de físico delicado, magrela, com a cabeleira realçada por um topete e que tinha tiques engraçados: sacudia a cabeça em curtos balanceios, como o fazem as pombas nos beirais dos telhados, quando cortejam as companheiras.
E vão passando novos apelidos: Chico-Boca-de-Bagre, Braço de Macaco, alusão aos longos braços do apelidado; Marreco e Marrequinho, este último conhecidíssimo no Paraná, onde abriram escritórios. E o nosso querido Tamanco, aposentado, que ainda comparece na Rua XV, doente pelo Santos Futebol Clube? Tamanco foi galar-... (N.E.: linha empastelada na composição original do texto) sucedâneos das sandálias, noutros tempos de larguíssimo uso e que exibia na loja, como brasão, um enorme tamanco. Somente para falar nos corretores da velha guarda!
Uma coisa era infalível: jogado um apelido, este se colava ao alcunhado como grude; nunca mais o sujeito se livraria dele! Como um simples traço reflete caricaturalmente os tiques, defeitos ou personalidade da vítima, esta aceitava, conformada, a nova referência, porque ela caía como uma luva, e o batismo se procedia num ambiente em que predominava a amizade. Daí por diante, o apelido substituiria, na praça cafeeira, o nome real do corretor.
Há pessoas que, vindas de outros centros, distantes, e isto é uma religião, procuram em Santos o corretor recomendado citando-lhe apenas o apelido; se referirem apenas ao nome constante na certidão de nascimento do indivíduo buscado, talvez não cheguem até ele... A importância de um apelido! O atual presidente da República não registrou em cartório o próprio apelido, legalizando-o?
Não esqueçamos a dureza do trabalho do corretor, nas ocasiões em que o mercado se tornava febril, na busca de conclusão de negócios, portando um canudo duplo (12 ou 13 latas de amostra de café em grão, enrodilhadas por uma folha de papel oleada ou cartolina), amparada em seu braço esquerdo, e, às vezes, mais um canudo suplementar, jungido ao outro braço.
Até aí, nenhuma novidade, porque hoje os canudos continuam a ser transportados da mesma forma. Mas, antigamente, o corretor, esbaforido, banhado em suor e com as pernas bambas, era obrigado a galgar longas escadas, algumas em caracol, porque havia poucos prédios servidos por elevadores. E faça-se a distinção entre os canudos acima descritos e os outros também assim chamados, porém, constantes apenas de latas de amostras de café em grão oficialmente classificadas e certificadas, destinadas a comprovar o tipo e qualidade dos lotes negociados nas entregas diretas, ou no termo (Bolsa Oficial de Café).
As alternâncias de bons e maus tempos nos negócios não se refletiam no comportamento social dos corretores. Sempre ocorreram na Rua XV manifestações coletivas ruidosas, até mesmo peladas, jogos de futebol reunindo corretores de todas as idades, improvisados em craques de futebol; minicarnavais, batalhas de confete; fanfarras apareciam para comemorar conquistas da classe, ou vitórias de porte do Santos Futebol Clube. Clube que os corretores muitas vezes supriram de recursos, correndo listas na Praça para conseguir donativos em dinheiro ou em espécie (sacas de café). Corretores que deram vida ao Clube de Pesca, instalado em lugar paradisíaco, freqüentado por sócios e familiares e que reservava as sextas-feiras para os encontros "somente para homens", libertando-os (ainda hoje) para as estripulias mais diversas...
Nos últimos anos, a alegria fervilhante da Rua XV adquiriu novas tonalidades. Alegria preocupante para terceiros. Recorda-se o autor desta crônica de ter escapado, por um triz, de um banho monumental, à conta de água fria, quando lhe atiraram do alto do Edifício Sulacap o conteúdo de uma lata de 20 litros. Várias pessoas ganharam, à custa desse ritual e publicamente, inesperada higiene corporal...
Outra modalidade: engraçadinhos montavam uma bomba não detonante; enchiam um saco com latas vazias e o atavam a uma corda, de comprimento calculado, de maneira que, atirado de um dos prédios o artefato se detivesse no ar, a uns dois ou três metros do solo. Quem passasse pela área de guerra e fosse eleito para a experiência, não sofreria danos corporais; experimentaria, entretanto, um pânico atroz, tal a barulheira provocada, ficando com a impressão de que o céu e todas as estrelas estavam desabando sobre sua cabeça!
Rua XV, pedaço de chão rico em tradições, quartel-general dos corretores, que registrou períodos áureos e críticos, mas que jamais exibiu clima de velório público! A alegria desinibida fez dessa rua sua morada predileta. E pelas evidências oferecidas, em todas as épocas, dela não pretende afastar-se tão cedo!

PORTO DO CAFÉ E DAS INDÚSTRIAS. Corretores na esquina da Bolsa do Café, o coração financeiro do Porto Federal e Regional de Santos. Registro-fotos de José Dias Herrera em 1949.

CRONOLOGIA DO CAFÉ

 
1820: A partir dessa década, o Brasil passou a ser considerado exportador de café com exportações contínuas do produto, provenientes do Vale do Paraíba-SP, Araxá-MG e Goiás.
1845: O Brasil produz 45% do café mundial.
1857: Elevação dos preços internacionais devido à recuperação da economia europeia e redução da oferta de café brasileiro, devido ao ataque do inseto "bicho mineiro" nas lavouras e pela limitação de mão-de-obra escrava (lei Eusébio de Queiroz). Os preços tiveram uma elevação de 50%, o que causou grande expansão da produção nos anos seguintes.
1865: Os preços caíram devido à diminuição das exportações para os Estados Unidos, que enfrentavam a Guerra de Secessão.
1906: O mercado sofre a primeira grande intervenção do governo motivada pelos preços baixos que mal cobriam os custos da colheita. O estoque já era grande em 1902 e a expectativa de grande colheita para 1906, com cerca de 17 milhões de sacas, quando o consumo mundial era de apenas 20 milhões, provocaram baixa nos preços. A intervenção ocorreu no dia 26 de fevereiro de 1906, quando os governantes de São Paulo e Minas Gerais assinaram o "Convênio de Taubaté". Fixou-se um preço mínimo do café e o plantio de novas lavouras foi proibido.
1918: Grande geada reduziu a produção brasileira causando elevação de preços. 
1932: Queima de estoques devido à superprodução. Os estoques chegaram a 33,5 milhões de sacas e até 1944 foram incineradas mais de 78 milhões de sacas. Proibição de novos plantios de café.
1939 a 1945: A segunda guerra mundial causou queda nos preços internacionais do produto.
1945/54: Melhoria dos preços após a guerra incentivou novos plantios.

Funcionários da Theodor Wille em Santos
 
1955: Superprodução de 22 milhões de sacas.
1962/67: Erradicação de 2 bilhões de pés de café. Em 1964, a retenção de estoques chegou a 48 milhões de sacas, como tentativa de elevação dos preços que estavam muito baixos.
1969: Geada no Paraná destruiu cerca de 80% da safra seguinte causando elevação dos preços.
1970: O Governo Federal lança o plano de renovação dos cafezais. Oferece financiamento farto, estimulando principalmente os Estados do centro-sul (regiões Sul de Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba), a aumentarem o parque cafeeiro.
1977: Preços altos devido à geada em 1975, que dizimou a cafeicultura no sul do País, com maiores efeitos no Paraná. Ocorrência da doença "ferrugem alaranjada do cafeeiro", que foi se agravando desde a sua introdução no Brasil em 1970. Nessa época os preços do café tiveram seus valores mais altos da história, cerca de 400 dólares por saca.
1986: Longo período de seca e esgotamento dos cafeeiros no centro-sul do país provoca forte elevação dos preços. Com esse aumento do preço, as cláusulas do Acordo Internacional do Café deixaram de funcionar. Começa a operar o mercado livre no exterior, resultando em queda do preço, após curto período de elevação.
1987: Renovação do Acordo Internacional do Café e, apesar dos preços em baixa, houve tendência de estabilização (120 a 140 cents de dólar por libra peso).
1989: Término do Acordo Internacional do café.
1991/93: Fase de preços muito baixos, chegando a menos de 40 dólares em determinados períodos. Houve grande erradicação de lavouras no centro-sul do Brasil e o abandono das lavouras por grande parte daqueles que permaneceram na atividade.
1994: Ocorrência de duas fortes geadas que atingiram grandes áreas produtoras no Brasil. Praticamente todo o Estado do Paraná, boa parte do Estado de São Paulo e áreas consideráveis do Sul de Minas Gerais tiveram suas lavouras seriamente atingidas. Um longo período de seca após as geadas atrasa ainda mais a recuperação das lavouras. Os preços sofreram altas históricas, chegando a ultrapassar 200 dólares/saca.
1995: Grande redução da produção brasileira (cerca de 12 milhões de sacas), resultado das geadas em 1994. O preço cai um pouco, estabilizando entre 150 e 180 dólares/saca em razão dos compradores internacionais operarem com estoques mínimos.
1996: O Governo Federal cria o Conselho Deliberativo de Política Cafeeira (CDPC), constituído por doze membros, dos quais seis representam o governo e seis o setor privado: CNC (02), CNA (01), FEBEC (01), ABIC (01) e ABICS (01).
2001: O preço do café atinge menos de $35/saca, um dos preços mais baixos da historia.
2011: O preço do café mais do que dobra entre 2010 e 2011, alcançando $350/saca em março de 2011, um recorde de mais de 30 anos. Esse aumento se deve principalmente à forte redução do estoque dos países consumidores e problemas na safra de alguns dos principais países produtores como a Colômbia. O fato de 2011 ser o ano de baixa da safra brasileira, devido à bianualidade da produção, ajuda na alta dos preços.
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1845- Nascimento de José Ignácio da Glória.

