11/07/2019

SV COLÔNIAL

DE 1532 (FUNDAÇÃO DA VILA) A 1821 (RETORNO DA CORTE)


      

SÍNTESE 

É o período inaugurado com a expedição de Martim Afonso de Souza, em 1531, que percorreu o litoral brasileiro seguindo até a Argentina, marcando oficialmente a presença do Estado português. A fundação da Vila de São Vicente e da sua Câmara Municipal é o primeiro modelo institucional político administrativo desse evento realizado em todo o território americano. As ocupações e negócios passam a ser controlados e fiscalizados pelos representantes da monarquia. As famílias que desembarcaram em São Vicente em 1532 são também o primeiro modelo social de colonização no Brasil, com diversos núcleos cujos descendentes expandem suas atividades no planalto paulista e nos sertões do continente. As entradas vicentinas e bandeiras paulistas. O formato básico de exploração é o engenho de açúcar, núcleo familiar e produtivo ligado ao comércio marítimo triangular (Europa, África e América) estabelecendo o sistema de colonização que iria perdurar por três séculos. A Casa Grande, a Senzala, a lavoura e o Engenho foi principal e primeiro retrato da sociedade brasileira nesse período. As capitanias hereditárias e Governo Geral do Brasil representa respectivamente a base de primitiva de organização e a necessidade de centralização do poder diante dos constantes riscos de movimentos e rebeliões localistas. A imigração português é constante, alimentando a cultura e os hábitos europeus na colônia. A presença dos jesuítas é marcante como ferramenta ideológica do Estado, em combate ao mundo pagão indígena e à ameaça teológica protestante. A presença de judeus e outras culturas em Portugal e em solo brasileiro são alvos constante de perseguições e repressões. O período colonial não um período de paz e harmonia. A colonização impõe um sistema vertical, corrupto, autoritário e ineficiente. A sociedade reage com ideia de contestação, protestos e rebeliões nativistas e emancipacionistas são constantes diante dos abusos de poder da Metrópole. A escravidão se expande num movimento veloz e crescente diante dos negócios agrícolas e do permanente tráfico de escravos. No Brasil forma-se uma diversidade etno-racial marcada pela miscigenação e pelo sincretismo de crenças e costumes. Do cruzamento primitivo de brancos, índios e africanos surge sucessivamente a diversidade de mulatos, mamelucos e cafuzos, seguido de uma pluraridade de caboclos, caiçaras, calungas, pirangueiros, sertanejos e inúmeras denominações locais de mestiços ou “pardos”. Os principais ciclos econômicos são marcantes e influentes nos séculos da colonização: o açúcar, a mineração e o café, tendo como suplementos as lavouras de abastecimento local e contextualmente de exportação: algodão, tabaco e grãos solicitados em determinados períodos. Não houve rupturas significativas na sociedade e na política, mantendo-s a estrutura de dominação aristocrática da elite rural, detentora de terras e mandatos institucionais. O Brasil colonial sofreu abalos causados pela revolução francesa e pela revolução industrial, com a invasão napoleônica em Portugal e com a vinda da Família Real para o Rio em 1807, porém permaneceu quase intacto na sua estrutura de produção agro-exportadora. A independência também manteve o país num regime de monarquia imperial escravocrata por quase 100 anos. Nesse longo contexto, São Vicente foi desaparecendo gradualmente do cenário político, tendo seus engenhos e atividades portuárias simples substituídos pelo porto do café pela supremacia da Vila da Santos, mais afinizada com as atividades políticas e econômicas desse período, e também pela fundação e desenvolvimento de bases urbanas e jurídicas em inúmeras localidades do Brasil. São Vicente assiste, como célula-mãe, a expansão e declínio dos engenhos, a explosão e a decadência da mineração; as inconfidências, a vinda da corte, a abertura dos portos, a independência, aos dois Reinados. Assistiria ainda no século XIX, pequena e quase extinta, os acontecimentos que levaria ao Brasil outros eventos históricos do futuro. 

O mundo em 1540. Vintage Maps @vintagemapstore






                                            

A ARMADA DE MARTIM AFONSO

PEDRO TAQUES DE ALMEIDA PAIS LEME

   
Naus lusitanas em direção ao Brasil, por Alfredo Roque Gameiro.


Pelo Tratado de Tordesilhas entre os dois monarcas D. João o 2º de Portugal e D. Fernando o católico de Castela, tem Portugal terras muito além do rio da Prata, e por isso o primeiro marco que se meteu foi no porto ou baía de S. Matias, quarenta e cinco graus pouco mais ou menos da Equinocial, e distante do rio da Prata para o sul cento e setenta léguas, posto que desta linha assim lançada para a parte do mar do Oriente tem os castelhanos muita terra pelo sertão adentro; pelo que muitas cartas dão por Portugal algumas terras da província de Buenos Aires, Córdova e Paraguai. Toda esta distância de terra, de mil e cinqüenta léguas por costa, repartiu a grandeza de el-rei D. João III por vassalos beneméritos, em quatorze capitanias, para as povoarem, em remuneração de serviços grandes que haviam feito na Índia como soldados de fortuna. Entre muitos ilustres fidalgos que passaram àquele Estado seguindo o real serviço, foi Martim Afonso de Sousa, senhor das vilas de Alcoentre e Tagarro, alcaide-mor do Rio Maior; as suas heróicas proezas foram igualmente admiradas, como aplaudidas pelos dois grandes historiadores Barros e Faria. Voltando para o reino, el-rei D. João III lhe fez mercê de cem léguas de costa de herdade para sempre, para fundar uma ou mais capitanias, e o fez governador das terras do Brasil, com faculdade de poder dá-las de sesmarias às pessoas que consigo trouxe e quisessem ficar povoando as ditas terras: assim se vê da sua carta patente do teor seguinte.

Dom João por graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves, d’aquém e d’além mar, em África senhor de Guiné e da conquista, navegação, comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, &c. A quantos esta minha carta virem, faço saber, que as terras que Martim Afonso de Sousa do meu conselho, achar e descobrir na terra do Brasil, onde o envio por meu capitão-mor, que se possa aproveitar, por esta minha carta lhe dou poder para que ele dito Martim Afonso de Sousa possa dar às pessoas que consigo levar, e às que na dita quiserem viver e povoar aquela parte das ditas terras que bem lhe parecer, e segundo lhe o merecer por seus serviços e qualidades, e das terras que assim der serão para eles e todos os seus descendentes, e das que assim der às ditas pessoas lhes passará suas cartas, e que dentro de dois anos da data cada um aproveite a sua, e que se no dito tempo assim não fizer, as poderá dar a outras pessoas, para que as aproveitem com a dita condição; e nas ditas cartas que assim der irá trasladada esta minha carta de poder, para se saber a todo tempo como o fez por meu mandado, lhe será inteiramente guardada a quem a tiver; e porque assim me praz lhe mandei passar esta minha carta por mim assinada e selada com o meu selo pendente. Dada na vila do Crato da Ordem de Cristo a 20 de novembro. Francisco da Costa a fez, ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1530 anos.  

De Lisboa saiu o governador Martim Afonso de Sousa com armada de navios, gente, armas, apetrechos de guerra e nobres povoadores, tudo à sua custa: com ele veio também seu irmão Pedro Lopes de Sousa, a quem o mesmo rei tinha concedido oitenta léguas de costa para fundar sua capitania, e faleceu afogado no mar.

Trouxe o dito Martim Afonso de Sousa além da muita nobreza, alguns fidalgos da casa real, como foram Luís de Góis e sua mulher D. Catarina de Andrade e Aguilar, seus irmãos Pedro de Góis, que depois foi capitão-mor de armada pelos anos de 1558, e Gabriel de Góis; Domingos Leitão, casado com D. Cecília de Góis, filha do dito Luís de Góis; Jorge Pires, cavaleiro fidalgo; Rui Pinto, cavaleiro fidalgo casado com D. Ana Pires Micel, Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo, e todos eram irmãos de D. Isabel Pinto, mulher de Nicolau de Azevedo, cavaleiro fidalgo e senhor da quinta do Rameçal em Penaguião, e filhos de Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo, e de sua mulher Marta Teixeira, que ambos floresciam pelos anos de 1550, e quando em 18 de junho do dito ano venderam por escritura pública em Lisboa aos alemães Erasmo Esquert e Julião Visnat as terras que de seu filho Rui Pinto haviam herdado na vila de S. Vicente: tudo o referido se vê no liv. 1º dos registros das sesmarias, tít. 1555, já referido, págs. 42 e seguintes. Outros muitos homens trouxe desta qualidade com o mesmo foro e também com o foro de moços da Câmara, e todos ficaram povoando a vila de S. Vicente, como se vê melhor no mesmo livro 1º do registro das sesmarias per totum.

Correndo Martim Afonso de Sousa toda a costa de Cabo Frio até o rio da Prata, onde na ilha dos Lobos meteu um padrão com as armas d’el-rei seu senhor, tomando a altura de vinte e quatro graus, em que está a ilha de S. Vicente, nela fundou a primeira vila que houve em todo o Brasil, com vocação do mesmo santo, pelos anos de 1581, e dentro da mesma ilha, distância de duas léguas por terra, se fundou depois a vila do porto de Santos, da qual foi alcaide-mor Brás Cubas, e seu primeiro povoador. Sustentou por espaço de três anos contínuas guerras com os bárbaros índios da nação Carijós, Guaianases e Tamoios, que os conquistou apesar da oposição que neles achou, sendo-lhe necessário valer de todo o seu esforço contra a contumácia com que lhe resistiu; porque na posse da liberdade natural reputavam em menos as vidas que a sujeição do poder estranho; mas vencidos em vários encontros, cedeu a rebeldia para que com maior merecimento e glória fundasse Martim Afonso a vila de S. Vicente”.

Pedro Taques de Almeida Pais Leme – História da Capitania de São Vicente –(São Paulo, 1772) – Biblioteca do Senado Federal. Brasília, 2004

      A CÉLLULA MATER DA NAÇÃO

Martim Afonso de Souza aportou em São Vicente no dia 22 de janeiro de 1532 e deu imediatamente começo à sua povoação, de acordo com João Ramalho e Antônio Rodrigues, os dois portugueses que aqui se achavam domiciliados; aquele em Serra Acima (Borda do Campo) e este em "Tumiarú", junto à foz do lagamar de São Vicente, ou "Morpion", segundo a denominação indígena que encontramos em alguns historiadores. 

A esta povoação, deu Martim Afonso de Souza a denominação de São Vicente, em referência ao lagamar que assim era chamado pelos primeiros navegadores portugueses que aqui haviam aportado anteriormente, e, também para comemorar a coincidência do dia do desembarque do donatário - 22 de janeiro, dia também em que a Igreja celebra a festa deste santo mártir português, tão venerado na Metrópole, bem como do próprio Martim Afonso, que lhe tinha grande devoção, a ponto de haver dado já à sua nau capitânia, em Lisboa, o nome de "Galeão São Vicente".

Partida de Martim Afonso de Souza em 1531. Alfredo Roque Gameiro.


A FUNDAÇÃO DA VILA

Descoberto o Brasil, decidiu d. João III, rei de Portugal, distribuir as suas terras - mil e cinquenta léguas de costa - entre alguns de seus vassalos, como prêmio a serviços por estes prestados nas longínquas terras do Oriente.

E, entre os que mais se distinguiram no real serviço, estava Martim Afonso de Souza, Senhor de Alcoendre, Tagarro e Alcaide-Mor em Rio Maior; sendo fidalgo de limpa linhagem e autor de feitos heroicos largamente celebrados por seus contemporâneos, fez-lhe d. João III mercê de cem léguas de costa, para nelas fundar uma ou mais capitanias, com a faculdade de dá-las como sesmarias às pessoas que consigo viessem.

Embarcou Martim Afonso rumo ao Brasil, com grande esquadra, petrechos de guerra e nobres povoadores, entre os quais vinham seu irmão, Pedro Lopes de Souza, e alguns fidalgos da Casa Real.
"A nobreza com que Martim Afonso povoou São Vicente", escreve M. E. de Azevedo Marques, "foi mais numerosa e mais distinta do que mesmo supõem os que dela descendem".

Ver-se-ia bem provada essa verdade se chegasse a imprimir-se a "Nobiliarquia Histórica" - neologia da Província de São Paulo - que deixou incompleta o sargento-mor Pedro Taques de Almeida Pais Leme (Esta obra foi publicada na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1869).

Tendo partido em 3 de dezembro de 1530, fez Martim Afonso escala em vários pontos da costa do Brasil, desceu até o Rio da Prata, de onde regressou para, no dia 22 de janeiro de 1532, fundear na baía de São Vicente. Aí já viviam, entre os índios, alguns portugueses, dos quais a história guardou apenas dois nomes: João Ramalho, que vinha constantemente do planalto, e Antonio Rodrigues.

Desembarcado, Martim Afonso tratou de erguer uma povoação, fazendo edificar a Casa do Conselho, cadeia, igreja, estaleiro, fortim e demais casas necessárias à habitação dos colonos e serviços da administração, além de um engenho de açúcar, que foi o primeiro do Brasil. Pouco adiante, a pedra do Itararé servia de "marco de divisa" entre a capitania de Martim Afonso e a de seu irmão, Pedro Lopes de Souza; a conselho de Antônio Rodrigues fez o povoador construir outro fortim na Ponta de Santo Amaro, junto à barra da Bertioga.

Mas, longas e inumeráveis vicissitudes estavam em vias de desabar sobre a incipiente povoação; primeiro foram os índios Tamoios que, vendo os estrangeiros chegarem, não para traficar, mas para ficar, começaram a dar mostras de insopitável hostilidade. E a atitude ameaçadora dos indígenas a mando de Caiubí teria deflagrado em ação exterminadora, se não acudisse João Ramalho, vindo da Borda do Campo, com seu sogro Tibiriçá. Acalmados os indígenas, tratou Martim Afonso de organizar a Administração da colônia, nomeando juízes do povo, escrivães, meirinhos, almotacéis e mais servidores públicos, subindo então ao planalto conduzido por João Ramalho.

De regresso, e deixando em perfeitas condições o primeiro núcleo histórico fundado no Brasil, Martim Afonso, em 1533, regressou a Portugal, deixando como seu "loco-tenente", a pedido de sua esposa, o padre Gonçalo Monteiro, vigário da colônia.

A pacificação dos Tamoios, contudo, não fora definitiva, como se verá; antes, porém, que eles de novo se rebelassem, surge nova calamidade.

É que, certo dia, desembarca em Iguape, fugindo do Prata, o espanhol Rui Moschera, com grande número de aventureiros em nau armada. Gonçalo Monteiro intima-os a partir e, não sendo obedecido - pois Moschera afirma achar-se em terras de Castella - ataca-o com força armada; é infeliz, porém, pois sofre derrota, sendo sua força desbaratada.

Animado pelo sucesso, cai o corsário sobre São Vicente, saqueia-lhe o porto, pilha os armazéns, carrega o que pode e foge para o Sul, de onde não volta mais.

Sucede a Gonçalo Monteiro, na administração da colônia, o capitão-mor Antônio de Oliveira, nomeado pela esposa de Martim Afonso, dona Ana Pimentel.

INUNDAÇÃO, ATAQUES TAMOIOS, PIRATAS E CORSÁRIOS

Pouco depois, por volta de 1542, nova calamidade cai sobre os vicentinos; o mar, avançando pouco a pouco, devora a praia, entra pelo burgo e sepulta sob suas águas a Matriz, a Casa do Conselho, a Cadeia, os estaleiros e inúmeras residências.

Reconstrói-se a Vila pouco adiante, mas novo ataque dos índios alarma a colônia que, apanhada de surpresa e sem defesa - pois os homens haviam partido em socorro do Rio de Janeiro, fundado poucos anos antes - os Tamoios devastam as fazendas, benfeitorias e, na retirada, levam consigo quatro mulheres.

Pouco tempo depois, novo ataque; este, porém, é repelido, sendo os índios perseguidos até suas aldeias, de onde são trazidas as quatro raptadas.

Nada quebranta o ânimo dos vicentinos; mesmo em lutas constantes com os selvagens, vão eles, por duas vezes (1567 e 1580) em socorro do Rio de Janeiro, ameaçado de invasão pelos franceses, e, portando-se tão bem nessas pelejas, que receberam palavras de profundo reconhecimento do governador Mem de Sá.

Mas o século é da pirataria; corsários e bucaneiros, nas suas naus armadas em corso, varrem os mares da América, atacando indistintamente sumacas e galeões, bem como assaltando as vilas do litoral.
Hawkins, Drak, Fenton, Cavendish, Parker, Bartolomeu Português, Roque Brasiliano (que era holandês e vivera no Brasil), Diego "El Mulato", Francisco Nau Olonez, Mansvelt e centenas de outros enxameiam os mares, conduzindo suas naus, carracas, bergantins, urcas, fragatas e espalhando o terror nas povoações mal defendidas.

Essas hordas sinistras não agiam como bandos nômades - sem direitos e sem lei -, mas possuíam uma organização social das mais adiantadas; quando um aventureiro se engajava, ouvia a leitura de alguns artigos ou cláusulas que lhe impunham direitos e deveres, a que ele jurava obedecer até à morte.
Esse documento chamava-se "Charte-Partie".

Os salários de todos eles se fixavam cuidadosamente e, em caso de acidente - o que não era raro suceder - o acidentado tinha direito à indenização a que Philip Gosse faz referência em sua "História da Pirataria".

Quem perdesse o braço direito recebia 600 peças de ouro; o braço esquerdo valia 500 peças; a perna direita, 500; um olho, 100; um dedo 100 peças; é claro que, por mais essa razão, corsários, bucaneiros, flibusteiros e outros mais tinham que empenhar-se em constantes lutas, não só para conseguir mantimentos para sua subsistência, mas, principalmente dinheiro, muito dinheiro.

O Brasil, embora em proporções menores, não se livrou também dos ataques dos corsários, sendo que foi São Vicente uma das suas vítimas.

No dia 25 de dezembro de 1591, um pirata inglês, Thomaz Cavendish, fundeia fora da Barra de Santos e remete 23 homens armados numa chalupa, alta noite, com a incumbência sinistra de saquearem o porto e os armazéns; mas, sendo dia de Natal, achava-se grande parte da população na Igreja; os homens da chalupa sob o mando de Cook cercam o templo e, conservando o povo lá dentro sob a ameaça das armas, entregaram-se ao saque e depois a orgias desbragadas.

Isso deu azo a que o povo pudesse escapar da Igreja e fugir da vila, carregando consigo tudo que pudesse servir de presa aos flibusteiros.

Dias depois, não regressando Cook às naus, que se mantinham fora da barra, veio Cavendish à vila com mais homens e, encontrando-a abandonada, embarca de novo.

Levantaram ferros mas, ao passarem por São Vicente, lembraram-se de que ainda era tempo de se vingarem; desceram à terra e friamente puseram fogo na povoação, rumando em seguida para o Sul.
Mas, como um temporal colocasse em risco as suas naus armadas em corso, regressou a Santos e mandou um grupo de homens saquear o porto e arrebatar víveres a todo custo; dessa feita, porém, foram infelizes, pois a população enfrentou-os e, deles, só ficaram com vida dois, que foram levados para Santos.

Em 1615, tendo o almirante batavo Joris Van Spilbergen invadido o porto de Santos, mandou parte de sua esquadra buscar víveres em São Vicente; aqui ocuparam o engenho que, segundo os relatórios de viagem, havia sido construído por certa raça de gente vinda de Antuérpia, a que chamavam os "Escoceses" e, por mais de uma vez, entraram em luta com os vicentinos e moradores de São Paulo, que para aqui acudiram, em socorro, a mando do bandeirante Sebastião Preto.

A DECADÊNCIA DA VILA

Já a esse tempo São Vicente entrara em decadência, pois, atraídos pela nova povoação que se fundara nos Campos de Piratininga, e pelo surto do Bandeirismo, após a extinção de Santo André da Borda do Campo, os vicentinos iam pouco a pouco abandonando a capital do feudo de Martim Afonso de Souza.
Com efeito, quando Nóbrega resolveu visitar São Vicente, aproveitando a viagem do governador geral, foi aqui recebido em triunfo pelos vicentinos. O que o grane inaciano viu no vilarejo o convenceu da necessidade de fundar um povoado longe do litoral.

Com o nascimento de São Paulo, a decadência de São Vicente então se acelerou, deixando de ser cabeça da capitania, desde 1624, em benefício de Itanhaém, em consequência das questões entre os herdeiros de Martim Afonso de Sousa, para voltar a readquirir o título em 1679. Poucos anos depois, era São Paulo escolhida para a sede do governo. Isto, mais que outro fator, contribuiu para a completa paralisação da vida vicentina, que assim veio em marasmo até o século XIX, ao mesmo tempo em que toda a capitania de São Paulo decaía sensivelmente num pauperismo inglório, após haver abarrotado de ouro "os tonéis de Danaide", das arcas da metrópole.

Em 1836, segundo o quadro estatístico da Província de São Paulo organizado pelo marechal Daniel Pedro Muler, São Vicente não possuía escolas e, quanto ao resto... "a sua dificultosa barra concorreu para que a maior parte de seus primeiros habitantes elegessem a posição da vila de Santos e afluíssem para esta que tem engrandecida, enquanto aquela tem ido em decadência; contendo 745 habitantes, possui a vila os edifícios públicos da Matriz, com invocação de São Vicente, e a Casa da Câmara".
M. E. de Azevedo Marques, escrevendo seus preciosos "Apontamentos", por volta de 1870, diz melancolicamente:

"À má escolha do local e ao progresso da povoação de Santos, começada em 1540, deve a vila de São Vicente sua decadência rápida - que, tudo parece indicar, terminará com a extinção completa da povoação. Além da Matriz, a vila de São Vicente possui apenas a Casa da Câmara, em cujo edifício está também a sala de detenção".

Mas este sombrio prognóstico não se realizou; São Vicente, que através dos séculos resistira a todas as vicissitudes, numa irresistível vontade de sobreviver, venceu a sua própria decadência e ingressou no século XX, e aquilo que mais contribuíra par ao seu declínio - a sua inadaptação para porto comercial - foi o que, aliado à suavidade de seu clima, deu impulso à urbe vicentina, transformando-a numa das joias de nosso litoral.

Sinopse Estatística do Município – 1952- Departamento de Turismo. Autor desconhecido. Administração do Prefeito Charles A. de Souza Forbes. Publicado no site Novo Milênio

Rodrigues, José Wasth - Brasão com Armas de São Vicente, Acervo do Museu Paulista da USP


A VILLA PRIMITIVA

FREI GSPAR DA MADRE DE DEUS


Por estas, ou alguma outra razão que ignoro, levantou a Villa no fim da praia de Tararé, junto ao mar, em sitio alguma cousa distante do porto de Tumiarú, entre o qual e a povoação, se intromette um outeiro. O lugar da Villa não permittia desembarque, razão por que mandou o Capitão-mór abrir uma estrada que começava em S. Vicente, seguia pela praia de Tararé, continuava pela de Embaré, e ia finalisar no sitio onde hoje existe o Forte da Estacada, quasi defronte do Rio de Santo Amaro. Por aqui se conduzião para a Villa as cargas menos pezadas, e as outras ordinariamente ião pelo rio em canoas até Tumiarú. Para Matriz erigio uma igreja com o titulo de Nossa Senhora da Assumpção: fez cadêa, casa do Concelho, e todas as mais obras publicas necessárias; foi, porém, muito breve a duração dos seus edifícios; porque tudo levou o mar.

No anno de 1542 já não existia a casa do Concelho, e a povoação se tinha mudado para o lugar* onde hoje existe, segundo consta de alguns termos de Vereações d'esse tempo, nos quaes acho que os Camaristas se congregarão na Igreja de Nossa Senhora da Praia em 1 de Janeiro, e em 11 de Março, e na de Santo Antônio em 1 de Abril, e 20 de Maio do dito anno de 1542, por ter o mar levado as casas do Concelho (*). Pela mesma razão se assentou na Vereação de 1 de Julho deste anno fazer casa nova para o Concelho. 

Aos 3 de Janeiro de 1545, levarão em conta a Pedro Collaço, Procurador do Concelho, no anno antecedente, a quantia de 50 réis, que se havião gastado em tirar do mar os sinos e Pelourinho da praia; 20 a quem o conduzio para a Villa, e 250 que satisfizera a Jeronymo Fernandes por dar a pedra, barro, e água necessária para novamente se levantar o dito Pelourinho. Também a Igreja matriz veio a padecer o mesmo infortúnio, como provão as circumstancias de se extrahirem do mar os sinos, e a outra de dar o povo faculdade aos camaristas em Janeiro de 1545 para mandarem fazer nova Igreja com alicerces de pedra-, e o mais de taipa, coberta de telhas ou patiz, à custa do mesmo povo. Hoje é mar o sitio onde esteve a Villa.”

Fundação da Capitania de S. Vicente por Martim Affonso de Souza, seu Primeiro Donatário. In Frei Gaspar da Madre de Deus – Memórias para a História da Capitania de São Vicente hoje chamada de São Paulo. Santos, 3 de julho de 1784 – Ex Libris José Mindilin


Mapa das Vilas da Capitania de São Vicente feito no século XVI pelo cartógrafo Luis Teixeira: São Vicente, Porto de Santos – Santos, Nossa Senhora da Conceição – Itanhaém e Santo Amaro – Guarujá.


O FUNDADOR DA VILA E DO SISTEMA COLONIAL

Centro Monárquico do Porto - Leonor Especial



Trago hoje o explorador e soldado Martim Afonso de Sousa que nasceu em Vila Viçosa supõe-se que em 1490/1500 e morreu em Lisboa a 21 de Julho de 1564. Foi um militar com família na nobreza. Jaz em São Francisco de Lisboa.
in diversas fontes.

Martim Afonso de Sousa descendia dos Sousa Chichorro, cujo varão da geração inicial foi Martim Afonso Chichorro, filho bastardo de D. Afonso III com D. Dinis, elevado a altas posições sociais, políticas e económicas pela influência do seu pai.

Martim Afonso Chichorro teve um filho homónimo com D. Inês Lourenço cujo neto, Martim Afonso de Sousa teria um filho também chamado Martim Afonso de Sousa. Este último casar-se-ia com D. Violante Lopes de Távora, cujo filho Pero de Sousa se casaria com D. Maria Pinheiro. 

Deste casamento nasceria Lopo de Sousa, Senhor do Prado, Alcaide-Mor de Bragança e Outeiro e Duque de Bragança, que se casaria com D. Brites de Albuquerque. Deste casamento nasceria Martim Afonso de Sousa, Senhor do Prado e Alcoentre, e Capitão-Mor da Armada que foi ao Brasil em 1530.
Martim Afonso teve quatro irmãos: 

D. Catarina de Albuquerque, D. Isabel de Albuquerque, João Rodrigues de Sousa (Capitão da Armada do Estado Português da Índia) e Pero Lopes de Sousa (Capitão da Armada comandada pelo irmão, que foi ao Brasil em 1530).

Martim Afonso de Sousa estudou Matemática, Cosmografia e Navegação. Deixou o serviço do Duque de Bragança para servir El-Rei D. João II que era seu amigo de infância: “como era de um espírito elevado e queria esfera onde se dilatasse em coisas grandes, largou a Alcaidaria- Mor de Bragança e outras mercês que tinha do Duque, para servir ao Príncipe D. João, filho do Rei D. Manuel. Depois foi a Castela e esteve algum tempo em Salamanca e voltando a Portugal, D. João III, que já então reinava, o recebeu com muita estima e honra porque Martim Afonso de Sousa foi um fidalgo em quem concorreram muitas partes, porque era valoroso, dotado de entendimento e talento grande”.
Acompanhou a Rainha viúva D. Leonor a Castela e aí lutou sob o governo de Carlos V contra os franceses.

Iniciou a sua carreira de homem de mar e guerra ao serviço de Portugal em 1531 na armada que o Rei determinou mandar ao Brasil, nomeado desde fins de 1530 por ser primo-irmão de D. António de Ataíde, membro do Conselho Real e por ter a amizade e confiança de El-Rei.
Viveu quatro anos em Espanha onde se casou com D. Ana Pimentel, Dama da Rainha Católica D. Catarina, irmã de D. Bernardino Pimentel, 1º Marquês de Tavara, filha de D. Pedro Pimentel, Senhor de Tavara, Comendador de Castro-Torense na Ordem de Santiago, o qual morreu a 6 de Fevereiro de 1504, e irmã de D. Rodrigo Afonso Pimentel, 3º Conde de Benavente. O casamento foi feito por D. Pedro, que dotou a filha, com assistência do irmão o Conde de Benavente, sendo o contrato de casamento firmado em Tordesilhas.(carece de fontes)

D. Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, foi Procuradora relativamente aos negócios do Brasil, ao partir Martim Afonso de Sousa para a Índia. Foi ela quem em 1534, providenciou para que se introduzisse o primeiro ”gado vacum” na Capitania de São Vicente e quem em 1544, revogou a ordem do esposo, que proibia a entrada de europeus no campo de Piratininga e assim, permitiu a expansão portuguesa para os Campos de S. Paulo.

A historiografia tradicional brasileira encara a sua expedição como a primeira expedição colonizadora. Levava Regimento para expulsar os franceses da costa brasileira, colocar padrões de posse desde o Rio Maranhão até ao Rio da Prata, o qual não alcançou em função de ter naufragado antes, e dividir a costa brasileira em capitanias medidas em léguas de costa que seguidamente El-Rei concederia a donatários.
Martim Afonso de Sousa estava autorizado a escolher para si mesmo cem léguas de costa da melhor terra e outras cinquenta para seu irmão mais novo Pero Lopes de Sousa.