                                               

Nasceu em 29 de outubro de 1845, filho do boticário do mesmo nome; faleceu com 82 anos, em 19 de agosto de 1927. Casou-se na cidade de Santos com d. Ana Lourenço, casou-se em segundas núpcias com d. Josefina Lopes dos Santos, e por terceira vez, com d. Celestina Ribeiro de Melo. José Ignácio da Glória fundou a primeira "Botica de seu Glória". A Câmara Municipal da Vila de São Vicente, em 1883, nomeou-o para o cargo de vacinador. Durante o surto de febre amarela que invadiu São Vicente em 1892, teve José Ignácio da Glória destacada atuação no combate a doenças; a Santa Casa de Santos também exigiu a sua presença, no combate à febre amarela. Em 1918, durante o surto de "gripe espanhola",destaca-se novamente. Foi nomeado intendente de São Vicente. Exerceu as funções de juiz de casamentos. Como jornalista, foi diretor de A Imprensa, fundado por seu pai em 1870, em Santos, onde em 1875 fundara também o Rabecão. Em 1890, José Ignácio funda em São Vicente o bissemanário O Futuro, impresso em tipografia própria. Além de O Leque, fundou O Vicentino em 1898. Foi também abolicionista.Ocupou o cargo de agente do Correio em São Vicente, em 1885. Já era eleitor nesta cidade, em 1876. Foi juiz federal antes da criação das coletorias federais. Secretário e procurador da vereança municipal, sem remuneração. Ocupou o cargo de coletor federal vários anos. O imperador d. Pedro II foi recepcionado em São Vicente, na residência de José Ignácio da Glória. O Governo nomeou-o Protetor dos Índios. Trabalhou com o dr. Oswaldo Cruz no saneamento do Rio de Janeiro. Doou a sua parte do Morro dos Barbosas à Prefeitura. (Poliantéia Vicentina 1532-1982). 
1846- Os Imperadores Pedro II e Teresa Cristina, juntamente com sua comitiva, visitam Santos e São Vicente, aqui sendo recebidos festivamente pela população. Entre outros compromissos formais e de lazer, Pedro e Teresa Cristina assitiram a uma missa na Igreja Matriz. 
1848- Abertura do inventário de José Francisco Valença, cuja parte da herança deu origem ao bairro vicentino.

1849- Nasce, em São Vicente, José Cezário Bastos.

                                     
JOSÉ CEZÁRIO BASTOS nasceu no Porto do Rei, bairro de Praia Grande em 1849. 
Primeira Escola Pública de Santos. Criado por Decreto Estadual em 28 de abril de 1900 e instalado no dia 13 de outubro do mesmo ano, o Grupo Escolar Cesário Bastos (batizado em homenagem a um importante senador, natural de São Vicente) foi instalado originalmente em uma casa cedida pelo benemérito santista Júlio Conceição, na rua Braz Cubas, esquina com rua Sete de Setembro e Senador Feijó. Em 25 de agosto de 1907 foi autorizada a construção da nova edificação, num amplo terreno na Vila Mathias, ao lado da estação dos bondes. As obras foram concluídas em 1º de janeiro de 1914, porém só em 24 de abril de 1916 é que as aulas começaram a funcionar no novo prédio. Com o crescimento da cidade, o Cesário Bastos se tornou a maior escola da região e uma das maiores do Estado de São Paulo. Em 1947, o colégio implantou um programa de ensino cívico, criando a figura da Prefeitura Escolar, tendo inclusive eleição para o cargo de prefeito. – Jornal Perspectiva- 2016

1850 - Lei Eusébio de Queirós proíbe o tráfico negreiro no Brasil. 
- Publicação da Lei de Terras. Migra para o Pontal do Paranapanema o mineiro José Teodoro de Souza, pioneiro da colonização do oeste paulista. A região é povoada por índios coroados, cayuas e otis (chamados de xavantes).

- Nasce na Alemanha Franz Schmidt, o futuro Rei do Café Paulista. Filho de imigrantes alemães fixados na fazenda Ibicaba, do senador Vergueiro, Schmidt tornaria-se sócio do também alemão Theodor Wille, considerado o exportador da primeira saca de café do Brasil para a Europa pelo porto de Santos. 
1852. Nasce Juca Morgado", "seu Morgado", (José Joaquim de Azevedo) em Portugal, no Villar dos Frades, Província do Minho, filho de José e Agostinha de Azevedo. Com 14 anos, veio sozinho, no barco à vela Santa Madalena, para o Brasil, viajando três meses, nunca mais voltando à terra natal. 

JUCA MORGADO, O INDUSTRIAL 
Por ser empreiteiro e construtor naval, construiu em seu Sítio Sambaiatuba (hoje Catiapoã) uma grande oficina de carpintaria, com parte mecânica, ferraria e encanamento. Possuía alambique para fábrica de caninha, engenho de fubá e beneficiamento de arroz; fabricava cal de ostras; fornecia areia lavada (matéria-prima no fabrico do vidro), para a Vidraria Santa Marina, em São Paulo. 

Fabricava caixas para sabonetes e sabão. As áreas onde estão hoje o Santos Golf Clube, Indústrias Reunidas Vidrobrás Ltda. e estação da E.F. Sorocabana, pertenceram a José Joaquim de Azevedo. Possuía grande granja, vacas leiteiras, árvores frutíferas, bananal, animais para carros e boa quantidade de suínos. 
Explorou o serviço de transporte de passageiros, com tróleis puxados a cavalos, e lanchas, da "Casa das Bananadas" até o porto do Campo (antes da inauguração da Ponte Pênsil). Os bois e vacas eram puxados, dentro d'água, por lanchas do "seu Morgado" (mesmo trajeto), pois não havia embarcações próprias para o transporte de animais. 

José Joaquim de Azevedo, em 1910, em companhia de seu cunhado Heraldo Lapetina 

Quando moço, José Joaquim de Azevedo foi também músico amador. Tocava pistão na antiqüíssima banda regida por Indalécio Constâncio Ferreira, em 1882. Era seu incentivador o maestro Aurélio Prado. Construiu a primeira olaria, em 1886, no antigo Paquetá, assinalado por uma pedra junto ao Mar Pequeno, onde havia fincada uma barra de ferro. A segunda olaria construiu-a na Rua dos Velhacos, depois Rua Conselheiro Nébias (hoje Rua do Colégio), ao lado da residência de Xavier dos Passos, mais conhecido por "Chico Botafogo", tendo como seu principal auxiliar Júlio Barroso, pai do saudoso ex-vereador Raul Serapião Barroso. Para os festejos carnavalescos de 1900, construiu todos os carros alegóricos, destacando-se a Galera de Pedro Álvares Cabral, puxada a cavalos, sob desenho de B. Calixto. Era o almirante José Inácio da Glória Jr. (Nhonhô). O Dragão trazia na boca uma moça: Zilda Emmerich. Outros carros foram construídos, até o Carnaval de 1910. Entre outros auxiliares na construção lembramos Carlos Porto, vulgo Carlos Garnizé e Vitório Brizzi. O Pavão era o carro-capitânia dos Galopins Carnavalescos, em 1910. 
Arruador municipal - Como arruador da Intendência Municipal, possuía larga visão e conhecimento dos serviços rurais. Atendia os requerimentos para construção de casas (os terrenos eram doados pela Intendência e caso o interessado não construísse dentro de um ano, perderia o direito à doação). 
Construiu a Lavanderia Pública, no Largo de Santa Cruz (hoje Praça Bernardino de Campos); foi um dos empreiteiros para o assentamento da linha de bondes puxados a burros, do Porto Tumiaru até ao José Menino; ajudou a construir o Monumento ao IV Centenário da Descoberta do Brasil (praça da Biquinha) em 1898, 1899 e 1900 (desenho de Benedito Calixto); fez parte da equipe que construiu a "Escola do Povo"; instalou água encanada em várias casas; quando auxiliar do engenheiro dr. Alexandre Martins, abriu a rua em Santos que recebeu esse nome; foi eleitor e jurado; integrava o partido político chefiado pelos irmãos Moura, pois naturalizara-se brasileiro. 
Além da canoa de rodas, e muitas lanchas, construiu ainda canoas com motor de motocicleta; e uma de corrida, impulsionada por hélice de aeroplano. O dr. Pérsio de Souza Queiroz mandou buscar na Alemanha um automóvel; entretanto, por não se habituar a lidar com o mesmo, vendeu-o a José Joaquim de Azevedo e seu cunhado Heraldo Lapetina, isso já pelos idos de 1910-1911. O veículo despertou a curiosidade da pacata população afonsina, pois era um dos primeiros veículos dessa natureza que apareceram em São Vicente. (Vultos vicentinos) 

TOPOGRAPHIA DA VILLA 1852 

ORGANIZADA POR BENEDITO CALIXTO EM 1922. Baia de São Vicente as modificações que nella se tem operado desde a época da fundação da primitiva villa. BAÍA DE SÃO VICENTE: Margem do Canal em 1532; Margem da Barra do Norte em 1624. 
I. Morros de Paranapuam, Prainha, Caminho e Praia de Paranapuam; Fortalezinha; Ruínas do Porto das Naus e Engenho de Jerônimo Leitão; Local da antiga Igreja de Nossa Senhora; Prainha.

           

II. Morro do Barbosas: Caminho do Porto; Porto Tumiaru; Chácara; Caminho dos Barreiros; Morrinho; Rio Sapateiro; Biquinha; Praia de São Vicente; Local onde existia a primitiva vila destruída pela maré em 1542.
III. Vila: Igreja Matriz e adro(1); Casa da Câmara e Cadeia(2); Pelourinho(3); Casa de Dona Mafalda(4); Casa do Capitão-Mor Aguiar (5); Casa de João Marcelino(6); Casa de Dona Sebastiana (7); Local Antiga Igreja de Santo Antonio (8); Local do Primitivo Collégio dos Jesuítas; Bica dos Padres (10); Casa do Martim Afonso(11). Caminho que passava pela Capela de São Jorge dos Erasmos fraldeando os morros do Sabooó até Chácara da Philosofia.
IV. Antigo Caminho para Santos. Este caminho passava pelo Voturuá; pelo Engenho de São Jorge dos Erasmos, subia pelo morro do mesmo nome descendo perto do Mosteiro de São Bento.
V. Praia do Itararé; Antiga Ilha do Sol, depois Ilha do Mudo e hoje Ilha Porchat; Morro do Itararé; Rio Itararé e Pedra dos Ladrões. (foto)

           
Conhecida como Pedra do Ladrão e depois demolida com as obras de urbanização da área, esta rocha dominava em 1915 a Praia do Itararé, como se nota nesta foto. Ao lado da rocha, o bonde da linha 2, que fazia a ligação entre São Vicente e Santos via praias:

1853- Nasce em 14 de outubro, em Itanhaém, Benedito Calixto de Jesus, em Itanhaém. Pintor, desenhista, fotógrafo, professor, historiador, decorador, cartógrafo e astrônomo amador brasileiro e é considerado um dos maiores expoentes da pintura brasileira do início do século XX e o que mais retratou a história das cidades do litoral paulista.
1854 - O Visconde de Mauá inaugura a primeira estrada-de-ferro brasileira, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis. José Theodoro de Souza toma posse de terras entre o rio do Peixe e Paranapanema.
1856 – O mineiro José Theodoro oficializa por registro em cartório as terras de Campos Novos, ocupadas dois anos antes.
1857- O presidente da Província de São Paulo autoriza – conforme nota de “ O Publicador Paulistano” a concessão de recursos para uma reforma das instalações da Câmara Municipal de São Vicente.
1859- Evangelista de Souza, junto com um grupo de pessoas, convence o governo imperial da importância da construção de uma estrada de ferro ligando São Paulo ao Porto de Santos. O trecho de 800 metros de altitude e 8 quilômetros de extensão da serra do Mar era considerado impraticável; por isso, Mauá foi atrás de um dos maiores especialistas no assunto: o engenheiro ferroviário britânico James Brunlees.
1860- Chega a São Vicente , aos 17 anos, o Canoeiro "João do Morro" (João Pereira de Almeida), morador do Morro do Barbosas desde 1860 e figura popular de grande prestígio e admiração, por ajudar pessoas e salvar vidas de banhistas. Tão popular que recepcionou D. Pedro II em uma da suas visitas a São Vicente e também o presidente Washington Luiz, que tinha casa de veraneio no Boa Vista, e sempre subia o morro para prosear com o velho pescador.
1864 - Nascimento de Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker, fundador do Porto Tibiriçá. Os herdeiros de Solano Lopes reivindicam na justiça brasileira de terras matogrossenses em posse da Companhia Mate-Laranjeiras.
1866- Luiz Matheus Maylasky, imigrante húngaro, se instala na região de Sorocaba e torna-se um dos maiores empresários de ferrovias do Brasil
– O capitão Gregório Inocêncio de Freitas, em 5 de outubro, embarca no vapor Piraí, para participar da Guerra do Paraguai, no qual, entre outros, contavam-se 25 soldados de São Vicente.
1867- Início da operação da São Paulo Railway no estuário de Santos, base do transporte integrado das ferrovias com o futuro porto organizado para escoamento da produção cafeeira.
1868 – José Theodoro funda a Vila de São José dos Campos Novos.
1869- Falecimento de Caetano Barbosa, proprietário do Morro dos Barbosas.

JOÃO E O MORRO DOS BARBOSAS 
Ele teve uma única filha, que faleceu muito nova, deixando como herdeira Laurinda (neta de Caetano Barbosa), que viria a se casar com Francisco Xavier dos Passos que, em 1887, doou à Prefeitura uma área no início do morro, a partir da Rua do Colégio, para a construção do reservatório de água ainda existente no local. Até hoje não se tem documento da documentação original da doação, a não ser o que atestam atas da Câmara Municipal sobre as escrituras. 
Aliás, documentos sobre o morro é o que menos existe. Por volta de 1954, o vereador Nicolino Simone Filho, naquela época pertencente ao PTB, apresentou um requerimento solicitando informações sobre as transações realizadas com relação às áreas daquele morro pela Prefeitura, bem como a apresentação de documentos. A solicitação tinha por base a informação de que grande parte do morro pertencia à Prefeitura, mas os padres do Mosteiro de São Bento haviam conseguido permissão para construir uma casa de retiro no local. 
Entre prédios, bares, restaurantes e agências de viagens que ladeiam a Praça 22 de Janeiro, como se desafiassem o tempo, as escadarias de pedra em direção ao Morro dos Barbosas continuam tão usadas como no tempo em que o morro ainda se chamava Morro dos Padres. Naquela época, as escadas não eram de pedra, mas feitas na terra bruta. 
Tal permissão foi concedida inclusive pela Câmara, com a condição de que os padres edificassem, também, uma escola para alunos pobres da cidade. Essa escola nunca foi construída e, em 1954, o mosteiro já havia sido demolido. 
Passados 37 anos, Nicolino Simone Filho, hoje vereador sem partido, ainda não recebeu qualquer informação sobre as transações relacionadas às terras do Morro dos Barbosas e o mistério continua. 
Não são poucos os pesquisadores que acham que o morro deveria ter o nome que homenageasse o pescador João Pereira de Almeida, o "João do Morro", que chegou a São Vicente em 1860. Sua casa ficava no cimo do morro, próximo à Biquinha. Ali o canoeiro viveu com sua família por muitos anos. Cultivou um grande canavial e foi alvo de inúmeras homenagens, inclusive a de acompanhar d. Pedro II pelas ruas vicentinas e receber, em sua casa, Washington Luís. 
Como antigo navegador, "João do Morro" conhecia os segredos do mar, de onde salvou inúmeras pessoas, arriscando a própria vida. Um documento valioso atesta a coragem de "João do Morro" ao salvar várias pessoas com sua canoa, tendo, em 1904, a Câmara insistido junto ao ministro do Interior e da Justiça para que fosse concedida ao pescador a "Medalha de Distinção, fato que não se concretizou. A história de "João do Morro" se confunde com a história do Morro dos Barbosas a partir de 1860. (Noemi Francesca Macedo, São Vicente - 1532-1992). 

1870- Crise de mão-de-obra. Expansão cafeeira em São Paulo e incentivo à imigração. Antonio Conselheiro, filho e pequenos agricultores, abandona o Ceará em busca de melhores condições de vida melhor na Bahia. 
1871- É promulgada Lei do ventre Livre. A jornalista e poetisa Anália Franco funda em São Paulo um orfanato para abrigar crianças escravas expulsas das fazendas e abandonadas nas ruas da cidade. --- 
- Fundação da Companhia Matte-Larangeiras, por Tomaz Larangeiras logo após a Guerra do Paraguai, visando a exploração dos indígenas paraguaios e fazendeiros gaúchos. 
- Realizado inventário de Francisco Antonio da Silva, dos sítios Imboaçu, Buêva, Carau, Samaritá e Guaramá. 
- Antonio Lima Machado instala-se em São Vicente 

  O BECO DO MACHADO E A PRAIA DAS VACAS 

                              

Com 31 anos, Antônio de Lima Machado mudou-se para São Vicente para se refazer de problemas de saúde que o afligiam em Cubatão, onde mantinha uma lavoura. Transcorria o ano de 1871 e o lugar escolhido para viver com a mulher e os filhos foi um espaçoso terreno na esquina das hoje chamadas ruas 15 de Novembro e José Bonifácio. A casa onde viveu foi demolida em meados dos anos 50. Lima Machado, que viria a ser vereador e intendente no Município, aproveitou os fundos do imóvel para a criação de vacas leiteiras. Ficou conhecido, então, por fornecer leite, principalmente para crianças pobres das redondezas e, por conta disso, o lugar passou a ser chamado como o “Beco do Machado”. 
O aumento do gado o impulsionou a comprar porções de terra na Praia de Paranopoan. Eis aí um dos indícios da origem do nome “Praia das Vacas”, para área de São Vicente que hoje integra o Parque Ecológico Xixová-Japuí e é administrado pela Marinha do Brasil. 

“Como ainda não existia a Ponte Pênsil, o gado atravessava em jangadas apropriadas, amiudadas vezes, o canal na altura da ´Pedra do Mato¹` até a Prainha, daí se encaminhando para a pastagem da dita fazenda” 
Quando as fortes correntezas ou a agitação do mar impediam a travessia, as vacas ficavam pastando no Largo 13 de Maio, hoje Praça 22 de Janeiro, na Biquinha. Havia em Paranapoan uma capela, com paredes de pedra bruta e firmadas com cal de ostras. As vigas eram de cerce de urucurana² e fixadas com pregos de airi³, ou brejauva, designação como é mais conhecida essa espécie de palmeira. Os padroeiros era Santo Inácio e Nossa Senhora Conceição e a imagem desta, relata Telles, estaria de posse dos herdeiros do intendente Lima Machado, residentes em São Paulo. 
“Ao serem demolidas suas ruínas, pelo ano de 1912, foram encontrados, incrustrados nas paredes, medalhões, moedas de bronze da época em que foi levantada a capela, escritos alusivos à ereção do pequeno templo, e uma pena de ganso, aparelhada para se poder com ela escrever, como era uso em tempos pretéritos” (Vultos Vicentinos e Turismo Literário) 

1872– Família de plantadores de café são massacrados por índios no Ribeirão São Mateus. 


1873 - Nascimento na Alemanha de Jacob Emmerich, empresário pioneiro do transporte coletivo de bondes entre São Vicente e Santos. 


-Circulou nas principais cidades brasileiras o Almanak da Provincia de São Paulo, com 566 páginas, organizado e publicado por Antonio José Baptista de Luné e Paulo Delfino da Fonseca, com impressão na Typographia Americana, da capital paulista. São Vicente é descrita nas páginas 281 a 283 dessa publicação: 

CHEGAM OS BONDES ELÉTRICOS 

A viagem inaugural começou às 10 horas na Rua São Leopoldo esquina com São Bento em Santos, passou pela Avenida Ana Costa, praia do José Menino, praia do Itararé e terminou no porto Tumiaru (final da Av. Capitão-Mór Aguiar em São Vicente). 