Fundou em 22 de Janeiro de 1532 a primeira vila do Brasil, batizando-a de Vila de São Vicente, uma homenagem a São Vicente Mártir, por ser o dia consagrado a este santo, confirmando o nome dado por Gaspar de Lemos trinta anos antes, quando chegou àquela ilha, coincidentemente a 22 de Janeiro de 1502.

Graças às medidas tomadas por Martim Afonso de Sousa, São Vicente tornou-se a "mãe das vilas brasileiras" (primeira vila do Brasil) e "berço da democracia americana", visto que no dia 22 de Agosto de 1532, elegeu a primeira Câmara dos Vereadores, sendo assim a primeira eleição popular realizada no continente americano.

Martim Afonso de Sousa partiu de Lisboa no dia 3 de Dezembro de 1530 com quatro naus, tendo como imediato o irmão mais novo Pero Lopes de Sousa e transportando cerca de quatrocentas pessoas como escreve Pedro Taques:

"De Lisboa saiu o governador Martim Afonso de Sousa com armada de navios, gente, armas, apetrechos de guerra e nobres povoadores, tudo à sua custa: com ele foi também seu irmão Pedro Lopes de Sousa, a quem o mesmo Rei tinha concedido oitenta léguas de costa para fundar a sua capitania, e faleceu afogado no mar. Martim Afonso de Sousa levou além da muita nobreza, alguns fidalgos da Casa Real, como foram Luís de Góis e sua mulher D. Catarina de Andrade e Aguilar, seus irmãos Pedro de Góis, que depois foi Capitão-Mor da armada pelos anos de 1558, e Gabriel de Góis; Domingos Leitão, casado com D. Cecília de Góis, filha de Luís de Góis; Jorge Pires, Cavaleiro Fidalgo; Rui Pinto, Cavaleiro Fidalgo casado com D. Ana Pires Micel, Francisco Pinto, Cavaleiro Fidalgo, e todos eram irmãos de D. Isabel Pinto, mulher de Nicolau de Azevedo, cavaleiro fidalgo e senhor da quinta do Rameçal em Penaguião, e filhos de Francisco Pinto, Cavaleiro Fidalgo, e de sua mulher Marta Teixeira, que ambos floresciam pelos anos de 1550, e quando a 18 de Junho do dito ano venderam por escritura pública em Lisboa aos alemães Erasmo Esquert e Julião Visnat as terras que de seu filho Rui Pinto tinham herdado na Vila de S. Vicente: tudo o referido se vê no liv. 1º dos Registros das Sesmarias, tít. 1555, já referido, págs. 42 e seguintes. Outros muitos homens levou desta qualidade com o mesmo foro e também com o foro de moços da Câmara, e todos ficaram povoando a Vila de S. Vicente, como se vê melhor no mesmo livro 1º do Registo das Sesmarias Per Totum."

Depois de percorrer todo o litoral até à foz do Rio da Prata onde sobreviveu a um naufrágio, como desdobramento da sua missão, regressou à região de São Vicente a 21 de Janeiro de 1532 e, com ajuda de João Ramalho e António Rodrigues, moradores na região que tinham feito amizade com os caciques Tibiriçá e Caiubi, fundou a primeira Vila nos moldes portugueses no Brasil: a Vila de São Vicente. Na região do planalto (o mesmo onde hoje se ergue a cidade de São Paulo) e ainda graças a João Ramalho, estabeleceu em Piratininga uma pequena aldeia de duração efémera. Em São Vicente, iniciou a cultura da cana-de-açúcar e ordenou a instalação do engenho dos Erasmos.

Combateu corsários franceses no litoral e foi agraciado pela Coroa portuguesa, sob o reinado de D. João III, como Capitão-Donatário de dois lotes de terras no Brasil: os dois lotes da Capitania de São Vicente. Desde Outubro de 1532, recebera a comunicação do Rei de que o imenso território seria dividido em extensas faixas de terras: as capitanias hereditárias. Na ocasião, foram-lhe doadas cem léguas na costa e recebeu autorização de regressar a Lisboa.

A sua expedição levou para o Brasil, como ferreiro contratado por dois anos, para prover as necessidades de ferro da expedição e da colónia, o mestre Bartolomeu Fernandes, também conhecido como Bartolomeu Gonçalves e Bartolomeu Carrasco. Terminado o contrato, mestre Bartolomeu fixou-se em solo paulista, tornando-se proprietário do sítio dos Jeribás e instalando, nas margens do Jurubatuba, afluente do Rio Pinheiros, na Vila de Santo Amaro, a primeira forja no Brasil para produção de aço…facto mencionado pelo Padre José de Anchieta, em 1554. Com quatro operários conseguiu-se produzir e forjar cem quilogramas de ferro em seis ou sete horas, consumindo quatrocentos e cinquenta quilogramas de carvão vegetal.

Nomeado Capitão-Mor do Mar das Índias (1533), Martim Afonso de Sousa foi encarregado de proteger as possessões de Portugal no Oriente. Defendeu a feitoria de Diu contra mouros e hindus, derrotou o Rajá de Calcutá e combateu os corsários que saqueavam as embarcações portuguesas na região. Vitorioso, foi nomeado por D. João III (1542) Vice-Rei das Índias.

Há controvérsia quanto ao fim da sua carreira. Alguns historiadores afirmam que ele regressou a Portugal em 1545 ou 1546, tornando-se um dos membros do Conselho de Estado. Outros sustentam que foi chamado de volta sob a acusação de desvio de dinheiro da Coroa e enriquecimento ilícito, mantendo-se afastado da vida pública até morrer.

Na carta de 20 de Novembro de 1530 D. João III, confere a Martim Afonso de Sousa jurisdição sobre os tripulantes da armada e sobre todos os habitantes da Colónia:

Carta de Grandes Poderes ao Capitão-Mor, e a quem ficasse em seu lugar.
Carta de Poder para o Capitão-Mor criar Tabeliães e mais Oficiais de Justiça.
Carta para o Capitão-Mor dar terras de Sesmaria.

Já em 1534 Martim Afonso de Sousa se encontrava em Portugal. D. João III mandou-o servir na Índia com o posto de Capitão-Mor do Mar Índico. Embarcou na Armada de cinco naus, que governava.
Chegando à Índia, diz a “História Genealógica da Casa Real Portuguesa” volume XIV página 241: “o Governador Nuno da Cunha refletiu que El Rei em Martim Afonso de Sousa lhe mandava não só o Capitão Mor do mar, mas companheiro, e sucessor no Governo. No fim deste ano, o Governador dá-lhe posse, mandando-o para a Praça de Damão, situada no Reino de Cambaia, com 40 velas, e 500 portugueses que rendeu, sendo mortos quase todos os inimigos e a Fortaleza foi arrasada. O Rei de Cambaia, temendo maiores perdas, querendo na amizade dos nossos evitá-la, pediu pazes ao Governador do Estado Nuno da Cunha, que foram juradas solenemente com a condição de dar a El Rei de Portugal para sempre Baçaim”. Foram duras condições de direitos a pagar, que se vieram a moderar quando se concedeu levantar-se a Fortaleza de Diu, conseguida por negociações por Martim Afonso de Sousa quando no ano de 1535 se achava em Chaul.

Em 1536 Martim Afonso foi mandado à costa do Malabar “e destruiu e assolou todos os lugares marítimos do Reino do Samorim, que estava com os seus aliados todos os Príncipes de Repelim, que destruiu. Estas e outras empresas conseguiram-lhe o respeito e temor na Ásia e voltando para o Reino, sucedeu depois da morte do Vice-Rei D. Garcia de Noronha a 3 de Abril de 1540; e aberta a via de sucessão, foi nomeado Martim Afonso de Sousa; e como tinha voltado para o Reino, sucedeu D. Estêvão da Gama no governo, que os seus parentes quiseram dilatar; porém o Conde da Castanheira, primo de Martim Afonso, fê-lo nomear para Governador da Índia, para onde partiu a 7 de Abril de 1541 com quatro naus, levando consigo  São Francisco Xavier; (…) entrou em Goa a 6 de Maio de 1542. (…) Em 1545 sucedeu-lhe D. João de Castro.

Foi Senhor de Alcoentre, que comprou ao Marquês de Vila Real e Alcaide-Mor de Rio-Maior. Instituiu um morgado, foi donatário das capitanias de São Vicente e do Rio de Janeiro, Comendador de Mascarenhas na Ordem de Cristo e Fidalgo do Conselho de El-Rei D. João III. No final da vida recuperou o Senhorio do Prado que tinha vendido quando jovem.

Descendência:
Do seu casamento Martim Afonso de Sousa com Ana Pimentel deixaram numerosos filhos:

Pedro ou Pero Lopes de Sousa, senhor de Alcoentre e Alcaide-mor de Rio Maior;

Lopo Rodrigues de Sousa, morto ao acompanhar o pai à Índia;

Rodrigo Afonso de Sousa que entrou na Ordem de S. Domingos e professou como Frei António de Sousa. Foi eleito Prior de S. Domingos em Lisboa, Provincial no ano de 1550, Mestre da Ordem e Pregador do Rei D. Filipe II. Em 1580 passou a Roma, ao Capítulo Geral da Ordem. O Papa Clemente VIII nomeou-o Vigário Geral de toda a Ordem dos Pregadores em 1594. Foi nomeado Bispo de Viseu em 1595, tendo governado com prudência. Morreu em Maio de 1597;

Gonçalo Rodrigues de Sousa, morto sem sucessão;

D. Inês Pimentel, casada com D. António de Castro, 4.º Conde de Monsanto;

D. Brites Pimentel, que morreu estando comprometida com D. Luís de Ataíde, mais tarde 3.º Conde de Atouguia e Vice-Rei na Índia;

Fora do casamento teve: Martim Afonso de Sousa; Tristão de Sousa, que passou à Índia e foi Capitão de Maluco; Isabel Lopes de Sousa, que casou em São Vicente com Estêvão Gomes da Costa. Este Estêvão Gomes da Costa era natural de Barcelos e passou ao Brasil em 1531 com a expedição de Martim Afonso de Sousa.

ANA PIMENTEL, 

A PRIMEIRA MULHER À FRENTE DE UMA CAPITANIA NO BRASIL

MARIA LUÍSA VIANA DE PAIVA BOLÉO



Esta minha intervenção tem como objetivo dar a conhecer mais um rosto feminino da Expansão Portuguesa, que para maioria dos portugueses é pouco conhecido e que, como tantos outros, merece figurar na História de Portugal num lugar digno e não no de simples nota de rodapé.
Ana Pimentel foi a primeira mulher que na América Portuguesa exerceu o cargo de governadora, com os poderes inerentes a esse cargo.Portugal, em 1500, tinha uma população aproximada de dois milhões de almas. Foi o ano oficial da descoberta do Brasil, por Pedro Alvares Cabral, o ano do segundo casamento do rei D. Manuel I e do nascimento, em Vila Viçosa, de Martim Afonso de Sousa, filho primogênito de Lopo de Sousa, senhor da Vila Terra do Prado, de Paiva e Baltar, do Conselho do rei e aio de D. Jaime e da sua terceira mulher, Joana de Albuquerque, cujo pai servia o rei D. Afonso V. Um ano ou dois depois nasceria seu irmão, Pero Lopes de Sousa, tendo ambos sido capitães donatários das Terras de Santa Cruz. Legaram-nos testemunhos escritos pelo seu próprio punho, de grande importância, não só para as Histórias de Portugal e Brasil, mas também para o estudo das suas multifacetadas personalidades.
Na brevíssima e sumária autobiografia' com data de 1557, Martim Afonso de Sousa dá-nos algumas informações sobre aquilo que foi a sua vida recheada de grandes feitos ao serviço de Castela e do reino, falando quase exclusivamente das suas ações como militar e homem do mar no Brasil e na índia. Quanto à referência a sua mulher - Ana Pimentel- apenas diz que casou e quando veio com ela para Portugal, tendo ambos ido para Évora, onde nessa época estava instalada a corte. Os cargos que exerceu na corte portuguesa, depois no Brasil e mais tarde na índia, permitem-nos através de cartas e crônicas de contemporâneos seus, nomeadamente de Diogo de Couto, D. João de Castro, Gaspar Correia e seu irmão, Pero Lopes de Sousa, traçar o percurso e a personalidade deste fidalgo e homem do mar no século XVI português.
Auguste de Sainte-Hilaire classifica nestes termos esses homens:
"A uma fé ardente, mas pouco esciarecida, a uma generosidade levada a imprevidência juntavam um espírito empreendedor e aventureiro, uma grande intrepidez, muito orgulho, o amor da glória, o desejo de adquirir riquezas para dispersá-Ias e brilhar e sobretudo uma rudeza de costumes, contra a qual lutava em vão a inefável doçura do Cristianismo'",
Martim Afonso de Sousa era "tanto da privança" do futuro rei D. João 111,que o pai, D. Manuel I, ao aperceber-se do ascendente que ele exercia sobre o filho, o manda, por duas vezes, regressar a Bragança, à casa paterna. Mas Martim Afonso, então com 17 anos, responde aos conselheiros do Rei Venturoso que não tencionava voltar, e esta desobediência permite-nos perceber o à-vontade com que se movimentava na corte, ou não fosse ele próprio descendente de um filho bastardo do rei D. Afonso III e da moura, filha do alcaide de Faro, que depois de batizada tomou o nome de Madalena Gil. Foram o rei e esta moura pais de Martim Afonso Chichorro, bisavô de Martim Afonso de Sousa, que era por sua vez primo direito do que viria a ser primeiro Governador do Brasil, Tomé de Sousa, e do Conde de Castanheira, o mais alto valido de D. João 111. D. Manuel I faleceu em dezembro de 1521 e a rainha D. Leonor, sua terceira mulher, permaneceu em Portugal até 1523, havendo grande parte da nobreza e até do povo que via com bons olhos o casamento do herdeiro do trono, D João 111, com a madrasta (a quem estivera prometido), mas o Imperador Carlos V, irmão da rainha viúva, inviabilizou esse projeto, muito provavelmente por questão de dote. Se D. Leonor casasse com o rei português, a sua fortuna, que era imensa, ficaria no nosso país (por essa mesma razão, sua filha e irmã de D. João 111 nunca casou - foi a infanta Dona Maria que ficou celebrizada na nossa história como inspiradora de Camões e que na corte formou um grupo de senhoras que se distinguiram pela sua elevada cultura). Posta a ideia de parte, D. João III vai dar a Martim Afonso de Sousa a incumbência de acompanhar à Espanha a rainha D. Leonor.
Será durante esta estadia na corte espanhola, que Martim Afonso casará, em maio de 1523, com Ana Pimentel. Diogo de Couto diz-nos que Martim Afonso de Sousa se foi a Salamanca, onde se enamorou de uma dama castelhana chamada dona Ana Pimentel, com quem se casou e a trouxe para Portugal"
Ainda hoje não há consenso quanto à ascendência dessa fidalga,que seria filha de Dom Francisco Maldonado ou de seu irmão, Dom Rui Dias Maldonado, filhos por sua vez de Dom Arias Maldonado, senhor da Casadas Conchas em Salamanca, de onde era Regedor, bem como Talavera, casado, desde 1494, com D. Joana ou Inês Pimentel, que fora dama da corte de Isabel, a Católica. Há quem ainda ponha hipótese de ser filha de Dom Rodrigo Ayres Maldonado, de Talavera, embaixador de Castela em Portugal, pai de Catarina Maldonado, que alguns admitem ser irmã de Ana Pimentel.
Não podia haver casamento mais equilibrado, em termos de ascendência nobre, e no sangue terá, além da nobreza, corrido o gosto de aventura, que na época significava gosto pelo mundo que estava para lá do mar ignoto. O destino, porém, traçou-Ihes rotas bem diversas.
Um mês depois de casado, Martim Afonso parte para a guerra que Carlos V mantinha contra Francisco I de França"
Em fevereiro de 1525, regressa com a mulher, Ana Pimentel a Évora, trazendo a rainha, D. Catarina, filha de Felipe, o Belo, de Castela e de Joana, a Louca, casada por procuração com D. João 111, em agosto de 1524.
Para estreitar as relações entre os dois países, Carlos V casa com D. Isabel, irmã de D. João 111. A viúva de D. Manuel casará, em 1530, com Francisco I, de França, para cimentar a paz assinada em 1529
Ana Pimentel vai cumprir bem a sua missão de mãe. Teve oitofilhos: 5 varões e 3 filhas. Foram eles: Pedro Lopes de Sousa (como tio), que casaria com Ana da Guerra, pai de Mariana da Guerra; Lapa Raiz (Rodrigues) de Sousa, que vai morrer ainda mancebo no mar, quando acompanha o pai numa viagem à índia (1541-1542); Afonso de Sousa, que professou como dominicano, em 1557, foi bispo de Viseu, em 1594, e tomou o nome de Frei Antônio de Sousa; Rodrigo Afonso de Sousa e Gonçalo de Sousa, que morreram sem descendência; Inês Pimentel, que casou com Antônio de Castro, senhor de Cascais e da Lourinhã, 4° conde de Monsanto; Brites Pimentel, que esteve prometida a Luís de Ataíde, conde de Atouguia, mas morreu solteira, e Catarina de Sousa, que morreu sem estado.
Ana Pimentel e o marido regressaram de Espanha em 1525 e até 1529 o casal vai viver na Corte, conforme as suas próprias palavras: "e fiquei servindo assim na corte até a era vinte e nove'". Desde 1528 chegavam a D. João 111 notícias preocupantes sobre os ataques dos navios franceses às costas brasileiras, que ali se deslocavam frequentemente para carregarem clandestinamente pau-brasil e animais exóticos, ignorando o Tratado de Tordesilhas assinado, em 1494, entre Portugal e Espanha e que Francisco I não reconhecia. Havia também persistentes notícias sobre as descobertas, por parte dos espanhóis, de jazidas de metais preciosos na região do Rio da Prata. O rei português vai tomar medidas imediatas. O rei vai incumbir Martim Afonso de Sousa de uma tripla missão: escorraçar os franceses das costas do Brasil, que ele despejou de corsários franceses que iam tomando neles muito pé, descobrir e povoar terras e explorar alguns rios. Foram-lhe conferidos amplos poderes e a sua ação em Terras de Santa Cruz viria a ser início da colonização sistemática daquela imensa colônia?
Esta escolha, por parte do rei, era um grande privilégio e poderá ter sido sugerida pelo mais alto valido rei, D. Antonio de Ataíde, primo co-irmão de Martim Afonso, como já referimos (filho de uma irmã do pai).
A 3 de dezembro de 1530, uma frota de duas naus, um galeão e duas caravelas, capitaneada por Martim Afonso de Sousa, acompanhado por seu irmão Pero de Sousa e outros fidalgos, com uma tripulação composta por portugueses e estrangeiros, num total de mais de 400 homens, zarpa do Tejo com destino às costas brasileiras.
Em fevereiro de 1531, Martim Afonso divide a esquadra em duas, para um melhor conhecimento da costa, tendo um grupo chegado ao rio Maranhão e o outro, sob seu comando, fará o mesmo entre Pernambuco e o Rio da Prata. Vão, de imediato, defrontar-se com navios franceses, a quem não dão tréguas, evitando as tentativas de penetração daqueles na colônia portuguesa.
A 30 de abril de 1531, chegam à ilha de São Vicente.
Segundo Afrânio Peixoto na sua História do Brasil, Martim Afonso de Sousa estava em Pernambuco quando soube da decisão do rei em dividir o Brasil em capitanias. Resolução é de 1S32, as doações de 1533, já Martim Afonso estava de partida para índia.
Um encontro importante deu-se entre Martim Afonso e João Ramalho, há muitos anos a viver no Brasil, casado com Bartira (Flor), filha do chefe Tibiriçá, pai de um prole de mamelucos que teve uma influência decisiva no modo amistoso como os aborígenes receberam estes portugueses", Em março, a armada de Martim
Afonso de Sousa chega à Bahia de Todos os Santos. É aqui que se dá outro encontro importante - com Diogo Álvares (o Caramuru), que presta ao navegador português preciosas informações para o reconhecimento da costa. Daqui partirá uma expedição para o interior do sertão em busca de ouro, mas Martim Afonso cedo se desinteressou do Brasil, muito provavelmente devido às infrutíferas incursões pelo sertão, em busca de metais preciosos. Tendo mandado explorar a região de Cananeia, perto da atual São Paulo, aconteceu-lhe que todos os seus homens foram mortos pelos índios.
Quanto a introdução de escravos negros no Brasil, não há datas exatas. Há quem pretenda que a caravela encontrada por Martim Afonso de Sousa na Bahia em 1531 e por ele tomada ao seu serviço, depois de fazer desembarcar os escravos que transportava, já se empregasse nesse comércio. Nas doações das capitanias em que foi dividido o Brasil por D. João 111 (1532 e 1535) conferiam- se aos donatários poderes, mesmo de morte, também sobre os escravos". Ana Pimentel e o marido João Ramalho foi fundador da cidade de Santo André da Borda do Campo. O casal teve oito filhos. O padre Manuel da Nóbrega batizou Bartira, que tomou o nome de Isabel Dias. 
Martim Afonso de Sousa vai preparar o regresso ao reino. O governo de São Vicente ficou assegurado pelo seu lugar-tenente e capitão-mor, com todos os poderes que lhe tinham sido conferidos em cartas régias de novembro de 1530. Ficaram com ele 300 colonos para continuarem a exploração da terra, em especial da cana-de-açúcar. Como é sabido, os primeiros engenhos introduzidos no Brasil foram para São Vicente.
Deixou já construída uma igreja, uma fortaleza, um pelourinho - símbolo da justiça - e um estaleiro para preparação de navios. O primeiro capitão-donatário foi também o fundador de Piratininga,a nove léguas de São Vicente, no interior de sertão que era domínio quase exclusivo de João Ramalho e que viria a ser o embrião da futura cidade de São Paulo".

ANA PIMENTEL - PROCURADORA
Martim Afonso regressa ao reino na primeira quinzena de agosto de 1533 e irá partir para índia em 12 de março de 1534, por três anos (que na prática foram cinco}, como capitão-mor do mar, não sem ter primeiro nomeado a sua mulher, Ana Pimentel, procuradora dos seus negócios no Brasil. E é esta fidalga, dama da rainha D. Catarina, mãe de família, habituada a trabalhos delicados e rodeada de criados, que ao saber das notícias alarmantes da sua capitania de São Vicente, quase abandonada nas mãos de inábeis administradores, constantemente atacados pelas tribos locais e pelos cobiçosos homens de Carlos V, que decide partir para o Brasil, para tratar, bem de perto, das terras de que era proprietária pelo casamento e como administradora.
Não sabemos como foi tomada esta decisão, se terá trocado cartas com o marido, se alguém da corte lhe aconselhou a partida ou se foi uma iniciativa pessoal. Nem sempre temos um perfil muito correto destas damas fidalgas de meados do século XVI português.
Teriam alguma margem de iniciativa?
Ana Pimentel tinha sangue espanhol e sabia certamente que outras mulheres do seu país de origem já há anos tinham partido para as índias espanholas. Possivelmente as primeiras espanholas que chegaram à América foram na expedição de frei Nicolau de Ovando até La Espafíola, quando corria o ano de 1502. Assim o afirma o cronista Fernandez de Ovledo!'.
Ignoramos a data exata da partida de Ana Pimentel, mas tudo nos leva a crer ter sido depois de 1536, visto que, já como procuradora do marido, vai reconduzir o padre Gonçalo Monteiro como lugar- tenente da capitania, num documento lavrado em Lisboa. Com data de 1538 substitui Gonçalo Monteiro pelo capitão Antonio de Oliveira à frente dos destinos da capitania, já em documento lavrado no Brasil.
Com o apoio dos jesuítas, colonos e gente fidalga que acompanhou nesta arrojada travessia do Atlântico, Ana Pimentel vai fazer prosperar, pouco a pouco, a vida em São Vicente. Consta mesmo que na Armada em que viajou embarcou também gado bovino - o primeiro que entrou no Brasil - e alfaias para exploração das terras, prática que foi comum na colonização portuguesa.
Ela também terá provavelmente estado na origem da fundação do Hospital da Misericórdia.
Segundo Viriato Correia, escritor brasileiro já do século XX, em Terra de Santa Cruz os primeiros garrotes (bezerros) e as primeiras vacas vieram de Portugal e não das Antilhas. Vieram em navio português para São Vicente. Martim Afonso já não estava na capitania, havia partido para as índias - e administrava São Vicente a saia varonil de D. Ana Pimentel, esposa de Martim ... - Devia ter sido pelos anos de 1534 a 1536.

CONFUSÃO DO FREI

Há notícia de outra mulher ida do reino para São Vicente: foi a mulher de João Gonçalves, que terá embarcado em 1537, como refere Frei Gaspar da Madre de Deus. O padre Francisco Soares, em Coisas Notáveis do Brasil, conta-nos como Ana Pimentel enfrentou com três canoas, no rio Paraíba, os índios rebeldes e como ela, com sua fraca tripulação e a sua fé (fez ela logo o sinal da Cruz) conseguiu capturar três índios, demonstrando bem a sua completa integração no meio e como era da sua responsabilidade não permitir que os índios abandonassem a sua capitania, como quase sempre acontecia. O autor faz, no entanto, algumas confusões dizendo que o marido de Ana Pimentel era índio, confusão essa muito provavelmente devido ao fato de o chefe índio Tibiriçá, que apoiara Martim Afonso quando da sua missão em São Vicente, em homenagem ao governador e depois de batizado, ter adotado o seu nome passando a chamar-se Martim Afonso Tibiriçá.
Ana Pimentel empenhava-se seriamente no desenvolvimento da sua donataria e era ela quem acompanhava assementeiras, tendo introduzido ou desenvolvido o cultivo do trigo. O seu marido regressa da primeira estadia na índia, em 1539, e será nomeado governador em 1541. Nesta segunda viagem, parte com ele um filho, que vai morrer na travessia, e o grande S. Francisco Xavier. Governou três anos e quatro meses e deixou essas funções em 12 de setembro 1545. Veio na nau S. Tomé em dezembro desse ano. Ana Pimentel terá permanecido entre 7 e 9 anos à frente da donata ria, sendo de destacar a sua ação também no desenvolvimento da cultura do arroz e introdução da laranja.
À abundância de arroz na capitania de São Vicente vão referir-se frei Gaspar da Madre de Deus, Gabriel Soares de Sousa e frei Vicente do Salvador.
Do maior relevo são documentos das escrituras de doação das terras de Jeribatiba a Brás Cubas - também ele uma das glórias da colonização do Brasil - e fundador da cidade de Santos, no prosseguimento das terras já doadas por Martim Afonso em 1532.
Os documentos foram assinados por Ana Pimentel, em 26 de novembro de 1540. (Ele estará nesse cargo até 1549, ano em que o Brasil passa a ter um governo-geral com Tomé de Sousa e depois assumirá novamente o cargo em 1556.)
Foi também Ana Pimentel quem, em 1544, assinou a revogação da proibição de acesso ao sertão, determinada pelo marido, e que será o início da penetração do sertão e abertura de um capítulo novo na história daquela colônia.
Como terá sido o seu regresso ao reino? Como se podia retomar uma vida na Corte depois do contato direto com a natureza selvagem, com a sua beleza e os seus perigos? A vida quotidiana com os colonos e os aborígenes até que ponto marcou esta fidalga?
Tantas perguntas sem respostas. Podemos ter uma certeza: Ana Pimentel, depois dos anos passados no Brasil, não permaneceu a mesma mulher que era antes de partir. Todo o seu restrito mundo foi enriquecido com uma vivência que raríssimas portuguesas, na sua época, tiveram o privilégio de experimentar. 
Camões refere-se elogiosamente a"Martim Afonso de Sousa no Canto X de Os Lusíadas, e Damião de Góis Dora que era cobiça de honra como de dinheiro e que trouxe muito dinheiro com ele, com que fez umas famosas casas e grandes, junto com S. Francisco de Lisboa, e comprou Alcoentre ao marquês de Vila Real e muita renda de juro.
A estas casas se refere também frei Francisco de Santa Maria, dando como certo um diálogo entra a rainha D. Catarina e D. Ana Pimentel:
"Dizem-me que fazeis umas casas muito famosas para quando vier Martim Afonso!" a que Ana Pimentel teria respondido Senhora, se ele vier pobre, aquelas casas bastam; se vier rico, ali está o timoeiro':

"Alcoentre foi comprada por Ana Pimentel em 1542, ia o marido em viagem para Goa. Também Diogo do Couto se referiu a Martim Frei Francisco de Santa Maria, Ano histórico, tomo Afonso: "foi este governador homem de boa estatura, gentil homem e aprazível. Vai suceder-lhe a D. João de Castro como governador da índia".
Teria Martim Afonso apreciado devidamente sua mulher, Ana Pimentel?
Muito provavelmente ter-se-ão encontrado no reino em 1546, e até à morte de Martim Afonso, em 157113, foram quase trinta anos de vida em comum. Como terá sido o quotidiano deste casal, que saía dos padrões da época? Da vida privada de ambos sabemos muito pouco.
Martim teve um filho bastardo na índia - Tristão de Sousa- que ali viveu no tempo do vice-rei D. Constantino. Lácasou e teve um filho, Luísde Sousa, que foi padre dorninicano".
Sabemos também que, em 20 de abril de 1558, Martim Afonso de Sousa e Ana Pimentel obtiveram um alvará para, no caso de seu filho primogênito não ter sucessor, a herança passar para a irmã, Inês Pimentel. Este filho mais velho de Martim Afonso será herdeiro de Alcoentre; em 4 de agosto de 1578 vai morrer na batalha de Alcácer Quibir, bem como o filho de Lopo de Sousa. Embora não tenha tido acesso ao seu testamento, que existe, mas supomos ter sido comprado por um particular, sabe-se que o casal lhe acrescentou dois codicilos, em 1570, para que também a neta - Mariana da Guerra - pudesse herdar terras do pai.
Nesse ano Martim Afonso e Ana Pimentel estavam longe de saber que iriam sofrer a perda desse filho e do neto na mais trágica batalha da nossa história.
A data exata da morte de Martim Afonso de Sousa ignora-se, mas é posterior a 1570, visto que em 3 de novembro de 1570 há documentos assinados por ele. Aponta-se como data provável antes de junho de 1571. Em enciclopédias portuguesas recentes ainda consta data de 1564, fruto de um erro cometido de inicio por Varnhagen, mas foi posteriormente corrigido. Uma das provas da data da morte de Martim Afonso é um alvará que consta da chancelaria da Ordem de Cristo, com data de 6 de junho de 1570, em que lhe concedia uma tença de 90000 reais em consequência da quebra que tivera na compra de Sta. Maria de Mascarenhas. 
Martim Afonso de Sousa e sua mulher acumularam uma fortuna considerável e as casas junto de São Francisco referem-se ao convento de São Francisco, perto das antigas portas de Santa Catarina (hoje Rua Garrett) que pertenceram à família até serem demolidas já no século XIX.
De destacar que, se Ana Pimentel se encontra entre as mulheres fundadoras da cidade de São Paulo, outras houve, não menos famosas, como a viúva de Duarte Coelho, capitão donatário de Pernambuco - Brites de Albuquerque -, que esteve a frente dos destinos da capitania entre 1554 e 1560 e depois da morte do filho mais velho, tendo assumido de modo notável as funções, negociando mesmo alianças com os aborígenes. Ana Pimentel terá sobrevivido ao marido? Não encontramos qualquer documento que nos permitisse avançar com uma data provável da sua morte. Porém, em contato com descendentes seus, tenciono prosseguir a investigação sobre a vida e morte desta importante portuguesa de Quinhentos.
Na América Portuguesa, as duas donatarias com maior sucesso - São Vicente e Pernambuco - tiveram no início da sua administração mulheres que pela sua ação passaram à posteridade. Muitas mais houve que se destacaram na História da Expansão Portuguesa.
A nós cumpre-nos não só não as esquecer como dar-Ihes o relevo merecido numa História de Portugal a reescrever.