Os bondes elétricos da City of Santos Improvements Co., sucederam os bondes puxados por burros que duraram de 1873 a 1909. A etapa seguinte, em novembro do mesmo ano, foi a implantação de um outro tipo de veículo: os bondes ainda tinham tração animal, mas corriam sobre trilhos de ferro tornando as viagens mais rápidas e confortáveis. A empresa que implantou o sistema era de Jacob Emmerich e Henrique Ablas, que, em 28 de outubro de 1875 fizeram mais uma inovação: uma linha de bitola larga entre Santos e São Vicente. No trecho final da viagem (hoje Av. Antonio Emmerich), os burros eram substituídos por máquinas a vapor.A primeira linha urbana de bondes em São Vicente foi inaugurada em 1902 por João Éboli. Três anos depois, a Câmara autoriza a Cia. Carril Vicentina a explorar uma linha de bondes de tração animal entre o porto Tumiaru e o José Menino. 
Casamentos e enterros - O uso do bonde estava tão disseminado nessa época que havia bondes especiais.Os destinados a festas e casamentos eram enfeitados com cetim branco, flores de laranjeira e eram puxados por parelhas de cavalos normandos. Para os enterros, os carros levavam crepe negro e eram conduzidos por duas ou três parelhas de cavalos também, negros, empenachados e cobertos por xaréus. Haviam ainda bondes destinados ao transporte de cargas, encomendas e o bonde socorro para acidentes. (Boletim do IHGSV). 
1876- Nasce Maria Pacheco Nobre, que mais era chamada Mariquinha Nobre, dedicada e benquista mestra-escola do Boqueirão da Praia Grande. 
Era filha de Anselmo Pacheco Nobre e de Ambrosina de Azevedo Nobre. Veio ao mundo num sítio do canto do Itaipu, em 27 de janeiro, e faleceu aos 49 anos, em 12 de junho de 1925, assistida, nos derradeiros momentos de sua profícua existência, por sua dileta amiga, a sra. Júlia Paranhos, na residência desta, à Rua João Ramalho, esquina da Rua Padre Anchieta, onde atualmente está instalado o Serviço de Profilaxia da Malária. (Vultos Vicentinos) 
- José Lopes do Santos é eleito vereador à Câmara Municipal de São Vicente. 
Torna-se em 1877 presidente da Câmara, enfrentando dificuldades financeiras do municípios e adversários políticos. Nas fileiras do Partido Liberal, era já declarado republicano, cujas atitudes lhe valeram a simpatia de Floriano Peixoto. Este, por ocasião da Revolta de 1893, confiou-lhe o comando do 192º Batalhão da Guarda Nacional de São Vicente, no posto de coronel, prestando relevantes serviços à ordem e segurança da terra vicentina.(Poliantéia Vicentina). 

1879- Chega em São Vicente o imigrante Francisco Lapetina.
                           
                               
RETRATO DE FAMÍLIA. O comerciante Francesco Lapetina e sua filha Maria Helena Lapetina em foto de 1925, na rua Visconde de Tamandaré, 40. Francesco era natural de Tramutola, Potenza, Itália, onde nasceu em 1844. Imigrou para São Vicente em 1879. Segundo o Almanque Santista (1885), era um dos comerciantes mais antigos em atividade, tendo primeiramente uma taverna, secos e molhados e depois uma pedreira. Foi pai de 12 filhos, 10 vicentinos e dois italianos. Sua filha Maria Helena (foto) casou-se com Antônio Pinto Amorim (irmão de Luiz Pinto Amorim, dono do famoso Iate Etelvina, que fazia a travessia para Praia Grande, no Porto do Gaumium), com quem teve sete filhos. O caçula dessa prole de Maria Helena e Antônio foi o famoso médico Dr. João Amorim, que fez brilhante carreira científica e gestora em importantes núcleos da medicina paulistana, incluindo os hospitais Pérola Byington, Matarazzo e Pro-Matre.
Dados e foto: Waldiney La Petina, pesquisador genealogista.

1881- Falecimento de Jacob Emmerich, patriarca da família e fundador da primeira linha de bondes entre Santos e São Vicente, em 1873, juntamente com Henriques Ablas. Era alemão de nascimento e casado com Filipina Kinitel, com que teve 13 filhos, incluindo Antônio Emmerich.
             
                                            


1882 - Nasce vicentino, em 14 de abril o maestro, pianista e compositor de fama nacional, Eduardo Souto, falecendo no Rio de Janeiro em 18 de agosto de 1942.  Dedicou-se a diversos gêneros, como a valsa, o tango e o samba, sendo que a música romântica O Despertar da Montanha, por ele composta, foi gravada com solo de piano, e por vários conjuntos musicais, sendo que o grande violonista Dilermando Reis a gravou com solo de violão acompanhado de orquestra. 


A imagem acima foi recriada por IA, sempre com o objetivo de trazer novos olhares sobre grandes nomes do piano brasileiro de quem temos poucas fotos. A foto abaixo é o Souto real.





1883- José Ignácio da Glória fundador da primeira "Botica de seu Glória", é nomeado vacinador pela Câmara Municipal. 
Durante o surto de febre amarela que invadiu São Vicente em 1892, teve José Ignácio da Glória destacada atuação no combate a doenças; a Santa Casa de Santos também exigiu a sua presença, no combate à febre amarela. Em 1918, durante o surto de gripe espanhola, destaca-se novamente. (Poliantéia Vicentina) 
– Nasce na Alemanha o antropólogo e sertanista Curt Unckel (Nimuendaju). 
1884 – Fundação do Clube Carnavalesco Adristas. Entre seus fundadores constavam: Alberto Martins de Oliveira, Antão e Antero de Moura, Jacob Emmerich, Eduardo Araújo dos Santos, Juca Morgado, coronel Júlio Maurício, Eduardo de Freitas, João de Sousa. 
- Benedito Calixto retorna ao Brasil em 1884, trazendo uma câmera fotográfica, que passa a utilizar para elaborar suas composições. Reside em Santos e posteriormente em São Vicente (na rua Martim Afonso, esquina com a José Bonifácio). Ali produz inúmeras marinhas, em que representa o litoral paulista. 

                      
Casa de Benedito Calixto construída no final do século XIX na rua Martim Afonso, 180-190 (Atual Edifício Benedito Calixto), onde pintor residiu em trabalhou por muitos anos. Foto do jornal A Tribuna. Acervo: IHGSV 
– Construção na rua Frei Gaspar da Casa de Caramurú, atual sede do Executivo Municipal. 

A CASA CARAMURU 

A Casa Caramuru funcionando como Câmara Municipal nos anos 1930. IHGSV. 

Vidros ornamentais belgas, telhas francesas, madeira de Riga e mármore de Carrara.Tamanha beleza pode estar ainda escondida entre armários e ofícios administrativos da Prefeitura de São Vicente e muitas vezes passar despercebida por aqueles que transitam diariamente pelo prédio.Com requintado material, o imóvel foi erguido em 1885 por Julião Leocádio Neiva de Lima, que após a Proclamação da República adotou o nome de Julião Caramuru. Projetado em estilo jônico, o prédio foi construído para lhe servir de moradia. Edison Telles de Azevedo afirma em seu livro “Vultos Vicentinos”, que Julião queria contemplar São Vicente com uma edificação que se destacasse entre quase tudo que havia na ocasião, em termos de construção. A linha arquitetônica do imóvel foi parcialmente modificada em 1944, quando o prefeito Polydoro de Oliveira Bittencourt realizou reforma, construindo uma sacada e colocando mármore na escadaria do hall de entrada. - 
A mudança, acredita-se, foi promovida para transformar a construção residencial em edifício público. O prédio pertenceu a Julião Caramuru até a sua morte, em 1901. Depois, foi vendido por seus herdeiros ao advogado vicentino Mágino Bastos. Nova venda aconteceu quando faleceu o advogado. Em 1919, sua esposa, Dª. Maria Emília Bastos, e seu filho Tude Bastos (um dos fundadores do IHGSV), optaram por passá-lo à municipalidade, por 30 contos de réis. O ato de transferência foi assinado pelo prefeito João Francisco Bensdorp, mas com uma curiosidade: a escritura passada no 3º Tabelionato de Santos, foi registrada em nome do “Município de São Vicente”, e não no da Prefeitura ou da Câmara.Reformado, o edifício da Rua Frei Gaspar (antigo nº 34, hoje 384) passou a ser ocupado pela Câmara e Prefeitura em 1929 (foto abaixo). Depois dessa data, o Poder Executivo foi sempre exercido nesse prédio, ao contrário da Câmara, que em 1953 se mudou para o sobrado da padaria Rio Branco, na esquina das ruas XV de Novembro com 13 de Maio. Em 1959, nova mudança, desta vez para a Rua Martim Afonso, esquina com a Praça Barão do Rio Branco, de onde saiu em 1987 para ocupar o prédio próprio, na Rua Jacob Emmerick, 1195. 

MAIS MUDANÇAS 
Além das mudanças realizadas em 1944, o prédio sofreria outras transformações ao longo dos anos. No final da década de 70, o madeiramento do teto foi tomado por cupins e parte do telhado acabou desabando (no gabinete do então prefeito Koyu Iha). Na década de 80, nas administrações dos prefeitos Antonio Fernando dos Reis e Sebastião Ribeiro da Silva, foram construídas duas alas, desde o prédio principal até a Rua João Ramalho. Hoje, da velha e imponente Casa de Caramuru, só restam lembranças. ( Boletim IHGSV). 

1885 – O topógrafo Nilo Deodati tenta penetrar na região do rio do Peixe e é repelido pelos coroados. 
– Abertura, em São Vicente, da Avenida Antonio Emmerich . 

A AVENIDA ANTONIO EMMERICH 

       
Construção da linha de bondes ligando São Vicente a Santos pela zona noroeste no íncio do século XX . Futuras avenidas N.S. de Fátima e Antônio Emmerich.  Acervo Claudio Esterque. 


É uma das vias públicas mais importantes e das mais antigas de São Vicente. Ela foi aberta como antigo caminho para o “Trem a Vapor” dos Emmerich, que ligava São Vicente ao município de Santos em 1885, construído em grande parte sobre o aterro elevado que atravessava a extensa área de mangue. Posteriormente a Companhia City adquiriu a concessão dessa linha instalando os primeiros Bondes Elétricos, então chamada como “Linha 1”, Via Matadouro (seria a primeira linha de bondes elétricos e por isso recebeu como referência o nº 1 em 1919). 
Nessa área, a primeira grande ocupação foi do Clube Germânia, cuja sede, quadra de esportes compreendia a extensão hoje ocupada pelo Quartel do 2º BC (o Brasil resgatou essa área como indenização de guerra, pelo afundamento de vários navios mercantes brasileiros, pelos alemães, em 1942.) 
Seu primeiro comércio se instalou entre a Praça 1º de Maio e a Praça da Bandeira. 
De um simples caminho aberto, inicialmente, por trechos, a via carroçável só foi aberta, em faixa estreita, com piso de macadame, na década de 1920, acompanhando sempre o trilho do bonde nº 1. 
Na década de 30 foi calçada com paralelepípedos, no trecho inicial até a Vila Melo e, alguns anos depois, em toda a sua extensão, interligando Santos a São Vicente, com uma única pista. 
A segunda via foi aberta nos anos 40, mas interrompida na linha férrea da E.F.S. em razão da diferença de nível, sobre o qual existia um pontilhão de madeira para a passagem de um veículo por vez. Na gestão do prefeito Jonas Rodrigues, 1963, foi construída a ponte de concreto, permitindo o acesso às duas pistas, a partir dessa data, aberta e asfaltada até a divisa Santos. Pela linha 1de bondes, como era chamada, transitava também o bonde “R” (rápido), que saía às 12 horas da Praça dos Andradas e terminava na Estação dos Bondes, junto à Praça Barão do Rio Branco, em São Vicente. Esse bonde não fazia nenhuma parada no percurso e era destinado aos vicentinos que trabalhavam em Santos e vinham almoçar em suas casas. 
Em 1939 instalou-se a sede e campo do Clube Hípico de Santos-São Vicente, recentemente desativada (deu lugar a um hipermercado). 
Na década de 40 surgiu o loteamento da Vila Melo, na década de 50 sucedido pelo Jardim Três Estrelas, pela Vila Cascatinha, Jardim Guaçu, Jardim Paraíso, Vila São Jorge, Vila Valença e Jardim Independência. Hoje é uma das mais valorizadas áreas comerciais da cidade, já dispondo da sua Câmara de Dirigentes Lojistas. Conta com alguns bancos, com uma agência de atendimento da Cia. de energia elétrica, uma agência da Sabesp, um posto médico do INSS, dois supermercados, duas emissoras de TV e grande comércio de veículos. No morrote do 2ª Batalhão de Caçadores (Batalhão Martim Afonso, foi erigida uma estátua do Cristo Redentor. 
O nome da avenida - Antonio Emmerich, é uma homenagem ao prestante cidadão vicentino, precursor da primeira fase de seu desenvolvimento. Nasceu no ano de 1844, vindo a falecer em 1916. (Boletim do IHGSV) 

Soldados do 2º Bio caminham pela avenida Antonio Emmerich, em São Vicente (Foto: LG Rodrigues / G1) 

1886- A serviço do Estado, o engenheiro e pesquisador baiano Teodoro Sampaio realiza estudo e levantamento socioambiental da região dos rios Paraná-Paranapanema. A princesa Isabel promulga a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil. 
– Em 7 de setembro acontece a inauguração da iluminação pública da Vila de São Vicente (lampiões a querosene), por empenho do vereador Capitão Gregório Inocêncio de Freitas. 
1887 – Câmara Municipal de São Vicente aprova Abolição da Escravatura. 
1888- Decreto de 12 de julho de 1888, após concorrência pública, autoriza por 39 anos exploração do Porto do Santos tendo como concecionários a empresa Gaffré, Guinle & Cia, constituída para esse fim, com sede no Rio de Janeiro transformada em Empresa de Melhoramentos do Porto de Santos e, em seguida, Cia Docas de Santos. O prazo da concessão seria extendido para 90 anos. 

ABOLIÇÃO EM 31 DE OUTUBRO DE 1886 
É O DIA DA LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS EM SÃO VICENTE 

Um livro-ata que hoje se encontra no arquivo da Casa, mostra que a decisão foi tomada em comemoração à morte do Conselheiro José Bonifácio. 
No mesmo livro, no dia 14 de maio de 1887, a Câmara aprovou a denominação de 31 de Outubro para uma rua paralela à Rua Padre José Anchieta. Trata-se da Rua Tibiriçá, no Centro da Cidade. 
Quem descobriu a existência da lei foi o assistente administrativo do Arquivo da Câmara, Narciso Vital de Carvalho. 
Em 13 de julho de 1993, o então prefeito Luiz Carlos Luca Pedro sancionou a lei que oficializou o dia 31 de outubro de 1886 como o Dia da Libertação dos Escravos em São Vicente. Além de estabelecer a data comemorativa, o Executivo ainda propôs a realização anual de palestras e eventos alusivos à data em toda a rede municipal de ensino. 
O autor do projeto de Lei nº 36/93 que deu origem à promulgação foi o vereador Ricardo Verón Guimarães. Conforme ele enfatizou no documento, a decisão tomada em 31 de outubro de 1886 “manifestava o engajamento (da Vila de São Vicente) no processo abolicionista que culminou com a assinatura da Lei Áurea em 1888”. 
No mesmo documento, Guimarães destacava a existência de duas canetas, utilizadas pela comissão encarregada da libertação dos escravos e cuja futura importância foi lembrada na ocasião. (A Tribuna, 2004)


-Nasce o Capitão Luiz Horneux.

                                                 
Nasceu em São Vicente em 21 de setembro. Fez parte do Centro Municipal de São Vicente (partido de Oposição). O ministro da Justiça e Negócios do Interior, em 1909, por decreto, nomeou-o capitão da 3ª Bateria da 42 Brigada da Guarda Nacional, onde prestou relevantes serviços. Por ocasião da I Grande Guerra, o Comando da Região Militar incumbiu-o de organizar, em São Vicente, a Sucursal do Tiro de Guerra(TG) Nº11. Trabalhou depois no comércio e em diversas empresas, tendo sempre uma brilhante atuação em suas funções. Foi um dos fundadores do C.R. Tumiaru e na terrível epidemia de gripe espanhola, juntamente com os componentes do TG 11, participou ativamente na luta contra a doença. O Capitão Luiz Horneaux prestou relevantes serviços á comunidade vicentina como militar, comerciante, esportista e político. Faleceu em 24 de abril de 1920, deixando o seu nome gravado nos anais da história vicentina. (Vultos Vicentinos). 

- Lei Áurea proclama a abolição da escravatura no Brasil. 

- O oficial e engenheiro do Exército Ewerton Quadros é nomeado para chefiar estudos técnicos da expansão de uma linha ferroviária de Botucatu até a divisa de São Paulo e Mato Grosso. 

- Em Campos Novos, iniciam-se as “Dadas”, expedições de tomadas das terras e extermínio de indígenas, comandadas pelo Coronel Francisco Sanches de Figueiredo. 

A  PRINCESA ISABEL E CONDE D'EU EM SÃO VICENTE


Visita durante a Excursão às Províncias do Sul em 1885 

 

O regresso dos Imperiais Excursionistas da viagem às províncias do Sul constituiu para Santos notável acontecimento social e popular. 
Viajando os Príncipes Imperiais a bordo do paquete Rio Pardo que teria saído dia 3 do Rio Grande, com destino à Santos. (Diário de Santos, março de 1885) 
A chegada ao porto de Santos só se efetuou no dia 9, quando o sinaleiro do Monte Serrat anunciou, cerca das 10:30 horas, estar à vista o Vapor Rio Pardo, que teve viagem tempestuosa até Santa Catarina (...) 
Grande massa popular esperava no cais o desembarque. Junto ao passadiço da Companhia Nacional de Navegação, a qual pertencia o Rio Pardo, achava-se postada a Companhia de Aprendizes de marinheiros. 
Cumprimentaram SS. AA. II a bordo o Dr. Almeida Couto, Presidente da Província, autoridades civis e militares e grande número de pessoas gradas. 
Logo em Terra, se dirigiram os Príncipes Imperiais, comitiva, comissão de recepção e o povo, à Matriz, a fim de fazerem oração. 
Dali foram ao Telégrafo Nacional, à Rua Santo Antônio (atual Rua do Comércio), onde estiveram em comunicação, por espaço de três quartos de hora, com o Imperador e a Imperatriz em Petrópolis. 
Ao deixar o Telégrafo, visitaram a Igreja do Carmo, orando junto à campa de José Bonifácio, Patriarca da Independência. 
Em seguida, em bonde que a empresa Emmerich e Ablas lhes ofereceu dirigiram-se a São Vicente. A linha de bondes desta empresa partia da Estação de Itororó, seguindo pelas ruas do Rosário, Visconde de S. Leopoldo e caminho do Mataduro até S. Vicente. 

Casa de Pedra na rua Martim Afonso em díreção à Praça 22 de janeiro.  

Ali chegando, visitaram a Matriz, que data de 1757; a Câmara Municipal, cujo edifício era construído onde hoje é o Mercado Municipal (1954), a casa de Martim Afonso de Souza, situada onde se ergue, hoje, o sobrado n° 48, à rua Martim Afonso, a Fonte (Biquinha) e a praia; descansando na casa do Capitão Gregório Inocêncio de Freitas que, com sua família, obsequiou os Príncipes Imperiais com delicada merenda. “O Regresso do Condes d’Eu da Excursão às Províncias do Sul”. In Vida cotidiana em São Paulo no século XIX: memórias, depoimentos, evocações. Carlos Eugênio Marcondes de Moura(org). Ateliê Editorial. São Paulo, 1999. 