FONTE: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo

MARIA LUÍSA VIANA DE PAIVA BOLÉO nasceu em Coimbra, em 7 dedezembro de 1942. Frequentou o curso de Belas Artes no Porto e em Lisboa. Licenciada em História. Fez a parte curricular do mestrado em História e Literatura do Brasil, na Universidade Clássica de Lisboa. Foi colaboradora em regime free lancer em diversas revistas portuguesas. Participou em diversos congressos, apresentando trabalhos sobre mulheres na História de Portugal, Espanha e Brasil e especializou-se em história das mulheres. É membro Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Publicou "O. Maria I, a Rainha Louca", Lisboa, Esfera dos Livros, 2009.


OS PRIMEIROS VICENTINOS

DESTACADOS MORADORES DE 5 A 30 ANOS ANTES DE MARTIM AFONSO DE SOUZA


"Provavelmente logo nos primeiros dias de estada em São Vicente a expedição encontrou-se com João Ramalho, seja por este se encontrar na ilha, seja por ter sido avisado pelos habitantes do “porto dos escravos da chegada de Martim Afonso. É muito provável que ele e Tibiriçá já esperassem essa chegada, caso tenha sido mesmo o chefe tupiniquim o “rei” que se encontrou cerca de oito meses antes com os expedicionários no Rio de Janeiro. O fato é que, naquela povoado da Praia de Tumiaru, descrito dois anos antes por Alonso de Santa Cruz, já estavam homens como Antonio Rodrigues, Pero Gois e Rui Pinto,e, segundo Eugênio de Castro, Francisco Pinto, Pero Capico, Jorge Pires e outros, além das noras índias e dos filhos  netos mamelucos destes todos, convivendo com a população indígena". 
Vallandro Keating e Ricardo Maranhão - Diário de Navegação. Pero Lopes  e a expedição de Martim Afonso de Souza (1530-1532)

DESTACADOS MORADORES DEPOIS DA EXPEDIÇÃO DE MARTIM AFONSO DE SOUZA
Catarina Monteiro, Cristóvão Monteiro. Jerônimo Leitão. Bartolomeu Gonçalves. Ruy Pinto, Francisco Pinto. Baltazar Borges. Leonardo Nunes. Manoel da Nóbrega e José de Anchieta (jesuítas). Antonio Adorno. Antonio de Oliveira. Cristóvão de Aguiar Altero. Antonio Rodrigues de Almeida. João Pires Cubas, Francisco Nunes Cubas, Antonio Cubas, Gonçalo Nunes Cubas, Brás Cubas. Jorge Pires. Pedro Colaço. Jorge Ferreira. Antonio Proença. Pedro Figueiredo. Jerônimo e Jorge Ferreira. Domingos e Jorge de Braga. Francisco Chaves, Jerônimo Rodrigues, Belchior Azevedo, Pedro e Gaspar Afondo, Domingos Liz Grou e Brás Gonçalves. 
Ilustrações: Alfredo Roque Gameiro.

OS HOMENS DO AÇÚCAR

A armada de Martim Afonso se compunha-se de cinco embarcações bem armadas e aparelhadas: duas naus, um galeão e duas caravelas. Levava em sua comitiva cerca de 400 pessoas a bordo entre tripulantes, seus comandantes, marinheiros, soldados, colonos, alguns degredados, pilotos, cosmógrafos e nenhuma mulher! (Toledo,2012, 58)
Em 1537 se tem a notícia do primeiro casal de portugueses que se estabeleceu em São Vicente. Da Europa vieram os Lemes, descendentes do flamengo Martim Lems, do antigo condado de Flandres nos países baixos. Chegaram a São Vicente, por volta de 1550, Antão Leme e o seu filho Pedro Leme, homem de posse com sua filha Leonor Leme já casada com Bras Teves ou Esteves que se tornou sócio do Engenho dos Erasmos; Jaques Felix, o flamengo que casou em São Vicente no ano de 1569; e, portugueses, alemães, belgas, holandeses, italianos que passaram a fazer a história dos engenhos e da própria Vila de São Vicente.



Dentre os europeus muitos eram cristãos novos. O próprio Martim Afonso de Souza “carregava nas veias certa dose de sangue hebreu” (apud Bocaciovas, 2015, p.95). Os engenhos de açúcar montados a partir de sua iniciativa tiveram quase sempre, a participação de “judeus industriosos, fugidos à fúria religiosa da metrópole e de operários de São Tomé e Madeira, conhecedores do processo”. (Caio Prado Júnior, apud Novinsky, 2015, p.88) Dentre eles, no Engenho dos Erasmos, desde quando foi adquirido pela família Schetz, foi o primeiro lugar do Brasil onde se praticou a religião judaica. O capitão-mor do engenho, Jerônimo Leitão, era casado com Inês de Castelo, cuja mãe foi presa e penitenciada pelo Santo Ofício, sendo a mais fervorosa judaizante de seu tempo” (Novinsky, 2015, p. 89) Portanto, como afirma Marco Antonio Vera, “Dos moradores de São Vicente, muitos eram cristãos novos, principalmente os que se dedicavam às atividades em engenhos de açúcar.” ( Vera, p. 200)

JUDEUS, CRISTÃOS NOVOS E A INQUISIÇÃO

A Primeira Visitação do Santo Ofício no Brasil, assim denominado na época, foi realizada entre os anos de 1591 a 1595. Com sua atuação ficou claro que uma boa porcentagem dos denunciados era de origem judaica. A Inquisição permaneceu na Bahia por dois anos, até 1593. Depois seguiu para Pernambuco, Itamaracá e Paraíba. A perseguição aos judeus nas capitanias do nordeste estimulou a saída dos mesmos em direção ás capitanias do sul. Nelas reinava uma maior liberalidade em relação ao judaísmo.
Entre os denunciados foram citados cristãos novos da região de São Vicente, como Gomes da Costa, Antônio do Vale, Lopo Dias e a família dos Mendes, “todos da progênie israelita... contra os quais pesavam acusações por suas práticas judaizantes.” (Salvador, 1976, p. 125) Nas denunciações de São Paulo e da Bahia “transparece claramente o quanto os cristãos novos sentiram-se a vontade para judaizarem na colônia distante da Inquisição Continental e mais ainda os que se encontravam na longínqua Capitania de São Vicente e na vila de São Paulo”. (Falbel, 1999, p.115)
O próprio Martim Afonso de Souza fundador da vila e donatário “carregava nas veias certa dose de sangue hebreu”. (apud Bogaciovas, 2015, p.95) Ele era neto paterno de Maria Pinheiro, afamada por ser cristã nova e constante do caderno de cristãos novos de Barcelos” (Apud Bocaciovas, 2015, p. 95) Razão pela qual nutria simpatia pelos cristãos novos e poderia assim ter facilitado ou mesmo incentivado o ingresso de cristãos novos em sua capitania. Ele tinha interesse em receber profissionais qualificados e profissionais de ofícios diversos, além de homens letrados. Desta forma, como afirma Marcelo Bogaciovas, “desde o início do povoamento, em 1532, quiça antes, mas sem prova documental, o cristão novo foi chegando a São Vicente, berço da nação paulista.” (Bocaciovas, 2015, p. 12) Por certo eles podiam supor que a distância da metrópole permitiria uma vida religiosa mais livre e segura no Novo Mundo. Entre eles chegaram indivíduos cuja ascendência remonta aos países baixos para onde fugiram numerosos judeus pela perseguição movida contra eles na Península Ibérica em busca de melhores condições proporcionadas pelo comércio e liberdade de culto. Posteriormente retornaram para Portugal, para as ilhas dos Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde e mais tarde para o continente americano em geral, inclusive para o Brasil. A maioria entre os que retornavam eram, “de provável mesclagem israelita, a exemplo dos Lemes e dos Taques que se casaram com mulheres portuguesas de etnia suspeita”, como defende o historiador José Gonçalves Salvador. (Salvador, 1976, p.90)
Os Lemes descendiam de Martim Lemes, cavalheiro, nobre, rico que foi senhor de muitos feudos na cidade de Bruges, no antigo condado de Flandres, nos Países Baixos. Martim Lems migrou para Portugal, por volta de 1456, tendo se estabelecido em Lisboa, onde continuou a se dedicar às atividades comerciais, realizadas com negociantes hebreus, em especial. Por este tempo teve o sobrenome corrompido para Leme. Embora não se tenha casado teve com Leonor Rodrigues, “mulher solteira e talvez judia, sete filhos legitimados por cartas régias em 1464”. (Salvador, 1976, p. 34)
Entre seus descendentes, o neto Martim Leme mudou para a Ilha da Madeira onde constituiu família. Um de seus filhos, o Antônio Leme, casou com Catharina de Barros, com que teve entre outros filhos Antão Leme que migraria para São Vicente, onde apareceu em 1554 exercendo o cargo de juiz ordinário. Acompanhando a sua trajetória, o seu filho Pedro Leme também migrou para São Vicente onde passou a residir no ano de 1550. Pedro Leme era um homem de posses. Quando chegou a São Vicente desembarcou com vários criados ao seu serviço, ali foi estimado e reconhecido com o caráter de fidalgo. Foi pessoa de maior autoridade na vila. Antes da vinda para o Brasil Pedro Leme residiu em Abrantes, Portugal, onde casou com Isabel Dias Pais, com a qual teve o filho que herdou o nome do avô materno e se chamou Fernão Dias Pais. Isabel Pais foi açafata no Paço Real, gozando de confiança e estima das senhoras do palácio. De onde nasceu a suspeita de sua origem hebraica. Em razão do qual seu filho Fernão Dias Pais foi chamado, durante uma briga em São Paulo, pelo então governador geral D. Francisco de Souza de “cão judeu”. (Salvador, 1976 p. 135) Falecendo a esposa, Pedro Leme retornou para a Ilha da Madeira e se casou pela segunda vez com Luzia Fernandes com que teve a filha Leonor Leme. No Brasil se casou pela terceira vez com Gracia Rodrigues de Moura, sem deixar descendentes.
Na Capitania de São Vicente os descendentes dos Lemes e dos Pais casaram com pessoas de linhagem dos cristãos-novos. ( Francisco Sodero, Tempo de Movimento).

                            
                                    

VULTOS E GERAÇÕES VICENTINAS

Séculos XVI e XVII


"São Vicente prosperou graças à instalação de muitos agentes de povoamento (600 indivíduos em 1548, que controlavam os destinos de 3000 escravos), à criação de quatro localidades (São Vicente, Santos, São Paulo, Itanhaem), assim como diversas sesmarias e alguns engenhos de açúcar".

Fonte: A Terra de Santa Cruz

OS 30 MEMBROS DA EXPEDIÇÃO AFONSINA (1531-1532)


Pero de Gois, Luís de Gois, Gabriel de Gois, Cipião de Gois, 
José Adorno, Francisco Adorno, Paulo Dias Adorno, Antônio Adorno, 
Rui Pinto, Francisco Pinto, Antônio Pinto, 
João Pires Cubas. Brás Cubas, Francisco Nunes Cubas, Antônio Cubas, Gonçalo Nunes Cubas,
Jeronimo Leitão, Domingos Leitão,
Diogo Rodrigues, 
Baltasar Borges, 
Antônio Leme, Pedro Leme, 
Brás Esteves ou Teves, 
Antônio de Oliveira, 
Antônio Monteiro, 
Cristovam de Aguiar Altero, 
Pero Colaço Rodrigues de Almeida, 
Antônio de Proença, 
Jorge Pires, 
Pero de Figueiredo, 
Jorge Ferreira, Cristovam.

Fonte: Francisco de Assis Carvalho Franco, in Estudos Paulistas,
Anhembi, são Paulo, 1958. 


Final do século XVI 

Registrou-se a residência da família de Antonio Rodrigues de Almeida, casado com Dona Maria Rodrigues de Moraes, fidalgos portugueses, ela conhecida dama de Lisboa. 
O filho do casal, Manoel Rodrigues de Moraes - que se tornaria uma famoso e polêmico teólogo jesuita simpatizando de João Valvino, foi batizado em São Vicente, em 1587, pelo próprio tio, Padre Rodrigues de Moraes,  Capelão da Corte de Lisboa. 

Século XVII
Cap. Manuel Vieira Calassa
Cap. Rafael Carvalho – Catarina Siqueira Mendonça
Domingos Monteiro
Sarg-Mor José Gonçalves de Aguiar – Josefa Rodrigues Lara (tiveram sete filhos)

Século XVIII
Gaspar Gonçalves Aguiar – Beatriz Correia de Oliveira (tiveram seis filhos)

Século XVI
Cap. Mor José Gonçalves Ribas- Vitoriana Ferreira Ribas
Antônio Machado – Domingas Conceição
João Pereira André- Gertrudes Gonçalves Ribas
José Manoel Gonçalves Ribas-Rosa Maria Assunção
João Azevedo Cunha- Maria da Luz Gonçalves Ribas
João Pereira Machado- Carolina Oliveira Ribas
Sebastião Lopes de Azevedo
Thomás Antonio de Azevedo
João Marcelino de Azevedo

Século XX
“No seu viver recolhido, entre o verde das matas e o marulhar das ondas, houve sempre em São Vicente a vitalidade latente de um povo viril. Aí estão os Motas, os Monizes de Gusmão, os Laras, os Guerras, os Paivas, os Sodrés, os Pachecos Nobres, os Tavares, os Furtados de Mendonça, os Lopes da Silva, e tantos outros nomes de genuína cepa vicentina. São títulos que convidam a instrutivas digressões pelo passado. E bem as merece terra tão evocativa”. (Costa e Silva Sobrinho)


JOSÉ, JOSEFA E SEUS SETE FILHOS


COSTA E SILVA SOBRINHO



Camponeses lusos do século XIX  Alfredo Roque Gameiro. 

Inda no século XVII, e já no seu derradeiro quartel, chegava a S. Vicente um homem que depois veio a ser tronco de numerosas e preclaras vergônteas. Referimo-nos ao sargento-mor José Gonçalves de Aguiar, natural de S. Martinho de Lordelo, no bispado do Porto. Desposou-se com a vicentina Josefa Rodrigues de Lara e desse casamento surdiram sete filhos.

O sétimo, de nome Gaspar Gonçalves de Aguiar, nascido em 1727, casou por sua vez com Beatriz Corrêa de Oliveira, de Conceição de Itanhaém. Figura ele na lista da Ordenança de S. Vicente, em 1765. Lavrador, punha no trabalho a força criadora de todas as suas energias; e por isso, em 1798, aos 71 anos de idade, colhia 150 alqueires de arroz, 90 de farinha e 100 medidas de aguardente. Possuía a seu serviço duas agregadas e 15 escravos. Ademais, tinha rede de arrastar, com a qual ganhava por ano 25$600. Tudo vendia para a vila de Santos. E gastava anualmente em sua casa em vestuário 100$000.
Seis filhos teve ele, sendo que o quarto nasceu a 10 de setembro de 1765 e na pia batismal recebeu o nome de José, em 21 do mesmo mês e ano. Chegou este a capitão-mor. É o capitão-mor José Gonçalves de Aguiar, ou simplesmente capitão-mor Aguiar, o último capitão-mor de S. Vicente.

De seu matrimônio com Vitoriana Ferreira Ribas, natural da vila de Curitiba, filha de Manuel José Ferreira e Antonia Maria Ribas, nasceram:

1) Gertrudes Gonçalves Ribas, em 1803, que foi casada com o sargento-mor João Pereira Sodré;
2) José Manuel Gonçalves Ribas, 1804, que casou com Rosa Maria da Assunção, filha de Manuel Antonio Machado e Domingas da Conceição;
3) Manuel Gonçalves Ribas, 1806, falecido na infância;
4) Manuel Gonçalves Ribas (2º), 1810, também falecido criança;
5) Maria da Luz Gonçalves Ribas, 1812, casada com João de Azevedo Cunha; e, finalmente,
6) Carolina de Oliveira Ribas, 1817, casada com João Pereira Machado, filho do citado Manuel Antonio Machado e sua mulher Domingas da Conceição.

Quisemos fazer esta referência a esses vários nomes porque a quase todos eles, como a raízes profundas de uma tradição doméstica, estão ligadas importantes famílias vicentinas e santistas. Constituem o liame entre o tempo que foi e o tempo de agora.

O sargento-mor Aguiar faleceu em 22 de dezembro de 1843, assaz entrado em anos, tendo transposto a casa dos 78, e foi inumado na igreja Matriz, defronte do altar de N. S. da Assunção.
Habituado a medir-se com toda a sorte de trabalhos, foi grande lavrador; foi edil e juiz vereador em 1806; fez o recenseamento de S. Vicente em 1813; foi procurador da Irmandade do Santíssimo Sacramento; foi presidente do senado da Câmara em 1822; e, em 1835, exerceu o cargo de juiz municipal, com grande opinião de competência e inteireza.
Como juiz vereador, assinalou-se em 1817 Sebastião Lopes de Azevedo. E distinguiram-se também pelo merecimento seus dois filhos: Tomaz Antonio de Azevedo, como juiz de paz, em 1841, 1888; e João Marcelino de Azevedo, como presidente da Câmara de 1871 a 1873.
Não pode, por conseguinte, ser mais fagueira a fortuna da presidência atual da Câmara de S. Vicente, quando a vemos ocupada por uma pessoa do porte de Edison Teles de Azevedo, digno descendente desses homens que foram valorosos romeiros do progresso da cidade.

MARGARIDA INCENDEIA CORAÇÕES E A CÂMARA


Na segunda metade do mesmo século XVII, havia em S. Vicente um homem de gênio arrebatado, grosseirão e violento, que se chamava Manuel Vieira Calassa. Era capitão de infantaria. Residiam também ali, na mesma época, o capitão Rafael Carvalho, lisbonense, e sua mulher d. Catarina de Siqueira de Mendonça. Tinha este casal uma filha, filha única, de 16 anos, cuja beleza se expandia com a graça e o perfume de uma flor. Achavam-na mesmo a figura feminina mais sedutora do vilarejo. Vendo-a constantemente, enamorou-se dela aquele Manuel Vieira Calassa. E começou ele a sentir então que o amor lhe serenava os estouvamentos impulsivos, aperfeiçoava-lhe a alma dura e brutal, comunicava-lhe lucidez aos pensamentos e doçura ao coração. Sentindo-se por isso possuído da maior paixão que ainda palpitou e fremiu e ardeu em coração de homem, deliberou casar-se com ela. Foi à casa de Rafael Carvalho. Acolhido com fidalga cortesia, pediu em casamento a encantadora Margarida. Após um ligeiro intervalo de meditação, respondeu-lhe Rafael Carvalho:

- Pois sim, sr. capitão, vou consultar minha filha a esse respeito.
- Segundo nossas usanças, ponderou Calassa, em tais casos compete aos pais dispor da vontade e da sorte dos filhos.
- Não, redargüiu o pai, quero que minha filha encontre no casamento a realidade das suas aspirações. Eu preciso ouvir-lhe a voz do coração.
- Visto isso, tornou o pretendente, que conhecia muito bem a firmeza das resoluções de Rafael Carvalho, aguardarei a resposta.
E saiu ruminando o seu resplandecente sonho.
Margarida, consultada, rejeitou desde logo o pedido.
- Conheço-lhe o gênio despótico, impulsivo e estouvado - disse ela. Não porei o meu destino aos pés desse homem.

Sabedor da recusa, teve Calassa uma explosão de cólera. Já concitava capangas e valentões para um ataque à residência de Rafael Carvalho, quando, informado disso, mandou este a mulher e a filha para a casa de Cipriano Tavares, seu cunhado e capitão-mor governador da Capitania, e dispôs-se a pelejar com os acometedores. Essa desavença, porém, deu apenas muito que falar. Não desfechou em luta. Algum tempo tinha rodado sobre esse fato. Um dia, novo casamento aparecia para a linda vicentina. Pedia-lhe a mão desta feita Domingos da Silva Monteiro, filho de outro Domingos da Silva Monteiro, sargento-mor da fortaleza do Itapema.

Mas o tempo, grande desgastador de tenções, não havia cambiado ainda em desenganos as esperanças de Calassa. Pretendeu este procurar no pó desinteressante do arquivo da Câmara Municipal, certos documentos relativos à família do pretendente. Pedindo licença para isso ao capitão-mor, este não lha deu. Ele, então, a coberto das trevas da noite, conseguiu entrar naquele arquivo. A sala estava às escuras. Alumiou-a com um candeeiro de latão amarelo de dois bicos. Revolveu com mão audaz todos os livros e escritos que encontrou, deixando-os em desordem. De repente, a chama do candeeiro acendeu uma viva labareda num monte de papéis e um incêndio abrasou todos os livros, todos os documentos, todos os móveis do primeiro, do mais precioso arquivo do Brasil. Por esse motivo, escreveu Afonso de Taunay: "Atas seiscentistas da Câmara de S. Vicente, é coisa de que desde séculos não existem vestígios". (Na era das bandeiras, 86).

Margarida Carvalho da Silva veio a casar-se com o aludido Domingos da Silva Monteiro, que pouco depois partia com ela para a remota Cuiabá, como provedor dos reais quintos, e lá enfim faleceu. O capitão Manuel Vieira Calassa, que alguns chegaram a dizer que havia enlouquecido, viveu ainda longos anos bem rijo e são. Disso aliás nos certifica este fato curioso: Em 26 de junho de 1701, servindo como padrinho de batismo de uma filha do capitão João Dias Mendes, pôs-lhe o nome Margarida. Demonstrava assim que permanecia na sua alma a lembrança recolhida e intensa daquela que loucamente amara.

Cenas e figuras do passado vicentino (Palestra realizada a convite da Câmara Municipal de São Vicente, dia do 420º aniversário de fundação daquela cidade)

Nota inserida na Parte Oficial (primeira página) do jornal O Publicador Paulistano, da capital paulista, em uma sexta-feira, 27 de novembro de 1857 (número 34 - acervo do Arquivo do Estado de São Paulo - acesso em 6/10/2012), informando sobre a concessão, pelo presidente da província de São Paulo, de recursos para reforma das instalações da Câmara vicentina.

O RECOLHIMENTO E O COLÉGIO DOS MENINOS EM SÃO VICENTE


Em 1551 desembarca no Brasil o segundo grupo de padres jesuítas oriundos de Lisboa, e juntamente com os padres vem um grupo de vinte meninos órfãos de Lisboa. Esses meninos já haviam sido orientados e treinados para desempenharem suas funções, auxiliar os jesuítas em sua obra de evangelização.
 
Assim, logo que desembarcaram, foram distribuídos e enviados para os colégios jesuítas existentes nas terras brasileiras.
 
Em 1553 o padre Manuel da Nóbrega retirou-se para as capitanias do Sul e nomeou Vicente Rijo como superior interino do Colégio da Bahia. Em 1554 entregou provisoriamente a regência do Colégio da Bahia aos padres António Blasques e José de Anchieta e embarcou juntamente com onze jesuítas para São Vicente, com o objetivo de fundarem o novo colégio de São Paulo de Piratininga. Após sete anos de trabalho de catequização no Colégio de São Paulo de Piratininga, Vicente Rijo foi promovido a superior, onde ficou até 1753, quando foi transferido para o Colégio da Bahia.
 
Ainda em 1553, o padre Manuel da Nóbrega realizou visita ao recolhimento de São Vicente, trazendo quatro órfãos de Lisboa para auxiliarem no trabalho de catequização. Em fevereiro desse mesmo ano, o recolhimento passou a denominar-se Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente. O colégio oferecia aos seus alunos internos e externos (contava com aproximadamente cem alunos matriculados), além do ensino de grau primário e secundário, o ensino artístico.
 
Em síntese, o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente foi a instituição educacional que melhor se desenvolveu nesse fase pioneira da educação no Brasil e serviu para pôr em evidência as ricas possibilidades do primitivo plano educacional esboçado por D. João III no Regimento de 1548.
(MATTOS, 1958, p. 75)
 
Antes de falecer em 1600, com 62 anos de idade, ainda desempenhou por mais de quinzeanos no Colégio do Rio de Janeiro as mesmas funções de Administrador da Igreja e Diretor Espiritual da comunidade. Foram 41 anos de dedicação e trabalhos em prol da catequização e evangelização dos indígenas brasileiros, que lhe valeram o título de Primeiro Mestre-Escola do Brasil.
O recolhimento de São Vicente foi fundado em 1550 pelo padre Leonardo Nunes e destinava-se, inicialmente, à catequese.
 
FONTE: O ensino jesuítico no período colonial brasileiro: algumas discussões. Alexandre Shigunov Neto e Lizete Shizue Bomura Maciel.



O VICENTINO CIPRIANO BRASIL "Em 1552, Nóbrega diz ter dois meninos que já sabiam ler, escrever, cantar e que eram bons pregadores, os quais ele gostaria de enviar a Europa para aprender Iatim. Eram eles Cipriano do Brasil, o primeiro jesuita nascido da América,  nascido em São Vicente, enviado em 1552 para Portugal; e Baltazar Gonsalves, natural da Bahia. Em 1563 eles residiam em Lisboa. Ambos porém morreram jovens, em Coimbra, para onde haviam sido inicialmente enviados e onde haviam estudado e trabalhado como calígrafos e enfermeiros".  
Terra de Santa Cruz



A OBRA VICENTINA DE PEDRO TAQUES PAES LEME




O fidalgo e erudito Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777) foi um dos primeiros estudiosos da genealogia de São Paulo

Era filho de Bartolomeu Pais e Leonor de Siqueira, sobrinho-neto de Fernão Dias Paes Leme e tetraneto de Brás Cubas. Sargento-mor, foi transferido para as minas de Goiás, onde foi encarregado de criar e organizar a cobrança de impostos, como a capitação, os quintos do ouro e a derrama. De volta a São Paulo, foi nomeado guarda-mor das minas de ouro. Viveu no contexto do ciclo do ouro do Brasil colonial (1700-1800).

Dentre suas obras, destacam-se a Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica (em três volumes) e a História da Capitania de São Vicente, referências obrigatórias em seus respectivos temas.

Escreveu, também, uma notícia histórica a respeito da expulsão dos jesuítas de São Paulo.

Seu conhecimento era tão grande que chegou a servir de testemunha para dirimir dúvidas sobre a posse e a sucessão da capitania. Embora tenha escrito no século XVIII, Pedro Taques tem a noção exata de sua função como historiador, visto que se municiava de fontes primárias e secundárias. Homem de vida opulenta que chegou à velhice na mais humilhante pobreza, Taques utilizou-se dos cargos que teve para espalhar uma rede de coletores de informações em várias localidades. Assim, pesquisou em Portugal, nos documentos eclesiásticos, nos cartórios e em outras fontes oficiais.

Do pouco que se sabe sobre sua infância, temos que freqüentou o colégio dos jesuítas em São Paulo, obtendo o grau de mestre em artes e, o que era raro na época, aprendendo o idioma francês.

Sua vida profissional começa em 1737, quando assume o posto de sargento-mor do regimento da nobreza de sua cidade. Paralelamente à vida militar, empenhava-se em pesquisas históricas e genealógicas, e em 1742 estudou a história dos Buenos.

Foi sargento-mor até 1748, quando lançou o título dos Arrudas Botelhos e, ao mesmo tempo, voltou-se para a atividade de mineração nas lavras de Goiás, em busca de melhores rendas. Foi então nomeado pelo Conde dos Arcos, em 1750, escrivão da Intendência Comissária e Guardamoria do distrito de Pilar, servindo também como provedor dos defuntos e ausentes, além de tabelião.