O Capitão Gregório Inocêncio de Freitas era natural de Xirica, onde nasceu em 1823. Residia em S. Vicente à Rua Martim Affonso, esquina com Jacob Emerich em uma casa situada na quadra onde residia Benedito Calixto. Foi presidente da Câmara Municipal de São Vicente em diversas legislaturas, Comissário de Café, presidente da Comissão do IV Centenário da Descoberta do Brasil, cuja memória ficou perpetuada no monumento erigido na Praça 22 de Janeiro (Largo da Biquinha). O Capitão Gregório e seu irmão Inácio Benedito foram em suas fazendas Lageado e Progresso, em Xirica, precursores da lavoura cafeeira na zona Sul de S. Paulo. Eram consideradas fazendas-modelo. O Capitão Gregório, que veio a falecer em 1901, prestou relevantes serviços à terra vicentina, com assinala Olegário Herculano Alves, em valiosa e interessante série de artigos intitulados “São Vicente de antanho” e “Santos de antanho”, publicados em A Tribuna, de Santos, em 1952. O Sr. Olegário Herculano Alves, residente à Rua Ipiranga, 231, em São Vicente, relatou ao autor dessas notas o seguinte: 
“Foi criado na casa do Capitão Gregório e, quando da visita dos condes d’Eu, contava com oito anos de idade; lembra-se dos preparativos na casa para receber a princesa Isabel e o Conde d’Eu; estes tomaram um lanche e Olegário teve oportunidade de brincar com os Príncipes D. Pedro, D. Luis e D. Antonio. Depois do lanche o Conde d”E e os Príncipes visitaram a Biquinha e , para chegar até ela, teria que atravessar, sobre a ponte, o Rio Sapateiro. D. Luis, brincando, escorregou e caiu no rio, sendo advertido por sua imprudente afoiteza por um membro da comitiva, que deveria ser seu preceptor” 

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1889- Proclamação da República, em 15 de novembro. 

- Exílio da Família Imperial

“O Último Monarca das Américas Dom Pedro II partindo para o Exílio.” Gravura do Jornal New York Times de 1889.


O EXÍLIO DA FAMÍLIA  REAL


RAUL POMPÉIA


Às três da madrugada de domingo, enquanto a cidade dor­mia tranquilizada pela vigilância tremenda do governo pro­visório, foi o largo do Paço teatro de uma cena extraordiná­ria, presenciada por poucos, tão grandiosa no seu sentido e tão pungente quanto foi simples e breve.

Obedecendo à dolorosa imposição das circunstâncias, que forçavam um procedimento enérgico para com os mem­bros da dinastia dos príncipes do ex-Império, o governo teve necessidade de isolar o Paço da cidade, vedando qualquer comunicação do seu interior com a vida da capital.

A todas as portas do edifício principal, na manhã do sábado, e às portas das outras habitações dependentes, liga­das pelos passadiços, foram postadas sentinelas de infanta­ria e numerosos carabineiros montados. O saguão transfor­mou-se em verdadeira praça de armas.

Muitos personagens eminentes do Império e diversas famílias, ligadas por aproximação do afeto à família impe­rial, apresentaram-se a falar ao Imperador e aos seus augus­tos parentes, retrocedendo com o desgosto de uma tenta­tiva perdida.

À proporção que passavam as horas, foi-se tornando mais rigorosa a guarda das imediações do palácio. As sentinelas foram reforçadas por uma linha de baionetas que a pequenos intervalos estendeu-se pelo passeio, em todo o perímetro da imperial residência, transformada em prisão do Estado.

Novas determinações, anunciadas por ajudantes de ordens que chegavam frequentemente do quartel-general, desenvolviam ainda mais as manobras da guarnição do edifício.

Depois que anoiteceu, foi fechado o trânsito pelas ruas que o rodeiam. Às 11 horas, havia sentinelas até ao meio da grande área compreendida entre o pórtico do palácio e o cais. Por todas as imediações vagueavam soldados de cavalaria, empunhando clavinotes de coronha pousada ao joelho.

Adiantava-se a noite, adiantavam-se gradualmente para o mar os cor­dões de sentinelas.

Um boato oficial, inspirado pela conveniência do interesse público, espa­lhara a notícia de que o sr. d. Pedro de Alcântara (que se sabia dever embar­car para a Europa em consequência da revolução do dia 15) só iria para bordo no domingo de manhã. A polícia excepcional do largo do Paço, porém, durante a noite de sábado, deu a certeza de que o embarque se faria muito antes da hora do propalado consta. Demorados por esta suspeita, muitos curiosos estacionavam pelas vizinhanças do mercado, das pontes das barcas, na rua Fresca, na rua da Misericórdia, na esquina da rua Primeiro de Março.

De uma hora da madrugada em diante, as patrulhas de cavalaria come­çaram a dispersar os ajuntamentos.

Para os últimos passageiros das barcas Ferry não havia mais caminho, do lado do mercado, senão beirando rentinho ao cais. Depois da última barca, o trânsito foi absolutamente impedido. Também os mais renitentes curio­sos tornaram-se muito raros, mesmo nas proximidades do largo sitiado.

Um grande sossego, com uma nota acentuada de pânico, reinava neste ponto da cidade. Para mais carregar a fisionomia do momento, circulavam nessa hora as notícias de um conflito entre marinheiros e praças do exército, havendo trocas de tiros. Apesar da brandura de modos com que os militares convidavam as pessoas do povo a se retirarem, apesar da completa absten­ção de atos de violência que tem caracterizado o sistema policial, enérgico, mas extraordinariamente prudente, do governo provisório, sentia-se ali como que uma atmosfera de vago terror, como se a calada da noite, a escu­ridão do lugar, a amplitude insondável da praça evacuada respirassem a presença de uma realidade formidável. Sentia-se todo aquele imenso ermo ocupado pela vontade poderosa da revolução. Em cima, o céu tristíssimo, povoado de nuvens crespas, muito densas, que um luar fraco bordava de transparências pálidas.

De vez em quando, das perspectivas de sombra, saía um rumor de vozes abafadas, logo feitas silêncio; de vez em quando, um rumor seco de bainhas de folha contra esporas e um estrépito de patas de cavalo, escarvando o cal­çamento, batendo a passos regulares, espalhando-se em estalado galope. Em geral, silêncio de morte.

Entre as poucas pessoas que, iludindo o consentimento da polícia, tinham conseguido ocultar-se em diversos sítios de observação, murmu­rava-se que não devia tardar o embarque do ex-imperador. Duas horas da madrugada, entretanto, tinham marcado os relógios das torres, e nada de novo dos lados do Paço viera agitar o solene sossego do largo.

Pouco antes dessa hora, houvera um grande movimento do lado do mar. Daí soara repentinamente um grito de alarma.

A notícia divulgada, de assaltos prováveis de gente da armada contra a tropa, assaltos que seriam razoavelmente favorecidos pelo negrume da noite, que subia do mar sobre o cais como uma muralha preta, furada apenas pela linha de pontos lúcidos da iluminação de Niterói, dava para impressionar de susto um grito perdido da sentinela. Houve um tropel de cavalos, e logo uma, duas, outra, outra, muitas detonações de espingarda, em desordenado tiroteio.

Nada havia de grave. Um indivíduo, que tentara embarcar-se contra a vontade da ronda, fora preso. Escapando às mãos da patrulha de infantaria que o prendera, tinha-se lançado ao mar para fugir nadando. Alguns solda­dos atiraram a esmo para assustá-lo, enquanto outros tomavam um bote, com o qual pegaram de novo o evadido.

Logo em seguida foi visto o preso passar, à luz dos lampiões, empurrado por guardas.

Houve quem supusesse que os tiros foram um sinal. Com efeito, tal qual se assim fosse, ouviu-se, pouco depois, no meio das trevas da baía, o rebate chocalhado da hélice de uma lancha a vapor. Uma pequena luz vermelha estrelou-se no escuro, diante do cais, e, ao fim de poucos momentos, ao lado do molhe de embarque do Pharoux, vinha cessar o barulho da hélice, com duas pancadas de um tímpano de bordo e a passagem de uma rápida som­bra flutuante sobre a sombra inquieta das águas.

– É a lancha do imperador! – pensaram os que viam, com a opressão natural que devia provocar aquele anúncio da iminência de um grande momento.

Bastante tempo se passou depois desse incidente, antes que de novo fosse alterada a monotonia do sossego da noite. A suspeita de que acabava de atracar a embarcação que devia receber o monarca deposto, a ansiedade de perceber o movimento significativo no portão do Paço prolongaram indefinidamente a duração dessa expectativa.

O profundo silêncio do lugar pareceu fazer-se maior, nessa ocasião, como se a noite compreendesse que se ia, ali mesmo, em poucos momen­tos, estrangular a última hora de um reinado. A tranquilidade que havia era lúgubre. Ouvia-se com certo estremecimento o barulho do morder de freios dos corcéis da cavalaria em recantos afastados. Frouxamente clare­ados pela iluminação urbana, as casas ao redor do largo, os edifícios públi­cos pareciam adormecidos. Nenhuma luz nas janelas, a não ser nos últimos andares de uma casa de saúde.

Apesar disso, que se acreditaria indicar a completa ausência de espectadores para a cena que se ia passar, algu­mas janelas abertas apareciam como retábulos negros, nas mais altas sacadas, e percebia-se uma agitação fácil de reco­nhecer nos peitoris escuros…

Pobre d. Pedro! Em homenagem à severidade da deter­minação do governo revolucionário, ninguém queria ter sido testemunha da misteriosa eliminação de um soberano.

Às três horas da madrugada, menos alguns minutos, entrou pela praça um rumor de carruagem. Para as bandas do Paço houve um ruidoso tumulto de armas e cavalos. As patru­lhas que passeavam de ronda retiraram-se todas a ocupar as entradas do largo, pelo meio do qual, através das árvores, iluminando sinistra­mente a solidão, perfilavam-se os postes melancólicos dos lampiões de gás. Apareceu, então, o préstito dos exilados.

Nada mais triste. Um coche negro, puxado a passo por dois cavalos, que se adiantavam de cabeça baixa, como se dormissem andando. À frente, duas senhoras de negro, a pé, cobertas de véus, como a buscar caminho para o triste veículo. Fechando a marcha, um grupo de cavaleiros, que a perspec­tiva noturna detalhava em negro perfil.

Divisavam-se vagamente, sobre o grupo, os penachos vermelhos das barretinas de cavalaria.

O vagaroso comboio atravessou em linha reta, do Paço, em direção ao molhe do cais Pharoux. Ao aproximar-se do cais, apresentaram-se alguns militares a cavalo, que formaram em caminho.