No começo de 1754 retorna a São Paulo, em boa situação financeira, e escreve sobre a capitania de São Vicente, defendendo os direitos do conde de Vimieiro. Parte, então, para Lisboa para entregar o documento de defesa, em 1755, e o terremoto que ali se deu logo após a sua chegada, arrasa a cidade e faz com que se percam seus apontamentos, e seus bens. Sem seus trabalhos sem nenhum bem material, ainda o acomete uma doença grave que o leva ao leito pro vários meses, sendo tratado por um casal amigo.

Sua estada em Lisboa faz com que Taques conheça e se aproxime de D. Antonio Caetano de Souza, o ilustre autor da História Genealógica da Casa Real portuguesa. Consegue, então, em 1757, ser nomeado tesoureiro-mor da Bula da Cruzada, nas capitanias de São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Retoma suas pesquisas históricas e genealógicas.

Em 1763 acumula a função de guarda-mor das minas de ouro de São Paulo. Sabe-se de trabalhos seus dessa época de auge econômico e financeiro, todos desaparecidos:
História de São Paulo, Discurso cronológicos dos descobridores do Brasil e elementos de história de Piratininga.

Questionado em sua administração, Pedro Taques é subitamente afastado de suas funções, tem seus bens seqüestrados e é intimado a restituir a quantia calculada como prejuízo à Fazenda Real.

Contudo, em 1774 o destino lhe sorriu com a herança de umas das irmãs, e ele reuniu o que pôde e partiu para Lisboa, a fim de atender chamado do Conde de Vimieiro, que precisava de seus préstimos de genealogista. Ainda tentou pleitear algum benefício em Lisboa, mas seus requerimentos não andavam, ao contrário da paralisia, que, célere, avançava.

Com a saúde arruinada, retorna ao Brasil em agosto de 1776, chegando a Santos no fim do ano. Morre na mais extrema miséria em 03 de março de 1777, em São Paulo.

Seus manuscritos nunca foram publicados enquanto vivia. Sua Nobiliarquia paulistana, histórica e genealógica teve perdida mais de cem títulos, salvando-se apenas um terço. E mesmo assim trata-se de monumental obra, onde “se recolhem os mananciais de toda a história do Brasil meridional desde os primeiros tempos”.

Fonte: Terra de Santa Cruz






TEMPLÁRIOSNA FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO?

THALES VEIGA

Muitos não sabem as curiosidades que existem por trás da história de São Paulo e o significado da bandeira da cidade de São Paulo, mas a cruz da Ordem de Cristo estampada na bandeira paulistana é uma herança direta da Ordem dos Cavaleiros Templários, ou dos "Cruzados", mas você vai descobrir e explicaremos o porquê.

Como muitos sabem, os templários foram aqueles homens responsáveis pela expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica, e pela retomada da dominação cristã naquela região europeia, além é claro, das cruzadas em toda a Europa Medieval e o Oriente-Médio.

Eles eram aventureiros, cavaleiros e guerreiros cristãos que se guerreavam em prol da expansão do cristianismo pelo mundo.

A organização da Ordem dos Templários existiu por dois séculos(1118-1312), pois em 1312 o Papa Clemente V aboliu a Ordem do Templo. Estes cavaleiros templários estavam estabelecidos em Portugal desde o ano de 1122, onde tiveram papel importante na reconquista e na construção de inúmeras fortalezas em Portugal.

Devido a grande contribuição que os templários tiveram em Portugal, o Rei Dinis I se recusou a perseguir os templários, e após dialogar com o papa, foi estabelecido então uma nova Ordem para os Templários, mas que seria agora obediente ao rei português. Sete anos depois da abolição, é criado a "Ordem de Cristo" para os templários em Portugal no ano 1319, e inicia-se então uma nova "Cruzada", mas desta vez em águas marinhas, sendo Portugal o primeiro país ultramarino da história.
Com isso, a recém formada Ordem de Cristo viria a crescer em importância e poder em Portugal.
O Reino de Portugal estabeleceu que a Ordem de Cristo teria direito às terras descobertas e conquistadas, além de uma parte dos lucros.

E isso incentiva a Ordem de Cristo em expandir os domínios portugueses, com isso a expansão de Portugal, em especial a capitânia de São Vicente(atual São Paulo) está diretamente ligada a Ordem de Cristo.

Você já deve ter visto em muitas pinturas da chegada da Ordem nas velas dos navios, Martim Afonso de Sousa, que era da Ordem, oficializou(povoado já existente) em 1531 a primeira vila da América Portuguesa, juntamente com Brás Cubas, Antônio Rodrigues e João Ramalho(naufrago que já habitava a região) ,que tinha grande amizade com o Cacique Tibiriçá, batizando-a de "São Vicente", Graças às medidas tomadas por Martim Afonso de Sousa, São Vicente tornou-se a primeira vila e município da América Portuguesa fundada pela Ordem, visto que, no dia 22 de agosto de 1532, se elegeu a primeira câmara de vereadores e a primeira eleição democrática das Américas.

Iniciou-se a cultura da cana-de-açúcar e Martim Afonso ordenou a instalação no Engenho dos Erasmos a construção do que afirmamos ser um Castelo(Destruído por Cavendish).

A missão dos cavaleiros da Ordem de Cristo não era meramente colonizar como nos é ensinado, mas em expandir o Cristianismo por meio do Reino Português, pois era esse o papel dos cavaleiros templários de outrora, ou seja, a presença portuguesa no que hoje é São Paulo é também uma consequência direta das novas cruzadas e da expansão cristã.

Fundada a vila de São Vicente, era o momento de começar a explorar o gigantesco continente da América Portuguesa. Daquela região litorânea de São Vicente, partiram as primeiras expedições vicentistas da Ordem para o interior, inclusive, o comboio que fundaria a cidade de São Paulo.
Na região do planalto paulista, na aldeia de Piratininga governada pelo Cacique Tibiriçá fundaram os jesuítas, por ordem do Padre Manuel José da Nóbrega, o Colégio de São Paulo, destinado à conversão dos índios, o qual esteve na origem da atual cidade de São Paulo.

Até o meio do século seguinte, São Paulo quase não tinha importância no contexto geral da colônia, desenvolvendo apenas a agricultura de subsistência, porém, os descendentes vicentinos e paulistas daqueles grandes exploradores que se casaram com as nativas guaianases, herdaram as características sertanistas, aventureiras e exploratórias de seus antepassados da Ordem de Cristo e da extinta Ordem do Templo que se mesclando-se com técnicas indígenas de sobrevivência, tal resultado fez com que se originasse as "Bandeiras".

O termo "bandeirantes" se deve ao fato das expedições serem sempre conduzidas por uma bandeira com as insígnias representativas do chefe da expedição ou mesmo a bandeira da Ordem da Cruz de Cristo, conforme consta no atual brasão da cidade de São Paulo.

Em 1603, Benedito Bastos Barreto cita sobre os bandeirantes paulistas: "nas matas nunca d'antes desbravadas tinham a mesma naturalidade daqueles que as ostentavam em suas caravelas quando singravam os mares nunca d'antes navegados"

Logo no começo do século XVII, os bandeirantes começaram a exploração dos arredores de São Paulo em busca de minérios, principalmente na região do Pico do Jaraguá, e descobriram ouro, tal descoberta dessas expedições fizeram com que eles ampliassem os limites conhecidos da antiga colônia, incorporando ao atual Brasil diversos territórios que, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, pertenciam à Espanha, além da descoberta de ouro pelos paulistas no que é hoje Minas Gerais.
Onde quer que fosse os bandeirantes paulistas, era transportado com eles a bandeira da Ordem de Cristo, a capitânia São Vicente tinha na sua bandeira, o símbolo da Ordem da Cruz de Cristo, até por meados 1719.

Os paulistas sempre tiveram características exploratórias e interiorizadoras, tal fato pode ser explicado justamente por conta daquela cultura e tradição que foi repassada de geração em geração, começando por bandeirantes, passando para os tropeiros até chegar nos boiadeiros, todos possuem origem paulista e o mesmo espírito explorador, aventureiro e sertanista.

Até pelo menos 1987, a cidade de São Paulo não tinha uma bandeira oficial, com exceção do brasão.
Foi instituída em 5 de março de 1987 pelo prefeito Jânio Quadros, mas sempre mantendo o formato original. Antes dela, a bandeira era toda branca com o brasão da cidade ao centro, atualmente ela traz a Cruz da Ordem de Cristo e ostenta o brasão do município no centro sobre círculo de branco que está debruado de vermelho.

 Histórias da Pátria Paulista. Editora Comunicar

DONATÁRIOS DA CAPITANIA 

                        
Retrato de Martim Afonso de Sousa, óleo sobre tela de Benedito Calixto


1533 a 1571 Martim Afonso de Sousa
1572 a 1586 Pero Lopes de Sousa (filho do precedente)
1587 a 1610 Lopo de Sousa (filho do precedente)
1621 a 1624 Mariana de Sousa Guerra, condessa de Vimieiro (irmã do precedente)
Álvaro Pires de Castro e Sousa, conde de Monsanto e bisneto de Pero Lopes de Sousa (este irmão de Martim Afonso de Sousa), por erro de demarcação entre as capitanias de Santo Amaro e São Vicente, se apropria indevidamente das terras, inclusive as vilas de Santos, S. Paulo e S. Vicente. Com o litígio entre as famílias, a condessa de Vimieiro, em 6/2/1624, transfere de S. Vicente para Itanhaém a sede de sua capitania. Nesse período, são nomeados dois capitães-mores distintos por donatário, com jurisdição na mesma área territorial.
1645 a 1648 Sancho de Faro (filho da Condessa de Vimieiro)
1649 a 1653 Diogo de Faro e Sousa (filho do precedente)
1654 a 1679 Luís Carneiro (sobrinho de D. Diogo)
1679 a 1691 Francisco Luís Carneiro de Sousa – (filho do precedente)
Este reivindica tudo que pertencia aos legítimos herdeiros de Martim Afonso e, em seu nome, o capitão-mor Luís Lopes de Carvalho, em 28/4/1679, faz retornar a sede da Capitania para S. Vicente e toma posse perante a Câmara.
1720 Antônio Carneiro de Sousa (filho do precedente)
1753 Carlos Carneiro de Sousa - foi o último donatário, sendo indenizado pela venda da capitania ao rei de Portugal, D. José I

AS VILAS DA CAPITANIA DE SÃO VICENTE

Séculos XVI ao XVIII

Em fins do século XVIII, a Capitania de São Vicente englobava o atual estado do Paraná, parte de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, apresentando um conjunto de cerca de 34 núcleos elevados à categoria de vila e uma cidade. 

1532 - São Vicente
1545 - Vila Porto de Santos
1560 - São Paulo dos Campos de Piratininga (cidade-1711)
1561 - N.S. da Conceição de Itanhaém
1577 - N.S. das Neves de Iguape
1600 - São João Batista de Cananéia
1611 - Santana de Mogymirim ( Mogi das Cruzes)
1625 - Santana de Parnaíba
1636 - São Sebastião
1637 - Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba
1645 - São Francisco das Chagas de Taubaté
1653 - N.S. da Conceição do Paraíba (Jacareí)
1649 - N.S. do Rosário de Paranaguá
1651 - Santo Antônio de Guaratinguetá
1655 - N.S. do Desterro do Campo Alegre de Jundiaí
1657 - N.S. da Candelária do Utu Guaçu (Itu)
1661 - N.S. da Ponte de Sorocaba
1693 - N.S. da Luz dos Pinhais de Curitiba
1705 - N.S. do Bom Sucesso de Pindamonhangaba
1767 - São José do Paraíba (São José dos Campos)
1769 - Itapeva da Faxina , São João Batista do Atibaia , São José do Mogymirim.
1770 - Sabaúna
1771 - N.S. dos Prazeres de Itapetininga, Santo Antônio das Minas do Apiaí ,Vila Nova de São Luis de Guaratuba
1774 - N.S. dos Prazeres de Lages (SC)
1785 - Cunha (antiga Freguesia do Facão)
1788 - N.S. da Piedade de Lorena
1797 - São Carlos (antiga Freguesia de N.S. da Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí (Campinas) , Porto Feliz (antiga Freguesia de Araritaguabai) , Nova Bragança ( Bragança Paulista) Antonina (Paraná)
1798 - Castro (antiga Freguesia de Santa Ana do Ipó –Paraná)

FONTE: Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno. Dilatação dos confins: caminhos, vilas e cidades na formação da Capitania de São Paulo (1532-1822)

Engenho de Santana , em São Sebastião, litoral norte. Foto do início dos anos 1960.FONTE: Nestor Goulart Reis. Os Engenhos da Baixada santista e do Litoral Norte. Revista USP- Nº41, 1999.



O LARGO DE SANTO ANTÔNIO


MARCO ANTÔNIO LANÇA























Planta cadastral de São Vicente em 1899. 

Sobre a localização e a delimitação da primeira Vila de São Vicente, fundada por Martim Afonso de Sousa, e destruída pelo mar em 1542, há apenas algumas hipóteses. Deveria ficar mais junto da praia próxima à atual praça 22 de Janeiro. Da segunda, ainda se conserva o espaço geográfico, cênico e paisagístico, o edifício da Igreja Matriz, com seu largo de Santo Antonio e as ruínas do Porto das Naus. A área do Engenho dos Erasmos, fundado no século 16, encontra-se, hoje, dentro dos limites do município de Santos, mas, originalmente, também pertencia à Vila de São Vicente.
(...) Em Capitanias paulistas, de Benedito Calixto, p. 46-7, consta a estampa St. Vincent, de autoria de Joris van Spilbergen, datada de 1615, na qual aparecem as vilas de São Vicente e Santos. A mesma estampa também comparece no trabalho Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial, de Nestor Goulart Reis Filho, sob número SP_02b. 
Descontados os exageros, talvez seja um dos mais precisos registros sobre Santos e São Vicente, e, embora do século 17, revela a conformação dessas duas vilas. Ambas se encontram parcialmente muradas, aparentemente de material não muito perene, e com altura aproximada entre dois e três metros. São Vicente se apresenta com três portas e uma conformação urbana mais compacta e maior que Santos. No interior da baía de Santos há uma frota de grandes navios holandeses; um deles se encontra fundeado no interior da pequena baía de São Vicente, e, outro, no canal do Porto de Santos. Isso mostra a baía de São Vicente, permitindo também a entrada de grandes embarcações. A mesma estampa mostrada por Calixto possui legenda, e, apesar de escrita em francês arcaico, é traduzível. No local, conhecido como Porto das Naus, são identificados um engenho de açúcar e uma igreja.
Ao se comparar o local com a cartografia atual, e com a imagem de 1615 sobre São Vicente, verifica-se que algumas explicações de Reis Filho são contestáveis. Por exemplo, afirma que na estampa “... o canal da Bertioga sai dentro da baía, e leva o autor do desenho a alguns enganos. O principal deles é localizar a Vila de Santos na ilha de Santo Amaro, na margem esquerda do canal do Casqueiro, quando na realidade está sobre a margem direita, na ilha de São Vicente...”.
Na estampa, descontadas as imprecisões, o que é mencionado como o Canal de Bertioga, de fato, é o Canal do Porto de Santos. Assim, a Vila de Santos não está representada na Ilha de Santo Amaro, como explica o professor, mas na Ilha de São Vicente, e, portanto, corretamente. Pode-se confundir esse canal com o que aparece no meio da Ilha de São Vicente. Entretanto, não é um canal, mas o rio São Jorge. Por esse rio era transportada a produção do engenho São Jorge dos Erasmos, criado com São Vicente no século 16 (Figura 2). Ainda hoje pode ser feita a leitura do que teria sido o centro original e mais antigo de São Vicente, a primeira vila do Brasil, fundada em 1532.
O mapa de Santos e São Vicente, feito por Jules Martin, em 1878, indica o póslocal dos edifícios da Igreja Matriz, da câmara e cadeia. O edifício da câmara e cadeia, reconstruído em 1729, ficava no local onde hoje se encontra o mercado municipal, posicionado próximo e obliquamente em relação à Igreja Matriz (Figura 3). “A casa onde funcionava a municipalidade de S. Vicente, foi reconstruída em 1729, bem assim a Igreja Matriz em 1757; no mesmo logar em que existiu a primitiva, desta segunda povoação.” (COMMISSÃO GEOGRAPHICA E GEOLOGICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1920, p. VI e VII)

                       

Figura 3: Planta de São Vicente, criada por Jules Martin, em 1878

Fonte: Arquivos do Condephaat

No mapa de Jules Martin aparece a rua Direita, saindo da matriz em direção a Santos; a rua do Pelourinho, paralela à Direita; a rua do Porto, em direção ao Tumiaru, e a rua da Praia, dirigindo-se à praia de São Vicente. O espaço urbano mostrado pelo mapa de Jules Martin ainda contém o então chamado largo de Santo Antonio, atual praça João Pessoa, representando o núcleo principal da então Vila de São Vicente. O referido largo teve esse nome devido à Igreja de Santo Antonio existente no local, demolida no século 19. No detalhe da Planta da Barra da Villa de Stos, publicada por Reis Filho, cujo original se encontra na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, é mostrada a aparência da Vila de São Vicente, entre 1765 e 1775. Estão indicadas algumas casas ao redor do largo de Santo Antonio e duas igrejas: uma com torre e outra sem. A igreja sem torre seria a de Santo Antonio e a outra, a atual Matriz, a Igreja dos Jesuítas, mencionada por Lúcio Costa, a qual ainda lá se encontra (Figura 4). Essa Igreja de Santo Antonio, também citada por Sebastião Rocha Pitta, no século 18, com a atual Matriz, a câmara e cadeia e o casario em volta, compunham o largo de Santo Antonio, centro principal da Vila de São Vicente. “Não existindo na primeira (S. Vicente) mais que a Igreja Matriz com invocação do Santo, e huma Capella de Santo Antonio, pequena pela fabrica, e grande pelos milagres,...”
(PITTA, Sebastião Rocha. Historia da America portuguesa, apud COMMISSÃO GEOGRAPHICA E GEOLOGICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1920, p. V). Figura 4: 

A planta organizada por Benedito Calixto, a qual pretende traçar uma reconstituição da São Vicente de 1532, mostra a rua Direita, saindo da Igreja Matriz, e sua continuação seguia em direção ao Caminho para Santos. Indica, também, o local da referida Igreja de Santo Antonio no então largo de Santo Antonio. O nome original do largo deveria ser resgatado em substituição ao nome atual, ou pelo menos mencionado por uma placa colocada no local. É o espaço central aberto destinado ao uso público e correspondente ao centro original e mais antigo de São Vicente: o largo de Santo Antonio. A planta de São Vicente, de 1899, encontrada no Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, foi a primeira planta da cidade elaborada com precisão geométrica. Elaborada em escala 1:2.000, nela consta toda a área urbana da então cidade de São Vicente, em 1899. Pode-se notar que o centro urbano ainda apresentava a configuração urbana do período colonial, com construções feitas no alinhamento (Figura 5). Ainda hoje essa estrutura fundiária permanece quase a mesma. Embora as construções tradicionais tenham se transformado durante o século 20, na área referida na planta as novas construções mantiveram a mesma implantação urbana de períodos mais antigos. Dessa planta se pode visualizar a área de abrangência do que, de fato, teria sido a Vila Colonial e como poderia ser o centro histórico de São Vicente hoje, se tivesse sido preservado.

A referida planta revela informações preciosas de 1899, tais como:

1 – Apresenta a localização da antiga casa de câmara e cadeia, onde é hoje o mercado municipal, perto da Igreja Matriz, portanto, confirmando a localização do núcleo original da vila; Figura 5: Planta cadastral da cidade de São Vicente, 1899, 1:2.000, S. Paulo, 9 de novembro de 1899 Crédito: Autor, 1998 113 pós-
2 – Por ser uma planta cadastral precisa, contém todos os lotes urbanos com suas dimensões, os nomes das vias públicas, as principais referências urbanas, as linhas de bonde, além dos elementos geográficos mais importantes.
Os nomes dos autores da planta não foi possível decifrar por inteiro, pois o papel se encontrava muito deteriorado. A imagem correspondente à planta de 1899 é a de um cartão-postal da época. Mostra o centro de São Vicente, com as vias em chão batido e construções de, no máximo, dois pavimentos.
São Vicente, até o começo do século 20 era bastante semelhante a muitos espaços centrais preservados de cidades existentes ao longo do litoral paulista e de todo o litoral brasileiro, como: Cananéia, Iguape, São Sebastião, Olinda, Paranaguá. São construções de pedra e cal, de grandes telhados com telhas de barro do tipo capa e canal, em volta de um espaço aberto, geralmente, chamado de largo. O adro franciscano da antiga Igreja de Santo Antonio, demolida no século 19, com o terreiro jesuíta da antiga Igreja dos Jesuítas, hoje Matriz, formavam um único espaço público aberto. A configuração arquitetônica original do centro de São Vicente se transformou. Mas o antigo largo de Santo Antonio da antiga vila ainda é uma das poucas permanências do espaço urbano a ser identificado no local. Ali foi o centro da primeira vila do Brasil, sede da capitania de São Vicente, que se mantém depois de muitos séculos. Portanto, deveria ser tratado com muito cuidado e reverenciado como um local de grande valor histórico e arqueológico.




As Ilhas de São Vicente e Santo Amaro no século XVIII.



As Vilas de São Vicente e de Santos entre 1765 e 1775. Fonte: REIS FILHO, 2000.


1532 - Martim Afonso de Souza retorna e funda oficialmente a Vila de São Vicente. 
Ao chegar à Vila, expulsou de volta para Cananéia o Bacharel Cosme Fernandes, fundando oficialmente a Vila e criando a primeira Câmara das Américas. Cria o primeiro engenho de açúcar e doa sesmarias. Também na Vila se instalou o primeiro Judiciário. Missão pacificadora da Confederação dos Tamoios, formada por Nóbrega, Anchieta e Adôrno. Ao voltar a Lisboa em 1532 deixa em São Vicente um núcleo de povoamento que dura até hoje.
“O quadro abaixo intitulado A fundação de São Vicente foi pintado por Benedito Calixto em 1900 sob encomenda da prefeitura de São Vicente. Para a pintura do quadro, Calixto utilizou referências de documentos da época (século XVI) a fim de tornar esta pintura uma verdadeira fonte de estudo histórico iconográfico. Alguns estudiosos mencionam que o quadro está situado dentro da tentativa e da necessidade de artistas e intelectuais do século XIX que buscavam inventar uma História para a nação brasileira ainda jovem. Todavia, para nós, estudiosos da iconografia da tradução, o que nos chama a atenção é a parte abaixo do quadro: Esta parte da narrativa visual do quadro de Calixto remete ao ato de interação e comunicação dos portugueses com os índios. Podemos identificar Martim Afonso de Souza ao centro, os índios do lado esquerdo e a comitiva portuguesa (soldados e um padre) do lado direito. Além dessa divisão, percebemos três personagens importantes: João Ramalho, Antônio Rodrigues e, possivelmente, Cosme Fernandes Pessoa (o bacharel de Cananéia). Estes três foram, no século XVI, os grandes intérpretes junto aos índios das comitivas portuguesas mais importantes à época. Os três foram casados com índias e eram conhecidos como "línguas da terra" porque sabiam a língua das tribos indígenas as quais faziam parte. A evidência destes intérpretes na obra de Benedito Calixto revela a importância do ato da interpretação e de seu agente (o intérprete) para as conquistas do terrítório português que originou o Brasil”. (Dennys Silva-Reis. Iconografia da Tradução).

Martim Afonso de Souza, os índios, a comitiva portuguesa e os e fundadores de Tumiaru ou porto dos escravos: João Ramalho, Antônio Rodrigues e, possivelmente, Cosme Fernandes Pessoa (o bacharel de Cananéia). Quadro a fundação de São Vicente, de Benedito Calixto


1533- Tomé de Souza proíbe o trânsito no Peabiru, sob pena de morte para os infratores. Fundação do Engenho do Governador , em São Vicente, o primeiro construído no Brasil. 




- Fixação dos irmãos Adorno (Antonio, José e Paulo) na Capitania de São Vicente. 

Junto com Martim Afonso de Sousa vieram para o Brasil e fixaram-se na região de São Vicente e Santos, exceto Paulo que depois se fixou na Bahia. Antônio Adorno foi capitão de infantaria e alcaide-mor da vila de Bertioga. Em 1552, graças à sua intervenção junto ao governador-geral, recebeu da Bahia armamentos e munições que tornaram o pequeno forte de Bertioga apto a defender o povoado, constantemente assaltado pelos índios. José Adorno estabeleceu-se junto ao morro do Fontana, em Santos, às margens do rio São Jerônimo, onde fundou o engenho de São João. Homem violento e de costumes dissolutos, regenerou-se mais tarde, tornando-se católico e grande amigo dos jesuítas. Foi um dos maiores benfeitores da Companhia de Jesus, em São Vicente. Em 1560, era provedor da Santa Casa de Misericórdia, em Santos. Em 1565, por ocasião das negociações de paz com os tamoios, conduziu, em sua canoa, Padre Manuel da Nóbrega e José de Anchieta para a praia de Iperoig, onde prestou serviços de valor. Frei Gaspar da Madre de Deus o cita como uma das maiores fortunas do século XVI e grande benfeitor para a segurança e progresso agrícola da colonização da Capitania de São Vicente. Morreu com mais de cem anos, em 1605. Paulo Dias Adorno, por ter cometido um assassinato em 1533, fugiu para a Bahia, tendo se casado em 1534 com Felipa Dias (ou Álvares), filha de de Diogo Álvares (o Caramuru). teve um filho do qual, mais tarde, nasceu o sertanista Antônio Dias Adorno. 


Os irmão Adorno, da geração dos bandeirantes vicentinos, quadro de Antônio Parreiras. 



- Pero de Gois solicita ao Rei de Portugal  "peças de 17 escravos", dando início ao período da escravização de africanos no Brasil. 


O INÍCIO DA ESCRAVIDÃO  DE AFRICANOS NO BRASIL


Um dos registros mais antigos da chegada dos escravos da África Ocidental para o Brasil é de 1533, quando o colonizador Pero de Góis pediu ao rei de Portugal, 17 "peças de escravos". Naquela época, entretanto, a exploração do pau-brasil era feita basicamente com trabalho indígena

Em 1516, foi construído no litoral pernambucano o primeiro engenho de açúcar de que se tem notícia no Brasil, mais precisamente na Feitoria de Itamaracá, confiada ao administrador colonial Pero Capico — o primeiro "Governador das Partes do Brasil". Em 1526 já figuravam direitos sobre o açúcar de Pernambuco na Alfândega de Lisboa

Porém somente em 1559, a escravidão de africanos no Brasil foi oficialmente permitida pela coroa, a regente de Portugal, Dona Catarina de Áustria, emitiu alvará, permitido a todos os senhores de engenho a importar até 120 escravos do Congo. Mandando cobrar um terço dos direitos sobre a importação dos escravos.

Em 1540, havia 800 engenhos de cana-de-açúcar na Ilha de Santa Catarina e outros 2.000 na costa norte do Brasil, Demarara e Suriname.

Em 1580 o Brasil se torna o maior exportador de açúcar do mundo. Quem comercializava a produção era Portugal e, também, a Holanda.

O modelo econômico dos engenhos de cana de açúcar com uso de mão de obra escrava foi introduzido na Europa pelos árabes, e conhecido na Espanha e Portugal desde o Século X

O açúcar formava um lado do triângulo comercial de matérias-primas do Novo Mundo, junto com produtos manufaturados europeus e escravos africanos. Os lucros da venda do açúcar eram então usados para comprar produtos manufaturados, que eram enviados para a África Ocidental, onde eram trocados por escravos. Os escravos eram então trazidos de volta ao Brasil para serem vendidos aos plantadores de açúcar. Os lucros da venda dos escravos eram então usados para comprar mais açúcar, que era enviado para a Europa. A labuta nas plantações de cana-de-açúcar tornou-se a base principal de uma vasta rede de deslocamento populacional forçado , fornecendo pessoas para trabalhar sob coerção.
O engenho d'açucar foi a fábrica da aristocracia. Circulou por isso um adagio: "Quem quiser o Brasil do Brasil, traga o Brasil para o Brasil" isso é, o capital, representado pelos escravos.
 
O açúcar representou a primeira grande riqueza agrícola e industrial do Brasil e durante três séculos, foi a base da economia.

Em 1680, o Padre Antônio Vieira se eleva contra os senhores dos engenhos e a desumanidade praticada aos escravos negros, Chega a comparar o sofrimento do escravos as dores de Jesus Cristo na Cruz:
"Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite se dormir, parte de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.” Cristo, seguirá Vieira, na sua Paixão, sofreu as dores do inferno, os escravos sofrem no Inferno do “Engenho de Açúcar o doce Inferno.”

Apenas décadas após o início do tráfico de escravos africanos no Brasil, já existiam Quilombos perseguidos pelas autoridades. O Primeiro Quilombo do Brasil de que se tem notícia data do ano de 1573 nos arredores da Cidade de Salvador na Bahia. Durante a administração do Governador Geral Luis Brito e Almeida varias expedições foram criadas para destruir esse Quilombo, sem sucesso. 8 anos depois o Quilombo foi destruído sob a liderança do governador Cosme Rangel de Macedo que teve ajuda do mamposteiro-mor Onofre Pinheiro, chefe do regimentos de “índios echeiros” espécie de soldados primitivos a serviço da Capitania, os índios aldeados pelos Jesuítas, que eram a principal linha de defesa das cidades da América Portuguesa no Século XVI.
 
No século e meio da primeira fase (1500-1640), cerca de 800.000 africanos embarcaram na “Passagem do Meio”. Durante o curso da segunda fase (1640-1700), 817.000 deixaram a África. Na fase final, entre 1700 e a abolição britânica em 1807, foram exportados 6.686.000. Isso significa que quatro em cada cinco africanos transportados para o Novo Mundo entre 1500 e 1807 foram embarcados na fase final do tráfico transatlântico.


Durante todo o período, os comerciantes cristãos-novos portugueses foram os maiores arrematadores dos contratos do comércio transatlântico de escravos, controlando o comércio negreiro e dinamizando as rotas escravistas afro-americana

O açúcar, a tinturaria e o comércio de escravos eram seus principais interesses. Os comerciantes privados que quisessem participar desses negócios precisavam arrendar um monopólio ou obter uma licença comercial da coroa e/ou dos contratadores. Os da Costa, os Dias Henriques, os Vaz de Évora, os Rodrigues de Elvas e os Fernandes de Elvas eram algumas das famílias mais proeminentes que detinham a gestão dos contratos (monopólios reais)." Os Lamego, os Ximenes, destacam-se também as famílias Coutinho e Gomes da Costa, que até meados da década de 1620 apareciam regularmente como titulares dos contratos de monopólio da coroa portuguesa, não só para a África Ocidental, mas também para outras áreas comerciais.
 
TERRA DE SANTA CRUZ  
Fonte: Anais pernambucanos - Volume 1, 1983. Crossing Empires: Portuguese, Sephardic, and Dutch Business Networks in the Atlantic Slave Trade, 1580-1674. Filipa Ribeiro da Silva. Cambridge University . Os cristãos-novos portugueses e o comércio de escravos no porto de Buenos Aires (c.1595-1640)/The Sephardic Atlantic. Colonial Histories and Postcolonial Perspectives/ Sina Rauschenbach, Jonathan Schorsch/Os cristãos-novos: o povoamento e a conquista do solo brasileiro. José Gonçalves Salvador.  


1534– Anna Pimentel torna-se administradora da Capitania de São Vicente.

Anna Pimentel, mulher de aspecto frágil mas de grande autonomia para sua época, era prima e dama de honra da Rainha Dona Catarina, irmã de Carlos V, Rei da Espanha. Nascida em Salamanca, casou-se cedo, em 1524 com um jovem fidalgo português. Sabia ler, escrever e contar o que já era suficiente para torna-la uma mulher especial, já que no século XVI, às mulheres cabia a atividade do lar, organizar a cozinha, cuidar das crianças e do pomar, fiar, tecer e rendar. Um mês após o casamento, Martim Afonso de Sousa, seu marido, foi à guerra com o rei Carlos V. No ano seguinte, transferiu-se com o marido para Portugal, levando a prima, D. Catarina, noiva de D. João III.Com inúmeros afazeres que o distanciavam das propriedades, nomeou, Martim Afonso, Anna Pimentel como sua procuradora, por conhecer suas vontades e ambições. Anna Pimentel, ao permitir que os moradores da Vila de São Vicente tivessem livre acesso ao planalto, o que lhes era vedado, propiciou o desenvolvimento do interior. Anna Pimentel, juntamente com Martim Afonso, fez construir uma capela de família, no Convento de São Francisco, em Lisboa. Durante a ausência do seu marido (1542/1545), quando governava a Índia, mandou erguer duas belas e grandes casas em Lisboa. Uma delas foi transformada no Palácio Martim Afonso. Faleceu em Portugal no ano de 1571 (Boletim do IHGSV)

- Introdução do gado e da pecuária em São Vicente. Implantação dos do sistema de capitanias hereditárias. As capitanias de São Vicente e Santo Amaro são doadas pelo rei d. João III aos irmãos Martim Afonso de Sousa e Pero Lopes de Sousa, com a implantação do sistema de capitanias hereditárias. Inicialmente, os limites de São Vicente estendiam-se da margem do rio São Francisco do Sul à ilha de Santo Amaro (atual Guarujá), tendo como principais núcleos as vilas de São Vicente, São Paulo, Mogi das Cruzes e Taubaté.

- Provável chegada ao Brasil de Pero Correia. 

Nasceu em Portugal e faleceu em 1554, na região de Cananeia, então Capitania de São Vicente. Irmão jesuíta, presumivelmente chegou ao Brasil em 1534, tendo estado no Rio de Janeiro, antes da vinda do francês Villegagnon, que invadiu o território. Levou a vida de aventuras como conquistador e aprisionando índios para vendê-los como escravos. Em 1549, deixou a vida bárbara que levava e se converteu e foi recebido como irmão pelo padre Leonardo Nunes. Entrou na Companhia de Jesus, em São Vicente, sendo o primeiro irmão recebido no Brasil, e, então, doou todos os seus bens e as terras que possuía ao Colégio de São Vicente, do qual foi um dos fundadores. Falando fluentemente a língua tupi evangelizou índios de diversas nações e participou, em 25/1/1554, da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga. Em fins de 1554, com seu companheiro irmão João de Sousa, foi morto a flechadas pelos índios Carijós, na região de Cananeia, quando em missão de catequese. Juntamente com João de Sousa é considerado o protomártir da Companhia de Jesus no Brasil. (Governo do Estado de São Paulo)

1535–Instituição do degredo no Brasil. Criada a Paróquia de São Vicente, sendo a primeira da Capitania e tendo como pároco o padre Gonçalo Monteiro, vindo com esquadra de Martim Afonso de Sousa em 1532.

1536 – Gonçalo Monteiro é nomeado capitão-mor de São Vicente. 

Capelão de bordo na expedição de Martim Afonso celebrou a 1ª missa em São Vicente a 22 de janeiro de 1532. Foi Vigário da Igreja Nossa Senhora de Assunção, a 1ª do Brasil, a qual foi tragada pelo mar no maremoto de 1542. Primeiro loco-tenente da Capitania de São Vicente deu considerável impulso à Capitania, auxiliado por João Ramalho e Brás Cubas. Em 1534, ajudou a repelir a invasão Rui Mosquera a São Vicente. Foi nomeado em 1536 por Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso, governador da capitania, cargo que desempenhou até 1539. (Boletim IHGSV)

- Criação da Vila de Santos por agricultores e comerciantes liderados por  Brás Cubas, com autorização da governante Ana Pimentel, esposa e procuradora de Martim Afonso de Souza.

- O pirata Mosquera atacou e saqueou São Vicente levando consigo o chamado Livro do Tombo, onde os primeiros moradores registravam os fatos importantes da vila.

1540- Erasmo Schetz adquire de Martim Afonso o Engenho do Governador ou Engenho do Trato.
Existem divergências em relação à data em que o Engenho São Jorge dos Erasmos teria sido construído. Historiadores como Maria Regina da Cunha Rodrigues e Pedro Taques de A. Paes Leme apontam o antigo Engenho do Governador como sendo o primeiro da Capitania de São Vicente (1533). Francisco Martins dos Santos afirma que foi o segundo (1534-35) e Basílio de Magalhães e Paul Meurs acreditam que o Engenho dos Erasmos foi o terceiro empreendimento desse tipo a ser construído na região. Já no século XX, os terrenos com as ruínas foram adquiridos por Otávio Ribeiro de Araújo, que loteou a propriedade e doou o Engenho São Jorge dos Erasmos à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, no ano de 1958. Deu-se início aos processos de tombamento do sítio nas três esferas: Nacional (1963), Estadual (1974) e Municipal (1990). (Ruína Engenho São Jorge dos Erasmos)

1541 – Um cataclismo marítimo ou maremoto atinge o povoamento pré-afonsino, conhecido como Porto dos Escravos e que mais tarde será a Vila de São Vicente.

No início da década de 1540 São Vicente sofre uma violenta ressaca marítima causando a destruição da vila e forçando sua transferência para lugares mais seguros e distante da orla. Uma outra hipótese aponta que a vila teria desaparecido pela transformação geológica e topográfica causada por uma cataclismo marítimo de origem desconhecida e que, segundo essa hipótese, teria resultado na desfiguração da antiga Ilha Guaibê ou Morpion. A grande onda teria invadido e destruido a Terceira Barra ou Barra Sul e também o canal do rio que separava a ilha de São Vicente da Ilha Guaibê (atual maciço do Xixová-Itaipu, praias de Paranapuã e Itaquitanduva), onde se localizava a primeira vila e porto Tumiaru. Esse mudança topográfica teria provocado a perda do calado, impedindo o acesso de navios, que passaram a usar a Barra Norte (Bertioga) e canal do atual porto de Santos, da Ponta da Praia até Valongo. Esta também teria sido uma das causas do declínio econômico da vila de São Vicente que, segundo relatos da época “Era rica e depois ficou pobre”. 

ONDA GIGANTE ENCOBRIU PARTE DA VILA 

Primeira Igreja Matriz e Pelourinho ficaram submersos depois da ação da Natureza

“Por volta de 1541, uma grande onda avançou sobre a Vila de São Vicente, encobrindo parte de sua área e deixando submersa a primeira Igreja Matriz e o Pelourinho. O fato histórico é narrado por Frei Gaspar da Madre de Deus, segundo a historiadora Wilma Therezinha Fernandes de Andrade. Ela explica que em 1797, o historiador beneditino, autor da obra Memórias para a História da Capitania de São Vicente, escreveu sobre a Vila: "...foi, porém, muito breve a duração de seus edifícios porque tudo levou o mar". A historiadora adverte, no entanto, que o documento não menciona vítimas nem a data exata do desastre. Segundo ela, lendo as atas da Câmara de São Vicente, Frei Gaspar informa que a invasão do mar ocorreu em 1541, pois em 1º de janeiro do ano seguinte, a Câmara reuniu-se na Igreja de Nossa Senhora da Praia, o que se repetiu em 1º de março "por ter o mar levado às casas do concelho". De acordo com Wilma, as pessoas, com medo de nova invasão do mar, reconstruíram a Vila longe da praia. "O governo local providenciou, em 1543, o resgate do que foi possível".
Gastos 
A Câmara teve de gastar 620 réis para fazer o primeiro salvamento subaquático de que se tem notícia no Brasil, e talvez das Américas, conforme a historiadora. "O governo mandou retirar do fundo do mar o pelourinho de pedra, os sinos da Matriz, objetos caros que valia a pena salvar. Hoje, o pelourinho, relíquia da História do Brasil, encontra-se no Museu Paulista, no Ipiranga (na Capital)". Dentre as providências para manter a vila, segundo relata a historiadora, a Câmara chama para São Vicente, em 1542, os moradores do Campo de Piratininga, para se defenderem dos freqüentes ataques dos indígenas.
"Isso demonstra que a vila vicentina ficara despovoada, com pouca gente para a sua defesa. A invasão marítima afugentou os moradores de São Vicente, com receio de novo avanço do mar", ressalta Wilma. (A Tribuna, em 22 de janeiro de 2005)

A VILA PRÉ-AFONSINA

Onde se localizava, de fato, a primeira vila e o local onde habitavam os indígenas e os primeiros portugueses que aqui se estabeleceram? 
Este é um tempo também envolto em alguns mistérios e enigmas ainda não decifrados totalmente pelos historiadores, sendo preenchido por lendas e hipóteses fantásticas e míticas. Entretanto , os relatos do Padre Anchieta, do Padre Cardim e do Frei Gaspar sobre a antiga vila e porto pré-afonsino desconstroem e ao mesmo tempo dão sentido aos aspectos lendários. E o “divisor de águas” entre esses dois períodos foi o incidente de 1541, é o cataclismo geológico e marítimo que mudou a topografia da região e deu novos rumos ao porto Tumiaru. 

“É situada em uma ilha que terá seis milhas em largo e nove em circuito; antigamente era porto de mar e nele entrou Martim Afonso de Sousa a primeira vez com sua frota, mas depois com a corrente das aguas e terra do monte se tem fechado o canal, nem podem chegar as embarcações por causa dos baixos e arrecifes; terá 50 fogos de Portugueses com seu vigario, e por estarem as terras gastas e não ter porto se vai despovoando pouco a pouco.” (Anchieta)

“Aqui tem os padres uma casa aonde residem de ordinário seis da Companhia: o sitio é mal assombrado, sem vista, ainda que muito sadio: tem boa cerca com várias fructas de Portugal e da terra, e uma fonte de mui bôa agua.” (Cardim)

“Por estas, ou alguma outra razão que ignoro, levantou a Vila no fim da praia de Tararé, junto ao mar, em sítio alguma cousa distante do pôrto de Tumiaru, entre o qual e a povoação se intromete um outeiro [...] Para Matriz, erigiu uma igreja, com o título de Nossa Senhora da Assunção: fêz cadeia, casa do Concelho e tôdas as mais obras públicas necessárias; foi porém muito breve a duração dos seus edifícios, porque tudo levou o mar...” (Frei Gaspar)

É possível que os relatos sobre Gohayó (ilha separada à força), Enguaguassu (grande seio de mar) Morpion (Ilha dos Pássaros e terra de lidadores), Guaibê (Ilha do Sol) e a Lenda de Itaíra sejam indícios dessa época obscura ainda desconhecida da nossa história. (Org.)

A TERCEIRA BARRA OU BARRA SUL
SÃO VICENTE TINHA BARRA PRÓPRIA PARA O MAR

ANTÕNIO TELEGINSKY



Publicado por São Vicente Sociedade Alternativa.


Documentos - Pe. José de Anchieta em 1585 escreveu dizendo que São Vicente fora, antigamente, porto de mar. Palavras textuais: “Mas depois, com a corrente das águas e de terras do monte se tem fechado o canal, nem podem chegar as embarcações por causa dos baixos e arrecifes.” (Porto Seguro - História Geral do Brasil - I Vol. pág. 155)

Fernão Cardim, na mesma época observa, em relação a São Vicente, que:
“Foi rica, agora é pobre por se lhe fechar o porto de mar e barra antiga.”
(Fernão Cardim - Tratado da Terra e Gente do Brasil - pág. 315/316).
Para melhor compreensão dos fatos, cumpre alertar para o seguinte:
 A Vila São Vicente foi destruída pelo mar, entre 1542 a 1545. Os documentos que falam da Barra de São Vicente tratam da barra por onde entrou a armada de Martim Afonso. Não se referem ao canal estreito, como sempre sobre o qual atravessa a Ponte Pênsil, por onde caravelas de 150 toneladas de calado não passariam senão com grande risco de acidente.
Frei Gaspar da Madre de Deus, no livro Memória para história da Capitania de São Vicente, pág. 46 e seguintes, irrita-se e se embaraça, quando fala sobre a Barra de São Vicente. Ele faz confusão, não sei se proposital, entre o canal da Ponte Pênsil e a antiga barra de São Vicente, ou Barra Sul.
São palavras suas:
"É opinião ou erro comum que a esquadra de Martim Afonso entrou pela mencionada Barra de São Vicente. Dizem eles, que nesse tempo ela conservava fundo suficiente para naus maiores e que depois se areara e hoje somente é capaz de canoas.” pág. 46.
Na pág. 48:
“Ainda teimam os moradores desta Vila, que todos os navios antigamente entravam pela sua barra e davam fundo no Porto de Tumiaru.”
O mesmo Frei Gaspar traz um documento de Sesmaria dada em 31 de dezembro de 1536, a Estevão da Costa, por Gonçalo Monteiro, vazado nestes termos: (documento anterior à destruição da Vila)
“Da Ilha de Guaibe, onde é o Porto das Naus, defronte desta Ilha de São Vicente, onde todos estamos..... e da banda do Sul partem com a barra e Porto da dita Ilha de Guaibê, e desta de São Vicente, que é onde ancoram as náus quando vem para este porto de São Vicente.”
Jerônimo Leitão ao pedir o uso do Porto das Naus, dentre outras coisas, diz em seu requerimento:
“Martim Afonso ........ deu na dita terra ao Conselho um tiro de arco em roda, para varadouro dos navios “ (porque naquele tempo parece que varavam ali). (doc. de 1580 posterior à destruição da Vila).
Confirmando tudo o que acima ficou dito, quero trazer ao conhecimento dos leitores, um documento que reputo de grande valia para o tema em exame. Trata-se da doação que fez Pero Correia, à Casa da Companhia da Ilha de São Vicente, das terras que recebera em Sesmaria, de Gonçalo Monteiro, em 1542:
“... digo ser verdade que no livro do tombo são duas cartas registradas das terras que Gonçalo Monteiro sendo Capitão deu ao dito Pero Correia. A primeira que foi dada que é defronte desta ilha e Vila de São Vicente que era antes dada pelo Governador a um Mestre Cosme Bacharel, que o dito Gonçalo Monteiro houve por devoluta, começa a partir do Porto de Naus ......... Começou a partir que é no dito Porto das Naus, ficara um rocio de um tiro de arco, assim como foi mandado e ordenado pelo senhor Governador que fica livre e desembargado para quando as naves ali ancorassem.” (Serafim Leite - História da Companhia de Jesus no Brasil - Tomo I - Ed. 1938)
Esse documento lavrado em cartório, em 1553 dá conta, de maneira inequívoca sobre a real situação da Vila de São Vicente, antes do fenômeno marinho que a destruiu em 1542/45
Outra feição importante é situar a Ilha de Guaibê, que não é outra senão o belo maciço que se estende desde o Porto das Naus, Prainha (praia de Paranapuã ou das Vacas) até a Fortaleza de Itaipu. Hoje ainda, pode-se ir de canoa do Mar Pequeno, até a ponta de ltaipu, por água, sem pisar em terra firme, em dia de maré alta.
É isto que ainda resta da Barra Sul de São Vicente. Resta, ainda, também, o maciço tornado Parque Ecológico por Decreto Estadual de nº 37.536 de 27/09/93. Neste particular, São Vicente é, também, pioneira. A antiga Ilha de Guaibê é Parque Estadual, unidade de preservação de relevante significado científico, cultural e ambiental.
Desde 1988 a UNESP vem desenvolvendo trabalhos de ensino e de pesquisa na região, através de seu Centro de Ensino e Pesquisa do Litoral Paulista - CEPEL. Conta atualmente, com o aporte técnico-científico e diversas equipes de docentes dos diferentes “campus” da Universidade espalhados pelo Estado. Além de estarem sendo desenvolvidos inúmeros projetos para o aperfeiçoamento e especialização dos profissionais em biologia, microbiologia, oceanografia e outros profissionais da baixada santista, existem, em andamento, pesquisas científicas, neste Parque, pioneiras no mundo, como é o caso da absorção e transformação dos poluentes pesados, por organismos vivos das águas marinhas.
Hoje, o estudo da biodiversidade representa, para o amanhã, riqueza de projeção incalculável. Nesse Parque de 901,00 hectares razoavelmente preservado, biodiversidade e os ecossistemas de Mata Atlântica guardam, ainda, características notáveis. O Parque, além de servir de pouso e reprodução de aves migratórias, apresenta, ainda, moluscos e outras espécies marinhas que não existem mais, em outros lugares da região.
Com a criação do Parque Xixová-Japuí, São Vicente não terá problemas com favelas em morros. Quando desaparecerem as favelas urbanas, com o desenvolvimento das populações hoje carentes, São Vicente prosseguirá desenvolvendo sua vocação histórica de cidade pioneira do Brasil.
Ilha Porchat, 11 de Janeiro de l995.


A LENDA DE ITAÍRA 

A povoação era toda plantada à beira da praia alva e muito baixa. Redes estendidas ao sol, ranchos onde as canoas descansavam das lides contra o mar; barcos rescendiam a pixe e resina, enquanto outros montados em cavaletes, com as cavernas à mostra, esperavam reconstrução. Perto, bem perto mesmo, a capelinha com seus sinos ao lado. Um grande, de som forte e cheio, bem acima do outro, pequenino, voz estridente e fina, em contraste com o seu companheiro de repiques. Dir-se-ia que a capelinha velava cuidadosamente, tudo espreitando, os que chegavam, os que partiam!...
Animais soltos, com chocalhos amarrados ao pescoço, pastavam a grama rasteira, que florescia aqui e ali, onde o viandante não passava continuamente.
De quando em quando, barra fora, apontava um veleiro adornado ora para um, ora para outro lado, ao peso das velas enfunadas; eram notícias da Corte, esperança para todos, saudades para muitos!
Além da praia, erguiam-se casinhas fabricadas toscamente, dispostas sem simetria, umas caiadas, outras barreadas simplesmente.
Neste ambiente de sossego e de paz, vivia Itaíra, linda e formosa índia, domesticada pela família de um dos escudeiros de Martim Afonso. Moça feita, apaixonou-se pelo filho do seu protetor e seu pai de criação. Ele, porém, era noivo de uma guapa rapariga, lisboeta de nascimento e de educação, morando agora na Corte. Gostava de Itaíra como companheira dos folguedos de São João e São Pedro, do Natal e dos Santos Reis, fora disso nunca tivera amor nem intenção de desposá-la.
Itaíra, contudo, filha de gentios, sangue fervilhando nas veias, temperamento ardente, sentia por Otávio alguma coisa além das suas forças, inexplicável, irresistível! Passava-se o tempo...
Um dia, a Vila de São Vicente toda embandeirada e ornada festivamente. Os sinos da capelinha repicavam alegremente, ao ar subiam girândolas de fogo de artifício, o casamento do senhor Otávio com a filha do mordomo do Paço da Cidade de São Sebastião acabava de ser realizado! Todos se divertiam bastante, a alegria contaminava; só em um canto, esquecida e isolada, Itaíra chorava baixinho sua grande dor.
Desde este dia, a nostalgia invadira-lhe a alma e uma vez em que com outras amigas se banhava na praia linda e muito alva, afastou-se tanto e tanto, que o mar tragou-a para sempre!...
Alguém, confidente de sua paixão, murmurou sobre este acidente como proposital, e dizem que lá, nas profundidades do oceano, ela contou a Anfritite e a Netuno seu esposo, Deus do mar, a desdita de sua vida. A infelicidade do seu amor! Netuno prometeu vingá-la!
Uma madrugada, quase ao alvorecer, o Deus marinho saiu do seu palácio suntuoso e, de repente, o Oceano todo encapela-se, enfurece-se, encrespa-se, ruge, brama e escava a praia esbatida formando abismos insondáveis! E raivoso, sedento de vingar a virgem bugre, investe pela praia adentro tragando as casinhas das proximidades, as velhas choças abrigo das canoas e dos barcos, as redes estendidas e a ermida com seu altar e seu sino plangentes! E em sua investida continuaria, se não fosse o raiar do sol brilhante, que o dominou com sua claridade.
Por isso, hoje, na Praia de São Vicente, em noites escuras, o mar arremete do mesmo modo ainda contra a praia, formando precipícios, enquanto do fundo dele ouve-se na calada o toque dolente dos sinos da capelinha submersa, até que o sol, surgindo, acalme seu furor, subjugue seu instinto!
No momento atual, o homem levanta imensos paredões de pedra para defender a cidade da vingança de Itaíra, a filha das selvas, vítima de sua paixão. (Poliantéia Vicentina)

A MILÍCIA VICENTINA 

A primeira convocação para um serviço militar obrigatório em terras brasileiras aconteceu por promulgação da Câmara de São Vicente, a 9 de setembro, que expediu um termo que determinava a organização de uma milícia formada por colonos e índios. O objetivo desse primeiro exército nacional: defender a primeira vila do Brasil dos constantes ataques dos silvícolas e também piratas. Assumiu o comando da Milícia o Capitão-mor Cristóvão de Aguiar Altero, nomeado no dia 25 de maio de 1542, por D'Ana Pimentel, esposa e procuradora de Martim Afonso de Sousa. A partir daí, convocaram-se obrigatoriamente, todos os que residiam na Vila sem exclusão dos indígenas.
Esse “Termo” foi o esboço do serviço militar obrigatório e o primeiro sistema de defesa da colônia, que já havia sofrido experiências anteriores com ataques de Tupinambás e sobretudo de ataques de corsários franceses que rondavam as costas vicentinas. A Milícia se fez mais necessária ainda pela grande cobiça internacional sobre a terra recém-descoberta. Ainda mais pelos comentários, nos quais se dizia que havia um caminho de São Vicente ao Peru, o qual era muito procurado pela prata que lá se obtinha.
Essa iniciativa vicentina, ainda deu origem ao Regulamento Régio de 17 de dezembro de 1548, que autorizava a todo colono possuir uma arma de fogo, pólvora e chumbo necessários à sua defesa e, aos proprietários de engenho de terem a quantia de pólvora necessária para acionar dois falcoes (canhões de pequeno calibre), 20 arcabuzes, 40 espadas, lanças, gibões acolchoados para a proteção dos milicianos e outros apetrechos de guerra. Esse regimento é d’EL-Rei, que traduzido pelo 1º Governador Geral, Thomé de Souza, sendo esta a primeira lei orgânica das Forças Armadas do Brasil. Tendo São Vicente sua Milícia formada por algumas vezes, foi convocada a socorrer outras localidades como os habitantes do Rio de Janeiro, em 1565, que estavam sofrendo ataques franceses.
O nosso exército começa, na realidade, com a primeira força regular chegada ao Brasil, trazida por Thomé de Souza, formada por 600 homens (degredados) de Infantaria e Artilharia. Foram esses contingentes militares formados justamente com as Milícias aqui já existentes que deram origem às formidáveis expedições para a devassa e a ocupação do interior bárbaro e desconhecido do leste, no centro-oeste e no sul. Foi enfim dessas Milícias devotadas à defesa da terra que saíram os efetivos para lutar contra os corsários e o invasor holandês, durante o período da união das coroas de Castela e de Portugal. Um Regimento posterior, de 1570, expedido por El-Rei Dom Sebastião, melhor precisaria a organização das Milícias de defesa das capitanias. Assim, com a criação da Tropa das Ordenanças Sebásticas, na qual se incorporavam todos os homens válidos, era lançada a base de uma organização militar, real e permanente para o Brasil. (Boletim IHGSV)

1543 - Brás Cubas funda a primeira Santa Casa de Misericórdia, à qual chamou Todos os Santos, nome que passaria à vila de Santos, cujo porto era mais bem localizado que o de São Vicente. O fidalgo chegou a ser o maior proprietário de terras da zona litorânea.

- Antônio Rodrigues é promovido "almotacê" em São Vicente. 

Almotacé é o funcionário de confiança dos concelhos na Idade Média responsável pela fiscalização de pesos e medidas e da taxação dos preços dos alimentos; sendo encarregado também da regulação da distribuição dos mesmos em tempos de maior escassez.

1545 – Primeiro desmembramento territorial de São Vicente. 

1547 - Diogo Braga, natural de Portugal, e seus cinco filhos, povoadores de São Vicente, foram os heróis vencidos e devorados pelos tamoios, depois de tenaz resistência com que se defenderam, coadjuvados por alguns colonos e por tupiniquins.

1549 – Tomé de Souza instala o 1º Governo Geral do Brasil. Chegada ao Brasil dos seis primeiros jesuítas, sob a chefia de Manoel da Nóbrega. 

1550 – O padre Leonardo Nunes, em suas cartas, sem declarar nomes, fala de muitos portugueses em São Vicente “(...) que já aí estavam em pecados mortais sem confissão, havia 30 e 40 anos.” , portanto desde 1510 e 1520.

O padre Manoel da Nóbrega pede ao rei de Portugal que envie mulheres ao Brasil, incluindo meretrizes. O Padre Leonardo Nunes, fundador do primeiro colégio na Capitania de São Vicente, dele tendo sido seu primeiro professor, foi um extraordinário catequista das numerosas tribos indígenas radicadas no litoral, de São Vicente a Peruíbe, deslocando-se nessa área com tal freqüência, foi pelos índios chamado de “Abarebebê” – o Padre Voador. Logo transformou-se em notável expoente na colonização brasileira a partir de 1549, quando chegou na comitiva de Tomé de Souza, como primeiro Governador Geral do Brasil. Na distribuição dos jesuítas que haviam chegado, Leonardo Nunes veio para São Vicente, como o “homem vindo do céu”.
Logo construiu no povoado vicentino uma casa e uma igreja para educar crianças indígenas. Foi a primeira escola da capitania. Ao acompanhar o trabalho zeloso de Leonardo Nunes, alguns homens importantes da colônia chegaram a filiar-se à Companhia Jesuíta. Entre eles estava Pêro Correa, famoso caçador de índios que, mais tarde, converteu-se ao cristianismo, tornando-se apóstolo da fé. Nessa região, Leonardo Nunes fundou o 1º Curso de Humanidades do Brasil, em 1550. Aqui desenvolveu a 1ª indústria metalúrgica nesse mesmo ano e em 1551, instalou o 1º albergue, que representou o 1º hotel em plagas brasileiras.
Foi professor, médico e catequista junto aos índios, antecedendo Nóbrega 3 anos, e a Anchieta 4 anos.
Durante o período que viveu em São Vicente, incomodava-o o estilo de vida desregrada de João Ramalho, que tinha muitas mulheres (todas índias) e muitos filhos, razão pela qual o considerava excomungado, expulsando-o das missas que rezava. Nunes se tornou o primeiro a promover libertação de índios do trabalho escravo na região.
Seu superior, Padre Manuel da Nóbrega, em 1554, encarregou-se da importante missão de ir a Europa informar o fundador da Ordem Jesuítica, Inácio de Loyola, os grandes progressos obtidos em prol da cristianização dos índios brasileiros.
No dia 30 de junho do mesmo ano, partiu de Santos e enfrentando forte temporal, seu navio naufragou, perecendo ele afogado. Leonardo Nunes – o ABAREBEBÊ, o grande colonizador, tornou-se o primeiro mártir cristão dos primórdios da brasilidade. (Boletim do IHGSV)

1551 - Chegada de três órfãs, as primeiras mulheres brancas no Brasil. 

- Hans Staden, segundo se depreende da narração de sua Viagem e Cativeiro entre os Indígenas, chegou a S. Vicente. Diz ele que cerca de dois anos antes da sua chegada, talvez por 1549, os irmãos Braga haviam construído na Bertioga uma Casa Forte, para defesa contra os índios tupinambás que, nesse lugar, sempre os vinham atacar.

- O comerciante de São Vicente João Pires é condenado ao degredo no sítio de Bertigoa, local considerado perigoso e alvo certo de ataques indígenas canibais. Temendo ser devorado, o comerciante propões ao governado da Capitania, em troca do degredo, a construção de uma caminho para o Planalto de Piratinga, o que foi aceito, surgindo o Caminho de Anchieta. 