– É aqui o embarque? – perguntou timidamente uma das senhoras de preto aos militares. O cavaleiro, que parecia oficial, respondeu com um gesto largo de braço e uma atenciosa inclinação de corpo.

Por meio dos lampiões que ladeiam a entrada do molhe, passaram as senhoras. Seguiu-as o coche fechado.

Quase na extremidade do molhe, o carro parou e o sr. d. Pedro de Alcân­tara apeou-se – um vulto indistinto entre outros vultos distantes – para pisar pela última vez a terra da pátria.

Do posto de observação em que nos achávamos, com a dificuldade, ainda mais, da noite escura, não pudemos distinguir a cena do embarque.

Foi rápido, entretanto. Dentro de poucos minutos ouvia-se um ligeiro apito, ecoava no mar o rumor igual da hélice da lancha; reapareceria o cla­rão da iluminação interior do barco; e, sem que se pudesse distinguir nem um só dos passageiros, a toda a força de vapor, o ruído da hélice e o clarão vermelho afastavam-se da terra.

 

RAUL POMPÉA (1863-1895) teve vida curta e intensa. Em 32 anos, deixou um clássico da litera­tura brasileira, O Ateneu, e uma extensa obra jornalística que só seria reunida por Afrânio Couti­nho, em dez volumes, em 1981. Viveu em São Paulo e no Recife, mas fez carreira no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e se suicidou, em 1895. Dois anos mais tarde, foi homenageado como patrono da cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras. Uma noite histórica foi publicado originalmente na Revista Sul-Americana (Rio de Janeiro, Ano i, n. 21, 15.11.18 89)



O NAVIO DO EXÍLIO


Em Novembro de 1889, o Paquete Alagoas era o mais novo e moderno navio de passageiros da marinha mercante do Brasil, Pertencente a Companhia Brasileira de Navegação a Vapor, pela qual foi adquirida em 1888.

O Paquete foi temporiamente incorporado a Marinha do Brasil para levar a Família Imperial Brasileira para o exílio na Europa em 17 de novembro de 1888 sob o comando do Capitão-de-Longo-Curso João Maria Pessoa, sendo comboiado pelo Encouraçado Riachuelo.

O comandante era um conhecido do Família Imperial pois já havia conduzido o Conde d'Eu em um dos navios que levou o Principe Consorte as Províncias do Norte em 1889. Antes da Família Imperial desembarcar em Lisboa em Dezembro de 1889, o Capitão Pessoa ordenou a retirada da Bandeira Republicana do mastro do Piquete Alagoas para ser substituída pela Bandeira do Império do Brasil.

No Paquete foi comemorado o 64º aniversário do Imperador deposto, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de saudação do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. D. Pedro respondeu com palavras trêmulas: "Bebo a prosperidade do Brasil!"

O primeiro lugar visitado pela Família Imperial Brasileira após o exílio foi a Ilha de São Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, para reabastecimento do Paquete Alagoas. Quando da partida do Alagoas, o navio da marinha portuguesa "Bartolomeu Dias", que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canhão. Nesse momento, foi içada pela tripulação do vapor Alagoas a bandeira do Império, substituindo a da República, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados até às lágrimas. Da embarcação lusitana e de alguns navios alemães que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram lenços brancos

Em 7 de dezembro, com a bandeira do Império tremulando no mastro, o Alagoas finalmente chegou a Lisboa. D. Pedro foi recebido com honras por seu sobrinho D. Carlos, e toda a corte portuguesa."

Ironicamente, o mesmo navio que levou a Família Imperial Brasileira para o Exilio participou da Revolta da Armada o lado dos rebeldes, sob o comando do 1º Tenente José Augusto Vinhais. Serviu de Quartel para Escola de Aprendizes-Marinheiros na Ilha do Governador. Em 1922 após ser descomissionado, seu casco foi usado como alvo para os treinos dos encouraçados Minas Geraes e São Paulo. ( BRASZIL IMPERIAL)]

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1899- Criação em São Vicente  da Sociedade Commemoradora do IV Centenário do Descobrimento do Brasil.

"Lavoura & Commércio":


"Conforme fora annunciado, realisou-se hontem em S. Vicente a importante reunião para o fim da leitura e discussão dos estatutos da Sociedade Commemoradora do 4º Centenario da descoberta do Brasil. Os estatutos foram aprovados e eleita a seguinte directoria: presidente, capitão Gregorio Innocencio de Freitas; vice-presidente, Antonio José da Silva Bastos; 1ºsecretario, cap. José Leite Sobrinho; 2º dito, Saturnino Argollo; tesoureiro, Coronel Antonio Carlos da Silva Telles; orador, dr. José Cezario da Silva Bastos, e mais 24 conselheiros". 

jornal "Cidade de Santos":

"Regressou de S.Paulo a commissão da sociedade commemoradora do 4°centenario do Brazil, de S. Vicente, tendo sido acolhida pelo exm. sr. presidente do Estado, que se comprometteu a solicitar um importante auxilio pecuniário do poder legislativo do Estado, para que seja condignamente commemorada na vetusta cidade de S. Vicente a faustosa data nacional de 22de abril de 1900, 4° centenário do descobrimento do Brazil. A commissão era composta dos srs. capitão Gregorio I. de Freitas, presidente da sociedade,Tenente coronel Julio Mauricio da Silva e dr. Ananias de Assis".

"Além dos nomes supramencionados, entre os associados santistas aparecem Saturnino Justo Argollo e Castro, Luiz Lauckens, José Caballero, Francisco P. Machado Reis, João Teixeira da Silva Frota, Comendador Francisco de Paula Ribeiro, Major João Constantino Janacopulos, Augusto Hacherodt, Julio Conceição, Dr. Manoel Maria Tourinho, Cel. Julio Mauricio da Silva, Comendador Manoel Dias Anastacio, Joaquim Duarte da Silva e Manoel Joaquim Barbosa. De São Vicente são listados o capitão Antão Alvesde Moura, Paulino José Ribeiro Ratto, Francisco Emilio de Sá, Major Izolino de Carvalho, Augusto M. de Carvalho, Dr. Ananias de Assis Baptista. O Monsenhor coronel honorário Nemo de Faria Paiva, Ricardo Pinto de Oliveira e Arthur Camillo de Lins eram, respectivamente, de Mogi das Cruzes, Itu e São Paulo".

"Entre 1899 e 1900, a Câmara Municipal de São Vicente era presidida por Gregorio Innocencio de Freitas e, além de Joaquim Dias da Silva e Hermann Hayn, composta também pelos vereadores Hermann Reippert e Fellipe Cahens, ambos sócios da Commemoradora".

 
Citações de Eduardo Polidori Villa Nova de Oliveira. “Fundação de São Vicente”, de Benedito Calixto: Composição, musealização e apropriação (1900-1932). São Paulo, 2018. Tese de mestrado pela Universidade de São Paulo. 

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AS FASES HISTÓRICAS MAIS CONHECIDAS DA

 BIQUINHA DE ANCHIETA



Registro fotográfico de Benedito Calixto e de seu filho Sizenando no final do século XIX. Museu Paulista.


O Paredão do século XX, de 1850; 

A de 1916, registrada em foto por Benedito e Sizenando Calixto; 

A de 1935, de cerâmica com placa comemorativa doada por Antônio Zufo; 

A de 1943, em terracota de Domingos Savorelli, destruída por vândalos; e finalmente o painel de 

A de Waldemar Sendin (com a colaboração dos irmãos Armando e Estrela), de 1947.







Fontes: Novo Milênio e Blog Caiçara. 

 

A BIQUINHA DE ANCHIETA

FERNANDO MARTINS LICHTI

André Gonçalves e Américo Vespúcio trouxeram em seus navios um degredado ilustre, Mestre Cosme Fernandes, que, segundo alguns historiadores, teria sido o famoso bacharel de Cananéia. Após dois meses de permanência em São Vicente, foram-no deixar em Cananéia. Cosme Fernandes, que conhecera bem o belo e dadivoso ambiente vicentino, evidentemente não se satisfez e conformou com o lugar determinado para seu degredo, e assim, apenas quatro ou cinco anos após, já aparecia no Porto de São Vicente e no ocidente da Ilha, resolvido a nova fixação espontânea. E, como era um degredado, com lugar certo para o cumprimento de pena, reconheceu-se fora da lei e construiu seu pequeno povoado inicial, atrás da baía de Paranapuã, cuja barra não dava acesso aos navios de grande calado e, conseqüentemente, aos navios do rei, indesejáveis para ele.
 
Cosme Fernandes chegaria a ser um verdadeiro potentado, senhor de Engenho, de lavouras, de criações diversas, de um comércio alentado com as armas e navios itinerantes e um importante tráfico de escravos, negociado a quatro mil réis por cabeça. A sua São Vicente, muito citada nos documentos de vinte anos depois, possuía arsenal, estaleiro de embarcações, uma fortaleza de pedra, várias casas européias e outras benfeitorias assinaláveis. São desta primeira fase vicentina, a partir do quinqüênio 1515/1520, repetidas vários anos depois, as primeiras notícias das águas da Fonte de São Vicente ou do Povoado, que viria a ser a atual Biquinha ou Biquinha de Anchieta, emoldurada em quatro séculos e meio de tradição.
 
O Morro de Tumiaru (antigo Outeiro de São Vicente, posteriormente conhecido por Morro Santo Antônio, Morro dos Padres e atualmente Morro dos Barbosas), junto à Praia Mahuá (hoje Praia de São Vicente ou da Cidade, que o povo apelidou de Gonzaguinha), possuía duas nascentes de águas potáveis, capazes de servir ao grupo social daquele tempo e ao conjunto do povoado de Cosme Fernandes, em várias necessidades e aplicações.
 