- Brás Cubas é nomeado por Dom João III provedor e contador das rendas e direitos da capitania
1552- João Ramalho é nomeado Capitão-mor de São Paulo.

O PRIMEIRO RICO DE SÃO PAULO


João Ramalho, náufrago português mudado para o planalto por volta da segunda década do século XVI, foi o primeiro rico de São Paulo. Fez fortuna organizando trocas entre os tupis nativos e as naus européias que aportavam na barra de São Vicente. Mas não era exatamente um negócio nos moldes atuais: as bases de seu peculiar empreendimento merecem ser conhecidas por fundarem uma economia e uma civilização.
De um lado estavam os tupis. Eram capazes de produzir excedentes com grande facilidade – mas viviam muito bem sem acumular. Sua economia se baseava na máxima distribuição de bens e na preservação da natureza tropical que lhes garantia o modo de vida alegre, na qual reserva alimentar significava festa religiosa e ócio. O ferro foi o instrumento que levou os nativos a mudarem radicalmente de vida. A tarefa mais pesada das tribos era a abertura de clareiras nas matas com machados de pedra. Os machados e as cunhas de ferro facilitavam esse trabalho- e se tornaram o objeto do desejo de todos os tupis que os conheciam. 
De alguma forma, João Ramalho obtinha instrumentos de ferro. E conseguiu muita coisa em troca. Com isso construiu alianças políticas. No caso dos tupis, a aliança era selada por um casamento com uma filha de um chefe – que obrigava o genro a apoiar a família da noiva, e lhe permitia receber apoio do grupo do sogro. Cartas da época chegaram a falar em 30 mulheres de João Ramalho. Isso não significa devassidão, mas forma de riqueza: controle político sobre grupos que tinham prioridade no recebimento de ferro, e controle econômico sobre os produtos que estes forneciam. 
Aqui há um ponto fundamental. A idéia de casar uma filha com um homem forte de fora era parte integrante da cultura tupi desde antes da chegada dos portugueses. Essa cultura, de certa forma, centrava-se na busca radical de contato com o outro – e o rito de antropofagia, pelo a deglutição de uma guerreiro valente confirmava o valor do seus captor e lhe dava uma identidade masculina do contato com os de fora como a metafísica de apropriação da cultura alheia. Assim se entende que a busca do ferro, além de gerar negócios, fundou mais uma aliança temporária. Gerou uma forma de sociedade aberta, mista – e cujo fruto visível eram os filhos miscigenados das uniões (...) 
(Jorge Caldeira, a Formação da Riqueza Paulista- Revista São Paulo)

1553 – Com autorização de Ana Pimentel, governante da Capitania de São Vicente e esposa de Martim Afonso (na época em viagem às índias) , Brás Cubas empreende a construção da Santa Casa de Misericórdia e consolida a fundação da Vila de Santos. Foi, quando esteve na Capitania de S. Vicente, em princípios de 1553, que Tomé de Sousa, governador geral do Brasil, acrescentou a Martim Afonso a vila de Santo André, e o nomeou alcaide-mor do campo (carta da Bahia de 1º de junho).

- Em fevereiro de 1553, Padre Dr. Manuel da Nóbrega, formado em direito canônico pela Universidade de Coimbra e chefe da missão jusuítica no Brasil, chega a São Vicente na companhia de Tomé de Souza, primeiro governador de nossa terra.

- O Padre Leonardo Nunes – o Abarebebê (Padre Voador), funda em São Vicente o Colégio dos Meninos de Jesus, com sua respectiva igreja – o Primeiro Seminário da Capitania de São Vicente. 

THOMÉ DE SOUZA VISITA SÃO VICENTE

Em fevereiro de 1553, já no fim do seu mandato, em navio comandado por Pero de Góis, seu capitão do mar, Tomé de Sousa percorreu a costa do Brasil, em inspeção às capitanias, que constituíam o seu governo. De volta dessa inspeção, em carta dirigida a D. João III, datada de 1º de junho de 1553, já na cidade do Salvador, Bahia, Tomé de Sousa relatou o estado em que encontrou a terra. (Washington Luiz – na Capitania de São Vicente)

                 
Tomé de Souza, por Idalina Tavares, 1999 - Reprodução/ Câmara Municipal de Salvador


"S. Vicente, capitania de Martim Afonso é uma terra muito honrada e de grandes águas e serras e campos. Está a vila de S. Vicente situada em uma ilha de três Léguas de comprido e uma de largo na qual ilha se fez outra vila que se chama Santos a qual se fez porque a de S. Vicente não tinha tão bom porto; e a de Santos, que está a uma légua da de S. Vicente, tem o melhor porto que se pode ver, e todas as naus do mundo poderão estar nele com os proizes dentro em terra. Esta ilha me parece pequena para duas vilas, parecia-me bem ser uma só e toda a ilha ser termo dela. Verdade é que a vila de São Vicente diz que foi a primeira que se fez nesta costa, e diz verdade, e tem uma igreja muito honrada e honradas casas de pedra e cal e com um colégio dos irmãos de Jesus. Santos precedeu-a em porto e em sítio que são duas grandes qualidades e nela está já a alfândega de V. A. 
Ordenará V. A. nisto o que lhe parecer bem que eu houve medo de desfazer uma vila a Martim Afonso, ainda que lhe acrescentei três, s. (isto é) a Bertioga, que me V. A. mandou fazer, que está a cinco léguas de S. Vicente na boca (dum) rio por onde os indios lhe faziam muito mal; 
Eu a tinha já mandado fazer de maneira que tinha escrito a V. A., sem custar nada senão o trabalho dos moradores; mas agora que a vi com os olhos e as cartas de V. A. a ordenei e acrescentei doutra maneira que pareceu a todos bem, segundo V. A. verá por este debuxo; 
E ordenei outra vila no começo do campo desta vila de S. Vicente de moradores que estavam espalhados por ele e os fiz cercar e ajuntar para se poderem aproveitar todas as povoações deste campo e se chama vila de Santo André porque onde a situei estava uma ermida deste apóstolo e fiz capitão dela a João Ramalho, natural do termo de Coimbra, que Martim Afonso já achou nesta terra quando cá veio. Tem tantos filhos e netos bisnetos e descendentes dele e não ouso de dizer a V. A., não tem cãs na cabeça nem no rosto e anda nove léguas a pé antes de jantar. 
E ordenei outra vila na borda deste campo ao longo do mar que se chama da Conceição, de outros moradores, que estavam derramados por o dito campo e os ajuntei e fiz cercar e viver em ordem e alem destas duas povoações serem mais necessárias para o bem comum desta capitania folguei o fazer"... (Extraída do Arquivo Nacional da Torre do Tombo)

1554 -Trilhando o caminho do Cubatão, os jesuítas subiram a Serra do Mar com outros jesuítas, entre eles o noviço José de Anchieta, ultrapassou a aldeia de Santo André e num outeiro que se projetava sobre a várzea entre o rio Tamanduateí e seu afluente, o córrego do Anhangabaú, ergueu uma modesta capela de pau-a-pique coberta de palha, com a ajuda de Tibiriçá e Caiubi.

1555- Lavrada a primeira moeda vicentina. São Vicente - o Mártir da Igreja Católica - foi cunhado pela Dinastia de Avis, em moedas de ouro, em Portugal, cuja capital, Lisboa, já era padroeira, no século XVI.

NOSSA PRIMEIRA MOEDA 


A primeira moeda ”São Vicente” foi cunhada com efígie do Santo, em Lisboa e no Porto, mas foi destinada a São Vicente, Primeira Vila e Primeira Paróquia do Brasil.
Esta moeda foi lavrada pela lei de 10 de junho de 1555, consubstanciada nos termos do Alvará de 26 de julho, do mesmo ano, o qual determinou que fossem feitas duas sortes de moedas de ouro, com os seguintes valores nominais - um mil reis e quinhentos réis, respectivamente os valores dados aos “São Vicente” e meio “São Vicente”, cunhados em ouro de 21-1/8 quilates e destinados a circular no Brasil, mas teve circulação internacional, muito apreciada.
Foi a primeira moeda de ouro que aqui circulou. O “São Vicente” somente foi lavrado no Reinado de Dom João III (1521 - 1557), e reproduzido no governo de Dom Sebastião (1557 - 1558), sendo que este mandou acabar com esse cunho para que essa moeda não fosse mais fundida, embora mantivesse sua circulação.
Dom João IV determinou o recolhimento de “São Vicente”, pelo Alvará de 26 de julho de 1642, mandando pagar pelo “São Vicente”, mil trezentos e oitenta réis. Posteriormente, pela ordem de 14 de janeiro de 1645, estipulou o preço de mil e novecentos réis pelo “São Vicente”. Já recolhido, mas ainda encontrado em isolada circulação. 

Por ocasião das comemorações dos 500 anos do Brasil, pela Prefeitura de São Vicente e do Banco do Brasil, foi realizado trabalho com este distribuindo aos seus correntistas em um estojo, uma réplica em tamanho grande da moeda São Vicente. Na face chamada coroa, a frase: "IOANES: III R: PORTVGA" (JOÃO III REI DE PORTUGAL), orlado por cercadura granulada, ao centro o escudo real coroado prolongando-se até a borda superior, ladeado pelas letras P e O. Na face chamada cara, a frase: "ZELATR : FID EI: VSQVEAD" (DEFENSOR DA FÉ, ATÉ A MORTE), orlado por cercadura granulada. (Boletim do IHGSV)

- A Câmara Municipal determina a limpeza do caminho de acesso a Itanhaém. 

1556 - O segundo governador geral, d. Duarte da Costa, em um regimento datado de 11 de fevereiro, dirigido a Braz Cubas, então capitão-mor-loco-tenente em S. Vicente, proibiu a todos o trânsito pelo campo para o Paraguai e expressamente declara "avisareis a João Ramalho, alcaide e guarda-mor do campo que não deixe passar nenhuma pessoa para ele, sem mostrar vossa licença nem os próprios moradores de Santo André".

1557 - Em carta de 1557, ao pedir ao governador Martim Afonso “uma sesmaria de sete ou oito léguas” para o Colégio de Piratininga, que ia fundar, o Padre Manoel da Nóbrega confessava não lhe parecer pedido descabido, pois “há homens particulares em São Vicente, a quem se dá muito mais terra”.
1560 – Nasce em São Vicente o bandeirante Henrique Cunha Gago.
 
                                
Henrique da Cunha Gago foi um bandeirante. Nasceu em 1560 em São Vicente e fez seu testamento em São Paulo em 18 de novembro de 1623, morrendo no ano seguinte. Sua família e descendência constam da «Genealogia Paulistana» de Silva Leme, no volume V. Segundo Silva Leme, seu pai Henrique da Cunha era amigo do almirante português Martim Afonso de Sousa, que com ele passou a São Vicente em 1531 trazendo sua mulher Filipa Gago. Henrique da Cunha pertencia à família dos Cunhas, os quais dizem proceder de D. Fruela II rei de Leão, Astúrias e Galiza no ano de 923. Já Filipa Gago era parenta próxima do primeiro capitão-mor governador-locotenente do donatário da capitania de São Vicente, Antônio de Oliveira, cavalheiro fidalgo da casa de el-rei D. João III de Portugal. Tiveram cinco filhos, que foram Isabel da Cunha, Maria da Cunha, Marta da Cunha, este Henrique da Cunha Gago objeto do presente verbete e ainda João da Cunha Gago.

Henrique da Cunha Gago, que acabaria sendo referido por O Velho, porque teve um filho com o mesmo nome a quem se referiam como O Moço, foi morador de São Paulo de Piratininga e casou três vezes: com Isabel Fernandes (morta em 1599), filha do capitão Salvador Pires e de sua segunda mulher Mécia Fernandes ou Mécia-uçu, mameluca; Catarina de Uñate (ou Unhate, morta em 1613) filha de Luís de Uñate e Maria Antunes e neta de Diogo de Uñate, escrivão da Ouvidoria e Fazenda da capitania de São Vicente, fundador de Paranaguá; e Maria de Piña ou Pinha, filha de Brás de Pinha ou Piña. Teve numerosos filhos. Un neto seu, chamado também Henrique da Cunha Gago, em 1660 seria o representante da família Pires a fazer o pacto de harmonia com José Ortiz de Camargo, representante da família Camargo, que estavam em guerra civil, ateada pelas ambições das duas famílias que por longos anos disputavam os cargos do governo. Grande sertanista, fez entradas com Afonso Sardinha o Moço em busca de ouro e de índios para escravizar, como em 1598 no sertão do Jeticaí.

Em 1602 acompanhou a bandeira de Nicolau Barreto ao Guairá. Chefiou mais tarde uma entrada nessa direção, morrendo no chamado "sertão dos carijós".

-Em maio, José de Anchieta, em carta ao Padre Diego Laynes, em Roma, Prepósito Geral da Companhia de Jesus, descreve o clima da capitania, comparando com o planalto de Piratininga.

"As estações do ano (olhando de perto) são aqui inteiramente às avessas de lá (Portugal, Europa); no tempo em que lá é primavera cá é inverno e vice-versa; mas são tão temperadas que não faltam no inverno os calores do sol para suavizar o rigor do frio, nem no verão as brandas brisas e as úmidas chuvas para regalo dos sentidos; ainda que esta terra, da beira-mar (S. Vicente), é quase todo o ano regada por águas da chuva. Mas em Piratininga (que fica no interior a trinta milhas daqui - de S. Vicente -, engalanada de campos espaçosos e abertos) e noutros lugares, que se lhe seguem para o ocidente, de tal modo se houve a natureza que quando o dia é mais abrasador com o ardor do sol (cuja maior força é de novembro a março) vem a chuva trazer-lhe refrigério". "no tempo da primavera e do verão é muito grande a abundância das chuvas, como a temperar os ardores do sol, de maneira que vêm de manhã antes da força do calor ou à tarde, depois dele. Na primavera, que principia em setembro, e no verão, que começa em dezembro, caem abundantes e freqüentes chuvas com grande tempestade de trovões e relâmpagos. Há então as enchentes dos rios e as grandes inundações dos campos, tempo em que com pouco trabalho se toma entre as ervas grande quantidade de peixes que saem dos leitos dos rios para por os ovos, o que de algum modo compensa o prejuízo da fome que causam as inundações.


- Elaboração do testamento de Martim Afonso de Souza, na presença de sua esposa D. Ana Pimentel. 

No seu testamento, Martim Afonso determina , entre outras coisas, que seu sepultamento fosse realizado no Mosteiro de São Francisco; que, ao falecer, todos os seus escravos cristãos fossem libertados e que um terço de suas propriedades fosse passado a seu filho Pero Lopes de Souza. Entre as curiosidade, o fundador de São Vicente determinou que nenhuma parte de sua herança deveria caber a seu filho Antonio, que se tornou padre. 

1562 – Morte do Cacique Tibiriçá.Nasceu na Aldeia dos Piratininga (hoje cidade de Santo André) e faleceu em São Paulo no dia 15 dezembro.

O CACIQUE TIBIRIÇÁ


Figura do Cacique Tibiriçá em moeda comemorativa do IV Centenário da Fundação de São Vicente, em 1532. Seu nome de batismo cristão foi adotado em homenagem ao fundador de São Vicente, passando a se chamar, então, Martim Afonso Tibiriçá. Era irmão de Piquerobi e de Caiubi. Teve muitos filhos. Com a índia Potira, teve Ítalo, Ará, Pirijá, Aratá, Toruí, Bartira e Maria da Grã. Bartira viria a desposar João Ramalho, de quem Tibiriçá era grande amigo.
Teberyça, na língua tupi é Maioral ou Vigilância da Terra. Cacique da tribo dos índios guaianases, era irmão dos caciques Caiubi, Piquerobi e Araraí. Convertido ao catolicismo e batizado pelo padre Leonardo Nunes, com a colaboração do irmão José de Anchieta, adotou o nome de Martim Afonso Tibiriçá, em homenagem ao fundador da Vila de São Vicente, de quem era dedicado amigo. Era o chefe de enorme parte da nação indígena estabelecida nos campos de Piratininga, com sede na aldeia de Inhapuambuçu, então localizada em uma colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, no atual centro antigo da capital paulista. Sua filha M´bicy, também conhecida como Bartira, casou-se com João Ramalho.
Tibiriçá colaborou na fundação da Aldeia de Piratininga, em 29/8/1553, e com o Colégio dos Jesuítas, em 25/1/1554, estabelecendo-se no local onde se ergue hoje o Mosteiro de São Bento. Participou eficazmente da defesa da vila, que, em 9/7/1562, foi atacada pelos índios tupis, guaianás e carijós, chefiados por seu sobrinho Jagoanharo, filho de Araraí, que havia, pouco antes, como emissário dos tamoios, conversado para que reconsiderasse sua posição a favor dos portugueses e se aliasse aos seus irmãos indígenas. Tibiriçá, no confessionário, contou o fato a Anchieta, e este levou a informação aos chefes portugueses.
No combate que se seguiu, matou o sobrinho com uma espada, quando este vacilou em matá-lo no entrevero. Faleceu a 25/12/1562, depois de longa enfermidade que se complicou após o ataque a São Paulo. Seu corpo foi sepultado na igreja dos jesuítas e o funeral revestido de toda a pompa compatível com os recursos daquela época.
Em carta escrita em 16/4/1563, o irmão José de Anchieta assim se expressou: "Foi enterrado em nossa igreja com muita honra, acompanhando-o todos os cristãos portugueses com a cera de sua confraria. Ficou toda a capitania com grande sentimento de sua morte pela falta que sentem, porque este era o que sustentava todos os outros, conhecendo-se-lhes muito obrigados pelo trabalho que tomou de defender a terra, mais que todos creio que lhe devemos nós os da companhia e por isso determinou dar-lhe em conta não só de benfeitor, mas ainda de fundador e conservador da Casa de Piratininga e de nossas vidas. Fez testamento e faleceu com grandes sinais de piedade e de fé, recomendando a sua mulher e filhos que não deixassem de honrar sempre a verdadeira religião que abraçaram".
Seus restos mortais repousam hoje na cripta da Catedral Metropolitana de São Paulo, na praça da Sé. Em sua homenagem, a rodovia estadual SP-031, ligando Ribeirão Pires a Suzano, foi denominada Índio Tibiriçá, além de ter seu nome em duas ruas da capital, uma na Luz e ao outra no Brooklin Paulista. (Governo do Estado de São Paulo)

1563- Estácio de Sá  vem a São Vicente pedir ajuda e reforço para expulsar os franceses da Baía da Guanabara. 


OS TAMOIOS ALDEADOS PELOS JESUÍTAS



Anchieta e Nobrega "Na Cabana de Pindobuçu". Pintura de Benedito Calixto


 Publicação:  Terra de Santa Cruz

A principal resistência contra a Presença dos Portugueses em São Vicente e no Rio de Janeiro foi liderada pelos índios Tamoios, aliados dos Franceses.
Em 1563, sem recursos para responder às investidas indígenas, os portugueses decidiram recorrer à diplomacia. Para tanto, as autoridades enviaram os padres jesuítas Manuel da Nóbrega, como representante do governo de São Vicente, e José de Anchieta, como intérprete, para acertarem um tratado de paz com os tamoios fronteiriços.
A paz durou pouco. Um dia chegou a Aimberé a notícia de novo ataque português à aldeia de Iperoig. Novamente a Confederação mostrou sua força e respondeu ao ataque, invadindo fazendas e engenhos em pequenos grupos organizados. O rei de Portugal mandou Estácio de Sá, sobrinho do governador geral Mem de Sá, para enfrentar os tamoios
Com a derrota dos caciques Guaixará e Aimbere e a expulsão dos franceses em 1567, o Governador Geral do Brasil, Mem de Sá em sua fé de ofício,  afirma que, após o combate de janeiro de 1567 contra a ‘fortaleza de biraoaçu-merin’, investira contra a de ‘parnapocu’ (Ilha do Governador) e, após esta ser derrotada, vários ‘principais’ dos tamoios vieram pedir pazes e, com isso, diversas aldeias foram pacificadas.
O "auto da festa de São Lourenço" uma alegoria fundadora e teatral da conquista do Rio de Janeiro escrita por José de Anchieta enumera as aldeias dos tamoios conquistadas pelos Portugueses e seus aliados Temiminos: "Paranapucu, Jacutinga, Moroí,Sariguéia, Guiriri,Pindoba, Pariguaçu,Curuçá, Miapeí e Jabebiracica"
Nas Palavras de José de Anchieta no Auto: "todos os tamoios foram/jazer, queimando no inferno, sendo os que amaram a Deus acolhidos na aldeia de São Lourenço, sendo ‘permanentemente amparados"
A Aldeia de São Lourenço foi fundada em 1568 pelo chefe temiminó Arariboia, aliado dos Portugueses na Conquista do Rio de Janeiro. São Lourenço dos índios se tornou a principal Aldeia Jesuítica do Rio de Janeiro onde foram catequizados não só os Temiminós mas os Tamoios do Cacique Pindobuçu que preferiam a Paz com os portugueses, e com o incentivo dos Jesuítas se miscigenaram com as filhas de seus antigos inimigos.
 
Fonte: Cidade de São Sebastião: o Rio de Janeiro e a comemoração de seu santo patrono nos escritos e ritos jesuíticos, c.1585. Vinicius Miranda Cardoso/ História da Ilha do Governador. Por Cybelle Moreira de Ipanema


1564 - João Ramalho é eleito vereador da Vila de São Paulo de Piratininga.

1565. Parte de São Vicente, em 27 de janeiro, a armada de Estácio de Sá levando recursos para a fundação do Rio de Janeiro.


Benedito Calixto: Estácio de Sá in São Vicente, 1565


Estácio de Sá: o português que fundou o Rio de Janeiro


Estácio de Sá nasceu em Santarém, em 1520. Pertencente a uma família nobre de Portugal, era filho do fidalgo Diogo de Sá, primo de segundo grau de Mem de Sá, governador-geral do Brasil. Devido a esse parentesco, Estácio era considerado por muitos como “sobrinho” de Mem de Sá. É difícil encontrar anotações dos primeiros anos de vida de Estácio. Seu período mais glorioso foi na fase adulta, quando ajudou a corte portuguesa a conquistar territórios inexplorados.
Para reafirmar seu poder sobre o território brasileiro, Portugal mandou que Mem de Sá viajasse ao Brasil, com o intuito de impedir o avanço da França sobre as terras ainda não colonizadas pela coroa portuguesa. Em 1557, Estácio desembarcou pela primeira vez no país, para ajudar seu “tio” na missão. A tentativa inicial de dominar a baía não deu certo. Apesar de conquistar o Forte Coligny, na Ilha de Serigipe, com o apoio de colonos e jesuítas da Vila de São Vicente, em 1560, Estácio e Mem de Sá enfrentaram dificuldades para permanecer na região por causa de problemas nas embarcações.
Com o recuo obrigatório, os franceses ocuparam novamente o forte com o apoio dos índios tamoios que ali viviam. Estrategicamente, após a derrota, Estácio voltou à sua terra natal na tentativa de conseguir mais ajuda para a batalha.
Em 1563, D. Catarina, regente do trono português, ordenou que Estácio de Sá voltasse ao Brasil como chefe da esquadra destinada a dominar a região. O militar chegou à baía em fevereiro de 1564 e, percebendo que os índios estavam mais fortes, devido à aliança com os franceses, partiu para São Vicente em busca de reforço. Lá, recebeu apoio dos padres jesuítas Manuel de Nóbrega e José de Anchieta, que recrutaram habitantes locais, inclusive índios, para se juntar a Estácio de Sá. No dia 20 de janeiro de 1565, todos partiram para a baía e receberam auxílio de indígenas vindos do Espírito Santo. Após algumas semanas de batalha, os franceses foram expulsos da antiga França Antártica.
Estácio fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1° de março de 1565, aos pés do morro do Pão de Açúcar. O nome original da cidade era uma homenagem ao jovem rei de Portugal, D. Sebastião.
El-rei admitiu Estácio de Sá, ainda na cidade de São Sebastião, como noviço, na Ordem de Cristo, pela Carta Régia de 8 de março de 1566, reconhecendo D. Sebastião que o conquistador do Rio de Janeiro poderia ainda "fazer muitos serviços a Nosso Senhor, e a mim e aos Reis destes reinos governadores e perpétuos administradores da dita Ordem"(31). O fato de o rei ter dispensado Estácio de Sá do cumprimento das formalidades probatórias necessárias ao ingresso na Ordem de Cristo ressalta sobremodo a alta consideração que o monarca atribuiu ao feito de Estácio de Sá no Rio de Janeiro e a existência de dificuldades naturais que o capitão-mor enfrentaria para cumprir tais formalidades à risca, antecipadamente.
Quatro meses depois de fundada a cidade, o padre Quiricio Caxa, em carta ao provincial dos jesuítas em Portugal, de 13 de julho de 1565, louvou Estácio de Sá, afirmando que
"se os merecimentos dos Capitães fazem alguma coisa para serem ajudados e favorecidos nas coisas árduas e grandes que empreendem em serviço de seu Senhor e Rei, os de Estácio de Sá são tais quais convêm a um Capitão afamado por sua prudência e siso para determinar-se quando há de acometer-se e seu ânimo e constância para acometer e levar adiante o determinado
Entre março de 1565 e janeiro de 1567, Estácio participou ativamente da vida na cidade. Nesse primeiro momento de colonização, era o capitão-mor, responsável por nomear juízes, prefeitos e conceder sesmarias - distribuição de terras destinadas à produção agrícola para povoar o local.
Segundo relatos, ele lutou bravamente para reafirmar o poder lusitano no Rio de Janeiro, resistindo a diversas investidas de franceses e indígenas, ao longo do tempo em que esteve no comando. Nos registros históricos, não se fala sobre a vida particular do militar português, se teve filhos ou família.
Apesar de expulsos da cidade, os franceses não desistiram de conquistar o local onde foi fundado o Rio. Os dois anos seguintes à conquista dos lusitanos foram de intensas investidas por parte dos inimigos. Para ajudar o capitão-mor a manter o poder sobre a região da antiga França Antártica, em 20 de janeiro de 1567 chegou ao Rio uma esquadra vinda do Nordeste, comandada por Cristóvão de Barros. O reforço foi fundamental para a vitória nas batalhas do Uruçumirim e da Ilha Paranapuã, que estavam acontecendo naquele período.
No mesmo dia da chegada de Cristóvão, Estácio foi atingido, no rosto, por uma flecha envenenada, na batalha de Uruçumirim, vindo a falecer em 20 de fevereiro, um mês depois, devido às complicações do ferimento. Seus restos mortais estão hoje em um túmulo, na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca.
Na cidade que ajudou a construir, o militar português também recebeu outros reconhecimentos. Criado em 1865, o bairro do Estácio, na Zona Central, é um deles. Conhecido por, no passado, ser um lugar de moradia das classes média e média baixa, tem hoje uma rua, um largo e uma tradicional escola de samba com o nome do fundador do Rio. Na Urca, o corajoso português é homenageado dando seu nome à tradicional E.M. Estácio de Sá.

A Terra de Santa Cruz.
Fontes: Dicionário do Brasil Colonial, de Ronaldo Vainfas.



1570- Anchieta encena a primeira peça de teatro no Brasil.

1571 – Falecimento de Martim Afonso de Souza.

1572 - Nascimento em São Vicente de André de Soveral, padre morto no Rio Grande do Norte e canonizado pela igreja.
                                

Santo André de Soveral, SJ (São Vicente, 1572 — Cunhaú, 16 de julho de 1645) foi um padre católico luso-brasileiro, morto durante a Guerra da Restauração no chamado Martírio de Cunhaú, um massacre promovido por tropas holandesas e seus presbíteros protestantes calvinistas, que lutavam contra o Império Português no Brasil.Cunhaú era um povoado de Canguaretama, no Rio Grande do Norte, que se formou em torno de um engenho de cana-de-açúcar, uma das riquezas da região, além das minas para produção de peças, já que as do outro lado do oceano demoravam muito e eram caras, com ameaça de baixa rentabilidade e perda do insumo a tempo de ser processado pelo centro de transformação (uma espécie de expansão da produção paraibana e pernambucana para o norte, que é o berço econômico potiguar). No dia 15 de outubro de 2017, na Praça de São Pedro, o Papa Francisco realizou a cerimônia de canonização dos Protomártires do Brasil, cuja festa litúrgica foi comemorada no último dia 3 de outubro. Entre eles se destacam eles os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, além do leigo Mateus Moreira e outros 27 companheiros.

1574- Brás Cubas anuncia que achou ouro em São Paulo.

1575- Surge a lenda do Hipupiara. 

Na sua História da Província de Santa Cruz (Lisboa, 1575), o escritor Pero de Magalhães Gandavo conta que, no decorrer deste ano, apareceu um monstro marinho na Vila de São Vicente e que foi abatido a golpes de espada pelo capitão Baltazar Ferreira, lugar-tenente do capitão-mor Jorge Ferreira. Segundo o relato, depois de morto, o "monstro" foi arrastado da praia para a praça da vila, onde ficou exposto diante da população estupefata, uma vez que tinha cerca de 15 palmos de comprimento e umas "serdas (pêlos) muy grandes", parecendo bigodes.

- A Câmara Municipal intima e adverte o ferreiro Bartolomeu Fernandes, único, na Vila, a não ensinar a nenhum indígena o ofício por ele exercido, “porque era de grande prejuízo para a terra”. 
1580-Morte de João Ramalho em São Paulo.

CONFISSÕES DE JOÃO RAMALHO



Figura de João Ramalho em moeda comemorativa do IV Centenário da Fundação de São Vicente, em 1532.
“... ao acolherem-me, os índios começaram por me dar mulher nova, escorreita (que não tem defeito) e muito limpa e eu estou na casa dos 20 anos (...) em pecado mortal, que é o da fornicação (praticar o coito) e luxúria. Segui o ditado: “em Roma sê romano” e confesso que entre os índios, índio fui. Para eles, pecado é recusar o que a natureza prazerosa manda colher...”
“...E mais vos digo que assim desnudas são elas mais discretas e modestas do que as ataviadas damas do Paço...”
“...Padre confesso que mulheres tive e tenho muitas, pois todos os caciques queriam e querem ser meus parentes. Mas a esposa principal é Potira (Bartira) (...) de Potira e das outras tenho muitos filhos e filhas (...) andam por aí desde as praias de São Vicente, Bertioga e Itanhaém até os campos de Piratininga, a dar-me força e prestígio pois casaram e tiveram filhos e netos que, por sua vez também casaram e por isso me tornaram parente de quase todos os tupiniquins...”
“Com Antonio Rodrigues, meus filhos e muitos outros tupiniquins, ajudo os portugueses de Martim Afonso de Sousa a construir casario de pedra e cal também a igreja matriz e assim rompe a vila de São Vicente.
“Nas guerras que mantínhamos contra os Tamoios e outros Tapuias, fazíamos muitos prisioneiros e então ponho-me a pensar que mais vantajoso será vende-los aos portugueses do que come-los, costume que veramente me dá a volta ao estômago e à alma...”
“...Bem sei que anjos, não homens é o que vós jesuítas pretendíeis fabricar nos vossos aldeamentos mas, vejo que não haveis conseguido nem uma coisa nem outra, apenas mortos-vivos.”
“Padre, o índio segue a natureza, o português, luta contra ela.”
“Se tudo isso é pecado, então Padre, eu pecador confesso (...) o que fiz nesta vida, nesta vida eu não renego e na outra, a ver vamos...”
(Boletim IHGSV)

Mapa das Bandeira baseado na historiografia de Affonso D'Escragnole de Taunay. Séculos XVI, XVII e XVIII


1581 – Primeira grande bandeira de caça ao índio. Jerônimo Ribeiro destrói 300 aldeias do sertão carijó.

1582 - Sarmiento de Gamboa escreveu nas Memórias que em Buenos Aires "não havia abundância de gêneros e vitualhas para serem vendidos e nem mesmo para si próprios. Em Assunção... tudo era impossível". Vale dizer, penúria, quase a fome. Mas em São Vicente havia muita fartura.
Ali, ele, Gamboa, escamba (a metade paga com roupas, vinhos, calçados) a seguinte lista de gêneros: 341 arrobas e 22 libras de carne de vaca seca; 2.654 arrobas e 30 libras de carne de vaca salgada fresca; 371 arrobas de toucinho; 5.636 alqueires da farinha de mandioca; 9.774 libras de tortinhas de farinha de mandioca biscoitadas; 26 alqueires de arroz beneficiado; 70 alqueires de arroz em casca; 9 arrobas de sebo; 193 tábuas. Tábuas quer dizer serraria; tortinhas biscoitadas, fornos e padeiros; arroz beneficiado quer dizer maquinaria especial; o volume da carne quer dizer pecuária desenvolvida e abatedouro e salgadouro. E todo esse rol para uma frota. Imaginemos o movimento industrial e comercial da região, à época.

1586 - Nascimento, em São Vicente, de Manoel Rodrigues de Moraes, jovem de família tradicional de fidalgos português que se tornaria um livre pensador teológico entre os jesuitas.   O filósofo tornou-se defensor das ideias calvinistas, o que prova que o ideário da Reforma Protestante no Brasil estava inserido no contexto da colonização e que sofria forte oposição e perseguição por parte do clero católico. O livre pensador só não foi executado na fogueira pela Inquisição porque pertencia à nobreza, porém, mesmo assim foi severamente punido nas suas atividades. 

UM CALVINISTA NA VILA DE SÃO VICENTE


Minibiografia do jesuita no guia de ruas "Conheça Sua Cidade", organizado por Narciso Vital de Carvalho, em 1978.

           

1591 - Ataque às vilas de Santos e São Vicente do pirata Thomas Cavendish, que pilhou e incendiou várias igrejas e engenhos.

1592 – Bandeira de Afonso Sardinha caça índios no rio Grande, São Paulo.

1594- Bandeira de Jorge Correia ataca índios em Mogi, São Paulo. 

1595- Bandeira de Sebastião de Freitas percorre o interior de São Vicente. Anchieta escreve a primeira gramática tupy. 

1596- Bandeirantes paulistas chegam a Minas Gerais. 

1598- Entrada de Afonso Sardinha, de São Vicente, às nascentes de São Francisco. 

1601- Bandeira de André Leitão busca prata no rio Tietê e Mantiqueira até a nascente do São Francisco. 

1602–Bandeira de Nicolau Barreto leva 300 homens para prender índios no Tietê e baixo-Paraná. 

1603 - Chegam na Vila de São Paulo, quatro soldados Paraguaios de Vila Rica do Espírito Santo que vieram pelo Peabiru. São Paulo os festejou e à título de homenagem os fez acompanhar, na volta, por doze homens, encarregados de reconhecer as etapas, de reavivar o traçado. (Hernami Donato)

1606- Manoel Preto e Diogo Quadros prendem índios em Guairá, Paraná.

1610 – Clemente Álvares e Brás Gonçalves prendem índios no Guairá, Paraná.

1615- Invasão de piratas em Santos e São Vicente. 

Tendo o almirante batavo Joris Van Spilbergen invadido o porto de Santos, mandou parte de sua esquadra buscar víveres em São Vicente; aqui ocuparam o engenho que, segundo os relatórios de viagem, havia sido construído por certa raça de gente vinda de Antuérpia, a que chamavam os "Escoceses" e, por mais de uma vez, entraram em luta com os vicentinos e moradores de São Paulo, que para aqui acudiram, em socorro, a mando do bandeirante Sebastião Preto. Já a esse tempo São Vicente entrara em decadência, pois, atraídos pela nova povoação que se fundara nos Campos de Piratininga, e pelo surto do Bandeirismo, após a extinção de Santo André da Borda do Campo, os vicentinos iam pouco a pouco abandonando a capital do feudo de Martim Afonso de Souza. Com efeito, quando Nóbrega resolveu visitar São Vicente, aproveitando a viagem do governador geral, foi aqui recebido em triunfo pelos vicentinos. O que o grane inaciano viu no vilarejo o convenceu da necessidade de fundar um povoado longe do litoral.Com o nascimento de São Paulo, a decadência de São Vicente então se acelerou, deixando de ser cabeça da capitania, desde 1624, em benefício de Itanhaém, em consequência das questões entre os herdeiros de Martim Afonso de Sousa, para voltar a readquirir o título em 1679. Poucos anos depois, era São Paulo escolhida para a sede do governo. Isto, mais que outro fator, contribuiu para a completa paralisação da vida vicentina, que assim veio em marasmo até o século XIX, ao mesmo tempo em que toda a capitania de São Paulo decaía sensivelmente num pauperismo inglório, após haver abarrotado de ouro "os tonéis de Danaide", das arcas da metrópole. (Sinopse Estatística do Município) 

Thomas Cavendih. Wikipedia. 



O Corsário Inglês que aterrorizou o Brasil no dia de Natal.

Sir Thomas Cavendish (1560-1592) foi um dos mais conhecidos navegadores ingleses do Século XVI , sendo o quinto navegador europeu a circunnavegar o globo. A sua esquadra composta por cinco embarcações tinha o objetivo de passar o estreito de Magalhães, seguir pelo Pacífico e inaugurar uma rota comercial com Filipinas, Japão e China. Com poucos suprimentos, os tripulantes dos navios logo enfrentaram a fome. A solução foram os saques a povoações e a outras embarcações. Capturaram um navio português em cabo Frio, arrasaram Santos e incendiaram São Vicente. As péssimas condições climáticas os impediram de atravessar o estreito de Magalhães e a esquadra foi obrigada a voltar para a costa brasileira. Os ingleses não puderam desembarcar em São Vicente e seguiram para Vitória. Com alguns víveres a bordo, o capitão abandonou os feridos e doentes no Brasil e retornou à Inglaterra.
Vejamos alguns testemunhos da época:
“Na véspera de Natal, às 10 horas da noite, os botes puseram-se prontos para seguir em direção à praia. (…). Permanecemos dois meses em santos, o que acabou por ser a ruína de nossa viagem(…). Encontramos muito ouro armazenado na cidade, trazido pelos índios de um lugar chamado Maetinga, onde os portugueses mantinham algumas minas. (…) Os homens de nossa tripulação caminharam de Santos a uma povoação vizinha, de nome São Vicente. Pelo caminho, queimaram cinco engenhos e moendas de açúcar. A indisciplina reinava entre eles“. (Anthony Knivet, marujo inglês, 3 de fevereiro de 1592).
O jesuíta P. Tolosa afirmaria em uma carta de 1592 que as vilas tiveram um prejuízo de 100 mil cruzados com a “visita” da esquadra de Cavendish, e que os piratas haviam roubado as dependências do Colégio da Companhia de Jesus. A maior perda, na opinião do religiosos, havia sido a cabeça das “Onze Mil Virgens que, como estava bem-ornada, apanharam-na e nunca mais se soube dela. Imaginamos que aqueles malditos ingleses a atiraram ao mar“, desabafou Tolosa.
Após saquear São Vicente, Thomas Cavendish dirigiu-se à Capitania do Espírito Santo atraído pelas palavras de um português, o qual disse que em Vitória eles poderiam tomar, sem dificuldades, “muitos engenhos de açúcar e conseguir boa provisão de gado”.
O que era para ser um ataque surpresa acabou se tornando um verdadeiro desastre. Tendo avistado os ingleses na costa durante a véspera, os portugueses construíram secretamente dois fortins com o objetivo de garantir a defesa da vila. A capitania, que naquela altura era administrada por D. Luíza Grimaldi, viúva de Vasco Fernandes Coutinho, primeiro donatário da capitania, e que contava com os préstimos do capitão adjunto Miguel de Azeredo, resistiu. Valendo-se do apoio dos índios trazidos das aldeias administradas pelos padres jesuítas, os moradores impuseram grandes baixas aos invasores, perdendo 80 tripulantes, e forçaram uma retirada.
Um marinheiro abandonado, Anthony Knivet, escreveu mais tarde sobre suas aventuras no Brasil. Cavendish cruzou o Atlântico em direção a Santa Helena com o restante da tripulação, mas morreu de causas desconhecidas aos 31 anos, possivelmente na Ilha da Ascensão, no Atlântico Sul em 1592. 

A TERRA DE SANTA CRUZ. Fonte: “A construção do Brasil na literatura de viagem dos séculos XVI, XVII e XVIII”, Antologia de textos 1591-1808), de Jean Marcel de Carvalho França


Estampa holandesa de 1621 publicada em livro por Jan Janez, editor de Amsterdam, a partir dos relatos da viagem de Spielbergen. “Le portrait de Capo de St. Vincent en Brésil” retrata a batalha travada na baía vicentina.

1618- Bandeira de Castanho da Silva vai de São Paulo ao Perú.

1621 – Início do litígio territorial entre D. Luís de Castro, conde de Monsanto e D. Mariana de Sousa Guerra, condessa de Vimieiro, então donatária da capitania de São Vicente.

A demarcação feita por Fernão Vieira Tavares em 1623 dava ao conde a posse dos territórios onde estavam localizadas as vilas de São Vicente, São Paulo e Santana de Mogi das Cruzes. Diante da perda de grande parte de seu domínio, a condessa de Vimieiro fez da vila Nossa Senhora de Itanhaém a cabeça de suas terras. A partir daí os domínios pertencentes ao conde de Monsanto seriam chamados de capitania de São Vicente e os domínios da condessa passariam a ser conhecidos como capitania de Itanhaém. 

- 1622 - Nascimento em São Vicente  do bandeirante Francisco Dias Velho. 
                         
                                   

Francisco Dias Velho (São Vicente, ca. 1622 — Nossa Senhora do Desterro, 1687), bandeirante paulista, colonizador e capitão-mor da ilha de Nossa Senhora do Desterro. Foi o fundador do povoado de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. O pouco que se sabe de sua juventude vem do historiador Silva Leme, que diz ser Dias Velho filho do bandeirante Francisco Dias e de Custódia Gonçalves, nascido na vila de São Vicente, capitania de São Vicente. Casou-se em São Paulo com Maria Pires Fernandes, filha do capitão Salvador Pires de Medeiros, com quem teve 12 filhos. Seu pai participou de diversas bandeiras com o intuito de escravizar os índios, encontrar ouro e pedras preciosas, sendo desbravador do sertão dos Patos e do vale do Rio São Francisco para o Sul, até o Rio Grande de São Pedro. Dias Velho, em sua juventude, tendo acompanhado seu pai na entrada que fez ao sertão dos Patos, dizimando, aprisionando e escravizando indígenas ao longo da costa meridional brasileira. Quando em 1640, Portugal obteve novamente sua independência, tratou de estimular o povoamento da costa sul do Brasil para garantir a posse pacífica daquela parte do reino. Neste período passou a se formar um novo tipo de bandeiras, as "Bandeiras Colonizadoras", cujo objetivo já não era o de ir para voltar com as mãos cheias de ouro, mas a de ir para colonizar e estabelecer novos centros de civilização. Em 1673, Dias Velho enviou seu filho José Pires Monteiro com uma centena de homens para fazer povoação no melhor lugar que descobrisse na costa de Santa Catarina, sendo que encontrou excelente lugar em uma grande ilha daquelas paragens. Dois anos depois, Dias Velho, junto com a esposa, três filhas e dois filhos, outra família agregada, mais dois padres jesuítas e quinhentos índios escravizados, aportou na ilha no dia de Santa Catarina batizando a mesma com o nome da santa (há controvérsias sobre esta versão entre os historiadores) e fundou o povoado de Nossa Senhora de Desterro, hoje Florianópolis. Construiu ali, uma capela em homenagem à padroeira, no mesmo local onde hoje se encontra a Catedral Metropolitana de Florianópolis. Deu início à construção de casas e ao plantio de novas culturas, solicitando a posse das terras em 1679.

1627- A primeira bandeira conhecida por esse nome foi liderada por Raposo Tavares e percorreu a mesma região explorada por Aleixo Garcia um século antes. Antônio Raposo procurava as missões indígenas do Guairá, no atual Estado do Paraná, e pretendia trazer nativos que seriam vendidos como escravos em São Paulo.

1629- Manoel Preto e Raposo Tavares atacam núcleos indígenas em Guairá, Paraná.

1637- Fernão Dias Paes prende índios nas reduções jesuítas de Ibicuí. Rio Grande do Sul.

1640- Fim da União Ibérica. Jesuítas expulsos de São Paulo.

1641- Moradores de Piratininga aclamam Amador Bueno da Ribeira “Rei de São Paulo”, que recusa. Exército guarani vence paulistas na batalha fluvial de M’Bororé, Rio Grande do Sul.

1642- O jesuíta paulista Manuel de Morais é queimado em fogueira do Santo Ofício, por ter aderido à invasão dos holandeses.

1650- Nasce em São Vicente Francisco de Brito Peixoto, um dos fundadores de Laguna-SC

                 
Francisco de Brito Peixoto (São Vicente, 1650 — Laguna, 25 ou 31 de outubro de 1735) foi o fundador, juntamente com seu pai Domingos de Brito Peixoto, da vila de Santo Antônio dos Anjos da Laguna em 1684, e mais tarde, entre 1715 e 1718, explorador e descobridor, à custa de seus cabedais, dos campos do Rio Grande de São Pedro do Sul. Também fez a ligação por terra de Laguna a Rio Grande, a Maldonado, à Colônia do Sacramento e a Montevidéu. Foi casado, mas não no papel, com Índia Carijó de nome Sevirina. Seus restos mortais estão enterrados sob o altar-mór da Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos. Morreu solteiro deixando uma filha natural, Ana de Brito Peixoto, nascida em Laguna, que foi casada com seu genro, João de Magalhães. Outra filha natural foi Maria de Brito Peixoto nascida em 1698 (Laguna) e falecida em 1772 (Viamão-RS)e casada com o espanhol Agostinho Guterres nascido em 1685 (Almanço, Valencia) e falecido em 1º de janeiro de 1763 (Viamão-RS), pais do Tenente Felipe Guterres. Conforme site GENI MyHeritage Company, ver nome de Francisco Brito Peixoto, Silva Leme descreve a sua família no volume Vol II - Pág. 189 § 1.º (título Lemes) da sua «Genealogia Paulistana».

1667- O juiz ordinário da Vila de São Vicente, Manoel Vieira Colaça (enlouquecido por contrariedades amorosas) queimou todos os livros recém-restaurados e papéis antigos. (A Tribuna, 22-09- 2012).

1674- Fernão Dias Paes parte de São Paulo à procura de prata e esmeraldas. 

1676-  Domingos de Brito Peixoto, morador da Vila de Santos, funda o povoado de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, em Santa Catarina-SC.

VICENTINO FUNDOU LAGUNA-SC


Expedição levou 50 escravos (índios e mulatos, dez homens brancos, artesãos de vários ofícios, um capelão, mantimentos, armas, provimento de pólvora e chumbo, ferramentas e embarcações.
“O Cap. Domingos de Brito Peixoto para dar princípio, mandando por mar um patacho seu, carregado de ferramentas, gente e muitos escravos, para irem dar fundo na parte onde lhe ensinaram, e desembarcar para dita paragem, que era uma enseada chamada Mampituba, e aí procurarem a Lagoa dos Patos - (os índios carijós da região eram chamados de Patos)- e principiarem a dita povoação. Teve a infelicidade de dar na costa, na altura de Abrolhos, donde se perdeu o dito Patacho e tudo o mais que nele ia.
Não desanimando o dito Domingos de Brito Peixoto, desta perda e infelicidade, por dar gosto ao Rei e Senhor, entrou com dois filhos seus, o Tenente Sebastião de Brito Guerra e Francisco de Brito Peixoto, a fazer conquista e povoação, por terra, levando muitos escravos e administrados seus e mais pessoas de sua obrigação que o acompanhavam. Depois de muitos trabalhos, percas e despesas , chegaram a dita paragem chamada Lagoa dos Patos, hoje Vila de Santo Antonio dos Anjos, donde estabeleceram e principiaram a dita povoação, afugentando muitos gentios, onças, tigres de que estava mui povoada aquela paragem, com perca de muitos escravos. 
Depois de principiada e estabelecida esta povoação, morreu nela o Cap. Domingos de Brito Peixoto e o seu filho Sebastião de Brito Guerra, matou o gentio com veneno; ficando só Francisco de Brito Peixoto, que com valor igual a seu defunto pai e irmão continuou a povoação, fazendo nela Igreja para servir de Matriz e vindo a Santos e São Vicente donde tinham sido moradores, levar casais para a dita povoação. Vigário a quem também pagava a sua custa.
Depois de bem estabelecida e fundada esta vila, entrou o dito fundador Francisco de Brito Peixoto a explorar e descobrir as campanhas que se erguiam daquela povoação para diante, passando rios caudalosos, como são os de Araranguá, Bepetuba (Mampituba) e de Tramandaí e outros córregos. 
Que quando assim quando chegou ao dito sítio da Laguna fez por em terra os mantimentos e ferramentas que por mar tinha enviado na fragata e desembarcar AA gente que amariava; e vendo juntos começaram a examinar a fertilidade da terra e se tinha comodidades de habitação e por mais que tudo estava cheio de matos virgens e lagoas profundas com alguma parte de Campos, contudo, pela diligência que fizeram, acharam que podiam viver naquele sítio, cortando-lhe os matos para neles fazerem plantas de sustento e fazerem passagens para as lagoas em ordem a pescarem nelas e que ficavam os campos para os gados.
Que o suplicante com os mais resolveram a povoar aquele sítio e estando assim deliberados, sentiram naquela vizinhança andava gentio brabo e vagabundo, que não tinha domicílio em parte alguma, arreceando que os desinquietassem e lhe tomassem a povoação, depois de feita. Trataram de os conquistar e os repelir, para o que os buscaram e depois de os acharem, tendo com eles muitas refregas em que mataram bastante gentio, o qual também, nesta ocasião, lhe matou cinco escravos e fugiu para o costão adentro, deixando ao Suplicantee a seu Pai e Irmãos mais sossegados de seu receio.
Que assim como o gentio despejou aqueles matos e campos, tratou o Suplicante de fazer plantas assim nos campos como nos matos, que fez primeiro cortar e queimar e juntamente levantou casas para se recolherem e nelas morarem, como também a Igreja para receberem os Sacramentos e assistir aos Ofícios Divinos, que o mesmo suplicante mandava fazer por sacerdote que buscou a troco da grande porção que lhe fazia por não haver Clérigo ou Frade que quisesse ir para terras tão remotas e inabitáveis. E desde então até o presente conservou o sacerdote, no dito sítio, pagando-lhe e fabricando a igreja com todos os parâmetros necessários.
Que passando aproximadamente ano de habitação , achou o suplicante, pelo que tinha plantado que a terra era muito frutuosa e respondia bem com o trabalho que lhe faziam em mantimentos que lhe plantavam, como também que era muito abundante de peixe, por onde se animou a romper e cultivar muito mais terras e acrescentar as casas e para viverem nelas persuadiu rogou a várias pessoas de diferentes vilas que se fossem viver com ele naquela terra , dando-lhe ajuda e favor para se pararem nela, e demais todos os mantimentos necessários para viver enquanto não recolhessem frutos, que para os plantarem lhes dava também ordens, escravos, como de fato deu, e principiou a povoar até o presente. E demais mandou vir de várias e distantes partes muitas variedades de gado como: bois, cavalo, cabras, ovelhas, carneiros e produziram tato que hoje já de muitos anos, vem daquele sítio de todo gado vacum que se gastam em a maior parte destas Vilas do Sul e fora delas vão para a cidade do Rio de Janeiro, continuando muitas embarcações de carne salgada de que se provém as frotas que vão para o Reino, e inumeráveis couros de boi para a sola, e fora desta abundância manda outra semelhante de peixe salgado para a dita cidade e mais Vilas do Sul, que todas dependem da dita povoação, por ser só parte em que se salga o peixe e se manda fora a vender.
Que mostrando a experiência que o dito sítio produzia e a utilidade que dava ao gado e pescado seco, se foram muitas pessoas viver a ele obrigadas das ofertas e rogos que o suplicante e seu Pai lhe faziam e para ela mandaram vir embarcações por mar e outras comprou o suplicante e seu Pai, para trazer na carreira e prover os povos , onde se lhe perderam três carregadas, e se afogaram alguns escravos. E hoje de presente se acha o dito sítio feito uma grande povoação, pois tem mais de cinqüenta casais, fora os escravos , com tanta quantidade de gados que não é possível numerar-se nem extinguir-se, e de contínuo se vai acrescentando com novos moradores , pela utilidade que nela tem.
Que a dita povoação resultou um proveito comum a estas vilas do sul e a cidade do Rio de Janeiro , pelas carnes salgadas e peixe seco e legumes que tiram dela de que dando notícia o Pai do Suplicante ao Senhor Rei Dom Pedro II, foi servido mandar-lhe agradecer por carta este novo descobrimento e Povoação que fez com a promessa de o remunerar, a qual carta se perdeu em uma das ditas embarcações, porém haviam muitas pessoas que dela podem testemunhar.
Que assim o Suplicante como o Senhor seu Pai, enquanto foi vivo gastaram muita fazenda neste descobrimento e nele lhe morreu o outro filho solteiro, o Tenente Sebastião de Brito Guerra com muita quantidade de escravos que lhe mataram e se perderam.
Que o Cap. Domingos de Brito Peixoto, pai do Suplicante, faleceu na mesma povoação..."
(Carta reclamatória ao Rei de Portugal– “Laguna antes de 1880”, Pe. João Leonir Dall’Alba).

1680- O bandeirante Anhanguera chega ao rio Vermelho, em Goiás.

1683- São Paulo passa ser sede da capitania de São Vicente.

1685 - Nascimento de Bartolomeu de Gusmão.




O PRIMEIRO CIENTISTA DO BRASIL


Nascido na Vila de São Vicente, o primeiro inventor brasileiro Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) foi batizado simplesmente com o nome de Bartolomeu Lourenço, em 19 de dezembro de 1685, na Igreja Paroquial da vila de Santos pelo padre Antônio Correia Peres. Era o quarto filho de Francisco Lourenço Rodrigues, cirurgião, e Maria Álvares. Será mais tarde, em 1718, que adota a si o apelido "de Gusmão", em homenagem ao preceptor e protetor, o educador jesuíta Alexandre de Gusmão, que havia lhe incutido o gosto pelas ciências.
O menino Bartolomeu cursou as primeiras letras provavelmente na própria Capitania de São Vicente, no Colégio de São Miguel, então o único estabelecimento educacional da região, fundado em 1653. Prosseguiu os estudos na Capitania da Bahia. Aí ingressou no Seminário de Belém, em Cachoeira, onde teria início a sua profícua carreira de inventor.
Seu primeiro invento foi uma bomba hidráulica para o Seminário de Belém, que ficava situado sobre um monte de 100 metros de altura e possuía precário abastecimento de água, que tinha que ser captada e transportada em vasos a partir de um brejo subjacente. Percebendo o problema, Bartolomeu inteligentemente planejou e construiu um maquinismo para levar água do brejo até a edificação, por meio de um cano longo. O invento, testado com absoluto sucesso, foi considerado admirável e de grande utilidade por todos do estabelecimento, inclusive pelo próprio reitor e fundador do seminário, o renomado sacerdote Alexandre de Gusmão (1649-1724)
Começou o noviciado na Companhia de Jesus na Bahia quando tinha cerca de quinze anos, mas deixou a Ordem em 1701. Foi para Portugal e encontrou um padroeiro em Lisboa na pessoa do Marquês de Abrantes . Concluiu o curso de estudos na Universidade de Coimbra , dedicando-se principalmente à filologia e à matemática , mas recebeu o título de Doutor em Direito Canónico (relacionado com Teologia). Diz-se que tinha uma memória notável e um grande domínio de línguas.
Em 1709 apresentou uma petição ao Rei D. João V de Portugal , a pedir favor real pela invenção de uma aeronave, na qual manifestou a maior confiança. O conteúdo desta petição foi preservado, juntamente com uma imagem e descrição de sua aeronave . Desenvolvendo as ideias de Francesco Lana de Terzi.
Bartolomeu fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas e médias dimensões construídos por ele. Cinco testemunhas registraram essas experiências: o cardeal italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão Ferreira e José Soares da Silva, nomeados membros da Academia Real de História Portuguesa em 1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o cronista Salvador Antônio Ferreira, portugueses. 
A notícia rapidamente se espalhou para outros reinos europeus, que deram a devida publicidade. Bartolomeu ganhou a alcunha pejorativa de "Voador"  e o seu invento, divulgado na Europa em estampas fantasiosas, que em geral o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficou conhecido como "Passarola.
Em 1710 publicou "Vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água", opúsculo no qual descrevia novos maquinismos criados por ele, destinados a expulsar a água que com freqüência inundava e fazia ir a pique as embarcações. Na Holanda em 1713 publicou patente para "Máquina de Drenagem da água em embarcações de Alto Mar"
Na Corte de Dom João V Bartolomeu de Gusmão havia atingido o cume da sua carreira: gozava da estima do rei e desfrutava de elevada posição na corte. Era Doutor em Cânones, Secretário de Estado, membro fundador da Academia Real de História Portuguesa e Fidalgo Capelão da Casa Real. Possuía ampla e merecida reputação tanto como homem de letras como de ciências. Era célebre por possuir talentos notáveis, como memória prodigiosa e criatividade para invenções, além de uma cultura vasta e invulgar, que lhe permitia atuar nos mais diversos campos dos saberes, entre os quais aerostação, criptografia, hidráulica, história, literatura, matemática e teologia.
As pesquisas técnico-científicas prosseguiam. Em 1721 o sábio dedicou-se à fabricação de carvão artificial,11 e em 1724 criou uma máquina para aumentar o rendimento dos moinhos hidráulicos, reconhecida por patente portuguesa de 18 de julho desse ano.
Em 1720 Bartolomeu concluiu a Faculdade de Cânones e retornou a Lisboa, chamado que fora pelo rei para servir no Ministério das Relações Exteriores. Colocado na Secretaria de Estado, exerceu aí diversas funções, ocupando-se inclusive da decifração de mensagens codificadas interceptadas de diplomatas estrangeiros-a prática da espionagem era comum nas cortes européias. Dessa missão, da maior confiança e dificuldade, se incumbiu notavelmente: não houve cifra, por mais difícil que fosse, que não decodificasse.
Bartolomeu de Gusmão faleceu na Espanha do dia 18 de novembro de 1724, aos 38 anos de idade. Havia caído em desgraça em Portugal por acusações pelo Santo Ofício, de que havia se convertido ao Judaísmo devido a sua conhecida associação com a comunidade de Cristãos Novos. 
Com a sua morte, a invenção do balão permaneceria esquecida por decênios, até ocorrer, em 1782, na França, a sua reinvenção, pelos irmãos Montgolfier.

Fonte: Bartolomeu Lourenço de Gusmão: o primeiro cientista brasileiro. Por Rodrigo Moura Visoni. João Batista Garcia Canalle.



1695- Nascimento, na Vila de São Vicente, de Alexandre de Gusmão. Foi batizado em Santos, assim como seus 11 irmãos. 

Ilustração de Belmonte. Folha da Manhã, 1940. 