Uma das fontes era aquela, indicada como a Fonte do Povoado (Biquinha), ali mesmo, quase na ponta Leste do morro, próxima da Praia Mahuá; a outra, já considerada uma cachoeirinha, era a do centro, ou "do campo" (Fonte dos Padres), origem do riozinho, mais tarde conhecido como Rio do Sapateiro, onde hoje se encontra o reservatório municipal (do Morro dos Barbosas). Havia uma terceira fonte, mas do outro lado ou lado Oeste do morro, no lugar chamado Paquetá, proximidades da atual Ponte Pênsil, que servira ao primeiro porto e povoado de Cosme Fernandes (o Porto Tumiaru).
 
Todavia, a única, realmente famosa, seria, apesar de menor que a segunda, a Fonte do Povoado (Biquinha), por suas características físicas (geográficas e naturalísticas), por sua beleza ambiente e pela superioridade de suas águas, que se iam despejar no riozinho fronteiro, a cem metros da praia (atual Praça 22 de Janeiro) - ambiente que, mais tarde, seria aproveitado pelos jesuítas, para suas apresentações artísticas e teatrais ou preleções ao ar livre. Na nova organização dada ao povoado anterior, por Martim Afonso de Souza, com a criação da vila - tornada cabeça ou capital de toda a Capitania -, a Fonte do Povoado ou da Vila continuou como era, até que a vinda dos jesuítas, sob a chefia de Manoel da Nóbrega e Leonardo Nunes - a quem caberia fundar o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente, inaugurado a 2 de fevereiro de 1553, oitenta metros distante da mesma fonte (Biquinha) -, lhe daria uma nova dignidade utilitária e social. É que, de fato, a Leonardo Nunes, grande catequista, caberia criar uma primeira bica de serventia pública, na Fonte tradicional, na mesma ocasião em que mandava fazer a primeira captação da cachoeirinha do Centro ou do Campo, por meio de um pequeno aqueduto, para os usos gerais ou maiores da coletividade jesuítica e vicentina.
 
Leonardo Nunes morreria em 1554, em conseqüência de um naufrágio, e a freqüência ao lugar por Anchieta começaria a partir de 1555, após um ano de fundação de São Paulo de Piratininga, quando se hospedou no Colégio de São Vicente em 1561 e teve os primeiros contatos com o povo de São Vicente e da vila de Santos, freqüentando ao mesmo tempo o litoral de Itanhaém e Peruíbe. Anchieta só seria realmente padre, com ordens maiores e de missa, em 1556, sagrado na Bahia. Depois disso, viria para a Capitania de São Vicente, onde veio a ser superior do Colégio vicentino no período de 1567/1577. É quando, então, se torna célebre a Bica da Fonte da Vila (antiga do Povoado), porque Anchieta dá preferência, em suas práticas e meditações, ao ambiente paradisíaco criado em torno dela pela natureza. Logo mais, daria aulas de catecismo e primeiras letras portuguesas, naquele lugar, junto à Biquinha, para que seus meninos, os catecúmenos e órfãos brancos, sentissem melhor os seus ensinamentos. Pouco mais tarde, com tempo firme, montava ali também as suas peças teatrais, os seus conhecidos e famosos autos assistidos pelo povo e pelas autoridades locais, hoje considerados como origem e nascimento do Teatro no Brasil.
 
Durante alguns anos exerceu-se em São Vicente, junto à Biquinha, o apostolado de José de Anchieta, atingindo os litorais vizinhos. Foi mesmo nesse lugar, e nas atividades litorâneas do Apóstolo do Brasil, que se desenvolveu e fundamentou a sua fama de santidade. E é desses anos e de sua constante presença que surge a denominação popular de Biquinha de Anchieta, ainda hoje corrente entre o povo, com fortes razões como se vê. Reza a tradição que Anchieta teria construído o primeiro monumento rústico da Biquinha, que atravessou alguns séculos.
 
José Antônio Zuffo, que foi proprietário dos terrenos onde está construída a Vila Santo Antônio, em que Leonardo Nunes fundou o 1º Colégio jesuíta do qual Anchieta foi reitor, querendo prestar uma homenagem ao taumaturgo, mandou confeccionar uma placa de bronze e colocou-a na Biquinha, cuja inauguração deu-se no dia 19 de março de 1933, aniversário de nascimento de Anchieta. A senhorinha Margarida Zuffo, dileta filha do capitalista, foi quem descerrou a bandeira nacional que cobria a placa, cujos dizeres perpetuam, de vez, a estada de Anchieta naquele local.
 
Em meados do século passado (N.E.: século XIX), ainda se encontrava no rústico e singelo paredão ali construído a data de 1850, o que tudo faz crer ter sido construído naquela data, várias foram as transformações recebidas pela histórica fonte, no tocante ao aspecto de sua fachada. Do velho paredão, sobreveio um belo painel em mosaico português. Depois, sempre estampado motivo da milagrosa missão de Anchieta entre os índios, substituíram o mosaico por um delicado trabalho de terracota em alto-relevo, que foi inaugurado em 22 de janeiro de 1943, quando São Vicente comemorou 411 anos de fundação. Infelizmente, essa obra durou muito pouco, porque nesse mesmo ano foi toda depredada pelo vandalismo de irresponsáveis e inconseqüentes. Então, novo mosaico foi colocado no histórico recanto vicentino, continuando até agora.
 
Em verdade, a Biquinha de Anchieta, com seus belos azulejos, é hoje um verdadeiro monumento ao Beato José de Anchieta, que serve a milhões de freqüentadores, todos os anos, e acode também a centenas de lares e milhares de habitantes, por hábito, por preferência ou por falta do precioso líquido em suas torneiras, tornando-se, por uma razão ou por outra, mas principalmente por sua imensa tradição, o mais legítimo e mais enternecedor dos monumentos públicos de toda a Baixada Santista. (Poliantéia Vicentina)

PAINEL DE 50 ANOS DECORA A BIQUINHA 



AT Especial do jornal santista A Tribuna, em 2 de março de 1997

Existente desde 1553, a Biquinha de Anchieta foi uma das principais fontes de água da população de São Vicente durante séculos. Seus belos azulejos azuis trabalhados a mão são relíquias históricas. Lá, o famoso padre jesuíta bebia água e catequizava índios. Além da bica, a praça conta com uma estátua em tamanho natural do padre, feita em fibra de vidro, e boxes onde são vendidos os mais tradicionais doces da Cidade. (Biblioteca do IBGE, 2015)
 
Um dos mais significativos trabalhos em azulejo da região está completando 50 anos: é o painel da Biquinha, em São Vicente, que retrata o Padre Anchieta catequizando os índios brasileiros. O belo exemplar da arte em cerâmica é do artista Waldemar Moral Sendin, que contou com a colaboração do irmão, Armando Sendim, e da irmã Estrela. Um dos pioneiros desse tipo de arte no Brasil, Waldemar Moral Sendin faleceu há oito anos; Armando Sendin, aos 72, tem seu ateliê e mora na Espanha. Estrela, com 74, reside em Santos. Ela conta que o painel foi feito a pedido do prefeito de São Vicente na época, Polidoro Bitencourt. "Ele foi visitar uma exposição de Waldemar, no Parque Balneário, e ficou maravilhado com o seu talento", conta.
 
Antes do painel de Anchieta, havia na Biquinha uma obra em terracota, do artista Domingos Savorelli. "Eu não me lembro quanto a prefeitura pagou ao meu irmão, mas acho que foi algo em torno de mil cruzeiros. Eu e o Armando posamos como modelos, para que o Waldemar tivesse uma idéia de como posicionaria o padre Anchieta e os índios", revela.
 
O trabalho foi realizado em um mês, já que a técnica não é das mais fáceis. E, como no Brasil ainda não havia tintas especiais, Waldemar mandou-as vir de Portugal, assim como os azulejos. "Ele usou o policromado em sépia, uma cor muito bela, que ainda não existia por aqui". A qualidade do serviço pode ser vista até hoje, pois não se deteriorou com a ação do tempo. Durante o período das chuvas, em janeiro, uma parte da Biquinha quase foi destruída, mas nada aconteceu ao painel do Padre Anchieta. "É uma obra de arte importante, não só porque a Biquinha é conhecida mundialmente, mas também devido à importância histórica de São Vicente. Ao longo dos anos, ela vem sendo retratada em cartões postais enviados aos mais diferentes países", analisa Estrela.
 
O artista - Waldemar Moral começou logo cedo nas artes, herdando do pai o gosto pelas tintas. A família foi morar em Porto Alegre, o que incomodou o jovem. Ele dizia que lá não havia ninguém que pudesse ensiná-lo mais do que já sabia. Cedendo aos apelos do filho, o pai trouxe a família para Santos, para que Waldemar pudesse estudar em São Paulo. Ele se formou em Arquitetura pela Faculdade de Belas Artes. Logo pegou gosto pelo trabalho com cerâmica, sendo um dos primeiros no Brasil a dominar a técnica. Armando Moral Sendin também foi infestado pelo vírus da arte, mas preferiu a pintura de quadros, embora tivesse se formado em Filosofia e Letras e se pós-graduado na Sorbone. "Fui a única que não seguiu a trilha. Eu organizava o ateliê, em São Paulo, pois eles eram muito descuidados. Me dou melhor com a agulha e a linha", justifica Estrela.
A técnica - A arte da cerâmica, dizem os entendidos, nasceu no Oriente, há vários séculos, e os árabes foram um dos seus cultuadores. Mais tarde, chegou à Europa, notadamente em Portugal, Espanha e França. Foram os colonizadores portugueses que a trouxeram para o Brasil. Era comum decorar a fachada dos imóveis com azulejos. O nome vem do fato de a maioria das peças, na época, ser azul.
A técnica utilizada por Waldemar seguia todo um processo. Primeiro ele fazia um croqui, em papel, do que iria desenhar. Os azulejos eram colocados em uma prancheta de madeira e, com o lápis, ele esboçava o desenho. O passo seguinte era a pintura com uma tinta especial de cerâmica sem esmalte. Os azulejos, numerados, eram colocados no forno à temperatura de 750 graus. Depois era só montar a imagem na seqüência da numeração. O cozimento dá brilho à pintura e a torna indelével.
Joseph Anchieta foi reitor do Colégio de São Vicente, evangelizador da Capitania de Martim Afonso, dramaturgo e herói, informa a placa que fica ao lado do painel da Biquinha.






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