Filho do negociante e médico Francisco Lourenço Rodrigues e de Maria Álvares. Ainda menino foi para Cachoeira, Bahia, estudar com os jesuítas, no Colégio Belém, na escola onde já estudava seu irmão Bartolomeu. Ambos adotaram o sobrenome do diretor do colégio, Gusmão. Eram doze irmãos, oito entraram para a vida religiosa. Alexandre transferiu-se para o Colégio das Artes, onde durante três anos aprendeu latim, lógica, metafísica, ética, retórica e filosofia, enquanto Bartolomeu tornou-se padre e seguiu para Lisboa. Em 1710, Alexandre vai encontrar seu irmão. Passa a conviver com os fidalgos da corte, chegando a tornar-se amigo do rei Dom João V. Em 1715 o rei nomeia Dom Luís Manuel da Câmara para embaixador em Paris. Alexandre de Gusmão é escolhido como secretário da Embaixada. Ingressa na Universidade de Sorbonne, no curso de Direito Civil. Em 1719, já formado, volta a Portugal. Torna-se professor na Universidade de Coimbra. Escreve poesias, ingressando no mundo literário. Em 1720 integra a delegação portuguesa que faria negociações em Cambray, na França. Em seguida foi para Roma, onde permaneceu por sete anos como embaixador de Portugal junto à Santa Sé. Pela sua eficiência, foi convidado pelo Papa Inocêncio XIII para incorporar-se à sua corte com o título de Príncipe Romano. Alegando ter de pedir licença a seu rei, declinou do convite. Alexandre não esquecia sua origem colonial, em 1734, foi o encarregado dos despachos da Secretaria de Estado para o Brasil. Tomou medidas para promover o povoamento e a defesa das fronteiras, além de propor formas mais favoráveis para arrecadação de impostos. Em 1742, é designado para o Conselho Ultramarino, cargo que sempre ambicionara. Em 1740, foi nomeado secretário particular do rei. Era ele praticamente quem dirigia a política externa de Portugal. Em 1743, já com 48 anos, casa-se com Dona Isabel Teixeira Chaves. Do casamento nasceram dois filhos, Viriato e Trajano. Nos séculos XVI e XVII, os limites portugueses e espanhóis nas Américas não estavam bem definidos e as lutas eram contínuas. A princípio Alexandre se empenhou em resolver as disputas que se desenrolavam no sul do Brasil, na Colônia do Sacramento. Em julho de 1750 morre Dom João V. Gusmão foi logo afastado do governo pelo novo monarca, Dom José I. Alexandre de Gusmão morreu em Lisboa, no dia 31 de dezembro de 1753.

Fonte : e-biografia. Diva Frazão



1700– Elevação de São Vicente à município, em 29 de outubro.

Em 29 de outubro, pela Carta Régia de D. Pedro II, rei de Portugal é criado o município de São Vicente e outros na região (também Santos) e na colônia. O decreto reconhecia as extensões e contornos geográficos além dos limites da vila fundada em 1532. Nessa época São Vicente possuía cerca de 700 habitantes e Santos já atingia 1.800. Segundo Francisco Martins dos Santos, essa municipalização salvou São Vuicente do declínio total e desaparecimento, como aconteceu com outras vilas antigas, pois mantinha-se uma estrutura político-administrativa com cargos e funções públicas permamentes. 

1701- Bandeirantes descobrem ouro e eliminam índiosem rio da Velhas, Minas Gerais. Carta Régia concede aos escravos o sábado livre para cuidarem dos seu sustento.

1709 - Como consequência do fim da Guerra dos Emboabas, a capitania foi incorporada, através de compra, aos territórios da Coroa e passou a integrar a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. 
Pedro Taques de Almeida Paes Leme, na obra História da Capitania de São Vicente, afirma, no entanto, que os territórios incorporados à Coroa não compreendiam toda a antiga capitania de São Vicente. As vilas de São Vicente, de Santos e de São Paulo teriam permanecido sob o domínio do donatário da região, o Marquês de Cascais. Descoberto o ouro, em fins do século XVII, em Minas Gerais, estabelecida a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro (carta régia de 9 de novembro de 1709), Santos, pela situação de porto marítimo de entrada das minas, permaneceu sob jurisdição do Rio de Janeiro (19) desde os primórdiosdo século XVIII (20), tal a preocupação do governo português de que por ali se desencaminhassem os tesouros do sertão. Com a criação da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, seu primeiro governador, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho acenou ao Rei com a conveniência de possuir a nova capitania um porto de mar. (Wikipédia)

1710 – Bandeirantes registram a presença de povos indígenas nas várzeas do Rio Paraná; existem registros dos Ofaié na região desde 1710; ao norte dividiam sua terra com o grupo Kaiapó, e ao sul com grupos Guarani, denominados Caiuá. O Rio Paraná os separava dos Kaingang (ou Coroados). 

1713- Primeiras doações de sesmarias na região conhecida como Cima da Serra Wotukatu. 

1719 - Bandeirantes paulistas encontram ouro na região Cuiabá. 

1714 – Nasce Pedro Taques de Almeida Pais Leme, em São Paulo. Era filho de Bartolomeu Pais e Leonor de Siqueira, sobrinho-neto de Fernão Dias Paes Leme e tetraneto de Brás Cubas. 
Sargento-mor, foi transferido para as minas de Goiás, onde foi encarregado de criar e organizar a cobrança de impostos, como a capitação, os quintos do ouro e a derrama. De volta a São Paulo, foi nomeado guarda-mor das minas de ouro. Viveu no contexto do ciclo do ouro do Brasil colonial (1700-1800). Dentre suas obras, destacam-se a Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica (em três volumes) e a História da Capitania de São Vicente, referências obrigatórias em seus respectivos temas. Escreveu, também, uma notícia histórica a respeito da expulsão dos jesuítas de São Paulo. (Wikipedia)

A OBRA VICENTINA DE PEDRO TAQUES PAES LEME



O fidalgo e erudito Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777) foi um dos primeiros estudiosos da genealogia de São Paulo

Era filho de Bartolomeu Pais e Leonor de Siqueira, sobrinho-neto de Fernão Dias Paes Leme e tetraneto de Brás Cubas. Sargento-mor, foi transferido para as minas de Goiás, onde foi encarregado de criar e organizar a cobrança de impostos, como a capitação, os quintos do ouro e a derrama. De volta a São Paulo, foi nomeado guarda-mor das minas de ouro. Viveu no contexto do ciclo do ouro do Brasil colonial (1700-1800).

Dentre suas obras, destacam-se a Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica (em três volumes) e a História da Capitania de São Vicente, referências obrigatórias em seus respectivos temas.

Escreveu, também, uma notícia histórica a respeito da expulsão dos jesuítas de São Paulo.

Seu conhecimento era tão grande que chegou a servir de testemunha para dirimir dúvidas sobre a posse e a sucessão da capitania. Embora tenha escrito no século XVIII, Pedro Taques tem a noção exata de sua função como historiador, visto que se municiava de fontes primárias e secundárias. Homem de vida opulenta que chegou à velhice na mais humilhante pobreza, Taques utilizou-se dos cargos que teve para espalhar uma rede de coletores de informações em várias localidades. Assim, pesquisou em Portugal, nos documentos eclesiásticos, nos cartórios e em outras fontes oficiais.

Do pouco que se sabe sobre sua infância, temos que freqüentou o colégio dos jesuítas em São Paulo, obtendo o grau de mestre em artes e, o que era raro na época, aprendendo o idioma francês.

Sua vida profissional começa em 1737, quando assume o posto de sargento-mor do regimento da nobreza de sua cidade. Paralelamente à vida militar, empenhava-se em pesquisas históricas e genealógicas, e em 1742 estudou a história dos Buenos.

Foi sargento-mor até 1748, quando lançou o título dos Arrudas Botelhos e, ao mesmo tempo, voltou-se para a atividade de mineração nas lavras de Goiás, em busca de melhores rendas. Foi então nomeado pelo Conde dos Arcos, em 1750, escrivão da Intendência Comissária e Guardamoria do distrito de Pilar, servindo também como provedor dos defuntos e ausentes, além de tabelião.

No começo de 1754 retorna a São Paulo, em boa situação financeira, e escreve sobre a capitania de São Vicente, defendendo os direitos do conde de Vimieiro. Parte, então, para Lisboa para entregar o documento de defesa, em 1755, e o terremoto que ali se deu logo após a sua chegada, arrasa a cidade e faz com que se percam seus apontamentos, e seus bens. Sem seus trabalhos sem nenhum bem material, ainda o acomete uma doença grave que o leva ao leito pro vários meses, sendo tratado por um casal amigo.

Sua estada em Lisboa faz com que Taques conheça e se aproxime de D. Antonio Caetano de Souza, o ilustre autor da História Genealógica da Casa Real portuguesa. Consegue, então, em 1757, ser nomeado tesoureiro-mor da Bula da Cruzada, nas capitanias de São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Retoma suas pesquisas históricas e genealógicas.

Em 1763 acumula a função de guarda-mor das minas de ouro de São Paulo. Sabe-se de trabalhos seus dessa época de auge econômico e financeiro, todos desaparecidos:
História de São Paulo, Discurso cronológicos dos descobridores do Brasil e elementos de história de Piratininga.

Questionado em sua administração, Pedro Taques é subitamente afastado de suas funções, tem seus bens seqüestrados e é intimado a restituir a quantia calculada como prejuízo à Fazenda Real.

Contudo, em 1774 o destino lhe sorriu com a herança de umas das irmãs, e ele reuniu o que pôde e partiu para Lisboa, a fim de atender chamado do Conde de Vimieiro, que precisava de seus préstimos de genealogista. Ainda tentou pleitear algum benefício em Lisboa, mas seus requerimentos não andavam, ao contrário da paralisia, que, célere, avançava.

Com a saúde arruinada, retorna ao Brasil em agosto de 1776, chegando a Santos no fim do ano. Morre na mais extrema miséria em 03 de março de 1777, em São Paulo.

Seus manuscritos nunca foram publicados enquanto vivia. Sua Nobiliarquia paulistana, histórica e genealógica teve perdida mais de cem títulos, salvando-se apenas um terço. E mesmo assim trata-se de monumental obra, onde “se recolhem os mananciais de toda a história do Brasil meridional desde os primeiros tempos”.

Fonte: Terra de Santa Cruz




1715- Nasce frei Gaspar da Madre de Deus(Gaspar Teixeira de Azevedo), historiador beneditino, nascido a 9 de janeiro na então Fazenda de Santana de Acaraú, perto do hoje chamado Rio Branco, em Samaritá, região continental de São Vicente.

O FREI GASPAR DA MADRE DE DEUS

Era filho de Domingos Teixeira de Azevedo, coronel do Regimento de Ordenanças de Santos e São Vicente, provedor da Real Casa de Fundição de Paranaguá, e neto de Gaspar Teixeira de Azevedo, antigo capitão-mor da Capitania de São Vicente (1697-1699) e provedor dos reais quintos do ouro, e de Amador Bueno. Pertencia, portanto, às mais antigas famílias de povoadores vicentinos, sendo os seus pais proprietários de terras de cultivo de cana-de-açúcar e de arroz. Foi o segundo de seis irmãos. Tendo ficado órfão de pai, que faleceu ainda jovem, foi criado por sua mãe, Ana de Siqueira e Mendonça. Dois de seus irmãos também seguiram a carreira eclesiástica e as suas duas irmãs se tornaram freiras no Convento de Nossa Senhora da Conceição, no Rio de Janeiro. Estudou no Colégio da Companhia de Deus, em Santos. Em 1731, aos 16 anos de idade, torna-se noviço na Ordem de São Bento. Também foi noviço na Bahia, onde estudou Filosofia, História e Teologia. Foi ordenação em 15 de agosto de 1732. Transferiu-se para o Mosteiro de São Bento na cidade do Rio de Janeiro. (Frei Gaspar com Frei Miguel e seu primo Pedro Tarques. Gravura do Museu de Arte Sacra de Santos). Boqueirão News.
Nos anos finais de sua vida, Frei Gaspar trabalhou ativamente na composição de sua obra histórica. Em julho de 1784 concluiu a sua "Notícia dos anos em que se descobriu o Brasil", cuja referência ao testamento de João Ramalho provocaria, já nos tempos da Independência do Brasil, forte campanha oposicionista por Cândido Mendes de Almeida e outros, repreendidos mais tarde, principalmente, por Taunay. Em 1793 já havia concluído os três volumes das "Memórias para a História da Capitania de São Vicente", que viriam a público em 1797 pela Academia Real das Ciências de Lisboa, da qual era sócio correspondente, e os seus escritos sobre as minas de São Paulo e a expulsão dos jesuitas do colégio de Piratininga. Nessa obra analisa criticamente e se apoia nos escritos de Charlevoix ("História do Paraguai"), Frei Francisco de Santa Maria ("Ano Histórico"), Pero de Magalhães Gandavo ("História da Província Santa Cruz"), Frei Jaboatão ("Crônica da Província de Santo Antônio do Brasil"), Pedro Taques ("Nobiliarquia..."), Rocha Pita ("História da América Portuguesa"), Simão de Vasconcelos, entre outros. Além dessa, Frei Gaspar também escreveu: Notícias dos anos em que se descobriu o Brasil; Dissertação e Explicações; Extrato Genealógico; Memórias da História da Capitania de São Vicente, e muitas outras, entre as quais se destaca Fundação da Capitania de São Vicente; Memórias para a História da Capitania de São Vicente, hoje chamada de São Paulo. (Wikipedia)


ACARAÚ: A CASA DE FREI GASPAR


Mato encobre as ruínas da capela de Sant'Ana de Acaraú em São Vicente. Nessa capela foi realizado o batizado do historiador Frei Gaspar


Clóvis Vasconcellos
Da Sucursal de A Tribuna, 27 de agosto de 1995.

As pedras ainda estão lá, encobertas pela mata, guardando segredos do Século XVI. Guardando pedaços da história de São Vicente e do Brasil. São as ruínas da Capela de Sant'Ana, onde foi batizado frei Gaspar da Madre de Deus, historiador beneditino, nascido a 9 de janeiro de 1715, na então Fazenda de Santana, perto do hoje chamado Rio Branco, em Samaritá, região continental de São Vicente.
São pedras importantes demais para estarem esquecidas e abandonadas como estão. São as ruínas da primeira capela no Brasil exclusivamente dedicada a homenagear Sant'Ana, que foi a mãe de Nossa Senhora, simplesmente a avó de Jesus Cristo.
A mata cobriu tudo, inclusive as seis colunas com mais de três metros de altura. Uma delas foi envolvida por uma figueira, árvore de 20 metros de altura, que deixa aparecer, em pedaços do tronco, trechos da pilastra erguida provavelmente no século XVI, quase 100 anos antes do nascimento do frei Gaspar da Madre de Deus.
Abandono - O próprio beneditino, nas suas célebres Memórias para a História da Capitania de São Vicente, conta que foi batizado na capela da Fazenda Santana, outrora muito produtiva e hoje fechada, servindo apenas de pasto para algumas cabeças de gado de um morador das proximidades. O abandono das ruínas impressiona porque fica difícil até se aproximar das pedras. Há ninho de marimbondos, espinheiros, muitos mosquitos e até cobras, segundo depoimentos de sitiantes.
A professora de História da UniSantos, Wilma Terezinha Fernandes Andrade, confirma a importância histórica da capela, onde esteve, há muitos anos, com o pesquisador Jayme Caldas: "Naquela época já não existia mais imagem da santa, provavelmente furtada". A professora informou que frei Gaspar, nos seus escritos, afirmou que a capela, onde aconteciam até festas religiosas, era quase secular.
O frei nasceu em 1715, filho de Domingos Teixeira de Azevedo (coronel do Regimento de Ordenanças de Santos e São Vicente) e de Ana Siqueira e Mendonça, descendente de Antônio de Siqueira, escrivão e tabelião quinhentista de Santos. Ou seja, a fazenda e a capela já estavam lá muito antes de frei Gaspar nascer.
Pinga e frutas - Mais recentemente, por volta de 1840, a Fazenda de Santana do Acaraú foi administrada por Fernando José Augusto Bittencourt, que durante 40 anos plantou laranja, tangerina, limão-doce, cará-mimoso, inhame, cana-de-açúcar e produziu a famosa Pinga do Acaraú, com melado, farinha de mandioca e biju. Também fabricou calmante extraído da flor de laranjeira, vendido em frascos em Santos e São Vicente.
O falecido jornalista de A Tribuna, Edison Telles de Azevedo, que já esteve nas ruínas e na fazenda, relata em seu Vultos da História Vicentina que Fernando Bittencourt trazia para a Vila de São Vicente, em "canoa por ele remada", melado tamarindo, caju, jaca e outras frutas para presentear os amigos.
A gentileza do antigo fazendeiro, incomum nos dias de hoje, merecia destaque porque a remo demorava até dois dias para chegar à vila. Ele atracava onde hoje fica a Rua Japão, efetivamente recebido. Na casa da fazenda os livros registram que havia uma placa, em inglês, Great House of Family Bittencourt. De toda a fartura e opulência restam hoje algumas pedras que poderiam ser transformadas em magníficas lições de história e humanismo às futuras gerações.
A professora Wilma Terezinha sugere uma prospecção arqueológica no local, que poderia ser executada pelo Instituto de Pesquisas Arqueológicas da Universidade Católica de Santos (UniSantos) sem custo para o proprietário da área ou a Prefeitura. Ela explica que o instituto da universidade é credenciado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), cujo diretor esteve recentemente em São Vicente.
Wilma Terezinha considera a ruína de extrema importância e entende que a Prefeitura, pelo menos, poderia colocar placas indicando a localização e montar um esquema de visitação, de acordo com os proprietários da antiga fazenda, de inestimável valor histórico. "O fato de ali ter nascido frei Gaspar só enriquece sua importância", esclareceu a professora, uma entusiasta da pesquisa histórica em nossa região.

Este óleo sobre tela, de 29x56 cm, pintado em 1914 e pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, mostra o que Calixto denominou como Aspecto Atual da Fazenda Sta. Anna - São Vicente. Na parte inferior do quadro, há uma anotação, lembrando que ali nasceu o religioso e famoso historiador brasileiro Frei Gaspar da Madre de Deus. Segundo Benedicto Calixto de Jesus, não é possível, por falta de documentos, fazer a discriminação exata da extensa área que constituiu outrora a primitiva Fazenda de Sant'Anna de Acarahu, onde nasceu Frei Gaspar da Madre de Deus. As ruínas, no tempo de Calixto, sofreram mais depredações, pois o administrador e os roçadores, seguindo um boato e incentivados por um sonho de um dos trabalhadores (de que deveria cavar em determinado local na capela, pois lá os jesuítas haviam escondido um tesouro), esburacaram todo o chão da capela. Existiam ainda, na época em que o pintos produziu esses quadros, as ruínas (pilares e restos do muro) do vasto solar onde nasceu Frei Gaspar, no alto de uma colina, a cerca de 200 metros da capela. Em 1917, Calixto voltou àquele local - o sítio Acarahu - e pintou este óleo sobre tela (35x58 cm, pertencente a uma coleção particular), denominado Ruínas do Solar de Fr. Gaspar da Madre de Deus II (o quadro I é a vista mais próxima das ruínas da capela):

1720 - À Capitania de São Paulo reincorporaram-se, administrativamente, o porto de Santos, bem como os demais da costa sul, agregando-se-lhes, ainda, as vilas de Parati e Ubatuba.
O porto de Santos, bem como os demais da costa sul (31), agregando-se-lhes, ainda, as vilas de Parati, Ubatuba e São Sebastião, desmembradas do governo do Rio de Janeiro por ordem de el-Rei. Daí por diante, deveria o porto de Santos permanecer aberto e "com liberdade de hirem a elle em direitura" do "reino os navios, pagando nelle os mesmos direitos" pagos "no Rio de Janeiro, e com a obrigação de quando" voltassem para o reino irem "encorporados na frota do mesmo Rio de Janeiro.

1725 - Índios paiaguás atacam uma monção paulista em direção ao Mato Grosso. Essa monção utilizava os rios Tietê, Paraná, passava pelo Figueiral e adentrava o rio Pardo até atingir os rios Taquari e Cuiabá.

1727- Francisco de Souza faria abria caminho de terra entre São Paulo e Rio Grande do Sul, ampliando o ciclo dos tropeiros.

1732- Carta Régia proíbe ida de mulheres portuguesas ao Brasil sem autorização. 

1748 - Restringiu-se às comarcas de São Paulo e Paranaguá, a Capitania de São Paulo, que até então se limitava, ao norte, com as de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, a oeste com terras da América espanhola ocupadas em parte pelas missões jesuíticas, e ao sul, com os territórios da marinha já desanexados da subjurisdição e submetidos à do governo do Rio de Janeiro.

1756 - Formação da fazenda jesuítica de Ibotucatu.

1757- Construção da Igreja Matriz, símbolo da fé do povo vicentino. Há dúvidas se ela foi reconstruída após maremoto ou se realmente foi erguida uma nova edificação. Há muitas dúvidas, inclusive, quanto à invocação de Matriz de São Vicente Mártir. O que se sabe ao certo é que ela passou por muitas reformas.

1762 – Nasce em Portugal José Gonçalves Aguiar, futuro Capitão-Mor da Vila de São Vicente. 

1765- Primeiro recenciamento da população de São Vicente.

Fotografia da Igreja Matriz em 1935.  Jornal A Tribuna, Suplemento de São Vicente, 22/1/1992.


1776 - Os vicentinos fundam na região do Prata o Forte Iguatemi, visando a exclusividade de navegação no rio Paraguai. 

1782. Nascimento, em 27 de novembro, de Margarida da Graça Martins.

                           

VICENTINA FUNDOU SANTA BÁRBARA DO OESTE-SP


A vicentina Margarida da Graça Martins, herdeira do então vicentino Engenho dos Erasmos foi também a fundadora da cidade de Santa Bárbara do Oeste, vizinha de Americana, colonizada por famílias imigrantes dos EUA, após a guerra da Secessão, dos quais a cantora Rita Lee é descendente; e também do criador do minicarro Romiseta, grande sucesso nos anos 60. Santa Bárbara é uma das raras cidades do Brasil fundada por uma mulher. Margarida da Graça Martins era também herdeira (1817) de uma sesmaria que abrangia várias das futuras cidades daquela região de Campinas. Ela nasceu em São Vicente, em 27 de novembro de 1782, era filha de Manoel José da Graça e Anna Maria Cardosa. Casou-se aos 13 anos com José Paschoal de Lima, do qual ficou viúva três anos após o casamento. O Sargento-Mor Francisco de Paula Martins (da praça de Santos) foi o segundo esposo de Margarida, com o qual teve cinco filhos: Ângela, Manoel, Ana Margarida, Maria e Belchior. O Engenho dos Erasmos foi adquirido pelo novo casal do Coronel Bento Tomaz Vianna, vereador de São Vicente (1877). Vianna era morador do casarão da esquina da rua Martim Afonso com a José Bonifácio, onde hoje é o Edifício Stela Maris. Ela partiu de São Vicente em 1817 com seus filhos, parentes e escravos, a fim de estabelecer uma fazenda e montar um engenho de açúcar, o qual daria início do povoado. Dona Margarida doou à Cúria Paulistana terras para que fosse construída uma capela em louvor à Santa Bárbara, que foi erguida em 1818. A professora Mirtes dos Santos Silva Freitas, juntamente com sua irmã, visitou Santa Bárbara há alguns anos e conheceu esses os lugares históricos. Constatou que os barbarenses têm reverência para com São Vicente, reconhecendo que a fundadora da cidade era de São Vicente. É dela essa descoberta tão importante para a nossa história.


1790 - Iniciou-se uma nova via do Caminho do Mar, calçada de pedras, por determinação do governador da capitania de São Paulo, Bernardo José Maria de Lorena. 

A CALÇADA DO LORENA


Obra viária foi precursora das modernas vias Anchieta e Imigrantes

As obras ficaram a cargo do Brigadeiro João da Costa Ferreira, engenheiro da Real Academia Militar de Lisboa. Concluída em 1792, estendia-se por 50 km, reduzindo em cerca de 20% o percurso entre Santos e São Paulo de Piratininga.É considerada uma das maiores obras da engenharia na colônia, à época, uma vez que transpor os mais de 700 metros de desnível representados pela serra do Mar, numa região de mata densa e altos índices pluviométricos, foi um desafio que, para ser vencido, exigiu de seus construtores a adoção de técnicas ainda inéditas na Capitania de São Paulo. A pedra foi utilizada na pavimentação, na construção de muros de arrimo e de proteção junto aos despenhadeiros e nos canais pluviais da Calçada. Nas curvas do trecho de serra, caixas de dissipação desviavam para fora da via as águas conduzidas pelos canais pluviais.Menos íngreme, foi a primeira via a possibilitar o trânsito de tropas de muares, consumindo apenas dois dias na subida. Uma das mais importantes viagens realizadas por essa via ocorreu em 1822, uma vez que por ela, o Príncipe-Regente D. Pedro subiu a serra em direção a São Paulo, vindo a proclamar, a 7 de setembro, a Independência do Brasil. Os remanescentes da calçada encontram-se preservados e abertos à visitação turística no trecho que se estende do seu início, no planalto, até ao seu terceiro encontro com a Rodovia Caminho do Mar.No governo de Washington Luís (1926-1930) foi recuperada a Estrada do Mar e construído o Belvedere e o Padrão do Lorena, em homenagem ao construtor da Calçada, que na época em que foi construída, era uma das mais modernas estradas do mundo (Wikipedia)

1795 – Introdução das lavouras de café em São Paulo.

1797- Frei Gaspar da Madre de Deus publica em Portugal “Memórias para a História de São Vicente”.
– Morte, em Santos, no dia 28 de janeiro, do Frei Gaspar da Madre de Deus.

1806 – Invasão de tropas francesas em Portugal.

1907- A Família Real foge para o Brasil sob proteção inglesa

1808 – A Corte de D. João VI se instala no Rio de Janeiro. Abertura dos Portos.

1809- Primeiro cafezal em Campinas, São Paulo.

1812 – Posse da Ilha das Cabras , depois Ilha do Mudo e Ilha Porchat.

A ILHA DO MUDO


A Ilha Porchat em cartão postal da década de 1940. Imagem circulando via Internet, enviada ao site Novo Milênio por Marco Antonio Carlo, em 25/8/2009

Antes mesmo da chegada de Martim Afonso de Sousa a São Vicente, a Ilha Porchat já era conhecida por aventureiros e navegantes, e devido à sua localização, segundo o pesquisador Jaime Caldas, no início da colonização se transformava numa vigia da barra vicentina, uma vez que as matas abrigavam e ocultavam as sentinelas avançadas. Quando da invasão de Santos pela armada de Joris Van Spillbergen, em 1615, a Ilha Porchat foi considerada como área fora de cogitação pelos invasores.
No fim do século XVIII, conforme alguns relatos históricos, a ilha teria sido adquirida por um português tido como mudo, razão por que chamaram-na de Ilha do Mudo. Mas alguns historiadores dizem que o nome certo seria Ilha do Mude (marco), e que com o passar do tempo foi deturpado para Mudo.
Em 1812, um colono português adquiriu a ilha e denominou-a Ilha das Cabras, mas o local continuou com o nome primitivo Ilha do Mudo, sendo que as primeiras edificações de pedra tiveram início por volta de 1870. Anteriormente, só apresentava construções de taipa ou pau-a-pique.
Cassino - Victorino Porchat, que teria sido o primeiro faroleiro da Ilha do Mudo, numa das primeiras construções de pedras instalou a casa de verão de sua família, sendo que posteriormente nessa construção foi criado o Grande Cassino de Jogos e Diversões. 
Em 1902, a ilha passa a ter um novo dono: Comendador Manoel Alfaya Rodrigues, mas o nome continuou Ilha do Mudo e Ilha Porchat. O cassino já fora desativado e somente no início da década de 40 foi reconstruído pela família Fracarolli, dando um grande avanço na indústria do turismo. Na parte da ilha comprada pela família Fracarolli foram instalados os famosos cassinos, que tornaram conhecida internacionalmente a Ilha Porchat.
A ponte - Em razão disso, para facilitar o acesso aos freqüentadores dos cassinos, houve a necessidade de construção de uma ponte ligando a Ilha Porchat à Ilha de São Vicente, deixando de ser uma ilha.
Loteamento - Com o fechamento dos cassinos em 1946, pelo então Presidente da República, Marechal Eurico Gaspar Dutra, a Ilha Porchat deixou de ser uma atração turística. Com isso, José Fracarolli Sobrinho resolveu lotear a propriedade, transformando-a em bairro de luxo, com porteira, acesso controlado, construção de bares, restaurantes e prédios de até três andares. (Boletim do IHGSV)
                                  

HENRI PORCHAT. Nascido em Genebra em 1789, chegou a Santos aos 15 anos, formando o principal tronco da família no Brasil. Comerciante e industrial, adquiriu a Ilha Ilha do Mudo em São Vicente, que hoje leva o seu sobrenome. Era abolicionista e benemérito de várias instituições humanitárias da região. Teve dois matrimônios, faleceu no final do século XIX, deixando muitos descentes, incluindo o famoso humorista Fábio Porchat.

1815 – Congresso de Viena. Reino do Brasil-Portugal-Algarve.

1816- Achada e publicada em Portugal, 300 anos depois, a Carta de pero Vaz de Caminha.

1820 – Revolução Liberal do Porto.
- A manufatura de erva-mate começa a deslocar-se de Curitiba e lapa para as margens do rio Paraná. - Início do processo de Independência do Brasil e da formação do Estado Nacional.
1821 – Retorno de D. João Vi para Portugal. D. Pedro Príncipe Regente do Brasil.

- Militares realizam em Santos uma rebelião por causa dos baixos soldos e promovem um quebra-quebra na cidade. Os rebeles foram presos, condenados a penas altas e degredados na região de Guarapuava, isolada e distante colônia paulista. Eram em sua maioria analfabetos e tinham em torno de 19 anos de idade.

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